CAVING: POTENCIALIDADES PARA O APRENDIZADO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

CAVING: POTENTIALS FOR ENVIRONMENTAL EDUCATION LEARNING

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248091235


Marilda Teixeira Mendes 1
Michela Abreu Francisco Alves 2
Bruna Kaicy Barbosa 3
Andréia Luiza Oliveira Costa 4
Cecília Rodrigues Medeiros 5
Vera Lúcia Lacerda Medeiros 6
Irene Menegali 7
Maria Auxiliadora Pereira Figueiredo 8


Resumo

A destruição e o desequilíbrio ambiental impactam negativamente o bem-estar das populações, exigindo uma análise sistemática dos problemas ambientais que considere as inter-relações e a integração entre diversos fatores. Busca-se uma nova concepção dos problemas ambientais que não seja apenas biológica, mas que considere uma ecologia profunda, focando na relação entre o ser humano e a natureza de forma não antropocêntrica. A abordagem ecossistêmica é vista como uma oportunidade para a construção do conhecimento de maneira interconectada, capaz de compreender a complexidade dos fenômenos. Este estudo examina a possibilidade de refletir sobre questões socioambientais e de lazer em ambientes de caverna, por meio do caving, e analisa a ecologia humana e profunda como instrumentos para uma nova abordagem na relação entre o ser humano e a natureza. As práticas de caving podem contribuir para a conscientização ambiental, promovendo uma gestão equilibrada e sustentável das atividades realizadas. A educação ambiental deve ser parte fundamental para uma conduta consciente, formando praticantes afetuosos e críticos. A ecologia profunda destaca a interdependência e a importância de construir comunidades sustentáveis. Assim, é crucial promover um entendimento mais profundo e holístico das relações entre o ser humano e a natureza. O objetivo deste estudo foi analisar se as práticas espeleológicas configuram-se como potencialidades para a educação ambiental.

Palavra Chave: Ecologia Profunda, Educação Ambiental, Caving, Abordagem Ecossistêmica.

Abstract

The destruction and environmental imbalance negatively impact the well-being of populations, requiring a systematic analysis of environmental issues that considers interrelations and integration among various factors. A new conception of environmental problems is sought, one that is not solely biological but considers deep ecology, focusing on the relationship between humans and nature in a non-anthropocentric way. The ecosystem approach is seen as an opportunity to construct knowledge in an interconnected manner, capable of understanding the complexity of phenomena. This study examines the possibility of reflecting on socio-environmental and leisure issues in cave environments through caving and analyzes human and deep ecology as tools for a new approach to the relationship between humans and nature. Caving practices can contribute to environmental awareness, promoting balanced and sustainable management of activities. Environmental education should be a fundamental part of fostering a conscious attitude, forming affectionate and critical practitioners. Deep ecology emphasizes interdependence and the importance of building sustainable communities. Thus, it is crucial to promote a deeper and more holistic understanding of the relationships between humans and nature. The objective of this study was to analyze whether speleological practices represent potentialities for environmental education.

Keywords: Deep Ecology, Environmental Education, Caving, Ecosystem Approach.

1 INTRODUÇÃO 

Ao aprofundar o debate sobre a problemática ambiental, emergiram evidências substanciais de que o ambiente está sofrendo um processo significativo de degradação devido às atividades antropogênicas, o que coloca o planeta em risco devido às numerosas e intensas agressões que tem sofrido. Ao adotar uma perspectiva holística e integrada ao ser humano, torna-se possível refletir sobre uma ampla gama de temas e possibilidades que podem ser incorporadas à educação ambiental em todas as suas fases de aprendizado. Nesse contexto, é imperativo que as instituições de ensino e pesquisa, bem como outras organizações, levem em consideração essa realidade, tanto no meio acadêmico quanto fora dele. Os impactos negativos da destruição e do desequilíbrio ambiental afetam, direta e indiretamente, o bemestar das populações, demandando que os problemas ambientais sejam analisados de maneira sistemática, considerando as inter-relações e a integração entre os diversos fatores envolvidos.  No contexto desta reflexão socioambiental e ecossistêmica, busca-se uma nova concepção dos determinantes dos problemas ambientais, que não seja unicamente biológica, mas que também considere uma ecologia profunda, focando na relação entre ser humano e natureza de forma não antropocêntrica, mas no compartilhamento de energias e trocas universais. Nesse sentido, a abordagem ecossistêmica é concebida como uma oportunidade para a construção do conhecimento de maneira interconectada, surgi, contextualiza e é capaz de compreender a complexidade dos fenômenos apresentados.

Quanto à relação socioambiental e ecossistêmica, é importante evidenciar-se o cuidado com as questões ambientais, uma vez que o ser humano não está na natureza, ele é natureza, a educação ambiental começa nas relações imbuídas na educação corporal, relações pelas quais o ser humano, como sujeito histórico, deve ultrapassar o viver, deve existir que é mais do que estar no mundo, é estar com ele, num diálogo eterno do ser humano com o ser humano e com o mundo (Rodrigues (2007). De acordo com o autor o primeiro ambiente no qual vivemos é a nossa corporeidade e a partir dela fazemos nossa experiência de ser no mundo. Dessa maneira, é importante que a relação socioambiental e ecossistêmica abranja todas as dimensões do ser humano (social, econômico, político, religiosa, etc.) em todas as suas relações e interações, em completa interdependência com o meio. Ao incorporar a concepção ambiental na prática da atividade em ambientes de caverna, os espeleólogos e condutores ambientais poderão ser capazes de entender a relação que desenvolvem com o meio ambiente, diante das práticas espeleológicas com as quais mantêm uma complexa teia de relações humanas e socioambientais.

