BRUXISM IN HIGH SCHOOL SENIOR STUDENTS: A NARRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510151247
Raylla Jennifer Silva de Souza¹
Ronaldo Luís de Almeida Carvalho²
Fabíola Pessoa Pereira Leite³
Resumo
O bruxismo é uma atividade repetitiva dos músculos mastigatórios caracterizada por apertamento ou ranger de dentes, que pode ocorrer durante o sono (sleep bruxism) ou em vigília (awake bruxism). Em adolescentes, especialmente em estudantes do ensino médio, o fenômeno apresenta relevância clínica e psicossocial, estando frequentemente associado à ansiedade, estresse escolar e hábitos relacionados ao estilo de vida. Esta revisão narrativa buscou reunir e analisar criticamente a literatura recente sobre prevalência, fatores associados, impacto e estratégias de manejo do bruxismo em adolescentes do 3º ano do ensino médio. Foram consultadas as bases PubMed, Scopus, Web of Science, SciELO e LILACS, priorizando publicações dos últimos dez anos, com destaque para 2023–2025. Os estudos apontam prevalência variável de 5% a 45%, dependendo do método diagnóstico utilizado. Entre os principais fatores associados destacam-se sintomas ansiosos e depressivos, bullying, distúrbios do sono, tempo excessivo de tela e consumo de substâncias estimulantes. O impacto inclui dor orofacial, distúrbios temporomandibulares (DTM), cefaleia e prejuízos na qualidade de vida e rendimento escolar. O manejo em adolescentes ainda carece de evidência robusta, sendo centrado em intervenções comportamentais, apoio psicológico e uso cauteloso de dispositivos intraorais. Conclui-se que o bruxismo em adolescentes é um fenômeno multifatorial e de alta prevalência, que demanda maior atenção de profissionais de saúde e da escola, além de mais estudos longitudinais para melhor compreensão de sua evolução e impacto.
Palavras-chave: Bruxismo, Bruxismo do Sono. Adolescentes. Estudantes do ensino médio. Ansiedade. Fatores psicossociais.
1. INTRODUÇÃO
O bruxismo é definido como uma atividade parafuncional repetitiva dos músculos mastigatórios, caracterizada pelo apertamento ou ranger de dentes e/ou pela contração mandibular sustentada ou intermitente. Ele pode ser classificado em awake bruxism (vigília) e sleep bruxism (sono), que possuem fisiopatologias distintas, embora compartilhem alguns fatores de risco. (LOBBEZOO F, et al., 2013; ZIELIŃSKI G et al.,2024)
Em adolescentes, o bruxismo apresenta particular importância, uma vez que esta faixa etária atravessa intensas mudanças cognitivas, emocionais e sociais. O período do ensino médio, em especial no 3º ano, é marcado por elevada cobrança acadêmica, preparação para exames vestibulares e incertezas quanto ao futuro, o que aumenta os níveis de estresse e ansiedade. Diversos estudos têm associado o bruxismo em jovens a fatores psicossociais, especialmente sintomas ansiosos e depressivos, além de distúrbios do sono e hábitos de vida inadequados. (SERRA-NEGRA JM, et al., 2019; KARAN A, et al., 2022; SENFF CR, et al., 2023; SERNA C, et al., 2023)
A investigação do bruxismo nesta população é relevante não apenas pela prevalência, mas também pelo impacto na qualidade de vida. Além de dor orofacial e desgastes dentários, o bruxismo pode estar relacionado a cefaleias tensionais, distúrbios temporomandibulares (DTM) e comprometimento do desempenho escolar. (GONÇALVES LM, et al., 2021)
Assim, este trabalho tem como objetivo revisar a literatura recente acerca do bruxismo em adolescentes, com ênfase em estudantes do 3º ano do ensino médio, abordando prevalência, fatores associados, impacto clínico e estratégias de manejo.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura. Foram realizadas buscas nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, SciELO e LILACS, utilizando combinações dos descritores “bruxismo”, “bruxismo do sono”, “adolescents”, “high school students”, “anxiety” e “psychosocial factors”. O recorte temporal privilegiou publicações de 2013 a 2025, com ênfase em artigos recentes (2023–2025). Foram incluídos estudos originais, revisões sistemáticas, revisões narrativas e diretrizes clínicas que abordassem bruxismo em adolescentes. Artigos com foco exclusivo em adultos ou em populações especiais foram excluídos.
