CAPACITAÇÃO DO ENFERMEIRO AO ACOLHIMENTO DO DEFICIENTE AUDITIVO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11504379


Débora Marinho da Silva; Franciély Martins Santos da Silva; Gislaine Tavares Grecco Alves; Igor Salvo Honório; Larissa Ferreira Noronha; Orientador: Anderson Scherer.


RESUMO

Objetivo: Revisar as estratégias eficientes dotadas por enfermeiros, baseadas na comunicação direta junto a pacientes portadores de deficiência auditiva. Método: Trata-se de uma revisão bibliográfica de literatura, elaborada a partir de trabalhos científicos acerca da avaliassem os desfechos da atuação de equipes de enfermagem frente a indivíduos com deficiência auditiva. Foram considerados artigos originais publicados em português, espanhol e inglês, entre 2019 a 2024, obtidos nas plataformas SciELO, Lilacs, e PubMed/MedLine. Resultados: Foram encontradas 35 publicações, dentre as quais, depois de aplicados os critérios de exclusão e eliminação dos títulos duplicados, restaram 28 ensaios elegíveis e dentre esses, restaram 09 artigos que cumpriram com o propósito dessa pesquisa. De acordo com os dados da literatura avaliados no presente trabalho. Discussão: Os autores destacam que a baixa taxa de capacitação dos profissionais envolve tanto novatos quanto profissionais experientes. Destacam ainda que é urgente o repensar dos modelos de comunicação em saúde nos cursos de enfermagem. As soluções para uma melhor comunicação dão conta de pequenos ajustes comportamentais como a não segregação a espaços físicos diferentes dos demais pacientes; uso de uma linguagem labial ampla e pausada; dispositivos eletrônicos (principalmente com os mais jovens); contratação de intérpretes e referências visuais da própria conduta do enfermeiro. Conclusão: O enfermeiro conta com uma ampla gama de possibilidades de acolhimento e atendimento de deficientes auditivos que variam entre: uso de dispositivos de texto (principalmente com os jovens); fala pausada e expositiva; atenção a expressões corporais do paciente; sinalização gestual dos procedimentos realizados se utilizando dos materiais disponíveis; uso de expressões faciais intuitivas; uso de linguagem de sinais (quando for habilitado); inclusão do paciente no diálogo clínico, ainda que este esteja acompanhado pelo par. Vale ressaltar a necessidade de avaliação de cada indivíduo e consequentemente, a melhor abordagem de escolha.

Palavras-chave: Comunicação; assistência; equipe de enfermagem; deficiência auditiva.

ABSTRACT

Objective: To review the efficient strategies adopted by nurses, based on direct communication with patients with hearing impairment. Method: This is a bibliographic review of literature, drawn up based on scientific works about evaluating the outcomes of nursing teams’ actions towards individuals with hearing impairment. Original articles published in Portuguese, Spanish and English, between 2019 and 2024, obtained on the SciELO, Lilacs, and PubMed/MedLine platforms were considered. Results: 35 publications were found, among which, after applying the exclusion criteria and elimination of duplicate titles, 28 eligible trials remained and among these, 09 articles remained that fulfilled the purpose of this research. According to the literature data evaluated in the present work. Discussion: The authors highlight that the low rate of professional training involves both novices and experienced professionals. They also highlight that it is urgent to rethink health communication models in nursing courses. Solutions for better communication take into account small behavioral adjustments such as not segregating different physical spaces from other patients; use of broad and paused lip language; electronic devices (especially with younger people); hiring interpreters and visual references of the nurse’s own conduct. Conclusion: Nurses have a wide range of possibilities for welcoming and caring for the hearing impaired, which range from: use of text devices (mainly with young people); slow and expository speech; attention to the patient’s body expressions; gestural signaling of the procedures carried out using available materials; use of intuitive facial expressions; use of sign language (when enabled); inclusion of the patient in the clinical dialogue, even if they are accompanied by their partner. It is worth highlighting the need to evaluate each individual and, consequently, the best approach to choose.