Na busca pelo entendimento da relação ser humano e natureza, recorro a Inácio; Moraes e Silveira (2013), quando fazem considerações importantes de que o próprio corpo e todos os lugares e espaços nos quais estão inseridos, também são meio ambiente e a preservação destes, o respeito com o próximo, a cooperação, a dignidade, a compreensão consigo e com o próximo, são partes de um processo que pode resultar em maior respeito à natureza e ao meio ambiente: 

Para que possamos nos entender como natureza e cumprir nosso papel social de formadores críticos, contribuindo para a conscientização e emancipação de nossos educandos, precisamos de uma formação inicial e continuada de qualidade, ampliadora de nossos horizontes, para que entendamos que não ‘temos’ um corpo, mas ‘somos’ um corpo; precisamos compreender que a natureza não está apenas no meio exterior e podemos fazer o que quisermos com ela: somos natureza e sem a água, o ar, a terra, a cooperação, o respeito, a paz, a dignidade, os mantimentos, a luz, dentre outros, não existimos, afinal nosso corpo é a junção de todos estes (Inácio; Moraes; Silveira,2013, p. 21). 

 Inácio (1997) mostra a necessidade premente de um diálogo transdisciplinar com a finalidade de se promover a tão almejada educação ambiental, numa tentativa de reconhecimento gradativo do meio ambiente natural. Segundo o autor, as atividades de aventura poderá ser um meio para a promoção da educação ambiental.

Nesse sentido, o presente estudo apresenta como questão norteadora a possibilidade de uma reflexão em torno das questões socioambientais e de lazer em ambiente de caverna, por meio do caving, assim como uma análise da ecologia humana e profunda como instrumentos de uma nova abordagem na relação ser humano e natureza, por meio da atividade física de aventura na natureza. 

 Com isso, as manifestações da questão ambiental como nova fonte de legitimidade e argumentação ganha força em praticamente todas as esferas da vida pública e privada, até mesmo nas práticas de lazer (Rodrigues, 2012), possibilitando, assim, descobrir um caminho que permita saídas para promover a prática de atividade em caverna de maneira equilibrada, o que constitui um desafio. As escolhas são inúmeras, mas a proposta desse estudo será realizada por meio de intervenções práticas, na tentativa de uma gestão mais equilibrada e sustentável nas atividades realizadas. Gestão esta que firma, assim, um novo olhar mais atento e mais abrangente e delineia um modelo atual de comportamentos que necessitam ser adotados, com a finalidade de determinar, reparar e melhorar a participação e o engajamento do principiante da atividade física de aventura na natureza, por meio do caving, como atividade do contexto do lazer.

É necessária uma análise das práticas de atividades junto à natureza e à preservação do meio ambiente, atendendo à articulação para um desenvolvimento sustentável harmonioso e equilibrado. A educação ambiental será peça fundamental para uma conduta consciente. Ações conjuntas poderão contribuir para a concepção de novos paradigmas de uma educação reflexiva, com o intuito de formar praticantes conscientes, afetuosos e críticos. Somente assim a natureza deixaria de ser cenário para vir a ser parceira (Marinho, 1999b).

A adaptação das práticas no âmbito do lazer engloba, na verdade, uma grande variedade de “problemas” ou “questões”, alguns próprios do lazer, alguns próprios do campo ambiental, e outros que surgem na interface entre esses dois campos (Rodrigues, 2012, p.19). Segundo o autor, essa análise é importante para compreender como o processo contribuirá continuamente na composição do ambiental.    

Marinho (1999b) afirma que alguns estudiosos acreditam na reconciliação harmoniosa entre a prática esportiva e a natureza, e aponta para a necessidade de serem inseridas alternativas que minimizem os impactos ocasionados por estas atividades no meio ambiente. Conforme a autora, o ser humano retorna à natureza a partir de uma ruptura causada por ele mesmo, ao reconhecer que a sua condição no mundo depende essencialmente da forma harmônica como interage com a natureza, fazendo da mesma sua grande parceira nessa relação.

 A autora evidencia que a 

simples ação de praticar atividades físicas na natureza não gera por si só uma sensibilização do homem para com o meio natural, pois esta depende do tratamento educativo que o indivíduo ou o grupo recebe quando inicia a atividade. Assim como de suas atitudes e comportamentos (Marinho, 1999b, p. 70).

 Nessa relação, a escolha pelos esportes praticados em contato com a natureza pode ser manifestada pela vontade de reconciliação com a mesma, ao visar, nessa relação, encontrar determinados valores perdidos ou até mesmo, esquecidos, por exemplo, o prazer (Marinho, 1999a). A autora afirma que a natureza é parceira e não adversária para que essa reconciliação se concretiza.

 A procura pela atividade física de aventura na natureza seja ela em ambientes de caverna ou não, não significa que o enfoque dado à questão da preservação ambiental esteja crescendo de maneira totalmente apropriada. A questão da preservação ambiental não é comumente mencionada, havendo uma pura e simples utilização do ambiente natural, que, se não é predatória, tampouco é de precaução quanto aos problemas ambientais (Cavalcanti; Dantas,1999). Nesse sentido, será importante a adoção de posturas que promovam a respeitabilidade das características ambientais durante a prática de atividade física de aventura em contato com a natureza. 

