CÂNCER DE PÂNCREAS: AVANÇOS CIRÚRGICOS E DESAFIOS NA PRÁTICA ATUAL – UMA REVISÃO INTEGRATIVA

PANCREATIC CANCER: SURGICAL ADVANCES AND CHALLENGES IN CURRENT PRACTICE – AN INTEGRATIVE REVIEW

Graduação em Bacharelado em Medicina – Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412102054


Alana Arantes Santos Gonçalves¹; Débora Andrade Lima2; Eduardo Zerbinati Polacci3; Giovanna Oikawa dos Santos4; Guilherme Cordeiro Rezende Dotoli5; Isabelle Francesquini Matheus Jardim6; Julia Bianquete Trovó7; Maria Clara Oliveira Zanin8; Maria Eduarda Amaral Silva9; Rodrigo Fernandes Leitão dos Santos10; Tatiana Ferrari Becegatto¹¹; Thainá Franco Maluf12; Veronica Martins Leite13; Rodolfo Cabral da Silva14


RESUMO

A cirurgia para o câncer de pâncreas representa um dos maiores desafios da oncologia devido à complexidade anatômica e alta morbidade associada. Este estudo revisa os avanços e desafios na prática cirúrgica, destacando o impacto das inovações tecnológicas, como a cirurgia robótica, biomarcadores intraoperatórios e protocolos de cuidados perioperatórios. A integração de terapias combinadas, como quimioterapia adjuvante com gemcitabina, tem contribuído para a melhora da sobrevida e qualidade de vida dos pacientes. Contudo, persistem barreiras econômicas, limitações no acesso às inovações e lacunas em estudos randomizados de longo prazo. Este trabalho conclui que a abordagem multidisciplinar e os avanços contínuos em terapias genéticas e imunológicas são essenciais para transformar o prognóstico do câncer pancreático.

Palavras-chave:  Câncer de pâncreas; Cirurgia robótica; Inovações cirúrgicas; Terapias combinadas; Cuidados perioperatórios.

ABSTRACT

Pancreatic cancer surgery remains one of the most significant challenges in oncology due to anatomical complexity and high morbidity. This study reviews the advances and challenges in surgical practice, highlighting the impact of technological innovations such as robotic surgery, intraoperative biomarkers, and perioperative care protocols. The integration of combined therapies, such as adjuvant chemotherapy with gemcitabine, has improved survival rates and patients’ quality of life. However, economic barriers, limited access to innovations, and gaps in long-term randomized studies persist. This paper concludes that multidisciplinary approaches and continuous advancements in genetic and immunological therapies are essential to transform pancreatic cancer prognosis.

Keywords: Pancreatic cancer; Robotic surgery; Surgical innovations; Combined therapies; Perioperative care.

1 INTRODUÇÃO

O câncer de pâncreas representa uma das neoplasias malignas mais desafiadoras da prática médica contemporânea devido à sua alta taxa de mortalidade e diagnóstico predominantemente tardio. Esta condição oncológica está entre as principais causas de mortes relacionadas ao câncer no mundo, caracterizando-se pela agressividade biológica e limitada eficácia das opções terapêuticas disponíveis (American Cancer Society, 2020). Globalmente, apenas 10% dos pacientes apresentam-se em estágios iniciais, nos quais a ressecção cirúrgica é viável, enquanto a grande maioria recebe o diagnóstico em estágios avançados, inviabilizando o tratamento curativo.

Do ponto de vista terapêutico, a cirurgia desempenha um papel central na abordagem do câncer de pâncreas, sendo atualmente a única modalidade com potencial curativo. Procedimentos como a pancreatoduodenectomia (cirurgia de Whipple) são considerados o padrão de ouro para tumores localizados na cabeça pancreática, embora estejam associados a altos índices de morbidade e mortalidade. Além disso, avanços nas técnicas cirúrgicas e no manejo perioperatório têm contribuído para a melhora da sobrevida e da qualidade de vida dos pacientes.

