CASTRAÇÃO EM PEQUENOS ANIMAIS: O PAPEL DA GRADE DE EXTENSÃO  NO COMBATE AO MEDO DAS CIRURGIAS 

CASTRATION IN SMALL ANIMALS: THE ROLE OF THE EXTENSION GRID IN  COMBATING FEAR OF SURGERY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8360439


Amanda Cristina Pontes de Moraes1 
Juliana Bueno Menino1 
Denise de Fátima Rodrigues2 


Resumo 

Eventos de extensão universitária desempenham um papel eficaz na comunicação de conhecimento,  alinhando-se às diretrizes curriculares que preconizam abordagens ativas e interdisciplinares na  formação de estudantes de Medicina Veterinária. Essa integração à grade curricular é fundamental para  enriquecer a formação acadêmica, proporcionando oportunidades práticas e conexões com a sociedade.  Os alunos têm a chance de aplicar seus conhecimentos teóricos na prática, aprimorando tanto suas  habilidades técnicas quanto interpessoais, enquanto fortalecem seus valores éticos e morais. Neste  estudo, o objetivo primordial foi investigar as razões pelas quais os estudantes de Medicina Veterinária  experimentam inquietações no que diz respeito à realização de procedimentos cirúrgicos de castração  em pequenos animais, especialmente durante a fase final de sua graduação. Buscou-se compreender a  perspectiva dos discentes em relação a esses procedimentos cirúrgicos de esterilização em animais de  pequeno porte, destacando seus medos e preocupações. Utilizando uma abordagem de revisão  bibliográfica, a pesquisa procurou esclarecer essas questões. Os resultados desta análise indicam  claramente a importância de os estudantes do curso de Medicina Veterinária se envolverem ativamente  em eventos de extensão, a fim de adquirirem mais experiência prática e confiança em relação à clínica  cirúrgica. Isso não apenas complementa sua formação acadêmica, mas também contribui para que se  tornem profissionais mais seguros e capacitados.  

Palavras-chave: Esterilização. Extensão. Cirúrgica. Anseio. 

1 INTRODUÇÃO 

Os eventos de extensão universitária são uma eficiente ferramenta de comunicação do  conhecimento, em conformidade com as diretrizes curriculares do curso, que priorizam abordagens de ensino ativas, baseadas em práticas interdisciplinares e transdisciplinares. Dessa  forma, esses eventos assumem um compromisso maior com a transformação da escola médica  veterinária, integrando-se à rotina diária de professores, estudantes, funcionários e usuários dos  serviços veterinários (ARAÚJO et al., 2019). 

A inclusão da extensão universitária na grade curricular dos cursos de graduação, como  é o caso da Medicina Veterinária, é de extrema importância para a formação profissional dos  estudantes. Essa abordagem permite que os alunos tenham uma experiência direta com as  necessidades da sociedade e desenvolvam habilidades técnicas e sociais, ao mesmo tempo que  promove a integração entre a universidade e a comunidade (JUNIOR et al., 2020). 

Através da integração da extensão à grade curricular, os alunos têm a oportunidade de  aplicar na prática os conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula, ganhando confiança  na resolução de problemas reais e fortalecendo a formação de valores éticos e morais,  fundamentais para o exercício da profissão (MELO et al., 2023). 

Nesse contexto, o presente estudo tem como foco principal compreender por que os  estudantes de Medicina Veterinária enfrentam apreensões durante a execução de procedimentos  cirúrgicos, especialmente na reta final de sua formação. O objetivo central desta pesquisa é  analisar a perspectiva dos discentes em relação a esses procedimentos cirúrgicos de  esterilização em animais de pequeno porte, dando ênfase aos receios e preocupações que  enfrentam. 

Para abordar essa questão, realizou-se uma revisão bibliográfica abrangente,  consultando bases de dados amplamente disponíveis na internet, como o Google Acadêmico e  o Scielo. Foram utilizadas palavras-chave relevantes, como “castração”, “esterilização”,  “pequenos animais”, “extensão”, “prática” e “cirúrgica”. 

Desta forma, os resultados desta análise indicam claramente a importância de os  estudantes do curso de Medicina Veterinária se envolverem ativamente em eventos de extensão,  a fim de adquirirem mais experiência prática e confiança em relação à clínica cirúrgica. Isso  não apenas complementa sua formação acadêmica, mas também contribui para que se tornem  profissionais mais seguros e capacitados.  

2 O ENSINO SUPERIOR 

A educação superior no mundo atual está atravessando um período de intensas  mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais que afetam as diferentes sociedades contemporâneas em ritmos e maneiras diversas. Essas mudanças são impulsionadas pelo  fenômeno da globalização, cujos efeitos têm se tornado cada vez mais evidentes nas últimas  décadas do século passado (TÉBAR, 2023). 

Com a globalização, houve uma transformação na organização geográfica do Ensino  Superior, que agora ultrapassa as fronteiras nacionais. Além dos sistemas nacionais de Ensino  Superior que se desenvolveram em seus próprios contextos históricos, ao longo das últimas  décadas, gradualmente, surgiu um novo espaço de atuação: o Ensino Superior transnacional  (MARTINS, 2021). 

Em outro aspecto, as mudanças na cultura acadêmica das universidades, à medida que  várias ideias têm procurado associar essa instituição à produtividade econômica, destacando os  conceitos de “sociedade do conhecimento” e “nova gestão pública” (NPM). O foco é ressaltar  a ligação entre a universidade e a eficiência econômica, valorizando o papel da produção de  conhecimento nesse contexto (BERTOLIN, 2021). 

O ensino superior é uma etapa crucial da educação formal, que vai além do ensino básico  e abrange uma ampla gama de cursos e disciplinas acadêmicas. Ele representa uma fase de  aprofundamento do conhecimento e preparação para o mercado de trabalho em níveis mais  avançados, como especialização, mestrado e doutorado. O ensino superior é um marco na vida  de muitos jovens, pois representa um passo importante em direção à independência e à  maturidade intelectual (FERREIRA, 2023). 

