BURNOUT E A RELAÇÃO ENTRE O AUMENTO DO NÚMERO DE PROFISSIONAIS DE  ENFERMAGEM DIAGNOSTICADOS COM A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8415639


Alexssandro Silva Lucas
Fernanda Nery da Silva
Lidiane Sousa Ferreira
Maria de Fátima Silva Castro
Paula Adriana de Freitas Silva


Resumo

A síndrome de Burnout (SB) tem como causa principal o excesso de trabalho  causando um esgotamento mental. No que tange à enfermagem, tal síndrome tem  se mostrado presente entre os profissionais. No entanto com o surgimento da Covid  19, doença que até então era desconhecida, surge um cenário ainda mais propício  às manifestações da SB. Este estudo propõe identificar na literatura científica  estudos sobre a pandemia da Covid 19 que corroboram com o aumento da SB entre  os profissionais de enfermagem. Trata-se de uma Revisão Integrativa, os estudos  foram selecionados a partir da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nos bancos de  dados em enfermagem (BDENF), Literatura Latino – Americanas e do Caribe em  Ciências da Saúde (LILACS); Medical Literature Analysis anda Retreina Sistem on line (Medline) e na Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Google acadêmico  através dos descritores “Burnout”, “Enfermagem” e “Pandemia Covid 19. Os  resultados mostraram que o enfrentamento da covid-19 colocou os profissionais de  enfermagem em uma situação exaustiva por causa da proporção da pandemia, falta  de insumos, carga de trabalho excessiva e, em alguns casos, isolamento dos  familiares. Toda esta situação causou em alguns profissionais o sentimento de  exaustão estafa mental, o que fez com que a incidência de profissionais detectados  com a doença aumentasse. Conclui-se que a situação vivida pela enfermagem  durante a pandemia favoreceu ao adoecimento pela síndrome de Burnout.  

Abstract 

Burnout syndrome (BS) has as its main cause excessive work causing mental  exhaustion. Regarding nursing, this syndrome has been shown to be present among professionals. However, with the emergence of Covid 19, a disease that was  previously unknown, a scenario emerges that is even more conducive to BS  manifestations. This study proposes to identify studies in the scientific literature on  the Covid 19 pandemic that corroborate the increase in BS among nursing  professionals. This is an Integrative Review, the studies were selected from the  Virtual Health Library (VHL), in the nursing databases (BDENF), Latin American and  Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS); Medical Literature Analysis and  Retreina Sistem online (Medline) and in the Scientific Electronic Library Online  (SCIELO) and Google Scholar through the descriptors “Burnout”, “Nursing” and  “Pandemia Covid 19. The results showed that coping with Covid-19 placed nursing  professionals in an exhausting situation due to the scale of the pandemic, lack of  supplies, excessive workload and, in some cases, isolation from family members.  This whole situation caused some professionals to feel exhausted and mentally exhausted, which caused the incidence of professionals detected with the disease to increase. It is concluded that the situation experienced by nurses during the pandemic favored the occurrence of Burnout syndrome.  

Palavras chaves: Enfermagem, Burnout, Covid-19, pandemia.  

INTRODUÇÃO  

A saúde mental é influenciada por circunstâncias sociais, políticas  ambientais e pela evolução de práticas da saúde. Essa síndrome é caracterizada  pelo esgotamento físico e mental. As pessoas se preocupam tanto com o trabalho que não conseguem se desconectar fora do expediente. Toda essa preocupação gera um gasto enorme de energia, fazendo com que as pessoas percam parcialmente ou totalmente sua vontade e prazer em ir trabalhar, principalmente se não estiverem realizadas profissionalmente (BRASIL, 2020).  

O tratamento conta com ajuda de profissional tais como o psicólogo, que  através da terapia ajudará o indivíduo a identificar pontos de melhoria em seu comportamento, mostrando a ele como lidar com seus sentimentos e enfrentamento  dos obstáculos do seu dia a dia. Os Médicos psiquiatras darão suporte do ponto de  vista químico e orgânico no tratamento com prescrição de medicação que irão aliviar a sensação da incapacidade e inferioridade do transtorno. Além dos medicamentos, a meditação, educação em saúde, atividade física, exercícios de relaxamento, são altamente recomendados para controlar e ajudar nos sintomas (SILVA,  MANTOVANELLI, TERASSAKA, 2021).  

A Síndrome de Burnout (SB) se dá quando ocorre o rompimento com a relação saudável entre trabalhador e trabalho, fazendo com que o indivíduo se sinta esgotado e desmotivado em sua função laboral (MOROFUSE et Al, 2005).  

