REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411301207
Deivid Vinicius Gianini da Silva
Samuel Domingos Bonfa
Orientadora: prof. Esp. Priscilla Karolyne Bravin
RESUMO
O bruxismo é uma prática parafuncional que se caracteriza pelo ato de ranger ou apertar os dentes, afetando uma parcela significativa da população e podendo ocasionar consequências variáveis que impactam negativamente a qualidade de vida dos indivíduos. O presente estudo tem como finalidade identificar as distintas abordagens diagnósticas e terapêuticas para o bruxismo do sono e o bruxismo em vigília. Por meio de uma revisão da literatura, observou-se a existência de várias divergências relacionadas a esse tema, o que dificulta sua compreensão. A polissonografia é considerada o método padrão-ouro para o diagnóstico do bruxismo do sono, enquanto o diagnóstico do bruxismo em vigília é frequentemente realizado por meio de mini dispositivos detectores de atividade eletromiográfica portáteis e relatos subjetivos dos pacientes. Em relação ao tratamento de ambas as formas de bruxismo, não há uma terapia que tenha demonstrado eficácia comprovada para a sua cura, inexistindo uma fórmula precisa que elimine esse problema. Dessa forma, conclui-se que, devido à sua origem multifatorial, o bruxismo apresenta-se como um desafio para a odontologia, tornando o diagnóstico mais complexo e, consequentemente, dificultando o tratamento. É imprescindível que se identifique adequadamente essa atividade e seus efeitos para selecionar a abordagem terapêutica mais apropriada, sendo necessário um trabalho colaborativo e integrado para alcançar melhores resultados no tratamento do paciente. Ademais, faz-se necessário que mais investigações sejam realizadas sobre o tema, a fim de esclarecer questões pertinentes e auxiliar o cirurgião-dentista na gestão do bruxismo.
Palavras-chave: Bruxismo. Bruxismo do sono. Polissonografia.
A BSTRACT
Bruxism is a parafunctional practice characterized by the act of grinding or clenching the teeth, affecting a significant portion of the population and potentially causing variable consequences that negatively impact the quality of life of individuals. The present study aims to identify the different diagnostic and therapeutic approaches for sleep bruxism and awake bruxism. Through a review of the literature, it was observed that there are several divergences related to this topic, which makes it difficult to understand. Polysomnography is considered the gold standard method for the diagnosis of sleep bruxism, while the diagnosis of awake bruxism is often performed using portable mini electromyographic activity detection devices and subjective patient reports. Regarding the treatment of both forms of bruxism, there is no therapy that has demonstrated proven efficacy for their cure, and there is no precise formula to eliminate this problem. Thus, it is concluded that, due to its multifactorial origin, bruxism presents a challenge for dentistry, making diagnosis more complex and, consequently, making treatment difficult. It is essential to properly identify this activity and its effects in order to select the most appropriate therapeutic approach, requiring collaborative and integrated work to achieve better results in patient treatment. Furthermore, it is necessary to conduct further research on the subject in order to clarify pertinent issues and assist dentists in managing bruxism.
Keywords: Bruxism. Sleep bruxism. Polysomnography.
1 INTRODUÇÃO
O termo “bruxismo” tem sua origem na palavra grega “brychein”, que se refere ao ato de ranger os dentes (Lavigne et al., 2015). Esse fenômeno é descrito como uma atividade muscular repetitiva da mandíbula, caracterizada pelo ranger ou apertar dos dentes (Raphael et al., 2016). Embora não se configure como uma condição que coloque a vida em risco, o bruxismo pode impactar negativamente a qualidade de vida dos indivíduos (Shetty, 2020).
O bruxismo é um distúrbio caracterizado pelo ato involuntário de ranger ou apertar os dentes, que pode ocorrer tanto durante o sono quanto em vigília. Esta condição, que afeta uma parcela significativa da população, tem atraído a atenção de pesquisadores e profissionais da saúde, dada sua relação com diversos fatores, como estresse, ansiedade e distúrbios do sono. Apesar de sua prevalência, o bruxismo ainda apresenta desafios significativos no que se refere à sua definição, diagnóstico e tratamento, resultando em uma diversidade de interpretações e abordagens na prática clínica (Shetty, 2020).
Historicamente, o bruxismo tem sido classificado em dois tipos principais: o bruxismo do sono, que se manifesta durante os episódios de sono, e o bruxismo em vigília, que ocorre enquanto o indivíduo está acordado. Essa distinção é crucial, uma vez que os mecanismos subjacentes, as causas e as implicações clínicas podem variar entre os dois tipos. Além disso, a falta de consenso sobre a definição exata do bruxismo e a sua prevalência nos diferentes grupos populacionais dificultam a comunicação e a pesquisa nesta área, tornando a compreensão da condição ainda mais complexa (Lavigne et al., 2015).
Lavigne et al. (2018) também relata que o bruxismo em vigília é caracterizado pela consciência do apertamento mandibular, enquanto o bruxismo do sono é reconhecido como um comportamento recentemente classificado como um “distúrbio do movimento relacionado ao sono.”
Atualmente, persiste ainda uma falta de consenso sobre a classificação do bruxismo, o que torna a interpretação das evidências disponíveis um desafio (Lobbezoo, 2016). Essa parafunção é prevalente na população, podendo ocorrer em diferentes etapas da vida e afetar pessoas de todas as idades (Piquero, 2020; Atilgan, 2021; Commisso, 2024). Sua etiologia é considerada complexa e controversa, envolvendo uma série de fatores de risco associados (Feu, 2023).
