CÂNCER DE PRÓSTATA: PRÁTICAS E OBSTÁCULOS RELACIONADOS A DETECÇÃO PRECOCE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8010860


Debora De Almeida Dos Santos;
Jhonata Severo Maycá;
Paola Miranda Sulis;
Silviane Galvan Pereira;
Beatris Tres.


RESUMO

Introdução: O câncer de próstata constitui um grave problema de saúde pública, é uma das neoplasias mais prevalentes no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Objetivo: Identificar as práticas e os obstáculos enfrentados pelos homens para a detecção precoce do câncer de próstata. Método: O estudo foi realizado nos domicílios e nas 6 Unidades de Saúde do município de Itaipulândia/PR com 140 homens, com 40 anos ou mais de idade, usuários do sistema único de saúde. Utilizando como instrumento de coleta de dados um questionário adaptado que abordou o perfil epidemiológico da população estudada além de seu estilo de vida e dados relacionados ao objetivo da pesquisa. Para a análise dos dados foi utilizado o Microsoft Excel objetivando a construção de um banco de dados com as respostas obtidas no questionário. Resultados: Após a análise e interpretação dos dados pode se averiguar que ainda há muitos obstáculos para detecção precoce do câncer de próstata como o desconhecimento sobre a patologia e a não realização dos exames preventivos por diversos motivos, esses dados chamam atenção para o desenvolvimento de ações educativas em relação a doença em questão.

Palavras-chave: câncer de próstata; homens; saúde.

  1. INTRODUÇÃO

A doença neoplásica de próstata constitui um grave problema de saúde pública a nível global, a mesma está diretamente vinculada a complicações de metabolismo, imunologia e genética, sendo em estado basal ou em repouso (NOGUEIRA; LIMA, 2018).

A próstata é uma glândula masculina que envolve a porção inicial da uretra, localizada abaixo da bexiga e em frente ao reto, que produz parte do sêmen (líquido que carrega os espermatozoides produzidos nos testículos e liberado durante o ato sexual) (INCA, 2021).

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de próstata (CP) é o câncer mais prevalente entre os homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. As estimativas de 2020 apontaram 65.840 novos casos da doença, o que representa 29,2% de todos os tumores no sexo masculino. (INCA, 2021).

Segundo o Ministério da saúde (MS), fatores como idade, histórico de câncer na família, sobrepeso e obesidade podem aumentar as chances de um homem desenvolver câncer de próstata. Nos estágios iniciais a doença costuma ser silenciosa, porém em fases mais avançadas podem iniciar sintomas associados ao comprometimento do trato urinário. Os métodos para investigação do CP são os exames de toque retal (TR) e o exame de sangue para avaliar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico) (BRASIL, 2020).

Vale destacar, que o exame de toque retal combinado com o exame de sangue PSA são ferramentas de suma importância para o rastreamento do CP de homens assintomáticos ou com sintomas iniciais da doença (SARRIS et al., 2018), uma vez que associados os resultados demonstram uma taxa baixíssima de falha para detecção da neoplasia. (REBOUÇAS et al., 2019).

A resistência dos homens em relação ao TR é um grande desafio no cenário atual (MARQUES et al., 2015). Devido a padrões impostos pela sociedade, colocando o sexo masculino como ser viril, ágil e eficiente, faz com que muitos deles deixem de lado a própria saúde. Aspectos históricos, sociais e culturais influenciam nesse comportamento, fazendo com que os mesmos negligenciem seu bem-estar e as medidas preventivas que são essenciais para a redução de mortalidade por doenças crônicas, como o CP (AMTHAUER, 2016).

A baixa procura da população masculina por serviços de saúde é reflexo de crenças sociais e culturais do contexto social em que o homem está inserido. O câncer, por sua vez, é uma neoplasia maligna que afeta a vida das pessoas de várias formas, seja no quesito biológico, psicológico ou social. É também uma doença que, de maneira geral, é entendida como sinônimo de sofrimento e morte (MOURA; RABELO, 2019).

