REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202503270734
Ana Carolina de Almeida Rizzo Silva1; Julia Christ Araujo Rocha1; Julia Ribeiro Coelho1; Karla Ribeiro Coelho2; Kírya Maffei Luiz Pinto1; Maressa Bernardino Neves3
RESUMO
O processo pré-vestibular, tem sido um dos geradores de ansiedade e até mesmo transtornos, como o de Burnout, em adolescentes. Considerando o modo com que os desafios demográficos, de classe social, influenciam na intensificação do sintoma de ansiedade presente no Burnout, é possível analisar como a presença de privilégios sociais interferem na saúde mental dos adolescentes vestibulandos. Como metodologia, será utilizado o tipo de pesquisa quantitativa por levantamentos de dados e serão realizado questionários virtuais, afim de coletar dados sociodemograficos e à respeito da sintomatologia presente no Burnout e seus sintomas de ansiedade em adolescentes de diferentes classes sociais. É nítida a precariedade de pesquisas que abordem tal tema, mesmo que atualmente, os assuntos “ansiedade” e os transtornos gerados sejam de crescente interesse, justificando a escolha do tema. O objetivo da pesquisa é comparar os grupos de adolescentes vestibulandos dentre e entre as classes sociais quanto aos níveis de ansiedade, sintoma do Burnout. Sendo assim, espera-se produzir e incentivar a produção de pesquisas relacionadas ao tema, abarcando grupos sociais minoritários ao fazer com que o tema seja mais debatido.
Palavras-chave: Classe social; Renda; Ansiedade; Burnout.
1. INTRODUÇÃO
A definição de burnout – em inglês coloquial, “combustão completa” – foi formulado pelo psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger, durante a década de 1970, com o intuito de nomear uma reação de esgotamento físico e mental vivenciada por profissionais de saúde envolvidos na assistência a usuários de drogas (Freudenberger, 1974), logo, o transtorno foi identificado primeiramente nas áreas de cuidado/serviços, incluindo os trabalhadores enfermeiros. Sendo assim, a síndrome foi fortemente ligada ao contexto do trabalho, caracterizando-se, principalmente, pelos sentimentos de: esgotamento da energia na realização das atividades diárias, desgaste emocional, sentimento de incompetência em relação ao trabalho, podendo atingir a prática profissional dos enfermeiros, visto que existe um alto grau de frustração e descontentamento em relação ao exercício da enfermagem, o que é consequência de uma sobrecarga de trabalho devido à demanda e ao déficit de pessoal em todo o hospital, pela baixa remuneração, não correspondente à preparação profissional.
O Burnout acomete profissionais de diversas áreas, entretanto, aquelas em que se lida com o sofrimento alheio aumentam a vulnerabilidade (4-5,7-8). Os enfermeiros estão submetidos continuamente a elementos geradores do estresse laboral, que são associados à síndrome: a escassez de pessoal, que supõe acúmulo de tarefas e sobrecarga laboral, o trabalho por turno e/ou noturno, o trato com usuários problemáticos, o conflito e ambiguidade de papéis, a baixa participação nas decisões, a inexistência de plano de cargos e salários, o sentimento de injustiça nas relações laborais e os conflitos com colegas e/ou instituição. Além disso, as contínuas interrupções e reorganização das tarefas, que agravam a sobrecarga, o lidar de modo muito próximo com a morte, a criação de vínculo afetivo com o paciente e seu sofrimento, a exposição constante a risco de conta
Segundo os autores Maslach e Jackson (1981), o Burnout, consiste em um transtorno psicológico que agride indivíduos expostos a crises crônicas de estresse e ansiedade, possuindo três características relacionadas, porém independentes: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DP) e Redução da Realização Pessoal (RRP). A EE é a primeira reação causada em resposta à sobrecarga, conflito social e estresse de constantes exigências. A DP ocorre como tentativa de proteção à EE fazendo com que o indivíduo se distancie das pessoas. A RRP desenvolve no indivíduo um sentimento de inadequação pessoal, pois perde a confiança em si e capacidade em se destacar (Maslach & Jackson, 1981).
O Burnout possui consequências sobre a saúde física e mental, entre elas as alterações cardiovasculares, fadiga crônica, enxaqueca, insônia, dores musculares ou articulares, ansiedade, depressão, irritabilidade, entre outras. Não obstante, a síndrome também pode interferir na externa ao trabalho: na vida doméstica, nas relações familiares, na falta de tempo para o cuidado dos filhos e no lazer.