Nesse sentido é importante pensar uma relação harmoniosa com a natureza, uma relação fundamentada na ecologia profunda, termo proposto por Capra (1996, p. 25) afirma que a ecologia profunda pode ser entendida como as inter-relações ocorridas entre os sujeitos e o meio. É aceito “[…] o valor intrínseco de todos os seres vivos e estabelece-se que o ser humano é parte integrante dessa totalidade, sem valorizá-lo parcialmente”.

A complexidade da temática ambiental exige um olhar mais cuidadoso no que se refere à reflexão sobre as práticas educacionais voltadas para o lazer e às atividades físicas de aventura na natureza, independentemente dos ambientes em que elas sejam inseridas. Nesse sentido, essa análise será importante, não somente para compreender a influência dos atores sociais inseridos no processo, mas também, as diversas maneiras em que esse processo vem contribuindo para a dinâmica da prática de forma consciente, capazes de proporcionar um caminho de informações e conscientização acerca das diversas temáticas que compõem a relação ser humano e natureza. 

 A construção de novos cenários voltados para as relações socioambientais, será importante para compreender a análise dos contextos de sustentação das práticas em ambientes de caverna. Esta ação possibilita a reflexão sobre a importância do ambiente como um todo, buscando explorar a dimensão do processo de construção de uma teia por meio das relações socioambientais, vivenciadas no âmbito do lazer, isso permite compreender a sua complexidade e importância para a vida, como um marco de uma visão ecossistêmica (Capra, 1996).

Ao refletir sobre a relação socioambiental, o conceito coloca ao mesmo tempo, a preocupação acerca das sensibilidades ecológicas como natureza, a perspectiva da sociedade humana e o papel da própria sociedade na manutenção dos ecossistemas, que, nessa dinâmica, tem como meta as possibilidades de um presente e um futuro seguro. 

 O entendimento da nova percepção da realidade que trabalha com a interdependência dos fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, culturais, econômicos e políticoinstitucionais, faz com que o mundo seja visto pela concepção sistêmica, em termos de relações e de integração. Para Capra (1982, p. 260): 

Os sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às de unidades menores. Em vez de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas, a abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização. Os exemplos de sistemas são abundantes na natureza. Todo e qualquer organismo – desde a menor bactéria até os seres humanos, passando pela enorme variedade de plantas e animais – é uma totalidade integrada e, portanto, um sistema vivo […] Mas os sistemas não estão limitados aos organismos individuais e suas partes. Os mesmos aspectos de totalidade são exibidos por sistemas sociais. […] e por ecossistemas que consistem numa variedade de organismos e matéria inanimada em interação mútua. O que se preserva numa região selvagem não são árvores ou organismos individuais, mas a teia complexa de relações entre eles. Todos esses sistemas naturais são totalidades cujas estruturas específicas resultam das interações e interdependência de suas partes. A atividade dos sistemas envolve um processo conhecido como transação – a interação simultânea e mutuamente independente entre componentes múltiplos. […] Embora possamos discernir partes individuais em qualquer sistema, a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes.

 Capra (1982, 1996) destaca que os sistemas conferem uma natureza intrinsecamente dinâmica de estruturas flexíveis e estáveis. O autor afirma que os problemas precisam ser vistos, exatamente, como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, a crise de percepções. Capra (1996) pontua a importância de o ser humano se conscientizar em relação à maneira como trata o mundo em que vive e que compartilha com outros seres vivos. Reconhecer que é primordial uma profunda mudança de percepção e de pensamento para assegurar a nossa sobrevivência.

Modificações que contemplem a mudança de atitude, mentalidade e comportamento são essenciais para o futuro da espécie humana. Estamos no limite de uma situação em que o consumismo e os valores materialistas exercem forte pressão sobre os recursos naturais e as matérias primas. Estes são transformados em bens de consumo e, posteriormente, descartados como lixo ou resíduos (Ribeiro, 2009). 

Capra (1996, p.24) afirma que precisamos compreender os pressupostos de organização das comunidades ecológicas e utilizá-las na construção de comunidades

sustentáveis. Ambas apresentam os mesmos princípios básicos de organização, “[…] nos quais devemos satisfazer nossos desejos e necessidades sem diminuir as possibilidades destas realizações para as gerações futuras”. Para realizar esta tarefa, devemos conhecer os princípios de organização das comunidades ecológicas e usar esses princípios para nos transformarmos em comunidades humanas sustentáveis (Capra, 1996, p.24).

Nessa perspectiva, torna-se necessário enfatizar a importância do comprometimento dos seres humanos no que concerne às condutas constituintes na relação com a natureza, no que diz respeito à necessidade de manter um equilíbrio harmônico e saudável com o meio natural, em todos os aspectos em que esta relação se concretiza (Tahara; Dias; Schwartz, 2006). O ser humano necessita assimilar o respeito à preservação de outras formas de vida, as quais colaboram para o equilíbrio dos ecossistemas. 

