CHRISTIAN GREY: PELOS OLHOS DA PSICOLOGIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506081739


Pedro Fonseca de Vasconcelos¹
Januária dos Santos Gomes²
Ana Luísa Andrade Malta³
Ana Clara Moitinho⁴


Resumo: 

Tema: Este presente artigo tem o intuito de trazer um pouco da história de Christian Grey, da narrativa visualizada na trilogia literária: cinquenta tons de cinza, cinquenta tons mais escuros e cinquenta tons de liberdade, da autora Erika Leonard James, analisados pelo viés da psicologia, e na formação da personalidade a partir de um trauma vivido na infância. Objetivos: Expandir conhecimento sobre a importância de manter um ambiente saudável para desenvolvimento infantil e formação da personalidade estruturada; Identificar fatores que podem influenciar em traços de personalidades disfuncionais e entender como os traumas de infância podem moldar os comportamentos e as relações interpessoais de um indivíduo na vida adulta. Metodologia: Pesquisa documental, através da literatura psicológica e investigação na trilogia dos textos de E.L. James, com comparativo  dessa fonte ficcional e as teorias da personalidade, juntamente com os vieses de embasamento da psicologia, encontrados em livros e artigos científicos. Resultados: A vida de Christian e todos os seus traumas, ressaltam a importância de uma boa estrutura familiar na vida de uma criança/adolescente, buscando também evidenciar o quanto os traumas, principalmente nas fases iniciais de desenvolvimento, podem impactar as relações humanas, afetando comportamento, pensamento e a relação de identidade própria, que estão diretamente ligadas aos fatores de padrões de personalidade, podendo causar um prejuízo biopsicossocial. Conclusão: Busca-se com isso, voltar a atenção para relações intrafamiliares saudáveis, para identificar precocemente a possibilidade de traumas ao longo da vida, e procurar intervenção psicológica eficaz, para um desenvolvimento pessoal positivo. Desse modo, houve a identificação dos padrões comportamentais diante de vivências traumáticas e como isso influencia diretamente nas características de personalidade de indivíduos com experiências traumáticas e estressores sociais, passando a ter dificuldades de regulação emocional e disfuncionalidade nas relações interpessoais, levando a um possível transtorno de personalidade borderline atrelado ao transtorno de estresse pós traumático.

Palavras chaves: Infância; Personalidade; trauma; transtorno

ABSTRACT

Theme: This article aims to present a little of the story of Christian Grey, the narrative visualized in the literary trilogy: Fifty Shades of Grey, Fifty Shades Darker and Fifty Shades Freed, by the author Erika Leonard James, analyzed from the perspective of psychology, and the formation of personality from a trauma experienced in childhood. Objectives: To expand knowledge about the importance of maintaining a healthy environment for child development and the formation of a structured personality; To identify factors that can influence dysfunctional personality traits and understand how childhood traumas can shape an individual’s behaviors and interpersonal relationships in adult life. Methodology: Documentary research, through psychological literature and investigation in the trilogy of texts by E.L. James, with a comparison of this fictional source and personality theories, together with the biases of psychology, found in books and scientific articles. Results: Christian’s life and all his traumas highlight the importance of a good family structure in the life of a child/adolescent, also seeking to highlight how much traumas, especially in the initial stages of development, can impact human relationships, affecting behavior, thinking and the relationship of self-identity, which are directly linked to personality pattern factors, and can cause biopsychosocial damage. Conclusion: The aim of this study is to focus attention on healthy intra-family relationships, to identify early the possibility of traumas throughout life, and to seek effective psychological intervention for positive personal development. In this way, there was the identification of behavioral patterns in the face of traumatic experiences and how this directly influences the personality characteristics of individuals with traumatic experiences and social stressors, leading to difficulties in emotional regulation and dysfunction in interpersonal relationships, leading to a possible borderline personality disorder linked to post-traumatic stress disorder.

Keywords: Childhood; Personality; trauma; disorder

1- Introdução

“50 Tons” é uma trilogia escrita por E.L. James em 2011, composta pelos personagens principais: Christian Grey e Anastacia Steel, possui uma história em torno de uma trama romântica com fundo erótico,  abrangendo não somente o público jovem, mas também  os amantes de romance. Um dos personagens principais é a figura de Christian Grey,  que sobressai na trilogia com um perfil interessante a ser estudado pela via psicológica,  principalmente no que tange sua história de vida e a formação de sua personalidade dentro das suas relações amorosas e sociais.

No primeiro livro, o próprio personagem relata que sua mãe biológica era uma prostituta, com envolvimento em drogas, iniciando assim uma voltagem de experiências traumáticas, que claramente o marcaram, criando barreiras emocionais e psicológicas as quais vão sendo desvendadas durante os capítulos do livro. Com o ambiente familiar intrinsecamente conturbado, as dificuldades em manter relacionamentos saudáveis na vida adulta por Christian ficaram cada vez mais aparentes, pois a relação intrafamiliar, se caracteriza como fundamental  para a construção de uma saúde emocional benéfica, tendo os pais, o dever de proteção dos filhos (McGoldrick et al., 2016; Melo e Mota, 2013), o fato da relação intrafamiliar sem tal construção impacta diretamente nas relações sociais de qualquer indivíduo, como podemos ver no caso de Christian. 

Segundo as escritas de James (2011), Christian Grey,  teve uma infância completamente solitária e difícil, isso fez com que a falta de laços afetivos,  a negligência e os abusos vividos por ele, trouxesse uma disfuncionalidade em seu desenvolvimento emocional, marcado por um personagem conflituoso, com um padrão vicioso de comportamento abusivo e controlador, com baixa afetividade, o que pode desencadear psicopatologias diversas. (Cruvinel; Boruchovitch, 2009). 

Desse modo, de acordo com a teoria Psicanalítica de Sigmund Freud,  um trauma vivido, desencadeia sentimentos e emoções secundárias ao indivíduo, pela impossibilidade que esse tem, de conseguir sair daquele acontecimento em relação a sua natureza psíquica de forma rápida. Esse indivíduo fica submerso à essas emoções já vivenciadas, fazendo com que passe a se “autodestruir”, para afastar as possibilidades de angústia, pena e medo, que poderão vir, o que foi denominado por Freud em “Inibição, sintoma e angústia” (1926), de fator traumático. Esse fator traumático, é justamente o ego conseguindo se proteger inconscientemente desses excessos de sensações angustiantes e involuntárias, que os acontecimentos traumáticos trazem à tona, por minúcias diárias que podem se assemelhar ao que já foi vivido.

Freud traz ainda a ideia das regressões das fixações, que podem diretamente influenciar na formação da personalidade do indivíduo adulto,  e serem decorrência de traumas da sua infância. O que pode ser justificada também pela teoria do apego de (Bowlby 1988/1989),  onde a falta de uma base segura pode desencadear um apego inseguro no indivíduo adulto, de forma evitativa  e com oscilação do querer e da manutenção das relações, que o indivíduo traumatizado acaba por deixar com que o medo e a angústia da solidão já vivida, o impulsione nas relações, ou ao fazer ter uma dependência excessiva de uma figura central, que na trilogia é marcada pela Anastasia Steel, figura que ajudará o personagem a se perceber emocionalmente. 

Desse modo, a presente pesquisa tem a pretensão de aprofundamento sobre a personalidade do personagem Christian Grey,  diante da suas relações sociais,  profissionais e amorosa,  sendo um resultado das suas experiências traumáticas, sobretudo na infância e na adolescência, como modelo de estudo psicológico e entendimento dos padrões comportamentais que seguem a mesma vertente. É de tamanha relevância trazer que a intensidade dos impactos das relações e vivências traumáticas são inúmeras e diversas, e por isso, afetam de forma diferente cada ser humano, que possuem processos adaptativos  e resolutivos diversos. As escolhas atuais de acompanhamento psicológico geram um bem-estar maior e diminuem os impactos na formação da identidade e personalidade de crianças e adolescentes, e consequentemente nas relações interpessoais dos adultos. 

O tema em questão busca abordar de forma clara, principalmente o quanto um ambiente em que uma criança vive pode influenciar inclusive de forma direta o seu desenvolvimento cerebral.  Com a história de Christian Grey, podemos observar um pouco melhor sobre os impactos da infância na sua vida adulta, incluindo os possíveis transtornos e traumas que podem ser percebidos na trama, seguindo a Organização Mundial da Saúde [OMS], 2019), e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais na quinta edição – DSM-5, pela American Psychiatric Association, (APA, 2014) e seus critérios diagnósticos. 

O presente, objetiva mostrar mais afundo a importância dos cuidados em relação a saúde mental de um indivíduo em todas as fases da sua vida, bem como, os cuidados das pessoas também ao seu redor para que torne um ambiente mais agradável de se conviver, não zerando, mas diminuindo as chances de danos negativos no futuro dessas pessoas.

METODOLOGIA 

O presente artigo apresenta uma pesquisa documental, de maneira qualitativa, permitindo explorar vários materiais científicos e traçando um paralelo com uma fonte fictícia em formato de trilogia fílmica.  Para Cellard (2008), uma pesquisa documental necessita de rigor metodológico, principalmente em relação a coerência dos dados, concordância de direcionamento a ser trabalhado e uma interpretação clara, concisa e válida, diante das teorias que se quer apresentar. Essa metodologia permitiu analisar de forma minuciosa os padrões de comportamento do personagem principal dos livros, realizando um estudo psicológico a partir dos traumas por ele vivenciados. Para alcançar os objetivos traçados, foram utilizados artigos de autores renomados, como Sigmund Freud e Erik Erikson, com as contribuições para o entendimento sobre as dinâmicas do desenvolvimento humano, entrelaçadas a teorias que embasam os estudos psicológicos, como a Teoria do Apego de John Bowlby, o complexo de édipo freudiano, além de artigos encontrados em revistas científicas e acervos memoráveis, por meio de análise de dados, onde foi necessário buscar por terminologias e estudos atualizados sobre a temática, mas, revisitando aspectos históricos para formação de conceitos básicos necessários para a sintetização das ideias do artigo. Foi realizado ainda observação e análise de comportamento,  para compreender as complexidades de vivências traumáticas na formação da identidade nas fases iniciais de desenvolvimento humano,  assim como na formação da personalidade e dos comportamentos de adultos,  por meio de uma revisão literária sobre  a temática de impactos psicológicos.

2- RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.1 A trilogia dos 50 tons de forma breve e a análise comportamental do personagem Christian Grey.

 A trilogia “Cinquenta Tons” é um romance erótico contemporâneo escrito por  E.L. James, composto pelo primeiro livro, “Cinquenta Tons de Cinza” (2011), o segundo: “Cinquenta Tons Mais Escuros” (2012) e por fim, “Cinquenta Tons de Liberdade” (2012). A trilogia é vista como um drama psicológico, com muitos diálogos e uma descrição detalhada do relacionamento íntimo e amoroso entre os personagens principais da trama. O personagem estudado é Christian Grey, um jovem morador da cidade de Seattle, bilionário, 27 anos, empresário e CEO da Grey Enterprises Holdings Inc. É filho adotivo de Carrick Grey e Grace Grey, tem dois irmãos adotivos chamados Mia e Elliot. A infância de Christian não foi nada fácil, ele é filho de uma prostituta e viciada em ilícitos, como externalizado por ele:  “A mulher que me botou no mundo era uma prostituta viciada em crack” (James, 2011, p. p.327,), ele via a mãe ser agredida constantemente pelo seu cafetão, descrito assim na trilogia, onde ainda criança, era submetido a constante violência psicológica e física. 

É narrado, que esse cafetão de sua mãe, cometia atos violentos chegando até mesmo a causar marcas de queimaduras que eram ocasionadas por cigarros apagados de forma cruel no corpo de Christian, que além de negligenciado pela figura materna, sobrevivia precariamente à essas condições. Christian carrega o peso desses abusos na alma, que em momentos posteriores na trama, já adulto, ele expõe a sua percepção de si: “Porque sou cinquenta vezes fodido, de cinquenta maneiras, cinquenta tons diferentes, Anastasia” (James, 2011, p. 241,).

Ao longo da trilogia, observamos as interações de Christian Grey com os personagens que revelam aspectos importantes de sua personalidade e comportamento. Sua relação com a protagonista, Anastasia Steele, demonstra um padrão de controle e poder, influenciado pelas experiências traumáticas de sua infância. Além disso, sua interação com figuras como Elena Lincoln e sua família adotiva traz à tona aspectos de sua vivência passada que moldaram suas atitudes e escolhas na vida adulta, e suas relações com as então submissas sexuais, retratam a vivência e comportamentos que retomam a ideia do complexo de édipo, por mostrar o intuito do estilo de vida escolhido. Analisar essas interações nos permite compreender melhor as complexidades do personagem e como seu passado impactou diretamente seus relacionamentos e forma de conviver com o mundo à sua volta.

Podemos observar as transformações na personalidade de Christian Grey, que passa de um homem controlador e dominador para alguém mais aberto e disposto a se entregar emocionalmente. Sua relação com Anastasia Steele desempenha um papel crucial nessa transformação, levando-o a confrontar e superar seus traumas da infância, mesmo que muito devagar. Além disso, ao longo dos livros, ele busca terapias e orientações que o ajudam a lidar com suas questões emocionais e a se tornar uma pessoa mais equilibrada. Essas transformações refletem a influência do trauma de sua infância e mostram como ele conseguiu superar esses obstáculos para encontrar uma nova forma de se relacionar e viver sua vida, de maneira que mantivesse esse amor do seu lado.

Os seus primeiros anos de vida foram absolutamente conturbados, deixando marcas em toda sua trajetória, _“Tive um começo de vida muito duro”(James, 2011, p. 241,). Até os seus quatro anos, não teve experiências envolvendo amor e afeto, a atenção que recebeu foi associada à dor, nessa idade, viu a mãe suicidar em casa e conviveu com ela morta por quatro dias, pois como era uma criança muito pequena, não teve como pedir ajuda a alguém. Logo depois, as autoridades intervieram na situação, Christian então foi encaminhado para o hospital, onde conheceu Grace, a médica que o atendeu, que resolveu posteriormente  adotá-lo. Depois disso, como a nova família tinha uma boa condição, além de ser uma família estruturada e que cultivava atos de amor, Christian começou uma nova fase muito diferente da que estava vivendo, no entanto, mesmo sendo muito bem acolhido pela nova família, Christian ainda relataria que carregava consigo diferenças que a sua infância traumática lhe trouxe: “_É muito difícil crescer em uma família perfeita quando você não é perfeito”( James,  2011, p. 383,).

E foi na adolescência que ele conheceu Elena, amiga da sua mãe, casada e bem mais velha que ele, a qual o apresentou práticas sadomasoquistas e o estilo de vida BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo, Masoquismo), o fazendo descontar sua raiva e os seus medos no ato sexual, como válvula de escape. Christian era subimisso a ela, que o dominava completamente, mantiveram relações sexuais por um longo tempo, e nessas relações, Elena abusava psicologicamente de Christian, aumentando as situações traumáticas vividas, ainda adolescente.  

O problema, talvez até o menor deles, é a forma que Christian enxergava Elena, ele a via como uma pessoa que o salvou de um futuro não tão agradável, mesmo quando Anastasia disse para ele que a via como uma espécie de pedófila, para ele, ela foi alguém que pelo momento de vida, conseguiu ocupar um espaço de gratidão na vida do personagem. _”Para mim, não dava impressão de ser assim” (…) ela era uma força do bem. Aquilo que eu precisava”  (James, 2011,  p. 374,), relatava ele, quando falava sobre o que ela o ensinou. Ele acreditava cegamente que Elena o tornou alguém melhor, por hoje, ele ser um homem sedutor, controlador, que sabia exatamente o que queria, o personagem acreditava que Elena tinha uma grande contribuição em tudo isso, “Eu provavelmente teria ido pelo mesmo caminho da minha mãe biológica se não fosse a Mrs. Robinson” (…) Ela me amou de um jeito que achei…aceitável” (…) Ela me desviou do caminho destrutivo que eu estava seguindo” (James, 2011 p. p. 383,)

Para ele, Elena também o ensinou a pegar toda a sua raiva e levar para o lado sexual, levar o prazer como forma de descontar suas frustrações e angústia  em um aspecto positivo _“Para um adolescente de quatorze, quinze anos com os hormônios em fúria, era uma época difícil. Ela me mostrou uma maneira de colocar minha energia para fora.” (James, 2012, p.170,) (cinquenta tons mais escuros).

Com todas essas situações, Christian cresceu com raiva dentro de si, mesmo que inconscientemente, e quando adulto, sempre estava em um contrato com uma submissa. Contrato esse, que durava cerca de 1 ano, onde o dominador (Christian) e a submissa (que era escolhida de forma aleatória conforme o interesse dele) tinham relações sexuais violentas, contudo, obedecendo os limites de dor e sofrimento da submissa, esse contrato tinha o intuito de satisfazer os desejos sexuais e violentos de Christian, onde a submissa era “obrigada” a dormir na casa dele em um quarto separado para ela, para que não tivesse trocas de afeto e carinho, além de terem que seguir padrões físicos e de vestimentas escolhidas por ele.

Em uma entrevista cedida por Christian, ele conhece Anastasia Steele como jornalista, que vai até a sua empresa. Após isso, Christian fica muito interessado em Anastasia e a quer como sua submissa, e, ao mostrar seu contrato, ele percebe que ela é bem diferente das outras, pois ela fica totalmente horrorizada, mas rendida aos encantos, a longo prazo,  aceita o contrato estabelecendo seus limites de forma rigorosa. A trama continua até que o amor surge entre os dois fazendo com que Anastácia deixe de ser submissa e passe a ter um relacionamento mais sério com Christian, “Eu gosto de ter controle, Ana, mas com você isso… desaparece” (James, 2012 p. 31,) (cinquenta tons mais escuros), Anastasia consegue mudar algumas percepções, a forma de ver o mundo e até mesmo mostrar o que é verdadeiramente um amor, pois ele vai se tornando cada vez mais uma pessoa afetuosa e empática, conseguindo compreender as perspectivas dos outros e conseguindo se adequar ao estilo de vida que faz bem para os dois.

 Anastasia é uma mulher doce, gentil, muito inteligente, educada e independente, ao longo da trilogia ela vai se aproximando cada vez mais de Christian, o fazendo pensar mais nos seus atos, nas suas decisões e na forma de lidar com situações e pessoas, muito devido ao amor que tem por ela, “Fiquei cheio de vida desde que conheci você” (James, 2012, p.451,) (cinquenta tons de cinza), se tornando alguém menos amargurado e perceptivelmente mais feliz, vivendo um relacionamento pela primeira vez, de forma mais saudável, “Passei toda a minha vida adulta tentando evitar emoções extremas. Mas você…você desperta sentimentos em mim que me são completamente desconhecidos. É muito… perturbador” (James, 2012, p. 30,) (cinquenta tons mais escuros), mas nunca perdendo a essência: Christian Grey de ser.

Christian é um personagem sedutor, controlador, que adora dominar as situações e as pessoas, pode perceber que muito dos seus traços marcantes tem influência da sua infância e adolescência, onde passou por situações difíceis e traumáticas, com isso, é percebido o fator proteção exagerada de Christian Grey, sendo algo que se torna perceptível ao longo da trilogia. O controle também seria um fator de proteção, Christian queria controlar tudo o tempo todo, chegando ao ponto de comprar a empresa onde Anastasia trabalhava, é perceptível que além do ego, tal atitude tem a ver com esse fator de proteção, pois tendo o controle de tudo e também o temor das pessoas diante disso, fazia com que não cogitassem fazer algum mal à Christian, nem à suas pessoas de afeto.  

E por falar de controle, esse é um traço marcante na sua personalidade, _“Ah, eu controlo tudo, Srta. Steele”  (James, 2012, p. 13,) (cinquenta tons de cinza), o jeito desesperador por controle mostra muito sobre o passado de Christian, a dominação para ele chega ser algo de que ele tenha necessidade, como se ele precisasse disso, como se isso fizesse parte do que ele é.

-“Por que precisa me controlar?
– Porque isso satisfaz uma necessidade minha que não foi satisfeita em meus anos de formação
– Então é uma forma de terapia?
– Nunca pensei nisso dessa maneira, mas sim, acho que sim.” (JAMES, 2012, cinquenta tons de cinza).

