CÂNCER DE MAMA NA GESTAÇÃO: UMA REVISÃO DAS ABORDAGENS TERAPÊUTICAS

BREAST CANCER DURING PREGNANCY: A REVIEW OF THERAPEUTIC APPROACHES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202505291928


Bomfim, Renata Oliveira Marques1
Tourinho, Luciano de Oliveira Souza2


RESUMO

INTRODUÇÃO. O câncer de mama durante a gestação (CMAG) é uma condição complexa que requer abordagens terapêuticas cuidadosas para garantir a segurança tanto da mãe quanto do feto. O tratamento do CMAG envolve dilemas éticos e práticos, uma vez que modalidades como quimioterapia, radioterapia e terapia hormonal podem apresentar riscos ao desenvolvimento fetal, especialmente quando administradas em determinados períodos da gestação. Além disso, alterações fisiológicas da gravidez – como aumento da vascularização mamária e modificações hormonais – podem dificultar o diagnóstico precoce, resultando em tumores frequentemente identificados em estágios mais avançados. Diante desse cenário, torna-se essencial revisar as evidências científicas disponíveis sobre as abordagens terapêuticas, considerando sua eficácia, segurança e impacto nos desfechos materno-fetais.  OBJETIVOS. O presente estudo tem como objetivo principal analisar criticamente as abordagens terapêuticas disponíveis para o tratamento do câncer de mama durante a gestação, à luz da literatura científica atual. De forma específica, busca-se: descrever a epidemiologia e os fatores de risco do câncer de mama diagnosticado durante a gestação, identificar os principais desafios diagnósticos do câncer de mama em gestantes, considerando os aspectos clínicos, radiológicos e histopatológicos, revisar as opções terapêuticas disponíveis (cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal) e sua segurança durante os diferentes trimestres da gestação, analisar o impacto das intervenções terapêuticas na saúde materna e fetal, considerando riscos e benefícios, explorar diretrizes e consensos internacionais sobre o manejo multidisciplinar do câncer de mama gestacional e avaliar o prognóstico e os desfechos materno-fetais associados às diferentes estratégias terapêuticas. JUSTIFICATIVA. O câncer de mama é a neoplasia mais comum entre mulheres em idade reprodutiva e representa cerca de 20% dos casos de câncer diagnosticados durante a gestação, o chamado câncer de mama gestacional (CMG) [Sullivan E, et al.2022]. Embora raro, com incidência estimada entre 1 em cada 3.000 a 10.000 gestações, o diagnóstico de câncer de mama durante a gravidez impõe desafios clínicos, éticos e terapêuticos significativos, demandando um equilíbrio delicado entre o tratamento oncológico materno e a preservação da saúde fetal (Loibl et al., 2015); A gestação modifica a fisiologia mamária, o que pode mascarar sinais precoces da doença e retardar o diagnóstico, contribuindo para a detecção em estágios mais avançados (Sullivan E, et al.2022). Além disso, a condução terapêutica exige decisões complexas quanto ao tipo e ao tempo de tratamento — como cirurgia, quimioterapia ou radioterapia — considerando a idade gestacional e os riscos teratogênicos associados. Apesar dos avanços nas diretrizes internacionais, ainda há lacunas no conhecimento e variações na prática clínica, especialmente em países com menos acesso a centros de referência oncológica. Assim, revisar criticamente as abordagens terapêuticas do câncer de mama na gestação é fundamental para contribuir com uma prática médica baseada em evidências, favorecer a tomada de decisão multiprofissional e, sobretudo, garantir desfechos mais seguros para mãe e feto. Portanto, este trabalho se justifica pela relevância clínica, acadêmica, social e científica do tema, ao passo que visa oferecer subsídios atualizados para o manejo ético e terapêutico do CMG, promovendo o cuidado integral da gestante oncológica. MATERIAIS E MÉTODOS. Trata-se de uma revisão narrativa de literatura, com abordagem descritiva e qualitativa, sem sistematização dos resultados. Para isso, utilizou-se bases de dados online nacionais e internacionais Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), U.S National Library os Medicine (PubMed), e Google Acadêmico. A pesquisa tem por objetivo principal analisar criticamente as abordagens terapêuticas disponíveis para o tratamento do câncer de mama durante a gestação, à luz da literatura científica atual. RESULTADOS/DISCUSSÃO. Espera-se que esta revisão da literatura identifique e sistematize as abordagens terapêuticas mais seguras e eficazes para o tratamento do câncer de mama durante a gestação, considerando os diferentes trimestres e estágios da doença. Com base na análise dos dados disponíveis, é provável que sejam observadas as seguintes tendências e conclusões: diagnóstico tardio: a maioria dos casos de câncer de mama gestacional tende a ser diagnosticada em estágios mais avançados, devido às alterações fisiológicas da mama durante a gravidez que dificultam a detecção precoce; segurança do tratamento oncológico durante a gestação: a literatura deve demonstrar que certos tratamentos, como a cirurgia e a quimioterapia (principalmente com antraciclinas), podem ser realizados com relativa segurança a partir do segundo trimestre, enquanto a radioterapia e terapias hormonais costumam ser adiadas para o pós-parto; abordagem individualizada e multidisciplinar: os estudos revisados provavelmente reforçarão a importância de um manejo individualizado, realizado por equipe multidisciplinar, incluindo oncologista, obstetra, neonatologista, psicólogo e assistente social. Com esses achados, a pesquisa deverá contribuir para o aprimoramento do conhecimento médico sobre o tema, além de servir como base para a educação médica, a formulação de protocolos clínicos e a melhoria da qualidade do atendimento às gestantes oncológicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS. O câncer de mama na gestação, embora raro, representa um desafio clínico significativo que exige abordagem individualizada e multiprofissional. A revisão evidenciou que tratamentos como cirurgia e quimioterapia com antraciclinas podem ser seguros durante a gestação, especialmente após o primeiro trimestre, enquanto radioterapia e terapia hormonal devem ser adiados. A escassez de protocolos nacionais reforça a necessidade de mais estudos e diretrizes adaptadas à realidade brasileira. Conclui-se que o manejo adequado permite bons desfechos materno-fetais, desde que aliado ao suporte emocional e ético à gestante.

