CÁRIE PRECOCE NA INFÂNCIA: UMA RELAÇÃO COM AMAMENTAÇÃO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10152693


Beatriz da Silva Andrade
Orientador: Saul Alfredo Antezana Vera


RESUMO

A Cárie Dentária é a doença crônica mais comum na infância e afeta negativamente a qualidade de vida das crianças acometidas. O objetivo deste trabalho é apresentar a doença cárie na infância e sua relação com a amamentação, bem como seus aspectos etiológicos, cariogenicidade do leite materno, tratamentos, prevenção e os impactos na vida da criança. O aleitamento materno, vem sendo visto como um importante vínculo para se ter uma boa saúde bucal da criança, sendo assim ajudando a prevenir doenças crônicas e futuras doenças infantis, dentre estas, a cárie dentária, que é uma doença crônica, multifatorial, comum na infância, com alta incidência em todo o mundo, sendo que, o nível socioeconômico interfere diretamente na incidência dessa doença. Uma vez a cárie estabelecida, causa dor e angústia, afetando a qualidade de vida, sendo assim levando a perda precoce dos elementos dentários. Portanto, tendo esses fatores como necessários para relacionar a amamentação e suas consequências para a saúde bucal do lactado, apresentar os principais distúrbios alimentares e sua relação com a saúde bucal infantil. O estudo tem como objetivo demonstrar o efeito da amamentação e alimentos que facilitam a incidência de cárie dentária na primeira infância.

PALAVRAS-CHAVE: Cárie precoce na infância; Amamentação; Prevenção.

ABSTRACT

Dental Caries is the most common chronic disease in childhood and negatively affects the quality of life of affected children. The objective of this work is to present caries inchildhood and its relationship with breastfeeding, as well as its etiological aspects, cariogenicity of breast milk, treatments, prevention and impacts on the child’s life. Breastfeeding has been seen as an important link to having a good oral health of the child, thus helping to prevent chronic diseases and future childhood diseases, among them, dental caries, which is a chronic, multifactorial disease, common in childhood, with a high incidence worldwide, and the socioeconomic level directly interferes in the incidence of this disease. Once caries is established, it causes pain and anguish, affecting the quality of life, thus leading to early loss of dental elements. Therefore, considering these factors as necessary to relate breastfeeding and its consequences for the oral health of the lactate, to present the main eating disorders and their relationship with children’s oral health. The study is able to demonstrate the effect of breastfeeding and foods that facilitate the incidence of dental caries in early childhood.

KEYWORDS: Early childhood caries; Breast-feeding; Preventio.

1 INTRODUÇÃO

Os dentes decíduos são de extrema importância no bem-estar da criança, pois, contribuem com a estética, auxiliam na alimentação, fonética, e são fundamentais no processo de formação dos dentes permanentes, atuando como guias de espaços, além de ajudarem na estimulação do crescimento dos ossos da face. Dessa maneira, a doença cárie quando presente na infância, proporciona dor, infecção, perda de estruturas e mudanças nos comportamentos e no estilo de vida da criança, repercutindo de forma negativa no crescimento e desenvolvimento, além de favorecer o baixo peso e desnutrição (SANTOS, et al., 2013: PITTS, et al., 2019).

Existiam inúmeras nomenclaturas para a doença cárie que acomete a dentição decídua das crianças, dentre elas o termo cárie de mamadeira, cárie rampante na infância, cárie de acometimento precoce, cárie de amamentação entre outras; todos esses nomes foram substituídos pela cárie precoce na primeira infância (CPI). Ela é definida como a presença de uma ou mais lesões cariadas ou restauração do dente primário de uma criança em idade pré-escolar, que vai do nascimento até os 5 anos de idade (Santos et al. 2016; Silva et al. 2017).

É considerada um problema de saúde pública global que acomete países desenvolvidos e subdesenvolvidos, atinge pessoas de diferentes faixas etárias, sendo mais frequentes na infância, é uma patologia passível de prevenção e controle (Silva et al. 2015)

Entretanto, a necessidade de uma compreensão da relação que possui a amamentação com a saúde bucal do lactente, debater a cariogenicidade do leite materno, expor os principais distúrbios alimentares e sua correlação com a saúde bucal infantil e deferir os distúrbios alimentares e suas consequências para saúde bucal infantil.

Entende-se que o Aleitamento Materno (AM)  é essencial para o crescimento e desenvolvimento das estruturas do sistema oral e maxilo-mandibular e das funções de sucção, respiração e deglutição, cerca de 20 músculos orofaciais atuam ativamente nos movimentos que uma criança realiza durante a ordenha, proporcionando maturação oral, articulação temporomandibular (ATM), palato duro, arcada dentária e desenvolvimento da face, estimulando também o tônus muscular, que prepara os músculos para a mastigação, vocalização e prevenção de má oclusão (Andrade et al. 2021).