 Podemos ver que Christian precisa desse controle para suprir algumas necessidades que não foram supridas no passado e ele tem consciência disso. Tal situação pode ter acontecido por Christian ter sido uma criança muito reprimida e por ter as suas vontades deixadas de lado, ninguém se importava com o que ele queria ou em suprir suas vontades.   

“ Sou dominador. 
– O que isso quer dizer? –
– Quer dizer que quero que você se entregue espontaneamente a mim, em tudo.
-Por que eu faria isso?
– Para me satisfazer – Em termos muito simples, quero que você queira me agradar – ( James, 2012, p.93, cinquenta tons de cinza)”.

 Já na adolescência, a situação se repetiu devido à submissão à Elena, que o controlava e nutria tal senso de repressão e inferioridade, além disso, o domínio e controle para Christian remete ao prazer devido toda raiva que passou na sua infância e adolescência, trazendo esses sentimentos para um lado sexual, pois para ele a melhor forma de se “vingar” de tudo, como trazido:

– Então não é a dor que você me faz passar? 
— Um pouco, para ver o que você aguenta, mas não é só isso. É também pelo fato de você ser minha para eu fazer o que achar conveniente. Controle máximo sobre outra pessoa. E isso me excita. Muito, Anastasia. Olha, não estou me explicando muito bem… Nunca tive que me explicar antes. Ainda não pensei nisso muito a fundo. Sempre estive com pessoas com a mesma mentalidade. inclusive do que sua mãe o fez passar, era agir de forma violenta com as mulheres que se pareciam com ela (…) 

Em outro trecho, ele diz:

_“eu sou um sádico, Ana. Eu gosto de chicotear garotas morenas feito você porque todas vocês se parecem com a prostituta viciada…minha mãe biológica. E eu tenho certeza de que você é capaz de imaginar o por quê.”  (James, 2012, p. 301,) (Cinquenta tons mais escuros), Olhando para essa frase, e analisando pelos olhos da psicologia podemos perceber a presença do complexo de édipo, que segundo a teoria psicanalítica, Freudiana, está intrinsecamente relacionada com a fase fálica do desenvolvimento psicossocial da criança, onde essa criança passa a sentir um desejo por essa figura materna (Freud, 1900). O desenvolvimento dessa fase traz uma importância maior para a formação da personalidade do adulto, a formação do superego e um imaginário dotado de sexualidade. Jacques Lacan, (1957), traz a ideia pela ótica da construção dos impulsos do homem, necessitando de leis que consigam regular esse instinto, que nessa esfera freudiana, não há muito controle. Christian, portanto, é a representação inata de impulsos edipianos que se sobressaem em seus comportamentos, por falta de uma resolução no seu passado.

Outro traço da personalidade de Christian que chama muito a atenção dos leitores é a frieza perante situações. Essa frieza, além de ser um fator de proteção, é claramente uma consequência da falta de amor e afeto, e o excesso de violências sofridas na sua vida. É quase como se ele tivesse se blindado para nunca mais se machucar novamente, uma autoproteção, devido ao sentimento de rejeição vivida na infância e adolescência. Quando o personagem se vê apaixonado por Anastasia,  ele fica totalmente desnorteado, a raiva e o sentimento de medo muitas vezes tomou conta dele e o deixou sem saber o que fazer e até mesmo tomando atitudes precipitadas e impulsivas, pois era um sentimento novo. Esse mesmo sentimento se repetiu quando Anastasia contou que ele seria pai, a raiva e o medo se sobressaíram, acredita-se que por ter uma baixa autoestima e não ter tido a presença do pai biológico na infância, Christian ficou bastante receoso com a notícia. Além da frieza, os atos de violência de Christian se tornaram algo chamativo durante a trilogia, pois ele demonstrava o quanto se sentia bem quando cometia atos violentos.

 _“Gosto do controle que isso me dá, Anastasia. Quero que você se comporte de um determinado jeito, e se você não se comportar, punirei você, e então aprenderá a se comportar do jeito que eu quero. Gosto de castigar. Quis dar uma surra em você desde que me perguntou se eu era gay”. (JAMES, 2012, cinquenta tons mais escuros)

Esse trecho do livro, traz o intuito comportamental de Christian Grey, que podem ser estudados sobre os princípios básicos do behaviorismo radical de B.F. Skinner, um psicólogo norte-americano, com a punição explícita pelo personagem, e a teoria do condicionamento operante, formulado em 1937. Para essa abordagem, o comportamento é condicionado pelas consequências que ele gera, tendo uma probabilidade maior ou menor da ocorrência, também pelas contingências o atinge (Skinner, 1957).

Essas consequências podem ser um reforço diante de algo feito, aumentando a possibilidade desse comportamento ser realizado novamente, ou a punição, levando a diminuição ou extinguindo o comportamento realizado, “(…) Se uma dada resposta for seguida por um estímulo aversivo, qualquer estimulação que acompanhe a resposta, originando-se do próprio comportamento ou de circunstâncias concomitantes, será condicionada (…)” (Skinner, 1953/1965, p. 188,), que era o intuito do personagem durante toda a trama, e explicitamente trazido nesse trecho, em que Christian Grey aplica a punição, como tentativa de controlar o comportamento de Anastasia, modificando-o de maneira que o faça se sentir mais seguro e confortável na situação. É necessário trazer uma explicação sobre esse comportamento de Christian, por ser também um aprendizado dele, uma vez que ele foi condicionado durante toda a infância a ter comportamentos direcionados à satisfação das necessidades de seu padrasto e mãe adotiva, sofrendo punições físicas e psicológicas que se moldam dentro dos preceitos e formação familiar a ele apresentada.

Portanto, ele passa a se colocar no papel de opressor, aprendido durante a adolescência, tentando agora ensinar por meio desses mecanismos de condicionamento, reforçando o que ele deseja que Anastasia mantenha e punindo ações que ele repudia, assim como já foi feito com ele pelos personagens já citados.

Em outro relato entre Christian e Anastasia ele traz novamente essas ideias behavioristas, com o intuito tão somente de dominar e moldar o comportamento de Ana, por meio de suas contingências.

“_Eu tenho regras, e quero que você as obedeça. Elas são para o seu bem e para o meu prazer. Se seguir essas regras como eu desejo, eu a recompenso. Se não seguir, eu a castigo, e você aprende 

– E como tudo isso se encaixa? – faço um gesto mostrando o quarto todo.
– Isso tudo faz parte do pacote de incentivo. Recompensa e castigo.
– Então você se excita exercendo sua vontade sobre mim.

— Tudo gira em torno de conquistar sua confiança e seu respeito, para você deixar que eu exerça minha vontade sobre você. Quanto mais se submeter, maior minha alegria. É uma equação muito simples.” JAMES (2011, cinquenta tons mais escuros)

É percebido ainda nesse momento da trilogia, que Christian, tem o desejo de causar dor e de humilhar, pelo sadismo existente, como forma de satisfação própria, que foram ensinados a ele ainda criança que era a forma de dar afeto, amor e de satisfação. (Esse era o lado sombrio do personagem, que, como dito por Jung (documento online, parágrafo 131).) “Todo mundo carrega uma sombra, e quando menos ela está incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela é (…)”. Christian escondia esse lado dele, e o mostrava apenas com quem ele se sentia mais íntimo, dando voz à sua personalidade e permitindo que seus anseios fossem expostos.

Ao fazer análise funcional de Christian Grey através da perspectiva Behaviorista, a teoria examina como as ações de controle são reforçadas ou punidas pelo ambiente, é possível compreender como suas experiências passadas contribuíram para seus padrões comportamentais devido às influências do ambiente e a função que o comportamento possui naquele ambiente. Essa análise além de trazer uma vantagem na identificação das variáveis que influenciam o comportamento contribui para intervenções de forma eficiente.

No caso de Christian Grey, seu comportamento dominador, controlador e muitas vezes emocionalmente distante é interpretado como uma resposta aprendida a eventos traumáticos anteriores. Ele enfrentou abusos físicos e emocionais na infância, o que gerou associações negativas e respostas emocionais intensas. Essas experiências moldam suas reações emocionais a estímulos específicos, como medo, ansiedade, raiva, frustração, evitação (Milenson, 1967; Skinner, 1953/2003). Essas experiências pessoais de Grey, fez com que ele aprendesse comportamentos específicos, observando figuras de autoridade e modelos em seu ambiente intrafamiliar. Pela teoria behaviorista, agora adulto, ele reproduz o que internalizou dos comportamentos observáveis, vistos por ele como eficazes, para tentar lidar com o seu trauma pessoal. 

Christian desenvolveu comportamentos controladores como estratégia para lidar com sentimentos de vulnerabilidade e falta de controle. O Behaviorismo examina como suas ações de  controle são reforçadas ou punidas pelo ambiente. Ele percebe que controlar outras pessoas evita a dor emocional e aumenta seu poder e segurança pessoal. 

A principal hipótese para Christian ser tão violento e sentir prazer com isso tem a ver com o seu passado, suas vivências e traumas, Christian se sente bem quando desconta sua raiva de forma violenta em alguém, principalmente se for também sexual, isso acontece, como falamos mais acima, devido a Elena ensinar Christian a descontar essa raiva no ato sexual, chegando ao ponto de no momento que ele sentir raiva já remeter a violência sexual, se Christian tivesse vivido sua infância em um lar amoroso e acolhedor e caso na sua adolescência não tivesse vivido por 6 anos como submisso de alguém, muito provavelmente essa não seria a forma que ele descontaria sua raiva ou viver sua vida.

Esses comportamentos do personagem, comprovam a ideia que ele tem uma crença central ou comportamento regulado por regras, que é um termo bastante utilizado pelos autores consagrados das abordagens cognitivas comportamentais, nota-se que ele não se acha merecedor da felicidade, nem de ter alguém legal ao lado, assim como não acredita ser capaz de fazer uma pessoa feliz, as crenças centrais são provenientes do ambiente que você vive ou diretamente do seu cognitivo, no entanto o ambiente será crucial para as crenças aumentarem ou diminuírem. Essas crenças são um grupo de normas que você estabeleceu ao longo da sua vida, muitas vezes sem perceber, modulando a sua forma de ver o mundo. Elas são aquilo que você acredita sobre si e leva como verdade, o problema é que se for uma crença negativa (como a de Christian, por exemplo), quanto mais tempo as crenças permanecem, mais difícil é a mudança; isso porque o nosso cérebro via neuroplasticidade vai fixando essas crenças cada vez mais, melhorando esse estado de pensar e acreditar no que é formulado. 