O bruxismo pode ocasionar diversas alterações na musculatura mastigatória, incluindo fadiga muscular, mialgia, miosite, assimetria na atividade muscular e desgaste dentário. Em casos mais graves, pode comprometer funções essenciais relacionadas à cavidade bucal, como mastigação, fala e deglutição (Molina, 1997; Okeson, 2020). É fundamental que o cirurgião-dentista compreenda a etiologia do bruxismo, suas características clínicas e as metodologias de diagnóstico para selecionar a abordagem terapêutica mais adequada. Devido à natureza multifatorial desse problema, é necessário integrar diversas áreas da saúde para alcançar um prognóstico favorável e duradouro (Campos et al., 2022).
Portanto, o presente estudo visa identificar as abordagens diagnósticas e terapêuticas relacionadas ao bruxismo, fundamentando-se em uma revisão da literatura. O foco deste trabalho será analisar aspectos relevantes ao bruxismo do sono e ao bruxismo em vigília, destacando: o diagnóstico preciso de ambas as manifestações do bruxismo e as diferentes estratégias de tratamento para o bruxismo do sono (BS) e o bruxismo em vigília (BV).
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CLASSIFICAÇÃO DO BRUXISMO
O conceito de bruxismo foi inicialmente introduzido na literatura odontológica por Marie e Pietkiewicz (1907), dois pesquisadores franceses. E o primeiro sistema de classificação sobre bruxismo foi proposto por Miller em 1936, que utilizou o termo “bruxomania” para descrever o hábito de ranger e apertar os dentes durante o dia, enquanto o termo “bruxismo” foi definido para referir-se a esse comportamento quando ocorre exclusivamente à noite (Lavigne et al., 2015; Klasser et al., 2015).
Na edição mais recente da Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD-3), publicada pela American Academy of Sleep Medicine em 2024, o bruxismo é descrito como “uma atividade repetitiva dos músculos mastigatórios, caracterizada pelo apertamento ou rangido dos dentes e/ou pelo travamento da mandíbula, ou pelo ato de empurrá-la”.
O bruxismo pode manifestar-se durante o sono, denominado bruxismo do sono, ou durante a vigília, chamado de bruxismo em vigília (Lobbezoo et al., 2023). Acredita-se que cada forma apresente causas, fisiopatologias e características distintas (Lavigne et al., 2015; Carra et al., 2022). O bruxismo pode ser classificado como idiopático ou primário, referindo-se ao bruxismo sem causa identificável, ou como iatrogênico ou secundário, quando associado ao uso de medicamentos ou drogas, ou à suspensão desses agentes (Lavigne et al., 2015; Klasser et al., 2015).
Em 2022, Molina et al. conduziram um estudo com o objetivo de classificar o bruxismo, examinar as características dos grupos afetados, avaliar os efeitos patológicos sobre as estruturas anatômicas e a influência do bruxismo no tratamento. Este estudo revisou a literatura, abordando tópicos como horário, intensidade, frequência, características psicológicas e efeitos patológicos. Os resultados indicaram que os critérios de classificação estavam relacionados a aspectos psicológicos, ao horário da ocorrência do hábito, ao grau de severidade do bruxismo, à presença ou ausência de sintomatologia, à dor e a fatores de personalidade, incluindo a depressão.
Uma classificação mais recente categoriza o bruxismo em leve, moderado e severo. Essas subdivisões são fundamentais para o prognóstico do tratamento, uma vez que os fatores desencadeantes, tanto internos quanto externos, variam em intensidade de acordo com a gravidade do hábito, assim como suas consequências clínicas e o tratamento necessário, que deve ser adaptado a cada caso específico.
2.2 EPIDEMIOLOGIA
A literatura apresenta uma considerável variação na prevalência do bruxismo. Glaros (1981) conduziu um estudo visando determinar a taxa de incidência do bruxismo diurno e noturno em adultos. Para isso, foi aplicado um questionário a 1.052 alunos da Universidade Estadual de Wayne, dos quais 544 eram mulheres e 508 eram homens, com uma idade média de 19 anos. Os dados obtidos revelaram a presença de bruxismo em estudantes, classificados em três categorias distintas: (1) exclusivamente diurno, (2) exclusivamente noturno e (3) tanto diurno quanto noturno. Relatos sobre episódios atuais de apertamento foram agrupados na subcategoria “Presente”, enquanto aqueles referentes ao passado foram alocados na subcategoria “Passado”. A análise revelou que 30,7% da amostra apresentava relatos passados ou atuais de bruxismo, sendo que 21,2% da amostra total era composta por indivíduos com bruxismo presente.
Dentro da subcategoria “Presente” (n=223), 63,2% apresentavam bruxismo exclusivamente diurno, 15,7% exclusivamente noturno e 21,1% apresentavam ambas as manifestações. No que diz respeito ao sexo, não foram observadas diferenças significativas na incidência geral de bruxismo entre os gêneros. Contudo, os homens estavam mais frequentemente representados entre os indivíduos com bruxismo diurno (x=2,48, p < 0,001), enquanto as mulheres relataram significativamente mais casos de bruxismo noturno (x=5,07, p < 0,0001). A relação entre bruxismo e estresse foi investigada, incluindo fatores como nervosismo, raiva e frustração. Uma quarta variável, “qualquer estresse”, foi considerada, englobando aqueles que relataram um dos três tipos de estresse mencionados. Os resultados indicaram que os pacientes com bruxismo apresentaram uma correlação significativa entre estresse e episódios de apertamento ou ranger dos dentes, em comparação com a amostra sem bruxismo (x = 128,33, p < 0,001).
