CARACTERÍSTICAS PATOLÓGICAS DE MORMO EM EQUÍDEOS:  REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10183094


Aidimar Teixeira Ladeia Neto,
Fernanda Meira Tourinho Vianna,
Thales Almeida Sarmento Cavalcante,
Orientador: Me. Matheus Santos Marques.


RESUMO 

O mormo é uma doença infectocontagiosa que afeta principalmente os equinos, mas  também pode ocorrer em humanos, carnívoros e pequenos ruminantes. É causada  pela bactéria Burkholderia mallei e é considerada uma das doenças mais antigas dos  equinos. Embora tenha sido considerada erradicada no Brasil por algum tempo, o  mormo ressurgiu nas áreas rurais, tornando-se uma preocupação crescente. No  entanto, ainda há falta de conhecimento da sociedade sobre essa doença, mesmo o  mormo sendo zoonótica. Diante disso, o presente trabalho possui como objetivo  destacar as características patológicas do mormo em equídeos por meio de uma  revisão integrativa da literatura. A pesquisa foi baseada em artigos acadêmicos  encontrados em plataformas de pesquisa como Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),  Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico. Os descritores  utilizados para a busca dos artigos foram “doença infectocontagiosa”, “mormo”,  “equídeos” e “equinos”. Foram analisados 8 artigos científicos e, através dessa  revisão bibliográfica, foi possível obter informações sobre o mormo, incluindo formas  de contágio, prevenção e distribuição geográfica da doença. 

Palavras-chave: Mormo. Burkholderia mallei. Doença infectocontagiosa. Equídeos.

ABSTRACT 

Glanders is an infectious and contagious disease that primarily affects horses but can  also occur in humans, carnivores, and small ruminants. It is caused by the bacterium  Burkholderia mallei and is considered one of the oldest diseases in horses. Although it was once considered eradicated in Brazil, glanders has reemerged in rural areas,  becoming a growing concern. However, there is still a lack of public knowledge about  this disease, despite its zoonotic nature. Therefore, the aim of this study is to highlight  the pathological characteristics of glanders in equids through an integrative literature  review. The research was based on academic articles found on platforms such as the  Virtual Health Library (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), and Google  Scholar. The search terms used for article retrieval were “infectious and contagious  disease,” “glanders,” “equids,” and “horses.” Eight scientific articles were analyzed,  and through this bibliographic review, information about glanders, including modes of  transmission, prevention, and geographical distribution of the disease, was obtained. 

Keywords: Glanders. Burkholderia mallei. Contagious disease. Equids.

1 INTRODUÇÃO 

O mormo, caracterizado como uma doença infectocontagiosa, é causada  pela bactéria Burkholderia mallei, um patógeno intracelular obrigatório, podendo  variar de agudo a crônico. Embora afete principalmente equídeos, a saber: equinos,  asininos e muares, também pode se estender a animais silvestres, carnívoros,  pequenos ruminantes e até mesmo ao ser humano, tornando-se, assim uma  zoonose (FERRAREZI et al., 2020). O ser humano para Petineli, Santos,  Blankenheim (2020) é considerado um hospedeiro acidental dessa enfermidade.  

Ela é altamente contagiosa e fatal, podendo ser transmitida por via oral,  respiratória ou cutânea (PETINELI; SANTOS; BLANKENHEIM, 2020). É uma das  doenças mais antigas conhecidas nos equídeos e foi provavelmente introduzida no  Brasil, através de importações de cavalos infectados trazidos da Europa, para o  Exército Brasileiro, no final do século XIX (HENRICH et al, 2019). Inicialmente, era  conhecida por vários nomes, como catarro de burro, lamparão, catarro de mormo,  garrotilho atípico e cancro nasal (SOUZA; ESTELUTI; BOVINO, 2020). 