As instituições de ensino superior oferecem cursos variados, desde ciências exatas e  humanas até engenharia, artes, ciências sociais e tecnologia. Essa diversidade permite que os  estudantes escolham carreiras que se alinhem melhor com seus interesses e habilidades, criando  uma sociedade com profissionais altamente capacitados em diferentes áreas do conhecimento  (FERREIRA, 2023). 

Uma das principais funções do ensino superior é fornecer uma base sólida de  conhecimento e habilidades para os estudantes, capacitando-os para serem profissionais  competentes e éticos. Além disso, o ambiente acadêmico incentiva a pesquisa, a inovação e o  pensamento crítico, permitindo que os alunos desenvolvam soluções criativas para problemas  complexos da sociedade (FERNANDEZ et al., 2023). 

Em 2017, no Brasil, 289 instituições de ensino superior (IES) ofereciam cursos de  graduação em Medicina Veterinária, sendo a maioria delas adotando o método de ensino  tradicional. Desde 2003, com a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os  cursos de Medicina Veterinária, recomendou-se que as IES estimulassem não apenas as  competências técnicas, mas também o desenvolvimento das habilidades humanísticas nos estudantes. Em 2012, o Conselho Federal de Medicina Veterinária propôs a utilização de  abordagens pedagógicas ativas como meio para alcançar esse objetivo (DIAS et al., 2020). Os profissionais de Medicina Veterinária desempenham um papel vital em setores  essenciais da economia brasileira, como a saúde pública, o agronegócio e o mercado de animais  de estimação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o número de animais  de estimação ultrapassou o de crianças no país. Além disso, o Brasil é reconhecido como um  dos principais produtores e exportadores globais de carne bovina, suína, avícola e leite (VIDOR  et al., 2018). 

Os Médicos Veterinários desempenham um papel significativo na proteção da saúde  pública, atuando na prevenção de doenças, conduzindo programas e ações para controlar  zoonoses e contribuindo para melhorar a saúde e o bem-estar da população. Portanto, é de  extrema importância que estudantes, educadores e instituições de ensino de Medicina  Veterinária compreendam a relevância dessa profissão no desenvolvimento do país e se  empenhem em oferecer ensino de qualidade e formação de excelência para os futuros  profissionais. Dessa forma, eles estarão capacitados a ingressar no mercado como profissionais  competentes tanto tecnicamente quanto em suas habilidades humanísticas (ALVES, 2021). 

Considerando o contexto atual e buscando aprimorar o ensino em Medicina Veterinária,  há uma crescente demanda pela adoção de abordagens pedagógicas que otimizem a capacidade  de aprendizado e retenção do conteúdo por parte dos estudantes. Embora a aula expositiva  continue sendo a estratégia dominante em muitas instituições de ensino superior, os professores  estão se esforçando para incorporar metodologias alternativas, e as próprias instituições estão  buscando inovações na concepção, organização e desenvolvimento de seus cursos (VIDOR et  al., 2018). 

2.1. O ensino superior e a presença de projetos de extensão no curso de medicina  veterinária 

Segundo Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, n. 9.394/96  (BRASIL, 1996), o ensino superior tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,  seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, além de estimular  a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, e  incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da  ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura (MELO et al., 2023).

Atualmente, na área da Medicina Veterinária, estão sendo utilizados novos métodos para  a formação e qualificação de profissionais, capacitando-os para o trabalho em equipe. Entre  essas abordagens, destaca-se a implementação de estratégias metodológicas modernas que  transformam os professores em facilitadores da aprendizagem. Essas práticas contribuem para  o desenvolvimento de indivíduos curiosos e críticos, motivados a aprender e que acompanham  o avanço científico e tecnológico da sociedade. Esses recursos oferecem uma maneira mais  dinâmica de transmitir informações, facilitando o processo de ensino-aprendizagem e  promovendo a participação ativa dos estudantes, permitindo que eles obtenham uma visão  ampla e interdisciplinar dos conteúdos abordados (SOARES et al., 2021). 

Os procedimentos realizados em hospitais veterinários universitários possuem um valor  inestimável. Isso ocorre tanto devido ao aprendizado que pode ser proporcionado aos alunos de  graduação, residentes médico-veterinários e mestrandos, diante dos casos rotineiros, quanto ao  aumento do acesso da população a serviços especializados por meio de atividades de extensão.  Dessa forma, é recomendado que se foque no desenvolvimento dos estudantes em relação às  dimensões éticas e humanísticas. Essa abordagem permitirá que os médicos veterinários adotem  atitudes e valores voltados para a cidadania e solidariedade (BRASIL, 2019). 

É comum encontrar nesses estabelecimentos projetos que englobam atividades  educacionais, pesquisas e programas de extensão, os quais frequentemente abarcam a  participação de carroceiros e a realização de castrações gratuitas em animais da comunidade.  Essas iniciativas visam promover o ensino, a pesquisa e a extensão, além de contribuir para o  bem-estar e controle populacional dos animais (DO AMARAL et al., 2020). 

Os eventos de extensão universitária têm uma eficácia significativa como uma  ferramenta para a comunicação de conhecimentos. Esses eventos estão alinhados com as  Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso, que priorizam estratégias de ensino ativas  baseadas em práticas interdisciplinares e transdisciplinares. Dessa forma, esses eventos têm o  compromisso de promover a transformação da escola de medicina veterinária, integrando-a à  vida diária dos professores, estudantes, funcionários e usuários dos serviços veterinários  (SEGATI et al., 2019). 

Segundo o preâmbulo da Resolução nº 1138, emitida em 2016 e que trata do Código de  Ética dos médicos veterinários, essa profissão desempenha um papel fundamental no  desenvolvimento socioeconômico. O campo de atuação abrange não apenas a saúde e o bem estar dos seres humanos e animais, mas também a proteção do meio ambiente (CFMV, 2016).

