CENTRO CIRÚRGICO: FATORES QUE AFETAM A SAÚDE DO ENFERMEIRO RELACIONADO À VIVÊNCIA PROFISSIONAL NO CENTRO CIRÚRGICO

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th10247300924


Duciene Dos Santos Pontes
Orientador(a): Profa. Esp. Naianne Georgia


RESUMO

O centro cirúrgico é uma unidade hospitalar onde são realizados tratamentos terapêuticos, diagnósticos e anestésico-cirúrgicos em caráter emergencial e eletivo, caracterizado por intervenções intrusivas e recursos materiais altamente precisos e eficazes, onde são necessários profissionais qualificados para atender às diversas necessidades do usuário. É considerado um espaço de alto risco com processos de trabalho intrincados e multidisciplinares que dependem muito do desempenho individual e da equipe em ambientes estressantes e cheios de pressão. Em função disso, podem vir a se tornar espaços de muito sofrimento para os profissionais da enfermagem que ali trabalham. Nesse sentido, neste trabalho, como objetivo geral, buscou-se compreender quais fatores afetam a saúde do enfermeiro no âmbito profissional no centro cirúrgico. Para isso, recorreu-se a uma revisão de escopo, método utilizado para mapear informações acerca de um tema na literatura ou tópico específico ou área de pesquisa, visando identificar conceitos-chave ou/e, ainda, possíveis lacunas existentes. Observou-se, como resultados, que o ambiente no centro cirúrgico pode levar ao adoecimento de enfermeiros, mas não de maneira exclusiva, pois outras condições como: sobrecarga de trabalho, acúmulo de funções, descaso político, dentre outros, se somados, causam prejuízo mais acentuado, embora não se descarte casos possíveis, dada a configuração do CC.

Palavras-chave: Centro-cirúrgico. Enfermagem. Adoecimento. Saúde Profissional.

ABSTRACT

The operating room is a hospital unit where therapeutic, diagnostic and anaesthetic- surgical treatments are carried out on an emergency and elective basis, characterized by intrusive interventions and highly precise and effective material resources, where qualified professionals are needed to meet the diverse needs of the user. It is considered a high-risk space with intricate, multidisciplinary work processes that rely heavily on individual and team performance in stressful, pressure-filled environments. As a result, they can become spaces of great suffering for the nursing professionals who work there. With this in mind, the general aim of this study was to understand which factors affect the health of nurses working in operating rooms. To do this, we used a scoping review, a method used to map information about a theme in the literature or a specific topic or area of research, in order to identify key concepts and/or possible gaps. The results showed that the operating room environment can lead to nurses becoming ill, but not exclusively, since other conditions such as: work overload, accumulation of duties, political neglect, among others, if added together, cause more accentuated damage, although possible cases are not ruled out, given the configuration of the operating room.

Keywords: Surgical center. Nursing. Illness.

1       INTRODUÇÃO

A Enfermagem foi protagonista durante toda a história da Cirurgia, desde as primeiras amputações que eram feitas pelos cirurgiões. À medida que os procedimentos cirúrgicos foram se desenvolvendo, também desenvolveu o trabalho dos Enfermeiros de Centro Cirúrgico, que eram os responsáveis por oferecer um ambiente adequado, limpo e seguro para a realização dos métodos ali implementados, salvaguardando a vida e o processo cirúrgico do paciente, assim como a sua segurança pessoal.

No decorrer do tempo, o papel do enfermeiro de Centro Cirúrgico (CC) na realização das cirurgias se tornou fundamental, pois assegurava um ambiente apropriado para que os procedimentos ocorressem de forma segura, agradável e higiênica desde os primórdios (Carvalho, 2016). Em virtude disso, percebe-se uma atuação pungente desse profissional no espaço de trabalho, porém há revelias quanto ao desenvolvimento dessas atividades, sobretudo na contemporaneidade. Isso porque como esse trabalho tem sido desenvolvido e sob quais condições têm sido operacionalizado são temas necessários quando se pena a atuação do enfermeiro no centro cirúrgico.

Convém saber, nesse sentido, que o Centro Cirúrgico (CC) é uma área restrita e especializada, no qual os profissionais usam uniformes apropriados e adotam procedimentos de rotina para a realização de procedimentos cirúrgicos. Cada membro da equipe tem um papel definido, fundamental e necessário para a realização segura dos procedimentos cirúrgicos (Dalcól, 2016).

Como o centro cirúrgico se trata de um local muito complexo, existem muitos estresses que, aliados a fatores individuais, podem acabar comprometendo a saúde dos enfermeiros que ali trabalham, que pode prejudicar também o seu próprio desempenho e qualidade da assistência oferecida ao paciente (Sampaio, 2018).

Sabe-se, ademais, que a necessidade de cuidados mais especializados na área de saúde para enfermeiros vem aumentando substancialmente. Observa-se que o número de procedimentos cirúrgicos realizados diariamente tem apresentado um crescimento significativo, demonstrando os avanços e melhorias conquistados ao longo dos anos. No entanto, apesar dos avanços tecnológicos, é imprescindível que os profissionais da saúde tenham suas necessidades físicas e psicológicas satisfeitas, caso contrário, adoecerão.

Doravante, acerca de tais discussões, os estudos ainda são escassos a respeito das repercussões a longo prazo da exposição diária dos enfermeiros aos gases e produtos usados durante procedimentos cirúrgicos anestésicos e outros. No entanto, há um risco potencial de eventos adversos na saúde destes profissionais, mesmo que indiretamente (Mendes, 2020). À vista disso, este trabalho apresenta como objetivo principal apresentar os fatores que afetam a saúde do enfermeiro no centro cirúrgico. Dado o conhecimento de que o enfermeiro é um profissional que tem grande atuação nesse setor e sua saúde deve ser levada em consideração, uma vez que são muito expostos a várias situações de riscos que podem propiciar condições com possibilidade de repercussão vitalícia.

2  OBJETIVOS
2.1  OBJETIVO GERAL

Compreender quais fatores afetam a saúde do enfermeiro no âmbito profissional no centro cirúrgico.

2.2   OBJETIVOS ESPECÍFICOS
  • Coletar informações sobre fatores que afetam a saúde dos enfermeiros no centro cirúrgico e que tipo de assistência tem sido prestada.
  • Apresentar os fatores que afetam a saúde do enfermeiro no Centro Cirúrgico;
  • Destacar a relevância de prestar assistência aos profissionais enfermeiros que tem sua saúde afetada.
3  REFERENCIAL TEÓRICO
3.1  HISTÓRICO DESENVOLVIMENTAL DOS CENTROS CIRÚRGICOS

A origem do centro cirúrgico remonta aos tempos antigos, quando os conflitos armados entre os povos eram muito comuns e levaram ao desenvolvimento dos primeiros procedimentos cirúrgicos. As amputações de membros eram realizadas por “cirurgiões barbeiros” e a enfermagem esteve sempre ali presente, assegurando a assistência aos que necessitavam. Seu desempenho englobavam a restrição, cuidados aos pacientes e também promovendo um ambiente limpo (Silva, 2019). Os pacientes ali presentes que precisavam dos tratamentos cirúrgicos tinham que aguentar tanto a dor, como também a infecção e a hemorragia que eram causadas devido aos procedimentos feitos sem anestesia. Com o advento dos antibióticos, as infecções passaram a ser estudadas com mais detalhes.

Ainda sobre o surgimento dos centros cirúrgicos, Santos et al. (2018) afirmam que a cirurgia tem sido realizada por seres humanos desde os tempos pré-históricos.

A cirurgia, que deriva da palavra grega kheirourgia, que significa “trabalho manual”, é a especialidade médica que utiliza procedimentos cirúrgicos para tratar doenças e traumas. Durante a Idade Média, as operações eram realizadas nos conveses dos navios de guerra, nas casas dos cirurgiões e nos campos de batalha. O corpo humano era usado para operações limitadas à amputação de membros, drenagem de abscessos e remoção de tumores, todas realizadas com a ajuda de instrumentos ou apenas com as mãos.