No passado, o mormo era comum em várias regiões do mundo devido à  popularidade dos equinos, porém, com o passar do tempo, houve uma redução  significativa no uso desses animais como forma de transporte, o que resultou em  uma diminuição na incidência da doença (HENRICH et al., 2019). Hoje, encontra se erradicado em muitos países, mas infelizmente o Brasil não se enquadra nessa  situação, visto que nos últimos anos, a doença tem ocorrido de forma praticamente  endêmica, especialmente nos estados nordestinos, recuperando o status de  doença reemergente (FERRAREZI et al., 2020). 

As lesões ulcerativas na pele e nas membranas mucosas são características  principais do mormo. Devido à sua alta morbidade e letalidade, é considerada uma  zoonose grave, sendo obrigatória a sua notificação para a Organização Mundial de  Saúde Animal (OIE). Já, o seu o agente epidemiológico Burkholderia mallei, é um  patógeno de grande interesse em termos de biossegurança, devido à sua possível  utilização como arma biológica em atos de bioterrorismo, além de apresentar um  alto potencial de disseminação (PETINELI; SANTOS; BLANKENHEIM, 2020;  MEURER, 2021).

Mesmo o mormo sendo zoonótica, devido à falta de conhecimento sobre a  doença, a maioria da população põe em risco a sua saúde quando entram em  contato com animais enfermos, ou seja, é uma doença negligenciada e em várias  partes do mundo é subnotificada (MEURER, 2021; RAMOS et al., 2021). Por isso,  o presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão integrativa da doença  mormo em equídeos, evidenciando as suas características patológicas e a  importância do conhecimento sobre essa zoonose não só para a medicina  veterinária, como também para a sociedade, pois apresenta um risco à saúde  pública que requer medidas de prevenção adequadas. 

2 METODOLOGIA 

Para a realização deste trabalho, optou-se pela utilização da pesquisa de  levantamento bibliográfico, através de uma revisão integrativa de natureza  descritiva-discursiva. A revisão integrativa é uma modalidade que realiza uma  pesquisa ampla, sendo muito utilizada na área de saúde. Ela fornece subsídios para analisar estudos relevantes que possuem evidências e conhecimentos científicos  sobre o tema, utilizando abordagens qualitativas e quantitativas, literaturas  empíricas e teóricas, fornecendo um panorama completo sobre os conceitos da  temática (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). 

A pesquisa foi realizada no mês de junho, através das plataformas: Biblioteca  Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google  Acadêmico; e, utilizou-se artigos obtidos através do cruzamento dos descritores  “doença infectocontagiosa”, “mormo”, “equídeos” e “equinos”. Como critério de  inclusão, encontra-se todos os artigos publicados entre 2018 e 2023, período de 5  anos, disponíveis de forma gratuita e integralmente online. Já, como critério de  exclusão, tem-se os artigos de temáticas diferentes, duplicados e incompletos. 

A revisão integrativa se delimitou nas seguintes etapas: seleção da amostra  através de buscas em bases de dados, avaliação dos estudos segundo os critérios  através da leitura do título, resumo e resultados, categorização das informações  dos artigos, interpretação e análise dos dados e, por fim, a apresentação dos  resultados. Assim, de 37 artigos avaliados, 10 foram selecionados e contribuíram  para a elaboração do trabalho.

Fluxograma 1 – Seleção dos artigos.

Fonte: AUTORES, 2023.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A amostra para essa revisão integrativa da literatura foi composta por 8  artigos, onde um foi publicado em 2019, três em 2020, três em 2021 e um em 2023.  Todos são voltados para o estudo da zoonose mormo, bem como o seu agente  bacteriano Burkholderia mallei. Em relação ao tipo de estudo, majoritariamente  foram de revisão bibliográfica, sendo sete, e um foi estudo transversal, vale  ressaltar que todos os estudos foram realizados no Brasil. A Tabela 1 apresenta os  resultados, no qual os artigos utilizados foram sintetizados conforme ano, autor,  título, objetivo e delineamento do estudo. 