O cérebro vai distorcer a realidade de acordo com o que você acredita, que no caso de Christian, personagem estudado, pode-se perceber, que suas crenças vêm desde a infância, o que dificulta muito o processo de mudança,  pois seu cérebro já está acostumado com esses pensamentos negativos, tornando seu comportamento rígido e necessitando de um olhar clínico mais cuidadoso e principalmente de uma rede de apoio afetuosa, segura e de confiança. 

2.2 Natureza do trauma

Um trauma psicológico,  é um fenômeno que possui várias definições pela sua complexidade,  mas refere-se principalmente a uma resposta emocional a momentos e experiências visualizadas de forma subjetiva,  interpretadas como ameaçadoras e intensas. Para a American Psychological Association (APA), o trauma é “qualquer experiência perturbadora que resulte em medo significativo, desamparo, dissociação, confusão ou outros sentimentos perturbadores intensos o suficiente para ter um efeito negativo duradouro nas atitudes, comportamento e outros aspectos do funcionamento de uma pessoa”( APA, 2018).

Ainda segundo a associação americana de psicologia, essa dissociação que o trauma pode causar  nesse indivíduo vulnerável,  aparece como um mecanismo de defesa, para que o indivíduo consiga separar esse sentimentos e impulsos conflitantes do restante da sua psique,  podendo influenciar diretamente na sua memória,  e na forma de visualizar e lembrar dos acontecimentos perturbadores.  

O trauma funciona como uma resposta intensa e prolongada a situações altamente estressantes e dominantes, decorrentes de experiências marcantes e negativas. Essas situações causam amedrontamento, intimidação, constrangimento a vida de uma pessoa, impactando profundamente a saúde emocional e psicológica.

De acordo ainda com a psicanálise clássica, essa reação do Ego de forma inconsciente,  é a proteção da mente em relação ao corpo, pois, reage ao mundo externo, resolvendo as demandas diárias,  adaptando e ajustando diante da realidade,  e que pode assim culminar em um conflito psíquico pela possibilidade de distorção da realidade, denominada de negação, que é também um mecanismo de defesa inconsciente, em que o indivíduo por meio do sentimentos e pensamentos,  acabam por ignorar as experiências negativas vivenciadas,  excluindo-as da sua consciência de forma momentânea, a curto prazo ou a longo prazo. Esse processo é feito de maneira imatura, trazendo a sensação de resolução do conflito interno existente após a experiência traumática, servindo como ponto de diminuição das consequências emocionais geradas no indivíduo ( APA, 2023).

Percebe-se ainda que,  dentro da trilogia o personagem estudado,  se adequa tanto a negação,  quanto a outra terminologia da psicanálise clássica que é a sublimação a partir da sua infância traumática. A sublimação se apresentaria De forma inconsciente mais madura, mas, ainda como o mecanismo de defesa desse indivíduo, Esse processo permite  que os impulsos sejam realizados de maneira que satisfaça o indivíduo de forma indireta,  mas realizando verdadeiramente o seu desejos mais primários,  que na maioria das vezes está relacionada com a formação da sua personalidade após a vivência traumática, que voltando para o personagem Central Christian Grey, seria o ímpeto dos comportamentos agressivos, sexualizados e abusivos, que passam a ser realizados por ele de maneira aceitável dentro das relações íntimas, satisfazendo um impulso inconsciente de maltratar terceiros por já ter vivido essas experiências na infância.

Seguindo esse viés de estudo, a American Psychological Association, traz que a sublimação dentro da psicanálise clássica ainda, seria esse processo em que:

“impulsos sexuais ou agressivos inaceitáveis  são inconscientemente canalizados para modos de expressão socialmente aceitáveis  e redirecionados para novos comportamentos aprendidos, que indiretamente fornecem alguma satisfação para os impulsos originais. Por exemplo, um impulso exibicionista pode ganhar uma nova saída na coreografia; um desejo voyeurístico pode levar à pesquisa científica; e um impulso perigosamente agressivo pode ser expresso impunemente no campo de futebol. Além de permitir satisfações substitutas, tais saídas são postuladas para proteger os indivíduos da ansiedade induzida pelo impulso original.” ( APA, 2018)

O psiquiatra Bessel Van Der Kolk em resposta na entrevista da revista Inspira, disse que “as marcas das experiências traumáticas não se organizam como narrativas lógicas e coerentes, mas como vestígios sensoriais e emocionais fragmentários: imagens, sons e sensações físicas” (VAN DER KOLK, Bessel, 2021), portanto, o trauma é uma reação a algo e à experiência vivida, e não somente uma memória.  É por isso que experiências semelhantes impactam pessoas de forma distinta, por causa-efeito da sua reação ao retorno dessa experiência. “Essa lembrança ou está inteiramente ausente da recordação do paciente, quando este se encontra em seu estado normal, ou está presente apenas em forma rudimentar, condensada.” (Freud, 1990 [1940- 1941 [1892] ], p. 220,).

Freud reconheceu o trauma desde seus primeiros escritos sobre a histeria, trazendo essa questão “como um corpo estranho que, muito depois de sua entrada, deve continuar a ser considerado como um agente que ainda está em ação” (Freud, 1987 [1893a], p. 44,), satisfaz assim, a ideia de que o trauma é um afeto na tentativa de ser excluído,  que provoca efeitos no psiquismo humano de maneira disfuncional e diversa,  pelos contextos ambientais,  genéticos e históricos de cada ser. Freud elucida a ideia de que o trauma é esse afeto que fica represado transformando-se um comportamento real,  pela presença desse corpo estranho citado por ele no psiquismo humano,  o que faz com que a homeostase de todo aparelho seja comprometido, podendo ser visto como fator patológico (Freud, 1893a).

Existem vários tipos de trauma,  que são classificados em categorias distintas de acordo a sua formação,  ou seja,  seu agrupamento é feito a partir da natureza do evento causador.  Dentro das denominações clínicas atuais, o primeiro seria o trauma agudo, que se firma após um evento de alto estresse ou de muito perigo, o trauma crônico, apresentado após uma exposição maior a progressivos acontecimentos de estresse e perigo, visualizados como complexos também e  o trauma secundário, aquele que se caracteriza pelo convívio com pessoas que vivenciaram momentos traumáticos.

Algumas experiências traumáticas durante o período da infância,  impactam a vida do ser humano como um todo,  fazendo com que esse  indivíduo mude sua personalidade,  tornando-se pessoas completamente desafiadoras dentro do seu cotidiano.  Experiências desde a negligência familiar até abusos sexuais tem um efeito traumático que podem impactar de diversas maneiras,  algumas até de forma inconsciente,  que mesmo sem trazer um sofrimento nomeado pelo indivíduo,  as consequências podem ser diante de uma frieza,  apatia,  dependência emocional,  manifestando de maneiras diversas nos aspectos da personalidade, que muitas vezes vem à tona em sonhos íntimos nesses indivíduos. 

“Sustentamos, portanto, que as experiências sexuais infantis constituem a precondição fundamental da histeria, que são, por assim, dizer, a predisposição para esta, e que são elas que criam os sintomas histéricos — mas não o fazem de imediato, permanecendo inicialmente sem efeito e só exercendo uma ação patogênica depois, ao serem despertadas, após a puberdade, sob a forma de lembranças inconscientes.” (FREUD, 1896b/1994, p.207)

 Esses aspectos podem influenciar no processamento da autoimagem do indivíduo,  com a dificuldade de sentir-se felizes dentro das realidades montadas,  e até mesmo a negação de ser merecedor de afeto.  Outro ponto que pode ser influenciado na vida de um adulto que sofreu um trauma na infância,  é a dificuldade de regulação emocional,  com momentos de explosões desreguladas entre a raiva e a tristeza, medo e euforia.

Esses aspectos influenciam diretamente nos relacionamentos, fazendo com que passe a ter disfuncionalidade em qualquer relação interpessoal, seja familiar, profissional, amorosa, passando a ter dificuldade em confiança,  necessidade de controle excessivo, dependência e até mesmo a falta de entrega dentro das relações. Essas disfuncionalidades podem gerar comportamentos autodestrutivos e até  agressivos,desencadeando padrões de relacionamentos cada vez mais difíceis e conturbados. O indivíduo que passou por um evento traumático durante a infância pode também desencadear dificuldades no aprendizado, na memória e na concentração,  pela área do neocórtex cerebral,  acabar por se proteger,  anulando alguns eventos,  e dificultando nas tomadas de decisões que são processadas nesse setor. Nesse sentido:

Consideremos o caso de uma pessoa sujeita a um trauma, sem antes ter estado doente, e talvez, mesmo sem ter qualquer predisposição hereditária. O trauma deve satisfazer a certas condições. Deve ser grave — isto é, ser de uma espécie que envolva a ideia de perigo mortal, de uma ameaça à vida. Mas não deve ser grave no sentido de pôr termo à atividade psíquica. De outra forma, não produziria o resultado que esperamos dele. (FREUD, 1893/1994, p.37)

A consequência do trauma se reflete na habilidade de controlar as próprias emoções, pensamentos e ações. Além disso, ao considerar o bem-estar físico e as interações sociais, eventos traumáticos perturbam significativamente a vida pessoal, social e desempenho acadêmico ou profissional do indivíduo. No caso da infância, que é associada à inocência e diversão, reflete para diversos aspectos, uma realidade diferente. Mágoas na infância são lesões imperceptíveis que resultam em marcas emocionais profundas, impactando a vida adulta de forma permanente, principalmente pela a violência física e tortura psicológica.

A violência física envolve o uso da força ou do poder real para causar lesões, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação a si mesmo, a outros indivíduos, ou a um grupo ou uma comunidade. (OMS, 2002).  A tortura psicológica, chamada também de violência psicológica, acontece quando um adulto diminui constantemente uma criança, bloqueia sua autoaceitação e esforços, causando grande sofrimento mental, ameaças de abandono podem deixar a criança medrosa e ansiosa, representando diferentes formas de sofrimento psicológico. (Guerra, 2007). 