A etiologia do câncer de pâncreas é multifatorial, incluindo fatores genéticos, ambientais e comportamentais. Estudos mostram que hábitos como tabagismo, obesidade e dietas inadequadas estão fortemente associados ao aumento do risco de desenvolvimento da doença (Maisonneuve & Lowenfels, 2015). Apesar desses conhecimentos, os mecanismos moleculares subjacentes ao início e progressão do câncer pancreático ainda não são completamente elucidados, o que limita as possibilidades de prevenção e diagnóstico precoce.

Dada a complexidade do manejo do câncer de pâncreas, torna-se fundamental explorar as inovações recentes na prática cirúrgica e os fatores críticos que afetam o desfecho do tratamento. Este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão integrativa do estado atual do conhecimento sobre o tema, sintetizando evidências sobre os desafios e avanços na prática cirúrgica. Tal abordagem visa não apenas oferecer uma visão abrangente da literatura científica, mas também identificar lacunas no conhecimento que possam orientar futuras pesquisas.

Os estudos selecionados para esta revisão destacam a importância do diagnóstico precoce e das estratégias multidisciplinares no manejo do câncer pancreático (Park et al., 2021). Além disso, abordam as inovações tecnológicas e terapêuticas que têm potencial para transformar os paradigmas atuais, promovendo avanços significativos na sobrevida e qualidade de vida dos pacientes. Assim, este trabalho busca contribuir para o desenvolvimento de práticas mais eficazes e seguras na abordagem cirúrgica dessa condição devastadora.

2 PANORAMA DA CIRURGIA NO TRATAMENTO DO CÂNCER DE PÂNCREAS

A cirurgia representa o principal tratamento potencialmente curativo para o câncer de pâncreas, sendo indicada principalmente para pacientes em estágios iniciais da doença e com tumores ressecáveis. Apesar dos avanços significativos nas técnicas cirúrgicas, o manejo cirúrgico dessa doença permanece um dos mais desafiadores no campo da oncologia, devido à complexidade anatômica da região pancreática, a proximidade de estruturas vasculares críticas e as altas taxas de morbidade associadas.

2.1.     Tipos de Ressecção

A pancreatoduodenectomia, popularmente conhecida como cirurgia de Whipple, é o procedimento cirúrgico mais realizado para tumores localizados na cabeça do pâncreas. Este procedimento foi descrito inicialmente por Allen Oldfather Whipple em 1935, em um trabalho pioneiro que detalhou a técnica de remoção da cabeça pancreática, duodeno, parte do estômago, vesícula biliar e ductos biliares, com reconstrução subsequente do trato gastrointestinal (Whipple, 1935). Desde então, a técnica evoluiu substancialmente, com melhorias tanto na execução quanto no manejo pós-operatório.

Ressecções distais e totais são outras abordagens importantes no tratamento cirúrgico. A ressecção distal é geralmente indicada para tumores no corpo e na cauda do pâncreas, enquanto a ressecção total é reservada para casos de tumores multifocais ou envolvendo o pâncreas inteiro. Esses procedimentos, apesar de eficazes em situações específicas, estão associados a desafios significativos, incluindo a perda total da função endócrina e exócrina do pâncreas em casos de ressecção total.

Nos últimos anos, técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia laparoscópica e robótica, têm se tornado alternativas promissoras. Estas técnicas oferecem vantagens como menor tempo de internação, menor dor pós-operatória e recuperação mais rápida. No entanto, estudos como os de Zureikat et al. (2019) indicam que a implementação dessas técnicas exige um treinamento altamente especializado e recursos significativos, limitando sua disponibilidade em muitos centros.

2.2.    Desafios Clínicos e Cirúrgicos

O câncer de pâncreas apresenta inúmeros desafios no manejo cirúrgico. Um dos maiores obstáculos é a invasão vascular que ocorre frequentemente, tornando os tumores localmente avançados não ressecáveis. A resecção vascular, apesar de tecnicamente viável em alguns casos, aumenta significativamente a complexidade cirúrgica e está associada a maiores taxas de complicações (Cameron et al., 2007).