Segundo Costa et al. (2023), o pai da Medicina, Hipócrates, descreveu  sintomas em equinos que indicavam estar relacionados ao mormo entre os séculos  III e IV a.C., mais especificamente no ano de 425 a.C., com isso, essa patologia é  considerada uma das mais antigas doenças que afetam equídeos. Originalmente,  o mormo é uma doença endêmica nas regiões da Europa Oriental, Meio-Oeste e  Sudeste Asiático. No entanto, casos esporádicos têm sido observados também em  países ocidentais, como no Brasil (COSTA et al., 2023). Portanto, o mormo foi  classificado como um patógeno reemergente, representando um risco crescente de  infecções em seres humanos. 

O mormo é uma doença zoonótica causada pela bactéria Burkholderia  mallei, um cocobacilo gram-negativo. Essa bactéria é aeróbia estrita, não  esporulada, imóvel e possui uma espessura de aproximadamente 0,5mm. Sua  morfologia pode variar dependendo das condições de cultivo. A doença afeta  principalmente equídeos, incluindo equinos, asininos e muares, que são os  reservatórios naturais da infecção. No entanto, outras espécies também podem ser  afetadas, como pequenos ruminantes, cães, gatos e até mesmo seres humanos  (FERRAREZI et al., 2020; COSTA et al., 2023). 

A Figura 1 ilustra o cultivo microbiológico da bactéria Burkholderia mallei em  ágar com 5% de sangue ovino. Observa-se que as colônias são pequenas,  mucosas, de cor acinzentada e não apresentam hemólise.

Tabela 1 – Artigos utilizados na revisão.

ArtigoAutorAnoTítuloObjetivoDelineamento
1ROSADO2018Caracterização
epidemiológica do mormo
em equídeos no estado da
paraíba com base em dados
secundários
Caracterizar o mormo na Paraíba,
demonstrando a distribuição geográfica da
doença no Estado
Estudo transversal
2HENRICH et al2019Mormo em equinos: revisão
de literatura
Caracterizar os aspectos epidemiológicos,
etiopatológicos e clínicos do mormo
Revisão de
literatura
3FERRAREZI;
BIFFI;
CAZAROTO;
KLAIN; LIMA
2020Burkholderia mallei e o
mormo
Revisar a literatura disponível sobre o
mormo, ressaltando o agente etiológico da
doença, e discutindo sobre sua importância
na Medicina Veterinária
Revisão de
literatura
4PETINELI; DOS
SANTOS;
BLANKENHEIM
2020Mormo em equinos: uma
revisão
Revisar a etiologia, epidemiologia,
patogenia, sinais clínicos, diagnóstico,
tratamento, prevenção e controle da bactéria
Burkholderia mallei
Revisão de
literatura
5SOUZA;
ESTELUTI;
BOVINO
2020Retrospectiva da incidência
e legislação vigente de
mormo no Brasil
Relatar a incidência de mormo no Brasil,
desde seu primeiro caso até os mais
recentes confirmados, e as exigências da
legislação vigente de controle
Revisão de
literatura
6GOMES; DA
SILVA; FERREIRA
2021Doenças de notificação
obrigatória de relevância em
equídeos no Brasil
Apontar as principais doenças
infectocontagiosas que mais acometem
equídeos no Brasil
Revisão de
literatura
7MEURER2021Mormo, uma zoonose
reemergente: aspectos
gerais e principais
ferramentas de diagnóstico
Descrever os aspectos gerias do mormo,
apresentar dados recentes sobre sua
epidemiologia no mundo e no Brasil
Revisão de
literatura
8RAMOS et al2021Avaliação epidemiológica do
mormo no Brasil
Analisar o perfil epidemiológico do mormo no
Brasil, no período de 2010 a 2019
Estudo transversal
9CARVALHO2022Identificação dos fatores de
manejo associados à
ocorrência do Mormo em
equídeos no Nordeste do
Brasil
Realizar um estudo epidemiológico da
infecção por Burkholderia mallei em
equídeos procedentes de propriedades nos
estados de Pernambuco e Alagoas
Revisão de
literatura
10COSTA et al2023Aspectos gerais sobre o
mormo e seu impacto na
saúde pública: revisão de
literatura
Abordar os aspectos gerais do mormo,
desde o histórico ao estabelecimento da
doença em animais e humanos, ressaltando
a importância desta zoonose na saúde
pública
Revisão de
literatura
Fonte: AUTORES, 2023.