Key-words: Communication; assistance; Nursing team; hearing deficiency.

1 INTRODUÇÃO

A expressão de pessoas com necessidade especial é usada em referência a portadores de anomalias físicas, psíquicas, fisiológicas, além de outras de difícil caracterização. Por deficiência, de modo geral, se define toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica. Pessoas com deficiência apresentam características próprias. Tais características, muitas vezes, as tornam vítimas de preconceitos ou excluídas da sociedade, se achando socialmente inferiores. Outras se isolam das pessoas consideradas normais e procuram conviver com outro deficiente semelhante (Lopes, 2020).

Como observado nos diversos serviços de enfermagem, a limitação corporal ou mental pode afetar o comportamento e dar origem a aspectos ora atípicos, fortes e adaptativos, ora fracos e pouco funcionais. Diante destes comportamentos, surgem dificuldades, principalmente de comunicação, e apesar das campanhas de educação para melhorar a inclusão dos deficientes, estes obstáculos persistem e se evidenciam ainda mais na comunicação com os deficientes auditivos (Machado, 2023).

Segundo estimativa do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), 24,6 milhões de pessoas – 14,5% da população total – apresentam algum tipo de deficiência, como dificuldade de enxergar, ouvir, locomover-se e, ainda, deficiência física ou mental. Desse total, 17% são deficientes auditivos. Além disso, 12,7 milhões de pessoas (6,7% da população) têm alguma deficiência severa. A deficiência auditiva severa tem prevalência de 1,1%, visto que 18,8% da população declarou ser portadora de alguma incapacidade permanente (Brasil, 2022.).

Os pacientes com deficiência auditiva buscam os serviços de saúde com menos frequência que os pacientes ouvintes, referindo, como principais dificuldades, o medo, a desconfiança e a frustração. Durante o acolhimento dos usuários pelos profissionais de enfermagem, é necessário que se estabeleça uma forma de comunicação que possibilite o entendimento (Rech et al., 2023).

Diante desse contexto, esse estudo se justifica a partir da importância da comunicação entre a equipe de enfermagem e as pessoas com deficiência auditiva, com vistas a promover a inclusão, interação e pertencimento social dessas pessoas, além de aprimorar a prática assistencial dos profissionais de enfermagem. Logo, o objetivo é revisar as estratégias eficientes dotadas por enfermeiros, baseadas na comunicação direta junto a pacientes portadores de deficiência auditiva.

2 METODOLOGIA

A escolha para elaboração deste trabalho foi à revisão de literatura. Abrangendo assuntos correlacionados ao objetivo dessa pesquisa. Este delineamento é baseado na análise da literatura atual ou mais recente com a finalidade de compreensão acerca do tema e pode conter os resultados da pesquisa para possível avaliação.

Os estudos disponíveis na literatura foram identificados de maio de 2019 a maio de 2024. A busca dos estudos foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed/MedLine, SciELO e Lilacs, levando em conta os últimos 05 anos. Adicionalmente, foi realizada uma busca manual por meio da análise das referências dos artigos incluídos. 

Para a identificação dos artigos, foram utilizados os seguintes descritores: “comunicação”, “assistência”, “equipe de enfermagem” e “deficiência auditiva”. Os descritores foram adaptados para cada base de dados e combinados por meio dos operadores booleanos (OR, AND e NOT).

2.1 Critério de Inclusão e Exclusão

 Os títulos e resumos dos trabalhos foram avaliados conforme os seguintes critérios de inclusão pré-definidos para determinar a relevância do tema: artigos que avaliassem os desfechos da atuação de equipes de enfermagem frente a indivíduos com deficiência auditiva. Comentários, editoriais, teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos que não estavam em português, inglês ou espanhol e artigos que não estavam disponíveis na íntegra ou revisões sistemáticas ou meta-análises foram categorizados como critérios de exclusão cuja apresentação está expressa no fluxograma abaixo (Figura 1).

