BUNDLES DE PREVENÇÃO DE INFECÇÕES COMO BOAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM PARA SEGURANÇA DO PACIENTE EM TERAPIA INTENSIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10642613


Ada Souza de Carvalho1
Alexandre Aguiar Pereira1
Flávia do Socorro Lima Maia1
Hellen Ribeiro da Costa Silva2
Láise Ariane Rodrigues Monteiro1
Rebecca Gomes Scaff1
Ricardo dos Santos de Azevedo1
Sabrina do Socorro Marques de Araujo de Almeida1
Sandra Maria Pinheiro e Silva1
Thalita de Lourdes Ribeiro Fernandes da Silva1


RESUMO: A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um local complexo destinado a pacientes graves e propensos à infecção durante o período de internação. Para diminuir esse risco é adotada a implementação de bundles com a funcionalidade de intervenção no processo do cuidado. Objetivos: analisar na literatura o uso de bundles e boas práticas da equipe de enfermagem na prevenção de infecções na terapia intensiva, evidenciar o conhecimento da enfermagem sobre o uso do bundles e identificar as barreiras para a utilização do bundles na terapia intensiva. Método:  utilizou-se a revisão integrativa da literatura conduzido pelo acervo da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) durante o período de levantamento de dados, especialmente na Medical Literature Analysisand Retrieval System Online (MEDLINE) e na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Resultados: encontrou-se sete artigos que foram categorizados em “O conhecimento da enfermagem” e as “Barreiras para a utilização dos bundles”, na primeira categoria foi evidenciado que a enfermagem detém conhecimento sobre a utilização bundles na terapia intensiva direcionada ao cuidado do paciente e na segunda, foi percebido falta de conhecimento, adesão, educação permanente dentre outros que complementam o uso desta ferramenta. Considerações Finais: Verificou-se pioneirismo dos profissionais enfermeiros, além da importância de engajar a equipe de enfermagem e multiprofissional para a conscientização das medidas preventivas, a fim de diminuir os índices de infecção e promover a segurança do paciente.

Descritores: Enfermagem. Segurança do paciente. UTI. Bundles

ABSTRACT: The Intensive Care Unit (ICU) is a complex place intended for critically ill patients prone to infection during the hospitalization period. To reduce this risk, the implementation of bundles with intervention functionality in the care process is adopted. Objectives: to analyze in the literature the use of bundles and good practices of the nursing team in preventing infections in intensive care, to highlight nursing knowledge about the use of bundles and to identify barriers to the use of bundles in intensive care. Method: an integrative literature review conducted by the Virtual Health Library (VHL) collection was used during the data collection period, especially in the Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) and in Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS). Results: seven articles were found that were categorized into “Nursing knowledge” and “Barriers to the use of bundles”, in the first category it was evidenced that nursing has knowledge about the use of bundles in intensive therapy aimed at patient care and in the second, a lack of knowledge, adherence, continuing education, among others that complement the use of this tool, was perceived. Final Considerations: There was a pioneering spirit among nursing professionals, in addition to the importance of engaging the nursing and multidisciplinary team to raise awareness of preventive measures, in order to reduce infection rates and promote patient safety.

Descriptors: Nursing. Practices. Patient safety. Bundles

1 INTRODUÇÃO

As UTIs mencionadas por Santana et al. (2017) são designadas ao atendimento de pacientes graves, que necessitam de uma monitorização mais complexa e para aqueles que estão instáveis hemodinamicamente. Devido aos quadros críticos de saúde, esses indivíduos são altamente suscetíveis a infecções durante o período de internação nesse setor, e dependem de assistência médica e de enfermagem continuamente (Evangelista; Cruz; Souza, 2021).

A Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IRAS) segundo Brasil (2017) é caracterizada como aquela adquirida após a admissão do paciente, durante a internação ou após a alta, cuja causa está relacionada a procedimentos assistenciais. Em 2017, a Agência Nacional de vigilância Sanitária (ANVISA) lançou um caderno sobre os critérios diagnósticos de IRAS, com a finalidade de prevenir e diagnosticar os casos de forma sistematizada e qualificada, de acordo com evidências que indiquem os fatores de riscos causadores das infecções após procedimentos invasivos (Pinho et al., 2020).

No Brasil, a ANVISA (2018) publicou dados relativos a 2017, onde ela revela a a incidência de IRAS em UTIs adultos de 4,4%, onde as taxas maiores de infecção são as pneumonias movidas a ventilação mecânica (PAV) com 11,50%, seguida das infecções do trato urinário (ITU) com 4,70% por uso de cateter vesical de demora e pelas infecções primárias de corrente sanguínea laboratoriais confirmada (IPCSL), tendo como o microorganismo e maior predomínio de atividade a Acinetobacter spp, resistente aos carbapenêmicos com 77,7%, seguido pelo Staphylococcus coagulase negativa, resistente a oxacilina com 72,2% (Euzébio et al., 2021). 

