CARACTERÍSTICAS DO APOIO SOCIAL E CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS ASSISTIDOS EM UNIDADES DE ATENÇÃO BÁSICA NO MUNICIPIO DE LINS: ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO PARA IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248291131


Pizzighini, Rosangela Badine
Orientador: Carvalhaes, Maria Antonieta de Barros Leite
Orientador : Corrente, José Eduardo


RESUMO

Introdução: Objetivo: Avaliar grau de independência, aspectos psicossociais e de saúde de idosos assistidos pela rede de atenção básica à saúde de Lins. Justificativa: Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo transversal, descritivo realizado no município de Lins, estado de São Paulo, com a população idosa atendida pelas Unidades Básicas de Saúde. Resultados e Discussões: Considerações finais: Em síntese, as frequências de situações adversas, variam entre 20 e 35%, perfil que justifica a adoção de medidas programáticas de rastreamento, diagnóstico e cuidado destes importantes aspectos da saúde dos idosos, sendo os mais velhos, sem companheiro, com baixa escolaridade e com piores escores de apoio social os prioritários para tais intervenções.

INTRODUÇÃO

Do ponto de vista demográfico, segundo Carvalho e Andrade (2000, p. 82), no plano individual envelhecer significa aumentar o número de anos vividos. Mas paralelamente a esta evolução cronológica, e incidindo sobre ela, coexistem fenômenos de natureza biopsíquica e social, importantes para a percepção da idade e do envelhecimento. Diferentemente do que acontece em outras civilizações, nas sociedades ocidentais é comum associar o envelhecimento com a saída da vida produtiva pela via da aposentadoria. 

Analisando esse processo do ponto de vista biopsíquico, a Organização Pan-americana de Saúde apresenta a seguinte definição: 

Envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. (BRASIL, 2006).

Já no que se refere à faixa etária e de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), idoso é aquele indivíduo de 60 anos ou mais. Dado importante a considerar é o fato de que o numero de pessoas nessas condições tem aumentado em muitos países.

Com o aumento de idosos na população, têm surgido inúmeros problemas sociais, políticos e econômicos, significando maiores custos e gastos médico-sociais, como também maior necessidade de suporte familiar e comunitário. 

Desse modo, este segmento da população tem necessidade de cuidados de longa duração devido à maior prevalência de doenças crônico-degenerativas, com consequentes incapacidades, notando-se que idosos não apenas requerem a assistência médica, mas abarcam também medidas de amparo social e econômico.

Verifica-se, também, como fator agravante, o fato de que pessoas envelhecidas, mesmo as que têm boa saúde, debilitam-se paulatinamente devido às alterações fisiológicas que acontecem com o avanço da idade e limitam as funções do organismo, tornando-as cada vez mais predispostas à dependência para realização do autocuidado, à perda da autonomia e de qualidade de vida.

OBJETIVO GERAL

Avaliar grau de independência, aspectos psicossociais e de saúde de idosos assistidos pela rede de atenção básica à saúde de Lins.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  1. Caracterizar os idosos quanto a fatores demográficos e socioeconômicos: sexo, idade, escolaridade, renda familiar, situação conjugal e arranjo domiciliar.
  2. Avaliar os idosos quanto a parâmetros de independência, saúde e apoio social: grau de independência para atividades básicas e instrumentais da vida diária; estado cognitivo/mental; capacidade funcional; presença de depressão; auto avaliação de saúde; disponibilidade de apoio social, (material, emocional, afetivo, de informação e de interação social positiva) e escore global de apoio social.
  3. Identificar a presença de associação dos parâmetros de independência e saúde com fatores demográficos (sexo, idade, situação conjugal e arranjo familiar), socioeconômico (escolaridade) e apoio social.