Possari (2004) também discorre que, sem anestesia, os pacientes submetidos à cirurgia tinham de lidar com a dor, o sangramento e a infecção causados pelo procedimento. Usando óleo fervente ou um ferro em brasa para cauterização, o sangramento era controlado. Foi somente com a descoberta dos antibióticos que a pesquisa sobre infecções aumentou. Diversos avanços, como a padronização da degermação das mãos e o uso de máscaras e aventais cirúrgicos, ajudaram a evitar infecções em pacientes cirúrgicos. É interessante observar que Willian Halsted instituiu o uso de luvas nas salas de cirurgia em 1890, não para proteger o paciente, mas para proteger sua noiva, a enfermeira, que tinha alergia a antissépticos.

À medida que o tempo passou, o desenvolvimento de operações cirúrgicas encontrou numerosos obstáculos. Contudo, só no século XX, a partir da evolução da ciência, ocorreu um avanço na realização de procedimentos cirúrgicos, que incluíram a fabricação de instrumentos próprios, a administração da anestesia geral e as práticas assepsiais para a realização de cirurgias (Carvalho, 2016). O desenvolvimento da enfermagem na sala de cirurgia pode ser rastreado até a adoção dos procedimentos assépticos de Lister, que possibilitaram a realização de cirurgias cada vez mais complicadas e colocaram os enfermeiros como responsáveis pela manutenção dos equipamentos. A designação de salas restritas para procedimentos cirúrgicos na virada do século levou a um aumento da importância da limpeza, a um aumento da carga de trabalho e das responsabilidades dos enfermeiros e ao desenvolvimento de conhecimento especializado que os diferenciava dos enfermeiros das unidades de atendimento (Turni et al., 2012).

Nesse contexto, destaca-se também que a proteção designada aos profissionais nos centros cirúrgicos nem sempre receberam as características modernas e, na sua origem, eram feitas de couro maciço, o que foi mudando com o tempo. É importante ressaltar também que, principalmente as mulheres, possuíam uniformes que atendiam aos costumes religiosos da época quanto ao tamanho, corte, modelo e demais designações e essa situação permaneceu inalterada até o momento em que Florence Nightingale fundou a Nightingale School of Nursing no St. Thomas’ Hospital, em Londres, em 1860. Todavia, Nightingale foi pioneira na educação secular de enfermagem após seus estudos no Kaisers Deaconess Institute em Kaiserswerth, Alemanha, e suas experiências cuidando de soldados durante a Guerra da Crimeia.

Em função disso, defendia que para profissionais da área médica “anáguas, saias, protetores de cabelo etc.” não deveriam ser usados, ela insistia, pois impediriam a mobilidade e perturbariam o ambiente pacífico das enfermarias. Também foram feitos esforços deliberados para eliminar qualquer conotação religiosa, de modo a se concentrar na enfermagem. No entanto, os aventais eram usados sobre vestidos longos e os cabelos eram mantidos longe do rosto com o uso de toucas (O’Donell et al., 2020).

Ademais, os médicos e cirurgiões também começaram a usar aventais brancos em vez de jalecos na última parte do século. Sociedades acadêmicas, instituições educacionais e qualificações começaram a ser formalizadas ao mesmo tempo na profissão. Assim, ao estabelecer critérios mais elevados, os novos profissionais médicos se diferenciaram dos charlatões e dos cirurgiões-barbeiros. Os médicos também se distinguiam vestindo jalecos pretos e volumosos que transmitiam tanto uma aparência respeitável quanto sua posição social. A cor mais comum era o preto, enquanto alguns homens escolhiam o azul-escuro. O fato de ficarem descoloridos após as cirurgias fez com que fossem chamados várias vezes de jalecos “cheios de sangue e pus”.

Adiante, no final do século, as salas de cirurgia eram equipadas com aventais brancos, luvas estéreis e máscaras devido à maior ênfase na higiene e no saneamento. William Stewart Halsted introduziu as luvas de borracha em 1889. As luvas e máscaras se tornaram ainda mais populares após a Primeira Guerra Mundial e a pandemia de gripe espanhola de 1918. Conforme é possível observar, já havia alguns pontos que eram bastante comparáveis aos de hoje. Assim, com o tempo, os profissionais começaram a utilizar uniformes essencialmente brancos. No entanto, embora as roupas brancas dos médicos e enfermeiros indicassem limpeza, as luzes brilhantes e o ambiente todo branco da sala de cirurgia começaram a cansar os olhos dos cirurgiões. Para proporcionar mais contraste, a maioria das equipes cirúrgicas usava uniformes verdes nas décadas de 1960 e 1970. Esse tipo de traje cirúrgico evoluiria para o que hoje é conhecido como “scrubs”, ou pijamas cirúrgicos, assim chamados porque a equipe é obrigada a se limpar antes de fazer a cirurgia (a palavra

“scrub” vem do verbo inglês “to scrub”). Essas roupas unissex são feitas de calças verdes ou azuis com cordão e camisas de manga curta de algodão/poliéster.

Atualmente, o centro cirúrgico é um âmbito complexo, composto por vários profissionais, local que são executadas as técnicas anestésico-cirúrgicas, sendo classificado como um dos setores fundamentais do hospital. As atividades realizadas no centro cirúrgico são classificadas de alto risco, destacando a necessidade de qualificação de seus profissionais (Silva, 2019). O centro cirúrgico é um setor privativo e complexo que atende as necessidades dos clientes em caráter eletivo e emergencial em procedimentos complexos e de alto custo. Nessa unidade, é necessário que a enfermagem entenda e comande os procedimentos e rotinas que envolvem o atendimento do paciente, atendendo às demandas pertinentes na prestação de serviços (Itacarambi, 2022).

Sabemos que o centro cirúrgico é um local fechado, repleto de normas e rotinas e de risco, é um lugar que ocupa destaque nos hospitais, também é um setor restrito da instituição hospitalar, composto por diversas áreas que buscam prover condições adequadas para a realização de procedimentos anestésicos e cirúrgicos. Além disso, a localização do centro cirúrgico deve ser de fácil acesso às áreas afins como Centro de Material Esterilizado – CME, Sala de Recuperação Pós-anestésica – SRPA, Centro de Tratamento Intensivo – CTI, de modo com o público a ser atendido, farmácia, banco de sangue, almoxarifado. E recomenda-se que seja considerado a filosofia do hospital, o público a ser atendido, as especialidades, o nível de atenção à saúde, entre outros fatores (Tanaka, 2022).

O Centro Cirúrgico deve contar com a participação dos profissionais de enfermagem, pois eles são essenciais durante todas as etapas dos procedimentos cirúrgicos, sendo considerados um dos principais integrantes da equipe de saúde, contribuindo para a melhoria da qualidade do cuidado ofertado ao paciente e a redução de intercorrências. A assistência de enfermagem é de extrema importância para o êxito do trabalho. Apesar disso durante a sua atuação os enfermeiros estão sujeitos a uma diversidade de ricos, entre eles o físico, o biológico e o químico. O diálogo entre os profissionais é de suma importância para o bom funcionamento do centro cirúrgico e o sucesso das intervenções ali realizadas (Martins, 2021).

No Centro Cirúrgico a demanda de atividades burocráticas e administrativas é intensa e o enfermeiro deve delegar todas elas, deve haver uma atualização constante dos enfermeiros, já que estão expostos a vários riscos ocupacionais podendo-lhes causar agravos físicos e psicológicos. E preservar a saúde do enfermeiro é essencial, uma vez que há o atendimento das suas necessidades, ocorre aumento de sua satisfação e motivação, contribuindo para a proteção de sua saúde física e psicológica.

3.2       FATORES QUE AFETAM A SAÚDE DO ENFERMEIRO NO CENTRO CIRÚRGICO

A obscuridade de sua profissão, a ambiguidade em torno das responsabilidades da equipe de enfermagem e a sensação de alienação da equipe multidisciplinar estão entre as questões levantadas pelos enfermeiros. Uma das questões levantadas pelos enfermeiros é a comunicação deficiente, que pode causar conflitos entre os membros da equipe e seu empregador. Os próprios profissionais, como os prestadores de serviços de saúde em posições comparáveis ou superiores, também são culpados pela agressão no local de trabalho, que está ligada a crises de saúde e incapacidades. Quando confrontados com um momento instável, os hábitos violentos passam a ser vistos como demonstrações de insatisfação e desprezo. Esses momentos podem ser comparados a situações de negligência que prejudicam a dignidade dos especialistas do sistema de saúde aos olhos do público (Gomes et al., 2023).