Figura 1 – Cultivo microbiológico da Burkholderia mallei.

Fonte: CARVALHO, 2022.

Os humanos geralmente são hospedeiros acidentais da infecção, podendo  ocorrer por inoculação cutânea, inalação ou, na maioria dos casos, por contato  direto com animais infectados, carcaças ou exposição em laboratório, podendo  causar pneumonia e infecções mais graves. O mormo é altamente contagioso para  os equídeos e pode ser fatal para os seres humanos (MEURER, 2021; RAMOS et  al., 2021). 

O primeiro relato documentado da presença do mormo no Brasil ocorreu em  1811, na Ilha de Marajó, suspeitas apontam que a doença foi introduzida por  animais importados da Europa. Na época, vários surtos de epizootias ocorreram  em todo o país, afetando muares, cavalos e até mesmo seres humanos, que  apresentaram sintomas de catarro e cancro nasal (PETINELI; SANTOS;  BLANKENHEIM, 2020).  

Com o objetivo de controlar os surtos, foram contratados profissionais de  medicina veterinária franceses. No entanto, os prejuízos e perdas no rebanho foram  significativos. Após muitos relatos da ocorrência da doença em equídeos e  humanos, parecia que o mormo havia sido erradicado no Brasil na década de 60.  A última ocorrência registrada da doença foi em 1968, na cidade de São Lourenço da Mata, em Pernambuco. No entanto, após um período de 30 anos, foram  notificados novos casos da doença em 1999, nos estados de Alagoas e  Pernambuco (SOUZA; ESTELUTI; BOVINO, 2020; COSTA et al., 2023). 

A Burkholderia mallei é um patógeno intracelular obrigatório, o que significa  que depende de um hospedeiro para sobreviver. Além disso, é sensível à luz solar,  calor e desinfetantes comuns, como iodo e etanol. Em ambientes úmidos, pode  sobreviver por um período de 3 a 5 semanas no máximo. No entanto, esse bacilo  é destruído em apenas 10 minutos quando exposto a uma temperatura de 55°C.  As infecções causadas por essa bactéria podem variar de agudas a crônicas  (FERRAREZI et al., 2020; MEURER, 2021). 

Henrich et al. (2019) e Petineli, Santos e Blankenheim (2020) destacam que  a idade é um fator importante no surgimento da forma crônica da infecção natural,  sendo mais prevalente em animais idosos e debilitados devido às más condições  de manejo e estresse. No entanto, Souza, Esteluti, Bovino (2020) e Ramos et al.  (2021) discordam, apontando que os equídeos de todas as idades e sexos são  suscetíveis à infecção, mas concordam quanto a maior probabilidade de ocorrer  quando o animal é exposto a condições predisponentes, como estresse, má  alimentação e habitação em ambientes contaminados. 

O agente Burkholderia mallei penetra na mucosa intestinal e, em seguida,  alcança a corrente sanguínea, resultando em septicemia e, posteriormente,  bacteremia. O microrganismo pode ser encontrado nos pulmões, bem como na pele  e na mucosa nasal. Nos animais infectados, formam-se lesões primárias no local  de entrada (faringe), que se espalham para o sistema linfático, onde causam lesões  nodulares. Lesões metastáticas também podem ocorrer nos pulmões e em outros  órgãos, como baço, fígado e pele. No septo nasal, podem ocorrer lesões primárias  de origem hematógena ou secundária a um foco pulmonar (HENRICH et al., 2019). 