3 ENSINO DA PRÁTICA CIRÚRGICA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO DE MEDICINA VETERINÁRIA 

Atualmente, o conceito de “cirurgia” engloba todas as intervenções terapêuticas  destinadas a tratar afecções que possam ser abordadas por meio de procedimentos cirúrgicos.  Esses procedimentos incluem etapas pré-operatórias, transoperatórias e pós-operatórias. A área  da Medicina Veterinária, segundo o Ministério da Educação, tem como objetivo formar  profissionais capazes de atuar na produção animal, na produção de alimentos, na saúde dos  animais e na proteção ambiental, sendo classificada como uma ciência agrária (PEREZ et al.,  2022). 

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de graduação em Medicina  Veterinária preveem que o perfil do graduado deve ser voltado para uma formação generalista,  com capacitação em conhecimentos teóricos e práticos das ciências veterinárias, incluindo a  área de Clínica Veterinária, que abrange, entre outros tópicos, o estudo da cirurgia (PAULA,  2020). 

Com o objetivo de elevar a cirurgia veterinária a um nível de especialização, o Colégio  Brasileiro de Cirurgiões Veterinários (CBCV) foi criado em 6 de dezembro de 1972.  Posteriormente, em 1993, passou a ser conhecido como Colégio Brasileiro de Cirurgia e  Anestesiologia Veterinária (CBCAV). Esse órgão é responsável por promover o ensino, a  pesquisa, a execução e a divulgação de atividades relacionadas à cirurgia e anestesiologia  veterinárias em todas as suas abordagens (PAULA, 2020). 

No currículo da Medicina Veterinária, a disciplina de Técnica Cirúrgica tem como  objetivo o estudo das intervenções cirúrgicas destinadas ao tratamento das doenças e condições  que afetam os animais domésticos. A fisiopatologia dessas afecções é abordada na disciplina  de Clínica Cirúrgica de Pequenos e Grandes Animais. Em instituições de ensino de Medicina  Veterinária ao redor do mundo, incluindo no Brasil, a disciplina de Técnica Cirúrgica é  obrigatória no currículo do curso (KARNOPP et al., 2023). 

É responsabilidade das Faculdades de Medicina Veterinária ensinar aos seus alunos os  princípios da cirurgia e capacitá-los em sua prática. Os estudantes devem desenvolver  habilidades e destreza na execução dos principais procedimentos cirúrgicos. O objetivo é  prepará-los para enfrentar os desafios da profissão, proporcionando-lhes a base necessária para  realizar cirurgias com competência e segurança em benefício da saúde e bem-estar dos animais  (PEREZ et al., 2022).

Conforme estabelecido pela Resolução CNE/CES nº 1, de 18 de fevereiro de 2003, a  formação de Médicos Veterinários deve garantir um equilíbrio adequado entre o ensino teórico  e prático, sem privilegiar um em detrimento do outro. Essa abordagem visa assegurar que os  estudantes desenvolvam as habilidades necessárias para exercer a profissão de forma  competente no futuro (MOLETTA, 2019). 

O currículo do curso de Medicina Veterinária é estruturado em três núcleos distintos de  conhecimento e aquisição de habilidades. O primeiro é o núcleo de conteúdos essenciais  básicos, que abrange matérias fundamentais para a formação do aluno. Em seguida, temos o  núcleo de conteúdos essenciais pré-profissionalizantes, composto por disciplinas preparatórias  para as atividades profissionais (KARNOPP et al., 2023). 

Dentro do núcleo pré-profissionalizante, encontram-se matérias como Semiologia e  Clínica Propedêutica e Técnica Cirúrgica. Essas disciplinas fornecem aos estudantes os  conhecimentos e as práticas iniciais necessárias para se prepararem adequadamente para a profissão de Médico Veterinário (ALVES, 2021). 

O terceiro núcleo é o de disciplinas profissionalizantes, que abrange matérias que se  aprofundam ainda mais no conhecimento prático e teórico da área. Entre elas, destacam-se a  Patologia e Clínica Médica e a Patologia e Clínica Cirúrgica, que preparam os estudantes para  o exercício efetivo da profissão, capacitando-os a diagnosticar, tratar e cuidar de animais em  suas áreas de especialização (KARNOPP et al., 2023). 

Na área da clínica e cirurgia veterinária, podemos adotar o conceito de competência, o  qual encontra paralelos na medicina humana. Essa competência é sustentada por três  fundamentos principais: habilidades clínicas básicas, conhecimento científico e  desenvolvimento moral. A habilidade cognitiva de construir e aplicar conhecimentos é  essencial para solucionar os desafios enfrentados na prática profissional (FISCHER; FURLAN,  2022). 

Ao buscar desenvolver as competências necessárias nos alunos, a aula prática deve ser  um momento em que o estudante vivencia, observa e discute, e não apenas uma representação  isolada da teoria. Nessa abordagem, o graduando é exposto à realidade, retirando elementos que  conferem significado à aprendizagem (PEREZ et al., 2022). 

A aula prática tem como objetivo aproximar o estudante da futura prática profissional,  permitindo que ele construa ativamente o conhecimento necessário para a sua atuação como  médico veterinário. Esse processo de construção ativa implica conectar os conteúdos com as  atividades dos estudantes e as interações entre todos os envolvidos nos ambientes de  aprendizagem (PEREZ et al., 2022).

Em outras palavras, a aula prática não é apenas uma reprodução da teoria, mas uma  experiência que possibilita ao aluno vivenciar situações reais e integrar o conhecimento teórico  com as práticas profissionais. É um espaço em que o estudante pode aprender de forma mais  significativa, aplicando os conceitos aprendidos em situações concretas e desenvolvendo as  competências necessárias para sua futura carreira como médico veterinário (PEREZ et al.,  2022). 

Atualmente, é cada vez mais comum a adoção de métodos alternativos no ensino da  medicina veterinária em várias universidades, como o estudo de procedimentos cirúrgicos em  cadáveres de animais. Essa abordagem vem ganhando popularidade devido ao uso dos  cadáveres de animais que faleceram em hospitais veterinários. Essa prática tem se mostrado  uma alternativa valiosa para evitar a eutanásia de animais com propósitos didáticos e tem sido  bem aceita pelos estudantes (DE LIMA et al., 2021). 

