CANDIDÍASE ORAL EM USUÁRIO DE PRÓTESE DENTÁRIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411271215


Ana Clara de Oliveira Araujo Vilhena;
Geisyelle da Cruz Oliveira;
Kassia Hellen Moraes da Costa;
Orientadora: Profa. Msc. Thayna Silva do Carmo Tavares1


RESUMO

A candidíase oral é uma condição comum causada principalmente pelo fungo de levedura Candida albicans, um microrganismo oportunista que compõe a microbiota normal da cavidade oral. As apresentações clínicas da candidíase oral podem ser divididas em primária ou secundária, a primária pode se apresentar pelos seguintes subtipos: pseudomembranosa, eritomatosa e hiperplásica. Há outra categoria denominada ‘estomatite protética’, no qual encontra-se em associação com próteses dentais removíveis. Com base nessa relação entre o desenvolvimento da doença e o uso de protése dentária, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre o tema. As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed e SciELO, utilizando os Descritores em Ciências da Saúde DeCS/MeSH: ‘’Candidíase Oral’’, ‘’Prótese Dentária’’, ‘’Patologia Bucal’’, ‘’Higiene Bucal’’ e ‘’Reabilitação Bucal’’, associados aos operadores booleanos “AND” e ‘’OR”. Foram encontrados 167 artigos. Após a leitura prévia, foram excluídos artigos que não se adequavam aos critérios de deste estudo, sendo apenas 13 artigos incluídos. Foi possível concluir que a má higienização das próteses é apontada como o principal fator predisponente para o desenvolvimento dessa condição, reforçando a importância de intervenções preventivas e da adoção de rotinas regulares de manutenção

Palavras-chave: Candidíase Oral; Prótese Dentária; Patologia Bucal; Higiene Bucal; Reabilitação Bucal.

ABSTRACT

Oral candidiasis is a common condition primarily caused by the yeast-like fungus Candida albicans, an opportunistic microorganism that is part of the normal oral microbiota. The clinical presentations of oral candidiasis can be divided into primary or secondary forms. The primary form can manifest in the following subtypes: pseudomembranous, erythematous, and hyperplastic. Another category, known as ‘denture stomatitis,’ is associated with the use of removable dental prostheses. Based on this relationship between disease development and the use of dental prostheses, the present study aims to conduct a literature review on the topic. Searches were conducted in the PubMed and SciELO databases using Health Sciences Descriptors (DeCS/MeSH): “Oral Candidiasis,” “Dental Prosthesis,” “Oral Pathology,” “Oral Hygiene,” and “Oral Rehabilitation,” combined with the boolean operators “AND” and “OR.” A total of 167 articles were identified. After an initial review, articles that did not meet the inclusion criteria of this study were excluded, resulting in only 13 articles being included. It was concluded that poor hygiene of dental prostheses is identified as the main predisposing factor for the development of this condition, emphasizing the importance of preventive interventions and the adoption of regular maintenance routines.

Keywords: Oral Candidiasis; Dental Prosthesis; Oral Pathology; Oral Hygiene; Oral Rehabilitation.

1 INTRODUÇÃO

A candidíase oral é uma condição comum causada principalmente pelo fungo de levedura Candida albicans, um microrganismo oportunista que compõe a microbiota normal da cavidade oral. No entanto, sua proliferação descontrolada, frequentemente associada a disbioses ou a fatores locais e sistêmicos, pode levar ao desenvolvimento de diversas formas clínicas de infecção, incluindo candidíase pseudomembranosa, eritomatosa, hiperplásica crônica e estomatite protética (Neville et al., 2016).

O uso de próteses dentárias removíveis é um dos principais fatores predisponentes para a infecção por Candida, pois cria condições favoráveis para o acúmulo de biofilme e alterações no pH local, que favorecem a proliferação fúngica (Gacon et al., 2019; Kilic et al., 2014). Além disso, outros fatores, como a má adaptação das próteses e a higiene inadequada, contribuem para o desenvolvimento da estomatite protética, uma condição inflamatória que afeta as áreas da mucosa em contato direto com as próteses dentárias (Freire et al., 2017).

Considerando que a candidíase oral é uma infecção que impacta a qualidade de vida de muitos pacientes, especialmente idosos, este estudo busca analisar a relação entre o uso de próteses dentárias e o desenvolvimento de candidíase oral. Além disso, destaca a importância de estratégias preventivas e da atuação do cirurgião-dentista para minimizar os riscos associados a essa condição.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um trabalho descritivo e de aspecto qualitativo de revisão de literatura, onde foram utilizados como fontes de pesquisa artigos científicos. As buscas foram realizadas nas bases de dados PubMed e SciELO, utilizando os Descritores em Ciências da Saúde DeCS/MeSH: ‘’Candidíase Oral’’, ‘’Prótese Dentária’’, ‘’Patologia Bucal’’, ‘’Higiene Bucal’’ e ‘’Reabilitação Bucal’’, associados aos operadores booleanos “AND” e ‘’OR”.

A pesquisa foi realizada em 16 de outubro de 2024. Os critérios de inclusão foram artigos publicados no período de dez anos, artigos relacionados ao tema e artigos no idioma inglês e português. Quanto aos critérios de exclusão, foram excluídos artigos publicados anteriores a 2014, artigos fora do tema, carta aberta para editor, artigos de retratação e capítulos de livro.

Os dados foram tabulados em planilha de Excel para análise descritiva.

3 RESULTADOS

Foram encontrados 167 artigos e realizada a leitura de título e resumo de cada um. Após a leitura prévia, foram excluídos artigos que não se adequavam aos critérios de inclusão deste estudo e duplicatas. 13 artigos foram elegíveis ao estudo, sendo lidos na íntegra e tabulados de acordo com o conteúdo central (Tabela 1).