Os impactos  desses traumas variam, uma vez que podem influenciar o crescimento emocional e psicológico das crianças, frequentemente sem os meios adequados para lidar com sua situação. Isso resulta em emoções de culpa, vergonha e medo que persistem na vida adulta, impactando de forma negativa os relacionamentos e a saúde emocional.  Entender a extensão do efeito dos traumas na infância é fundamental para começar o caminho da recuperação. Com o apoio correto e determinação própria, é viável criar um amanhã mais saudável e equilibrado, não importando as dificuldades enfrentadas no passado. 

Iniciado com trauma vivido na infância, e depois com as consequências comportamentais geradas a partir da falta de regulação emocional dentro das relações interpessoais,  acabam por ter uma grande possibilidade do indivíduo desenvolver diversos transtornos como o Transtornos de ansiedade generalizada, transtorno do pânico (TP), depressão, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), entre outros, advindos de um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

De acordo com o CID-11, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), de código Código : 6B40, “pode se desenvolver após a exposição a um evento ou a uma série de eventos extremamente ameaçadores ou ameaçadores.” (OMS, 2019). Apresentando ainda uma série de sintomas que vão desde a pensamentos intrusivos, como  “flashbacks” muito vívidos, até a tentativa de evitar situações que possam se assemelhar ao evento traumático, podendo também ser percebido quando o indivíduo começa a ter percepções de ameaça a todo instante, com uma hipervigilância constante, que é característica do personagem estudado. É, portanto, chamado de transtorno, quando esses sintomas passam a se repetir por semanas, atrapalhando o dia-a-dia do indivíduo, com prejuízos nas esferas sociais, ocupacionais e familiares. Sobre esses flashbacks, eles acontecem como lembranças Intrusivas, por meio de falsas memórias, ou memórias que são produzidas a partir de vivências parecidas com os acontecimentos traumáticos, ou com trechos picotados da experiência, deixando lacunas nessa memória traumática, devido aos fragmentos soltos.

O CID-11, descreve ainda como Transtorno de estresse pós-traumático complexo (complexo TEPT), de código 6B41, que é desenvolvido pelos mesmos eventos do anterior citado, mas, com uma exposição maior e mais duradoura, prolongados e com teor ameaçador elevado, apresentando dificuldade em sair da situação. (OMS, 2019). O que nos faz voltar à trilogia estudada, em que apresenta a vivência de violência doméstica, abuso sexual e físico durante a infância e adolescência de Chistian Grey, sendo fatores determinantes para a formação do seu comportamento atual com disfuncionalidades.

A Classificação Internacional de Doenças, na 11ª Edição, traz ainda que o complexo TEPT apresenta no indivíduo características de dificuldades  na regulação afetiva e por isso os relacionamentos são conturbados e não conseguem se aproximar de outras pessoas de forma genuína e tranquila, além de ter pensamentos pessoais a respeito próprio de vergonha, derrota e até culpa em relação à experiência traumática vivida. Todos esses sentimentos, podem vir acarretados de comportamentos autolesivos, grosseiros, agressivos, com extrema timidez, pessimismo ou pensamentos alucinantes.

O TEPT- sob o código 309.81, que corresponde ao código 6B40 no CID-11 e ao F43. 10 do CID-10 ainda utilizado é apresentado no DSM-5 que o classifica na seção dos Transtornos Relacionados a Trauma e a Estressores, o descrevendo também com a possibilidade de pensamentos “com uma qualidade alucinatória”, e uma neurose apresentada pela hipervigilância. O evento traumático vivenciado deve vir promovendo esses sintomas que fazem o indivíduo reviver o momento ou a ter reações físicas e comportamentais para que consiga diagnosticar com tal determinação. (APA, 2013, p. 105,).

É possível observar esses sintomas claros dentro da trilogia estudada no personagem Christian Grey, não somente sabendo das experiências de abusos e negligência, mas, assim como já relatado, pela diferença abrupta que ele enxerga a realidade, não conseguindo associar seu passado tal qual aconteceu, camuflando acontecimento ao ter que lidar com os pensamentos do seu passado ou ao contar fragmentos de sua história perturbadora, fazendo com que tenha uma necessidade de controle excessivo, caracterizado pela hipervigilância e mostrando a necessidade de gerenciamento emocional.

É percebido então que o trauma por si só tem efeito avassaladores de cunho emocional, cognitivo e comportamental, transformando em transtorno e afetando regiões cerebrais e ativando o sistema nervoso autônomo, com alterações  do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que faz a regulação  após uma demanda de estresse, liberando o cortisol (Sapolsky, Romero, & Munck, 2000). O TEPT por sua vez, acaba por fazer com que as respostas em relação a esse cortisol liberado, sejam efetuadas de maneira disfuncional, não combatendo o estresse e alertando todo o sistema por períodos maiores, com altos níveis de noradrenalina correlacionados a todos os outros aspectos.

O indivíduo com  Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), apresentam ainda uma queda nas respostas e nas atividades do córtex pré-frontal (nas suas três subdivisões), devido a alta demanda do estresse que está necessitando de respostas neurais Fuster (2001). O TEPT interfere diretamente na memória, devido a alterações na região do hipocampo, e essas memórias a longo prazo, acabam por serem fragmentadas, desassociadas ou completamente apagadas. A amígdala cerebelar que tem o papel de processar essa emoção para dar a resposta condizente a esse estímulo estressor, não consegue passar as informações condizentes ao córtex pré frontal, que paralisa diante desses estímulos (McEwen, 2003 ).

Ao trazer a sensação de perigo, revivendo os momentos traumáticos, acontece a ativação do sistema nervoso simpático, e é justamente essa ativação que causa os pesadelos, a hipervigilância, alterações de humor, pelas alterações de serotonina, reações grosseiras, e rápidas, que, se mantidas por muito tempo, pode levar à cronicidade do TEPT, pelo excesso de cortisol na corrente sanguínea, reagindo com estresse, “secretando hormônio e a neurotransmissora adrenalina para auxiliar na resposta de luta e fuga, como dito por acordo com McEwen (2003)”.

Diante dessa vertente de pensamento, Shonkoff et al. (2011), disse que as funções executivas são prejudicadas no indivíduo que teve uma exposição a eventos e múltiplas violências. Já que as funções executivas se determinam como sendo as habilidades cognitivas que direcionam o indivíduo a conseguir planejar, pensar, controlar, organizar e realizar ações voluntárias, com estratégias de comando e de resolução de conflitos  imediatos, e/ou de médio e longo prazo (Capovilla, Assef, e Cozza, 2007; Malloy-Diniz, Sedo, Fuentes, e Leite, 2008; Santos, 2004). Percebe-se então, que, ao passar por experiências traumáticas as tomadas de decisões ficam suscetíveis à disfuncionalidades, diante dessa queda de resposta e de atividades do córtex pré frontal, que se responsabiliza pelas ações cognitivas, emocionais e comportamentais, devido a não integralidade dessas funções executivas nos módulos corticais dos lobos frontais direito e esquerdo, como apontado por Peres e Nasello (2005), correlacionando com estudos dessa área em indivíduos com TEPT.

A falta de regulação emocional então do personagem estudado, e de indivíduos com o transtorno de estresse pós-traumático, está diretamente ligado a essas estruturas mencionadas e no excesso ou falta de ativação de suas funções regulatórias integradas. E por isso, é necessário ter um acompanhamento do quadro para que essa condição não tenha um impacto negativo maior na vida dos sujeitos, que precisam de tratamento eficaz, multidisciplinar, com abordagens e intervenções que não deixem o quadro se expandir para outros transtornos, que hoje estão em uma crescente ligados ao TEP, como a depressão, transtorno de ansiedade, vício em substâncias, transtorno de humor e de personalidade como o borderline e o transtorno narcisista.

2.3 Formação da personalidade após vivências de traumas na infância e sua implicações

Para a classificação Internacional de Doenças, o transtorno de personalidade e traços relacionados, é dado como transformação de personalidade- 6D10, que é caracterizado por problemas no funcionamento de aspectos do “self”(…) (OMS, 2024), “Self”, que foi introduzido na psicologia em 1980, por William James, trazendo a ideia do “EU”, como sujeito, auto identidade, autoconhecimento e consciência de si mesmo. Portanto, o transtorno de personalidade é uma interferência no funcionamento da junção de fatores relacionados nas condições interpessoais do sujeito.  características relacionadas à sua identidade,  direcionamento e autoestima apresentam disfunções,  assim como, problemas na manutenção de relacionamentos,  e na construção da empatia básica existente em indivíduos funcionais,  com dificuldade de compreensão do ponto de vista do outro,  como citado pelo CID-11.

Essas responsabilidades de caráter pessoal e das relações interpessoais são dadas como transtorno para tal classificação, quando  persistem por um período maior ou igual a dois anos, com prejuízos nas relações familiares, amorosas, profissionais.  Existe claramente em pessoas com transtornos de personalidade, padrões nas suas relações amorosas, padrões de formação de ideias, comportamento e na expressão emocional. Existem, portanto, inúmeras formas características do distúrbio que não seguem a adequação dos estágios de desenvolvimento, mas que possuem diferenças a depender da análise cultural, religiosa,  social e política.  

Existe ainda, uma subdivisão da transformação de personalidade, em leve, moderada e grave, que está relacionada ao sofrimento e dano substancial que causa ao indivíduo ou a outros, de acordo com a quantidade de áreas da vida que há prejuízo.

Para Winnicott (1983), existe um verdadeiro e um falso Self, o verdadeiro, existe quando há organização psíquica do indivíduo, sendo assim, tudo que desorganiza esse senso de autopercepção, de realidade, separando mundo interior e exterior e dificultando as análises subjetivas do indivíduo e suas relações interpessoais, seria um transtorno do Self, justificando a utilização do termo pelo CID-11, para definição de transtorno de personalidade.

Os transtornos de personalidade, em sua definição, possuem uma atuação gênica e a forma que os genes se expressam a partir de fatores ambientais que acabam por modificar o funcionamento cerebral, como dito pelo psiquiatra Mark Zimmerman, (2023), ao Manual MSD.

Os fatores biológicos trazem uma porcentagem significativa na probabilidade de desenvolvimento de transtornos de personalidade, que estão ligados às percepções pessoais do indivíduo. As bases neurobiológicas também interferem no funcionamento como visto acima, em que agentes estressores podem causar certas disfunções principalmente no sistema límbico, que regula as emoções do indivíduo, estando ligado para sinais de diferenciações nos traços de personalidade, podendo levar a um transtorno de personalidade. O fator ambiental e as experiências vividas durante a infância que é um período de formação de algumas áreas cerebrais, contribuem para o desenvolvimento de transtornos de personalidade na vida adulta, devido justamente ao amadurecimento dessas áreas a partir dessas experiências adversas, dessas disfuncionalidade dos neurotransmissores e das condições psicossociais que formam esse indivíduo.