A SB pode ser confundida com ansiedade, estresse ou depressão, mas diferentemente dessas doenças, está relacionada totalmente com o ambiente de  trabalho. Dentre os danos causados por essa síndrome estão a frustração, problemas cognitivos, exaustão e isolamento (SOUZA et Al, 2020; SILVA,  MANTOVANELLI, TERASSAKA, 2021).  

A palavra Burnout vem da junção das palavras “Burn” e “Out” que são  traduzidas do inglês respectivamente como “queima” e “exterior” e tem como causa  principal o excesso de trabalho. O Ministério da saúde ainda defende que se não for tratado da maneira correta, pode levar o indivíduo a depressão, além de impactar diretamente em seu trabalho, podendo levar ao rompimento da relação empregado e organização (BRASIL, 2020).  

Sendo assim, pode-se perceber o quanto os profissionais de enfermagem  ficaram desgastados durante a pandemia, período em que estes profissionais foram  muito sobrecarregados. Na linha de frente do combate à Covid-19, os trabalhadores  da saúde se dividiram em turnos desgastantes de trabalho, atuando no cuidado de casos mais graves. Aliado a isso, tinham que lidar com as precárias condições de  trabalho, somadas ao medo de se contaminarem ou contaminarem alguma das  pessoas do seu convívio familiar ou social (MEDEIROS, 2020).  

Um estudo realizado na China, com 1.257 profissionais da saúde entre  médicos e enfermeiros, em 34 hospitais diferentes que tiveram pacientes com  COVID-19 mostrou que os colaboradores apresentaram depressão em 50,4%, ansiedade em 44,6%, insônia em 34,0% e angústia em 71,5%. Os relatos desses  sintomas foram maiores em mulheres, enfermeiras, que atuavam diretamente com  diagnóstico, tratamento e cuidados com clientes suspeitos ou com diagnóstico confirmado. Sendo assim, constatou-se que os profissionais de enfermagem estiveram mais predispostos para desenvolver a doença, haja vista que eles  permaneceram maior tempo ao lado dos pacientes infectados (DUARTE, 2021). 

Além disso, no ápice da pandemia enfrentaram a falta dos equipamentos de  proteção individual (EPIs), tão imprescindíveis frente à situação e que muitas vezes, os privaram até de ir ao banheiro ou beber água para não trocar de equipamento.  Presenciaram mortes a todo instante e, ao retornar para suas residências,  vivenciaram o distanciamento social. Vale ressaltar que alguns profissionais optaram por se isolar em seus quartos e até mudar de casa para não correr o risco de  infectar seus familiares, principalmente quando alguém do grupo familiar era  considerado de risco (DUARTE, 2021).  

Diante do exposto, pergunta-se: qual é a relação entre o aumento do número  de profissionais de enfermagem diagnosticados com a SB com a pandemia do novo  coronavírus?  

Para responder a essa questão, foi estabelecido o seguinte objetivo: identificar na literatura científica estudos sobre a pandemia da Covid 19 que corroboram com o aumento da SB entre os profissionais de enfermagem. 

Este estudo se justifica pelo contexto atual ao quais os profissionais se  encontram após o pico de uma pandemia, que os esgotou física e mentalmente e propõe iniciativas a serem tomadas pelas organizações e pelos profissionais para  diminuir significativamente os casos de Burnout entre a equipe de enfermagem.  

Metodologia  

Para desenvolver este trabalho foi utilizada como metodologia a pesquisa por revisão integrativa da literatura, no intuito de reunir e sintetizar o conhecimento  pré-existente sobre a temática proposta, favorecendo teoricamente com o  conhecimento vasto do estudo. Também se trata de uma pesquisa descritiva que, ainda conforme Gil (2002), a ideia desta investigação fundamenta-se no detalhamento de características do processo a ser realizado. Quanto à abordagem, é definida como qualitativa que, conforme Neves (1996) compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e decodificar os  componentes de um sistema complexo de significados.  

O estudo orientou-se por seis etapas: (1) identificação do problema e definição da questão norteadora; (2) realização de busca e seleção dos estudos segundo critérios de amostragem; (3) extração de dados; (4) análise crítica dos estudos selecionados; (5) interpretação dos resultados; e (6) elaboração da síntese e relatório final (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).  