O padrão alimentar está intimamente associado com a prevalência da cárie dentária, doença reconhecidamente multifatorial em relação à sua etiologia,  acarretando perda na qualidade de vida, principalmente quando afeta o público infantil (Carvalho et al. 2022).

Desta maneira, esta revisão de literatura tem como objetivo apresentar a doença cárie na infância e sua relação com a amamentação, bem como seus aspectos etiológicos, consequências, tratamentos, prevenção e os impactos na vida da criança.

2 MATERIAIS E MÉTODOS DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para a elaboração deste estudo de revisão literária, foi realizado uma pesquisa na base de dados digitais de artigos científicos disponibilizados em: PubMed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), SciELO (https://scielo.org/), Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/), Periódico Capes (https://www-periodicos- capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php?). Os termos pesquisados foram as palavras-chaves: ‘’Cárie precoce na infância’’; ‘’Amamentação’’; ‘’Prevenção’’. Os critérios de inclusão foram os artigos publicados em português, que abordassem temas e pesquisas dentro da pesquisa CÁRIE PRECOCE NA INFÂNCIA: UMA RELAÇÃO COM AMAMENTAÇÃO, sendo os mais relevantes e foi imposto o limite temporal dos últimos 20 anos, sendo assim, foram obtidas um total de 26 artigos selecionados.

3 REVISÃO DA LITERATURA

A doença cárie é considerada um problema de saúde pública global, no entanto, deve- se considerá-la como uma doença que pode ser evitada ou controlada. Ela atinge inúmeras pessoas em qualquer faixa etária, sendo mais predominante em crianças em idade pré-escolar, menos favorecidas, com números chegando a 600 milhões (SANTOS et al, 2016; PHANTUMVANIT et al, 2017).

Sua etiologia é vista como uma doença multifatorial e açúcar biofilme-dependente, não transmissível, sendo influenciada por fatores modificadores, no qual se incluem o comportamento, o conhecimento da mãe e/ou cuidador e más condições socioeconômicas, associadas a desinformação da comunidade em questão da sua etiologia, cuidados de higienização, prevenção e tratamento. (PHANTUMVANIT et al., 2017; BERALDI et al., 2020).

A cárie precoce da infância (CPI) é definida pela American Academy of Pediatric Dentistry (Academia Americana de Odontopediatria) como a presença de um ou mais dentes cariados (lesões cavitadas ou não cavitadas), ausentes (devido à cárie) ou restaurados em crianças de até 71 meses de idade. Crianças menores de três anos de idade, qualquer superfície dental lisa que esteja cariada (cavitada ou não), é indicativo de Cárie Severa da Infância. Também é considerada Cárie Severa da Infância, dos 3 aos 5 anos de idade, a criança apresenta mais de quatro, cinco e seis superfícies afetadas em dentes anteriores decíduos aos 3, 4 e 5 anos de idade, respectivamente (AAPD. 2014).

Etiologia Cárie Dentária

Antigamente mencionada como: “cárie de mamadeira”, “cárie precoce/ severa na Infância” e “cárie de acometimento precoce pelas evidências científicas e profissionais, esse termo deixou de ser utilizado (Medeiros, 2018; Beraldi, et al. 2020). Sendo a cárie dentária uma doença infecciosa transmissível, o SM e espécies de Lactobacillus são incluídos os marcadores de risco microbiano para CPI. A transmissão de SM é provavelmente vertical a partir do cuidado para a criança, através do contato salivar, sendo dependente da frequência e quantidade de exposição. Assim, as crianças cujas mães têm altos níveis de SM estão em maior risco de contrair a bactéria. A transmissão horizontal, entre outros membros da família, outras crianças nas creches, por exemplo, também ocorrem (Berkowitz et al. 2006).

Clinicamente essa condição acomete mais os dentes incisivos, em seguida dos primeiros molares, caninos e segundos molares, de acordo com a cronologia de erupção dentária. Ela se apresenta inicialmente com manchas brancas em região cervical, área propícia ao acúmulo de biofilmes, referindo-se a uma doença mais complexa devido sua velocidade de progressão, em questão da menor espessura do esmalte dentário nos dentes decíduos, somado ao consumo frequente de açúcar (sacarose), além de uma higiene bucal deficiente (PHANTUMVANIT et al., 2017; BERALDI, et al., 2020).