O papel da equipe de enfermagem é carente, uma vez que eles são obrigados a desempenhar suas funções em uma variedade de ambientes desafiadores, incluindo salas de cirurgia e outras áreas extremamente perigosas dos hospitais, o que frequentemente resulta em doenças dos funcionários. No entanto, por realizarem seu trabalho de forma pouco clara, os profissionais estão propensos a atos de negligência, imperícia e imprudência. Além disso, esses profissionais podem se deparar com a falta de apoio gerencial nessas situações, o que pode afetar diretamente a saúde dos funcionários, privando-os dos recursos necessários para prestar um nível de atendimento adequado e seguro. A ausência de equipamentos de proteção individual, que frequentemente é negligenciada pela equipe de coordenação, é um componente crucial, mas é bem reconhecido que todo funcionário tem direito a suprimentos suficientes desse tipo de coisa.

Os cuidados e as especificidades de pacientes graves, incluindo a presença de secreções, procedimentos de sondagem, cateterização e intervenções com materiais cortantes, representam riscos ocupacionais para a equipe de enfermagem. O enfermeiro especialista requer conhecimento especializado na administração de instrumentos e insumos para técnicas que aumentam o risco de contaminação e com intensa regularidade. A Norma Regulamentadora 32 (NR-32) entrou em vigor após a constatação da necessidade de assistência aos profissionais devido aos fatores de risco de exposição. Essa norma tem por objetivo estabelecer diretrizes fundamentais de proteção à segurança dos trabalhadores envolvidos em ações de saúde, bem como daqueles que realizam práticas de promoção e assistência em geral nas entidades de saúde.

O termo absenteísmo, que significa “estar ausente, ausente ou ausente” em latim, refere-se a um comportamento que se caracteriza pelo não comparecimento no horário e pela execução de tarefas de forma incompatível com a saúde. Isso indica que o equilíbrio físico e mental do trabalhador está comprometido, pois faz sentido que as ausências do trabalhador sejam causadas por fadiga e aversão ao Centro Cirúrgico, seu local de trabalho. Como a etiologia do absenteísmo é derivada da composição das atividades no setor, ela representa uma patologia para a equipe de enfermagem. Os planos empregados para controlar o absenteísmo correm o risco de sobrecarregar a equipe multiprofissional quando são conectados incorretamente (Monteiro et al., 2022).

Um profissional incapacitado é prejudicial à sociedade porque, além de disseminar doenças infecciosas, também causa danos à sua equipe quando falta ao trabalho, aumenta a carga de trabalho de outros profissionais envolvidos na sala de cirurgia e no ambiente de trabalho e aumenta o risco de infecção. A Organização Mundial da Saúde é inequívoca ao afirmar que os países não podem trabalhar juntos no combate a doenças e pandemias e não conseguirão atingir a cobertura global de saúde na ausência de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem.

O relacionamento delicado e contínuo entre os profissionais é um dos conflitos da equipe multidisciplinar na sala de cirurgia. Um profissional frequentemente se recusa a colaborar com o outro durante um procedimento, às vezes até se recusando a trabalhar com o outro durante o mesmo procedimento, o que prejudica o atendimento ao paciente. Deve-se observar que a maioria dos profissionais de enfermagem da sala de cirurgia passa por situações de vulnerabilidade à violência no trabalho. Isso ocorre porque os enfermeiros necessitam de equipes compostas por vários profissionais, e o bom andamento das atividades propostas nesse ambiente é dificultado pela falta de organização, flexibilidade de horários, alívio da pressão da rotina e relações interpessoais positivas.

Quando se trata de profissionais de saúde, a hostilidade no local de trabalho afeta diretamente seu bem-estar. Isso se deve ao fato de que os enfermeiros da sala de cirurgia desempenham suas funções em condições extremamente perigosas e não conseguem realizar suas tarefas devido à violência em seu local de trabalho e à impossibilidade de apresentar queixas. É evidente que os enfermeiros frequentemente têm sentimentos de desvalorização quando percebem que seu trabalho árduo e seu comprometimento não recebem o mesmo peso que os de outras profissões. Isso pode levar a conflitos, fadiga do funcionário e insatisfação. O espaçamento insuficiente entre as salas de cirurgia e os corredores pode afetar negativamente o fluxo de trabalho, principalmente em cenários em que a equipe de enfermagem envolvida precisa fazer um esforço considerável.

No entanto, a cultura institucional das equipes continua extremamente restritiva quando se trata de relatar incidentes de violência, o que impede a tomada de medidas adequadas em resposta a incidentes de violência no local de trabalho. Em resumo, os especialistas relutam em revelar casos de agressividade porque não têm informações sobre eles e acreditam que os resultados não afetarão significativamente as condições de trabalho. Como os procedimentos oficiais de denúncia não são tão conhecidos e utilizados pelos especialistas, as ameaças contínuas não são consideradas um incidente significativo. Reconhece-se que uma cultura que denigre os profissionais de saúde e que não tem consequências adequadas para o comportamento violento resulta em uma cultura institucional extremamente restritiva quando se trata de relatar incidentes de violência, o que impede que sejam tomadas medidas adequadas em resposta a incidentes de violência no local de trabalho.

Em resumo, os especialistas relutam em divulgar casos de agressividade porque não têm informações sobre eles e acreditam que os resultados não afetarão significativamente as condições de trabalho. Como os procedimentos oficiais de denúncia não são tão conhecidos e utilizados pelos especialistas, as ameaças contínuas não são consideradas um incidente significativo. Reconhece-se que uma cultura que denigre os profissionais de saúde e que não tem consequências adequadas para o comportamento violento resulta em um ambiente de trabalho mais vulnerável.

A enfermagem é uma profissão que responde rapidamente à promoção da saúde e às iniciativas preventivas, à recuperação do bem-estar do cliente e às intervenções em larga escala que representam sérios riscos à saúde mental no local de trabalho. A epidemia de Covid-19 trouxe à tona uma série de aspectos emocionais negativos, incluindo o medo de contrair a doença enquanto estiver no hospital, sentimentos de descontentamento e fracasso, falta de conscientização sobre a doença e como preveni-la e perdas financeiras. Os costumes dos profissionais de enfermagem incluem longas caminhadas, horários de trabalho ininterruptos, atividades excessivas e muita exposição a riscos ocupacionais físicos, químicos e biológicos. Os riscos físicos incluem ruído, calor, frio, pressão, umidade, radiação ionizante e não ionizante, poeira, fumaça, gases, vapores, neblinas e névoas (micróbios). Os profissionais de saúde têm maior probabilidade de sofrer distúrbios ocupacionais como resultado do estresse emocional em geral.

Do ponto de vista físico, o ruído representa um risco para a saúde de todos, pois pode causar estresse, doenças no trabalho e indisposição profissional. Esse último efeito pode ser atribuído à transmissão constante de ruídos e equipamentos, o que também pode alterar os padrões de comunicação. Em relação ao perigo químico, descobrimos que os trabalhadores de enfermagem usam frequentemente produtos químicos, como antibióticos. Há vários aspectos estressantes no trabalho em um hospital, e esses aspectos se agravam durante pandemias e epidemias, deixando os trabalhadores médicos emocionalmente desgastados. As doenças no local de trabalho têm repercussões prejudiciais para os funcionários, incluindo riscos psicossociais que reduzem a qualidade do trabalho. Esses riscos incluem distúrbios emocionais e psicológicos, danos físicos e sociais e estilo gerencial.

Situações imprevistas podem ocorrer no Centro Cirúrgico e exigir uma ação rápida. As emergências cirúrgicas podem causar interrupções no fluxo de trabalho, portanto, os enfermeiros precisam agir rapidamente, realocando sua equipe conforme necessário e, às vezes, até adiando determinados procedimentos planejados. É importante chamar a atenção para a pandemia da COVID-19, que tem gerado estresse e sofrimento entre os profissionais. Para lidar com essas pressões, técnicas de gerenciamento de estresse têm sido empregadas, individual ou colaborativamente, com o objetivo de alcançar a superação emocional.

Devido à complexidade das operações e à possibilidade de dificuldades, a sala de cirurgia foi o setor do hospital em que os enfermeiros apresentaram o maior grau de cansaço emocional no trabalho. Os problemas de relacionamento e comunicação são frequentes nesse contexto, uma vez que ele acomoda uma variedade de categorias profissionais, especialmente entre a equipe médica e de enfermagem. Esses problemas também podem levar ao estresse e ao esgotamento. É evidente que os enfermeiros da sala de cirurgia – que trabalham longas horas, têm turnos difíceis e precisam de muita energia mental – são afetados pelo cansaço em todas as faixas etárias.