Analisando então, as teorias de formação da personalidade, é necessário revisitarmos a Teoria do apego de Edward John Mostyn Bowlby, em que analisa o vínculo das primeiras relações, que acarretará na formação do apego, inicialmente entre pais e bebês, denominado de apego-cuidado (Bowlby,1969/1990). Para Bowlby, 1969/1997), O apego é na verdade  um senso de segurança que liga uma figura a outra,  trazendo a sensação de conforto,  em que essa “base segura”,  permite com que haja uma exploração do mundo a partir daquela presença, pela motivação interna gerada. 

É estudado sobre a formação de modelos representativos sobre a figura de apego do indivíduo e o “self”, que está se formando, Bowlby (1989). É por esse ponto que a personalidade pode ser moldada através desses laços formados, (Bowlby, 1973/1998a), trouxe a ideia de modelo funcional do self, que a criança forma diante da postura de aceitação ou não, que suas figuras de apego demonstram sobre esse indivíduo em formação, moldando e modificando o que é sentido pelo indivíduo dentro dessa construção de vínculos, que interfere no seu desenvolvimento futuro. Os padrões de apego gerados na infância podem determinar a formação de identidade e o desenvolvimento emocional que será estabelecido como modelo de apego seguido por esse indivíduo ao longo de sua vida (Bowlby, 1989). 

Para (Bowlby, 1989), a criança passa a construir um modelo interno de si mesmo, que o represente, a partir da interação com essa figura de apego e da forma como foi cuidada nesse momento de vida. E isso justifica Christian querer aprisionar quem ele ama, pelo medo de perder, por ter criado a imagem de necessidade do outro e projetando ao outro a permanência com o cuidado excessivo, que ele não teve com suas figuras de apego durante a infância. Mostrado em diálogo entre Christian e Anastasia na página 446 do primeiro livro – cinquenta tons de cinza:

“_ Quero machucar você. Mas não além do que você é capaz de aguentar.    _ Por quê?     

 _ Eu simplesmente preciso disso (…). Não sei dizer. (…) 

 _ Se eu disser, você vai sair correndo dessa sala para nunca mais voltar (…). Não posso correr esse risco, Anastasia. 

 _ Quer que eu fique?

 _ Mais do que pensa. Eu não suportaria perdê-la.” (James, 2012, p. 446,)

Para Christian Grey, o modelo de base segura foi disfuncional, e seus vínculos justamente nessa fase de desenvolvimento primário, foram cortados e com  rupturas traumáticas, trazendo sentimentos instáveis que se tornaram persistentes na sua vida adulta, como mostrado principalmente pela perda da mãe biológica. Ao haver esse rompimento na interação com a figura materna na primeira infância, pode acarretar em efeitos adversos no desenvolvimento, (AINSWORTH e BOWLBY, 1991), esses efeitos são percebidos na fase adulta pelos comportamentos inseguros, de controle excessivo, desorientação, entre outros, que foram investigados por M. Ainsworth (1978), em relação à teoria do apego em adolescentes e adultos, tem não somente os genitores com uma figura principal de segurança, mas, pela construção de todas as relações interpessoais, estando diretamente relacionada à diferenciação do estado mental do indivíduo.

Desse modo, a categoria de apego adulto identificada diante dos relatos e da análise feita sobre os comportamentos atuais de Christian Grey, é do apego desorganizado/desorientado, uma vez que traz uma desorganização em momentos de diálogos simples sobre os eventos traumáticos ou perdas importantes, com sinais de desorientação ao ter que responder alguns questionamentos (Cortina e Marrone, 2003). Como o seguinte diálogo também de Christian com Anastasia, no segundo livro da trilogia –  cinquenta tons de liberdade:

“_ você me perguntou por que eu sempre faço uma trança no seu cabelo.

_ perguntei ( respondeu Anastasia)

 _ A prostituta drogada me deixava mexer no cabelo dela, eu acho. Não sei se é uma lembrança ou um sonho.) ( James, 2012, p. 57/58,).

Essa desorganização mental, flashbacks soltos, sonhos, recortes das suas experiências de vida, fundamenta a ideia de  que o apego gerado é realmente o apego desorganizado/desorientado, indicado por  M. Ainsworth (1978). Com isso, é necessário avaliarmos as compreensões de Freud, no final do século XIX e início do século XX, sobre a teoria da psicodinâmica, para entender a formação da personalidade, através da junção do: o id, o ego e o superego. Envolvendo o primitivo, o racional e a moral que constroem a personalidade, através das interações sociais, percepções do mundo e de si mesmo e que a partir de conflitos internos e experiências adversas na primeira infância, podem ocasionar em disfuncionalidades na vida adulta. Pelo desenvolvimento psicossexual de Freud (1905/1996), caso ocorra uma fixação em um dos estágios/fase de desenvolvimento pode acarretar em características persistentes e específicas da personalidade do indivíduo.

Sobre isso, (Klein, 1930/1996) enfatizou que o que a criança experimenta na sua infância como realidade, é na verdade uma realidade fantasiosa, que cede espaço para a verdadeira realidade, quando o ego se constroi e se firma, na interpretação consciente do que é vivido, e na formação das suas emoções, que serão organizadas dentro do seu padrão de comportamento futuro. 

Segundo Freud, os processos mentais ocorrem de forma encadeada, sequencial, ou seja, nenhum pensamento, sentimento ou lembrança surge de forma independente ou aleatória. Embora em algumas situações, certos pensamentos e sensações possam surgir de forma espontânea, existem elos ocultos que ligam esses eventos mentais a outros que ocorreram anteriormente. Diante disso, é possível compreender, que para Freud, a vida mental se desenvolve de forma contínua, mesmo que os indivíduos não estejam conscientes dessa ligação entre os seus pensamentos e sentimentos, como aborda em sua obra  “A Interpretação dos Sonhos” (1900):

Cada pensamento, sentimento ou lembrança não surge de forma independente. Cada um está conectado a outros pensamentos e experiências por meio de uma rede de associações mentais, que pode não ser imediatamente consciente, mas é essencial para a continuidade da vida mental.” (Freud. A Interpretação dos Sonhos (1900), p. 177, (na tradução de James Strachey)).

Os sonhos e pensamentos que aparecem espontaneamente têm suas origens em eventos passados e estão conectados a eles por meio de associações que não estão sempre na consciência imediata.” (Freud, “A Interpretação dos Sonhos (1900), p. 273, (na tradução de James Strachey)).

O consciente é a parte da mente da qual uma pessoa está ciente em um determinado momento e que processa as informações de maneira racional. No entanto, o consciente representa apenas uma pequena fração da mente total. Existem outras camadas menos visíveis e mais difíceis de serem acessadas, denominadas por Freud de Pré-Consciente e de  Inconsciente. E por isso, os trechos das vivências de Christian iam sendo formado de maneira fragmentada, ou por meio de sonhos/ pesadelos, ou ao ser instigado por alguém sobre as vivências traumáticas, seu inconsciente passava a unir as informações que estavam escondidas e esquecidas. Como em momento que ele relata um sonho com uma das suas experiências mais traumáticas, em que Christian relata sonhos fragmentados, que transmite o que ele passava na infância de maneira desordenada:

“Ele voltou. Mamãe está dormindo ou então está doente de novo. Eu me escondo e me enrosco debaixo da mesa da cozinha. Por entre meus dedos posso ver mamãe. Ela está dormindo no sofá, com a mão sobre o tapete verde e pegajoso, ele está usando suas botas grandes, com fivelas brilhantes, e está de pé junto dela, gritando. 

Ele acerta mamãe com um cinto. Levante-se! Levante-se!

Você é uma cadela filha puta. Você é uma cadela filha da puta. ( por 6x)

Mamãe soluça. Pare, por favor, pare. Mamãe não grita.

Mamãe se encolhe. 

Tapo os ouvidos e fecho os olhos. O barulho para. 

Ele se vira, e posso ver suas botas à medida que caminha em direção à cozinha. Ainda está com o cinto. Está me procurando. 

Ele se abaixa e sorri. Cheira mal. A cigarro e bebida. Aí está você, seu merdinha” (JAMES, 2012, p.)

O inconsciente é a área mais profunda e oculta, onde ocorrem processos mentais que nunca chegaram à consciência e que não podem ser acessados diretamente pelo consciente, exceto em circunstâncias excepcionais. São nesses domínio inacessível que também ficam armazenadas as informações que não podem ser lembradas, porque foram de alguma maneira reprimidas (FREUD, 1905), ou censuradas, que no caso em específico analisado de Christian Grey, ele confunde trechos lembrados, com pesadelos, flashbacks, justamente por essa censura de seus comportamentos atuais, assim como o peso do que foi feito com ele, para que ele tivesse agora na fase adulta esses desejos inapropriados e impulsivos. Experiências traumáticas, por exemplo, podem ser retidas no inconsciente e influenciar a vida mental de uma pessoa de maneira indireta, sem nunca serem recordadas conscientemente. 

Apesar de o indivíduo não ter clareza sobre o conteúdo do inconsciente, quando pensamentos ou sentimentos surgem e parecem não ter relação com o passado, eles estão, na verdade, conectados a outros pensamentos ou sentimentos que residem no inconsciente, pois, segundo Freud (1905), não há descontinuidade na vida mental. A partir disso, observa- se que a consciência se divide em 3 partes: o Consciente, que representa uma pequena parte da consciência, o Pré-Consciente, que está em uma parte pouca submersa e pode ser acessada com certa facilidade, e o Inconsciente, a parte profundamente submersa da consciência, e como citado anteriormente, é nessa parte que habitam os processos e elementos que são acessíveis ao consciente, alguns desses elementos são as  pulsões/ impulsos, realizados pelo “id de Freud, determinados da psique humana . Essas pulsões são necessidades psíquicas e orgânicas, estando no limite entre o físico e o mental.