Palavras-chave: Câncer. Mama. Gestação. Oncologia. Antraciclinas

ABSTRACT

INTRODUCTION. Breast cancer during pregnancy (BCGA) is a complex condition that requires careful therapeutic approaches to ensure the safety of both mother and fetus. The treatment of BCGA involves ethical and practical dilemmas, since modalities such as chemotherapy, radiotherapy, and hormonal therapy can pose risks to fetal development, especially when administered at certain times of pregnancy. In addition, physiological changes during pregnancy – such as increased mammary vascularization and hormonal changes – can make early diagnosis difficult, resulting in tumors often being identified at more advanced stages. Given this scenario, it is essential to review the available scientific evidence on therapeutic approaches, considering their efficacy, safety, and impact on maternal-fetal outcomes. OBJECTIVES. The main objective of this study is to critically analyze the therapeutic approaches available for the treatment of breast cancer during pregnancy, in light of the current scientific literature. Specifically, the aim is to: describe the epidemiology and risk factors of breast cancer diagnosed during pregnancy; identify the main diagnostic challenges of breast cancer in pregnant women, considering the clinical, radiological and histopathological aspects; review the available therapeutic options (surgery, chemotherapy, radiotherapy, hormonal therapy) and their safety during the different trimesters of pregnancy; analyze the impact of therapeutic interventions on maternal and fetal health, considering risks and benefits; explore international guidelines and consensus on the multidisciplinary management of gestational breast cancer; and evaluate the prognosis and maternal-fetal outcomes associated with the different therapeutic strategies. BACKGROUND. Breast cancer is the most common neoplasm among women of reproductive age and represents approximately 20% of cancer cases diagnosed during pregnancy, the so-called gestational breast cancer (GBC) [Amant et al., 2012]. Although rare, with an estimated incidence of 1 in 3,000 to 10,000 pregnancies, the diagnosis of breast cancer during pregnancy poses significant clinical, ethical, and therapeutic challenges, requiring a delicate balance between maternal oncological treatment and preservation of fetal health [Loibl et al., 2012; Cardonick & Iacobucci, 2004]. Pregnancy modifies breast physiology, which can mask early signs of the disease and delay diagnosis, contributing to detection at more advanced stages [Azim et al., 2010]. In addition, therapeutic management requires complex decisions regarding the type and timing of treatment—such as surgery, chemotherapy, or radiotherapy—considering gestational age and associated teratogenic risks. Despite advances in international guidelines, there are still gaps in knowledge and variations in clinical practice, especially in countries with less access to oncology referral centers. Therefore, critically reviewing therapeutic approaches to breast cancer during pregnancy is essential to contribute to evidence-based medical practice, favor multidisciplinary decision-making and, above all, ensure safer outcomes for mother and fetus. Therefore, this work is justified by the clinical, academic, social and scientific relevance of the topic, while aiming to offer updated subsidies for the ethical and therapeutic management of breast cancer, promoting comprehensive care for pregnant women with cancer. MATERIALS AND METHODS. This is a narrative literature review with a descriptive and qualitative approach, without systematization of the results. For this purpose, national and international online databases were used: Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), U.S. National Library of Medicine (PubMed), and Google Scholar. The main objective of the research is to critically analyze the therapeutic approaches available for the treatment of breast cancer during pregnancy, in light of the current scientific literature. RESULTS/DISCUSSION. It is expected that this literature review will identify and systematize the safest and most effective therapeutic approaches for the treatment of breast cancer during pregnancy, considering the different trimesters and stages of the disease. Based on the analysis of the available data, the following trends and conclusions are likely to be observed: Late diagnosis: Most cases of gestational breast cancer tend to be diagnosed at more advanced stages, due to physiological changes in the breast during pregnancy that make early detection difficult; Safety of oncological treatment during pregnancy: The literature should demonstrate that certain treatments, such as surgery and chemotherapy (mainly with anthracyclines), can be performed with relative safety from the second trimester onwards, while radiotherapy and hormonal therapies are usually postponed until the postpartum period; Individualized and multidisciplinary approach: The studies reviewed will probably reinforce the importance of individualized management, carried out by a multidisciplinary team, including an oncologist, obstetrician, neonatologist, psychologist and social worker. With these findings, the research should contribute to the improvement of medical knowledge on the subject, in addition to serving as a basis for medical education, the formulation of clinical protocols and the improvement of the quality of care for pregnant women with cancer. CONCLUSION. Breast cancer during pregnancy, although rare, represents a significant clinical challenge that requires an individualized and multidisciplinary approach. The review showed that treatments such as surgery and chemotherapy with anthracyclines can be safe during pregnancy, especially after the first trimester, while radiotherapy and hormonal therapy should be postponed. The scarcity of national protocols reinforces the need for more studies and guidelines adapted to the Brazilian reality. It is concluded that appropriate management allows for good maternal-fetal outcomes, as long as it is combined with emotional and ethical support for the pregnant woman.