Não obstante, ao realizar levantamentos em bancos de dados de pesquisas como a SciELO, foi observada a precariedade de estudos e pesquisas sobre os vestibulandos, a ansiedade e o Burnout em jovens de classe baixa. Dentre os estudos encontrados destacam temas como: “Manifestação da síndrome de burnout entre estudantes de graduação em enfermagem” (Tomaschewski-Barlem, Lunardi, Ramos, Silveira, Barlem & Ernandes, 2013)” e “Síndrome de Burnout em graduandos de Odontologia” (Campos, Jordani, Zucoloto, Bonafé & Maroco, 2012), ou seja, as pesquisas, quando encontradas, são sobre estudantes que já são universitários de cursos com alto custo financeiro e composto por maioria branca. Além de serem realizadas levando em consideração um jovem estereotipado, que tenha condições, primeiramente, para estudar para o vestibular, em cursos preparatórios ou até mesmo cursando o ensino médio, já que muitos jovens são obrigados a abandonar os estudos para priorizar um emprego, visto suas condições econômicas familiares, e também por não terem perspectiva de futuro, justificando a escolha do tema de pesquisa.
Devido ao trabalho em excesso, explica a pesquisadora Ribeiro (2018), que a vida na metrópole acelerada, a desigualdade e outras questões sociais, diminuem a qualidade de vida dos habitantes e aumentam as síndromes relacionadas ao contexto, como o Burnout, e assim, passa-se a virar um assunto de interesse, porém, sempre sobre um mesmo grupo, aqueles que são notados socialmente, os que se encontram em posições vistas socialmente e disfrutam de privilégios, logo, “a taxa de doenças mentais é também um bom indicador para aferir a desigualdade entre os habitantes urbanos” (Saldiva, 2018). Dessa forma, é preciso refletir sobre a realidade vivida pela população feminina na enfermagem atual, sobretudo em diversas esferas sociais, considerando os impactos dos desafios demográficos de gênero que afetam grupos em desvantagem social e cultural (Pires, Ribeiro & De Andrade, 2020).
Diante da problemática central citada anteriormente, torna-se notória a relevância do tema que será abordado. Justificando-se pelo fato de que são em ambientes escolares que muitos jovens, devido a ansiedade do momento, acabam adquirindo síndromes e transtornos, por não terem apoio e nem mesmo a condição e privilégio de possuir o auxílio de profissionais e psicólogos externos ou escolares como auxiliadores durante o processo vestibular que os alunos estão passando e também na identificação da doença, onde emoções como o medo, ansiedade e exaustão podem desencadear uma patologia devido ao esgotamento físico e mental (Menezes, Alves, Neto, Davim & Guaré, 2017).
Sabe-se que a ciência avança e pesquisas são realizadas de acordo com as demandas sociais, com isso, a presente pesquisa pretende verificar a relação entre o Burnout em jovens vestibulandos e os desafios demográficos de classe social, com o intuito de contribuir para o aumento de número de pesquisas a respeito do Burnout em vestibulandos de classes minoritárias, afim de dar visibilidade a esse público e contribuir, como suporte teórico e científico, para debates e reflexões sobre o tema.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Objetiva-se comparar os grupos de jovens vestibulandos dentre e entre as classes sociais quanto aos níveis de ansiedade, sintoma do Burnout.
2.2 Objetivos específicos
1. Levantar dados sobre a sintomatologia presente no Burnout e seus sintomas de ansiedade em jovens de diferentes classes sociais;
2. Analisar se há diferença significativa entre as variáveis quantitativa (níveis de ansiedade) e qualitativa (classes sociais: A, B1, B2, C1, C2 e D/E).
3. Produzir e incentivar a produção de pesquisas relacionadas ao tema, abarcando grupos sociais minoritários ao fazer com que o tema seja mais debatido.
3. METODOLOGIA
3.1 Procedimentos
Foi utilizado o tipo de pesquisa quantitativa por levantamento de dados, devido a sua flexibilidade em possibilitar a realização de um aporte teórico com pesquisas já existentes e permitir a análise entre variáveis. O recrutamento de participantes foi feito por meio de um template convidando para participação voluntária na pesquisa, disponibilizado na rede social Instagram. Tendo aceito a solicitação, foi distribuído um questionário online na mídia anteriormente citada.
O questionário foi dividido em seis sessões, a primeira contendo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) para jovens menores de idade, onde foi sinalizado se o participante e/ou responsável concordava ou não com os termos, havendo concordância, o sujeito foi considerado apto para cooperar com a pesquisa. Sendo assim, os pesquisadores garantiram e se comprometeram com o sigilo e a confidencialidade de todas as informações fornecidas para este estudo.