2.2 Fluxograma do processo de revisão dos estudos

Fonte: Elaborado pela(o)s autora(e)s

3 REFERENCIAL TEÓRICO

A deficiência auditiva é a atenuação da capacidade perceptiva relativa a sons em níveis regulares ou medianos, sendo assim o deficiente auditivo é o sujeito que tem a faculdade de sua audição deficitária. As deficiências auditivas podem ser divididas em adquirida ou congênita, podendo ou não estar atrelada a acidentes ou disfunções corporais. As alterações congênitas podem ser instaladas por hereditariedade, rubéola, sarampo, sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus, utilização de drogas, alcoolismo entre outras. As alterações adquiridas podem ser desencadeadas por alterações fisiológicas no decorrer do parto, como fórceps, prematuridade, anóxia e infecções não controladas (Francisqueti et al., 2017). 

O paciente com esse déficit não desenvolve comunicação socialmente condizente, sendo assim carece de integrações inter-pessoais. Ele se depara com uma sociedade pouco preparada para interagir com eles em praticamente todas as áreas, sendo de extrema relevância enfermeiros competentes para que possam atender suas necessidades, desde as mais básicas até as mais específicas. Ao procurarem ou serem abordados por serviços de enfermagem, se depara com a principal barreira que é a sua comunicação com a equipe, propriamente dita (Da Silva et al., 2014). 

Por não se utilizar da linguagem oral, o deficiente auditivo acaba sendo isolado ou separado, tendo ciência acerca de sua própria saúde, em geral, prejudicados incompletos ou prejudicados. As linguagens de sinais são de modalidades vísuo-espaciais ou espaço-visuais, já que o indivíduo deficiente auditivo recebe a informação por meio dos olhos (observação gestual, expressão corporal do enfermeiro transmissor da mensagem) e comunica as informações através das mãos (De Araújo et al., 2015).

É observado que os enfermeiros que prestam acolhimento a um paciente com deficiência auditiva muitas vezes desconhecem os conceitos básicos da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), empregada na comunicação pela maioria desses indivíduos. Desta forma, o manejo acaba por não acolher, de maneira satisfatória, as necessidades dos deficientes auditivos em receber um atendimento individualizado e integral, sejam estes adultos, adolescentes ou crianças (De Souza et al., 2022). 

Assim como toda a sociedade, os deficientes auditivos também apresentam necessidade de meios para que possam ser acolhidos de forma adequada, sentindo segurança no atendimento. A assistência de enfermagem deve abranger aspectos sociais, culturais e econômicos, assim como a individualidade de cada paciente. Essa premissa deve nortear o tipo de acolhimento prestado, a fim de garantir a qualificação máxima dos serviços prestados (Trecossi & Freitas, 2013). 

O profissional deve humanizar a assistência em enfermagem, se preocupando com a relação Enfermeiro/Paciente, e para isso deve lançar mão de um suporte técnico-científico que lhes propicie a compreensão deste universo linguístico do deficiente auditivo. Os agentes dos serviços enfermagem devem ter consciência de que é um ator transformador, com atitudes éticas, buscando a cada dia suprir suas carências relativas à profissão (França & Pagliuca, 2009). 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram localizados 78 artigos, sendo selecionados 35 para a leitura na íntegra, dos quais apenas 09 atenderam aos critérios de seleção. A Tabela 1 resume os principais pontos dos trabalhos incluídos.

TABELA 1. Resumo dos estudos incluídos nesta revisão.