Keywords: Cancer. Breast. Pregnancy. Oncology. Anthracyclines

1 INTRODUÇÃO

O câncer de mama gestacional (CMG) é caracterizado pelo diagnóstico de neoplasia mamária durante a gestação ou até um ano após o parto. Embora seja uma condição rara, sua incidência tem aumentado, especialmente entre mulheres com idade superior a 35 anos. Diversos fatores têm sido associados ao aumento do risco de desenvolvimento do CMG. Estudos indicam que a idade materna avançada na primeira gestação está correlacionada a um risco elevado, com um aumento de 27% na chance de desenvolvimento do câncer para cada ano adicional de idade na primeira gravidez. Além disso, a baixa escolaridade tem sido identificada como um fator de risco significativo, com uma razão de chance (OR) de 8,49 para o desenvolvimento do CMG entre mulheres com menor nível educacional. Esses achados ressaltam a importância de estratégias de saúde pública voltadas para a educação e o planejamento reprodutivo, visando reduzir a incidência do CMG e promover o diagnóstico precoce, especialmente em populações de maior risco. (Sullivan E, et al 2022).

Fatores como primiparidade após os 30 anos e baixa escolaridade estão associados a um risco aumentado para o desenvolvimento do CMG (Silva RG, et al. 2019). As alterações fisiológicas das mamas durante a gestação, como aumento do volume, maior densidade e nodularidade, podem mascarar sinais precoces da doença, dificultando o diagnóstico e contribuindo para a detecção em estágios mais avançados (Lipsyc-Sharf M, et al. 2025). Além disso, o CMG tende a apresentar características mais agressivas, como maior frequência de subtipos tumorais triplo-negativos e HER2-positivos (Meier-Abt F, Bentires-Alj M.2014).

O manejo do CMG requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo oncologistas, obstetras, radiologistas, psicólogos e outros profissionais, para equilibrar o tratamento oncológico materno com a preservação da saúde fetal. As principais estratégias terapêuticas incluem: cirurgia: pode ser realizada em qualquer trimestre da gestação, preferencialmente após o primeiro trimestre para reduzir riscos anestésicos (National Cancer Institute 2023) e quimioterapia: agentes como antraciclinas são considerados relativamente seguros a partir do segundo trimestre. No entanto, a quimioterapia é contraindicada no primeiro trimestre devido ao risco teratogênico e radioterapia e terapias alvo: geralmente são adiadas para o período pós-parto, devido aos riscos significativos para o feto. O uso de trastuzumabe durante a gestação está associado a complicações fetais, como oligohidrâmnio, sendo contraindicado (National Cancer Institute 2023). Além desses, temos a terapia endócrina: medicamentos como o tamoxifeno são evitados durante a gestação devido ao risco de malformações congênitas (National Cancer Institute 2023).

Apesar dos desafios, estudos indicam que, com um manejo adequado, os desfechos maternos e fetais podem ser favoráveis. A maioria das crianças expostas à quimioterapia intrauterina apresenta desenvolvimento normal, embora seja recomendada a monitorização pós-natal para detectar possíveis efeitos adversos tardios (Lipsyc-Sharf M, et al. Biology 2025).

O diagnóstico de CMG impõe um impacto emocional significativo. Mulheres relatam sentimentos de medo, ansiedade e incerteza, além de enfrentarem desafios na comunicação com equipes médicas multidisciplinares. A oferta de suporte psicológico é essencial para o bem-estar materno e para a tomada de decisões informadas (Ives A, et al. 2017).

O câncer de mama é a neoplasia maligna mais prevalente entre mulheres em idade reprodutiva. Embora sua ocorrência durante a gestação seja considerada rara, com uma incidência estimada entre 1 a cada 3.000 gestações, observa-se um aumento gradual na frequência de casos. Esse crescimento está associado à tendência de adiamento da maternidade para idades mais avançadas, período em que o risco de desenvolvimento de câncer de mama se eleva significativamente. (Sullivan E, et al.2022)

O câncer de mama gestacional (CMG) representa um desafio clínico e ético singular, pois o manejo do tumor deve equilibrar a necessidade de tratamento eficaz para a mãe com a preservação da saúde e do desenvolvimento fetal. As alterações fisiológicas e anatômicas que ocorrem durante a gravidez podem dificultar o diagnóstico precoce, levando a um prognóstico menos favorável. (Sullivan E, et al.2022)

O tratamento do CMG requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo oncologistas, obstetras e neonatologistas, para garantir decisões terapêuticas que considerem tanto a eficácia do tratamento quanto a segurança fetal. A cirurgia é geralmente segura durante a gestação, enquanto a quimioterapia pode ser administrada após o primeiro trimestre. Por outro lado, terapias como radioterapia, hormonioterapia e terapia-alvo são, em geral, adiadas até o pós-parto devido aos riscos potenciais para o feto. (Sullivan E, et al.2022)