Da mesma forma, o tratamento dos dados coletados seguiu as determinações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei 13.709/18). Além disso, foi garantido ao participante o direito a ressarcimento em caso de despesas comprovadamente relacionadas à sua participação no estudo, bem como, ao direito a indenização em caso de danos nos termos da lei. A segunda sessão foi composta por perguntas sociodemográficas, a fim de verificar idade, ocupação, estado civil, presença de filhos, local de moradia, com quem coabita e renda mensal domiciliar, possibilitando estratificar a amostra em grupos de classes sociais A, B1, B2, C1, C2 e D/E.
A terceira sessão com perguntas referentes o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), a quarta sessão, envolvendo questões relativas ao Inventário de Ansiedade IDATE – Estado, permitindo medir a presença ou não de sentimentos e estados ansiosos momentâneos ou duradouros quanto ao nível da ansiedade nos participantes, sintoma preponderante do Burnout, em adolescentes vestibulandos e a quinta sessão, contento o Inventário de Ansiedade IDATE – Traço, referente a como o jovem vestibulando geralmente se sente em relação ao vestibular. Por fim, a sexta sessão foi feita para indicar que o questionário foi finalizado, agradecer pela contribuição e indicar que o contribuinte deixe seu e-mail, caso deseje receber os resultados da pesquisa.
3.2 Participantes
Os participantes foram jovens brasileiros que estudam para o vestibular e/ou cursam o terceiro ano do ensino médio, de idade entre 16 e 20 anos, inscritos ou que pretendiam se inscrever no ENEM do ano de 2023.
3.3 Instrumentos
Estratificação dos domicílios – IBGE (2022)
Inicialmente, para mensurar a classe social, além das demais questões sociodemográficas (idade, trabalho, moradia, estado civil etc) foi utilizada a Estratificação dos domicílios – IBGE (2022) para compor os estratos (A, B1, B2, C1, C2, D/E). Leva-se em consideração a renda mensal domiciliar do participante, afim de verificar a que classe a população da amostra pertence, possibilitando estratificá-la em grupos de casses sociais A, B1, B2, C1, C2 e D/E. Onde, os indivíduos de classe A: 2,8% (renda mensal domiciliar superior a R$ 22 mil), Classe B: 13,2% (renda mensal domiciliar entre R$ 7,1 mil e R$ 22 mil), Classe C: 33,3% (renda mensal domiciliar entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil), Classes D/E: 50,7% (renda mensal domiciliar até R$ 2,9 mil). Dessa maneira tornou-se possível separar os participantes em dois grupos: de classes alta (A, B1, B2) e baixa (C1, C2, D/E) para a análise dos dados.
Inventários de ansiedade
Como instrumentos para mensurar a ansiedade, um dos sintomas preponderantes do Burnout, foram utilizados dois inventários, o Inventário Beck de Ansiedade (BAI) e o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE). O Inventário Beck de Ansiedade (BAI) é indicado para sujeitos na faixa etária entre 17 e 80 anos. Para Karino & Laros (2014), a resposta ansiosa depende da percepção da situação como sendo desafiadora e muitos autores conceituam a ansiedade focando, predominantemente, no aspecto cognitivo, que é representado pela “preocupação”.
Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)
O BAI é uma escala de autorrelato que mede a intensidade dos sintomas da ansiedade. Durante o seu processo de criação (Beck et al., 1988) e mesmo durante a sua adaptação e validação para o Brasil (Cunha, 2001), os testes de fidedignidade (confiabilidade) demonstraram excelente replicabilidade e consistência dos escores. O inventário é constituído por 21 itens, que são afirmações descritivas de sintomas de ansiedade. Tais afirmações deverão ser consideradas pelo participante do estudo em relação a si mesmo, utilizando uma escala Likert de quatro pontos. As opções de respostas se correlacionam aos níveis crescentes de gravidade: 0 = Absolutamente não; 1 = Levemente: não me incomodou muito; 2 = Moderadamente: foi muito desagradável, mas pude suportar; e, 3 = Gravemente: dificilmente pude suportar. O escore total (0 a 63 pontos) representa a soma dos escores dos itens e permite a classificação em níveis de intensidade da ansiedade. Os escores para o estabelecimento dos níveis de intensidade da ansiedade do BAI, de acordo com as normas brasileiras, são os seguintes: Mínimo = 0 a 7; Leve = 8 a 15; Moderado = 16 a 25; e, Grave = 26 a 63.
Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE)
Não obstante, o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), é formado por duas escalas distintas de autorrelatório, para medir os seguintes conceitos de ansiedade: traço de ansiedade (A-traço) e estado de ansiedade (A-estado). Apesar de originalmente desenvolvido como um instrumento de pesquisa para investigar fenômenos da ansiedade em “adultos típicos” (sem perturbações de ordem psiquiátricas), o IDATE também mostrou ser de grande utilidade para medir ansiedade em estudantes, e em pacientes psiquiátricos, cirúrgicos e de clínica médica (Biaggio & Natalício, 2003).
No que se refere ao “Traço”, o IDATE apresenta vinte afirmações e quatro níveis de intensidade como resposta: quase nunca = 1; as vezes = 2, frequentemente = 3 e quase sempre = 4. Os vinte itens referem-se a diferenças na tendência de reagir diante das situações cotidianas, numa escala crescente de intensidade (1 a 4 pontos). Os autores Ferreira et al (2009), referem-se à ansiedade-traço como um conjunto de características que cada indivíduo traz consigo, que resulta numa maior ou menor disposição de considerar as situações como ansiogênicas.
Em relação ao “Estado”, o IDATE também apresenta vinte afirmações e quatro níveis possíveis de resposta: absolutamente não = 1; um pouco = 2; bastante = 3 e muitíssimo = 4. Os participantes, nesse caso, devem indicar como geralmente se sentem em um determinado momento, numa escala crescente de intensidade (1 a 4 pontos). De acordo com Lira Ferreira et al. (2009), a ansiedade-estado está relacionada a um momento ou situação particular, causando um estado emocional transitório. Segundo Agostini, Sakae e Feldens (2011), no caso do IDATE, devem ser considerados os seguintes pontos de corte: até 32 = sem sintomatologia ou ansiedade leve; de 33 a 49 = média sintomatologia; e, acima de 49 = alta sintomatologia.
Dados os fatos, durante a presente pesquisa, tendo por base os critérios de Karino & Laros (2014), o BAI permitiu uma visualização e reflexão mais geral sobre os aspectos cognitivos da ansiedade, sobretudo em relação à dimensão “preocupação” dos participantes. Já o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), foi o instrumento que possibilitou as interpretações no contexto da “autoavaliação” dos mesmos.
4. ANÁLISE DE DADOS
A fim de testar a hipótese alternativa (H1) foi realizada análise estatística descritiva simples para comparar os grupos dentre e entre as classes sociais quanto aos níveis de ansiedade, sintoma do Burnout. Os indivíduos categorizados nas classes sociais: A, B1, B2, C1, C2 e D/E, foram dividos em dois grupos: Grupo 1 (classes sociais: A, B1 e B2) e Grupo 2 (C1, C2 e D/E). Tal procedimento foi utilizado, visando comparar variáveis quantitativa (níveis de ansiedade) e qualitativa com mais de duas categorias (classes sociais: A, B1, B2, C1, C2 e D/E).
A despeito das especificidades dos instrumentos de ansiedade, foi encontrada diferença significativa, uma vez que os instrumentos possuiam a ansiedade, como um construto em comum. Logo, realizou-se análise descritiva e de comparação entre grupos. Após o cálculo dos escores, foi feita análise descritiva dos instrumentos aplicados (Biaggio & Natalício, 2003; Cunha, 2001).
Para viabilização das análises descritas foram utilizados os dados gráficos estatísticos fornecidos pela ferramente Google Forms.
5. RESULTADOS
Inicialmente, após a coleta dos dados fornecidos pela ferramenta Google Forms, foi detectada a participação voluntária de 30 pessoas, cujo as quais fizeram parte da amostra da pesquisa. Em seguida, foram coletado dados sociodemográficos e, por fim, foram calculados os scores das Escalas de ansiedade BAI e IDATE TRAÇO – ESTADO que possibilitou verificar os possíveis sintomas e intensidade dos níveis de ansiedade presente nos participantes.