Dessa forma foi proposto no primeiro passo da revisão integrativa o tema e a seguinte pergunta de partida: qual a relação entre o aumento do número de profissionais de enfermagem diagnosticados com a SB com a pandemia do novo coronavírus?  

Em seguida foi realizado pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),  nos bancos de dados em enfermagem (BDENF), Literatura Latino – Americanas e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Medical Literature Analysis anda Retreina Sistem on-line (Medline) e na Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Google acadêmico.  

Para a busca utilizou-se os descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “Burnout”, “Enfermagem”, “Pandemia Covid-19” combinados através do Operador  Booleano AND.  

Os critérios de inclusão utilizados foram: estudos que tinham relação com a questão abordada, publicados entre os anos de 2019 a 2023, idioma português com texto completo. Foram excluídos estudos duplicados, revisões bibliográficas e  artigos que contemplavam pesquisas mais voltadas para a área da psicologia. Após a busca dos estudos foi realizada a leitura na íntegra dos artigos e construído um instrumento para coleta de dados relevantes sobre o tema como:  autor, ano, periódico, título, metodologia e amostra.  

Após a identificação das informações, foram discutidos os principais resultados da relação do aumento do número de profissionais de enfermagem diagnosticados com a SB com a pandemia do novo coronavírus.   

Na última etapa da revisão integrativa os resultados foram apresentados em forma de artigo científico a partir da análise das publicações selecionadas no estudo.  

Resultados e discussões  

Após a aplicação dos critérios de exclusão a relevância de 35 estudos foi  avaliada. Dessa forma foi realizado a leitura dos resumos e 19 artigos foram excluídos por não contemplarem a temática que constitui o objetivo dessa revisão  sistemática, restando 16 artigos para avaliação do conteúdo na íntegra. Finalmente, foram excluídos 11 estudos após a leitura do texto completo por terem trabalhado uma abordagem mais relacionada com a psicologia, restando 05 estudos que foram  selecionados para esta revisão integrativa, conforme demonstrado no fluxograma  (Figura 1).  

Figura 1-Fluxograma de Busca: Identificação, seleção e inclusão das publicações utilizadas na Revisão Integrativa.  

Fonte: Elaborado pelos autores, 2023. 

A partir das informações obtidas pelo instrumento de coleta de dados, foi construído um Quadro Sinóptico (Quadro 01), contendo de maneira clara e resumida as principais informações dos estudos selecionados.  

Quadro 01 – Principais informações dos estudos selecionados, Belo Horizonte, 2023.  

Autor e anoPeriódicoTítuloMétodoAmostra
Freitas
et al. (2020)
Jornal Brasileiro de PsiquiatriaPreditores da síndrome de Burnout em técnicos de enfermagem de unidade de terapia intensiva durante a pandemia da COVID-19Estudo transversal94 técnicos de
enfermagem de
terapia intensiva
Sevinc et al. (2022)Brazilian Journal of AnesthesiologyAnsiedade e Burnout em anestesistas e enfermeiros de unidade de terapia intensiva durante a pandemia de COVID-19: um estudo transversalEstudo transversalMédicos assistentes, residentes e
enfermeiros
constituíram 25%, 33,7% e 41,3% da
coorte, respectivamente
Ferreira
et al. (2022)
Research, Society and DevelopmentNível de estresse e avaliação preliminar da síndrome de Burnout em Enfermeiro da UTI na COVID-19 – Estudo de casoEstudo transversalEnfermeiros das UTIs
Rezer;
Faustino
(2022)
Journal Health NPEPS.Síndrome de Burnout em enfermeiros antes e durante a pandemia da COVID-19Estudo transversal27 enfermeiros, atuantes de unidades básicas de
saúde, unidade hospitalar e uma universidade
Lazarini et al. (2023)Revista Científica de EnfermagemBurnout entre trabalhadores  de enfermagem antes e após vacinação contra COVID-19Estudo
analítico
173 profissionais de enfermagem
Fonte: Elaborado pelos autores, 2023;

Os artigos acima mencionados buscam abordar a temática desde o surgimento, consequências até estratégias de planejamento para lidar com a SB. Este problema tem se apresentado cada vez mais presente entre os profissionais da  saúde que estiveram e permanecem na linha de frente no combate à COVID-19.  

Foram selecionados 05 artigos para o estudo, buscando investigar a relação entre o aumento do número de profissionais de enfermagem diagnosticados com Burnout no contexto da pandemia do novo coronavírus.  