Um dos grandes entraves para o manejo do CMG está na fisiologia da gestação, que promove alterações mamárias complexas, como aumento do volume, vascularização e densidade glandular, dificultando a detecção precoce dos sinais clínicos e radiológicos da neoplasia. Esse atraso diagnóstico geralmente resulta em estágios avançados da doença no momento da confirmação, comprometendo o prognóstico materno. Além disso, as opções terapêuticas tradicionais — cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapia hormonal — são limitadas durante a gravidez devido aos potenciais efeitos teratogênicos e riscos obstétricos, requerendo ajustes e cuidados específicos que nem sempre contam com diretrizes padronizadas. (Sullivan E, et al.2022)

A literatura atual aponta para a ausência de protocolos nacionais e diretrizes claras para o tratamento do CMG, especialmente em países com sistemas de saúde heterogêneos, o que pode resultar em condutas variadas e, por vezes, subótimas. Estudos recentes indicam que a quimioterapia com antraciclinas é relativamente segura a partir do segundo trimestre, enquanto a radioterapia e terapias alvo, como o uso de trastuzumabe, são contraindicadas durante a gestação devido a riscos fetais graves. Contudo, essas recomendações são baseadas principalmente em séries de casos e estudos retrospectivos, evidenciando a necessidade de pesquisas multicêntricas e prospectivas para melhor embasamento. (Sullivan E, et al.2022)

Além dos aspectos clínicos, há ainda o impacto psicossocial da gestante diagnosticada com câncer, que enfrenta medos e dilemas complexos relacionados à sua própria sobrevivência e à do bebê, muitas vezes com suporte insuficiente da equipe multiprofissional. Essa dimensão enfatiza a urgência de abordagens integrativas que envolvam cuidados emocionais e éticos, além dos tratamentos médicos. (Sullivan E, et al.2022)

Diante da complexidade que envolve o câncer de mama durante a gestação, torna-se essencial realizar uma análise abrangente e crítica das estratégias terapêuticas disponíveis. Essa análise deve considerar não apenas os aspectos clínicos, mas também os contextos sociais e éticos que permeiam o cuidado à gestante oncológica. O objetivo é fornecer fundamentos científicos que orientem decisões clínicas mais seguras, humanizadas e eficazes, visando a melhoria dos desfechos maternos e neonatais.

A abordagem do câncer de mama gestacional requer uma equipe multidisciplinar, composta por obstetras, oncologistas, mastologistas, psicólogos e outros profissionais de saúde, para garantir um cuidado integral à paciente. As decisões terapêuticas devem ser individualizadas, levando em conta o estágio da doença, a idade gestacional e as preferências da paciente, sempre com o suporte de evidências científicas atualizadas.

Além disso, é fundamental considerar os aspectos psicossociais envolvidos, como o impacto emocional do diagnóstico e tratamento durante a gestação, e as implicações éticas das escolhas terapêuticas que afetam tanto a mãe quanto o feto. A integração desses fatores na tomada de decisão clínica é crucial para promover uma assistência mais ética e centrada na paciente.

Portanto, a revisão e análise crítica das abordagens terapêuticas no contexto do câncer de mama gestacional são imprescindíveis para aprimorar a prática clínica, garantindo um cuidado mais seguro, humanizado e eficaz para as gestantes diagnosticadas com essa condição (Sullivan E, et al.2022).

Diante da complexidade que envolve o câncer de mama durante a gestação, é fundamental revisar e analisar criticamente as abordagens terapêuticas disponíveis, considerando aspectos médicos, sociais e éticos. Essa análise visa fornecer subsídios científicos que orientem decisões clínicas mais seguras, humanizadas e eficazes, melhorando os desfechos maternos e neonatais.

A abordagem multidisciplinar e individualizada do câncer de mama gestacional, baseada em protocolos atualizados, tem demonstrado melhorar os desfechos maternos e fetais, reduzindo complicações associadas ao tratamento oncológico durante a gravidez. Estudos indicam que a administração de quimioterapia com agentes antracíclicos no segundo e terceiro trimestres da gestação é segura para o feto e efetiva no controle da doença materna, quando comparada ao adiamento do tratamento para o pós-parto.

A ausência de protocolos padronizados e a escassez de dados prospectivos sobre o câncer de mama na gestação contribuem para variações nas condutas terapêuticas, impactando negativamente a sobrevida e a qualidade de vida das gestantes. Além disso, o diagnóstico tardio do câncer de mama na gestação, devido às alterações fisiológicas mamárias da gestação, está associado a um prognóstico pior em comparação ao câncer de mama diagnosticado em mulheres não gestantes.

Essas considerações reforçam a necessidade de estratégias terapêuticas baseadas em evidências, promovendo uma assistência mais segura, ética e centrada na paciente gestante diagnosticada com câncer de mama.