A morbidade e mortalidade pós-operatórias são preocupações significativas. Estima-se que até 40% dos pacientes submetidos à pancreatoduodenectomia enfrentam complicações como fístulas pancreáticas, obstrução intestinal e infecções (Bassi et al., 2005; Bilimoria et al., 2007). Cameron et al. (2007), em sua análise de 1000 pancreatoduodenectomias consecutivas, mostraram que, embora as taxas de mortalidade tenham diminuído em centros de excelência (menos de 5%), a morbidade permanece elevada, sublinhando a necessidade de uma abordagem altamente especializada e protocolos perioperatórios rigorosos.

Além disso, a qualidade de vida pós-operatória é uma questão central. Muitos pacientes enfrentam dor crônica e déficits funcionais relacionados à digestão e metabolismo, impactando severamente sua recuperação e sobrevivência a longo prazo.

2.3.    Resultados Esperados e Limitações Atuais

A eficácia da cirurgia como abordagem terapêutica depende de múltiplos fatores, incluindo o estágio do tumor, o estado de saúde do paciente e a expertise da equipe cirúrgica. Embora a ressecção completa do tumor (R0) seja o objetivo ideal, a recorrência da doença é comum, com taxas de sobrevida de 5 anos inferiores a 10% para a maioria dos pacientes diagnosticados com câncer de pâncreas (Cameron et al., 2007).

Yeo et al. (2000), em um estudo comparando diferentes técnicas cirúrgicas para adenocarcinoma periampular, concluíram que a extensão da ressecção nem sempre se traduz em melhor sobrevida, enfatizando a importância de um planejamento cirúrgico individualizado. Eles destacaram que a morbidade associada a procedimentos mais agressivos muitas vezes contrabalança os benefícios potenciais em termos de controle tumoral.

Adicionalmente, avanços tecnológicos, como o uso de abordagens robóticas e planejamento 3D, têm o potencial de melhorar a precisão cirúrgica e os desfechos. No entanto, a implementação dessas inovações enfrenta barreiras significativas, incluindo altos custos e a necessidade de treinamento especializado (Zureikat et al., 2019).

A cirurgia para o câncer de pâncreas é um campo em constante evolução, com desafios técnicos e clínicos que exigem abordagem multidisciplinar e especialização cirúrgica. As técnicas tradicionais, como a pancreatoduodenectomia, continuam sendo a base do tratamento, enquanto inovações como a cirurgia minimamente invasiva estão redefinindo os paradigmas atuais. Apesar dos avanços, limitações significativas persistem, sublinhando a necessidade de mais estudos e melhorias na prática clínica. Trabalhos como os de Whipple (1935), Cameron et al. (2007) e Yeo et al. (2000) fornecem uma base sólida para entender os progressos realizados até agora, bem como os desafios que ainda precisam ser superados.

3 FATORES CRÍTICOS NO SUCESSO DA CIRURGIA PARA CÂNCER DE PÂNCREAS

O sucesso da cirurgia para câncer de pâncreas depende de uma interação complexa entre fatores relacionados ao paciente, à equipe médica e à técnica empregada. A identificação e a gestão eficaz desses fatores críticos são essenciais para maximizar os benefícios da intervenção cirúrgica, minimizar complicações e melhorar os resultados a longo prazo.

3.1.     Estadiamento e Seleção de Pacientes

A seleção criteriosa dos pacientes é fundamental para determinar a elegibilidade para cirurgia e prever os desfechos. O estadiamento tumoral é uma etapa crucial nesse processo, sendo necessário avaliar a extensão do tumor, o envolvimento de estruturas vasculares e a presença de metástases. Tumores localmente avançados ou com invasão vascular significativa podem ser considerados ressecáveis em casos selecionados, especialmente quando há possibilidade de ressecção vascular. Contudo, a presença de metástases distantes frequentemente contraindica a cirurgia.