Moraes et al. 2017, diz existir uma enorme dificuldade dentre os homens em aceitar suas fragilidades, fator associado a aspectos socioculturais. O problema para detecção precoce da doença está no receio da população masculina em realizar os exames preventivos (MORAES; OLIVEIRA; SILVA, 2017). Deste modo a questão de estudo desta pesquisa é: Quais são os obstáculos enfrentados pela população masculina para o diagnóstico precoce do câncer de próstata?

  1. OBJETIVOS

Identificar os obstáculos e as práticas adotadas pelos homens diante da detecção precoce do câncer de próstata.

  1. METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo

A presente pesquisa possui caráter observacional descritivo com delineamento quantitativo.

3.2 Local do estudo

Foi realizada nas 6 unidades de saúde do Município de Itaipulândia-PR, situado na região Oeste do estado, com população estimada de 9.026 habitantes segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), censo de 2010, onde 5.853 são do sexo masculino. O Município possui uma extensão territórial de 330,846km² e densidade demográfica de 27,25 habitantes por km² (IBGE,2022).

3.3 População a ser estudada

A população do estudo foi constituída por usuários cadastrados no sistema de saúde municipal, do sexo masculino, residindo de forma permanente no município, em áreas urbanas e rurais de Itaipulândia, PR. Considerando a população de 716 homens com idade preconizada no estudo, erro amostral de 5% e nível de confiança de 90% a amostra foi constituída por 140 participantes.

3.4 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos homens pertencentes da área de abrangência do município com idade de 40 anos e mais que aceitaram participar da pesquisa e assinaram o TCLE. Em contrapartida, os critérios de exclusão definidos para seleção da amostra foram indivíduos que, mesmo sendo pertencentes da área de abrangência do município e estando dentro da faixa etária prevista possuam diagnóstico de câncer de próstata.

3.5 Instrumento de coleta de dados

Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário adaptado, desenvolvido por Silva (2015) em sua pesquisa intitulada “Câncer de Próstata: práticas e entraves relacionados à detecção precoce na população masculina” que abordou o perfil epidemiológico da população estudada, além de seu estilo de vida e dados relacionados ao objetivo da pesquisa. O instrumento é composto por questões objetivas, descritivas e de múltipla escolha.

3.6 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada com homens usuários da Estratégia Saúde da Família que residem no município de Itaipulândia no período do estudo. Os mesmos foram abordados em suas casas, durantes visitas domiciliares prestadas pelos agentes comunitários e também nas unidades de saúde enquanto aguardavam atendimento, sendo consultados sobre a sua disponibilidade de participar da pesquisa com garantia de sigilo. Após a explicação quanto aos objetivos do estudo foi solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

3.7 Análise dos dados

Em seguida, ocorreu a fase de análise e interpretação dos resultados, visando organizar e sintetizar os dados de forma que propiciassem o fornecimento de resposta ao problema proposto para a investigação. O Microsoft Excel foi utilizado objetivando a construção de um banco de dados com as respostas obtidas no questionário. Assim, a análises dos dados contou com uma etapa descritiva das variáveis sociodemográficas e uma etapa sobre práticas e obstáculos para detecção precoce do câncer de próstata.

3.8 Garantias éticas aos participantes da pesquisa

Seguindo os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Medianeira (CAAE 65641922.0.0000.0165). Todos aqueles que aceitaram participar do estudo assinaram, juntamente com o pesquisador, duas vias, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo que uma via assinada ficou em posse do participante da pesquisa e a outra em posse do pesquisador responsável.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados relacionados à caracterização pessoal e sociodemográfica dos participantes estão apontados na Tabela 1, apresentam cinco variáveis: faixa etária, escolaridade, estado civil, renda familiar e ocupação.