AutorObjetivo do EstudoDesfechos
Lyons &
Normandin
(2023)
Verificar estratégias para melhorar o atendimento ao paciente surdo e com
deficiência auditiva no pronto-socorro
Enfermeiros que mantiveram contato individual e próximo ao
deficiente visual obtiveram maior taxa de satisfação dos
pacientes, mesmo sem o auxílio
de intérpretes
De Carvalho et al. (2019)Analisar reflexivamente o desenvolvimento de tecnologias assistivas online que apoiam o cuidado de enfermagem às pessoas com deficiência auditiva.O desenvolvimento de plataformas de comunicação voltadas ao deficiente auditivo se mostrou desafiadora e viável apenas quando voltadas a jovens e adolescentes.
Nascimento & de Oliveira (2020)Apresentar o processo de construção de um guia que visa facilitar o atendimento de Enfermagem de deficientes auditivos em instituições públicas.O guia escrito foi capaz de nortear os deficientes auditivos e equipe de enfermagem no sentido de adequar a comunicação entre ambos antes, durante e após o atendimento.
Oliveira et al. (2022)Avaliar o conhecimento de agentes comunitários de saúde sobre pessoas com deficiência visual antes e após capacitação acerca da temática.Foi observada aprendizagem após a realização da capacitação, pois ocorreu acréscimo de respostas adequadas sobre termos comuns à temática, uma vez que os participantes da pesquisa passaram a compreender os conceitos de pessoa com deficiência auditiva.
Schmidek; Schmidek &
Pedrão (2019)
Refletir sobre a vivência da corporeidade por pessoas portadoras de deficiência visual.O processo reflexivo permitiu que a prática da Biodanza contribua no resgate da sua corporeidade comunicativa, por possibilitar a ampliação de seus repertórios sociais através da dança. Esse processo ofereceu contribuição à enfermagem, uma vez que amplia o leque de possibilidades para a expansão do olhar empático do enfermeiro para essas questões em sua prática profissional.
Ribeiro et al. (2020)Discutir o processo de transição da maternidade na perspectiva da mulher cega, à luz da Teoria das TransiçõesNa prática, os cuidados de enfermagem devem ser direcionados a promover atividades cotidianas pelas mulheres com deficiência, por meio de tecnologias assistivas, como acessibilidade e informações, tecnologias não invasivas como o acolhimento e o estabelecimento de vínculo com essas mulheres, a estimulação do autocuidado e a valorização do corpo e dos seus sentidos.
Brito (2020)Acompanhar a implementação de um serviço de apoio no atendimento a pessoas com deficiência auditiva.Através de um dispositivo localizado no punho do paciente, recebe um sinal mecânico (vibração) e visual (LED) que indica que ele deve ir até um local específico de acordo com a cor do sinal. Além disso, o protótipo consiste em um botão de “pânico” com o qual o paciente pode chamar uma enfermeira em caso de emergência. O dispositivo reduziu o tempo gasto pela equipe assistencial em atividades como localizar pacientes dispersos nas instalações.

Ao pensarmos em processos de comunicação, devemos nos recordar de seus elementos para que ela seja realizada de forma eficiente e plena em qualquer meio que seja (hospitalar, social, familiar…), assim, evitarmos ruídos. São eles, o contexto no qual a interligação irá ocorrer, os interlocutores cujas funcionalidades se revezam uma vez que há entrosamento e demanda sempre uma resposta ou feedback, a mensagem que se quer conduzir e o instrumento que aplicamos para transmissão desta mesma mensagem. A atenção que damos a estes elementos está conectada à compreensão da mensagem (Settani et al., 2019).

Profissionais de enfermagem dispensam muito tempo em elementos envolvidos na comunicação, seja presença e audiência, discurso e silêncio, simbolismo, mensagens, assistência, canais, entre outros… Todos estes elementos fazem parte dos atos contínuos de enfermagem, mesmo sem ter ciência direta deles. A comunicação com pacientes ouvintes é realizada por meio da linguagem verbal, seja ela oral ou escrita, expedientes que nem sempre podem ser empregados a pacientes com deficiência auditiva. Com esses indivíduos, é recomendável que os se recorra a recursos alternativos, como veremos nessa revisão (Soares et al., 2022).