 Roiek e Rupolo (2001) fazem considerações importantes para a compreensão da relação socioambiental. As autoras pontuam que a socialização, possivelmente, é iniciada quando os humanos deixam de ser nômades e passam a viver em grupos e comunidades. As relações se ampliam e surge a partilha de habilidades, alimentos e vestuários. Diferentemente dos demais seres vivos e mesmo das espécies mais próximas, o ser humano busca algo além da sobrevivência. Por sua habilidade de pensar, de lembrar-se do passado, de conceber o futuro, diferencia-se de outras espécies e se preocupa com as indagações sobre si mesmo, criando culturas.

Ademais, tudo está interligado. Em conformidade com Capra (1982), não basta apontarem-se as saídas para determinados problemas, deve-se perceber a conexão e a interligação de tudo e conduzir respostas de forma interconectada. É preciso desenvolver a consciência solidária quando se deseja sobreviver, como espécie verdadeiramente humana.  A preocupação com a sobrevivência passou a ser um problema que afeta o futuro do planeta. A ecologia mostrou-se um tema de debate e de importância de diversas ciências, no que refere ao futuro do planeta.

 A problemática ecossistêmica, mais do que uma crise ambiental, é um questionamento ao modo de organizar o pensamento. Capra (1996) chama a atenção para o surgimento de uma nova percepção da realidade em que estamos vivendo. Esta crise de percepção trata-se de um conflito que passa da ciência e da sociedade e aponta soluções, as quais precisam estar atreladas a uma profunda mudança radical na percepção, no pensamento e nos valores, em uma dimensão política, cultural, social e científica. 

Conforme ilustra Capra (1996) vivemos uma da crise de percepção. O autor mostra um novo paradigma que aponta para uma visão de mundo holística, a qual concebe o mundo como um todo integrado. O autor apresenta um novo paradigma que define e diferencia ecologia rasa da ecologia profunda. 

 A ecologia rasa está centrada na compreensão do ser humano, situado acima ou fora da natureza, e possui apenas um valor instrumental, de uso. Já a ecologia profunda é tratada sob o ponto de vista holístico, que concebe o mundo como um todo interligado e não como uma coleção de partes dissociadas. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos, considera o ser humano apenas como um fio particular na teia da vida. Destaca também que a percepção da ecologia profunda é espiritual ou religiosa, entendida como modo de consciência, na qual o ser humano tem a sensação de pertinência, de complexidade com o cosmos e com o todo (Capra,1996).

Nesse contexto, Capra (1996) propõe a criação de comunidades sustentáveis, isto é, ambientes socioculturais em que se pode atender as nossas necessidade e anseios, sem reduzir as oportunidades das gerações futuras. Para a construção de comunidades sustentáveis é necessário que o ser humano tenha como meta se aproximar de uma atitude ecológica adequada, que promova uma descoberta do mesmo como parte integrante da natureza e aprenda a conviver de forma harmoniosa consigo mesmo, com os outros e com todo o universo. 

Não há como refletir educação ambiental sem pensar em ecologia humana, refletida em valores tais como: solidariedade, respeito, responsabilidade individual e coletiva, participação, comprometimento entre outros (Roiek ; Rupolo, 2001). As autoras afirmam que, 

a ecologia humana precisa ser trabalhada no processo da educação, pois perpassa as formas de cuidado à vida em suas diversas expressões e interações. Como a educação ambiental, a ecologia humana deve ser desenvolvida com um enfoque holístico e ético, respeitando a pluralidade e a diversidade cultural (Roiek; Rupolo, 2001, p.150).

Podemos afirmar que apenas o contato com o ambiente não é uma condição para atender às necessidades humanas de apropriação dos conhecimentos imprescindíveis para o entendimento da práxis da educação ambiental, mas vislumbro que, no futuro, as pessoas apreenderá tudo a sua volta, de forma a reconhecer as interligações presentes e se colocarem como parte fundamental do mundo, abandonando, assim, a posição de dominador desse ecossistema. O pensamento ecológico deve ser encarado como qualquer expressão ou atitude que siga essa linha de raciocínio. A adoção total dessa forma de percepção acabará se transformando em uma nova ética, em novos valores, que conduzirão nossas ações e decisões.  Partindo dessa leitura, compreendemos que é importante que as pessoas tenham a alfabetização ecológica. Segundo Capra (1996), a alfabetização ecológica consiste em aprender lições importantes resultantes da análise de ecossistemas.  O objetivo é a sua reconexão com a teia da vida, o que significa criar, nutrir e educar comunidades sustentáveis. Assim, poderemos alcançar a satisfação de nossas necessidades e anseios, levando em consideração as chances das futuras gerações. Para esse aprendizado o autor enfoca os princípios básicos da ecologia, dizendo que precisamos nos tornar ecologicamente alfabetizados.

 Capra (2015) define como novo design ecológico da natureza a interdependência, que consiste em um conjunto de sistemas que mantêm a vida há bilhões de anos. Dentro desse novo “[…] design ecológico nenhum organismo existe isoladamente. Cooperação e interdependência são fundamentos dos ciclos de estabilidade e sustentabilidade da natureza, um modelo que poderia ser imitado pela humanidade” (Capra, 2015, p.1). 