O aproveitamento dos cadáveres como recurso de ensino permite que os alunos  vivenciem e pratiquem técnicas cirúrgicas sem causar sofrimento ou sacrificar animais vivos.  Isso promove uma aprendizagem mais ética e humanizada, além de contribuir para uma maior  aceitação e entusiasmo dos acadêmicos em relação a essa abordagem de ensino (SCHITTINI,  2020). 

Dessa forma, a utilização de cadáveres de animais como ferramenta pedagógica tem se  mostrado uma alternativa eficaz e ética no ensino da medicina veterinária, proporcionando aos  estudantes uma experiência de aprendizado mais consciente e preparando-os adequadamente  para a prática profissional (SCHITTINI, 2020). 

3.1. Prática cirúrgica de maneira didática  

A formação cirúrgica engloba conceitos teóricos e práticos complexos, especialmente  ligados à técnica operatória e suas etapas fundamentais, sendo essencial o desenvolvimento de  habilidades e destreza (GOMES, 2019).  

Além do conhecimento teórico, a prática dessa etapa requer habilidades psicomotoras.  A falta de agilidade e destreza por parte do cirurgião pode prejudicar a reconstrução tecidual e  aumentar o risco durante os procedimentos cirúrgicos (MELO, 2020). O treinamento, baseado  em instrução e repetição, tem o maior impacto na qualidade da aprendizagem, refletindo em  maior interesse e competência dos alunos (BLAU et al., 2020). Por esse motivo, há um  crescente interesse nas instituições de ensino de Medicina e Medicina Veterinária na implementação de laboratórios especializados para o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas  (ZOPPA et al., 2021).  

No Brasil, é amplamente difundido o uso de um método de baixo custo que consiste em  tecido preso a um bastidor para o aprendizado da síntese e dos padrões de sutura, apesar de ter  um potencial realista limitado. Oliveira e Faria (2019), avaliaram a aceitação desse método  entre os estudantes da disciplina de Técnica Cirúrgica e relataram um alto grau de aceitação e  aumento no conhecimento adquirido. Uma das vantagens desse método em relação ao  treinamento com língua bovina é a durabilidade do simulador e a facilidade de transporte,  permitindo o treinamento repetido de suturas sem a necessidade de um ambiente especializado  (BLAU et al., 2020). 

É importante destacar que a utilização de simulações no treinamento em cirurgia tem  como objetivo fornecer uma experiência complementar que acelera o processo de aprendizado  e prepara os estudantes de forma mais eficaz para lidar com os pacientes na prática clínica diária  (MARCONDES et al., 2019).  

Para os estudantes de medicina veterinária, a oportunidade de adquirir conhecimento e  praticar habilidades cirúrgicas antes de realizar procedimentos em animais vivos é  extremamente valiosa para aprimorar seu aprendizado, competências e confiança. De fato, Griffon e colaboradores (2020), destacaram a necessidade de melhorar o treinamento cirúrgico  em uma instituição de ensino devido a complicações observadas. Diversas abordagens  alternativas, como vídeos, programas interativos, dispositivos e modelos para treinamento de  suturas, modelos anatômicos, cadáveres preservados, peças de abatedouros e simuladores  virtuais, têm sido propostas para o ensino e treinamento de técnicas cirúrgicas (ANDRADE et  al., 2021). 

Foram desenvolvidos e analisados diversos modelos que possuem as características  essenciais mencionadas, como EVA, placas emborrachadas e silicone. Seguindo essa linha, o  Laboratório de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental (TOCE) da Universidade Federal  de Santa Catarina (UFSC) tem utilizado nos últimos anos um método substitutivo de baixa  fidelidade feito com base em EVA para o ensino de habilidades básicas de sutura e nós  cirúrgicos. Esse método tem como objetivo proporcionar um aprendizado seguro, dentro de  padrões éticos e legais, e que possa ser reproduzido ao longo do tempo (BERNARDINI et al.,  2020).  

O EVA, uma folha de borracha não tóxica, é frequentemente utilizada em trabalhos  artesanais devido à sua composição de etil, vinil e acetato. Sua flexibilidade, maleabilidade e  durabilidade são características significativas. A utilização das folhas de EVA oferece aos alunos em formação uma experiência próxima à realidade que eles enfrentarão diariamente em  centros cirúrgicos. Com o acesso fácil a esse material, os alunos podem praticar e aprimorar  suas habilidades de sutura, desenvolvendo sua técnica pessoal (OLIVEIRA; FARIA, 2019).  

Existem várias opções de materiais que podem ser utilizados na confecção de um  modelo de sutura, variando em custo, dificuldade de obtenção, semelhança com tecidos e  questões éticas. Os materiais usados no modelo desenvolvido neste estudo para sutura (EVA, espuma elástica e courvin) são facilmente encontrados, assim como o modelo de EVA utilizado  por Mazzali (2022), que mencionam a disponibilidade desse material na maioria dos países,  além de sua praticidade, portabilidade e facilidade de manipulação (MANZI, 2019).  

A espuma permite o treinamento de suturas intradérmicas, enquanto o courvin permite  a realização de suturas simples contínuas e separadas, assim como a prática da diérese. O  método atualmente utilizado para o treinamento de suturas, ou seja, o bastidor, não permite a  execução de suturas intradérmicas. O baixo custo individual do modelo e sua capacidade de  reprodução fácil tornam-no acessível a todas as instituições que desejam adotar esse método  alternativo. A possibilidade de realizar diferentes tipos de suturas e o baixo custo do modelo  em seu modelo de EVA. O custo total de modelos alternativos e de aproximadamente 2,13 reais  (COSTA et al., 2020).  

De acordo com uma pesquisa realizada por Ferreira et al. (2022), foi constatado que o  aprendizado e habilidades manuais adquiridos por meio do uso de modelos de baixo custo e  com pouca semelhança com tecidos reais podem ser igualmente eficazes em comparação ao  treinamento realizado em modelos mais caros e realistas. 