A grande maioria dos artigos abordados nessa revisão traz as abordagens de comunicação usadas para a conversação com deficientes auditivos. Optamos por dividir essa literatura pesquisada em quatro subcategorias: comunicação verbal, comunicação não verbal, comunicação via intérprete e comunicação via dispositivos eletrônicos. A comunicação verbal se trata daquela na qual se aplicam palavras propriamente ditas, sejam faladas ou escritas, sendo também aplicada na interação com deficientes auditivos. O estudo de Da Silva Marinho & Passos (2023) apontou que 42% dos entrevistados aplicaram esta forma de abordagem para interagir com este público. No mesmo estudo, se notou o uso de notas escritas, se mostrando um recurso muito comum entre enfermeiros e deficientes auditivos. No entanto, palavras em português podem caracterizar barreiras na comunicação uma vez que estes pacientes têm a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS) como primeira língua e muitas vezes tiveram pouco acesso ao sistema educacional primário. 

Quando o indivíduo é devidamente alfabetizado em português, este expediente pode ser aplicado como forma primária de comunicação quando uma das partes não é capacitada em Libras. Os empecilhos advindos desta maneira de comunicação também ocorrem na via surdo–profissional, uma vez que enfermeiros não conseguem assimilar as frases escritas em razão da estruturação gramatical da Libras ser diferente em relação a estrutura da Língua Portuguesa. Da Silva et al. (2021) trazem em seu estudo, a relevância da comunicação não verbal como tática de comunicação, embora não ponderem sobre seus tipos. Esse mesmo estudo aponta que os enfermeiros prestaram melhor assistência quando atentaram que a maior percepção das comunicações não verbais leva ao acolhimento das necessidades dos pacientes. 

Primariamente os portadores de deficiência auditiva empregam a Libras como forma principal de comunicação, pois a maior parte das crianças adquire suas competências em linguagem por meio da comunicação e interação com seus parentes próximos e adiante por meio de interações no âmbito escolar. Uma vez que amadurecerá em intrínseco contato com a comunidade deficiente auditiva, evoluirão com fluência em Libras. O estudo de Da Silva et al. (2024) cita a relevância da comunicação não verbal, seja ela por meio da Libras, mímicas, leitura labial ou gestos para assimilação absoluta na comunicação com este público. Outro estudo realizado por De Sousa et al. (2022) corrobora com essa estratégica indicando que as maneiras de comunicação não verbal mais aplicada foram a mímica, a leitura labial e os gestos, porém os autores afirmam que o mecanismo só se mostra eficaz mensagens curtas são utilizadas e que a ausência de assimilação produzida por estes métodos leva a sensação de fracasso.

A Leitura Labial exige muita atenção ao ser empregada como mecanismo principal de comunicação, pelo simples fato de que vários fonemas são narrados com semelhante movimento labial. Mesmo indivíduos altamente habilidosos conseguem absorver entre 25% e 35% da mensagem acompanhando o movimento labial. Além do que, a alteração no posicionamento da cabeça e pescoço pode levar a prejuízo de informação repassada. Seu entendimento pode ainda ser influenciado pela distância de quem fala, luminosidade, dificuldade de ver a expressão de quem fala ou mesmo baixa familiaridade com o padrão de fala do sujeito (Costa et al., 2023). 

A mímica também é empregue como maneira de comunicação compensatória pelos enfermeiros que não dominam a Libras. O estudo de Schmidek, Schmidek & Pedrão (2019) realizado com profissionais de enfermagem em um hospital de grande porte evidenciou que todos os profissionais (66 enfermeiros e 118 técnicos de enfermagem) empregavam a mímica para se comunicar com deficientes auditivos. Contrastando com esse estudo, Lacerda et al. (2022) trouxeram em sua pesquisa, achados em relação a forma de comunicação realizada por meio de demonstração e gráficos – diferentes da mímica – com os próprios instrumentos utilizados na conduta antes de realizá-la para se certificar da cooperação e compreensão do deficiente auditivo. 