O câncer de mama é a neoplasia mais comum entre mulheres em idade reprodutiva e, embora raro durante a gestação, sua incidência tem aumentado nas últimas décadas devido ao adiamento da maternidade. O câncer de mama gestacional (CMG) representa aproximadamente 20% de todos os cânceres diagnosticados durante a gravidez e impõe um cenário clínico desafiador, uma vez que exige decisões terapêuticas complexas que envolvem tanto a saúde materna quanto fetal. As particularidades fisiológicas da gestação podem retardar o diagnóstico e limitar o uso de terapias convencionais, o que agrava o prognóstico e aumenta os riscos envolvidos no tratamento.

Apesar dos avanços no conhecimento sobre o CMG, ainda persiste uma considerável lacuna na padronização de condutas terapêuticas, especialmente no que diz respeito à segurança e eficácia de intervenções como quimioterapia, radioterapia, cirurgia, uso de terapias alvo e até mesmo orientações sobre amamentação em pacientes em tratamento. A ausência de diretrizes clínicas consensuais e atualizadas dificulta a tomada de decisão pelos profissionais de saúde, gerando abordagens heterogêneas e, por vezes, conflitantes entre equipes de oncologia, obstetrícia e neonatologia.

Neste contexto, delimitar o foco da pesquisa às abordagens terapêuticas menos danosas para mãe e feto é fundamental. A análise crítica da literatura existente permitirá identificar quais métodos terapêuticos apresentam maior segurança e eficácia durante os diferentes trimestres da gestação, promovendo um cuidado mais humanizado, embasado e eficiente. Além disso, a discussão sobre os dilemas éticos envolvidos, como o início precoce do tratamento versus o risco de danos fetais, reforça a necessidade de estratégias clínicas integradas e de protocolos que priorizem o binômio mãe-filho.

Dessa forma, este estudo justifica-se pela relevância médica, ética e social do tema, além da urgência em consolidar evidências científicas que norteiem a conduta clínica frente ao câncer de mama diagnosticado na gestação. Ao oferecer uma revisão crítica e atualizada, esta pesquisa poderá subsidiar a elaboração de diretrizes clínicas e apoiar profissionais de saúde na tomada de decisões seguras e responsáveis em um dos cenários mais delicados da prática médica contemporânea.

Este estudo tem como propósito examinar de maneira aprofundada e crítica as estratégias terapêuticas disponíveis para o tratamento do câncer de mama durante a gestação, fundamentando-se nas evidências científicas mais recentes. O objetivo é fornecer subsídios que orientem práticas clínicas mais seguras, eficazes e humanizadas, visando a melhoria dos desfechos tanto para a mãe quanto para o feto. Especificamente, pretende-se: analisar a epidemiologia e os fatores de risco associados ao câncer de mama diagnosticado durante a gestação, considerando aspectos como idade materna avançada, nuliparidade e histórico familiar, que podem influenciar a incidência da doença; identificar os principais desafios diagnósticos enfrentados durante a gestação, incluindo limitações de exames de imagem devido às alterações fisiológicas das mamas e a necessidade de métodos seguros para o feto; revisar as opções terapêuticas disponíveis, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapia hormonal, avaliando sua segurança e eficácia em diferentes trimestres da gestação; avaliar o impacto das intervenções terapêuticas na saúde materna e fetal, ponderando os riscos e benefícios de cada abordagem; explorar diretrizes e consensos internacionais sobre o manejo multidisciplinar do câncer de mama gestacional, destacando a importância de uma abordagem integrada que envolva obstetras, oncologistas, mastologistas e outros profissionais de saúde; investigar o prognóstico e os desfechos materno-fetais associados às diferentes estratégias terapêuticas, visando identificar práticas que promovam melhores resultados para ambos.

Espera-se que esta revisão da literatura identifique e sistematize as abordagens terapêuticas mais seguras e eficazes para o tratamento do câncer de mama durante a gestação, considerando os diferentes trimestres e estágios da doença. Com base na análise dos dados disponíveis, é provável que sejam observadas as seguintes tendências e conclusões: Diagnóstico tardio: A maioria dos casos de câncer de mama gestacional tende a ser diagnosticada em estágios mais avançados, devido às alterações fisiológicas da mama durante a gravidez que dificultam a detecção precoce; Segurança do tratamento oncológico durante a gestação: A literatura deve demonstrar que certos tratamentos, como a cirurgia e a quimioterapia (principalmente com antraciclinas), podem ser realizados com relativa segurança a partir do segundo trimestre, enquanto a radioterapia e terapias hormonais costumam ser adiadas para o pós-parto; Abordagem individualizada e multidisciplinar: Os estudos revisados provavelmente reforçarão a importância de um manejo individualizado, realizado por equipe multidisciplinar, incluindo oncologista, obstetra, neonatologista, psicólogo e assistente social. Com esses achados, a pesquisa deverá contribuir para o aprimoramento do conhecimento médico sobre o tema, além de servir como base para a educação médica, a formulação de protocolos clínicos e a melhoria da qualidade do atendimento às gestantes oncológicas.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão narrativa de literatura, com abordagem descritiva e qualitativa, sem sistematização dos resultados. Para isso, utilizou-se bases de dados online nacionais e internacionais Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), U.S National Library os Medicine (PubMed), e Google Acadêmico. A pesquisa tem por objetivo principal analisar criticamente as abordagens terapêuticas disponíveis para o tratamento do câncer de mama durante a gestação, à luz da literatura científica atual.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O câncer de mama é a neoplasia mais frequente entre mulheres em idade reprodutiva, e sua ocorrência durante a gestação, embora rara, tem se tornado mais prevalente devido ao adiamento da maternidade para idades mais avançadas (Amant et al., 2019). Estima-se que o câncer de mama gestacional (CMG) afete entre 1 a cada 3.000 a 10.000 gestações, representando um dos tipos mais comuns de câncer diagnosticados durante a gravidez (Loibl et al., 2015). Además, o câncer de mama (CM) também é a neoplasia maligna mais comum entre mulheres em todo o mundo. Estima-se que mais de 1,6 milhão de casos sejam diagnosticados anualmente, com uma incidência aproximada de uma em cada oito mulheres ao longo da vida. A maioria desses tumores tem origem na disfunção dos ductos ou lóbulos mamários, sendo classificados como adenocarcinomas. Já os casos que se desenvolvem a partir do tecido muscular ou do estroma são denominados sarcomas, embora representem uma minoria dos diagnósticos (Bisinotto et al.,2023).