Tabela 1- Artigos incluídos na revisão de literatura.

Legenda: Autoria Própria.

4 DISCUSSÃO

A candidíase oral, especialmente em usuários de próteses dentárias removíveis, permanece uma questão relevante no campo da odontologia devido aos múltiplos fatores que contribuem para o seu desenvolvimento. Essa condição, frequentemente associada a práticas inadequadas de higiene oral e ao uso prolongado de próteses, exige uma abordagem integrada de prevenção e tratamento.

Em 2014, Kilic et al. investigaram a colonização por espécies de Candida em usuários de próteses sobre dentes ou implantes, destacando que esses dispositivos apresentam maior suscetibilidade ao acúmulo de biofilmes, especialmente por C. albicans. Eles identificaram a combinação de higiene oral inadequada e o ambiente propício criado pelas próteses como fatores-chave para a proliferação fúngica. Complementando esses achados, Kabawat et al. (2014) analisaram o impacto da escovação palatina em um ensaio clínico de fase 1, demonstrando que a higienização adequada do palato reduz significativamente a presença de Candida e melhora a saúde da mucosa oral.

Seguindo essa linha, em 2015, Duyck et al. compararam diferentes métodos de limpeza de próteses e condições de armazenamento noturno em um estudo randomizado, concluindo que a combinação de limpeza mecânica com soluções antimicrobianas é a mais eficaz na redução de biofilmes. No mesmo ano, Leite et al. avaliaram a eficácia do miconazol em comparação com a terapia fotodinâmica no tratamento da estomatite protética. Os autores constataram que o miconazol apresentou melhores resultados na eliminação de colônias de Candida, reforçando seu papel como tratamento padrão para essa condição.

Em 2016, Gulati et al. realizaram uma revisão abrangente sobre o desenvolvimento e a regulação dos biofilmes de C. albicans. Eles ressaltaram que os biofilmes desempenham um papel central na resistência a tratamentos antifúngicos e na persistência de infecções. Esses achados foram corroborados em 2017 por Freire et al., que revisaram os principais fatores associados ao desenvolvimento da candidíase oral em usuários de próteses. Eles destacaram que a má higienização das próteses e o uso contínuo sem manutenção adequada são os fatores de maior relevância.

Em 2018, Koseki et al. investigaram o uso de limpadores antibacterianos contendo óleos essenciais de melaleuca e capim-limão, demonstrando que esses compostos naturais podem ser eficazes na redução de colônias de C. albicans em próteses dentárias. Essa abordagem alternativa oferece um potencial promissor para o controle de biofilmes, complementando os métodos tradicionais.

Já em 2019, Gacon et al. evidenciaram que a higiene oral inadequada em usuários de dentaduras acrílicas favorece o crescimento de leveduras, mesmo na ausência de sinais inflamatórios. Esses resultados reforçam a importância de práticas preventivas para evitar o acúmulo de microrganismos que podem levar a infecções.

Avançando para 2021, D’Enfert et al. exploraram as interações entre o fungo, o hospedeiro e a microbiota oral, sugerindo que terapias que modulam a microbiota podem ser eficazes tanto na prevenção quanto no tratamento de infecções fúngicas. Essas descobertas expandem o entendimento sobre a candidíase oral, propondo novas abordagens terapêuticas baseadas na ecologia microbiana.

Em 2022, Patel revisou a colonização da cavidade oral por C. albicans, destacando que fatores como idade avançada, xerostomia e imunossupressão aumentam significativamente o risco de infecção. No mesmo ano, De Souza et al. corroboraram achados prévios sobre a importância da escovação palatina em um estudo multicêntrico, que demonstrou uma redução significativa nos sintomas inflamatórios associados à estomatite protética.

Finalmente, em 2023, McReynolds et al. ofereceram uma abordagem interdisciplinar para a estomatite protética, abordando aspectos clínicos, etiológicos e terapêuticos. Eles ressaltaram a importância de estratégias que integrem higienização adequada, ajustes regulares das próteses e uso de antifúngicos no manejo dessa condição. Em 2020, Silva et al. ilustraram a complexidade clínica da candidíase ao relatar um caso de estomatite protética associada à candidíase pseudomembranosa em um paciente geriátrico, reforçando a necessidade de abordagens individualizadas.

Esses estudos convergem para a conclusão de que a candidíase oral é uma condição multifatorial, influenciada por práticas de higiene, condições protéticas e fatores sistêmicos. A integração de estratégias preventivas e terapêuticas alinhadas às necessidades individuais dos pacientes é essencial para o manejo eficaz da condição, destacando a importância do acompanhamento contínuo por profissionais da odontologia.

5 CONCLUSÃO

Conforme evidenciado nas pesquisas realizadas, foi possível concluir que a candidíase oral em pacientes usuários de próteses dentárias é um tema ainda pouco explorado no contexto da higiene bucal. Destaca-se a necessidade de reforço nas orientações sobre os cuidados de higiene, evidenciando o papel essencial do cirurgião-dentista na educação e no acompanhamento desses pacientes. A má higienização das próteses é apontada como o principal fator predisponente para o desenvolvimento dessa condição, reforçando a importância de intervenções preventivas e da adoção de rotinas regulares de manutenção

REFERÊNCIAS

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SILVA, M. et al. Estomatite protética associada a candidíase pseudomembranosa em paciente geriátrico: relato de caso. Revista Odontológica de Araçatuba, n. 1, p. 30–33, 2020.


1Curso de Odontologia, Faculdade Ideal Wyden. E-mail:thaynasdocarmo@hotmail.com