Uma questão que frequentemente surge para a equipe de saúde é a superabundância de profissionais e como suas responsabilidades são atribuídas. Além disso, foi observado que há um déficit de técnicos de enfermagem e enfermeiros na sala de cirurgia, o que pode comprometer a capacidade de planejar um atendimento competente. O desempenho da equipe pode ser melhorado se for sugerido o aumento do número de profissionais de enfermagem e o envolvimento dos funcionários no gerenciamento e na criação do cronograma de trabalho e sua atribuição aos turnos preferidos dos profissionais, o que permitiria à equipe acomodar melhor sua vida pessoal.

Um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças é o ambiente de trabalho, que inclui condições mecânicas, psicológicas e físicas desfavoráveis. Os trabalhadores que são expostos a esses fatores de risco continuamente e por um longo período têm maior probabilidade de desenvolver doenças ocupacionais. A enfermagem sofreu mais do que outras profissões da área da saúde em termos de danos físicos, psicológicos e sociais. Estudos demonstraram uma ligação entre o estresse e as doenças dos sistemas digestivo, cardíaco e musculoesquelético. O estresse crônico no trabalho também pode aumentar a chance de desenvolver doenças cardiovasculares graves. Além disso, pesquisas indicam que a crise econômica e a recessão são um fator no crescimento do estresse, da ansiedade, da depressão e de outros problemas de saúde mental associados ao local de trabalho (Ribeiro; Souza, 2022).

Para garantir a qualidade de vida e a manutenção da saúde, muito se tem discutido sobre a saúde do trabalhador, principalmente em relação à saúde dos profissionais de saúde. O objeto de estudo conhecido como “saúde do trabalhador” busca compreender como o trabalho afeta a capacidade de manter a boa saúde ou desenvolver doenças. Acredita-se que a saúde e a doença são processos dinâmicos que estão intimamente relacionados às estratégias de desenvolvimento produtivo da humanidade (Brasil, 2017). Nesse sentido, compreende-se que o trabalho é muito mais do que apenas o trabalho físico; é o uso do corpo, da inteligência e da capacidade de introspecção, interpretação e resposta situacional. É a capacidade de pensar, sentir e criar. Há uma interação nesse processo que pode perturbar a personalidade e o modo de vida do trabalhador e que se estende para além das horas de trabalho alocadas.

Portanto, a saúde física, psicológica ou social de um trabalhador pode ser afetada por seu trabalho, direta ou indiretamente. Estudos revelam uma alta frequência de doenças devido a uma variedade de condições, incluindo infecções infecciosas, doenças mentais, problemas respiratórios e lesões musculoesqueléticas. Os dados da equipe de enfermagem, especialmente os dos técnicos de enfermagem, foram os mais preocupantes entre os resultados (Guimarães; Feli, 2016).

Há muitos setores diferentes nos quais os enfermeiros trabalham, cada um com riscos e características exclusivas. Os enfermeiros de cirurgia realizam um trabalho extremamente rigoroso em uma unidade fechada e complexa, muitas vezes com condições de trabalho abaixo da média. Eles são uma parte essencial da equipe cirúrgica. Escassez de pessoal, escassez de material, desentendimentos entre a equipe cirúrgica, procedimentos de emergência, falhas de comunicação, danos ou defeitos nos equipamentos durante a cirurgia e problemas de colaboração fazem com que esses profissionais fiquem sobrecarregados e coloquem sua saúde em risco de várias maneiras.

Vários são os fatores que fazem com que os profissionais de enfermagem em algumas condições de trabalho possam desenvolver alguns danos e até mesmo doenças no âmbito físico, mental e social. Esses fatores podem resultar em várias consequências, como a diminuição da qualidade de vida, o aumento do absenteísmo e a rotatividade da força de trabalho. Por isso, é importante que as empresas ofereçam um ambiente de trabalho saudável e seguro para esses profissionais, garantindo assim um melhor desempenho no trabalho (Hoffmann; Glanzner, 2019).

Tanto o empregador quanto o empregado devem se beneficiar da manutenção da saúde no local de trabalho porque, quando as necessidades são atendidas, os funcionários ficam mais satisfeitos e motivados, o que ajuda a preservar seu bem- estar físico e mental. Para o empregador, isso também garante a retenção de funcionários e aumenta a produtividade, o que fortalece a empresa. Os muitos aspectos exclusivos do trabalho em um centro cirúrgico (CC) exigem educação contínua para a equipe de enfermagem. E, nesse sentido, os avanços na tecnologia e na medicina, além da necessidade de conhecimento, expõem os profissionais a novos perigos no local de trabalho que podem prejudicá-los física e psicologicamente.

Os profissionais envolvidos em procedimentos médicos complexos podem experimentar uma ampla gama de emoções, incluindo ansiedade, pressão interna e externa ao corpo, impotência e confusão. Com o tempo, essas experiências podem se acumular e expor o trabalhador a riscos e danos psicossociais se não forem devidamente monitorados e apoiados. Isso pode incluir sentimentos de desânimo, insatisfação com o trabalho, fadiga extrema e o desenvolvimento de doenças mais graves, como depressão e ansiedade (Feitosa; Rodrigues, 2010).

Os profissionais enfermeiros, que atuam no Centro Cirúrgico, estão expostos a situações que acarretam efeitos graves à própria saúde, consequência da própria organização do trabalho. Estas consequências são a necessidade de realização do trabalho principalmente em turno noturno que é considerado um dos fatores de risco para a saúde mental; e que dificulta a prática de atividade física gerando sobrepeso ou obesidade, o que pode impactar negativamente nas relações sociais e familiares (Silva, 2019).

Existem outros agravantes que também podem contribuir para o adoecimento dos profissionais de enfermagem, como a precarização dos recursos físicos, materiais e humanos, como também as dores osteomusculares, cansaço, artrite, artrose, cefaleia, tem risco de perfuração, muita repetição de movimentos, pegar paciente, puxar paciente, pegar peso, movimentos repetitivos e sem contar que ainda tem o estresse que acaba que ocasionando riscos à saúde física e mental dos profissionais. O atendimento feito nos períodos pré e pós-operatório de forma a assegurar qualidade e segurança no atendimento. São atividades que requerem bastantes esforços físicos e que estão inteiramente ligados a postura corporais não apropriada dos enfermeiros, ocasionando possíveis agravantes já mencionados, podendo ter impactos negativos na vida destes profissionais, manifestadas por meio de danos à saúde relacionados à atividade laboral (Holanda, 2023).

Dessa forma, evidencia-se que a enfermagem sofre implicações das políticas sociais e econômicas do país, devido sua má condição de trabalho, um fato que é inquestionável e comprovado pelo adoecimento dos profissionais de enfermagem no centro cirúrgico, mas que não tem visibilidade nas estatísticas oficiais, o que pode gerar a ocorrência de danos físicos, sociais e psicológicos à sua saúde.

3.3       PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA E CUIDADO AOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS ADOECIDOS NO AMBIENTE DO CENTRO CIRÚRGICO

Para garantir a segurança e o bem-estar dos pacientes, a equipe da sala de cirurgia deve ser capaz de funcionar em um ambiente de trabalho integrado e lidar com as demandas de um espaço fechado com tecnologia sofisticada. Dada a complexidade e o objetivo dos tratamentos realizados, a unidade ocupa uma posição significativa no hospital e atende pacientes em caráter emergencial, urgente ou eletivo. Nessa situação, a equipe de enfermagem deve ter conhecimento científico, proficiência técnica, estabilidade emocional, responsabilidade e compreensão das conexões humanas, o que promove a resolução de conflitos (Mello; Rodrigues; Glanzner, 2023).

A participação dos profissionais de enfermagem em procedimentos cirúrgicos acaba que despertando episódios de sentimentos variados em seu cotidiano e em seu âmbito de trabalho, entre eles se destacam a fragilidade, angústia, medo, cobrança interna e externa, aflição, dúvida, entre outros.