Sabe-se que a Síndrome de Burnout é um problema de saúde pública e frequente nos profissionais da área da saúde, uma vez que é um setor que presta serviços voltados a cuidados essenciais para a vida humana, principalmente no enfrentamento da pandemia, sendo estes profissionais identificados com alto risco  de estresse ocupacional (SEVINC, et al., 2022).  

A amostra final foi composta por um estudo relacionando Burnout em técnicos de enfermagem, dois estudos que tratam a incidência de Burnout durante a pandemia, um propondo um comparativo da síndrome antes e durante a pandemia e um estudo que investiga os índices da ocorrência da síndrome de Burnout antes e após o início da vacinação contra COVID-19.  

Como visto anteriormente, a Síndrome de Burnout é definida como uma  condição de desconforto psicológico em resposta ao estresse de longa duração relacionado às condições desfavoráveis do ambiente de trabalho. Esta é caracterizada por esgotamento e exaustão psicológica, física, mental e que inclui três condições multidimensionais: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal (FREITAS et al., 2020).  

Estes sintomas estão relacionados à natureza das atividades e à organização do trabalho. Distúrbios do sono, por exemplo, podem estar relacionados às longas jornadas de trabalho, maior contato com pacientes críticos e seus familiares, por presenciarem momentos de dor e morte e pela carência de recursos  que otimizam o processo de trabalho, o que consequentemente, possibilita o surgimento da Síndrome de Burnout (SEVINC, et al., 2022).  

Antes de iniciar o estudo sistemático, é importante apresentar as três fases da Síndrome de Burnout, descritas abaixo (Quadro 02):  

Quadro 02 – Fases da Síndrome de Burnout, Belo Horizonte, 2023. 

1° FASE: a exaustão emocional
Apresenta-se a exaustão emocional, onde os trabalhadores têm a sensação de esgotamento. Sentem a energia e os recursos emocionais que dispõem se exaurirem, resultado do intenso contato diário com os problemas de outras pessoas. A exaustão emocional é considerada a qualidade central da síndrome e a manifestação mais clara para detecção dela.
2° FASE: a despersonalização
Ocorre a despersonalização. Neste estágio o trabalhador desenvolve atitudes e sentimentos negativos e de cinismo em relação a clientes, usuários e colegas, ele quer distância dessas pessoas. Há ausência de sensibilidade, manifestada como endurecimento afetivo, “coisificação” das relações interpessoais. A indolência se evidencia com a presença de atitudes de indiferença, no momento que os profissionais
prestam o serviço, para as pessoas que precisam do seu atendimento, acrescidas de insignificância em relação ao problema do paciente em atendimento. Essas atitudes demonstram uma estratégia de enfrentamento por este profissional para superar a desilusão e o desgaste psicológico.
3° FASE: baixa realização pessoal
Ocorre a baixa realização pessoal, é nesta fase que se torna evidente a redução significativa dos sentimentos de competênia, relativamente à valorização pessoal que possa ser obtida por meio do trabalho.
Fonte:  SÁ (2014), adaptado.

Com relação à Síndrome de Burnout em técnicos de enfermagem, o estudo  realizado em 2020, início da pandemia, já demonstrou a prevalência da SB em 25,5% da amostra analisada. O autor enfatizou preditores como idade, estado conjugal, tipo de vínculo profissional, tempo de trabalho na instituição, desenvolvimento de horas extras, prática de jornada dupla de trabalho, possuir outro trabalho remunerado, serem tabagista e etilista (FREITAS et al., 2020).  

O estudo realizado por Sevinc et al. (2022) durante a pandemia de COVID 19 abordou a ansiedade e Burnout em anestesistas e enfermeiros (48 profissionais) de unidade de terapia intensiva. Neste estudo investigou na população estudada questões sobre os sintomas somáticos de ansiedade, exaustão emocional, despersonalização e realização pessoal.  

A atividade mais comum que fez os profissionais de saúde se sentirem bem  durante a pandemia foi ficar em casa (75,2%), enquanto as menos comuns foram trabalhar (8,9%) e buscar informações sobre a COVID-19 (8,9%). De acordo com a investigação do estudo, foi constatado que o setor de anestesia e as UTIs foram locais conhecidos com alta de frequência de estresse e síndrome de Burnout tanto para anestesistas quanto para enfermeiros (SEVINC, et al., 2022).  

O autor conclui o estudo enfatizando que a redução da carga de trabalho demonstrou servir como o fator mais importante na redução do estresse e da ocorrência da síndrome de Burnout, sugerindo que medidas adicionais sejam tomadas para aliviar a carga de trabalho não só dos profissionais de enfermagem, mas de todos os profissionais de saúde.  