Tabela 1 – Caracterização pessoal e sociodemográfica de homens acompanhados pelas UBS de Itaipulândia – PR

VARIÁVELCATEGORIASHOMENS PESQUISADOS%
    
FAIXA ETÁRIA40 A 596848,57%
 60 A 796345,00%
 ACIMA DE 8096,43%
    
ESCOLARIDADEENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO8762,14%
 ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO107,14%
 ENSINO MÉDIO COMPLETO1812,86%
 ENSINO MÉDIO INCOMPLETO21,43%
 ENSINO SUPERIOR COMPLETO1410,00%
 NÃO ALFABETIZADO96,43%
    
ESTADO CIVILCASADO9970,71%
 DIVORCIADO128,57%
 SOLTEIRO96,43%
 UNIÃO ESTÁVEL1510,71%
 VIÚVO53,57%
    
RENDA FAMILIAR01 SALÁRIO MÍNIMO1510,71%
 ACIMA DE 5 SALÁRIOS MÍNIMOS85,71%
 ENTRE 02 E 03 SALÁRIOS MÍNIMOS10071,43%
 ENTRE 04 E 05 SALÁRIOS MÍNIMOS1712,14%
    
OCUPAÇÃOAGRICULTOR2820,00%
 APOSENTADO5035,71%
 AUTÔNOMO1410,00%
 FUNCIONÁRIO PÚBLICO75,00%
 MOTORISTA64,29%
 SERVIÇOS GERAIS819,29%
 OUTROS275,71%
    
TOTAL 140100,00%
Fonte: os autores – fevereiro – março de 2023

No presente estudo houve predominância de homens com idade entre 40 e 59 anos, seguido de indivíduos entre 60 e 79 anos. O nível de escolaridade dos participantes pode ser considerado baixo, visto que quase 70% destes declararam ter apenas o ensino fundamental incompleto, ou não ser alfabetizado. Ribeiro et al (2015), discorrem em seu estudo que o nível de alfabetização é um fator importante para o conhecimento do homem acerca do câncer de próstata, visto que, a falta de informação faz com que o homem não tenha entendimento, em se tratando da prevenção em saúde.

Quando questionados acerca do seu estado civil, 70,71% dos participantes afirmaram ser casados se somados aqueles que relatam estar em união estável, esse total acresce para 81,42%. Para Mesquita et al (2018), homens casados tendem a procurar o serviço de saúde com mais frequência por conta do incentivo da companheira, fator que contribui diretamente no processo de saúde do homem.

No que se refere a variável renda familiar, um percentual expressivo de participantes afirmou ganhar entre 2 e 3 salários mínimos, 10,71% recebem um valor inferior a esse provento e somente 17,85% relataram ganhar acima de 4 salários mínimos. No que diz respeito à ocupação dos entrevistados, foi observado alto índice de aposentados e agricultores nessa região, pois juntos totalizam mais da metade das profissões referidas pelos participantes. Vale destacar que o agricultor se expõe rotineiramente a diversos tipos de agrotóxicos e de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, a exposição a esses compostos está relacionada ao desenvolvimento de diversas doenças incluindo neoplasias dependendo do produto, tempo de exposição e quantidade absorvida pelo organismo (INCA, 2019).

Considerando que o modo de vida tem grande influência no que diz respeito a doenças crônicas como câncer, esse tópico aborda a caracterização do estilo de vida dos participantes da pesquisa. Foram analisadas as seguintes variáveis: Tabagismo, consumo de álcool, exercício físico e hábitos alimentares. A apresentação dos resultados obtidos está disposta na tabela 2.

Tabela 2 – Estilo de vida de homens acompanhados pelas UBS do município de Itaipulândia – PR