 É oportuno intensificar debates sobre a interface referente ao ser humano e meio ambiente por meio de vivência de práticas corporais no ambiente natural. Este é um palco que oferece aos praticantes de atividades de aventuras, ricas possibilidades para assumirem-se como atores sociais ativos, em uma relação que promova uma educação ambiental preocupada com o surgimento de sujeitos ecológicos. Nessa perspectiva que haja uma educação que compreenda a interface ser humano e meio ambiente, ou em qualquer outra esfera social, capaz de produzir e/ou readquirir um ideário ecológico preocupado com uma teia de conexões dinâmicas entre ser humano e meio ambiente, seres vivos e não vivos, podendo ser vivenciada no âmbito do lazer em ambiente de caverna, por exemplo. A caverna se constitui em uma das estratégias necessárias para concretizar o envolvimento das relações socioambientais junto aos espeleólogos e condutores de áreas de proteção ambiental (APA)[1], em ações sociais capazes de promover uma relação harmoniosa com o meio ambiente.

 Neste sentido, dentre as inúmeras possibilidades da prática de atividade física de aventura na natureza, situar acerca da temática a relação ser humano e natureza, por meio das vivências de lazer e atividade física de aventura na caverna, vivências práticas em íntimo contato com a natureza, as quais podem interferir nos níveis qualitativos da existência humana. O objetivo principal desse estudo analisar se as práticas espeleológicas configuramse como potencialidades para a educação ambiental.  

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi descritivo e de abordagem qualitativa combinando pesquisa bibliográfica e de campo (Thomas; Nelson; Silverman, 2007). A seleção da amostra foi realizada de forma intencional, com base em critérios de representatividade e acessibilidade (Bruyne et al., 1977). A amostra foi composta por 30 indivíduos participantes de dois grupos: o Espeleogrupo Peter Lund (EPL), com sede em Montes Claros, Minas Gerais, e a Associação de Agentes Ambientais do Vale do Peruaçu (AAAVP), com sede em Itacarambi, Minas Gerais, sendo cada grupo constituído por 15 indivíduos.

A coleta de dados foi realizada mediante a autorização dos entrevistados, formalizada por meio de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A identidade dos participantes foi mantida em sigilo, e foram conduzidas observações participantes e entrevistas semiestruturadas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília, sob o registro nº CAAE N. 50067415.2.0000.0029.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, processados no IRAMUTEQ e submetidos à análise de similitude. O conteúdo resultante das transcrições das entrevistas foi submetido a uma análise de dados textuais utilizando o software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), reconhecido por seu grande poder de análise lexical (Camargo; Justo, 2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise de similitude confirma as características de centralidade da educação ambiental. O primeiro deles é centralizado pela educação ambiental. Os elementos relacionados à educação ambiental oferecem concretude à possibilidade da educação ambiental na prática do caving. O núcleo central educação ambiental apresenta interligação na formação de vários outros vocábulos, conforme mostra a figura 1.

Figura 1 – Análise da similitude entre as palavras de formação se as práticas espeleológicas configuram-se como potencialidades para o aprendizado da educação ambiental.

 Ao analisar os vocábulos conectados ao núcleo central educação ambiental, eles se apresentam como qualidades da educação ambiental, conforme apresentam os depoimentos dos sujeitos 11, 12, e 19.

No momento que você tem a relação com a caverna através do caving ou da espeleologia, você se sente mais próximo, parte desse meio. É importante trabalhar essas potencialidades de aprendizagem. Ir ao encontro do conhecimento sobre a caverna é diferente. Mesmo sendo diferente, o fato de você estar na caverna presenciando, sentindo, fazendo parte daquele convívio o seu grau de aprendizagem através do Caving promove uma formação educacional de uma forma mais simples e mais sensível (sujeito 11) (grifo nosso).  

A espeleologia é uma educação ambiental, […] eu posso potencializar a educação ambiental em grupos pedagógicos em visita a caverna. Existe hoje um avanço em estudo em práticas pedagógicas em cavernas para crianças e para pessoas especiais. […]. A educação ambiental faz parte do processo da espeleologia. Não existe espeleologia sem educação ambiental (sujeito 12) (grifo nosso). 

Durante a prática do caving alguns princípios do ecoturismo são aplicados. Dentre eles, a sustentabilidade, conservação e interpretação ambiental. Quando realiza essa atividade, antes da saída a campo abordamos condutas e procedimentos do visitante, ajuda na percepção do ambiente. A prática do caving promove a sensibilização, isso é importante (sujeito 19) (grifo nosso). 

 Os depoimentos destacam que a relação com a caverna por meio do caving promove uma interação com o meio ambiente, evidência que a espeleologia é uma forma de educação ambiental, afirmando ser a educação ambiental um processo da espeleologia. Segundo os depoimentos, o caving se apoia nos princípios do ecoturismo destacando a sustentabilidade, conservação e interpretação ambiental. Segundo os relatos não existem espeleologia sem a educação ambiental.

A busca por um reencontro com o meio natural é muito importante e significativo, até mesmo para nos conscientizar da necessidade de buscar alternativas para uma convivência harmoniosa. Portanto, precisa-se pensar sobre que tipo de atividade se está buscando na caverna, e como serão estabelecidas as relações entre os praticantes e o meio onde elas serão realizadas. É preciso sensibilizar o praticante do caving quanto à importância da educação ambiental como meio de mudanças para práticas mais sustentáveis. Deve-se utilizar a educação ambiental fundamentada na conservação e utilização racional dos recursos naturais que favoreçam a geoconservação do ambiente cavernícola.  