A dinâmica de trabalho, associada à convivência e ao relacionamento entre os profissionais que atuam no Centro Cirúrgico, tem que acorrer de forma pura e respeitosa. Para tanto, torna-se fundamental um trabalho integrado, com profissionais capacitados e preparados, favorecendo o enfrentamento das exigências impostas pelo referido ambiente, visando segurança e bem-estar do paciente e dos profissionais enfermeiros que ali atuam (Moraes, 2022).

Nessa perspectiva, a criação de leis e normas referentes à segurança e saúde do trabalhador na legislação brasileira mostra preocupação com as condições de trabalho nos serviços de saúde, com intenção de promover recursos de trabalho saudáveis, contribuir para a melhoria e qualidade de vida e realização pessoal e social dos profissionais de enfermagem.

A classificação grave identificada para danos físicos é considerada como manifestações de situações limite, que agrava o sofrimento no trabalho e sinaliza estado de alerta. Mostra um resultado moderado e que requer cuidado imediato a curto e médio prazo, o que poderia contribuir para a qualidade de vida, redução do número de afastamentos do trabalho e melhoria da assistência de enfermagem (Santana, 2021).

Sendo assim, estas vivências que acabam se tornando acumulativas por longo tempo pelos profissionais de enfermagem, sem um acompanhamento e um suporte adequado, acabam se tornando capazes de expor estes mesmos profissionais a sérios riscos e danos psicossociais, gerando desde sentimentos de desespero, esgotamento físico extremo, estresse, insatisfação com o trabalho e até mesmo a evolução de doenças mais graves como a ansiedade e outras.

4  METODOLOGIA

Metodologicamente, para o desenvolvimento deste estudo, foi realizada uma revisão de escopo. As revisões de escopo ou scoping review têm como finalidade mapear informações acerca de um tema na literatura ou tópico específico ou área de pesquisa, visando identificar conceitos-chave ou/e, ainda, possíveis lacunas existentes. Possuem ainda como principal finalidade fornecer uma visão descritiva dos estudos revisados (Levac; Colquhoun; O’brien, 2010).

Os critérios metodológicos adotados seguiram os postulados por Arksey e O’Malley (2005), cujas especificações obrigatórias seguem: 1: Identifying the research question (Identificando o problema de pesquisa); 2: Identifying relevant studies (Identificando estudos relevantes); 3: Study selection (Seleção dos estudos); 4: Charting the data (Mapeamento dos dados) e 5: Collating, summarizing, and reporting results (Agrupar, resumir e relatar resultados).

4.1 TIPO DE ESTUDO

Metodologicamente, para o desenvolvimento deste estudo, foi realizada uma revisão de escopo, ou seja, trata-se de um estudo de natureza qualitativa, descritiva e bibliográfica.

4.2   PERÍODO DO ESTUDO

A pesquisa foi realizada durante o primeiro semestre de 2024, isto é, de janeiro a junho do vigente ano.

4.3   CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
4.3.1  INCLUSÃO

A busca pelos artigos científicos que foram utilizados para esta revisão de escopo ocorreu nas bases de dados científicos PubMed, Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), os periódicos disponíveis na plataforma CAPES e o Google Acadêmico.

Foram incluídas as produções acadêmicas com prazo de, no máximo, 10 (anos) anos de publicação nos idiomas português e inglês e apenas artigos científicos. Foram utilizados como descritores os termos: enfermagem, centro cirúrgico e saúde profissional (Surgicenters, Nursing e Professional Health). Os descritores foram utilizados de maneira combinada por meio do operador booleano “AND”.

4.3.2  NÃO INCLUSÃO

Não foram adotadas para esse estudo publicações científicas postadas em outros idiomas, que não sejam os especificados nos critérios de seleção e que, obviamente, não estejam dentro do período temporal estabelecido. Além disso, trabalhos que não relacionam os descritores de maneira conjunta ou que não sejam disponibilizados de maneira gratuita nas bases de dados científicos. Publicações do tipo editoriais, conferências, pôsteres, resumos, cartas, comentários e tese não serão adicionados a esta pesquisa, que será restrita à seleção, mapeamento e descrição apenas de dados reportados em artigos científicos.

5  RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados podem ser agrupados conforme é possível observar na tabela abaixo. Na base de dados Pubmed, foram encontrados apenas 3 artigos, no entanto apenas 1 (E1) satisfez os critérios de pesquisa anteriormente estabelecidos e entrou para a análise nos resultados. Na Scielo, por sua vez, foram encontrados 4 artigos, porém apenas 1 também se adaptou às exigências desta pesquisa (E2). Na LILACS, embora encontrados 112 estudos, estes abordavam apenas a saúde dos pacientes no centro cirúrgico e como o enfermeiro estava relacionado a esse processo de fornecimento de cuidado. No Periódico Capes foram encontrados 105 artigos, todavia entraram apenas 2 no estudo (E3 e E4), pois alguns foram retirados com a aplicação de filtros e os outros, por sua vez, tratavam sobre os pacientes em centro cirúrgico e não os enfermeiros, padrão observado nas demais bases de dados. No google acadêmico, foram encontrados 4990, porém apenas 8 entraram para a composição de resultados (E5, E6, 37, E8, E9, E10, E11 e E12).

Com os estudos selecionados, estes foram agrupados na tabela abaixo, de acordo com a numeração odo estudo (NE), título, autoria e ano, método e resultados. A amostra total compõe 12 trabalhos para análise, com vista à resolução do problema que ancora essa pesquisa.

NETítuloAutoria e AnoMétodoResultados
  E1Use      of    the    nursing intervention classification               for identifying the workload of a nursing team in a surgical center.Possari et al., 2015.Estudo transversal observacional e descritivoA utilização da Classificação das Intervenções de Enfermagem contribui para a discussão sobre níveis adequados de dotações profissionais de enfermagem, pois mostra a distribuição da carga de trabalho.
          E2Processo gerencial em centro cirúrgico sob a ótica de enfermeirosMartins et al., 2021.Estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativaOs achados indicaram que o processo gerencial em centro cirúrgico, segundo os enfermeiros, envolve a necessidade de aprimoramento das competências, bem como do conhecimento das ferramentas gerenciais para a gestão de pessoas, para o gerenciamento de recursos materiais e para a gestão do cuidado.
E3Perioperative nurses’ activities in the brazilian scenario: a scoping reviewTrevilato et al., 2023.Revisã  de EscopoNo cenário brasileiro, as atividades dos enfermeiros perioperatórios vão desde o gerenciamento até a assistência, com uma proporção menor no ensino, destacando sua posição estratégica na mobilização de ações que promovam a segurança e a qualidade nos processos perioperatórios.
E4Contaminação de profissionais e acadêmicos no centro cirúrgico de um Hospital Universitário após higienização das mãosSouza et al., 2019Estudo transversal   e observacionalTécnicas pré-cirúrgicas mal desempenhadas levam à contaminação no centro cirúrgico.
E5Nível de estresse entre profissionais                de enfermagem em         um centro cirúrgicoSilva; Gomes; Corgozinho , 2021Estudo descritivo, de natureza exploratória, com abordagem quantitativa.Os níveis de estresse dos enfermeiros, nessa amostra, foram moderados.
E6Práticas          de enfermagem para a construção de um ambiente cirúrgico seguro: uma revisão de literaturaSouza; Ribeiro; Lima, 2024Revisão IntegrativaOs resultados apontaram para a importância dos checklists de cirurgia segura e sua aplicação consistente como uma ferramenta para melhorar a comunicação entre os membros da equipe e para garantir a adesão a práticas baseadas em evidências.
E7Atribuições e desafios do enfermeiro no centro cirúrgicoMoreira et al., 2024.Revisão de LiteraturaO centro cirúrgico sobrecarrega os enfermeiros e o seu sucesso não pode depender exclusivamente da classe.
E8Atuação do enfermeiro em controle, segurança e rastreabilidade de infecções no centro cirúrgicoReis; Silva; Reis, 2024.Revisão Integrativa.O presente estudo evidencia a importância do controle e prevenção de infecções no ambiente cirúrgico com o enfermeiro sendo o papel fundamental dentro desse contexto em ambiente hospitalar, uma vez que as ISC se apresentam  como  uma  das maiores ocorrências de mortalidade no mundo.
E9A prevenção do estresse na atividade ocupacional do enfermeiro no centro cirúrgicoSilva, Nunes, 2023.Revisão IntegrativaAlta carga horária e excesso de responsabilidades aumenta o estresse e prejudica a saúde mental.
E10O trabalho da equipe de enfermagem no centro cirúrgico e os danos relacionados à saúdeMadrid; Glanzner, 2021.Estudo quantitativoOs riscos psicológicos foram avaliados como baixos e os físicos mais elevados quanto aos danos eventuais do centro cirúrgico.
E11Occupational stress present in the activities of the nursing team in the operating room: Integrative reviewRamos et al., 2021.Revisão IntegrativaO ambiente fechado, a carga excessiva de trabalho, dinâmicas profissionais entre a equipe, falta de compromisso com o trabalho e os trabalhadores, falta de insumos e recursos materiais como agentes promotores de estresse no trabalho, além da baixa remuneração e valorização profissional, número insuficiente de profissionais qualificados, elevada demanda de cirurgias, condição dos pacientes, intercorrências e urgências; insuficiência de planejamento, turnos ou regime de plantões desgastantes e baixa autonomia.
E12A Saúde Mental dos Enfermeiros de Centro Cirúrgico: uma revisão integrativaBarceloset al., 2021Revisão IntegrativaOs fatores apontados como impactantes na saúde mental dos enfermeiros perioperatórios se relacionaram a fatores do ambiente de trabalho como a má relação interdisciplinar entre profissionais, a organização, a estrutura  e  o  suporte  aos enfermeiros.