Cariogenicidade do leite materno

O leite materno é identificado como o nutriente ideal para os lactentes e a amamentação continuada é recomendada pelo menos até o primeiro ano de vida. A amamentação tem muitos benefícios bem estabelecidos para a mãe e para o bebé e é recomendada por governos, instituições científicas e de saúde em todo o mundo (Haag et al. 2019; Kato et al. 2015).

A literatura recente é bastante complexa quando relacionada às evidências de cariogenicidade do leite materno. Muitos estudos atribuem a ele o surgimento de cáries da primeira infância e muitos outros demonstram o contrário e defendem a sua não cariogenicidade, levando a crer que esta relação é complexa podendo ser confundida em muitas variáveis, citando principalmente o papel do Streptococcus mutans, má formação do esmalte, ingestão de açúcares e os Determinantes Sociais da Saúde (Araújo et al. 2020)

As pesquisas realizadas que buscavam constatar a fermentação e o crescimento bacteriano do leite humano e sua capacidade tamponadora, comprovaram que, in vitro não foi possível constatar crescimento expressivo de bactérias cariogênicas, contudo, a partir do momento que se suplementava com sacarose havia formação de lesão cariosa em espaço médio de 3 a 2 semanas, porém, de forma antagônica experimentos comprovaram que nenhum tipo de leite, inclusive o humano, seria capaz de inibir o crescimento de S. mutans ou de L. case. Admitindo assim, que no leite materno existiriam substâncias que inibiriam o crescimento de bactérias patogênicas, mas que sua confirmação exigiria talvez o isolamento de tais substâncias (Cawahisa et al. 2020).

Prevenção contra cárie precoce Higiene oral e flúor

As práticas atuais, apoiadas pela Direção-Geral da Saúde, recomendam a escovagem dentária duas vezes por dia com pasta dentífrica fluoretada (1.000-1.500ppm de flúor) para todas as crianças de comunidades com águas otimamente fluoretadas (como nas Regiões Autónomas) e deficientes em flúor (Vasconcelos et al. 2004).

Para crianças com menos de três anos de idade deve ser utilizada uma quantidade de pasta fluoretada do tamanho de um «grão de arroz». Dos três aos seis anos de idade é apropriada uma quantidade do tamanho de um grão de ervilha (MENDES et al., 2015).

Os pais devem colocar a pasta dentífrica numa escova macia, de tamanho adequado à idade e executar ou auxiliar a higienização dentária. Para maximizar o efeito benéfico do flúor da pasta dentífrica, o enxaguamento após a higienização deve ser reduzido ao mínimo ou completamente eliminado (Vasconcelos et al. 2004).

Alimentação

Um fator de risco associado à etiologia microbiana é o consumo frequente de açúcar. As práticas dietéticas cariogênicas parecem ser estabelecidas por volta dos doze meses de idade e são mantidas durante toda a infância. Apesar de a amamentação natural não estar consistentemente implicada com a CPI, a alimentação com leite materno em combinação com outros hidratos de carbono demonstrou altamente cariogênica (SANTOS, et al.,2013).

O consumo frequente de snacks e bebidas açucaradas entre as refeições aumenta o risco de cárie devido ao contacto prolongado entre os açúcares dos alimentos ou líquidos consumidos e bactérias cariogênicas sobre os dentes suscetíveis (Mendes et al. 2015).

Consequência da má alimentação na saúde bucal dos lactados e crianças

A prevenção e o controle da cárie dentária em dentes decíduos são desafiadores e esta condição é considerada um problema de saúde pública devido aos elevados custos para a sociedade e também ao impacto negativo na qualidade de vida das crianças afetadas e de seus familiares, a amamentação frequente pode aumentar o potencial cardiogênico, e a amamentação noturna também tem esse efeito, pois o fluxo salivar diminui durante o sono (Barbosa et al. 2021).

Segundo dados do Ministério da Saúde, a média anual de consumo de açúcar do brasileiro é de 30 Kg/ano, ou cerca de 80 g/dia, equivalentes a 6,5 colheres de sopa de açúcar por dia, consumo significativamente maior do que o recomendado pela OMS, que é de 18,2 kg/ano ou 50 gramas/dia, a obesidade infantil é considerada um grave problema de saúde pública em todo o mundo, sua ocorrência está intensamente associada a comorbidades, como resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia, que aumentam muito o risco de desfechos cardiovasculares na vida adulta (BRASIL, 2018).

A cárie precoce da infância é uma doença crônica que afeta a dentição decídua em crianças de 0 até 6 anos de idade, é uma doença com alta incidência em todo o mundo, a prevenção e o controle da cárie em dentes decíduos são desafiadores, sendo a condição considerada um problema de saúde pública devido aos seus altos custos sociais e impacto negativo na qualidade de vida das crianças acometidas e suas famílias (Barroso et al. 2021; Dias et al. 2018).