Para diminuir o risco de infecção na UTI, Colaço e Nascimento (2014) mencionam em seus estudos a utilização do bundle, uma ferramenta que surge para prestar com eficiência a assistência no processo do cuidado. Levando em consideração as intervenções que as compõem, a equipe deve aderir a sua aplicabilidade para a obtenção de bons resultados (Santos et al., 2022).

Os bundles são medidas ou estratégias de boas práticas para prevenção de IRAS, fortemente recomendadas pela qualidade metodológica e quantidade de estudos publicados. Sua metodologia não é simplesmente a aplicação de um checklist de atividades, mas um conjunto de estratégias ou medidas que funcionam somente se forem aplicadas em conjunto a todos os pacientes que estão sob o risco de IRAS e que devem ser supervisionados de forma sistemática por toda a equipe de saúde, por meio de vigilância de processo e intensas ações educativas (Lima et al., 2023).

Garante-se, nessa perspectiva, pelo direcionamento das ações preconizadas pelo bundle, um cuidado seguro ao paciente, consequentemente, levando a uma redução no número de infecções primárias de corrente sanguínea e outros, bem como nos custos hospitalares e no tempo de internação (Fernandes et al., 2019).

A segurança do paciente no entendimento de Tomazoni et al. (2014) deve estar atrelada a fatores individuais e coletivos, tanto na forma de pensar, quanto na de prestar um cuidado seguro, e deve ser construída em uma equipe que tenha experiência e conhecimento, tudo isso em benefício da segurança dos pacientes. Isso exige que gestores e profissionais possam se comunicar com membros de equipes multidisciplinares para prestar assistência de alta qualidade com foco na segurança do paciente (Souza et al., 2022).

Dentro desse contexto de riscos Silva et al., (2019) mostram que o enfermeiro é responsável pelo planejamento, vigilância, execução de boas práticas preventivas, capacitando a equipe de enfermagem, por meio da educação permanente.  Cabendo a eles a utilização de estratégias para minimizar esses danos, através da sistematização de cuidados com a criação e uso de procedimentos operacionais padrão/instrumentos normativos e bundles, considerados   tecnologias   leves, que quando bem utilizados podem garantir melhorias substanciais na assistência à saúde no âmbito da terapia intensiva (Silva et al., 2021).

 Sabe-se que existem grandes investimentos humanos e materiais por parte das instituições e profissionais de saúde na tentativa de prevenir custos e agravos advindos de infecções hospitalares pois é de suma importância colocar este assunto em discussão para que todos entendam a gravidade crescente, danos e perdas irreparáveis. Neste sentido a enfermagem em UTI tem mostrado grande influência na qualidade de vida e de cuidados, acerca do uso de bundles e boas práticas para a prevenção de infecção na terapia intensiva, sendo relevante a explanação do estudo, levando ao seguinte questionamento: o que a literatura aborda sobre o uso de bundles e boas práticas da enfermagem na prevenção de infecções na terapia intensiva? 

Diante disso, o estudo objetiva analisar na literatura o uso de bundles e boas práticas da equipe de enfermagem na prevenção de infecções na terapia intensiva, evidenciar o conhecimento da enfermagem sobre o uso do bundles e identificar as barreiras para a utilização do bundles na terapia intensiva.

2 MÉTODO

Foi realizada uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), com abordagem descritiva, na qual facilitou a discussão dos métodos e resultados da pesquisa. Com isso, a pesquisa descritiva permite classificar, descrever as peculiaridades características de uma população, fenômeno ou experimentação do estudo realizado. Além disso, a RIL buscou uma ampla abordagem metodológica através das seis etapas, tais como: a elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem na literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados; e apresentação da RIL, com isso, contribuiu com o avanço da temática (Silva et al., 2018) detalhada na (Figura 1).

     Figura 1 – As etapas da revisão integrativa.

 Fonte: (Araújo et al., 2018).

O estudo proposto foi conduzido no acervo da BVS durante o período de levantamento de dados, especialmente na MEDLINE e na LILACS. A pesquisa foi realizada de forma indexada por meio da busca de descritores inseridos em banco de dados, bem como outros associados no estudo e discussão sobre bundles e boas práticas de enfermagem como consta nos Descritores em Ciências da Saúde (DECs): bundles; enfermagem, práticas.