O centro cirúrgico, e o seu nome sugere uma possível auto explicação, é uma unidade hospitalar onde são realizados tratamentos terapêuticos, diagnósticos e anestésico-cirúrgicos em caráter emergencial e eletivo. Dada a alta densidade tecnológica e a variedade de cenários que criam esse ambiente, caracterizado por intervenções intrusivas e recursos materiais altamente precisos e eficazes, são necessários profissionais qualificados para atender às diversas necessidades do usuário. Essa dinâmica única na área de saúde é provocada por esses fatores. O CC é considerado um espaço de alto risco com processos de trabalho intrincados e multidisciplinares que dependem muito do desempenho individual e da equipe em ambientes estressantes e cheios de pressão (Martins; Dall’Agnol, 2016).

À vista disso, torna-se salutar a compreensão de como tem ocorrido as dinâmicas de trabalho nos centros cirúrgicos e que espaços, para além de toda ambientação clínica, eles têm se tornado. A lógica da noção de espaço, lugar em que se trabalha é enormemente importante quando se discutem locais de trabalho e saúde do trabalhador, como é o caso dessa pesquisa. Para além de toda a rigorosidade dos processos médicos protocolares que são necessários à ambientação do centro cirúrgico e que, portanto, são indispensáveis, é importante pontuar o fator humano. Há vidas a serem salvas nesses espaços, mas são outras vidas quem tocam esse processo e que se dedicam a esse movimento.

Nesse contexto, quando se fala no contexto da enfermagem, há diversos estressores que podem prejudicar de maneira substancial a saúde desses profissionais. Desde aspectos ortognáticos a estressores de natureza puramente psicológica, esses profissionais são bombardeados de informações e de estímulos, tornando-se suscetíveis a uma série de fatores de adoecimento. Além disso, nota-se, são os profissionais enfermeiros geralmente responsáveis pela organização desse setor, seja em âmbito clínico, seja em âmbito gerencial administrativo. Percebe-se, desse modo, inserção do profissional enfermeiro em muitos subespaços no espaço do hospital e discutindo exclusivamente o espaço do centro cirúrgico, muitas localidades ocupadas por eles.

Há, evidentemente, um quadro de profissionais sendo acionados para o desenvolvimento de distintas ocupações ou o que pode até mesmo ser compreendido como subocupações no Centro-Cirúrgico. Se esse é um espaço, observa-se, que aciona de maneiras distintas desses profissionais, como está a saúde destes ou até mesmo de que maneira, nesses conformes, tem-se pensado as condições de saúde de quem presta saúde. Como estão, portanto, falando em integralidade dos processos de cuidar, esses profissionais e como as várias áreas de suas vidas têm sido afetadas por essa dinâmica é uma compreensão indispensável.

No CC, desde o momento em que o paciente entra na enfermaria até o final da fase perioperatória, o trabalho do enfermeiro na sala de cirurgia é acompanhá-lo e atender a todas as suas necessidades. Os enfermeiros são divididos em duas categorias: coordenadores e assistentes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico (SOBECC), os enfermeiros devem ser especialistas na área em que atuam. A humanização do ambiente é fundamental para o profissional de enfermagem, bem como para toda a equipe multidisciplinar, necessária no espaço dos centros cirúrgicos (Guimarães; Mauro; Wazenkeski, 2020; Santos et al., 2018).

Esse parágrafo último destaca a articulação e movimentação necessária dos enfermeiros em centro-cirúrgico, são eles os profissionais que prestam, diretamente, cuidados aos pacientes durante, observa-se, todo o momento em que o paciente se encontra nesse espaço. Tem-se, e aqui cabem algumas pontuações, a necessidade de exercício imaginativo para pensar todo o processo de rotatividade, e inclusive física dentro do hospital, a que estão submetidos esses enfermeiros especializados. É possível pensar, assim, que, em localidades em que esses profissionais se encontram em número menor, por exemplo, é um mesmo profissional o responsável por acompanhar o processo cirúrgico e ficar acompanhando esses pacientes no processo de tratamento, cura e alta.

Quando pensados, por exemplo, que há um número médio de pacientes que estão necessitando de acompanhamento, é possível depreender esses profissionais ainda cansados, mas um cansaço, dentro do que se lê, na estatística de pesquisa, como pertencente á curva normal. Essa situação ganha contornos e, sem eufemismos, sombrios quando há um número exponencial de pacientes, necessidade de cuidados e poucos profissionais para atender a alta carga de trabalho. Embora, quando se pensa em emergência de cuidados, esses profissionais sejam as pessoas quem deverão prestar cuidados, sob a faceta de alta densidade, há desgaste tanto físico, mas talvez essencialmente psicológico, pois é conhecida a sensibilidade dos centro-cirúrgicos.

Além disso, ao se pensar até mesmo a lógica dos processos cirúrgicos mais invasivos, embora esses profissionais já estejam habituados a esse processo, é desgastante estar e pertencer de maneira mais entremeada, a esses espaços de promoção de saúde.

Nesses conformes, sabendo o que é o Centro Cirúrgico e como o enfermeiro atua nesse espaço de trabalho, convém pontuar a relação desenvolvida desses profissionais com o próprio espaço de trabalho e com as implicações à saúde pessoal. Nesse sentido, Possari et al., (2015) atestaram que há muito domínios os quais os enfermeiros precisam dominar no centro cirúrgico, que os indicadores revelam bom domínio. Em suma, afirmam os autores, a utilização da Classificação das Intervenções de Enfermagem contribui para a discussão sobre níveis adequados de dotações profissionais de enfermagem, pois mostra a distribuição da carga de trabalho. O ponto relacionado à carga de trabalho, nesse espaço, é outro fator que desperta maior atenção.

Silva; Gomes e Corgozinho, (2021) no que se refere à temática, afirmam que a distribuição de tempo empregado ao trabalho está relacionada ao estresse. Se há, porventura, um número maior de horas trabalhadas, no campo da sobrecarga, haverá, portanto, maiores níveis de estresse e propensão ao adoecimento. Os autores elencam ainda que os enfermeiros frequentemente lidam com escassez de suprimentos e equipamentos de baixa qualidade, o que explica em parte por que a previsão, o fornecimento e o controle de materiais e equipamentos são as tarefas mais exigentes, estressantes e fomentadoras de adoecimento.

Os dois últimos autores mencionam, ora temáticas já abordadas, como a sobrecarga de trabalho e a densidade de atribuições nesse setor, ora, e especialmente o último, as condições de trabalho que beiram à insalubridade em muitos casos. Na situação última, e especialmente quando se fala em saúde pública no Brasil, é indispensável pensar na questão política que atravessa o modus de fazer e operacionalizar o trabalho. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) seja indispensável porque ele atende a população mais pobre e democratiza o acesso á saúde, seu gerenciamento pensando nos gestores políticos é lamentável. Nessa combinação de atores que fazem o programa funcionar há deficiência de repasses financeiros, faltam insumos para o desenvolvimento de atividades básicas no centro cirúrgico e sobram, ainda mais, pacientes com dificuldades, listas enormes de cirurgias necessárias, mas que não podem ser tocadas, e profissionais desgastados e adoecidos. Essa dinâmica insere, portanto, um fator de vulnerabilidade profissional pouco discutida.