O câncer de mama relacionado à gravidez é identificado quando o diagnóstico ocorre durante a gestação, no período de amamentação ou até um ano após o parto. Essa condição representa um cenário complexo, exigindo um manejo cuidadoso e multidisciplinar, que frequentemente envolve dilemas e estresse tanto para a gestante e sua família quanto para a equipe de saúde. O principal desafio reside no equilíbrio entre o tratamento mais eficaz para a mãe e a proteção do feto. A postergação da terapia com o intuito de preservar o bem-estar fetal pode, no entanto, agravar o quadro clínico materno, demandando decisões ponderadas e individualizadas (Monteiro et al., 2025).

Embora a gravidez tenha um efeito protetor de longo prazo contra o câncer de mama, ela aumenta temporariamente o risco durante o período gestacional. Esse risco elevado está relacionado a alterações hormonais significativas que ocorrem durante a gravidez, que podem influenciar o desenvolvimento do câncer (Silva et al., 2023).

O câncer de mama gestacional ocorre em aproximadamente 0,2% a 3,8% de todos os casos de câncer de mama. Notavelmente, cerca de 15% dos diagnósticos ocorrem antes dos 35 anos, com metade desses casos identificados durante a gravidez e a outra metade durante a amamentação. O diagnóstico pode ser retardado devido às alterações corporais decorrentes da gravidez, o que pode levar a um pior prognóstico para a mãe e para o filho (Eckert, 2024).

Apesar da variedade de tratamentos disponíveis, poucos são considerados seguros durante a gravidez. Identifica a mastectomia e a quimioterapia como os tratamentos com os perfis de segurança mais elevados, especialmente quando administrados após o primeiro trimestre. Em contrapartida, a radioterapia é considerada contraindicada em todas as fases da gravidez e é reservada para o tratamento pós-parto devido aos seus riscos potenciais para o desenvolvimento de órgãos fetais (Eckert, 2024).

Características distintas associadas aos diferentes estágios da gestação podem influenciar significativamente os protocolos de tratamento. Isso significa que o que pode ser apropriado em um trimestre pode não ser adequado em outro, exigindo uma abordagem personalizada para cada caso (Dinu et al., 2025).

Os planos de tratamento devem ser cuidadosamente adaptados para equilibrar a saúde da mãe e do feto, considerando os desafios únicos impostos pela gravidez. O prognóstico para mulheres diagnosticadas com câncer de mama durante a gravidez pode variar com base em vários fatores, incluindo o estágio do câncer no diagnóstico e o momento do tratamento. Com o tratamento adequado, muitas mulheres podem alcançar resultados favoráveis, embora as especificidades possam diferir amplamente entre os indivíduos (Silva et al., 2023).

O câncer de mama durante a gravidez está associado a uma menor prevalência de receptores hormonais e a uma maior incidência de subtipos mais agressivos, como triplo-negativo e HER2-positivo, comuns em pacientes jovens. Além disso, o diagnóstico costuma ocorrer em estágios mais avançados em comparação com mulheres não grávidas, o que pode impactar negativamente o prognóstico. Esse cenário pode ser explicado pelo atraso no diagnóstico, pela limitação no estadiamento devido aos riscos de teratogenicidade associados a exames de imagem e pelo possível manejo subótimo (Poggio et al., 2020).

Estudos sobre o tema apresentam resultados divergentes, provavelmente em decorrência do tamanho reduzido das amostras. Um estudo retrospectivo com 75 gestantes tratadas no segundo e terceiro trimestres com 5-fluorouracil, doxorrubicina e ciclofosfamida demonstrou melhora significativa na sobrevida livre de doença (SLD), sobrevida livre de progressão e sobrevida global (SG) em comparação com um grupo controle pareado por idade, estágio da doença e ano de diagnóstico. Outra coorte, com 311 pacientes diagnosticadas durante a gravidez (a maioria submetida a tratamento sistêmico) e 865 mulheres não grávidas, não identificou impacto negativo da gestação na SLD ou na SG após ajuste para características da paciente, do tumor e do tratamento. (Poggio et al., 2020).

Esses achados reforçam que o diagnóstico de câncer de mama durante a gravidez não está necessariamente associado a desfechos desfavoráveis, desde que as pacientes recebam terapias locais e sistêmicas adequadas (Poggio et al., 2020).