Para uma melhor compreensão da educação ambiental na caverna, é preciso entender a relação ser humano e natureza. Inácio; Moraes; Silveira (2013) fazem considerações importantes de que o próprio corpo e todos os lugares e espaços nos quais estão inseridos também são meio ambiente.  A preservação destes, o respeito com o próximo, a cooperação, a dignidade, a compreensão consigo e com o próximo, são partes de um processo que pode resultar em maior respeito à natureza e ao meio ambiente: 

Para que possamos nos entender como natureza e cumprir nosso papel social de formadores críticos, contribuindo para a conscientização e emancipação de nossos educandos, precisamos de uma formação inicial e continuada de qualidade, ampliadora de nossos horizontes, para que entendamos que não ‘temos’ um corpo, mas ‘somos’ um corpo; precisamos compreender que a natureza não está apenas no meio exterior e podemos fazer o que quisermos com ela: somos natureza e sem a água, o ar, a terra, a cooperação, o respeito, a paz, a dignidade, os mantimentos, a luz, dentre outros, não existimos, afinal nosso corpo é a junção de todos estes (INÁCIO; MORAES; SILVEIRA, 2013, p. 21).

 Inácio (1997), já destacava para a necessidade urgente de um diálogo transdisciplinar com o intuito de se promover a tão desejada educação ambiental, em uma tentativa de reconhecimento gradativo do meio ambiente natural. Naquela época o autor, já inferia que as atividades de aventura poderiam constituir um meio para a promoção da educação ambiental.  Sabemos que apenas o contato com o ambiente cavernícola não é uma condição para atender às necessidades humanas de apropriação dos conhecimentos indispensáveis para o entendimento da práxis da educação ambiental. Com base nas entrevistas dos sujeitos desse estudo, enxergo que no futuro as pessoas apreenderão tudo a sua volta, de forma a conhecer as interligações presentes e se colocarão como parte fundamental do mundo, abandonando, assim, a posição de dominador desse ecossistema. O pensamento ecológico deverá ser encarado como qualquer expressão ou atitude, que promova uma nova ética, com novos valores que conduzirão nossas ações e decisões.

 É importante compreender que as pessoas precisam ter uma alfabetização ecológica, que consiste em aprender lições importantes resultantes da análise de ecossistemas.  O objetivo é a sua reconexão com a teia da vida, o que significa criar, nutrir e educar comunidades sustentáveis. Assim, poderemos alcançar a satisfação de nossas necessidades e anseios, levando em consideração as chances das futuras gerações. Para esse aprendizado o autor enfoca os princípios básicos da ecologia, dizendo que precisamos nos tornar ecologicamente alfabetizados (Capra, 1996).

 Capra (2015) define como novo design ecológico da natureza a interdependência, que consiste em um conjunto de sistemas que mantêm a vida há bilhões de anos. Dentro desse novo “[…] design ecológico nenhum organismo existe isoladamente. Cooperação e interdependência são fundamentos dos ciclos de estabilidade e sustentabilidade da natureza,

um modelo que poderia ser imitado pela humanidade” (Capra, 2015, p.1).

 Por fim, é importante salientar que o condutor, espeleólogo ou o visitante tenha consciência de que é sujeito da história. A educação ambiental precisa ser coerente com a visão da ecologia humana e ecologia profunda. Deve ser incentivadora do aprender fazendo, do fazer interativo, do fazer e pensar coletivamente com o outro, seja ele praticante da atividade física de aventura na natureza por meio da prática do caving ou em outras atividades vivenciada na natureza.  

 Alguns depoimentos mostram os vocábulos circunjacentes ao núcleo caverna e ao núcleo prático conforme os sujeitos 04, 05, 10,13, 15, 16 e 17. Os sujeitos 04 e 05 fazem referência à importância da interpretação ambiental no processo de sensibilização e preservação como etapa fundamental para se atingir a educação ambiental na relação ser humano/caverna, por meio de experiências na prática do caving.

A interpretação ambiental da caverna se dá através do entendimento dos processos que a formam, os elementos bióticos e abióticos que a compõem, como se relacionam com o ambiente externo em que vivemos, e a importância dessa relação. No momento que entendemos a caverna como um ecossistema que interage com o meio externo e que indiretamente fazemos parte dessa interação. A sensibilização é uma etapa fundamental para se atingir a educação ambiental e mostrar a importância, através da sensibilização para preservar. (sujeito 04) (grifo nosso)

Todo contato direto com a natureza é uma forma de aprendizado ambiental, de sensibilização pelo contato direto promovendo a reflexão e o aprendizado […]. A atividade normalmente é praticada de forma voluntária e com troca de conhecimentos e experiências entre os participantes, proporcionando emoção ou conhecimento, maximizando o aprendizado e crescimento pessoal […]. (sujeito 05) (grifo nosso)

 Todas essas ligações observadas, na análise de similitude, nos levam a pensar sobre a importância da interpretação ambiental. Neste contexto, a interpretação ambiental favorece o conhecimento e a contemplação da natureza e procura promover o sentimento de pertença à natureza, por meio da transformação íntima em relação aos recursos naturais, da compreensão e do entendimento, na esperança de gerar interesse, consideração e respeito pela natureza e, consequentemente, pela vida (Pagani et al., 1996)

 A interpretação e educação ambiental devem estar apoiadas em estratégias diferenciadas de informação e comunicação eficientes para atingir os objetivos do que se quer transmitir. A interpretação ambiental pode ser entendida como:

A arte de explicar o significado de determinado recurso, nesse caso, atrativo turístico. Trata-se de proporcionar o entendimento do ambiente natural, despertar a atenção e o interesse do visitante em relação à natureza e à cultura, esclarecendo dados, fatos e correlações que normalmente não são claros ao simples olhar. […] A interpretação serve ao propósito de sensibilizar e conscientizar em relação às questões ambientais […]. […] A interpretação serve ao propósito de sensibilizar e conscientizar em relação às questões ambientais, fato que a torna uma estratégia de educação ambiental e uma forma adequada de comunicação do conhecimento da natureza e da cultura (BRASIL, 2008, p.27).