Segundo uma pesquisa conduzida por Matsumoto et al. (2019) com estudantes de  medicina, ao comparar o treinamento utilizando um sistema endoscópico de urologia com  vídeos de alta qualidade e um modelo de bancada simples, constatou-se que ambos os métodos  apresentaram resultados semelhantes em relação ao desenvolvimento de habilidades para a  realização de ureteroscopia. Um estudo adicional comparou o treinamento de habilidades  cirúrgicas em modelos de bancada de baixa fidelidade, feitos com tubos de silicone, com o  treinamento em um modelo de alta fidelidade, que envolvia a realização de anastomose  microcirúrgica em um rato vivo sob anestesia. O estudo constatou que ambos os métodos foram  igualmente eficazes na aquisição 15 dessa habilidade entre cirurgiões inexperientes. Os  pesquisadores relataram que os modelos de bancada proporcionaram o suporte necessário para  o desenvolvimento dessa nova habilidade, permitindo repetições e prática adequada (SANTOS  et al., 2022). 

A utilização de vídeo-aulas como recurso educacional tem se mostrado bastante eficaz  no primeiro contato dos alunos com procedimentos cirúrgicos, sejam eles simples ou  complexos. O estudo conduzido por Lima (2021) demonstrou que os alunos que revisaram  vídeos instrutivos de práticas clínicas foram capazes de treinar suas habilidades até atingir um  nível de precisão e destreza equivalente aos alunos que receberam instrução direta de um  especialista (professor) em técnicas cirúrgicas básicas (OSORIO et al., 2023).  

Os vídeos, especialmente aqueles que demonstravam as técnicas de sutura, foram  visualizados repetidamente pelos alunos, permitindo a observação e prática da sutura de  maneira correta, desde o manuseio adequado dos instrumentos cirúrgicos até a execução precisa  dos padrões de sutura necessários. De acordo com a avaliação dos estudantes, essa abordagem  facilitou o processo de aprendizado e proporcionou uma maior sensação de segurança nos  treinamentos cirúrgicos subsequentes (SILVA et al., 2021). 

4 PROCEDIMENTOS DE ESTERILIZAÇÃO EM PEQUENOS ANIMAIS 

A esterilização cirúrgica, conhecida popularmente como castração, é altamente  recomendada por profissionais da Medicina Veterinária como um dos métodos mais eficazes.  Antes de realizar a cirurgia, os veterinários avaliam cuidadosamente o animal, analisando seus  parâmetros pré-operatórios para determinar os riscos envolvidos. A cirurgia é conduzida de  maneira responsável, em instalações adequadas e com material estéril, sempre priorizando a  saúde e o bem-estar do animal (PEREIRA, 2020). 

Esses princípios fundamentais são destacados no manual de legislação do Conselho  Federal de Medicina Veterinária – CFMV, no Art. 4º, que exige que os profissionais realizem  procedimentos humanitários que evitem qualquer forma de dor e sofrimento para o animal, em  todas as etapas do processo (CARDOZO, 2022). 

A castração de animais, sejam eles machos ou fêmeas, seja da espécie felina (Felis  catus) ou canina (Canis familiaris), pode ser feita com fins terapêuticos ou para evitar a  procriação. No caso das fêmeas, o procedimento cirúrgico mais comum é a  ovariossalpingohisterectomia, também conhecida como OSH, que envolve a remoção cirúrgica  dos ovários, tuba uterina e útero, ou seja, de todo o sistema reprodutor. Após a cirurgia, as  fêmeas perdem a capacidade de reprodução e seu impulso sexual é reduzido, não havendo mais  o período de cio (JESUS, 2021).

A esterilização cirúrgica, que é uma técnica amplamente adotada, traz inúmeros  benefícios para as fêmeas, melhorando significativamente sua qualidade de vida. Entre as  vantagens estão a prevenção de problemas como pseudogestação, infecção uterina, cistos  ovarianos, anormalidades hormonais, neoplasias de endométrio e hiperplasia mamária. Essa  intervenção cirúrgica também aumenta a expectativa de vida do animal (ARAÚJO et al., 2023). 

Vale ressaltar que a retirada apenas dos ovários pode levar a problemas de saúde na  fêmea devido à deficiência hormonal. Para realizar a ovariossalpingo-histerectomia (OSH),  existem diferentes abordagens cirúrgicas, como a linha alba (abordagem mediana), o flanco ou  a via laparoscópica. Todas essas abordagens são seguras e eficientes, desde que conduzidas por  uma equipe de profissionais qualificados (ARAÚJO et al., 2023). 

Nos machos, a técnica utilizada é a orquiectomia, que envolve a remoção cirúrgica dos  testículos, epidídimos e parte dos cordões espermáticos. Essa cirurgia pode ser realizada através  das abordagens pré-escrotal ou escrotal. A abordagem aberta é indicada para cães de grande  porte, onde os testículos são removidos por meio de uma incisão na túnica vaginal parietal. Já  a abordagem fechada é mais adequada para cães de pequeno a médio porte, pois a túnica é  removida juntamente com os testículos. A remoção cirúrgica dos testículos também é benéfica  para os machos, prevenindo tumores testiculares, adenomas perianais e controlando doenças do  trato reprodutivo, como prostatites, tumores e abscessos prostáticos (DA SILVA, 2023). 

4.1. Ovariosalpingohisterectomia 

A esterilização cirúrgica em cadelas, por meio da ovariossalpingo-histerectomia (OSH),  é um procedimento amplamente realizado tanto em estabelecimentos privados quanto em  instituições de ensino. Sua frequência se deve, especialmente, ao objetivo de promover o  controle populacional de animais (ALVES et al., 2020). 

 A abordagem cirúrgica é realizada através de uma incisão mediana retroumbilical sob  anestesia geral. A preparação do abdome ventral é feita da cartilagem xifoide até o púbis. Antes  do procedimento cirúrgico, é importante fazer uma ampla depilação da região abdominal,  realizar uma antissepsia adequada e posicionar os panos de campo (HOAD, 2022). 