A coleta de dados foi desenvolvida com base no norteamento do modelo PICo, seguindo a identificação dos elementos pela seguinte forma: Patient (P); Intervention (I); Control e Outcomes (Co), permitindo a compreensão do estudo, de modo que este pode ser concluído pelo perfil de produção científica, determinadas pelo bundles e boas práticas de enfermagem, adequando ao recorte temporal de 10 anos, permitindo a construção pautada em evidências científicas (Galvão; Pereira, 2014).

Quadro 1– Estratégia de PICO e a busca aplicada a pergunta de pesquisa.

Fonte: Sousa et al., 2017. Com adaptação dos autores.

O procedimento de inclusão dos artigos publicados foi realizado nos seguintes parâmetros: artigos relacionados aos bundles e a boas práticas de enfermagem. Além disso foram incluídos estudos das bases literárias em português, publicados em meio as metodologias de: estudos experimentais, estudos observacionais, descritivos, transversais de natureza qualitativa e quantitativa, inseridos na base de dados no período de 2014 a 2023 na forma de periódicos eletrônicos.

Considerando os critérios de exclusão foram eliminados os incompletos, duplicados, fora do limite temporal, sem relação com a temática, com idiomas estrangeiros não traduzidos, os de revisão, análise sistemática, confusos, que não alcançaram a devida resolução da problemática abordada. 

Os dados foram coletados e avaliados em consonância ao método de Bardin (2011). Assim, a concentração da análise bem como da descrição, foram expressos através de possíveis aplicações de conteúdo, na qual foi viabilizado a melhor forma de especificação e organização de todas as premissas dos dados, implicando na análise dos dados dos conteúdos, por meio de três etapas distintas, sendo elas: A pré-análise, na qual perquire na organização e sistematização dos dados, seguida pela análise que percorreu todo o montante material e o respectivo entendimento dos dados, finalizando pela etapa de tratamento dos resultados, ou seja, o entendimento inspirado por estes, bem como a influência dada por cada um, de modo a propiciar melhor organização e alocação dos resultados, conforme as informações que cada um agrega na sua interpretação e conexão (Mendes; Miskulin, 2017).

Os aspectos éticos foram contemplados, mantendo as ideias e conceitos dos autores pesquisados, citando-os e referenciando-os na norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Por se tratar de uma RIL e não haver relação direta com seres humanos ou animais como menciona a Resolução 466/2012 e com as diretrizes e normas nacionais e internacionais regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos não foi encaminhada ao Comitê de Ensino e Pesquisa.

3 RESULTADOS 

Segundo o método referido na pesquisa, foram inicialmente localizadas 488 publicações após o cruzamento dos descritores. Contudo, da aplicação do critério de inclusão e exclusão adotados, 70 foram eliminados por estarem incompletos, 10 por serem duplicados, 195 fora do limite temporal, sem relação com a temática 121, em língua estrangeira 76 e os de revisão foram 9, conforme figura 1:

 Figura 1 – Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos da revisão

   Fonte: Desenvolvido pelos pesquisadores (2023).

Para compor o corpus inicial da análise, chegou-se ao total de 7 artigos, os quais são apresentados no (Quadro 2), segundo a ordem de publicação.

Quadro 2 – Fluxograma do processo de busca e seleção dos artigos da revisão

O quadro 3 ilustra os temas relacionados ao uso do bundles associado à atuação da enfermagem na UTI.

Quadro 3-Categorias associadas ao uso do bundles

Fonte: Desenvolvido pelos pesquisadores (2023).

4 DISCUSSÃO

4.1 Conhecimento da enfermagem sobre o uso do bundles na terapia intensiva

Foi evidenciado que o conhecimento da enfermagem às respeito do bundles traz grandes benefícios aos pacientes da terapia intensiva, pois esta ferramenta compreende a higienização das mãos antes e após o manuseio do cateter venoso central (CVC) o uso de técnica asséptica para manuseio do CVC com a utilização de luvas não estéreis mais o uso do álcool 70%. No que diz respeito à troca de equipos, as infusões de uso contínuo devem ser trocadas a cada 96 horas incluindo extensores para infusão, extensores multivias, dânulas e conectores. Para infusões intermitentes, nutrição parenteral, emulsões lipídicas ou com glicose, mesmo diluídas, recomenda-se a troca do sistema de infusão a cada 24 horas. Para infusões de propofol recomenda-se a troca do equipo a cada 6 a 12 horas.