Se se pensa, por exemplo, no lado dos pacientes que não conseguem ter acessos às suas cirurgias porque falta o básico quanto à assistência, há, por outro lado, profissionais de mãos atadas que sofrem junto aos pacientes, adoecem, lutam por melhorias nas condições de trabalho, mas que raramente são ouvidos. Há, portanto, uma dinâmica política disfuncional que afeta o sistema de saúde como um todo e inviabiliza o acesso dos pacientes a tratamentos de saúde mais adequados e adoece, em algumas instâncias, os profissionais que desejam desenvolver plenamente suas atividades e entregar saúde aos seus pacientes. São impedidos, portanto, de prestarem a humanização tão exigida nos campos de formação, porque, lamentavelmente, em instância primeira, sistematicamente, parecem roubar-lhes as suas (ou pelo menos tentar fazê-lo).

No campo do adoecimento, e ainda sobre estresse, Silva e Nunes (2023) reportam que esse é um dos maiores fatores de adoecimento e está relacionado, sobretudo, às cargas horárias em demasia e ao excesso de responsabilidades. Para as autoras, esses fatores estão relacionados diretamente também à saúde emocional desses trabalhadores, pois, não raros os casos, observam-se quadros de depressão e transtornos de ansiedade resultantes dessa má relação construída nos ambientes de trabalho e associadas a essa qualidade ruim dos espaços de trabalho, da ausência de insumos, etc.

No campo da sobrecarga emocional, conforme apontam os autores, é possível notar que, dada a sobrecarga e aos desgastes no trabalho, os níveis emocionais entram em sérios descompassos, levando os enfermeiros ao adoecimento. Na atualidade, os fenômenos de ansiedade e depressão têm estado em alta e o estresse aparece como um dos fatores de risco acentuados no aparecimento dessas psicopatologias. Ao se observar, em consonância, que os enfermeiros dos centro- cirúrgicos estão expostos à alta carga emocional e pressão e se são somados esses fatores que já são inerentes à profissão ao descaso político, às condições de trabalho ruins, à demanda altíssima de trabalho que os abarca, tem-se a ambientação perfeita para o aparecimento de algum quadro sintomatológico grave no campo do adoecimento mental.

Além de depressão e ansiedade, é possível até mesmo elencar o bornout, haja vista a literatura fazer menção ao estresse em demasia. Na literatura, um período prolongado de stress no trabalho pode conduzir a esse quadro diagnóstico, hoje mais conhecido, embora pouco falado. Trata-se de uma reação ao stress contínuo no trabalho, provocado por interações interpessoais frequentes e intensas, atenção concentrada e responsabilidades profissionais (França et al., 2014). Com base na descrição literária, observa-se em grande escala, a probabilidade de um aparecimento de quadro nosológico com essas características nos profissionais enfermeiros.

Ramos et al., (2021) também discorrem sobre o que chamam de estresse ocupacional, em relação aos enfermeiros. Acerca disso, afirmam os autores, há vários efeitos físicos e psicológicos do estresse ocupacional que os enfermeiros sofrem no trabalho. Alopecia, problemas musculoesqueléticos, dores de cabeça, depressão, baixa libido e desejo sexual, erupções cutâneas, problemas gastrointestinais, problemas respiratórios e do trato urinário, bruxismo, palpitações cardíacas, baixa atividade imunológica, extremidades frias e úmidas e pressão alta, asma, hipotireoidismo, fadiga, artrite e artrose e fibromialgia cervical estão entre os sintomas físicos que afetam esses profissionais. Além dos perigos associados a movimentos repetidos, perfurações não intencionais e radioatividade.

Que os efeitos psicológicos são reais e que causam danos consideráveis à saúde dos enfermeiros, foi possível atestar. No entanto, outras condições nos ambientes de trabalho podem colocar em risco de um possível quadro de adoecimento tais profissionais. O estresse, se envolvido sobretudo com questões de saúde de natureza emocional, relaciona-se, em larga escala, com problemas de natureza psicossomática, além de poder propiciar condições em que outros sistemas do organismo permaneçam sofrendo. No rol de problemas listados acima, tem-se a fibromialgia, doença relacionada aos sistemas nervoso, articular e muscular e um dos seus grandes agentes potencializadores é exatamente o estresse, que pode evocar crises e colocar as pessoas que sofrem com essa condição em estado de intenso sofrimento.

Além desses problemas, os últimos autores listam uma série de outros quadros nosológicos que estão associados a diferentes sistemas do organismo e é possível notar, com essas informações, o impacto dos eventuais riscos que esse profissional pode estar submetido. Se há aumento, por exemplo, na pressão arterial, nota-se impacto no sistema cardiovascular. Se a imunidade eventualmente deixa de responder como deveria, nota-se então que as condições podem ser degradantes e que não só podem, como adoecem também. E já bastante comentado, se os profissionais desenvolvem depressão e é possível observar impactos em seus sistemas nervoso e endócrino, há características e condições que precisam ser revistas e melhor observadas, com a finalidade de garantir a saúde dos profissionais que integram esses espaços.

Além disso, afirmam os mesmos autores, é possível observar que os enfermeiros frequentemente lidam com uma variedade de problemas no trabalho, incluindo estresse, dor e morte de pacientes. Não só, esses profissionais frequentemente lidam com dificuldades em sua vida diária, como carga de trabalho pesada, pressão dos colegas, atitudes ofensivas, lidar com novas tecnologias, comprometimento e, ocasionalmente, não serem reconhecidos por seus esforços.

Nessa seara, Barcelos et al., (2021) chamam atenção para o fato de que a saúde mental dos enfermeiros, e até de outros profissionais da saúde, é bastante negligenciada, e esse é um problema, principalmente quando se observa a maneira e as demandas que esses profissionais precisam enfrentar. Somados ao desgaste emocional que pode culminar num quadro de depressão e/ou outros problemas psiquiátricos, o bornout, apontam os autores, tem sido outro grave transtorno que tem afetado os enfermeiros, prejudicando a saúde mental de maneira geral desses profissionais no centro cirúrgico.

Além dos perigos emocionais, há também os perigos físicos/biológicos que são encontrados no espaço do centro cirúrgico. Reis, Silva e Santos (2024) apontam para a importância do controle e da prevenção de infecções no ambiente cirúrgico, onde os enfermeiros são essenciais, já que as infecções no local da cirurgia estão entre as maiores taxas de mortalidade em todo o mundo. Em virtude disso, os autores apontam para a necessidade de sucesso nos processos de esterilização e paramentação, pois uma vez desenvolvidos de maneira incorreta podem culminar em infecção para o enfermeiro, comprometendo o seu quadro de saúde, podendo-o, e não raramente, levá-lo à morte.

Observa-se situação semelhantes em pesquisa conduzida por Souza et al., (2019). No trabalho dos autores, investigou-se a presença de bactérias e outros micro- organismos nos profissionais da saúde no centro cirúrgico. Especificamente, foram identificados três grupos bacterianos distintos: bactérias gram-negativas, Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativa (SCoN). A maioria das bactérias estava mais contaminada no grupo de acadêmicos e médicos ortopedistas e menos contaminada no grupo de enfermeiros. Foi determinado que o método de higiene das mãos não foi usado corretamente nos grupos, mas que os enfermeiros o fizeram de melhor forma. Observa-se, portanto, que uma atividade compreendida de maneira “básica” exerce sobremodo influência sobre a saúde dos enfermeiros, se não for desenvolvida com rigor.

Nota-se, à face de discussão promovida pelos últimos dados reportados à literatura, que a saúde mental dos trabalhadores da enfermagem é um tema denso, especialmente quando se pensa em profissionais que estão, a todo momento, liando com pressões e níveis mais elevados de ansiedade. No Brasil, embora os profissionais diretos da saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, estejam inseridos nos espaços de promoção de saúde, não há políticas voltadas em saúde mental para o cuidado de quem cuida, ou pelo menos não com características mais pragmáticas com dedicação exclusiva ao cuidado de quem constantemente dispõe do cuidar.