A quimioterapia pode ser administrada com segurança a mulheres grávidas diagnosticadas com câncer de mama, mas é crucial que o tratamento comece somente após o primeiro trimestre. Iniciar a quimioterapia no segundo trimestre minimiza os riscos para o feto, ao mesmo tempo em que fornece o tratamento necessário para a mãe (Carvalho et al., 2024).

Destacar que iniciar a quimioterapia durante o primeiro trimestre está ligado a um risco aumentado de malformações fetais e complicações para a mãe. Esta descoberta ressalta a importância do momento certo na administração da quimioterapia durante a gravidez (Carvalho et al., 2024).

Todos os agentes quimioterápicos usados ​​para tratar o câncer de mama são classificados como categoria D, indicando que há evidências de risco para o feto. No entanto, os benefícios do tratamento podem superar esses riscos quando administrados adequadamente (Carvalho et al., 2024).

Embora os regimes de quimioterapia possam ser administrados durante a gravidez, eles podem apresentar riscos como anomalias congênitas ou problemas de sobrevivência fetal. O monitoramento contínuo e um plano de tratamento personalizado são essenciais para mitigar esses riscos e garantir os melhores resultados possíveis para a mãe e o bebê (Dhawan et al., 2025).

Sempre que possível, a radioterapia deve ser adiada para o período pós-parto. A maioria das gestantes com câncer de mama pode ser submetida à quimioterapia sistêmica. Estudos recentes indicam que diversos fármacos utilizados no tratamento do câncer de mama apresentam um perfil de segurança favorável, especialmente quando administrados após o primeiro trimestre de gravidez, resultando em recém-nascidos viáveis e com baixas taxas de complicações (Monteiro et al., 2025).

A terapia endócrina, especialmente o uso de tamoxifeno, é desaconselhada para o tratamento do câncer de mama durante a gravidez devido ao risco de efeitos teratogênicos, principalmente no trato geniturinário, e ao aumento do risco de câncer de mama na prole. Uma revisão de 248 gestações expostas ao tamoxifeno revelou que 18% dos bebês apresentaram malformações graves, enquanto 79% nasceram sem malformações. A taxa de malformações graves foi de 17,6%, comparada a 3% na população geral. Alguns bebês afetados também foram expostos a outros agentes teratogênicos. O tamoxifeno pode causar efeitos adversos a longo prazo, e a falta de dados sobre desfechos pediátricos impede conclusões definitivas sobre seu potencial teratogênico. Diretrizes internacionais recomendam a proibição do uso de tamoxifeno durante a gravidez e a interrupção imediata em caso de exposição acidental. Para mulheres que desejam engravidar, é sugerido um período de eliminação de 3 meses após a interrupção do medicamento. Não há informações sobre a exposição a inibidores da aromatase durante a gravidez, embora seu potencial teratogênico tenha sido estudado em modelos animais (Poggio et al., 2020).

A cirurgia para câncer de mama é segura durante a gravidez e deve seguir recomendações semelhantes às de mulheres não grávidas. Embora o diagnóstico tardio possa levar a tumores maiores, a cirurgia radical não é necessariamente a primeira opção. A radioterapia deve ser adiada até após o parto, e o tipo de cirurgia deve ser discutido em equipe multidisciplinar. Pacientes no primeiro trimestre que optam por cirurgia conservadora devem estar cientes de que atrasos na radioterapia podem aumentar o risco de recorrência. A maioria dos anestésicos é segura durante a gravidez, e a reconstrução mamária imediata pode ser realizada sem aumentar a morbidade. A biópsia do linfonodo sentinela é controversa, com a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) não recomendando e a National Comprehensive Cancer Network (NCCN) apoiando seu uso, desde que realizada com segurança. Um estudo mostrou que essa biópsia pode ser segura em grávidas clinicamente negativas, utilizando um protocolo que minimiza a exposição à radiação (Poggio et al., 2020).

As terapias direcionadas para o tratamento do câncer de mama têm se tornado cada vez mais comuns. O trastuzumabe, um anticorpo monoclonal anti-HER2, é o tratamento padrão para o câncer de mama HER2-positivo. No entanto, as diretrizes atuais desaconselham o uso de trastuzumabe durante a gravidez, principalmente devido ao risco aumentado de oligo e/ou anidrâmnio, além das consequências a longo prazo para o feto que ainda são desconhecidas. Uma revisão sistemática e meta-análise de 17 estudos foi realizada para avaliar a segurança do trastuzumabe durante a gestação, envolvendo um total de 18 gestações e 19 recém-nascidos. O medicamento foi administrado no primeiro trimestre em 16,7% das pacientes e no segundo ou terceiro trimestre em 80% dos casos. O evento adverso mais comum foi a ocorrência de oligo/anidrâmnio, cuja incidência variou significativamente conforme o período de exposição: 73,3% dos fetos expostos no segundo ou terceiro trimestre apresentaram essa condição, enquanto nenhum dos expostos no primeiro trimestre teve essa complicação. É importante destacar que, após um acompanhamento médio de 9 meses, todas as crianças que foram expostas ao trastuzumabe apenas no primeiro trimestre estavam saudáveis e não apresentaram evidências de malformações congênitas (Poggio et al., 2020).