O uso de exames avançados de imagem, como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RNM) e tomografia por emissão de pósitrons (PET-CT), tem desempenhado um papel central na avaliação pré-operatória. Esses exames fornecem informações detalhadas sobre a localização e a extensão do tumor, permitindo um planejamento cirúrgico mais preciso. Além disso, técnicas modernas de imagem auxiliam na identificação de pacientes que podem se beneficiar de terapias neoadjuvantes antes da cirurgia.

3.2.   Abordagem Multidisciplinar

O manejo do câncer de pâncreas requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cirurgiões, oncologistas, radiologistas, nutricionistas e outros especialistas. Essa integração de equipes é essencial para personalizar o tratamento, desde a seleção inicial dos pacientes até o manejo pós-operatório.

Terapias neoadjuvantes e adjuvantes têm demonstrado benefícios em termos de redução do tumor e controle de micrometástases. A quimioterapia neoadjuvante, por exemplo, pode aumentar a chance de ressecabilidade em casos borderline, melhorando as taxas de sobrevida. Por outro lado, a quimioterapia ou radioterapia adjuvante tem como objetivo reduzir a recorrência tumoral após a cirurgia.

3.3.     Controle de Complicações Pós-Operatórias

As complicações pós-operatórias são uma preocupação significativa na cirurgia para câncer de pâncreas, afetando diretamente os resultados e a recuperação do paciente. Entre as complicações mais comuns está a fístula pancreática, definida e categorizada pela International Study Group on Pancreatic Fistula (ISGPF) como um vazamento de suco pancreático associado à falha de cicatrização no local da anastomose (Bassi et al., 2005). O manejo adequado dessa complicação requer intervenções precoces, como drenagem percutânea e suporte clínico intensivo.

Outro problema recorrente é a obstrução intestinal, muitas vezes relacionada a aderências ou alterações anatômicas decorrentes da reconstrução gastrointestinal. Bilimoria et al. (2007) destacaram que essa complicação pode levar a uma recuperação prolongada e a necessidade de intervenções adicionais.

Infecções e tromboses também são frequentes no período pós-operatório, exigindo protocolos rigorosos de prevenção e monitoramento. A utilização de protocolos perioperatórios padronizados, como o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS), tem sido proposta como uma abordagem para reduzir complicações e acelerar a recuperação.

3.4.     Abordagens Personalizadas no Planejamento Cirúrgico

A individualização do tratamento é um componente crítico para o sucesso da cirurgia pancreática. O estudo de McMillan et al. (2015) demonstrou que a incorporação de riscos específicos do procedimento no ACS-NSQIP Surgical Risk Calculator aprimorou significativamente a previsão de morbidade e mortalidade em pacientes submetidos à pancreatoduodenectomia. Esses avanços permitem um planejamento mais preciso, ajudando a identificar pacientes com maior risco de complicações e a tomar decisões informadas sobre a viabilidade da cirurgia.

O sucesso da cirurgia para câncer de pâncreas depende de uma combinação de fatores que abrangem desde o diagnóstico e seleção de pacientes até o manejo perioperatório. Estudos como os de Bassi et al. (2005), Bilimoria et al. (2007) e McMillan et al. (2015) destacam os principais determinantes de sucesso e insucesso, sublinhando a importância de uma abordagem integrada e personalizada. Combinando avanços tecnológicos e práticas baseadas em evidências, é possível melhorar significativamente os desfechos e a qualidade de vida dos pacientes submetidos a essa intervenção desafiadora.

4 INOVAÇÕES NA PRÁTICA CIRÚRGICA

A evolução das tecnologias e abordagens técnicas tem transformado significativamente a prática cirúrgica no tratamento do câncer de pâncreas. O foco em melhorar a precisão operatória, reduzir complicações e otimizar a recuperação pós-operatória coloca as inovações como pilares centrais no avanço da oncologia pancreática. Este desenvolvimento apresenta uma síntese fluida das principais inovações, enfatizando seu impacto na prática clínica.