5.1 Estratificação das classes
Não obstante, no que diz respeito à renda mensal domiciliar, de acordo com a Estratificação dos Domicílios (IBGE, 2022), foi verificado que o maior percentual dos participantes 53,33% (16) possuem renda domiciliar mensal entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil. Em seguida, 33,33% (10) dos participantes mostram possuir renda domiciliar mensal de até R$ 2,9 mil, categorizando-se como classe C, logo baixa caracterizando-se como pertencentes a classe social C, enquadrando-se no grupo de classe baixa (C1, C2, D/E). Por outro lado, apenas 13,33% (4) dos participantes indicaram possuir renda domiciliar mensal entre R$ 7,1 mil e R$ 22 mil, categorizando como classe B, sendo a única porcentagem a enquadrar-se no grupo de classes altas. Por conseguinte, não houveram participantes, cujo a renda domiciliar mensal correspondessem a classes A, onde a renda domiciliar mensal seria superior a R$ 22 mil. Tais grupos foram estratificados na presente pesquisa a fim de possibilitar comparação entre grupos e classes baixa e alta, quantos ao níveis de ansiedade, que representa um dos principais sintomas do Burnout.

5.2 Idade
Para além dos dados supracitados, no que se refere a idade, 86,7% (26) dos participantes sinalizaram possuir maior idade e 13,4% (4) dos participantes indicaram possuir menor idade.

5.3 Estado civil
Quanto ao estado civil, 93,3% (28) dos participantes apresentaram serem solteiros e somente 6,7% (2) manifestaram serem casados. Em relação aos estados civis que representam indivíduos divorciados, separados e viúvos não houve nenhuma resposta ao questionário.

5.4 Ocupação
No que diz respeito a ocupação, 80% (24) dos participantes acusaram que cursam pré vestibular e trabalham concomitantemente, 13,33% (6) dos participantes indicaram que cursam pré vestibular, onde desta porcentagem, apenas 1 participantes cursa pré vestibular e o terceiro ano do ensino médio.

5.5 Presença de filhos
Com respeito a presença ou não de filhos 90% (27) dos participantes denotaram que não possuem filhos, contrapondo-se aos 10% (3) dos participantes que externaram possuir filhos.

5.6 Emancipação
No que tange a emancipação, 83% (25) dos participantes manifestaram que moram sozinhos e apenas 16,7% (5) dos participantes compartilham moradia.

5.7 Principal provedor da família
Acerca do principal provedor da família, 66,7% (20) dos voluntários indicaram o pai como principal provedor da família, 16,7% (5) dos participantes apontaram a mãe como a principal provedora da família, 13,3% (4) dos participantes externaram eles mesmos como principal provedor da família e somente 3,3% (1) dos participantes indicou o esposo como principal provedor da família.

5.8 Local de moradia
Em relação ao local de moradia, 70% (21) dos indivíduos sinalizaram que residiam em bairros periféricos e 30% (9) dos participantes indicaram não residirem em bairros periféricos.

Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)
Os scores obtidos por meio do Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), demonstraram que 53,33% (16) dos participantes da pesquisa presentaram nível grave, 26, 67% (8) apresentaram nível moderado, 13, 33% (4) apresentaram nível mínimos e 6,67% (2) dos indivíduos apresentaram nível leve quanto aos níveis dos sintomas de ansiedade durante o período de estudos para prestar o vestibular. Dessa forma, durante a presente pesquisa, tendo por base os critérios de Karino & Laros (2014), a BAI possibilitou uma visualização e reflexão mais geral sobre os aspectos cognitivos da ansiedade, sobretudo em relação à dimensão “preocupação” dos participantes quanto ao estudos para o vestibular.
Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE)
Não obstante, os scores fornecidos pelos cálculos do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), quanto ao estado de ansiedade, demostraram que 66,67% (20) dos que voluntariaram-se para participar da pesquisa apresentaram nível médio de intensidade quanto ao estado de ansiedade, 23,33% (7) dos indivíduos mostraram possui nível de alta intensidade e apenas 10% (3) dos voluntários mostram possui baixa intensidade quanto a ansiedade. Tal fato, pode ser relacionado a um momento ou situação particular, como o percurso de estudo para o vestibular, causando um estado emocional transitório, caracterizado como um estado ansioso frente aos estudos (Lira Ferreira et al., 2009).
Ademais, quanto ao traço de ansiedade, os scores fornecidos pela IDATE – TRAÇO permitiu visualizar que 56,67% (17) dos participantes da pesquisa apresentaram níveis de alta intensidade, 40% (12) apresentaram níveis de média intensidade e somente 3,33% (1) dos indivíduos apresentaram níveis de baixa intensidade quanto ao traço de ansiedade. Dessa forma, torna-se visível que grande parte dos participantes traz consigo um conjunto de características, consideradas traços de ansiedade, que resultam numa maior disposição de considerar as situações como ansiogênicas, dentre tais situações, o processo de estudo para o vestibular (Ferreira et al., 2009). Sendo assim, o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), permitiu as interpretações no contexto da “autoavaliação” dos participantes da pesquisa.