Os sinais clínicos comuns do mormo incluem febre, tosse e corrimento nasal.  As lesões nodulares podem evoluir para úlceras e, após a cicatrização, formar  lesões em forma de estrela. Essas lesões ocorrem principalmente na fase crônica  da doença, que pode se manifestar de três formas diferentes: cutânea, linfática e  respiratória. No entanto, um mesmo animal pode apresentar todas essas formas ao  mesmo tempo. O período de incubação do mormo pode variar de três dias a meses,  e na fase aguda pode ocorrer edema na região peitoral e levar o animal à morte em 48 horas. A doença também pode causar septicemia na fase aguda e apresentar  sintomas como pneumonia crônica, tosse, dispneia, febre, apatia e caquexia na  fase crônica (HENRICH et al., 2019; SOUZA; ESTELUTI; BOVINO, 2020;  PETINELI; SANTOS; BLANKENHEIM, 2020; RAMOS et al., 2021). 

Na forma nasal do mormo, o animal pode apresentar inicialmente um  corrimento nasal seroso, que pode ser unilateral, e com o tempo evoluir para uma  secreção purulenta de cor amarelada a purulenta hemorrágica. Essa secreção pode  se tornar bilateral. Nos casos crônicos da doença, os equinos afetados podem ter  tosse acompanhada de sangramento nasal (epistaxe) e dificuldade respiratória  (dispneia). Além disso, podem apresentar lesões no septo nasal, secreção nasal  purulenta e congestão. Esses sinais clínicos variam de acordo com a via de  infecção (PETINELI; SANTOS; BLANKENHEIM, 2020; GOMES; SILVA;  FERREIRA, 2021). 

Na Figura 2, pode-se observar o corrimento nasal em equinos afetados pelo  mormo. Na imagem (A), é possível ver um corrimento nasal mucopurulento. Já na  imagem (B), o corrimento nasal mucopurulento está associado a crostas. 

Figura 2 – Corrimento nasal em equinos com mormo. 

Fonte: ROSADO, 2018. 

Já, na Figura 3, pode-se observar um caso de mormo cutâneo em um  equino. Na imagem (A), são visíveis nódulos cutâneos e edema no membro pélvico direito, resultante de uma linfangite. Na imagem (B), na região caudal da coxa,  pode-se observar úlceras multifocais e coalescentes.  

Figura 3 – Mormo cutâneo em um equino.

Fonte: ROSADO, 2018.

Nesse sentido, o diagnóstico do mormo consiste na avaliação dos aspectos  clínicos, epidemiológicos, anatômicos e histopatológicos, além da identificação da  bactéria Burkholderia mallei por meio de isolamento ou métodos moleculares.  Testes sorológicos como a Fixação do Complemento (FC) e Ensaio de  Imunoabsorção Enzimática (ELISA), também são utilizados, assim como a reação  imunoalérgica (maleinização). O Ministério da Agricultura, Pecuária e  Abastecimento (MAPA) recomenda a realização dos testes de fixação do  complemento e maleinização para fins de diagnóstico e controle da doença. No  entanto, todos os testes sorológicos podem apresentar resultados imprecisos até  seis semanas após a realização do teste de maleína (HENRICH et al., 2019;  FERRAREZI et al., 2020).  

A portaria n°35 de 17 de abril de 2018 estabelece que os testes oficiais para  o diagnóstico laboratorial do mormo são a FC ou ELISA, podendo ser complementados pelo teste de Western Blotting (WB). O Ministério estabelece que  o teste de FC e o ELISA sejam realizados por laboratórios credenciados, enquanto  o exame de WB deve ser realizado apenas pelo laboratório do Serviço Veterinário  Oficial (SVO). A maleinização e a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ainda  podem ser utilizadas em situações específicas com autorização do Ministério  (FERRAREZI et al., 2020; PETINELI; SANTOS; BLANKENHEIM, 2020; COSTA et  al., 2023). 