4.1.     Tecnologias Minimamente Invasivas

A incorporação de técnicas minimamente invasivas na cirurgia pancreática, como a laparoscopia e a cirurgia robótica, representa um marco nos esforços para reduzir os impactos físicos e emocionais da cirurgia sobre os pacientes. A cirurgia robótica, em particular, oferece maior precisão e controle durante o procedimento, possibilitando acesso mais refinado às estruturas anatômicas complexas. Um estudo marcante de Zureikat et al. (2019), que analisou 500 pancreatoduodenectomias robóticas realizadas ao longo de uma década, demonstrou benefícios substanciais, como menor tempo de internação, redução de complicações e recuperação mais rápida. Apesar desses avanços, as limitações incluem os altos custos de implementação, a necessidade de treinamento especializado e a curva de aprendizado extensa para as equipes cirúrgicas.

Por outro lado, a laparoscopia, amplamente utilizada em diversas especialidades cirúrgicas, também se destaca no tratamento do câncer pancreático. Estudos mostram que essa abordagem, quando realizada em centros experientes, pode oferecer benefícios como menor dor pós-operatória e tempos de recuperação reduzidos, embora sua aplicabilidade seja mais restrita a casos menos complexos.

4.2.     Terapias Intraoperatórias

A busca por maior precisão durante a cirurgia motivou o desenvolvimento de técnicas como a radioterapia intraoperatória (IORT), que permite a administração direcionada de radiação no leito tumoral durante o procedimento cirúrgico. Essa abordagem reduz o impacto nos tecidos saudáveis e pode ser particularmente útil em casos de tumores localmente avançados, onde o controle local da doença é um desafio. Embora os dados sobre seu uso no câncer de pâncreas ainda sejam limitados, os resultados iniciais sugerem potencial para melhorar o controle local e reduzir as taxas de recorrência.

Outra inovação é o uso de biomarcadores intraoperatórios e tecnologia de imagem molecular para guiar a ressecção. Poels et al. (2021) destacaram que essas ferramentas permitem identificar com maior precisão as margens tumorais durante a cirurgia, reduzindo o risco de margens positivas e aumentando a eficácia da ressecção. Essa integração de terapias intraoperatórias com tecnologias de imagem é uma das áreas mais promissoras para avanços futuros.

4.3.     Personalização da Cirurgia

A personalização da abordagem cirúrgica tem se tornado uma prioridade no tratamento do câncer de pâncreas. O uso de modelos tridimensionais (3D) baseados em imagens de alta resolução permite um planejamento detalhado e personalizado da cirurgia. Esses modelos ajudam a equipe cirúrgica a visualizar a relação do tumor com estruturas vitais, como vasos sanguíneos, antes do procedimento. Essa técnica é particularmente útil em casos de tumores complexos com envolvimento vascular, permitindo uma abordagem mais segura e eficaz.

Além disso, as terapias-alvo específicas, administradas intra-operatória ou perioperatoriamente, começam a ganhar espaço na prática clínica. Essas terapias, direcionadas a mutações ou características moleculares específicas do tumor, oferecem uma nova dimensão ao tratamento do câncer pancreático, integrando abordagens moleculares ao manejo cirúrgico tradicional.

4.4.     Avanços em Cuidados Perioperatórios

Os cuidados perioperatórios têm recebido atenção significativa como um complemento essencial às inovações tecnológicas. Protocolos como o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS) têm mostrado grande eficácia na redução de complicações e na aceleração da recuperação. Esses protocolos incluem estratégias como analgesia multimodal, mobilização precoce e otimização nutricional, visando minimizar o impacto fisiológico da cirurgia e acelerar o retorno às atividades normais.

Outro avanço importante é o uso de intervenções minimamente invasivas no manejo das complicações pós-operatórias. Kawabata et al. (2019) descreveram o uso de técnicas endoscópicas, como dilatação por balão, para tratar estenoses anastomóticas em pacientes submetidos à pancreatoduodenectomia. Essas intervenções, menos invasivas do que as revisões cirúrgicas, oferecem uma abordagem segura e eficaz para lidar com complicações específicas.