 No momento do banho o curativo de inserção do CVC deve ser protegido para evitar o contato com a água. Cobri-lo se necessário. Trocar o curativo a cada 48 horas dependendo da situação clínica do paciente (quando o paciente apresentar condições de responder ao estímulo de dor no exame do sítio de inserção do CVC por palpação). Em casos de sensibilidade local, febre sem fonte evidente, o curativo deve ser removido para permitir um exame minucioso. Caso o curativo não esteja úmido, solto ou sujo e o paciente não apresente condições de responder ao estímulo de dor no exame do sítio de inserção do CVC por palpação é necessário a inspeção do sítio diariamente e a troca do curativo deverá ser realizada a cada 24 horas (Calil, 2014).

Para Fernandes et al. (2019) o uso do bundle orienta o profissional de saúde quanto aos cuidados que devem ser adotados durante a assistência ao paciente. Compõe-se o referido bundle por cinco componentes: higienização das mãos; barreira máxima durante a passagem do cateter; antissepsia com clorexidina; sítio de inserção adequado e reavaliação diária da necessidade da manutenção do cateter (Fernandes et al., 2019).

A implantação do bundle para prevenção de infecção do trato urinário associada ao uso do cateter vesical alcançou resultados positivos no contexto de sua ocorrência, da adesão às medidas de prevenção na manutenção e manipulação do cateter vesical, e conhecimento autorreferido dos profissionais (melhora na descrição dos cinco momentos para higienização das mãos, das indicações para inserção do cateter vesical, medidas de barreira para técnica asséptica de inserção e medidas de prevenção da infecção do trato urinário associada ao uso do cateter vesical durante a manipulação e manutenção do cateter vesical) (Mota, 2019).

Quanto ao bundle de inserção de CVC, enfermeiros e médicos responsáveis reportaram, de forma semelhante neste estudo, que aplicam o bundle, de forma coerente com as recomendações. A conformidade diferiu por função, sendo que os enfermeiros apresentaram em maioria relacionado aos médicos e o ponto de maior fragilidade foi a adesão à prática de higiene das mãos e ao uso de desinfetante à base de álcool. A higienização de mãos é o ponto chave do bundle de CVC, pois ressaltam que os principais microrganismos causadores das infecções de um CVC são provenientes das mãos dos profissionais que manipulam esse dispositivo. Essa medida preventiva está associada à redução das taxas de infecções relacionadas ao uso de CVC (Manzo et al., 2019).

Em relação ao preparo da pele para inserção do dispositivo, foram encontradas divergências entre o comportamento dos profissionais em usar a solução de gliconato de clorexidina degermante e alcoólico ou apenas clorexidina. É importante salientar que a clorexidina, ou gliconato de clorexidina, é um antisséptico de baixa toxicidade e possui afinidade química com as estruturas da pele e mucosa. Além de largo espectro, essa solução é amplamente eficaz contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, exibindo ação bactericida e bacteriostática, agindo também sobre alguns vírus, incluindo o HIV. A adição de clorexidina à solução alcoólica pode resultar em atividade residual, cuja ação microbiana do álcool promove desnaturação das proteínas, inviabilizando as funções celulares (Manzo et al., 2019)

Os resultados evidenciaram fragilidades no conhecimento e comportamento dos profissionais em relação às ações preconizadas. Em relação ao conhecimento da equipe, o item higienização das mãos apresentou maior nível de conhecimento tanto no momento da inserção como na manutenção do CVC. O uso do degermante clorexidina, seguido por alcoólico e datar hub ou conectores, foi o item de menor conhecimento. A realização de treinamentos e programas de educação permanente para todos os profissionais de saúde engajados na inserção e manutenção do CVC é imprescindível para prevenir a infecção de corrente sanguínea associada a esse dispositivo (Costa et al., 2019).

Os bundles, contendo medidas preventivas multidisciplinares a serem aplicadas de forma conjunta, são um excelente método de garantia de assistência segura. O sucesso da sua implementação para a redução da infecção em UTI é descrito em relevância na literatura internacional. Uma metanálise publicada em 2018 demonstrou a redução de mortalidade relacionada à PAV após a implementação de bundle preventivo (Branco et al., 2020). 

Observou-se que em sua maioria o enfermeiro tem maior domínio sobre as recomendações do bundle. Os médicos demonstraram menor conhecimento acerca do instrumento em decorrência de falta de treinamentos auto relatados. Contudo, estes profissionais e a equipe técnica de enfermagem reconhecem e executam orientações contidas no bundle relacionadas à inserção e manejo adequado dos CVC. É importante ressaltar que a educação permanente com toda a equipe de saúde é essencial para a adesão às boas práticas de manejo do CVC, pois, reduzem as taxas de infecção, uma vez que essa estratégia qualifica a assistência através de mudanças no comportamento dos profissionais (Moreira; Rigo; Leite, 2023).