A bactéria Burkholderia mallei possui alta resistência a antibióticos devido à  presença de 33 genes em seu genoma (FERRAREZI et al., 2020). Não há vacinas  eficazes para prevenir a infecção por essa bactéria em animais ou humanos. O  tratamento com antibióticos é proibido pelo MAPA devido ao risco de transmissão  para humanos (PETINELI; SANTOS; BLANKENHEIM, 2020; HENRICH et al.,  2019). Em áreas endêmicas, os animais suscetíveis devem ser isolados e  afastados de outros, evitando o compartilhamento de utensílios. As instalações  devem ser mantidas em quarentena, com limpeza e desinfecção adequada  (FERRAREZI et al., 2020). 

Os animais reagentes positivos devem ser submetidos a testes de rotina ou  eutanásia para contribuir para a erradicação da doença. A disseminação da doença  ocorre principalmente pela secreção oral e nasal, através da contaminação de  forragens, bebedouros e cochos. A infecção por inalação de partículas não é  comum. O mormo não tem cura, e animais positivos devem ser sacrificados e os  materiais contaminados devem ser incinerados ou enterrados no local (PETINELI;  SANTOS; BLANKENHEIM, 2020; RAMOS et al., 2021). 

Segundo o MAPA, o mormo está presente em vários estados brasileiros,  incluindo Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba,  Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe (FERRAREZI et al.,  2020). Ele ainda que suspeitas de mormo em animais sejam informadas às  autoridades competentes, como as Secretarias Estaduais de Agricultura e/ou o  próprio MAPA, e também ao Ministério da Saúde. O mormo é uma doença de  notificação obrigatória no Brasil, e ações coordenadas são realizadas pelo  Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE) (GOMES; SILVA;  FERREIRA, 2021). 

A notificação é importante devido à falta de vacinas eficazes e tratamentos,  além do potencial zoonótico. Souza, Esteluti e Bovino (2020) expressam que entre  2006 e 2015, foram registrados 582 casos de mormo no Brasil, com uma média de  58 casos por ano, onde a região Nordeste concentrou a maioria dos casos, o que  pode ser explicada pela grande quantidade de equídeos utilizados no transporte da  cana-de-açúcar, que não recebem o manejo sanitário adequado. Além disso, esses  animais são mantidos em ambientes coletivos com pouca ventilação e alta  umidade, o que facilita a disseminação da bactéria. 

Na Bahia, o primeiro registro de mormo ocorreu em 2012, e o último surto  significativo foi em 2019, em uma fazenda ilegal de criação de jumentos para abate  e exportação de carne, localizada em Euclides da Cunha. Durante o surto, dois  animais infectados foram sacrificados e a propriedade foi temporariamente  interditada. Também foram relatados casos de mormo em Feira de Santana no  mesmo ano. No primeiro semestre de 2023, foram registradas vinte ocorrências,  com seis animais testando positivo para mormo, dois testando negativo e sete  aguardando resultados (G1, 2019; ADAB, 2023). 

4 CONCLUSÃO 

Durante o desenvolvimento do estudo, foi observado que o mormo é uma  doença grave, de natureza infectocontagiosa, que afeta principalmente os equídeos  e, ocasionalmente, os humanos, tornando-se uma zoonose. Devido à sua alta  capacidade de contaminação, a bactéria Burkholderia mallei representa um grande  risco para a saúde em geral. Portanto, é necessário implementar uma rigorosa  fiscalização, incluindo o monitoramento ativo dos animais e o controle  epidemiológico, identificando áreas de foco e interditando zonas suspeitas, a fim de  controlar a endemia no país. 

Quando os animais apresentarem qualquer sinal de suspeita, é importante  colocá-los em quarentena e isolá-los de outros animais até que um diagnóstico seja  obtido. Se confirmado, as medidas de profilaxia e controle incluem a limpeza  adequada do local, além da eutanásia e incineração da carcaça do animal. A  legislação atual de controle e erradicação da doença estabelece novos testes,  como o FC ou ELISA e o WB, para triagem e confirmação, respectivamente. A utilização desses métodos de diagnóstico reduz os resultados falso-positivos e  inconclusivos, tornando o diagnóstico mais preciso e eficiente. 

