CERATOCISTO ODONTOGÊNICO EM MAXILA DE PACIENTE JOVEM: RELATO DE CASO

QUERATOQUISTE ODONTOGÉNICO EN MAXILAR DE UN PACIENTE JOVEN: REPORTE DE CASO

ODONTOGENIC KERATOCYST IN THE MAXILLA OF A YOUNG PATIENT: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12773808


Natan Lourenço Cunha1
Bruna Bernardino Silva2
Gabrielle Beretta Paiva3
Thailine Avila dos Santos4
Gilberto Leal Grade5
João Gilberto Frare6


RESUMO

O Ceratocisto Odontogênico é uma lesão benigna, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como cisto odontogênico de desenvolvimento (TOLENTINO, E.S.,2018). Embora benigno, tem a característica de ser localmente agressivo, necessitando de terapias adjuvantes à enucleação para sua resolução. eliminação. evitar a recorrência. Este artigo relata um caso de Ceratocisto Odontogênico em região posterior de maxila direita em paciente de 14 anos com melanodermia. Foi realizada biópsia incisional e instalado dispositivo de descompressão, que permaneceu ativo e foi realizado acompanhamento clínico e radiográfico por um período de 10 meses. Após considerável redução da extensão da lesão, optou-se pela enucleação, seguida de curetagem, extração do elemento dentário associado e aplicação de solução de Carnoy. O paciente permanece em acompanhamento após um período de 2 anos, sem sinais de recidiva. O uso de terapias adjuvantes contribui para menor morbidade da doença e redução significativa do risco de recorrência da lesão e é uma alternativa de tratamento fundamental.

PALAVRASCHAVE: Cistos Odontogênicos; Ceratocistos; Descompressão Cirúrgica.

ABSTRACT

Odontogenic   Keratocyst   is   a   benign   lesion,   classified   by   the   World Health Organization   (WHO)  as   a  developmental  odontogenic  cyst   (TOLENTINO,   E.S.,2018).

Although benign, it has the characteristic of being locally aggressive, requiring adjuvant therapies to enucleation. in order to avoid recurrence. This article reports a case of Odontogenic Keratocyst in the posterior region of the right maxilla in a 14-year-old patient with melanoderma. An incisional biopsy was performed and a decompression device was installed, which remained active and underwent clinical and radiographic monitoring for a period of 10 months. After considerable reduction in the extent of the lesion, enucleation was chosen, followed by curettage, extraction of the associated dental element and application of Carnoy’s Solution. The patient remains under follow-up after a period of 2 years, with no signs of recurrence. The use of adjuvant therapies contributes to a lower morbidity of the disease and a significant reduction in the risk of recurrence of the lesion and is a fundamental treatment alternative.

KEYWORDS: Odontogenic Cysts; Keratocysts; Surgical Decompression.

RESUMEN

El Queratoquiste Odontogénico es una patología ósea que, aunque benigna, tiene la característica de ser localmente agresiva, requiriendo terapias adyuvantes a la enucleación para evitar su recurrencia. Este artículo reporta un caso de Queratoquiste Odontogénico en la región posterior del maxilar derecho en un paciente de 14 años con melanodermia. Se realizó biopsia incisional y se instaló un dispositivo de descompresión, el cual permaneció activo y se realizó seguimiento clínico y radiográfico por un período de 10 meses. Después de una reducción considerable en la extensión de la lesión, se optó por la enucleación, seguida de curetaje, extracción del elemento dental asociado y aplicación de solución de Carnoy. El paciente permanece en seguimiento tras un periodo de 2 años, sin signos de recurrencia. El uso de terapias adyuvantes contribuye a una menor morbilidad de la enfermedad y a una reducción significativa del riesgo de recurrencia de la lesión y es una alternativa de tratamiento fundamental.

PALABRASCLAVE:Quistes Odontogénicos; Queratoquistes; Descompresión quirúrgica.

INTRODUÇÃO

O Ceratocisto Odontogênico (CO) é uma lesão óssea benigna, assintomática e localmente agressiva. Possui crescimento ântero-posterior, com maior prevalência em ramo mandibular ascendente e não causa expansão cortical, acometendo principalmente homens na segunda ou terceira décadas de vida. Esta lesão apresenta altas taxas de recidiva, em especial quando o tratamento é realizado unicamente através da enucleação cística, apresentando taxas de recidiva entre 17 e 56%. A literatura mostra que a associação de terapias adjuvantes tais como descompressão e/ou uso de Solução de carnoy, são capazes de reduzir a taxa de recidiva para a média de 1 a 8.7% dos casos. (STOELINGA, 2022; TABRIZI et al., 2019). A técnica de descompressão consiste na instalação de um dispositivo rígido que permita a comunicação entre o lúmen da lesão e cavidade oral, o que resulta na diminuição da pressão interna e consequentemente formação óssea e redução no tamanho da lesão. Além de corroborar para a redução das taxas de recidiva, apresenta como vantagens a preservação de estruturas anatômicas importantes e prevenção de possíveis deformidades faciais devido a grandes extensões cirúrgicas. A Solução de Carnoy, atua realizando uma cauterização química do sítio da lesão, com o objetivo de eliminar possíveis células epiteliais remanescentes que possam estar presentes após curetagem. (STOELINGA, 2022; TABRIZI et al., 2019)