Temos tratado os processos psíquicos como algo que possa prescindir do conhecimento dado pela consciência, existindo independentemente de tal consciência (…) a consciência não proporciona nem conhecimento completo, nem seguro dos processos neurônicos; cabe considerá-los em primeiro lugar e em toda a extensão como inconscientes e cabe inferi-los como as outras coisas naturais (FREUD, 1895/1950a, p. 400; 1895/1950b, p. 187).

É notado então, que Grey vive em busca de uma tentativa constante de conseguir equilibrar esses seus desejos mais instintivos, primários e profundos (id), que seu inconsciente emana, diante de fatores da sua infância e adolescência conturbada e negligenciada, com as suas normas internas mais severas, frias e milimetricamente calculadas, determinadas pelo seu “superego”, que acabam por existir e se formar comportamentalmente, na esfera do que ele consegue controlar pela consciência do “ego”.

Após esse estudo, Erik Erikson, no meado do século XX, veio expandindo a ideia de Freud, e trouxe a teoria do desenvolvimento psicossocial, propondo a formação da personalidade por estágios de desenvolvimento ao longo de toda a vida, e não restrita a um momento apenas.  Desse modo, as experiências vividas, as construções afetivas, cultura e interações, contribuem para traços de formação e de adaptação do desenvolvimento do indivíduo. 

A identidade é formada nesses estágios, e por isso, caso as necessidades básicas de um bebê não sejam suprimas no determinado estágio, o desenvolvimento da desconfiança como traço persistente pode vir a ser maior na fase adulta (Erikson, 1950), como Christian que teve uma infância marcada pela negligência e por abusos, desenvolveu uma desconfiança e insegurança em relação a todos que convive, precisando controlar e dominar as pessoas ao redor, principalmente das relações íntimas, que demonstram marcas de cada estágio de desenvolvimento com algum conflito que impactam sua vida adulta.  

Para Erikson, é construído durante toda a vida um “plano de vida”, que é marcado por instabilidades e crises do “ego”, já mencionado aqui. Essas crises acontecem justamente pelas determinações da infância sobre esse indivíduo, e como foram gerenciadas as primeiras crises e percepções do sujeito diante da construção do seu consciente. O que já traz uma visão abrangente sobre as atuais crises de Christian, que vivencia na fase adulta algumas instabilidades nesta consciência formada sobre suas experiências da infância, uma vez que, durante a sua vivência infantil, essa mesma consciência e percepção de mundo, era formada de maneira fragmentada. Erikson, (1987) diz que, a construção da confiança básica no estágio da infância inicial, se rompido, gera no indivíduo a desconfiança básica, que é justamente a sensação de solidão, de ingratidão do mundo, que é percebido também na figura de estudo deste artigo. É formado a partir de então alguns traços da personalidade, mesmo que de modelo bem inicial (Erikson, 1987 e 1976). 

Após isso, entraria na fase da Iniciativa x Culpa, marcando as noções de autonomia do indivíduo, que pode sofrer alguma fixação, que Freud chamou de complexo de édipo, já mencionadas e analisadas no personagem estudado, mas, além disso, essa frustração ou fixação ocasionada nessa fase, pode gerar patologias sexuais, ou segundo (Erikson, 1987, p. 119,), um sentimento de culpa, que a criança acaba por enraizar como fracasso levando para a vida adulta, em que Christian luta para não ter se mantendo no poder inalcançável pelos demais.

O outro estágio analisado com rupturas seria o da Identidade x Confusão de Identidade, que foi apresentada em crise por Christian na análise, justamente pelas fases anteriores, essa confusão de identidade faz com que o personagem busque por prazeres pessoais distintos incansavelmente, o que Erikson denomina de “lealdade e fidelidade consigo mesmo”, e isso seria um senso de identidade contínua, construído através de busca por propósitos internos. 

A indispensável contribuição da fase da iniciativa para o desenvolvimento ulterior da identidade consiste, pois, obviamente, na libertação da iniciativa e sentido de propósito da criança para as tarefas adultas que prometem (mas não podem garantir) a realização plena da gama de capacidades do indivíduo. Isso é preparado na convicção firmemente estabelecida e invariavelmente crescente, não intimidada pela culpa, de que “Eu sou o que posso imaginar que serei”. Contudo, é igualmente óbvio que um desapontamento geral dessa convicção por uma discrepância entre os ideais infantis e a realidade adolescente só pode conduzir a um desencadeamento do ciclo de culpa-e-violência, tão característico do homem e, no estudo, tão perigoso para a sua própria existência”. (Erikson, 1987, p. 122) 

Assim, ao estabelecer essa identidade, mesmo em meio a confusão, retornaria à fase de Intimidade x Isolamento, onde a figura do ego se encontra à procura de uma conformidade com outro, para ter relacionamentos mais íntimos. Isso só acontecerá de forma saudável, se esse ego foi construído de maneira autônoma, segura e confiante, fatores esses que não são positivos na figura de estudo – Christian Grey,  e por isso, ele acaba por preferir o isolamento, já previsto por (Erikson, 1987). A relação íntima, que passa a ter afeto no desfecho da trilogia dos 50 tons, é que vem quebrando essa preferência pelo isolamento, juntamente com a necessidade de entendimento dessas fases e crises vividas pelo personagem. 

Ao analisar a formação da personalidade do personagem estudado, fazendo referência a possibilidades de várias outras instabilidades e contextos bem parecidos na realidade, é necessário identificar as crises vividas em cada momento e seu impacto na infância, juntamente com sua correlação na vida adulta, pois, essas crises trazem consequências diretas na construção da personalidade do indivíduo, como dito por  Erikson (1987):

(…) uma personalidade saudável domina ativamente seu meio, demonstra possuir uma certa unidade de personalidade (…). De fato, podemos dizer que a infância se define pela ausência inicial desses critérios e de seu desenvolvimento gradual em passos complexos de crescente diferenciação. Como é, pois, que uma personalidade vital cresce ou, por assim dizer, advém das fases sucessivas da crescente capacidade de adaptação às necessidades da vida – com alguma sobras de entusiasmo vital? (Erikson, 1987, p. 9,)

É importante destacar, que o próprio autor alerta sobre a necessidade de considerar o contexto histórico e cultura que o indivíduo analisado está inserido, para conseguir realizar uma observação mais criteriosa sobre a formação da identidade que vem sendo construída pelo “ego grupal”, denominado pelo autor, que é a sociedade que esse indivíduo mantém raízes, (Erikson, 1987, p. 69,).

Diante de todos esses fatores de construção da personalidade, enfrentados pelo personagem desde as primeiras fases de desenvolvimento, é possível analisar a suas características psicológicas e comportamentais, dentro de “Traços ou padrões de personalidade proeminentes”- 6D11, no CID-11, em que esses traços que possuem maior domínio, se trouxerem prejuízo em algumas das esferas já citadas, podem ser associados a Transtornos de Personalidade ou Dificuldade de Personalidade, que o indivíduo se enquadrar (OMS, CID-11, 2024).

Seguindo a codificação, o 6D11.5, da Classificação Internacional de Doenças, 11ª revisão, descreve o padrão “borderline” para indivíduos com  que mantém um distúrbio de personalidade com “padrão de instabilidade de relacionamentos interpessoais, auto imagem e afetos, e impulsividade nítida (…)”  (OMS, CID-11, 2024). 

A sequência de padrões listados descreve o personagem Christian grey em todos os aspectos e contextos, como o fato dele se esforçar desesperadamente para que Anastasia não o abandone, já que é a figura em que ele tem apego, e consegue se identificar sentimentalmente, tem um “padrão de relacionamentos interpessoais instáveis  e intensos”, é impulsivo diante da raiva e de desafetos, possui instabilidade emocional, sentimentos intensos de raiva e com dificuldade de controle, desse modo, a proeminência dos traços e padrões, correspondem ao transtorno de personalidade borderline -TPB. No DSM-5, esse transtorno está dentro da classificação de Transtornos da Personalidade do Grupo B, que são os transtornos dramáticos, emocionais ou imprevisíveis, mantendo padrões de diagnóstico, em que se representado por cinco ou mais dos nove critérios taxativos, combinados com os fatores ambientais, e excluídos a possibilidade de mudança de personalidade devido a outra condição médica, é a presença diagnóstica do TBT.

Pessoas com transtorno de personalidade borderline, apresentam alterações em áreas do sistema límbico, em que métodos de estudo e comparação em artigos como em “Processamento emocional em indivíduos com transtorno de personalidade borderline e com transtorno depressivo maior”, da revista Contextos Clínic, de MESQUITA, Jacqueline La Rosa de; ARTECHE, Adriane Xavier; assim como em “Borderline personality disorder”, da Pub/Med, de Bohus M, et al., entre outros, que comprovam a alterações na amígdala, até a redução do seu volume – o que já traz diferenciação na denominada empatia pessoal, alterações no volume da massa cinzenta e do volume do hipocampo, trazendo consequências para a memória, além de aumento da ativação no hipocampo esquerdo na presença de exposição a estímulos negativos, e por isso a presença de lembranças fragmentadas e da raiva sem controle, apresentando ainda um aumento do volume do hipotálamo.

Desse modo, é clara a evidência de tal transtorno na personalidade apresentada por Christian, devido às instabilidades emocionais e comportamentais, reações, inseguranças, medos e  desequilíbrio emocional informados anteriormente no texto e mostrados por ele durante toda a trilogia. O seu relacionamento com Anastasia Steel também foi bem conturbado por muito tempo, Christian tinha atitudes violentas com ela, além da raiva incontrolável que sentia com muita facilidade, principalmente atrelada ao ciúmes, mas, com uma sensação de arrependimento dos seus comportamentos quando Anastasia ia embora. Além disso, tinha questões sobre suas práticas sexuais violentas, seu passado e seus sentimentos confusos, que faziam com que sua relação fosse conturbada, mesmo com o medo intenso de perder a presença dessa figura de afeto na sua vida.

Acredita-se que, a infância traumática que Christian passou, o causando TEPT e uma possível predisposição genética, fez com que a relação gene-ambiente   desenvolvesse a patologia, assim como pode ser desenvolvida em qualquer período da vida (Simoni LB, et al., 2018), que no personagem em questão, fez com que ele desenvolvesse o TPB, que é comum como comorbidade entre os dois transtornos aqui colocados como possibilidade.  Essa hipótese fica ainda mais contundente, pela característica associada que o DSM-5 traz, de que “abuso físico e sexual, negligência, conflito hostil e perda parental prematura são mais comuns em histórias de infância daqueles com o transtorno da personalidade borderline” (APA, 2014), exemplificação perfeita da história de Christian, que unida a seus padrões de comportamento, que trazem prejuízos significativos em muitos âmbitos da sua vida, culminam na possibilidade desse transtorno na sua vida adulta.