Para o enfermeiro, a estipulação de uma interlocução efetiva viabiliza um atendimento de humanizado e de qualidade. Prado et al. (2023) destacam que a ciência acerca da comunicação provê a prática assistencial, viabilizando a interrelação entre profissionais e futuros profissionais e os deficientes auditivos, colaborando para a qualidade da mesma. Nesse aspecto, quando enfermeiros estão diante de pacientes portadores de deficiência auditiva, devem adaptar estratégias que solucionem as barreiras na comunicação com esses indivíduos, possibilitando, assim, a inter-relação com os pacientes. Muito embora a assistência ao portador de deficiência auditiva seja eventual, há muitos obstáculos encontrados na assistência a este tipo de paciente. 

Competências no ambiente de trabalho com sujeitos que não partilham a linguagem oral e expressam cultura própria não são comumente ensinadas, por isso, os profissionais podem não estar capacitados para o manejo com o portador de deficiência auditiva. A pouca capacitação profissional foi citada, em muitos estudos encontrados nessa revisão, como fator de maior obstáculo para a prática de atendimento profissional a esses pacientes. De Souza Almeida & de Araújo (2022) evidenciaram que a aquisição de habilidades para instituir uma comunicação eficaz durante a formação acadêmica é deficitária e, por sua vez, apontaram que os serviços assistência em saúde, na sua grande maioria, são indiferentes quanto ao fomento e campanha de capacitação ou aprimoramento no campo das comunicações.

Ao tentar interagir, os sentimentos dos enfermeiros são, em geral, de impaciência, frustração e impotência, por não conseguirem sustentar uma comunicação efetiva, principalmente através de linguagens gestuais. Nesse sentido, o estudo de De Oliveira Costa et al. (2021) apontou que portadores de deficiência auditiva concebem os sistemas de saúde distintamente dos usuários ouvintes e apontam ainda, relatos de medo, frustração e desconfiança. Os pesquisadores identificaram ainda que a participação de intérpretes, o emprego de figuras, expressões não verbais e desenhos, melhoram a qualidade de atendimento. O obstáculo encontrado pelos enfermeiros ao se depararem com o deficiente auditivo é notável com uma influência negativa no cuidar estabelecido pelos profissionais. 

A escassez na utilização da Libras e da comunicação não verbal por parte dos enfermeiros inclina a relação com o deficiente auditivo para o estranhamento e pouca conexão pessoal. Thomaz et al. (2019) realizaram um ensaio exploratório que demonstrou insegurança no relacionamento dos enfermeiros com os deficientes auditivos por desconhecerem ou estanharem a linguagem utilizada por estes, já que não possuem habilidades na divulgação da informação sobre aspectos de sua saúde, por terem déficit da formação acadêmica ou por serem inexperientes. No estudo, há relatos por parte dos enfermeiros de aflição, angústia e bloqueio na comunicação com deficientes auditivos.

Para superar os obstáculos de comunicação na assistência em saúde, os estudos de Ribeiro, Castro & Abreu (2020) abordam intervenções e soluções diferenciadas, trazendo mais uma vez que comunicação não verbal é um método de comunicação que precisa ser conhecido, valorizado e praticado em ações de enfermagem. Mesmo desconhecendo a língua de sinais, é elementar a interpretação de aspectos prosódicos que incluem expressões corporais, faciais e gestuais. Os estudos de Fonseca, Salomão & Saturnino (2023); Barbosa et al. (2024) e Gonçalves & Silvano (2019) sugerem que, principalmente as entidades acadêmicas, viabilizem estudos com questões relativas ao modelo assistencial junto ao deficiente auditivo, admitindo que estar diante de um deficiente auditivo não demanda apenas identificar um déficit auditivo, mas também elementos legais e socioculturais. É primordial que o enfermeiro se envolva, mesmo que temporariamente na cultura e na língua da comunidade deficiente auditiva de maneira a viabilizar uma interação razoável, diminuindo a sensação de desconforto de ambos no exercício profissional.