 Capra (1996) afirma que vivemos uma crise de percepção. O autor mostra um novo paradigma que aponta para uma visão de mundo holística, a qual concebe o mundo como um todo integrado. Nesse sentido é importante resgatar o papel da educação ambiental na redefinição de nossa afetividade com a natureza. Uma educação que possa ser permeada pela emoção, fazendo com que as pessoas vivenciem experiências, sejam elas por meio do caving ou não, e se tornem cidadãos responsáveis com a sustentabilidade da vida. No caving, tanto a emoção quanto os processos cognitivos têm a função talvez de gerar uma relação que promova uma educação pautada na ética e no respeito. O objetivo é que se tenha uma relação reflexiva consigo mesmo, com os outros e com o mundo. 

 Os relatos a seguir fazem referência à caverna como um lugar para o desenvolvimento da educação ambiental. O contato direto com a caverna, por meio da prática do caving, promove experiência sensorial diferenciada, amplia a percepção do ser humano e cria laços afetivos com a natureza.

Toda atividade em que você tem contato direto com a natureza, você passa a amar. Você amaaquilo que você conhece.[…]. É uma experiência sensorial marcante. A falta de luz e o silêncio contribuem para que você tenha uma experiência. Essa experiência diferenciada nos põe em contato direto com a natureza e aguça com a percepção quando você está praticando a espeleologia. (sujeito 13) (grifo nosso)

 Munster (2004) afirma que a natureza é um ambiente rico em estímulos sensoriais que desperta sensações e emoções. Ela assegura que os esportes na natureza promovem benefícios ao corpo como: motor; melhor preparo físico; maior resistência, capacidade de equilíbrio; diminuição da ansiedade; melhor autocontrole, autoconfiança, auto-segurança, conquista da autonomia; mudanças internas significativas (no sentir, no perceber, no pensar); aproximação com o meio natural e a oportunidade de refletir sobre a preservação da natureza.

Ao considerar a importância da educação ambiental durante a prática do caving é necessário uma análise das práticas de atividades junto à natureza e à preservação do meio ambiente, atendendo à articulação para um desenvolvimento sustentável harmonioso e equilibrado. Nesse sentido, a educação ambiental passa a ser fundamental para uma conduta consciente. Ações conjuntas poderão contribuir para a concepção de novos paradigmas de uma educação reflexiva, com o intuito de formar praticantes conscientes, afetuosos e críticos. Somente assim a natureza deixaria de ser cenário para vir a ser parceira (Marinho, 1999b).  De acordo com Marinho (1999a), nessa relação a escolha pelos esportes praticados em contato com a natureza pode ser manifestada pela vontade de reconciliação com a mesma ao visar, nessa relação, encontrar determinados valores perdidos ou até mesmo esquecidos, por exemplo, o prazer. A autora afirma que a natureza é parceira e não adversária para que essa reconciliação se concretize.

Não há como refletir educação ambiental sem pensar em ecologia humana, refletida em valores tais como solidariedade, respeito, responsabilidade individual e coletiva, participação, comprometimento, entre outros. As autoras afirmam que, 

a ecologia humana precisa ser trabalhada no processo da educação, pois perpassa as formas de cuidado à vida em suas diversas expressões e interações. Como a educação ambiental, a ecologia humana deve ser desenvolvida com um enfoque holístico e ético, respeitando a pluralidade e a diversidade cultural (Roiek; Rupolo, 2001, p.150).

Para Machado (2008), a compreensão acerca do meio ambiente assegura que a capacidade de perceber, conhecer, representar, pensar e se comunicar permite ao ser humano moldar os lugares e as paisagens. Suas respostas ambientais são, então, influenciadas pelas interpretações que os sentidos corporais são capazes de fazer a partir de suas experiências perceptivas atuais e passadas, de suas perspectivas, finalidades, anseios, desejos e prioridades. 

Os depoimentos dos sujeitos 16 e 17 fazem referência às experiências vivenciadas no caving ese revelam possibilidade para a prática da educação. Os vocábulos educação, sensibilização, experimentação, amor, cultural, ecossistema, ser humano, evolução humana, representação social e lugar, associados aos núcleos caverna surgem como importantes conexões.