O diagnóstico do CMG é frequentemente tardio, pois as alterações fisiológicas da gravidez — como aumento do volume mamário, da densidade do tecido glandular e da vascularização — dificultam a percepção de nódulos e comprometem a acurácia de métodos diagnósticos usuais, como a mamografia. Isso contribui para que a maioria dos casos seja identificada em estágios localmente avançados, o que agrava o prognóstico materno (Amant et al., 2013; Lee et al., 2022).

Do ponto de vista terapêutico, o grande desafio é equilibrar o tratamento oncológico eficaz com a preservação da saúde fetal. A cirurgia, tanto conservadora quanto mastectomia, é considerada segura em todos os trimestres da gestação, sendo indicada de acordo com o estágio da doença e as condições clínicas da paciente (Gentilini et al., 2020). A quimioterapia, por sua vez, é geralmente contraindicada no primeiro trimestre, devido ao alto risco de malformações congênitas, mas pode ser administrada com relativa segurança a partir do segundo trimestre, sobretudo com o uso de antraciclinas, como a doxorrubicina (Cardonick et al., 2015).

Entretanto, terapias como o trastuzumabe (anti-HER2) e a radioterapia são contraindicadas durante a gravidez devido aos riscos significativos de toxicidade fetal, incluindo oligoidrâmnio, comprometimento renal e restrição de crescimento intrauterino (Loibl et al., 2015; Amant et al., 2019). O manejo clínico do CMG exige, portanto, uma abordagem individualizada e multidisciplinar, envolvendo oncologistas, obstetras, neonatologistas e psicólogos, a fim de garantir segurança materna e fetal, bem como suporte psicossocial adequado.

Além dos aspectos clínicos, o CMG também levanta dilemas éticos importantes, como o risco de interrupção terapêutica em função da gestação, ou decisões difíceis sobre antecipação do parto para início precoce do tratamento. A ausência de protocolos nacionais padronizados e a escassez de estudos prospectivos limitam a prática baseada em evidências, tornando necessária uma sistematização dos conhecimentos existentes para orientar condutas mais seguras, eficazes e humanizadas (Sullivan et al., 2022).

4 CONCLUSÃO

O câncer de mama na gestação representa um desafio clínico complexo e relativamente raro, porém de extrema relevância, especialmente diante da tendência crescente de gestações em idades mais avançadas. A presente revisão permitiu identificar que, embora o diagnóstico muitas vezes ocorra tardiamente, é possível adotar estratégias terapêuticas eficazes e seguras durante a gestação, desde que respeitados os limites fisiológicos da mãe e do feto, e que o tratamento seja conduzido de forma multidisciplinar e individualizada.

Vários estudos foram analisados e foi possível selecioná-los onde demonstrou que a cirurgia mamária pode ser realizada em qualquer trimestre, enquanto a quimioterapia com determinados agentes, como antraciclinas, é relativamente segura a partir do segundo trimestre. Em contrapartida, a radioterapia e as terapias hormonais devem ser postergadas até o puerpério, devido ao risco teratogênico significativo. Tais condutas evidenciam a necessidade de um planejamento terapêutico preciso, que equilibre o controle da neoplasia com a preservação da gestação.

Adicionalmente, observou-se a escassez de protocolos padronizados e consensos específicos em âmbito nacional, fato que contribui para enfatizar a importância de aumentar a disseminação de informações e de diretrizes atualizadas e promover capacitação entre profissionais da atenção materno-infantil e oncologia. Essa escassez de estudos clínicos prospectivos e de diretrizes específicas no contexto nacional aponta para uma importante lacuna a ser preenchida. A maioria das condutas ainda é baseada em séries de casos, estudos retrospectivos e recomendações de sociedades internacionais, o que evidencia a urgência na realização de pesquisas multicêntricas que abordem o câncer de mama gestacional sob a perspectiva da realidade brasileira.

O diagnóstico de câncer durante a gestação impõe um impacto psicológico e emocional significativo para a paciente, exigindo atenção especial. A complexidade das decisões que envolvem tanto a saúde materna quanto a fetal demanda uma abordagem humanizada e o oferecimento de suporte psicológico desde o momento do diagnóstico. Estudos indicam que mulheres diagnosticadas com câncer de mama frequentemente enfrentam ansiedade, medo, depressão e alterações na autoestima, especialmente devido às mudanças corporais e ao estigma associado à doença.

O acompanhamento psicológico contínuo é fundamental para auxiliar a paciente na adaptação às transformações físicas e emocionais decorrentes do tratamento Esta revisão fornece uma visão abrangente das opções terapêuticas disponíveis para o câncer de mama durante a gestação, contribuindo para práticas clínicas mais seguras, éticas e centradas na paciente. É essencial que instituições de saúde e ensino promovam a educação continuada sobre o tema, capacitando profissionais para lidar com os desafios desse cenário com competência e sensibilidade.

Além disso, é recomendável o desenvolvimento de estudos clínicos multicêntricos que aprofundem o conhecimento sobre os desfechos maternos e fetais a longo prazo, fortalecendo as bases para a criação de protocolos clínicos nacionais.

REFERÊNCIAS

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1 Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.
2 Titulação. Professor orientador. Docente do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.