RELATO DO CASO

Paciente do sexo masculino de 14 anos, melanoderma, procurou serviço de cirurgia bucomaxilofacial após achado radiográfico, sem queixas. Em reconstrução panorâmica, observa-se lesão radiolúcida de limites bem definidos associada à coroa do elemento 18, tomando grande parte do seio maxilar direito (Figura 1 – A). Foi realizada biópsia incisional e instalação de dispositivo rígido de drenagem. O material enviado à análise histopatológica apresentou diagnóstico de CO. Como alternativa de tratamento, optou-se pela manutenção do dreno e irrigação semanal em consultório de solução de cloreto de sódio 0,9% e rifamicina 10 mg/ml, com o objetivo de reduzir extensão da lesão previamente à abordagem cirúrgica. Em tomografia após 10 meses de acompanhamento, observou-se uma diminuição de 50% da extensão da lesão (Figura 1 – B), desta forma, o curso do tratamento seguiu para enucleação, curetagem da lesão e utilização de Solução de Carnoy, assim como remoção do dente envolvido (Figura 2). O procedimento ocorreu sem intercorrências e com recuperação satisfatória. Após 2 anos de acompanhamento regular, a tomografia computadorizada pós operatória, mostrou neoformação óssea no local da lesão, sem sinais de recidiva. Paciente permanece em proservação.

Figura 1 – Reconstrução panorâmica de tomografia mostra aspecto inicial da lesão (A) e após 10 meses de descompressão (B). Observa-se redução significativa na extensão da lesão.

Figura 2 – Cápsula cística removida associada ao elemento 18.

Figura 3 – Cortes tomográficos transversais oblíquos de acompanhamento de 2 anos na região da lesão mostram neoformação óssea, sem sinais de recidiva.

DISCUSSÃO

Quanto mais precoce o diagnóstico for estabelecido, menor será a extensão da lesão e consequentemente, menor morbidade o tratamento. O diagnóstico e a classificação de lesões dos ossos gnáticos dependem da avaliação clínica e exame radiográfico e histopatológico adequados, uma vez que o CO apresenta diagnósticos diferenciais com uma série de lesões císticas e tumores odontogênicos como, ameloblastoma, cisto dentígero, granuloma central de células gigantes, tumor odontogênico adenomatóide, fibroma ameloblástico, cisto ósseo traumático e dentre outras. Devido a essa quantidade notável de patologias, o conhecimento das suas características clínicas, radiográficas e histopatológicas promovem a precisão do diagnóstico para o mais adequado tratamento (MOURA B.S., 2016). Em raros casos pode causar deslocamento de elementos dentários inclusos, erupcionados e até mesmo reabsorção radicular. A fim de evitar recidivas, o tratamento do osso adjacente após a enucleação ou ressecção da lesão é fortemente recomendado, para isso, técnicas como ostectomia periférica, crioterapia, ou cauterização química (solução de Carnoy) podem ser utilizadas (CRUZ, M.K., 2015).

CONCLUSÃO

A descompressão associada à enucleação cística nos casos de CO tem mostrado importante redução da morbidade cirúrgica e nas taxas de recidiva quando comparada à técnica de enucleação isoladamente. Por conta disso, técnicas mais invasivas devem ser consideradas apenas em casos de lesões não responsivas a tratamentos conservadores. (KHAN et al., 2019)

REFERÊNCIAS

TOLENTINO ES. Nova classificação da OMS para tumores odontogênicos: o que mudou?. RFO, passo fundo, V.23, n.1, p.119-123, Jan/abr.2018.

KHAN, A. A. et al. Management of an extensive odontogenic keratocyst: A rare case report with 10-year follow-up. Medicine (United States), v. 98, n. 51, 2019.

STOELINGA, P. J. W. The odontogenic keratocyst revisited. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 51, n. 11, p. 1420–1423, 1 nov. 2022.

TABRIZI, R. et al. Decompression or Marsupialization; Which Conservative Treatment is Associated with Low Recurrence Rate in Keratocystic Odontogenic Tumors? A Systematic Review. Journal of dentistry (Shiraz, Iran), v. 20, n. 3, p. 145–151, 2019.

Neville B.W., Damm D.D., Allen C.M., Chi A.C., editores. Elsevier; St. Louis: 2016. Cistos e tumores odontogenicos; pp. 636–639.

Nelson B.L. Em: Patologia da Cabeça e Pescoço. terceira edição. Thomposon L.D.R., Bispo J.A., editores. Elsevier; Filadélfia: 2019. Neoplasia benigna dos ossos gnaticos; pp. 403–406.

Rezende FCB e Dias MA. Tumor odontogênico queratocisto: relato de caso. Revista eletrônica acervo saúde. 2016. v


1 Graduando em Odontologiapela UNISUL  (0009-0003-0991-9355)

2 Cirurgiã-Dentista pela Universidade Federal de Santa Catarina (0000-0002-3335-4409)

3 Graduanda em Odontologia pela UNISUL (0009-0006-0473-6340)

4 Cirurgião Bucomaxilofacial (0000-0002-7509-2072)

5 Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela USP (0000-0002-6237-2665)

6 Graduanda em Odontologia pela UNISUL (0009-0001-2349-4790)