Não foram observadas diferenças significativas entre os três estressores individuais. Os autores concluíram que o bruxismo em vigília ocorre com mais frequência do que o bruxismo do sono; homens tendem a manifestar mais bruxismo em vigília, enquanto mulheres apresentam maior prevalência de bruxismo do sono. Além disso, indivíduos com bruxismo diurno mostraram maior sensibilidade ao estresse. A incidência familiar não apresentou diferenças significativas entre as subcategorias de bruxismo, e os pacientes com bruxismo diurno estavam mais conscientes de seu comportamento por meio da auto-observação, ao passo que aqueles com bruxismo noturno dependiam de relatos de familiares e amigos.
Ohayon et al. (2021) realizaram um estudo focado em fatores de risco para o bruxismo, com o intuito de avaliar a epidemiologia do bruxismo do sono e seus fatores associados na população em geral. O estudo envolveu 13.057 indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, provenientes do Reino Unido (4.972 sujeitos), Alemanha (4.115 indivíduos) e Itália (3.970 indivíduos). Questionários clínicos sobre bruxismo foram aplicados, utilizando o conjunto mínimo de critérios da Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD). Os resultados revelaram que o ranger de dentes durante o sono ocorreu, pelo menos, uma vez por semana, sendo relatado por 8,2% dos participantes, e que o desconforto muscular ao despertar e o ranger dentário perturbador foram identificados em metade desses indivíduos.
Além disso, 4,4% da população atendia aos critérios diagnósticos de bruxismo do sono conforme a ICSD. Indivíduos com síndrome da apneia obstrutiva do sono (odds ratio [OR], 1,8), ronco alto (OR, 1,4), sonolência diurna moderada (OR, 1,3), consumo excessivo de álcool (OR, 1,8), ingestão de cafeína (OR, 1,4), tabagismo (OR, 1,3), vida altamente estressante (OR, 1,3) e presença de ansiedade (OR, 1,3) apresentaram maior risco de desenvolver bruxismo do sono. O bruxismo do sono é comum na população e pode acarretar diversas consequências, incluindo problemas dentários e musculares. Entre os fatores de risco associados, pacientes com ansiedade e distúrbios respiratórios durante o sono mostraram uma quantidade maior de fatores de risco para bruxismo do sono, o que suscita preocupações sobre o futuro desses indivíduos. Assim, é necessário promover esforços educacionais para conscientizar dentistas e médicos sobre essa patologia.
Manfredini et al. (2023) realizaram uma revisão sistemática sobre a epidemiologia do bruxismo, com o objetivo de investigar a prevalência desse distúrbio em adultos na literatura científica. A pesquisa foi conduzida no PubMed e avaliou a prevalência de bruxismo em vigília ou durante o sono, utilizando questionários, avaliações clínicas e polissonografia (PSG) ou registros de eletromiografia (EMG). Para cada estudo incluído, foram registradas as características da amostra, a estratégia diagnóstica e a prevalência do bruxismo em relação à idade, sexo e ritmo circadiano, quando disponível. Ao todo, foram analisadas 35 publicações.
O “bruxismo” genericamente identificado foi examinado em dois estudos, que relataram uma prevalência de 8% a 31,4%. O bruxismo em vigília foi investigado em dois estudos, apresentando prevalências de 22,1% a 31%. Já a prevalência de bruxismo do sono foi mais consistente, sendo relatada como “frequente” em três estudos com uma média de 12,8% ± 3,1%. As atividades relacionadas ao bruxismo não mostraram variações significativas entre os sexos, embora tenha sido observada uma diminuição na prevalência com o aumento da idade, especialmente em indivíduos idosos. Os dados indicam uma variabilidade na prevalência das atividades de bruxismo. Entretanto, os achados devem ser interpretados com cautela devido à qualidade metodológica inadequada da literatura revisada e ao potencial viés diagnóstico associado à dependência de relatos pessoais sobre o bruxismo por parte dos indivíduos.
2.2.1 Etiologia
A etiologia do bruxismo é considerada multifatorial, envolvendo uma complexa interação de processos fisiológicos que afetam múltiplos sistemas (Klasser et al., 2015). Tanto a definição do transtorno quanto o processo de diagnóstico contribuem para a dificuldade em interpretar a literatura relacionada à sua etiologia. No entanto, há um consenso sobre a natureza multifatorial deste fenômeno (Lobbezoo e Naeije, 2021). A literatura científica identifica diversos fatores que podem estar associados à etiologia do bruxismo, incluindo condições de oclusão, predisposições genéticas, fatores psicológicos, influências de substâncias neuroquímicas e alterações funcionais que ocorrem durante o sono.
2.2.2 Oclusão
Em 1960, Klasser et al. (2015) identificaram a oclusão como um dos principais fatores iniciais e perpetuadores da etiologia do bruxismo. No entanto, pesquisas subsequentes têm sugerido que fatores locais, como a maloclusão, estão perdendo relevância, indicando a ausência de evidências que demonstrem uma relação entre fatores periféricos, como a oclusão, e a etiologia do bruxismo (Lobbezoo e Naeije, 2021).