2.1 Epidemiologia do bruxismo em adolescentes
A prevalência do bruxismo em adolescentes varia amplamente, de 5% a 45%, dependendo dos critérios diagnósticos empregados e da população estudada. Uma revisão global recente estimou a prevalência de sleep bruxism em cerca de 21% e de awake bruxism em 23% (WINOCUR E, et al., 2019; ZIELIŃSKI G et al.,2024)
No Brasil, estudos com estudantes do ensino médio apontam prevalências próximas de 20% a 30%, com maior frequência de relatos em meninas e em alunos submetidos a elevados níveis de pressão acadêmica. Pesquisas também indicam que a autorreferência tende a superestimar a prevalência em comparação com métodos clínicos ou instrumentais. (MANFREDINI D, et al., 2015; CASTELO P.M et al.,2020)
A Tabela 1 sintetiza os principais estudos epidemiológicos recentes sobre bruxismo em adolescentes, destacando a variabilidade metodológica e de resultados entre diferentes contextos.
Tabela 1. Principais estudos de prevalência do bruxismo em adolescentes
| Autor/Ano | País | Amostra | Faixa etária | Método diagnóstico | Prevalência |
| Castelo et al., 2020 | Brasil | 1.200 adolescentes | 14–18 anos | Questionário + exame clínico | 22% |
| Winocur et al., 2019 | Israel (Revisão multicêntrica) | Revisão de ~12.000 jovens | 10–19 anos | Autorreferência e exame clínico | 5–30% (dependendo do critério) |
| Zieliński et al., 2024 | Global (Meta-análise) | Meta-análise de 45 estudos | 10–19 anos | Diferentes métodos (autorrelato, clínico, instrumental) | 21% (sleep) / 23% (awake) |
| Barros et al., 2024 | Brasil | 850 adolescentes | 14–18 anos | Questionário | 28% |
| Kim et al., 2024 | Coreia do Sul | 2.100 adolescentes | 15–18 anos | Questionário + avaliação clínica | 25% |
| Wang et al., 2025 | China | 1.500 adolescentes | 14–17 anos | Questionário |
2.2 Fatores associados ao bruxismo em alunos do ensino médio
Diversos fatores psicossociais têm sido identificados como determinantes do bruxismo em adolescentes. Ansiedade e estresse escolar são os mais frequentemente relatados, com correlação significativa entre sintomas ansiosos e maior prevalência de apertamento dentário No estudo de Barros e colaboradores (2024) destacam também a associação com bullying e exclusão social que parecem atuar como gatilhos emocionais. (SERRA-NEGRA JM, et al.,2019; SERNA, C, et al,.2023)
O tempo excessivo de tela, especialmente durante a noite, foi associado ao aumento de sleep bruxism em escolares. Distúrbios do sono, como insônia e sonolência diurna, também apresentam relação significativa. Outros fatores incluem sintomas depressivos e hábitos de vida, como consumo de cafeína, tabaco e álcool, embora menos frequentes nesta faixa etária. (CARRA MC, et al.,2023; MARTINI A, et al.,2023; KIM J, et al.,2024; WANG Y, et al. 2025)
A Tabela 2 apresenta os principais estudos recentes sobre fatores associados ao bruxismo em adolescentes.