JUSTIFICATIVA

Considerando a situação epidemiológica e demográfica descrita nesta introdução e as políticas brasileiras de saúde dos idosos também já apresentadas, é possível afirmar que aos municípios cabe um papel importante na atenção à sua saúde e bem- estar . No contexto do município de Lins, o reconhecimento deste papel levou a Secretaria Municipal de Saúde local a solicitar aos profissionais de enfermagem, por meio de sua equipe um projeto para instituir um serviço de atenção multidisciplinar ao idoso, modalidade Centro-Dia. Para elaborar esse projeto, a referida equipe identificou a necessidade de conhecer essa população – alvo existente no município e dimensionar a parcela em situação de vulnerabilidade, ou seja, potencialmente exposta a limitações e situações adversas que poderiam ser minimizadas por serviços como o que se pretende criar. Estes dados também serão úteis ao planejamento e avaliação de ações de saúde no âmbito da atenção básica. Assim, surgiu o presente projeto de pesquisa, cujos objetivos são apresentados a seguir.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo transversal, descritivo realizado no município de Lins, estado de São Paulo, com a população idosa atendida pelas Unidades Básicas de Saúde.

A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas, em domicílio, de setembro a dezembro de 2008. Os entrevistadores foram 109 agentes comunitários de saúde, profissionais de saúde com escolaridade mínima igual ao segundo grau completo, e que residiam nas áreas adstritas às unidades básicas de saúde. Estes profissionais tinham experiência em visitas domiciliares e familiaridade com os idosos estudados. Previamente ao início do estudo, foram treinados (com 8 horas de treinamento envolvendo leitura dos instrumentos e simulação das entrevistas) pela autora desta dissertação. A supervisão diária da coleta de dados foi realizada pelos enfermeiros do PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde) e a supervisão geral pela autora do estudo.

As entrevistas foram revisadas, eventuais dúvidas foram prontamente esclarecidas e, quando necessário, o entrevistador retornou ao domicílio para esclarecimentos ou correções. Após a revisão, os dados foram digitados (no programa Excell) por profissional com experiência em construção e digitação de bancos de dados. Cerca de 5% dos questionários tiveram sua digitação conferida, observando-se boa qualidade da digitação.

Após análise de consistência, mediante comparação de questões relacionadas, os dados foram processados com o programa SPSS-12.0, sendo apresentadas as distribuições de frequências de idosos segundo os estratos das variáveis categóricas e, quando pertinentes, foram apresentadas estatísticas descritivas (média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo). 

Os dados foram analisados de maneira a permitir identificar a magnitude de subgrupos de idosos expostos a condições desfavoráveis em cada domínio avaliado. 

As associações de interesse foram pesquisadas mediante análises univariadas e a significância estatística, avaliada pelos testes qui-quadrado e qui-quadrado de tendência linear, adotando-se p<0,05 como nível crítico.

Resultados e Discussões

As características dos idosos estudados estão apresentadas de forma a caracterizar as amostrar obtidas. Predominaram idosos com idade entre 60 e 69 anos (47,0%), apenas 14,0% da amostra tinha 80 ou mais anos de idade. Nota-se também maior presença de mulheres (63,4%), de indivíduos que viviam com o companheiro (53,3% eram casados ou viviam em união consensual). Parcela significativa dos idosos estudados eram viúvos (33,9%), solteiros (6,8%) e divorciados (6,0%). Os arranjos familiares variaram quanto ao número: 18,6% dos idosos viviam sós, 42,0% em famílias com duas pessoas, 21,4% com quatro ou mais indivíduos. Do ponto de vista socioeconômico, a amostra foi constituída por idosos de baixa escolaridade (21,9% analfabetos, 68,5% com até três anos de estudo), baixa renda, sendo que cerca de 90% foram classificados como pertencentes às classes D e E. Finalizando a caracterização da amostra, quanto à avaliação de sua própria saúde, os idosos estudados, majoritariamente, consideraram-na boa, muito boa ou excelente (79,7%), apenas cerca de 20% a classificaram como ruim ou muito ruim. 