Apesar dos benefícios do aleitamento materno, há preocupações sobre impacto da amamentação materna prolongada no desenvolvimento da cárie dentária, as evidências sobre essa questão são limitadas pois muitos estudos que investigam essa associação falharam no controle de fatores de confusão, como ingestão alimentar  e  higiene bucal. Estudos têm demonstrado associação entre aleitamento materno e cárie dentária, padrão alimentar estabelecido por livre demanda, alimentação contínua ao longo do dia, mamadas prolongadas e mamadas noturnas frequentes, resultando no acúmulo de leite na superfície dos dentes, o que está associado com fluxo salivar reduzido e higiene bucal inadequada pode levar à cárie dentária (Barbosa et al. 2021; Barroso et al. 2021).

4 DISCUSSÃO

De acordo com os preceitos de Fejerskov et al. (2004) a cárie é considerada uma disbiose, pois é caracterizada pelo desequilíbrio da microbiota residente da cavidade bucal, tendo em vista que os microrganismos relacionados à doença estão presentes mesmo em situações de normalidade, não apresentando características de patogenicidade nos casos apresentados.  Em consonância com esses conceitos, Losso et al. (2009) afirmaram que a cárie na primeira infância, é uma doença crônica, caracterizada pela presença de um ou mais dentes decíduos cariados, perdidos (devido à cárie) ou restaurados em crianças com idade inferior aos 6 anos de idade. Ela pode causar grande destruição dos dentes decíduos e quando não tratada corretamente, pode haver complicações como pulpites agudas, abscessos, má́ oclusão, além de interferir na dentição permanente. 

A família tem um papel fundamental na educação da saúde bucal da criança, sendo assim, é indispensável começar a atuação em prevenção por eles, principalmente no período de gestação. Os responsáveis devem ser orientados desde o pré-natal odontológico sobre os problemas bucais, como sobre o controle da placa, a importância do flúor e os cuidados da higiene bucal do bebê (Araújo et al.,2018). Corroborando com esses princípios, de acordo com Santos et al. (2013), muitos estudos têm sido decisivos para ratificar e tentar prevenir a perda dos dentes decíduos. Tal fato se deve à associação com o surgimento de anormalidades de oclusão. Dentre as consequências da perda prematura dos dentes decíduos, pode-se citar:  migração dos dentes adjacentes para a região da perda, com redução ou fechamento do espaço para irrupção do sucessor permanente, encurtamento do arco dentário, extrusão de antagonistas, a ocorrência de inclinações de dentes adjacentes, podendo levar a um apinhamento dentário, à impactação dos dentes permanentes sucessores, distúrbios na fonética, dentre outros. 

Com relação a tratamentos, a (AAPD- Academia Americana de Odontopediatria, 2020) denotaram que as melhores práticas atuais para reduzir o risco de Cárie Precoce na Infância incluem a escovação duas vezes ao dia com creme dental fluoretado para todas as crianças em comunidades com fluoretação ideal e com deficiência de flúor. Ao determinar o risco-benefício do flúor, a questão principal é a fluorose leve versus a prevenção de doenças dentárias. Um esfregaço ou uma quantidade do tamanho de um arroz de pasta de dente fluoretada (aproximadamente 0,1 miligrama (mg) flúor deve ser usado para crianças com menos de três anos de idade. Uma quantidade de creme dental fluoretado do tamanho de uma ervilha (aproximadamente 0,25 mg de flúor) é apropriada para crianças de três a seis anos. Em concordância com essas pesquisas Bernardes et al. (2021) ratificaram que crianças de 0 a 6 anos de idade não percebem a importância da escovação, elas têm dificuldade para uma permanente remoção do biofilme dentário, diante disso é necessário que a criança tenha assistência dos pais e/ou responsáveis e seja orientada para que haja redução dos riscos de desenvolvimento da Cárie Precoce da Infância. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A orientação preventiva por um profissional da saúde é essencial para promoção em qualidade de vida da criança. Essa orientação deve fazer parte desde o pré-natal odontológico a gestante ou ser paralela a programas já existentes, como por exemplo, programas de vacinação, assim, reforçando sua continuidade com o cirurgião dentista a partir do primeiro dente do bebê para cuidados preventivos e abordagem educativas, com informações a respeito de etiologia, prevenção e a importância do cuidado com a saúde bucal da criança, a família e cuidados, principalmente a pessoas vulneráveis a esses meios, assim visando reduzir a CPI e contribuir para uma melhor qualidade de vida.

REFERÊNCIAS

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