Tabela 2. Fatores associados ao bruxismo em adolescentes
| Autor/Ano | País | Amostra | Fator associado | Associação com bruxismo |
| Serra-Negra et al., 2019 | Brasil | 400 escolares | Ansiedade (níveis elevados) | Correlação positiva significativa |
| Barros et al., 2024 | Brasil | 850 adolescentes | Bullying e exclusão social | Maior prevalência em vítimas de bullying |
| Wang et al., 2025 | China | 1.500 adolescentes | Tempo de tela (>4h/dia) | Maior prevalência de sleep bruxism |
| Carra et al., 2023 | França (multicêntrico) | 1.200 adolescentes | Distúrbios do sono | Associação com insônia e sonolência diurna |
| Kim et al., 2024 | Coreia do Sul | 2.100 adolescentes | Sintomas depressivos | Correlação positiva com apertamento dentário |
| Martini et al., 2023 | Itália (revisão) | 30 estudos | Estilo de vida (cafeína, álcool, tabaco) | Consumo elevado associado a maior prevalência |
| Oliveira et al., 2025 | Brasil | 80 adolescentes (piloto) | Estresse e mindfulness (ensaio) | Redução de episódios após intervenção |
2.3 Diagnóstico e Impactos clínicos e psicossociais
As repercussões do bruxismo em adolescentes podem ser importantes. Entre os impactos clínicos destacam-se desgaste dentário, dor orofacial, hipertrofia muscular, cefaleias tensionais e desenvolvimento de DTM O impacto psicossocial inclui comprometimento da qualidade de vida, dificuldade de concentração, redução do rendimento escolar e aumento do risco de transtornos emocionais. Um estudo multicêntrico recente apontou que adolescentes com bruxismo apresentaram maior probabilidade de sintomas depressivos e pior autopercepção de saúde bucal. (BERTAZZO-SILVEIRA E, et al.,2016; GONÇALVES LM, et al.,2021; SACZUK K, et al.,2022; KIM J, et al.,2024
O diagnóstico do bruxismo pode ser classificado em três níveis: possível (baseado em autorrelato), provável (autorreferência associada a sinais clínicos) e definitivo (confirmado por exames instrumentais, como polissonografia com eletromiografia). (LOBBEZOO F, et al., 2013)
Na prática clínica e em estudos epidemiológicos com adolescentes, predominam os métodos baseados em questionários e exame clínico, devido à inviabilidade de exames polissonográficos em larga escala No entanto, essas abordagens apresentam limitações, especialmente quanto à acurácia do diagnóstico. (MANFREDINI D, et al., 2015)
O manejo do bruxismo em adolescentes deve ser individualizado e multidisciplinar. As estratégias incluem orientação educativa, intervenções psicológicas para controle da ansiedade e do estresse, e, em alguns casos, o uso de dispositivos intraorais, como placas oclusais miorrelaxantes. (SENFF CR, et al.,2023; ALMEIDA LB, et al.,2023)
Evidências recentes sugerem que técnicas de relaxamento, mindfulness e programas de higiene do sono podem reduzir episódios de bruxismo relacionados ao estresse. No entanto, a eficácia de terapias farmacológicas em adolescentes ainda é pouco estudada, e recomenda-se cautela em sua indicação. (LOBBEZOO F, et al.,2022; OLIVEIRA AS, et al., 2025)
3. DISCUSSÃO
A análise da literatura evidencia que o bruxismo em adolescentes, especialmente em alunos do ensino médio, é um fenômeno multifatorial e com prevalência significativa. Os principais fatores associados são psicossociais, em especial a ansiedade e o estresse relacionados ao ambiente escolar. A crescente associação com o tempo de tela e distúrbios do sono destaca a necessidade de novas abordagens preventivas, considerando mudanças no estilo de vida dos adolescentes.
Apesar de sua relevância, a literatura apresenta lacunas importantes. Há escassez de estudos longitudinais que permitam compreender a evolução do bruxismo ao longo da adolescência e sua relação com o início da vida adulta. Além disso, há pouca evidência sobre a eficácia de diferentes estratégias terapêuticas nesta população, reforçando a necessidade de pesquisas clínicas controladas.