7. CONCLUSÃO
Dados os fatos apresentados, percebe-se que grande maioria dos participantes indicaram possuir de médio a elevado nível de ansiedade, quanto ao sintoma, ao estado e ao traço de ansiedade, como foi demonstrado pelos dados colhidos através da utilização das escalas BAI e IDATE TRAÇO-ESTADO. Tais dados podem estar relacionados ao fato de que mais de 80% (24) dos participantes trabalham e cursam pré vestibular ou cursam pré vestibular concomitantemente o terceiro ano do ensino médio, dessa forma o excesso de tarefas e estudo se relaciona diretamente a exaustão, uma das principais características do Burnout.
Para além disso, 83,4% (25) dos participantes indicaram ser o pai ou mãe o principal provedor da família, fato que pode ser relacionado a cobrança e a pressão excessiva sobre o estudando, visto que de alguma forma precisam “compensar” o valor investido por seus pais em seus estudos, aumentando ainda mais expectativa de e ansiedade ao estudar para o vestibular.
No total, 86,7% (26) dos participantes são maior de idade, fase em que a expectativa em ser protagonista de sua própria vida e ser independente financeiramente aumentam cada vez mais, juntamente ao anseio em morarem sozinhos. Sendo assim, o primeiro seria estudar para conseguir entrar em uma universidade e futuramente adquirir um emprego que o permita manter-se sozinho. Entretanto, no cenário brasileiro atual, a realidade de muitos não permite o foco apenas nos estudos e por isso muitos optam em estudar, por meio de cursos pré vestibulares concomitantemente ao trabalho, fato que alavanca ainda mais os níveis de ansiedade dos estudantes. Ademais, caracterizando a juventude atual, 93,3% (28) dos participantes declararam serem solteiros e 90% (2) afirmaram não possuírem filhos.
Não obstante, a fim de comparar os níveis de ansiedade entre as classes sociais altas (A, B1, B2) e baixas (C1, C2, D/E) os participantes da pesquisa foram estratificados em grupos de classe alta e baixa, de acordo com sua renda mensal domiciliar, segundo a Estratificação dos Domicílios (IBGE, 2022). Desse modo, foi constatado que 86,66% (26) dos participantes enquadram-se em grupos de classes baixas (C1, C2, D/E) e apenas 13,33% (4) dos participantes, dos quais possuem renda domiciliar mensal entre R$ 7,1 mil e R$ 22 mil, foram categorizados como classe B2, logo, pertencer ao grupo de classes altas (A, B1, B2).
Os grupos foram estratificados na presente pesquisa a fim de possibilitar comparação entre grupos de classes baixa e alta, quantos ao níveis de ansiedade, que representa um dos principal sintomas do Burnout. Sendo assim, ao relacionar os dados obtidos quanto aos níveis de ansiedade, sintoma preponderante do Burnout à classes sociais, vemos que a grande maioria do participantes categorizados como pertencentes ao grupo de classes baixas possuem maiores níveis de ansiedade, quanto ao sintoma, traço e estado, visto que muitos, devido aos desafios de classe enfrentados, optam pela jornada dupla de estudo e trabalho, muitas vezes tento que abrir mão de períodos de lazer e cuidado mental. Desse modo, a exaustão aumenta e, consequentemente, aumentam-se também a probabilidade adquirir Burnout.
À face do exposto, faz-se visível que, para além do ambiente de trabalho, a síndrome de Burnout afeta também estudantes, sobretudo de classes sociais minoritária, haja vista os desafios que enfrentam, a vulnerabilidade social à qual estão expostos e a falta de auxílio governamental que não abrange a minoria social anteriormente citada. Logo, com os dados apresentados, espera-se incentivar a realização de pesquisas que abarquem jovens, estudantes e de classes baixas, afim de que de algum modo esse grupo possa ser visto sob camadas da desigualdade.
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1Coautoras: Acadêmicas do curso de medicina do Centro Universitário Multivix Vitória
E-mail: carol.rizzos@gmail.com, juliachrist21@gmail.com, juliaribeiro2000@yahoo.com.br, kirylda@gmail.com
2Coautora: Acadêmica do curso de pós-graduação em psicologia do Centro Universitário Multivix Vitória
E-mail: Krcoelho@gmail.com
3Autora: Acadêmica do curso de psicologia na Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: maressa33175686@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0009-0006-5258-445X