Em 2022, Lobbezoo et al. realizaram uma revisão crítica da literatura sobre bruxismo e oclusão, com o intuito de avaliar a relação entre esses dois fenômenos. Para isso, foram selecionados 46 artigos a partir de uma pesquisa no PubMed. Parte dos estudos revisados não encontrou evidências de que interferências oclusais ou fatores relacionados à anatomia do esqueleto orofacial estejam associados à etiologia do bruxismo. Outra parte da literatura apontou um possível papel mediador da oclusão entre o bruxismo e suas consequências, como desgaste dentário, perda de tecido periodontal e dor e disfunção na articulação temporomandibular. Embora muitos dentistas reconheçam que o bruxismo pode provocar diversos efeitos adversos no sistema mastigatório, até o momento não foram encontradas evidências que sustentem um papel mediador da oclusão e da articulação. Assim, os autores concluíram que, até a presente data, não há comprovação de uma relação causal entre bruxismo e oclusão.
Ainda em 2022, Manfredini et al. conduziram um estudo que investigou os fatores oclusais e sua relação com o bruxismo, visando verificar se características oclusais poderiam contribuir para o surgimento do bruxismo. Foram avaliados dois grupos: um composto por indivíduos que relataram bruxismo (n=67) e outro sem bruxismo (n=75). As avaliações incluíram a posição de contato na retrusão da mandíbula (RCP), sobreposição vertical, sobreposição horizontal, discrepância da linha intermediária dos incisivos centrais e a presença de mordida cruzada posterior unilateral, bem como interferências protrusivas. Os resultados mostraram que os valores de precisão para prever o bruxismo autoinformado foram inaceitáveis para todas as variáveis oclusais, indicando que a contribuição da oclusão para a diferenciação entre indivíduos com e sem bruxismo é insignificante. Essas descobertas apoiam teorias que atribuem um papel muito reduzido a fatores anatômicos e estruturais periféricos na patogênese do bruxismo.
2.2.3 Genética
Lobbezoo et al. (2024) conduziram uma revisão da literatura acerca da relação entre bruxismo e genética, com o objetivo de fornecer evidências sobre essa temática. A pesquisa, realizada no PubMed, resultou na identificação de dez publicações relevantes, das quais quatro estavam relacionadas a estudos familiares, cinco a estudos com gêmeos e uma a uma análise de DNA. Com exceção de um dos estudos sobre gêmeos, todos os demais indicaram que o bruxismo parece ser, em parte, determinado geneticamente, levando à conclusão de que há uma relação entre bruxismo e fatores genéticos.
Abe et al. (2022) investigaram a associação entre fatores genéticos, psicológicos e comportamentais com o bruxismo do sono, com o intuito de explorar como esses fatores se relacionam com a ocorrência do bruxismo em uma população japonesa. Os participantes do estudo foram divididos em dois grupos: um grupo com bruxismo do sono (n=66) e um grupo controle (n=48), diagnosticados clinicamente e por meio de gravações eletromiográficas. Além disso, treze polimorfismos em quatro genes relacionados à neurotransmissão serotoninérgica (SLC6A4, HTR1A, HTR2A e HTR2C) foram genotipados. Os resultados da análise revelaram que apenas o alelo C do polimorfismo de nucleotídeo único HTR2A rs6313 (102C>T) estava significativamente associado a um risco aumentado de bruxismo do sono (Odds Ratio = 4,250; intervalo de confiança de 95%: 1,599-11,297; p = 0,004), sugerindo uma possível contribuição genética para a etiologia do bruxismo do sono.
Rintakoski et al. (2022) realizaram um estudo sobre fatores genéticos e sua relação com o bruxismo, com a finalidade de examinar o papel dos fatores genéticos e ambientais na variância fenotípica do bruxismo em uma grande amostra de gêmeos adultos jovens na Finlândia. Cinco coortes de gêmeos nascidos entre 1975 e 1979 participaram, completando um questionário (com idade média de 24 anos, intervalo de 23 a 27 anos). A modelagem genética quantitativa foi utilizada, baseando-se na similaridade genética entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos, para estimar o modelo genético mais provável para o bruxismo, decompondo a variância fenotípica em componentes: efeitos genéticos aditivos (A), efeitos genéticos dominantes (D) e efeitos ambientais não compartilhados (E). Os resultados indicaram que 8,7% da amostra apresentava bruxismo semanal, 23,4% o manifestava raramente e 67,9% nunca o experimentou, sem diferenças significativas entre os sexos (p = 0,052). O modelo genético que melhor se ajustou aos dados foi o modelo AE, no qual os efeitos genéticos aditivos representaram 52% (IC 95%: 0,41-0,62) da variância fenotípica total. O modelo de limitação sexual não revelou diferenças significativas entre os gêneros. Os autores concluíram que os fatores genéticos representam uma proporção substancial da variação fenotípica do bruxismo relacionado ao sono, sem diferenças sexuais em sua arquitetura genética.
2.3 FATORES PSICOLÓGICOS
Manfredini et al. (2019) realizaram uma revisão sistemática com o objetivo de identificar o papel dos fatores psicossociais na etiologia do bruxismo. A pesquisa foi realizada na Biblioteca Nacional de PubMed, onde foram selecionados artigos revisados por especialistas que abordavam a relação entre bruxismo e fatores psicossociais. Todos os estudos que investigaram as características psicossociais de indivíduos com bruxismo, utilizando questionários, entrevistas e exames instrumentais e laboratoriais, foram incluídos na revisão, resultando em 45 documentos selecionados, dos quais oito eram comentários. Os estudos indicaram uma associação entre bruxismo e fatores como ansiedade, sensibilidade ao estresse, depressão e outras características da personalidade, o que aparentemente contrasta com investigações laboratoriais sobre sono. Uma hipótese plausível sugerida é que os estudos clínicos são mais eficazes para detectar bruxismo diurno (apertamento), enquanto os estudos polissonográficos se concentram exclusivamente no bruxismo do sono (rangido dos dentes). Dessa forma, os autores concluíram que o apertamento parece estar mais relacionado a fatores psicossociais e a uma série de sintomas psicopatológicos, enquanto não há evidências que associem o bruxismo do sono a distúrbios psicossociais.