Apresentam-se os resultados da avaliação dos idosos quanto ao grau de independência para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, capacidade cognitiva/estado mental, capacidade funcional e presença de depressão. Mais de 90% apresentaram independência para a realização das atividades básicas da vida diária, frequência que caiu para 65,3% quando consideradas as atividades instrumentais de vida diária. A proporção de idosos totalmente dependentes para as AVDs foi de 1,9% (7 indivíduos) e para as AIVDs de 6,3% (23 idosos). Taxas mais negativas foram observadas na avaliação cognitiva/mental e funcional: a proporção de idosos com deficit cognitivo ou com declínio funcional foi de cerca de 25%, sendo que 15,0% apresentaram ambos os deficits, ou seja, eram idosos com algum grau de demência. Excluídos estes últimos, foram apontados como potencialmente deprimidos (GDS-15 maior ou igual a 6), 32,5% dos idosos.   

As estatísticas descritivas dos resultados da avaliação dos idosos pelos diversos parâmetros, quando consideradas as variáveis de forma contínua. Notam-se médias e medianas próximas entre si e valores mínimos e máximos iguais às variações de pontuação possíveis para os instrumentos AVD, AIVD, MEEM e QPAF. Já para os resultados da aplicação do GDS-15, a variação foi de 0 a 13, ou seja, nenhum idoso pontuou nos extremos superiores da escala, 14 ou 15. 

Em termos de grupo, a avaliação da disponibilidade e acesso à rede de apoio social mostrou situação positiva, com escores médios em torno de 80% para as dimensões apoio material e emocional e escore médio igual a 86% para apoio afetivo. Valores médios menores foram obtidos para as dimensões apoio de informação e interação social positiva (o mais baixo, 72,4%), sendo que o escore global de apoio social médio foi de 79,3%, com mediana de 83,2%. No caso da avaliação da disponibilidade de apoio social, não há um ponto de corte que separe os indivíduos em situação de mais risco de prejuízos à saúde. Com vistas a avaliar uma possível relação entre os parâmetros estudados e apoio social, foram criadas categorias de apoio, de acordo com os quartis do escore de apoio total. 

Os resultados das análises realizadas para identificar fatores -características demográficas e socioeconômicas- associados a resultados adversos (dependência, déficit cognitivo, declínio funcional e presença de depressão) são apresentados, a seguir. 

Observou-se apenas associação entre sexo e grau de independência para as atividades instrumentais da vida diária (AIVD), sendo a situação dos homens mais desfavorável. Com relação aos demais parâmetros avaliados, não houve diferenças entre homens e mulheres.

A escolaridade associou-se inversamente com resultados adversos relativos à saúde e à capacidade cognitiva e funcional dos idosos. A proporção de idosos com algum grau de dependência para desempenho das atividades instrumentais da vida diária foi maior entre indivíduos com baixa escolaridade. Resultados semelhantes foram observados para a presença de déficit cognitivo e de declínio funcional: entre indivíduos com até 3 anos de escolaridade a frequência de déficits foi cinco e dez vezes maior do que naqueles com 8 ou mais anos de escolaridade para os dois tipos de déficits, respectivamente. Não houve associação entre escolaridade e indícios de depressão, bem como com grau de independência para as atividades básicas da vida diária (AVD), com autoavaliação de saúde e com quartil de apoio social. 

São descritos os resultados das análises destinadas a investigar a associação entre a situação conjugal do idoso e grau de independência para as AVD e AIVD, estado cognitivo/mental e funcional, presença de depressão e autoavaliação de saúde.  Destaca-se que entre viúvos foi maior a proporção de indivíduos dependentes para as atividades instrumentais de vida diária (AIVD) e com déficit cognitivo. Também se observou mais idosos com declínio funcional no grupo de viúvos, mas estes resultados não foram estatisticamente significantes. Não houve associação entre situação conjugal e independência para as atividades básicas de vida diária (AVD), presença de indícios de depressão e autoavaliação de saúde. A situação conjugal influiu sobre a adequação do apoio social, sendo maior a proporção de indivíduos no primeiro quartil do escore de apoio entre solteiros e divorciados, em comparação com casados/união consensual e com viúvos. 