Existe uma frase que eu gosto muito quando se trata da educação ambiental e a sensibilização. Que nós só amamos o que conhecemos. A caverna tem essa possibilidade. Quando você realiza uma atividade na Caverna, você desperta essa expectativa de que as pessoas conheçam realmente esse ambiente, as suas especificidades, as suas características, a sua relevância e a cultura. A caverna da região retrata essa história social e cultural de algumas regiões, suas características são importantes, ambientes sensíveis. Quando você tem o desejo de colocar as pessoas em contato direto com a caverna, você pode promover a prática da educação ambiental, a começar com a sensibilização sobre a importância do meio ambiente da sua geoconservação, da sua geoconservação de diversidade e complexo ecossistema em geral destacando a importância, e mostra a importância da experimentação da prática. (sujeito 16) (grifo nosso)

[…]  se o ser humano tivesse começado a estudar a evolução humana dentro das cavernas que o ser humano estaria há mais de cem anos adiantados com relação a isso. Basicamente, no momento em que você tem essa perspectiva de ter esse conhecimento relacionado com o ser humano, com a sua evolução humana, é claro, como esse ser humano que atuou na natureza, como ele conseguiu modificar, você tem a probabilidade de estudar a parte física da terra. Não tem outro lugar melhor para você fazer isso para entender a evolução humana, como a caverna, lugar de representação social. (sujeito 17) (grifo nosso)

 Em síntese, as cavernas são ambientes diferentes na superfície terrestre com características próprias como a ausência de luz, a restrição espacial e a restrita circulação de energia (Ford; Williams, 2007). No entanto, estas diferenças asseguram relações diversificadas com os seres humanos, como o retorno ao primitivo (Cervantes, 2011), à religiosidade (Travassos et al.,2009; Lino, 1989; Gambarini, 2012), o aprendizado (Neiman; Rabinovici, 2008), à apreciação estética (Lino, 1989; Figueiredo, 2009; Gambarini, 2012) e à sensação de aventura (Marinho; Schwartz, 2001; Mendes, 2011).

 Os relatos dos sujeitos participantes deste estudo mostram que a educação ambiental, por meio da prática de caving, na caverna pode ser experimentada enquanto atividade prática que promove a sensibilização, conhecimento, em um ambiente que aguça a percepção, por meio dos sentidos corporais na relação do ser humano com a natureza. Também ficou evidente a importância da interpretação ambiental como uma forma do ser humano se relacionar com a natureza.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Os resultados encontrados mostraram que a prática espeleológica como potencialidade para o aprendizado da educação ambiental revelou que o caving oferece possibilidades para a vivência da educação ambiental. Ficou evidente que a espeleologia é uma forma de educação ambiental fundamentada nos princípios do ecoturismo como a sustentabilidade, a conservação e a interpretação ambiental.

 É importante ressaltar que apenas o contato com o ambiente cavernícola não é uma condição para atender às necessidades humanas de apropriação dos conhecimentos indispensáveis para o entendimento da práxis da educação ambiental. No futuro espera-se que as pessoas apreendam tudo à sua volta, de forma a conhecer as interligações presentes e se colocarem como parte principal do mundo, abandonando, assim, a posição de dominador desse ecossistema.  

 É fundamental resgatar o papel da educação ambiental na redefinição de nossa relação afetiva com a natureza. Uma educação que incorpore a emoção, promovendo vivências que possibilitem a formação de cidadãos comprometidos com a sustentabilidade. No contexto do caving, tanto a emoção quanto os processos cognitivos desempenham um papel crucial na construção de uma relação que favoreça uma educação baseada na ética e no respeito, através de uma interação reflexiva consigo mesmo, com os outros e com o ambiente.

 Sendo assim, ficou evidente que a educação ambiental, por meio do espeleoturismo, pode ser vivenciada como uma atividade física que promove a sensibilização e o conhecimento em um ambiente que estimula a percepção por meio dos sentidos corporais. Ademais, foi revelada a importância da interpretação ambiental como uma forma de o ser humano interagir com a natureza.

REFERÊNCIAS

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[1] As Áreas de Proteção Ambiental (APAs) pertencem ao grupo de unidades de conservação de uso sustentável. São áreas em geral extensas, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Disponível: < http://www.ief.mg.gov.br/component/content/article/117>. Acesso: 27 de abril de 2024.


1 Doutora em Educação Física, pela Universidade Católica de Brasília-UCB/DF, atuação em Esporte, Atividade, Lazer, Turismo e Meio Ambiente. Professora Instituto de Ciências Agrárias (ICA) Instituto de Ciências Agrárias (ICA) – UFMG – Campus Regional de Montes Claros Avenida Universitária, 1.000 – Bairro Universitário, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. E-mail: mteixeiramendes@yahoo.com.br/mteixeira@ufmg.br Telefone: (38)998293034

2 Mestranda em Alimentos e Saúde, pela Universidade Federal de Minas/Instituto de Ciências Agrárias-UFMG/ICA. Bacharel em Educação Física.E-mail: michelaalves@yahoo.com.br

3 Mestranda em Ciências da Saúde , pela Universidade Estadual de Montes Claros(Unimontes). Bacharel  em farmácia pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). E-mail: brunakaicy@outlook.com

4 Doutora em Parasitologia, pela Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas, ICB/UFMG. E-mail: andreialocosta@hotmail.com;

5 Bacharel em Médicina pela Universidade Estadual de Montes Claros-Unimontes/MG. E-mail: ceciliarm.medeiros@gmail.com

6 Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes/MG.E-mail: medeiros.veralu@gmail.com

7 Doutora em Engenharia Agrícola, pela Universidade Federal de Viçosa, atuação na área de Construções rurais e ambiência. Professora Instituto de Ciências Agrárias (ICA) – UFMG – Campus Regional de Montes Claros E-mail: imenegali@yahoo.com.br /imenegali@ufmg.br

8 Doutora em Engenharia Florestal, pela Universidade Federal de Lavras, atuação na área deEcologia Florestal. Professora do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) – UFMG – Campus Regional de Montes Claros. E-mail: doraengflor@gmail.com.br /doraengflor@ica.ufmg.br