VARIÁVELCATEGORIASHOMENS PESQUISADOS%
 
TABAGISMONÃO11280,00%
 SIM2820,00%
 
CONSUMO DE ÁLCOOLNÃO7251,43%
 SIM6848,57%
 
EXERCÍCIOS FÍSICOSNÃO5841,43%
 SIM8258,57%
 
HÁBITOS ALIMENTARES   
    
CARNE VERMELHANÃO32,14%
 SIM13797,86%
 
CARNES BRANCASNÃO64,29%
 SIM13495,71%
 
GORDURASNÃO2215,71%
 SIM11884,29%
 
SALADASNÃO85,71%
 SIM13294,29%
 
FRUTASNÃO96,43%
 SIM13193,57%
 
ENLATADOSNÃO4129,29%
 SIM9970,71%
    
TOTAL 140100,00%
Fonte: os autores – fevereiro – março de 2023

Ao analisar a tabela acima em relação a hábitos prejudiciais à saúde, nota – se que o uso de bebida alcoólica é mais frequente que o uso de tabaco, visto que 51,43% dos participantes relataram ser etilistas e apenas 20% afirmaram ser tabagistas. Segundo Rodrigues (2020) o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tabaco e alta ingestão de gorduras e carnes vermelhas está relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas como câncer de próstata.

No que se refere a pratica de exercícios físicos, a maioria dos entrevistados afirmaram realizar atividade física com frequência, isso nos mostra a conscientização da população em relação ao sedentarismo. Segundo Keogh & McLeod (2012) o exercício é uma terapia de estilo de vida que oferece muitos benefícios e relativamente poucos efeitos colaterais, indivíduos que não praticam exercícios físico correm risco aumentado de desenvolver neoplasias.

Para melhor entender a saúde do homem no intuito de incrementar ações eficientes para esses indivíduos, é fundamental compreender suas atitudes relacionadas ao processo saúde doença além dos obstáculos em que tais práticas esbarram. Dessa forma, as tabelas a seguir mostram as práticas em relação à saúde, adotadas pela população masculina do município de Itaipulândia – PR.

Tabela 3 – Buscas feitas pela população masculina aos serviços de saúde nas UBS do município de Itaipulândia – PR

VARIÁVELCATEGORIASHOMENS PESQUISADOS%

ÚLTIMA VEZ QUE PROCUROUENTRE 1 E 3 MESES2215,71%
O SERVIÇO DE SAÚDEENTRE 3 E 6 MESES5035,71%

ENTRE 6 E 12 MESES2820,00%

MAIS DE 1 ANO1712,14%

MENOS DE 1 MÊS2215,71%

NUNCA PROCUROU10,71%

FREQUÊNCIA AO SERVIÇO DEACIMA DE 6 VEZES1812,86%
SAÚDE NO ÚLTIMO ANOATÉ 1 VEZ2920,71%

ENTRE 2 E 3 VEZES5136,43%

ENTRE 4 E 5 VEZES2517,86%

NÃO PROCUROU1712,14%
TOTAL 140100,00%
Fonte: os autores – fevereiro – março de 2023

A Tabela 4 evidencia a participação da população masculina em serviços de atenção à saúde. Este estudo apontou que 87,13% de participantes frequentou o serviço de saúde nos últimos 12 meses. Em relação a frequência que procuraram pelo atendimento, 36,43% dos indivíduos afirmou ter procurado entre 2 e 3 vezes no último ano. Esse resultado nos remete a ideia de que a população masculina está cada vez mais ativa em se tratando de busca por atendimentos de saúde. No entanto, para Vaz et al. (2018) a inclusão dos homens no serviço de atenção primária é bastante desafiadora, pois em geral as campanhas priorizam mulheres, crianças e idosos dando pouco ênfase à saúde do homem. Tendo em vista poucas oportunidades de contato com o público masculino, Silva et al. (2014) destacam a importância do fornecimento de orientações acerca do cuidado quando esses indivíduos forem encontrados na atenção primária.

Tabela – 4 Conhecimento acerca de práticas preventivas do câncer de próstata por homens acompanhados pelas UBS de Itaipulândia – PR

VariávelCategoriasHomens pesquisados%
Conhecimento sobre praticasNão7855,71%
preventivas do câncer de próstata
Sim
6244,29%
Total 140100,00%
Fonte: Os autores – fevereiro – março de 2023

No que concerne ao conhecimento dos homens, a Tabela 5 nos esclarece a carência da educação em saúde para a população masculina no âmbito da atenção primária, considerando que mais da metade dos entrevistados afirmaram desconhecer quaisquer práticas preventivas para o câncer de próstata.