Ferreira et al. (2022) propôs, através de um estudo transversal, analisar o nível de estresse e sinais preliminares da Síndrome de Burnout nos enfermeiros que trabalham nas UTIs da COVID-19 (38 enfermeiros) e, nas demais UTIs (23  enfermeiros), no contexto da pandemia.  

No contexto da pesquisa de Ferreira et al. (2022), não foi identificada nenhuma diferença significativa entre os dois grupos, sendo predominante níveis de estresse elevados em ambos, bem como presença de Síndrome de Burnout em 82% da população investigada no teste preliminar. O estudo demonstrou a fase inicial da Burnout como a mais pronunciada entre os profissionais estudados, demonstrando a  instalação recente da síndrome e levantando a fortes hipóteses da relação com a  pandemia. Dessa forma, corroborando também, com os resultados de Ferreira et al.  (2022) que demonstrou os setores de UTI como aqueles de alta frequência de  estresse e Síndrome de Burnout.  

Por sua vez, o estudo transversal de Rezer Faustino (2022), diferente dos demais estudos, objetivou investigar a incidência, bem como conhecer os fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome de Burnout em cenários distintos, antes e  durante a pandemia da COVID-19. Os autores buscaram enfermeiros atuantes na  atenção básica de saúde, enfermeiros em um hospital geral e enfermeiros docentes  do curso de enfermagem. Os autores constataram em seu estudo que a pandemia trouxe maiores repercussões do ponto de vista de indícios de SB nos enfermeiros da unidade hospitalar e enfermeiros docentes. Concluíram que houve maior aumento da exaustão emocional e despersonalização, com redução da realização profissional nestes profissionais, indicativo de síndrome de Burnout.  

Lazarini et al. (2023), em um estudo analítico, avaliaram a Síndrome de Burnout entre 173 trabalhadores de enfermagem, antes e após a vacinação contra a  COVID-19. Os autores chamaram atenção para o grande número de profissionais de enfermagem que se submetem a dupla jornada de trabalho, devido ao baixo salário, desvalorização, vínculos de trabalho precário. Os resultados da pesquisa revelaram alta prevalência da Síndrome de Burnout nesses profissionais, não demonstrando mudança significante nos índices após vacinação contra a COVID-19.  

As consequências decorrentes da Síndrome de Burnout abrangem vários aspectos da vida do profissional acometido, desde alterações no próprio indivíduo até perturbações do convívio social, seja com amigos, familiar ou no ambiente de trabalho. A lida diária com situações desagradáveis e a exposição ao risco constante de contaminação pelo vírus alimentam ainda mais o estresse psicológico destes que trabalham na linha de frente da assistência à saúde. No cenário da COVID-19, esse problema demonstrou mais chances de ser adquirido pelos profissionais, já que a demanda pelos serviços de saúde cresceu exorbitantemente e a infraestrutura da saúde mundial não estava preparada (SEVINC, et al., 2022).  

Assim, verifica-se a importância de um maior suporte ético-emocional como forma de minimizar os danos psicológicos sofridos por estes profissionais no tempo de enfrentamento da pandemia.  

CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Mediante ao exposto é possível concluir que o contexto da pandemia favoreceu o adoecimento dos profissionais de enfermagem com a síndrome de Burnout, haja vista que os trabalhadores foram expostos a longas jornadas de trabalho, falta de insumos, presenciaram um número elevado de óbitos de uma doença que até então não era amplamente conhecida e ainda tiveram que lidar com o dia-a-dia da profissão que já é carregado de responsabilidades.  

Tais fatores, associados ao medo de transmitir a doença para familiares e amigos, o isolamento social e a morte como parte do cotidiano aumentaram ainda mais a sobrecarga física e psicológica sobre esses profissionais, aumentando o risco de desenvolvimento de problemas psicológicos e causando efeito deletério à saúde mental. 

Esse estudo reforça a importância da assistência a esses colaboradores e a necessidade da promoção e a prevenção de saúde, principalmente no atual contexto. Importante também ressaltar que todos os profissionais foram impactados, porém para os atuantes nos serviços hospitalares o estresse e o Burnout ficaram  mais evidenciados. Por fim, sugere-se para estudos futuros a avaliação desses profissionais no cenário pós pandemia, investigando os níveis de estresse indicadores de Burnout e propondo estudos comparativos.  

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