Para identificar a cicatriz umbilical, a incisão retro umbilical é realizada em cadelas. A  incisão pode ser estendida cranial ou caudalmente para permitir a exteriorização do trato sem  causar tração excessiva. Outra possibilidade é a incisão na linha alba, que permite abordar a  cavidade abdominal e, posteriormente, deslocar o omento cranialmente (JESUS, 2021).

Ao posicionar o paciente em decúbito dorsal na calha cirúrgica, os cornos uterinos e os  ovários caem nas goteiras lombares direita e esquerda, caudalmente aos rins. Os cornos e os  ovários esquerdos são mais caudais e acessíveis que os direitos. Portanto, os ovários e o corno  uterino esquerdos são retirados primeiro, por conveniência (JESUS, 2021). 

Durante o procedimento, a parede abdominal esquerda é elevada com o uso de um  afastador. Em seguida, o gancho de ovariectomia é introduzido no interior do abdome, próximo  à parede abdominal, entre 2 e 3 cm caudalmente ao rim. O gancho é então girado medialmente  e tracionado para expor o corno uterino esquerdo. Essa manobra também pode ser realizada  utilizando o dedo indicador para afastar as vísceras abdominais e localizar o corno uterino na  face dorsal do abdome. Geralmente, as estruturas liberadas nessas manobras são os ligamentos  largo e redondo do útero, bem como o corno uterino (JESUS, 2021). 

Realizando uma tração caudal e medial no corno uterino, identifica-se o ligamento  suspensório como uma faixa fibrosa tensa na extremidade próxima do pedículo ovariano. Em  seguida, o ligamento é esticado e/ou rompido próximo ao rim, sem danificar os vasos ovarianos,  para expor o ovário. Essa ação é realizada aplicando tração caudolateral no ligamento  suspensório com o dedo indicador, enquanto uma tração caudomedial é mantida no corno  uterino (JESUS, 2021). 

Após a abertura do mesovário com o auxílio de uma pinça, abaixo do complexo  arteriovenoso ovariano, é importante manter contato digital constante com o ovário ao aplicar  as pinças para garantir sua remoção completa. Pode-se optar por usar um sistema de três pinças  distalmente ao ovário, e a ligadura é feita abaixo da terceira pinça, próxima ao abdome, sendo  a primeira pinça liberada quando o nó é apertado. Esse procedimento é repetido para a remoção  do segundo ovário (HOAD, 2022). 

Para separar os ligamentos redondo e largo do corno uterino, adjacente ao corpo uterino  e à artéria e veia uterinas, uma janela é feita no ligamento largo com uma pinça hemostática. O  ligamento longo e o largo podem ser rompidos manualmente pelo cirurgião. Caso o paciente  esteja no cio ou gestante, ou haja tecido adiposo ou vasos sanguíneos de maior calibre, são  feitas ligaduras ao redor do ligamento largo para maior segurança (SILVA et al., 2019). É  importante destacar que a ligadura do pedículo ovariano é realizada com fios absorvíveis, cujo  tamanho pode variar de acordo com o porte do animal (JESUS, 2021). 

A exposição do útero é feita através da tração do corpo uterino, permitindo a  identificação da cérvice por palpação. Para realizar a ligadura do corpo uterino, emprega-se a  técnica de duas ou três pinças, envolvendo os vasos uterinos de ambos os lados com uma ligadura. Em seguida, é feita a transecção do corpo uterino, garantindo que não haja  sangramento (HOAD, 2022). 

Em gatas, o procedimento difere um pouco. Em vez de segurar o útero ingurgitado ou  frágil com pinças, o útero é cortado antes da ligadura. Alternativamente, a ligadura pode ser  feita sem a utilização das pinças, e a pinça hemostática pode ser usada para colocar o coto  uterino de volta à cavidade abdominal. É fundamental verificar possíveis sangramentos antes  de fechar os pedículos ovarianos e o coto uterino na cavidade abdominal, evitando apertá-los  excessivamente para não afrouxar as ligaduras (DE CARVALHO, 2019). 

Existem diferentes métodos para realizar a ligadura do corpo uterino, tais como a sutura  Parker-Kerr, que é realizada na OSH (ovário-salpingo-histerectomia) quando há piometra ou  infecção genital, e a técnica de transfixação, que é empregada quando os vasos uterinos são  muito calibrosos. No caso da sutura Parker-Kerr, as artérias e veias uterinas precisam ser ligadas  separadamente (BRUNN et al., 2022). 

A síntese da incisão abdominal pode ser realizada de duas formas: um padrão simples  interrompido utilizando fio absorvível, como categute cromado, polidioxanona, ácido  poliglicólico, poligliconato ou a poliglactina 910, ou um padrão simples contínuo com fio não  absorvível, como polipropileno ou náilon monofilamentar. A sutura do tecido subcutâneo e da  pele é feita utilizando padrão simples contínuo ou X (Sultan) com fio absorvível, de acordo  com o tamanho do animal, ou fio inabsorvível, como o nylon, em padrão simples separado. No  pós-operatório, é recomendado proteger a ferida cirúrgica para evitar o autotraumatismo,  podendo ser utilizado o colar elizabetano ou roupa cirúrgica (BRUNN et al., 2022). 

A abordagem tradicional da OSH apresenta riscos de complicações, incluindo  hemorragias, ligadura ou trauma acidental dos ureteres, infecção ou inflamação da porção do  corpo uterino remanescente e síndrome do ovário remanescente (SOR). Algumas desvantagens  dessa abordagem são o risco de hemorragia excessiva do tecido subcutâneo e da pele,  inflamação ou infecção da ferida, e a possibilidade de drenagem do leite pela incisão, caso o  animal esteja gestante ou em pseudociese (ALVES; HEBLING, 2020). 

Em contrapartida, a abordagem pela linha média ventral apresenta vantagens, como uma  cicatrização mais fácil devido à menor vascularização na linha alba, resultando em menos  sangramento quando comparado à abordagem pelo flanco. Além disso, oferece melhor  visualização das estruturas e facilita a manipulação das vísceras abdominais. Ao empregar o  método tradicional com a seção da linha alba, o tempo de duração da cirurgia é menor,  resultando em menor consumo de anestésico (ALVES; HEBLING, 2020).