Dado similar foi visto por Gomes et al (2021) que analisou o conhecimento de homens acima dos 50 anos em relação ao câncer de próstata, evidenciando que a maioria dos entrevistados não tem entendimento sobre os métodos de prevenção.

Portanto, levando em consideração o conhecimento precário da população masculina em relação a neoplasia em questão, se faz necessário uma ampla divulgação com objetivo de melhorar o estilo de vida desses homens e a detectar precocemente a doença, nesse caso, os profissionais da área da saúde tem um papel fundamental na disseminação desse conhecimento.

Tabela 5 – Realização de exames diagnósticos para o câncer de próstata por homens acompanhados pelas UBS de Itaipulândia – PR

VARIÁVELCATEGORIASHOMENS PESQUISADOS%
REALIZAÇÃO DO EXAME PSANÃO1712,14%

SIM12387,86%
REALIZAÇÃO DO EXAME DE TOQUENÃO11280,00%

SIM2820,00%
REALIZAÇÃO DO EXAME DE USG TRANSRETALNÃO11380,71%

SIM2719,29%
BIÓPSIANÃO13294,29%

SIM85,71%
TOTAL
140100,00%
Fonte: Os autores – fevereiro – março de 2023

A Tabela 6 diz respeito aos exames realizados pelos homens como prevenção para o câncer de próstata. Dentre os sujeitos que participaram do estudo, 12,14% não realizaram o exame de PSA, enquanto que 80% não realizaram o exame de toque e 80,71% não fizeram USG transretal. A biópsia por sua vez não foi realizada por 94,29% dos participantes.

Diante ao exposto na tabela 6 é evidente que a maioria dos homens realizaram o exame de PSA, porém houve pouca aderência aos demais exames. Nesse sentido e considerando aos objetivos do estudo foi perguntado aos participantes o motivo que os levaram a não realizar os exames de detecção precoce para o câncer de próstata. Os resultados foram dispostos no quadro a seguir:

Quadro 1 – Obstáculos relacionados à não realização dos exames para detecção precoce do câncer de próstata referidos por homens acompanhados pelas UBS de Itaipulândia – PR *Múltiplas respostas

OBSTÁCULOSEXAMES
PSAToque retalUSGBiópsia
Não solicitado –79 (56,43%)88 (62,82%)109 (77,86%)
Preconceito –9 (6,43%)4 (2,86%)3 (2,14%)
Por não achar necessário2 (1,43%)3 (2,14%)5 (3,57%)5 (3,57%)
Não procurou atendimento10 (7,14%)8 (5,71%)10 (7,14%)10 (7,14%)
Ausência de sintomas–  –1 (0,71%)1 (0,71%)
Medo de chacota2 (1,43%)5 (3,57%)2 (1,43%)2 (1,43%)
Acha que existem outros meios –1 (0,71%) – –
Falta de estimulo da saúde –1 (0,71%) – –
Por não ter queixas –3 (2,14%) – –
Não faz questão de fazer3 (2,14%)3 (2,14%)3 (2,14%)3 (2,14%)
Fonte: Os autores – fevereiro – março de 2023

A partir do que foi relatado pelos participantes da pesquisa, em relação ao motivo que os levaram a não realizar os exames de detecção precoce para o câncer de próstata, percebe – se que a grande maioria dos homens apontaram a responsabilidade da não adoção de medidas preventivas pela falta de solicitação médica. Conforme já citado nesse estudo, para que a doença seja detectada precocemente é indicado pelo Ministério da Saúde a realização do exame de sangue (PSA) juntamente com o exame de toque retal (TR), caso seja encontrado alguma alteração, os demais exames também poderão ser solicitados.

Com isso fica claro que não é necessário realizar todos os exames preventivos da neoplasia em questão, contudo, é importante lembrar que os profissionais da saúde, especialmente aqueles atuantes na ESF, tem a responsabilidade de orientar a população em geral sobre adoção de medidas preventivas em se tratando de doenças.