E falando, mas desse modo, em saúde agora física, os cuidados e condições de trabalho em muitos espaços também não protegem os profissionais da enfermagem nos centros cirúrgicos, ocasionando sérios acidentes de trabalhos como contágio por algum micro-organismo presente vetor de alguma complicação ou até mesmo, e não raros os casos, quadros infecciosos. Os últimos autores pontuam esses como os principais responsáveis por expressivos casos de infecção no mundo e pela mortalidade que resulta desses casos também. Não raros os casos, mesmo usando os EPI’s necessários, os profissionais não deixam de estar desprotegidos, pois, por exemplo, nos casos em que a qualidade do EPI não é tão boa, o que pode acontecer muito no sistema público visando contingenciamento de gastos, o profissional se expõe a ambientes em que as infecções podem ocorrer.

É isso o que é fomentado por Souza et al., (2019), embora o centro-cirúrgico seja um local em que se preza por esterilização máxima, que as condições de higiene são muito bem demarcadas e onde processos de limpeza buscam ser rigorosamente atendidos, mesmo nesses casos não é possível falar em segurança total ou segurança por completo. Esse fato, no entanto, não é para aterrorizar os profissionais ou afirmar que não estão seguros e que não podem trabalhar nesses espaços. Muito pelo contrário, eles servem para demonstrar dados da realidade profissional e os seus recortes. Embora, por exemplo, saiba-se, já dito neste escrito, que o CC pode conter micro-organismos que podem levar a quadros infecciosos, essa probabilidade é mínima. Faz-se menção a ela, todavia, porque é um dado, mesmo mínimo.

Acerca do tema, Madrid e Glanzner (2021) concluíram que devido aos requisitos exclusivos de seu trabalho, os enfermeiros das salas de cirurgia podem sofrer lesões físicas, psicológicas ou sociais. As questões físicas ou sociais/psicológicas variam quanto à dinâmica do espaço de trabalho. Porém, quando se trata do fator de dano físico, a dor nas costas e nas pernas representa um risco médio. Isso significa que os gerentes e o serviço de medicina ocupacional precisam tomar medidas imediatas e de longo prazo para garantir a saúde dos trabalhadores e incentivar melhores condições de trabalho.

No primeiro aspecto comentado pelos estudiosos, o autor sugere uma demanda de ordem social que corresponde à natureza dos relacionamentos no centro-cirúrgico. Sabe-se, por exemplo, que quando se trabalha em locais que são harmoniosos, em que a equipe se trata com respeito, cordialidade e bons modos, o trabalho tende a fluir melhor e a ambientação do espaço consegue propiciar o desenvolvimento mais prazerosos da prática. No entanto, quando isso é marcado por possíveis abusos na relação médico-enfermeiro/ enfermeiro-enfermeiro ou outros casos dessa hierarquização nada saudável, o ambiente de trabalho acaba se tornando desgastante e adoecedor.

Outro aspecto nesse sentido importante a ser pontuado é referente aos aspectos gerenciais dos enfermeiros no centro cirúrgico. Martins et al., (2021) e Trevilato et al., (2023) discutem que uma das maiores causas de extremo cansaço e eventual adoecimento no centro cirúrgico para os enfermeiros compete aos processos gerenciais do CC. Precisar alocar recursos, ajudar na organização da equipe, ver a disponibilidade de materiais e outros insumos necessários, além de gerenciamento, em alguns casos, da equipe de trabalho, cansam sobremodo, os enfermeiros que atuam no centro cirúrgico. Esse cansaço, por sua vez, desemboca em outros problemas de natureza física e emocional.

Mais uma vez é possível perceber o profissional enfermeiro se realocando entre diversas funções e responsável por muitas atividades nos seus espaços de trabalho. Conforme já discutido, esse formato de fazer funcionar os espaços de saúde é pouco profícuo e pouco produtor de saúde no geral. Diz-se isso à avaliação de que, se existe uma equipe cansada e profissionais sobrecarregados, muito raramente o atendimento em saúde à comunidade tenderá a ser bem-sucedido e elaborado com mais qualidade. E não por indisponibilidade profissional, lê-se, mas por indisponibilidade de recursos essencialmente humanos.

Por sua vez, Fernandes et al., (2024) postulam que há uma sobrecarga de cuidados seguros devido às inúmeras responsabilidades do enfermeiro da sala de cirurgia. A incapacidade de supervisionar a equipe de saúde diversificada e, ao mesmo tempo, desempenhar responsabilidades gerenciais, administrativas e de assistência é a causa principal dessa situação difícil. Por isso, é fundamental que os enfermeiros cirúrgicos deleguem tarefas a outros membros da equipe. Além disso, o sistema de saúde atual tem falhas porque não há recursos materiais e humanos suficientes disponíveis, o que aumenta a probabilidade de o trabalho dar errado devido à alta demanda de pacientes e destaca as dificuldades da enfermagem.

Souza; Ribeiro e Lima (2024) contribuem, por sua vez, reconhecendo que os processos de gerenciamento são responsáveis pelas altas taxas de adoecimento dos enfermeiros e propõem, por sua vez, sistemas de organização para ajudar a dirimir a alta carga de processos a serem gerenciados. Por fim, percebe-se que os enfermeiros aparentemente lidam com jornadas de trabalho exaustivas e apresentam sérios problemas orgânicos e emocionais. É possível perceber, por fim, que esses profissionais estão muito suscetíveis ao adoecimento e que é necessário que se reformule e haja de maneira mais ativa, principalmente politicamente, para que as condições de trabalho possam ser mais humanizadas e dignas à classe.

6  CONCLUSÃO

O centro-cirúrgico é um dos campos de atuação em que o enfermeiro no ambiente hospitalar está inserido, e que demanda de altas habilidades tanto técnicas como de saber teórico para que o desenvolvimento pleno das suas funções possa ocorrer. Situações imprevistas podem acontecer no Centro Cirúrgico e exigir uma ação rápida. As emergências que envolvem cirurgia podem interromper o fluxo de trabalho, portanto, os enfermeiros precisam agir rapidamente, realocando sua equipe conforme necessário e, possivelmente, até adiando determinados tratamentos planejados. Para lidar com essas pressões, foram empregadas técnicas de gerenciamento de estresse que poderiam ser aplicadas individualmente ou de forma colaborativa, em um esforço para alcançar a superação emocional.

Esse é um ambiente que pode ser descrito como sensível, em que os erros são tolerados de maneira mínima e onde se requer maiores níveis de atenção, concentração e disposição tanto física, quanto mental. Dada a sua organização que preza por características mais desafiadoras e desgastantes, esse pode vir a ser um espaço bastante fomentador de sofrimento aos profissionais em casos em que estes submetem-se de maneira constante, ou seja, quando há sobrecarga de trabalho, ou quando as condições são ruins.

Neste trabalho, observou-se que em muitos casos os enfermeiros são lotados com uma densa carga de trabalho que envolve desde aspectos burocrático-gerenciais a aspectos de natureza mais cirúrgica, nesses moldes. Em função disso, os enfermeiros são cotados em diferentes espaços dos hospitais e não raras vezes se sentem sobrecarregados quanto ao acúmulo de funções e a excesso de trabalho, por consequência. Soma-se a isso o fato de que, seja na literatura, seja presenciando inclusive os telejornais, há um descaso por parte política bastante presente nos espaços de saúde pública, todavia as demandas permanecem lá e esses profissionais precisam caminhar junto às necessidades dos pacientes.

Assim, seja de maneira direta ou indireta, pois, para além de suas próprias demandas, os enfermeiros também lidam constantemente com a dor e o sofrimento alheio, criam-se condições de adoecimento muito consideráveis ao se pôr em xeque as condições em que atua, muitas vezes o enfermeiro. Neste trabalho, notou-se que os enfermeiros, dadas as condições já estabelecidas, estão suscetíveis a quadros de ansiedade generalizada, depressão, bornout, hipertensão e outros quadros clínicos que lhes afetam a saúde.

Por fim, não se considera que exatamente o centro cirúrgico seja problemático ou adoeça os profissionais unicamente pela pressão e sensibilidade que permeia esse espaço. No entanto, se essas condições se somam às já estabelecidas anteriormente no corpo do trabalho e desta conclusão, tem-se as condições perfeitas e ideais para o aparecimento de quadros de adoecimento dos enfermeiros, indispensáveis na promoção e prestação de serviços em saúde.

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