4.2 Orquiectomia  

O procedimento de orquiectomia é realizado com o animal colocado em uma calha na  posição de decúbito dorsal, e o campo cirúrgico é preparado com a utilização de panos de  campo. Dependendo do local da incisão, a orquiectomia pode ser classificada como escrotal ou  pré-escrotal. Em ambas as técnicas, há a opção da abordagem aberta ou fechada (SANTOS,  2021). 

Na técnica aberta, os testículos são removidos através de uma incisão na túnica vaginal  parietal, sendo mais indicada para cães de grande porte. Já na técnica fechada, a túnica é  removida juntamente com os testículos e é recomendada para cães de médio e pequeno porte.  Na orquiectomia escrotal, os testículos são expostos através de duas incisões na pele da bolsa  escrotal, uma de cada lado. Após essa incisão, a túnica dartos e a fáscia espermática são  visualizadas e também incisadas para expor o testículo, que está envolto pela túnica vaginal  parietal (MAGALHÃES et al., 2019). 

Uma vez que o cordão espermático é encontrado, é realizado o procedimento de ligadura  utilizando fio inabsorvível, como poliéster ou polipropileno, com espessura variando de 2-0 a  1, de acordo com o tamanho do animal. A opção de fio absorvível também pode ser utilizada,  com preferência para os tipos que têm um período mais prolongado de absorção, como ácido  poliglicólico, polidioxanona, poligliconato ou poliglactina 910. Para facilitar a organização da  ligadura, podem ser utilizadas duas pinças hemostáticas aplicadas ao cordão espermático,  realizando a ligadura abaixo da pinça mais próxima ao animal (JESUS, 2021). 

A transecção é feita entre as pinças, que são removidas logo em seguida. O testículo, o  epidídimo e a parte do cordão espermático são retirados. Em alguns casos, pode ser utilizada a  técnica de transfixação do cordão espermático para proporcionar maior segurança na ligadura.  Esse procedimento é repetido no outro lado, e essa técnica é conhecida como castração fechada  (JESUS, 2021). 

Quando a incisão é realizada na túnica vaginal parietal, o procedimento é conhecido  como castração aberta. Nessa técnica, a túnica vaginal parietal que está aderida ao epidídimo  em sua cauda é rompida usando uma tesoura ou por meio de tração manual. Ao fazer isso,  apenas os vasos, nervos e ducto deferente são ligados, proporcionando maior confiabilidade no  procedimento (JESUS, 2021). 

Na orquiectomia, a incisão de pele não é suturada, permitindo que ocorra drenagem e  cicatrização por segunda intenção. No entanto, é possível optar por fazer a sutura da ferida cirúrgica utilizando fio de náilon em padrão simples separado, com ou sem sutura de  aproximação no tecido subcutâneo, em padrão simples contínuo ou X (Sultan). O fio utilizado  pode ser absorvível, com a espessura adequada ao porte do animal (JESUS, 2021). 

Uma alternativa é realizar a retirada parcial da bolsa escrotal ou até mesmo uma ablação  total, utilizando duas incisões elípticas na região da base da bolsa. Essa técnica é especialmente  recomendada para cães de grande porte, pois proporciona resultados estéticos melhores e um  pós-operatório mais rápido (JESUS, 2021). 

A técnica pré-escrotal oferece a vantagem de proteger a bolsa escrotal contra  contaminação e infecções no pós-cirúrgico. Nesse procedimento, a incisão de pele é feita  cranialmente à base da bolsa escrotal, na linha média, com cerca de 4 cm de comprimento. Com  uma leve pressão, o testículo é deslocado para o tecido subcutâneo, alinhado à incisão, e  mantido no local pelo cirurgião. Em seguida, realiza-se uma incisão na túnica dartos e na fáscia  espermática, revelando o testículo coberto pela túnica vaginal parietal, que continua sendo  segurada pelo cirurgião (JESUS, 2021). 

Para a orquiectomia escrotal, é importante identificar, pinçar e ligar o cordão  espermático. Alternativamente, pode-se optar pela castração aberta. O mesmo procedimento é  repetido para o outro testículo, ambos através da mesma incisão de pele. A síntese do tecido  envolve a realização de sutura de aproximação no subcutâneo, utilizando padrão X (Sultan)  simples ou contínuo com fio absorvível. A pele é suturada com fio inabsorvível (nylon) em  padrão simples separado (JESUS, 2021). 

Ao realizar a orquiectomia pré-escrotal, a sutura protege a área cirúrgica contra  sujidades provenientes de locais contaminados e evita a interferência do próprio animal. É  importante observar que as técnicas mencionadas devem ser aplicadas apenas em animais com  ambos os testículos presentes na bolsa escrotal (MAGALHÃES et al., 2019). 

Para animais com criptorquidia, ou seja, quando um ou ambos os testículos não estão  na bolsa escrotal, a abordagem cirúrgica deve ser diferente. Quando um ou dois testículos estão  localizados na região inguinal, a castração deve ser realizada através de acesso inguinal. Já  quando um ou ambos os testículos estão dentro da cavidade abdominal, a castração deve ser  feita por acesso abdominal (MAGALHÃES et al., 2019). 

5 VISÃO DO DISCENTE DE MEDICINA VETERINÁRIA NA PRÁTICA  CIRÚRGICA

De acordo com Trautwein e colaboradores (2021), relatam a relevância do treinamento  teórico e, em particular, prático para os estudantes de medicina veterinária durante sua formação  profissional. Onde, demonstraram que os estudantes de medicina alcançaram um bom nível de  aprendizado após participarem de oficinas práticas de treinamento cirúrgico básico  (TRAUTWEIN et al., 2021).  De acordo com os resultados do estudo conduzido por Trautwein et al. (2021), é possível  observar que mesmo após um período de seis meses de treinamento, cerca de 30% dos  estudantes manifestaram falta de confiança para realizar procedimentos cirúrgicos e/ou  anestésicos. Isso reforça a importância de oferecer aos graduandos oportunidades de  treinamento além da sala de aula, a fim de garantir a formação de profissionais capacitados e  seguros para exercerem a profissão. 