Karakoulaki et al. (2015) conduziram um estudo sobre a relação entre bruxismo do sono e estresse, utilizando biomarcadores salivares para avaliar a conexão entre bruxismo do sono (BS) e estresse percebido, mediado por biomarcadores relacionados ao estresse, como a amilase e o cortisol na saliva. O estudo envolveu 45 voluntários (20 homens e 25 mulheres) com idades variando de 25 a 52 anos (idade média de 34,5 ± 6,4 anos), que apresentavam dentes faltantes ou o hábito de bruxismo como principal queixa. Os participantes foram inicialmente divididos em dois grupos (25 com bruxismo e 20 sem bruxismo) com base em suas respostas a um questionário padrão sobre bruxismo delineado pela American Academy of Sleep Medicine. Um dispositivo eletromiográfico (EMG) em miniatura foi utilizado para confirmar o diagnóstico e determinar a gravidade do bruxismo no grupo de pacientes que relataram positivamente a condição. Para avaliar a percepção psicológica de estresse, todos os participantes preencheram a Escala de Estresse Percebido. A saliva total não estimulada foi coletada, e os níveis de cortisol salivar e α-amilase foram determinados por ensaio de imunoabsorção enzimática e reação cinética enzimática, respectivamente. Análises estatísticas não paramétricas foram empregadas para a interpretação dos dados.
Os resultados mostraram que, em relação ao estresse percebido, os pacientes com bruxismo apresentaram níveis significativamente mais altos do que aqueles sem bruxismo (p < 0,001). Os indivíduos com bruxismo também apresentaram níveis de cortisol salivar mais elevados em comparação com o grupo sem bruxismo (p < 0,001). Além disso, foi identificada uma correlação positiva moderada entre os escores do BiteStrip em indivíduos com bruxismo e os níveis de cortisol na saliva (correlação de Spearman = 0,401, p = 0,047). No entanto, os níveis de α-amilase salivar não mostraram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p = 0,414). Este estudo sugere que a atividade do bruxismo do sono está associada a níveis mais elevados de estresse psicológico percebido e cortisol salivar, além de uma correlação positiva moderada entre o escore do BiteStrip e os níveis de cortisol em indivíduos com bruxismo, apesar das limitações do dispositivo de gravação EMG.
Pingitore et al. (1991) investigaram os fatores sociais e psicológicos relacionados ao bruxismo, com o objetivo de determinar se existe uma relação entre o bruxismo e comportamentos do tipo A, a quantidade de estresse na vida e características estruturais, incluindo a relação mandibular e condilar, palpação muscular e distúrbios internos. O estudo incluiu 125 pacientes, classificados em grupos com e sem bruxismo. Cada participante completou o Jenkin’s Activity Survey (JAS) para medir comportamentos do tipo A, além de pontuações para três subfatores: impaciência, envolvimento no trabalho e dificuldade de desempenho, assim como uma versão modificada da Escala de Percepção de Eventos de Vida de Rahe (LEPS), que avalia a percepção de desejabilidade e controle do estresse.
Os resultados indicaram que análises de regressão revelaram diferenças no impacto de cada variável. Uma análise sequencial mostrou que o comportamento do tipo A e anormalidades físicas eram significativos, enquanto o estresse não se mostrava relevante isoladamente. O estresse parecia significativo apenas em conjunto com o comportamento do tipo A, sugerindo que a combinação de ambos seria um preditor mais eficaz do bruxismo do que quaisquer variáveis isoladas. A combinação linear de anormalidades físicas, comportamento do tipo A e estresse foi considerada significativa, indicando que essa interação poderia ser um preditor robusto do bruxismo. Os autores concluíram que a etiologia do bruxismo é complexa e os dados deste estudo oferecem uma visão mais abrangente da relação entre fatores psicológicos e físicos, embora mais pesquisas sejam necessárias para uma compreensão completa do fenômeno.
Bayar et al. (2022) realizaram um estudo sobre o perfil psicopatológico de pacientes com diferentes formas de bruxismo, visando avaliar a prevalência de sintomas psicopatológicos em pacientes que relataram bruxismo por meio de diagnóstico clínico e anamnese. A pesquisa incluiu 85 participantes, distribuídos em grupos de bruxismo do sono (n=12), bruxismo diurno (n=24), bruxismo diurno e noturno (n=33) e um grupo controle sem bruxismo (n=16). Todos os grupos preencheram um questionário de autorrelato de sintomas (Checklist de Sintomas-90-Revisado, SCL-90-R) para determinar seus sintomas psicopatológicos.
Os pacientes do grupo de bruxismo diurno e noturno apresentaram pontuações mais altas na avaliação. Ademais, os pacientes com bruxismo diurno tiveram escores superiores em comparação com os pacientes com bruxismo do sono e os indivíduos sem bruxismo na maioria das subescalas da SCL-90-R. O teste de Kruskal-Wallis indicou diferenças significativas entre os grupos em todas as subescalas da SCL-90-R, exceto na subescala psicótica. O teste de Mann-Whitney, ajustado pela correção de Bonferroni entre grupos sem bruxismo e aqueles com bruxismo diurno e noturno, revelou diferenças significativas em termos de depressão, ansiedade, hostilidade, ansiedade fóbica, paranoia, índice de severidade global, índice de angústia por sintomas positivos e total de sintomas positivos em todas as subescalas da SCL-90-R. A análise estatística demonstrou que as diferenças entre os grupos eram significativas em todas as subescalas, exceto na subescala psicótica. Uma melhor compreensão das diferentes formas de bruxismo pode auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias de tratamento para este transtorno.