O aprendizado de LIBRAS por enfermeiros é um fator evidenciado em muitos artigos selecionados para esta revisão. Ao que parece, o conhecimento básico desta linguagem propiciaria o manejo adequado ao deficiente auditivo. Outra sugestão para enriquecer esse atendimento bastante abordado é a participação de intérpretes na rotina assistencial. No entanto, Pereira et al. (2020) ressaltam que a atuação do intérprete pode aprimorar, mas não é fator decisivo para assistência de qualidade. Os deficientes auditivos estimam a presença do intérprete, mas com algumas premissas: desconfiança, intimidação de se expor, sensação de piedade e dificuldade em encontrar intérpretes à disposição. 

Em estudos mais recentes, pudemos destacar estudos onde a língua escrita, principalmente se utilizando de dispositivos eletrônicos poderia ser uma forma de suplantar barreiras no atendimento a deficientes auditivos, mas esses mesmos estudos indicam que o recurso se mostra impróprio para os indivíduos que adquiriram algum grau de surdez antes da aquisição da linguagem escrita ou oral e aprenderam a LIBRAS como língua primária. Para estes indivíduos, o português é uma língua secundária, e como qualquer língua estrangeira, sua utilização se mostra de como uma prática complexa (Jones, Bartlett & Cooke (2019); Larsen et al., 2019; Carlson et al., 2020; Sakr et al., 2019; Lai et al., 2020)

5 CONCLUSÃO 

Tendo em vista que a comunicação por meio da língua falada é ineficaz com a maioria dos deficientes auditivos, os artigos evidenciaram que a comunicação com esses pacientes é um desafio para os enfermeiros. Diante das barreiras encontradas é indispensável que ambos encontrem alternativas de interação, propiciando uma assistência de qualidade. Os enfermeiros devem avaliar cada indivíduo possuidor de necessidades comunicacionais específicas. Alguns são ótimos em português, logo a escrita seria uma escolha para interação, outros nem tanto. Uns podem fazer leitura labial, enquanto outros apresentam grande dificuldade o que denota a necessidade de uma avaliação breve e adequada a cada perfil de paciente.

O paciente com deficiência auditiva apresenta apenas uma limitação na comunicação verbal, mas está sujeito à dinâmica do processo saúde-doença como qualquer outro ouvinte. Logo, existem medidas simples que garantem a ele o direito de comunicar-se com os enfermeiros, mas que nem sempre consideramos relevante, como evitar punção venosa periférica nas mãos, garantir luminosidade adequada no ambiente, evitar o posicionamento do profissional ou do intérprete contra fontes diretas de iluminação – isso dificulta a visualização, pelo surdo, dos sinais, e impossibilita a leitura labial; falar diretamente com o paciente pausadamente, sem modificar a posição da cabeça, com articulação normal da boca e evitando barreiras visuais durante os procedimentos. 

O enfermeiro, ao buscar um atendimento individual e holístico junto ao deficiente auditivo, desenvolverá uma competência cultural em cuidar, promovendo um acolhimento inerente à cultura desse paciente, a partir de uma comunicação eficaz. Para que isto ocorra, fazem-se necessárias outras abordagens como: uso de dispositivos de texto (principalmente com os jovens); fala pausada e expositiva; atenção a expressões corporais do paciente; sinalização gestual dos procedimentos realizados se utilizando dos materiais disponíveis; uso de expressões faciais intuitivas; uso de linguagem de sinais (quando for habilitado); inclusão do paciente no diálogo clínico, ainda que este esteja acompanhado pelo par. 

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