Houve clara associação entre idade e capacidade cognitiva/mental dos idosos, sendo maior a proporção de indivíduos com déficit cognitivo e com declínio funcional no grupo com 80 ou mais anos de idade. Mais de 40% dos idosos desta faixa etária apresentaram déficits. Houve associação linear inversa entre idade e grau de independência para as AIVD: 2,3%; 6,3%; 19,6% de indivíduos totalmente dependentes nas faixas etárias de 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 anos ou mais, respectivamente. 

Em relação aos resultados das análises para detectar associação entre classe econômica e situação dos idosos. Pode-se observar que não houve associação entre classe econômica e situação dos idosos em relação a todos os parâmetros avaliados. Note-se que nenhum indivíduo apresentou indícios de depressão grave no estrato econômico mais alto (B1+B2+C), contra em torno de 5% nos indivíduos das classes D e E, porém, estas diferenças ficaram no limiar de significância estatística adotado. A pequena proporção de idosos estudados na categoria mais alta (C ou mais) dificultou a análise da influência deste fator sobre os parâmetros de saúde do presente estudo. 

Não houve associação entre arranjo familiar (viver só, sim ou não) e os parâmetros de avaliação de saúde e capacidade cognitiva/funcional dos idosos estudados. Entretanto, destaca-se a alta (em torno de 19%) proporção de indivíduos que viviam sós e apresentavam situações adversas, como declínio cognitivo/mental e declínio funcional. Nenhum idoso dependente para as atividades básicas da vida diária (AVD) vivia só, mas quatro (5,9% dos que viviam sós) eram totalmente dependentes para as atividades instrumentais de vida diária (AIVD). Também nota-se que cinco idosos com indícios de depressão grave viviam sós, bem como 15 que consideraram sua saúde ruim ou muito ruim. Houve maior proporção de indivíduos no mais baixo quartil de apoio social entre os idosos que viviam sós, mas as diferenças no escore de apoio segundo arranjo domiciliar não alcançaram significância estatística.

Finalmente, apresentam-se, os resultados das análises dirigidas a identificar associação entre apoio social e os parâmetros de saúde dos idosos estudados. Houve associação entre apoio social e avaliação cognitiva/mental e também entre apoio social e autoavaliação de saúde. A proporção de indivíduos com déficits cognitivos foi maior (quase o dobro) entre aqueles nos dois primeiros quartis do escore de apoio em relação aos terceiro e quarto quartis.  A relação entre escore de apoio e autoavaliação de saúde foi linear: quanto pior o escore de apoio maior a proporção de idosos que consideraram sua saúde ruim/muito ruim. Não houve associação entre apoio e grau de independência para as atividades básicas e instrumentais da vida diária, tampouco com declínio funcional e com presença de indícios de depressão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, as frequências de situações adversas (dependência para AIVD, deficit cognitivo, declínio funcional, depressão e autoavaliação de saúde ruim/muito ruim), variam entre 20 e 35%, perfil que justifica a adoção de medidas programáticas de rastreamento, diagnóstico e cuidado destes importantes aspectos da saúde dos idosos, sendo os mais velhos, sem companheiro, com baixa escolaridade e com piores escores de apoio social os prioritários para tais intervenções. Além disso, um grupo com possível demência, estimado em algo em torno de 90 idosos, tem necessidade de intervenções específicas, por parte das equipes de saúde, dirigidas a estes e a seus cuidadores.  

REFERÊNCIAS

Carvalho JAM, Andrade FCD. Envejecimiento de la población brasileña: oportunidades y desafíos. In: Encuentro Latinoamericano y Caribeño sobre las personas de edad; 1999; Santiago. Anais. Santiago: CELADE; 2000. p. 81-102.

Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 399/GM, de 22 de fevereiro de 2006. Divulga o Pacto de Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova as diretrizes operacionais do referido pacto [texto na Internet]. Brasília (DF); 2006 Fev 22 [citado 2006 Set 1]. Disponível em:  http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-399.htm 


Pós-graduação Enfermagem (mestrado profissional) – FMB Editor Universidade Estadual Paulista (Unesp)