4.2 Barreiras para a utilização do bundles na terapia intensiva

Apurou-se, num estudo sobre bundles que alguns participantes (14,6%) não responderam à pergunta e isso pode ser reflexo da ausência de conhecimento sobre o assunto. Nota-se que esse provável desconhecimento, por sua vez, pode ser consequência da não realização de iniciativas de educação permanente nas unidades da pesquisa, conforme apontado por 52,4% dos entrevistados, que afirmam não participar de tais iniciativas (Fernandes et al., 2019).

No entanto, a manutenção das ações do bundle requer mudanças que normalmente envolvem educação, comprometimento e implantação de protocolos institucionais e que precisam ser continuadas ao longo do tempo. Observou-se que, nas ações com menor envolvimento da equipe multiprofissional, como registro das indicações adequadas para uso do cateter vesical no campo do prontuário eletrônico e ordem de retirada do cateter vesical quando não mais necessário, os resultados pós-intervenção permaneceram inalterados. Entretanto, na ação educativa houve maior adesão dos profissionais, principalmente da equipe de enfermagem. O impacto nos resultados foi maior, com adesão próxima a 100% nas medidas de prevenção de infecção do trato urinário associada ao uso do cateter vesical durante a manutenção e a manipulação do CVC (Mota, 2019).

O ponto de maior fragilidade foi a adesão à prática de higiene das mãos e ao uso de desinfetante à base de álcool. Pesquisadores destacam a higienização de mãos como ponto chave do bundle de CVC e ressaltam que os principais microrganismos causadores das infecções provenientes da utilização de um CVC são provenientes das mãos dos profissionais que manipulam esse dispositivo. Essa medida preventiva está associada à redução das taxas de infecções relacionadas ao uso de CVC (Manzo et al., 2019). 

A baixa adesão aos protocolos institucionais, falta de insumos como sabão, solução alcoólica, papel toalha e infraestrutura inadequada para lavagem das mãos, são motivos para adotarem o bundles. Entretanto, evidenciou-se que a maioria dos profissionais concorda com a antissepsia das mãos antes do procedimento, do manuseio e após o contato com o paciente (Moreira; Rigo; Leite, 2023).

Os resultados evidenciaram fragilidades no conhecimento e comportamento dos profissionais em relação às ações preconizadas, o que foi evidenciado por diversos artigos durante a revisão integrativa. Em relação ao conhecimento da equipe, o item higienização das mãos apresentou maior nível de conhecimento tanto no momento da inserção como na manutenção do CVC. O uso do degermante clorexidina, seguido pelo uso de solução alcoólica em algumas práticas, datar hub ou conectores foram os itens de menor conhecimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a aplicação do bundle de prevenção ser bem-sucedida, a ponto de levar à redução da infecção no ambiente de terapia intensiva, é fundamental a participação do enfermeiro no treinamento e na educação da equipe frente ao processo de trabalho. É necessário repassar aos profissionais como feedback os dados de adesão e as taxas de incidência, a fim de envolver toda a equipe no cuidado, induzindo à reflexão acerca da assistência prestada ao paciente crítico, de modo a identificar o que deve ser melhorado.

É importante ressaltar que a educação permanente com toda a equipe de saúde é essencial para a adesão às boas práticas de manejo do CVC, pois, reduzem as taxas de infecção, uma vez que essa estratégia qualifica a assistência através de mudanças no comportamento dos profissionais.

Como limitação algumas dificuldades apresentadas durante a elaboração desta pesquisa são evidenciadas baixa disponibilidade de literaturas científicas acerca da prevenção de IRAS, e que deliberadamente é mais desenvolvida fora do Brasil; assim como a escassez de literatura científica que expresse de forma concisa a gestão de processos na área da saúde e sobre as etapas que antecedem a implementação de bundles.

Verificou-se a importância de engajar toda a equipe profissional, sobretudo a totalidade da equipe de enfermagem para a conscientização das medidas preventivas, a fim de diminuir os índices de infecção e promover a segurança e sobrevida do paciente.

Esta pesquisa mostrou-se relevante a enfermagem como ciência, pois avança-se na perspectiva de novas informações epidemiológicas e da análise de dados ainda não totalmente explorados sobre a prática correta de inserção e manutenção de CVC, importante via de contaminação da corrente sanguínea. Mostra-se ainda o quão a temática necessita de constantes investimentos e também de estudos científicos mais profícuos. E ainda sim é notório certo pioneirismo de profissionais enfermeiros diante dessa temática de cunho multiprofissional. 

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