Em relação aos demais motivos mencionados pelos entrevistados destaca -se preconceito e medo de chacota, principalmente quando se trata do exame de toque retal. Amthauer (2016) constatou que o exame de toque como meio de prevenção é motivo de medo e constrangimento para população masculina.

Outro ponto a ser observado é falta de interesse desses homens em realizar os exames preventivos, visto que, alguns desses, alegaram que não fizeram os exames por não achar necessário, ou até mesmo porque não faz questão de fazer.

Vieira et al (2013) apontam em seu estudo que os principais motivos que levam a não procura de atendimento por parte dos homens nas unidades básicas de saúde são a demora para ser atendido, vergonha de expor o seu corpo aos profissionais de saúde, medo de descobrir uma doença grave e achar que não precisa de consulta.

Tabela 6 – Aquisição de informações como forma de prevenção adotada por homens acompanhados pelas UBS de Itaipulândia – PR *Múltiplas respostas

VARIÁVELCATEGORIASHOMENS PESQUISADOS%
 
RECEBIMENTO DE INFORMAÇÕESNÃO1410,00%
NO SERVIÇO DE SAÚDESIM12690,00%
    
 
FONTE DA INFORMAÇÃOMÉDICO7654,29%
 ENFERMEIRO4129,29%
 TELEVISÃO8862,46%
 OUTROS6445,71%
Fonte: os autores – fevereiro – março de 2023

Em se tratando do variável recebimento de informações acerca do câncer de próstata, 90% dos participantes alegaram terem sido informados sobre a doença. Quando questionado sobre a fonte da informação a maioria citou a televisão ou o profissional médico, enquanto apenas 29,29% revelaram que foram informados pelo enfermeiro.

Apesar dos dados demonstrarem que grande parte dos homens recebeu algum tipo de informação em saúde, coloca-se em dúvida a postura da enfermagem, visto que o enfermeiro como protagonista da atenção primária tem um papel fundamental na realização de ações que visem a promoção e prevenção em saúde. Segundo Melo, Almeida, Souza & França, (2017), o enfermeiro deve atuar no processo de educação em saúde afim de realizar mudanças no comportamento dos pacientes por meio de informações e experiências.

  1. CONCLUSÃO

O desenvolvimento deste estudo tornou possível analisar os desafios associados à saúde preventiva dos homens com mais de 40 anos do município de Itaipulândia, bem como avaliar a situação socioeconômica e demográfica dessa população. Possibilitou compreender os motivos que levam os homens a não adotar práticas preventivas para o câncer de próstata, no que diz respeito à realização dos principais exames de rastreio, como nível sérico de PSA, toque retal, USG transretal e biópsia.

Em relação à caracterização socioeconômica e demográfica, os homens possuem, baixo nível de escolaridade, majoritariamente casados e com renda familiar entre a 2 e 3 salários mínimos. Mediante a aplicação do questionário em anexo e analisando o estilo de vida adotado pela população, evidenciou-se que os entrevistados estão expostos a fatores de risco frequentemente associados ao câncer de próstata, como o tabagismo e etilismo, que neste estudo estiveram presentes.

Em se tratando dos demais objetivos deste estudo, observou-se que a maioria dos entrevistados é aderente à realização dos exames de rastreio para o câncer de próstata, diferente do cenário sabidamente conhecido de baixa aderência dessa população, evidenciado na literatura e na prática diária. Uma parcela significativa negou ter realizado os exames de toque retal e USG transretal, não por preconceito, mas por falta de solicitação médica ou de necessidade de realizá-los, durante a avaliação do profissional especialista.

No entanto, percebe-se falhas no que se refere à educação em saúde sobre esse tema à população estudada, uma vez que muitos homens relataram desconhecimento acerca do assunto ou falta de orientação dos profissionais especializados, sendo um entrave que os limitaram à realização das práticas de detecção precoce do câncer de próstata e hábitos de vida saudável.

  1. REFERÊNCIAS

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ANEXOS

ANEXO – A INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

ANEXO – B TERMO DE APROVAÇÃO DO CEP