Giraki et al. (2020) conduziram um estudo que investigou a correlação entre estresse, estratégias de enfrentamento do estresse e bruxismo do sono, com o objetivo de determinar se fatores específicos de estresse estão associados à atividade do bruxismo do sono (BS). Participaram do estudo 69 indivíduos, sendo 48 diagnosticados com bruxismo. Todos os participantes completaram três questionários em alemão que avaliavam diferentes parâmetros de estresse e estratégias de coping. Foram encontradas correlações significativas para “problemas diários” (r = 0,461, p < 0,01), “problemas no trabalho” (r = 0,293), “fadiga” (r = 0,288), “problemas físicos” (r = 0,288) e a estratégia de enfrentamento “escapismo” (r = 0,295) (todos p < 0,05). Apesar das limitações do estudo, observou-se que indivíduos com alta atividade de bruxismo do sono tendem a relatar níveis elevados de estresse tanto no ambiente de trabalho quanto na vida cotidiana, o que pode influenciar seu estado físico. Esses indivíduos também parecem lidar com o estresse de forma negativa. Contudo, devido aos baixos coeficientes de correlação e à natureza descritiva do estudo, são necessárias investigações adicionais para explorar uma possível relação causal..
2.4 SUSTÂNCIAS NEUROQUÍMICAS
Estudos demonstram uma relação entre distúrbios associados a neurotransmissores, como dopamina, adrenalina e noradrenalina. Lobbezoo et al. (2021) realizaram uma investigação sobre a ausência de associações entre medidas oclusais e cefalométricas, desequilíbrio lateral na ligação do receptor D4 estriatal e atividades orais relacionadas ao sono. O objetivo foi avaliar possíveis diferenças morfológicas orofaciais entre indivíduos com bruxismo do sono e aqueles sem a condição, além de determinar correlações entre fatores morfológicos e a expressão do receptor D2 estriatal em indivíduos com atividades bucais relacionadas ao sono. Vinte indivíduos participaram do estudo, no qual foram registradas 26 medidas oclusais padrão e 25 medidas angulares e lineares padrão a partir de filmes cefalométricos padronizados. As variáveis foram derivadas para analisar as relações dentárias e esqueléticas.
Quatorze dos 20 participantes também haviam participado de um estudo anterior que incluía a utilização de iodina-123-iodobenzamida (I-123-IBZM) e tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT). Os resultados não revelaram diferenças morfológicas entre os grupos com e sem bruxismo do sono, e nenhuma das variáveis morfológicas apresentou associação significativa com os dados de neuroimagem. Considerando as limitações do estudo, os autores sugerem que a morfologia orofacial dos indivíduos com bruxismo do sono não difere daquelas sem a condição. Além disso, os fatores morfológicos provavelmente não estão envolvidos na assimetria da distribuição do receptor D2 estriatal previamente observada em associação ao bruxismo do sono.
Já Lobbezoo et al. (1997) conduziram um estudo sobre os efeitos da bromocriptina, um agonista do receptor D2, no bruxismo do sono, visando avaliar a eficácia do medicamento na redução dos episódios de bruxismo. Dois pacientes completaram o teste sem relatar reações adversas. Os resultados foram apresentados como ensaios clínicos de paciente único. Após duas semanas de administração de bromocriptina, ambos os pacientes demonstraram uma diminuição de 20% a 30% no número de episódios de bruxismo por hora de sono, em comparação ao placebo. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas entre as condições placebo e bromocriptina no número de explosões de bruxismo por episódio, os níveis de eletromiografia (EMG) mostraram-se significativamente inferiores durante o uso de bromocriptina. Associada à atenuação polissonográfica do bruxismo do sono, a bromocriptina resultou em uma diminuição da distribuição lateral anormal da ligação do receptor D2 estriatal, conforme evidenciado pela tomografia computadorizada de emissão de fóton único, utilizando o antagonista iodo-123-iodobenzamida radioativo do receptor D2. Esse estudo corrobora sugestões anteriores de que o sistema dopaminérgico central pode ter um papel na modulação do bruxismo do sono.
Alencar et al. (2024) realizaram uma revisão da literatura sobre a relação entre bruxismo e dopamina, buscando evidências da influência dos neurotransmissores na gênese dessa parafunção e a relevância de fármacos que atuam nos mesmos receptores. Os autores confrontaram dados disponíveis na literatura e observaram que os episódios de bruxismo estão diretamente relacionados às concentrações de catecolaminas urinárias, que caracterizam o estresse. Eles concluíram que seria interessante realizar um estudo que acompanhasse as concentrações de catecolaminas em pacientes com bruxismo submetidos a tratamentos interdisciplinares, a fim de avaliar se a diminuição nos níveis de catecolaminas ocorreria simultaneamente à redução dos episódios de bruxismo. Outros neurotransmissores, como acetilcolina, orexina e serotonina, ainda apresentam papéis etiológicos desconhecidos no bruxismo do sono (Carra et al., 2022)..