Os critérios diagnósticos do transtorno, sendo correlacionado com o padrão da personalidade do personagem, são deixados em aberto em toda trilogia pela autora E. L. JAMES, que, apesar de citar conversas do personagem com psicoterapeuta na trama, o sugerindo um tratamento com a Terapia breve voltada para a solução- TBVS, justamente para ajudá-lo a entender onde ele quer chegar, após estar ciente de como ele é, conseguir ter uma vida amorosa mais leve e orientá-lo diante do que o personagem quer alcançar (James, 2012, p. 176,), James não fixa um diagnóstico em nenhum livro, passando a entender que Christian possui ainda mais características associadas ao TPB, como a “(…) regressão grave após conversa sobre os bons rumos da terapia; destruição de um relacionamento bom exatamente quando está claro que ele pode durar” (APA, 2014), uma forma de sabotagem pessoal. Uma vez que, conforme (Rebeschini, 2017), a exposição a traumas na infância e adolescência, é um dos fatores importantes de risco das causas do borderline,  assim como (Figueiredo e Marques, 2017, p.4,) elucida a ideia de que “famílias desestruturadas e abusivas, traumas na infância e contextos socioeconômicos desfavoráveis não só contribuem para a formação de personalidades vulneráveis, como também podem potencializar o transtorno.”, mostrando as evidências da correlação TEPT e TPB, no caso estudado.

Nos estudos, muitos autores interpretam os traços de personalidade de Christian como traços de Personalidade Narcisista, justificados pela autoestima elevada em muitos trechos, arrogância, violência momentânea e alto padrão de vida demonstrada no momento atual do desenvolvimento humano do personagem. 

Mas a vertente aqui estudada, afasta a ideia do transtorno de personalidade narcisista, visto que, de acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, na quinta edição, o transtorno de personalidade Narcisista é determinado como “um padrão difuso de grandiosidade (…), necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos (…)”, e, ao analisarmos profundamente os comportamentos de Christian, percebe-se que dentro dos nove critérios diagnósticos para o TPN, ele não se enquadra nesses determinantes. 

Uma vez que, a percepção de grandiosidade do personagem é pela noção real que ele tem em relação a poder social e monetário, status, sucesso profissional, sem menosprezar terceiros, nem fantasiar uma realidade além da vivenciada, suas realizações são reais e foram conquistadas por sua capacidade e seus esforços, mesmo que essas conquistas sejam para ofuscar a necessidade de amparo que ele tem sentimentalmente. Não é percebido também uma dependência por ser admirado,como fator correlacionado à sua identidade, e nem precisa dessa aprovação de terceiros, uma vez que ele sabe o que ele conquistou e onde ele chegou por méritos pessoais, e mesmo assim, Christian não se sentia merecedor do que tinha, como mostrado em trechos acima, por isso, não invejava nenhuma conquista de outrem, afastando ainda mais a possibilidade de TPN.

 As relações interpessoais do personagem são em sua maioria relacionadas ao profissional, à proteção pessoal e de seus afetos, como de seu par romântico, Christian possui uma dificuldade em relação a conseguir demonstrar e expressar seus sentimentos, que é devido ao TEPT, já mencionado, que durante a trilogia, vai sendo investigado e genuinamente modificado pela necessidade que o personagem tem de alinhar seus sentimentos com Anastasia, mostrando consideração a ela e pela necessidade de não perdê-la, portanto, afasta mais critérios diagnósticos do TPN, fazendo alusão a critérios diagnósticos do Borderline. Não há  vitimismo nas suas histórias e sim uma insistência de seu par romântico, para entendê-lo melhor, o que ele reluta em contar, para evitar a sensação de fracasso nas fases iniciais da vida. 

Não havia também  exploração com outras pessoas para alcançar seus objetivos, aparentemente, ele sempre tentou ser o mais independente possível, para não ficar aprisionado à frustração da identidade não formada no momento certo de desenvolvimento, como já visto anteriormente.  Apesar de Christian ter  comportamentos controladores, esses comportamentos estão associados a seus traumas de infância e adolescência, ao TEPT sofrido, e aos traços de personalidade proeminente, ligados ao Borderline, pela alta necessidade de permanência da pessoa favorita, que seria seu par romântico, devido à presença do fator apego seguro que Anastasia traz a ele, e não a uma crença de superioridade, insolência e arrogância.

O transtorno de personalidade borderline, pode apresentar pontos difusos com o transtorno de personalidade Narcisista, principalmente por ambos serem da categoria dramática do grupo B. Seguindo os critérios de diagnóstico, o personagem apresenta traços que podem levar a hipótese do narcisismo, estando presente devido aos maus tratos e violências vividas, que pelo condicionamento operante, é o que ele aprendeu a ser e a fazer nas primeiras fases da vida, que é a construtora de identidade. Somente traços avulsos, sem intensidade e analisados em contextos múltiplos, nãos são suficientes para fechar um diagnóstico em TPN, além de que, algumas traços importantes para preencher os critério diagnósticos do DSM-5 não fazem parte dos comportamentos e formação da personalidade de Christian Grey na sua fase adulta.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, buscou-se correlacionar os traumas de infância na formação da personalidade de um indivíduo, fazendo uma comparação e análise com as experiências de Christian Grey, personagem da trilogia “Cinquenta Tons” de  Erika Leonard James, sob a ótica da psicologia. Após ser realizado a análise documental, foi analisado como os traumas de infância e uma fixação em uma fase do desenvolvimento psicosexual, exemplificado por Sigmund Freud, pode gerar adultos com comportamentos disfuncionais, relações interpessoais difíceis e no caso concreto apresentado, um homem com comportamento obsessivos e necessidade de controle.

Essas constatações corroboram com a literatura existente sobre a formação de transtornos de personalidade decorrentes de experiências traumáticas na infância, que geraram comportamentos evitativos e uma re-experiência do trauma de forma cíclica. A análise a partir da trilogia, ainda identificou correlações entre o estresse pós-traumático das experiências negativas da infância, com possíveis transtornos que afetam a personalidade dos indivíduos, assim como a do personagem – Christian Grey, que foi estudado , abrindo a possibilidade de Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), exemplificado em todos os traços de personalidade de Christian e evidenciados por seus comportamentos disfuncionais, estando em conformidade com o que caracteriza o TPB, no DSM-5 e na literatura psicológica atual.

É possível ainda identificar uma correlação clara entre conceitos psicanalíticos como o complexo de Édipo, pela representação inconsciente que o personagem teve em sua mãe, na fase fálica de desenvolvimento de sua vida, onde passou a ter uma fixação e desejo por ela, cortado pela morte precoce dessa figura, fazendo com que Christian não conseguisse desvencilhar desse momento de sua vida e permanecendo a repetir um ciclo autodestrutivo em todas suas relações afetivas, com transferência desse figura materna às mulheres, pelo desejo sexual reprimido.

Assim como, é possível analisar diante das informações obtidas como esses conceitos e definições das teorias psicodinâmica de Freud e psicossocial de Erikson, se interpelam pelas contingências ambientais do behaviorismo radical de Skinner, exposto já na fase adulta do indivíduo – personagem central da trilogia.

As experiências vivenciadas nos primeiros anos de vida impactam significativamente a vida dos indivíduos, e o trabalho visa elucidar a importância do cuidado e de uma atenção mais canalizada nessas fases , para que o desenvolvimento pessoal seja trilhado de maneira funcional.

A relevância da temática fica na compreensão dos traumas infantis e na sua correlação com a personalidade de comportamento na vida adulta. Os eventos traumáticos vivenciados por Grey, impactaram suas relações interpessoais, ocasionando um desenvolvimento cerebral  tiveram um efeito significativo em seu desenvolvimento cerebral, resultando em mudanças em sua personalidade. Essa compreensão só foi possível após um comparativo minucioso de suas experiências conturbadas na infância com quadros de abuso e negligência pelos seus responsáveis e a manutenção de relações com caráter abusivo , autodestrutivo na sua vida social e amorosa enquanto adulto. 

Ao encerrar esta pesquisa, é importante ressaltar a complexidade de realizar diagnósticos precisos e por isso uma investigação minuciosa sobre características pessoais e ambientais desde a infância até o momento de intervenção, se faz muito necessário, para que a abordagem terapêutica seja realizada com eficiência e coesão. Se possivel for, realizar estudos de neuroimagem e das alterações neurobiológicas e moleculares, como é visto na literatura e ciência contemporânea, para verificar o impacto significativo que o trauma exerce no desenvolvimento cerebral, que pode afetar a capacidade de neuroplasticidade e causar efeitos na formação e construção da personalidade e do comportamento do indivíduo, pelas alterações no sistema nervoso e na comunicação dos neurotransmissores, comprometendo efetivamente as fases de desenvolvimento cerebral. A exposição a ambientes estressores de maior amplitude por longo prazos, podem ainda trazer consequências psicológicas, caso o indivíduo tenha uma predisposição a transtornos psiquiátricos, e por isso a importância de intervenções e tratamentos de maneira rápida.

Com base nos resultados deste estudo, é recomendado que haja posteriormente pesquisas concentradas na investigação da eficácia de intervenções precoces em crianças expostas a traumas, para compreender a possibilidade de evitar o desenvolvimento de transtornos de personalidade no futuro. 

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¹Docente, Doutor em Ciências da Saúde. Faculdade Independente do Nordeste. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4289-0753 pedrobio.vasconcelos@gmail.com. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.;
²Faculdade Independente do Nordeste. ID Lattes: 3869506322364289. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-3190-5123. Endereço eletrônico: januariasgomes@gmail.com. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.;
³Faculdade Independente do Nordeste. ORCID: https://orcid.org/0009-0000-3693-1198. Endereço eletrônico: analumalta00@gmail.com. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.;
⁴Faculdade Independente do Nordeste. ORCID: https://orcid.org/0009-0005-6561-8340. Endereço eletrônico: anamoitinhofac@gmail.com. Vitória da Conquista, Bahia, Brasil.