Diante disso, é crucial implementar medidas de controle afim de evitar a  propagação da enfermidade no país. Vale ressaltar, que existem poucos estudos  epidemiológicos disponíveis na literatura sobre o mormo, tanto no Brasil quanto no  mundo, em comparação com outras doenças infecciosas. Aliado a isso, a falta de  um tratamento eficaz, destaca a importância da disseminação de informações  sobre a doença, a fim de prevenir novos casos. Assim, é necessário aumentar a  divulgação e a conscientização sobre a ocorrência do mormo no Brasil, com o  objetivo de facilitar a implementação de medidas preventivas, controle e  investigação, reduzindo os danos causados por essa doença. 

REFERÊNCIAS 

ADAB. Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia. Boletim de  informação zoossanitária e epidemiologia: primeiro semestre/2023. Disponível  em: http://www.adab.ba.gov.br/wp-content/uploads/BOLETIM-DE-INFORMACAO ZOOSANITARIA-E-EPIDEMIOLOGIA_2023_1sem.pdf. Acesso em: 02 out. 2023. 

CARVALHO, J. C. S. Identificação dos fatores de manejo associados à  ocorrência do Mormo em equídeos no Nordeste do Brasil. 2022. Dissertação  (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal Rural de Pernambuco,  Recife, 2022. 

COSTA, Maria Lucília Machado da et al. Aspectos gerais sobre o mormo e seu  impacto na saúde pública: revisão de literatura. Rev. Univer. Bras., v.1, n.2. p.  27-34, 2023. 

FERRAREZI, B. F.; BIFFI, B. M.; CAZAROTO, B. A.; KLAIN, P.; LIMA, S. R.  Burkholderia mallei e o mormo. Revista Intellectus, v. 56, n. 1, p. 91-100, 2020. 

G1. Após surto entre jumentos criados para exportação de carne, doença do  mormo é controlada na Bahia. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/09/21/apos-surto-entre-jumentos criados-para-exportacao-de-carne-doenca-do-mormo-e-controlada-na bahia.ghtml. Acesso em: 02 out. 2023.  

GOMES, L. R.; DA SILVA, G. R.; FERREIRA, A. L. M. Doenças de notificação  obrigatória de relevância em equídeos no Brasil. Enciclopédia Biosfera, Centro  Científico Conhecer, v.18, n.35, p. 81-95, 2021.

HENRICH, Katyaline et al. Mormo em equinos: revisão de literatura. XXIV  Seminário Interinstitucional de ensino, pesquisa e extensão, p. 1-4, 2019. 

MEURER, Igor Rosa. Mormo, uma zoonose reemergente: aspectos gerais e  principais ferramentas de diagnóstico. Brazilian Journal of Health Review, v.4,  n.6, p. 29533-29550, 2021.  

PETINELI, T. J. C.; DOS SANTOS, P. M. M. C.; BLANKENHEIM, T. M. Mormo em  equinos: uma revisão. Unilago, v. 1, n. 1, p. 1-10, 2020. 

RAMOS, Lorrany Maria Mota et al. Avaliação epidemiológica do mormo no Brasil.  Research, Society and Development, v. 10, n. 13, e446101321466, 2021. 

ROSADO, Filipe. Caracterização epidemiológica do mormo em equídeos no  estado da Paraíba com base em dados secundários. 2018. Dissertação  (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal da Paraíba, 2018.  

SOUZA, G. D.; ESTELUTI, J. G. S.; BOVINO, F. Retrospectiva da incidência e  legislação vigente de mormo no Brasil. Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1,  p. 13-17, 2020. 

SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como  fazer. Einstein, v. 8, n. 1, p. 102-106, 2010.