2.5 FISIOPATOLOGIA
Atualmente, o bruxismo é considerado predominantemente um distúrbio do movimento relacionado ao sono, com uma etiologia multifatorial que ainda precisa ser completamente elucidada, envolvendo processos fisiológicos complexos que afetam múltiplos sistemas (Klasser et al., 2015). O padrão de atividade eletromiográfica (EMG) observado em pacientes com bruxismo do sono (BS) é denominado atividade muscular mesquática rítmica (RMMA). Os autores notaram que a maioria dos episódios de RMMA está associada à excitação do sono e é precedida pela ativação fisiológica dos sistemas nervoso central e simpático (Carra et al., 2022).
De acordo com Lavigne et al. (2015), o bruxismo do sono é provavelmente uma manifestação extrema de uma atividade muscular mastigatória que ocorre durante o sono em muitos indivíduos normais, uma vez que a RMMA é detectada em 60% das pessoas normais em ausência de sons de rangido. A fisiopatologia do BS está se tornando cada vez mais clara, com uma vasta quantidade de evidências que descrevem a neurofisiologia e a neuroquímica dos movimentos do maxilar rítmico (RJM) em relação à mastigação, deglutição e respiração. A literatura sobre sono oferece várias evidências que descrevem os mecanismos envolvidos na redução do tônus muscular, desde o início do sono até a atonia que caracteriza a fase REM do sono. Diversas estruturas do tronco encefálico (como a ponte oralis reticular, ponte caudalis e parvocelularis) e neurotransmissores (como serotonina, dopamina, ácido gama-aminobutírico [GABA] e noradrenalina) estão implicados na gênese do RJM e na modulação do tônus muscular durante o sono (Lavigne et al., 2015).
Gouveia et al. (1996) caracterizaram o bruxismo como um distúrbio do sono resultante da ativação do sistema nervoso central, que é transmitido através dos músculos esqueléticos ou das vias do sistema nervoso autônomo. A relação do bruxismo do sono com as fases do sono ainda é objeto de debate; no entanto, há uma tendência de ocorrência maior durante os estágios I e II do sono não REM e durante a transição entre os estágios, sendo que a incidência é menor nos estágios 3 e 4 do sono não REM.
Macaluso et al. (1998) conduziram uma pesquisa para explorar a microestrutura do sono em pacientes com bruxismo, comparar a estrutura do sono entre indivíduos com bruxismo e um grupo controle, esclarecer a relação entre o comportamento não funcional dos músculos mastigatórios e componentes de atividade cerebral (CAP), além de avaliar a relevância dos distúrbios do sono na análise do CAP. O estudo incluiu 12 pacientes, sendo 6 diagnosticados com bruxismo e 6 como controles. A estrutura do sono dos participantes foi avaliada por meio de polissonografia, e os resultados indicaram um aumento significativo no número de despertares transitórios, caracterizados pela dessincronização do EEG nos pacientes bruxomanos. Os episódios de bruxismo foram distribuídos entre o sono não REM e REM, sendo mais frequentemente identificados durante os estágios 1 e 2 do sono não REM, com a maioria dos episódios ocorrendo durante os despertares transitórios. Os batimentos cardíacos durante os episódios de bruxismo foram significativamente mais elevados do que no período anterior ao bruxismo. Quase 80% de todos os episódios de bruxismo estavam associados à atividade do músculo tibial anterior. Os autores concluíram que o bruxismo do sono é uma patologia multifatorial e, possivelmente, uma das mais relevantes disrupções do sono no plano microestrutural que pode ser identificada em casos simples.
Carra et al. (2021) realizaram um estudo sobre a prevalência e os fatores de risco associados ao bruxismo do sono e ao apertamento dentário durante a vigília, com o objetivo de avaliar a prevalência e os fatores de risco de sinais e sintomas relacionados ao bruxismo do sono (BS) e ao apertamento dos dentes (TC) em uma população com idade entre 7 e 17 anos. A amostra consistiu em 604 indivíduos (82,4% de etnia caucasiana) que procuravam tratamento ortodôntico, com idades variando entre 7 e 17 anos (idade média ± DP: 13 ± 2,3 anos). Todos os participantes responderam a questionários e foram submetidos a uma avaliação clínica de sua morfologia craniofacial e estado dentário. A prevalência de bruxismo do sono foi relatada em 15% (n = 58), enquanto 12,4% relataram apertamento (n = 42).
O grupo restante incluiu um grupo controle (n = 220). A maioria dos participantes que relataram bruxismo do sono eram crianças (67,3% tinham 12 anos ou menos) e a maioria dos que relataram apertamento eram adolescentes (78,6% tinham 13 anos ou mais). Mais de 60% dos indivíduos com bruxismo do sono apresentaram morfologia craniofacial da classe dentária II, e 28,1% eram do tipo braquifacial. Os resultados mostraram que a coexistência de bruxismo do sono e apertamento dentário não aumentou o risco de distúrbios temporomandibulares (DTM), problemas de sono ou disfunção comportamental.
Em comparação com o grupo controle, os indivíduos com bruxismo do sono apresentaram um risco maior de fadiga muscular mandibular (razão de odds ajustada [AOR] = 10,5), cefaleia (AOR = 4,3) e respiração alta durante o sono (AOR = 3,1). Os sinais de DTM foram significativamente mais prevalentes em indivíduos com bruxismo do sono (14%) e apertamento dentário (9,8%) do que no grupo controle (1,8%). Apenas os indivíduos com bruxismo do sono pareciam estar em maior risco de relatar desgaste dentário. Comparados aos controles, os sujeitos com apertamento dentário relataram mais pressão na articulação temporomandibular (AOR = 5), cansaço muscular do maxilar (AOR = 13,5) e várias queixas relacionadas ao sono e comportamentais. As parafunções durante a vigília e o sono frequentemente se associam a sinais e sintomas sugestivos de DTM, além de problemas de sono e comportamentais. É recomendada a avaliação clínica dessas condições durante o planejamento do tratamento ortodôntico.