De acordo com a pesquisa de Honji e colaboradores (2019), após questionar os  profissionais recém-formados sobre o que eles aprenderam na disciplina de cirurgia de  pequenos animais e se isso foi suficiente para o preparo após a faculdade, todos os cinco  entrevistados responderam de forma negativa, reconhecendo a falta de habilidade para a prática  cirúrgica. Alguns exemplos das respostas incluem um profissional que se sentiu despreparado  em relação à cirurgia e outro que, após a formação, estava com medo de realizar procedimentos  cirúrgicos e, por isso, evitou fazê-los (HONJI et al., 2019). 

Além dos recém-formados, alguns docentes também percebem que os alunos concluem  a graduação sem o aprendizado necessário para atuar profissionalmente em cirurgia de  pequenos animais. Segundo eles, os alunos podem saber o que é uma incisão, mas nem sempre  conseguem realizá-la com habilidade, e raramente estão habilitados a fazer uma ligadura de  vaso. Os docentes acreditam que os alunos aprendem sobre cirurgia teoricamente, mas nem  sempre conseguem aplicar esse conhecimento na prática (HONJI et al., 2019). 

Essa insatisfação e falta de aptidão cirúrgica são consistentes com um estudo anterior,  que observou que alunos prestes a se formarem também se identificavam com a mesma  inabilidade. Outro estudo realizado em 2016, mostrou que os alunos formandos tinham  consciência de que o programa educacional de graduação não proporcionava um alcance  suficiente na proficiência cirúrgica, apesar do treinamento recebido durante o curso. Em 2019,  Gates e colaboradores confirmaram esse sentimento entre os estudantes (GATES et al., 2019). 

Ao questionar os recém-formados sobre o aprendizado na disciplina de cirurgia de  pequenos animais após a faculdade, todos os entrevistados responderam negativamente,  indicando uma falta de habilidade para a prática cirúrgica. Alguns exemplos das respostas  incluem o sentimento de despreparo total em relação à cirurgia e o medo de realizar procedimentos cirúrgicos após a formação, resultando na evitação desses procedimentos  (GATES et al., 2019). 

Além dos recém-formados, alguns docentes também percebem que os alunos saem da  graduação sem o conhecimento necessário para atuar profissionalmente em cirurgia de  pequenos animais. Eles apontam que os alunos podem entender conceitualmente o que é uma  incisão, mas nem sempre possuem as habilidades práticas para realizá-la de forma adequada. A  realização de ligadura de vaso também é mencionada como uma habilidade pouco desenvolvida  nos recém-formados (HONJI et al., 2019). 

Essa falta de preparo e confiança nos recém-formados pode afetar negativamente a  experiência de aprendizado e o atendimento ao paciente durante o período trans-operatório. O  sentimento de estresse gerado pela sensação de deficiência nas habilidades cirúrgicas pode ser  resultado das experiências de aprendizado durante a graduação (HONJI et al., 2019). 

Nesse contexto, é evidente que o desenvolvimento das habilidades cirúrgicas dos recém formados é uma questão relevante que precisa ser abordada no conceito de educação  permanente. A busca por melhorias na prática cirúrgica pode ocorrer por meio da educação continuada, que abrange diversas experiências educacionais para aumentar o conhecimento e  as habilidades dos profissionais (HONJI et al., 2019). 

Nas entrevistas, foi observado que muitos recém-formados buscaram cursos de técnicas  cirúrgicas para aprimorar suas habilidades e suprir as deficiências identificadas durante a  graduação. Essa abordagem colaborativa de aprendizado entre recém-formados e profissionais  experientes também foi mencionada como importante para o desenvolvimento das habilidades  cirúrgicas (HONJI et al., 2019). 

6 CONCLUSÃO 

O presente trabalho abordou a relevância do treinamento teórico e prático para  estudantes de medicina veterinária durante sua formação profissional, com foco específico nas  habilidades cirúrgicas em pequenos animais. Os estudos demonstraram que muitos estudantes  e recém-formados, manifestam falta de confiança e habilidade para realizar procedimentos  cirúrgicos, mesmo após o treinamento recebido na graduação. 

Essas constatações reforçam a importância de oferecer aos graduandos oportunidades  de treinamento prático além da sala de aula, a fim de garantir que eles se tornem profissionais  capacitados e seguros para exercer a profissão. É essencial que os programas educacionais busquem aprimorar as habilidades cirúrgicas dos alunos e promovam uma abordagem  colaborativa entre os recém-formados e profissionais experientes para o desenvolvimento  contínuo das competências cirúrgicas. 

A insatisfação e falta de aptidão cirúrgica, observadas entre os recém-formados têm o  potencial de afetar negativamente o atendimento ao paciente durante o período trans-operatório,  e isso pode ser atribuído às experiências de aprendizado durante a graduação. Portanto, é  fundamental que as instituições de ensino adotem uma perspectiva de educação permanente,  buscando constantemente melhorias na prática cirúrgica por meio de educação continuada. 

As entrevistas realizadas com os recém-formados evidenciaram que muitos deles  buscam cursos de técnicas cirúrgicas adicionais para aprimorar suas habilidades e suprir as  deficiências identificadas na formação acadêmica. Essa busca por aprendizado contínuo é  encorajadora e pode ser facilitada por meio da colaboração entre os recém-formados e  profissionais experientes, possibilitando a troca de conhecimentos e experiências práticas. 

Em suma, é necessário um esforço conjunto entre instituições de ensino, professores,  estudantes e profissionais experientes para abordar as questões relacionadas ao  desenvolvimento das habilidades cirúrgicas na medicina veterinária. Somente através de uma  abordagem abrangente de educação teórica e prática, complementada por oportunidades de  aprendizado contínuo, poderemos formar profissionais mais preparados e confiantes para  enfrentar os desafios da prática cirúrgica em pequenos animais. 

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1Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio Campus Salto.

2Docente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio Campus Salto. Doutora em anestesiologia e cirurgia (FMVZ/UNESP)