4.5.     Impacto e Perspectivas Futuras

As inovações na prática cirúrgica estão redefinindo os padrões de tratamento do câncer de pâncreas. Tecnologias como a cirurgia robótica, terapias intraoperatórias e planejamento 3D têm o potencial de transformar a prática clínica, proporcionando maior precisão e melhorando os desfechos dos pacientes. Contudo, essas inovações vêm acompanhadas de desafios, como altos custos e a necessidade de infraestrutura adequada e treinamento especializado.

À medida que essas tecnologias se tornam mais acessíveis e os dados de longo prazo se acumulam, espera-se que seu impacto na prática cirúrgica continue a crescer. A integração de abordagens multidisciplinares, aliada às inovações tecnológicas, representa o caminho mais promissor para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes com câncer pancreático.

5 IMPACTO DOS AVANÇOS NO PROGNÓSTICO

Os avanços tecnológicos, terapêuticos e no manejo perioperatório têm gerado um impacto significativo no prognóstico dos pacientes com câncer de pâncreas. Embora a doença continue associada a altas taxas de mortalidade, as inovações recentes têm contribuído para a redução de complicações cirúrgicas, melhoria na sobrevida e aumento da qualidade de vida. Além disso, a integração de terapias combinadas, incluindo estratégias quimioterápicas e radioterápicas, ampliou as possibilidades terapêuticas, beneficiando pacientes em diferentes estágios da doença.

Os avanços nas técnicas cirúrgicas, como as abordagens minimamente invasivas, têm demonstrado um impacto direto na redução de complicações perioperatórias. Tecnologias como a cirurgia robótica e laparoscópica, além de protocolos como o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS), têm sido associadas a menor morbidade, tempos de recuperação mais curtos e uma redução geral nos custos hospitalares. Essa diminuição das complicações não apenas melhora os resultados imediatos da cirurgia, mas também permite que os pacientes sejam elegíveis para terapias adjuvantes que podem aumentar as taxas de sobrevida.

Estudos mostram que a ressecção completa do tumor (margens R0) é um dos principais determinantes de um bom prognóstico. As inovações, como o uso de biomarcadores e imagens intraoperatórias, têm aumentado a precisão da ressecção, reduzindo as taxas de recorrência local e melhorando os resultados a longo prazo.

Embora o foco primário seja a sobrevida, a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao tratamento do câncer pancreático é uma métrica igualmente importante. A integração de cuidados multidisciplinares, incluindo suporte nutricional, manejo da dor e reabilitação precoce, tem mostrado resultados positivos nesse aspecto. Protocolos otimizados de manejo perioperatório, como os descritos em estudos recentes, têm ajudado a minimizar os impactos da cirurgia na função digestiva e metabólica dos pacientes.

Além disso, as abordagens menos invasivas, como técnicas endoscópicas para o manejo de complicações, têm melhorado significativamente a experiência do paciente durante a recuperação. Essas intervenções contribuem para uma menor dependência de analgesia, maior mobilidade e maior capacidade de retomar atividades diárias, mesmo em pacientes submetidos a procedimentos extensos como a pancreatoduodenectomia.

A integração de terapias sistêmicas, como a quimioterapia e a radioterapia, ao manejo cirúrgico tem sido uma das áreas de maior progresso no tratamento do câncer de pâncreas. O estudo de Oettle et al. (2013) demonstrou que a quimioterapia adjuvante com gemcitabina melhora significativamente as taxas de sobrevida a longo prazo em pacientes submetidos à ressecção curativa. Esse estudo pioneiro estabeleceu a gemcitabina como padrão para o manejo pós-operatório, com resultados mostrando uma redução na recorrência e uma melhora substancial nas taxas de sobrevida em cinco anos.