4. CONCLUSÃO
O bruxismo em adolescentes é uma condição frequente e multifatorial, que apresenta forte relação com fatores emocionais, psicossociais e hábitos de vida. Em estudantes do 3º ano do ensino médio, a elevada pressão acadêmica e a ansiedade destacam-se como fatores de risco relevantes. O impacto clínico e psicossocial do bruxismo nesta faixa etária exige maior atenção por parte de profissionais de saúde e instituições escolares. Estudos futuros devem priorizar abordagens longitudinais e a avaliação da efetividade de estratégias preventivas e terapêuticas direcionadas aos adolescentes.
5. REFERÊNCIAS
Zieliński G, et al. Global prevalence of bruxism: Systematic review and meta-analysis. J Oral Rehabil. 2024.
Lobbezoo F, et al. Bruxism defined and graded: An international consensus. J Oral Rehabil. N.40,v.1,p.2-4, 2013;
Serra-Negra JM, et al. Anxiety and bruxism in schoolchildren. Crânio. n.37,v.5,p.321-326 2019;.
Senff CR, et al. Management of bruxism in children and adolescents: A systematic review. Clin Oral Investig. n.27,v.2,p.749-761, 2023;
Restrepo-Serna C, et al. Sleep bruxism in children: Current concepts and clinical management. Sleep Med Rev. 2023;.
Karan A, et al. Stress and bruxism among adolescents: A review. Dent J. n.10,v.11,p.217,2022;
Gonçalves LM, et al. Temporomandibular disorders and bruxism in adolescents: Association with quality of life. Eur Arch Paediatr Dent. n.22,v.5,p.829-836, 2021;
Bertazzo-Silveira E, et al. Signs and symptoms of temporomandibular disorders in adolescents with sleep bruxism. J Oral Rehabil. N.43,v.11,p.791-798, 2016;
Winocur E, et al. Epidemiology of bruxism in children and adolescents. Eur J Oral Sci. N.127,v.2,p.123-129, 2019;
Castelo PM, et al. Sleep bruxism in Brazilian adolescents: Prevalence and associated factors. Braz Oral Res. 2020;
Manfredini D, et al. Diagnostic validity in bruxism studies: Pitfalls and recommendations. J Oral Rehabil. n.42,v.10,p.791-798, 2015;
Barros V, et al. Bullying and its association with bruxism in adolescents. Int J Paediatr Dent. n.34,v.1,p77-84, 2024;
Wang Y, et al. Screen time and bruxism in adolescents: A cross-sectional study. Sleep Health. N.11,v.2,p.145-152, 2025;
Carra MC, et al. Sleep disorders and bruxism in adolescents. J Clin Sleep Med. n.19,v.2,p.1123-1131, 2023;
Martini A, et al. Lifestyle factors and bruxism in adolescents: A systematic review. Clin Oral Investig. n.27,v.3,p.951-962, 2023;
Saczuk K, et al. Impact of bruxism on adolescent quality of life. Community Dent Oral Epidemiol. n.50,v.1,p.70-78,2022;
Kim J, et al. Depression and bruxism in adolescents: A multicenter study. J Adolesc Health. n.75,v.3,p.411-418, 2024;
Almeida LB, et al. Use of occlusal splints in adolescents with bruxism: A clinical perspective. Dental Press J Orthod. n.28,v.2, 2023;
Oliveira AS, et al. Mindfulness and stress management in adolescents with bruxism: Pilot study. Front Psychol. n.16,v.1, 2025;
Lobbezoo F, et al. Pharmacological approaches for bruxism: An evidence-based overview. J Oral Rehabil. n.49,v.9,p.987-994, 2022.
¹Mestra em Odontologia – Universidade Federal de Juiz de Fora- UFJF.
²Doutor em Odontologia Restauradora pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
³Doutora em Odontologia Restauradora com concentração em Prótese Dentária pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP.