Terapias evolutivas, como aquelas discutidas por Adamska et al. (2017), oferecem uma visão promissora para o futuro. Estratégias direcionadas, incluindo inibidores de vias moleculares específicas e imunoterapias, têm mostrado potencial para complementar as abordagens tradicionais, particularmente em pacientes com características tumorais específicas. Embora muitas dessas abordagens estejam em estágios experimentais, elas sinalizam um avanço significativo na personalização do tratamento.

Os avanços nas técnicas cirúrgicas, manejo perioperatório e terapias combinadas têm melhorado significativamente o prognóstico dos pacientes com câncer de pâncreas. Estudos como os de Oettle et al. (2013) e Adamska et al. (2017) destacam o impacto positivo das terapias adjuvantes e evolutivas, tanto na sobrevida quanto na qualidade de vida. Embora desafios significativos permaneçam, particularmente no manejo de casos avançados e na implementação ampla dessas inovações, os progressos atuais apontam para um futuro mais promissor, com tratamentos mais eficazes e centrados no paciente.

6 IMPACTO DOS AVANÇOS NO PROGNÓSTICO

Embora avanços significativos tenham sido feitos no tratamento do câncer de pâncreas, desafios importantes permanecem, especialmente em termos de acessibilidade, eficácia e previsibilidade dos tratamentos. Esta seção aborda as lacunas existentes no conhecimento e explora as perspectivas futuras para superar essas limitações e melhorar os desfechos clínicos.

A adoção de novas tecnologias e abordagens terapêuticas, como cirurgia robótica, biomarcadores intraoperatórios e terapias-alvo, é limitada por barreiras econômicas e estruturais. Muitos centros cirúrgicos, particularmente em países de baixa e média renda, não dispõem de recursos financeiros e expertise técnica necessários para implementar essas inovações. Além disso, a alta curva de aprendizado associada a técnicas como a cirurgia robótica limita sua disseminação em larga escala.

Denbo e Fleming (2016) destacaram os desafios específicos no manejo de pacientes com tumores pancreáticos borderline ressecáveis. Estes casos exigem intervenções altamente especializadas, como ressecções com reconstrução vascular, que nem sempre estão disponíveis fora de centros de referência. Essas limitações apontam para a necessidade de estratégias para democratizar o acesso às inovações cirúrgicas, incluindo programas de treinamento e financiamento para instituições menores.

Embora muitos avanços tenham mostrado resultados promissores, a maioria deles ainda carece de validação robusta por meio de estudos randomizados e análises de longo prazo. A eficácia de terapias adjuvantes e neoadjuvantes, por exemplo, varia amplamente dependendo do perfil do paciente e das características tumorais, mas dados conclusivos que orientem práticas padronizadas são escassos.

Nsingwane et al. (2020) destacaram o potencial das imunoterapias no manejo do adenocarcinoma ductal pancreático, mas também ressaltaram que essas abordagens estão em estágios iniciais de desenvolvimento, com muitas delas ainda restritas a ensaios clínicos iniciais. A falta de estudos randomizados multicêntricos limita a capacidade de incorporar essas terapias de maneira sistemática à prática clínica.

As terapias genéticas e imunológicas representam um campo promissor no manejo do câncer de pâncreas. Estratégias como o uso de inibidores de pontos de controle imunológico, vacinas terapêuticas e terapias gênicas personalizadas estão sendo estudadas como formas de complementar a cirurgia e a quimioterapia.

Nsingwane et al. (2020) discutem que, embora a imunoterapia tenha revolucionado o tratamento de outros tipos de câncer, sua eficácia no adenocarcinoma ductal pancreático tem sido limitada devido à natureza imunossupressora do microambiente tumoral. Direções futuras incluem o desenvolvimento de estratégias para modificar esse microambiente, aumentando a eficácia das terapias imunológicas.

Além disso, o uso de ferramentas como edição genética baseada em CRISPR oferece a possibilidade de abordar mutações específicas associadas ao câncer pancreático, embora isso ainda esteja em estágios iniciais de pesquisa. Esses avanços podem levar a uma abordagem mais personalizada e eficaz no manejo da doença.

Estudos populacionais desempenham um papel crucial na identificação de fatores de risco e tendências epidemiológicas, orientando estratégias de prevenção e diagnóstico precoce. A revisão de Hu et al. (2021) enfatizou a importância de investigar tendências demográficas e ambientais associadas ao aumento da incidência de câncer de pâncreas. Intervenções preventivas, como programas para cessação do tabagismo e redução da obesidade, podem desempenhar um papel importante na redução da carga da doença.

Além disso, a necessidade de desenvolver melhores métodos de rastreamento para populações de alto risco é uma área prioritária. A integração de biomarcadores moleculares com técnicas de imagem avançadas tem o potencial de melhorar significativamente o diagnóstico precoce, possibilitando tratamentos mais eficazes e menos invasivos.

Embora avanços importantes tenham sido feitos, o manejo do câncer de pâncreas ainda enfrenta limitações significativas, incluindo barreiras à implementação de inovações, falta de validação robusta de novas terapias e a necessidade de abordagens mais eficazes para casos avançados. Estudos como os de Denbo e Fleming (2016), Nsingwane et al. (2020) e Hu et al. (2021) apontam para direções futuras promissoras, como o desenvolvimento de terapias genéticas e imunológicas e a ampliação do conhecimento epidemiológico.

Superar essas barreiras exigirá um esforço colaborativo envolvendo pesquisa translacional, ensaios clínicos multicêntricos e iniciativas para democratizar o acesso às tecnologias avançadas. As perspectivas futuras incluem a integração de abordagens personalizadas com inovações tecnológicas, oferecendo esperança de avanços mais significativos no prognóstico e na qualidade de vida dos pacientes.

7 CONCLUSÃO

A cirurgia para o câncer de pâncreas permanece um dos maiores desafios na oncologia devido à complexidade anatômica, alta morbidade associada e prognóstico reservado. No entanto, avanços tecnológicos e terapêuticos têm trazido esperança de melhores desfechos para os pacientes. Este trabalho revisou os principais desafios e inovações na prática cirúrgica, destacando aspectos críticos que moldam o sucesso das intervenções.

Os avanços na precisão cirúrgica, proporcionados por técnicas minimamente invasivas, como a laparoscopia e a cirurgia robótica, aliados a inovações como radioterapia intraoperatória e uso de biomarcadores, têm impactado positivamente os resultados cirúrgicos, reduzindo complicações e ampliando as possibilidades de ressecções mais eficazes. Além disso, melhorias no cuidado perioperatório, exemplificadas pelos protocolos ERAS, têm contribuído significativamente para a recuperação dos pacientes e sua qualidade de vida.

Apesar desses avanços, desafios persistem. A implementação generalizada dessas inovações ainda é limitada por barreiras econômicas, estruturais e pela necessidade de treinamento especializado. Além disso, lacunas no conhecimento, como a falta de estudos randomizados de longo prazo e a baixa eficácia de algumas terapias em determinados subgrupos de pacientes, sublinham a necessidade de mais pesquisas.

A integração de uma abordagem multidisciplinar é essencial, combinando expertise cirúrgica, oncológica, radiológica e suporte clínico para personalizar o tratamento de acordo com as necessidades individuais dos pacientes. Essa abordagem integrada é fundamental para maximizar o impacto das inovações e promover uma melhora substancial nos desfechos.

Finalmente, este trabalho reforça a necessidade de esforços contínuos em pesquisa e desenvolvimento. Estudos focados em terapias genéticas, imunológicas e estratégias de diagnóstico precoce são cruciais para transformar a realidade do tratamento do câncer pancreático. Com investimentos direcionados e a ampliação da acessibilidade às inovações, é possível vislumbrar um futuro em que o manejo dessa doença devastadora seja mais eficaz, seguro e centrado no paciente.

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