Lavigne et al. (2017) realizaram um estudo sobre a gênese do bruxismo do sono, buscando explicar os mecanismos que podem estar envolvidos em sua etiologia. Os autores sugerem que, durante o sono leve, a maioria dos episódios de bruxismo do sono está relacionada a reações recíprocas cardíacas e cerebrais denominadas “microexcitações”. Os resultados mostraram que a RMMA é secundária a uma sequência de eventos associados a essas microexcitações do sono: a ativação do coração (aumento da atividade simpática) e do cérebro ocorre nos minutos e segundos, respectivamente, antes do início da atividade dos músculos supra-hióides, culminando em RMMA no fechamento do maxilar ou na atividade dos músculos temporais. Em estudos com primatas não humanos, foi demonstrado que a excitabilidade das vias cortico-bulbares está deprimida durante o sono; não foram observados movimentos rítmicos da mandíbula (RJM) após a estimulação intracortical (ICMS) da área cortical de mastigação durante o sono, em comparação ao estado de vigília. Esses achados sugerem que a ocorrência de episódios de RMMA e bruxismo do sono está sob a influência de uma atividade breve e transitória do sistema ascendente reticular estimulante do tronco encefálico, contribuindo para o aumento da atividade nas redes autonômico-cardíacas e motoras moduladoras.
Carra et al. (2022) conduziram um estudo que fornece uma visão geral sobre o bruxismo do sono, visando oferecer uma revisão abrangente das causas, fisiopatologia, avaliação e manejo do bruxismo do sono (BS). O bruxismo do sono é uma desordem motora comum associada ao sono, caracterizada por moagem e aperto dos dentes. O diagnóstico de BS é estabelecido com base na história de moagem dental e confirmado por gravações polissonográficas de episódios eletromiográficos (EMG) nos músculos masseter e temporal. O padrão de atividade EMG típico observado em pacientes com BS é conhecido como atividade muscular mesquática rítmica (RMMA). Os autores ressaltam que a maioria dos episódios de RMMA ocorre em associação com a excitação do sono e é precedida pela ativação fisiológica dos sistemas nervoso central e simpático.
2.6 BRUXISMO DO SONO
Atualmente, o bruxismo do sono é classificado predominantemente como um distúrbio do movimento relacionado ao sono (Klasser et al., 2015). Em indivíduos afetados pelo bruxismo, as atividades rítmicas dos músculos mastigatórios ocorrem entre 2 a 12 vezes por hora, enquanto em pessoas saudáveis esse fenômeno é observado apenas uma vez por hora durante o sono (Lavigne et al., 2018). Este distúrbio é caracterizado por ser um evento completamente involuntário (Shetty et al., 2020).
2.6.1 Diagnóstico do Bruxismo do sono
Embora o bruxismo não seja considerado uma condição com risco à vida, sua presença pode afetar significativamente a qualidade de vida, especialmente por meio de complicações dentárias, como desgaste dental, fraturas recorrentes em restaurações e dor na região orofacial. Portanto, a avaliação precoce do bruxismo é de suma importância (Shetty, 2020).
Conforme Lavigne (2023), em indivíduos com bruxismo do sono (BS), a percepção ou relato de episódios frequentes de apertamento dental são fatores cruciais para o diagnóstico dessa parafunção. Neste tópico, serão discutidos os diagnósticos clínico, ambulatorial e polissonográfico do bruxismo do sono.
2.6.2 Diagnóstico clínico
O desgaste dentário é frequentemente considerado um sinal clássico associado ao bruxismo. No entanto, o diagnóstico dessa condição não deve se basear exclusivamente no desgaste dental, uma vez que 40% dos indivíduos que não apresentam bruxismo também podem apresentar desgaste nos dentes (Manfredini et al., 2023).
Johansson et al. (2018) conduziram um estudo sobre a reabilitação de dentes desgastados, com o objetivo de revisar a literatura existente sobre esse tema, incluindo aspectos históricos, epidemiológicos e etiológicos do desgaste dentário como informações de apoio. A partir dessa análise, foi possível constatar que o papel do bruxismo no desgaste dentário é menor do que se supunha anteriormente.
Khan et al. (1998) realizaram uma pesquisa sobre a relação entre erosão dentária e bruxismo. O estudo envolveu 104 pacientes, divididos em três grupos de tamanhos iguais: aqueles com bruxismo, aqueles que poderiam ter bruxismo e aqueles sem bruxismo. A presença de atrito ou erosão oclusal foi avaliada por meio de critérios de microscopia eletrônica de varredura em moldes dentários de resina epóxi. A incidência de atrito em comparação com a erosão foi analisada entre os três grupos. A erosão predominou em praticamente todos os sextantes dentários dos três grupos, com a exclusão quase total do atrito nos sextantes molares. A única exceção foi o sextante anterior mandibular, onde a incidência de atrito foi maior no grupo com bruxismo. Portanto, tanto a erosão ácida intrínseca quanto extrínseca mostraram-se fortemente associadas ao desgaste dentário oclusal observado no grupo com bruxismo. Por outro lado, os padrões de desgaste dentário foram considerados indicadores não confiáveis de um hábito de bruxismo, uma vez que o atrito isoladamente foi frequentemente encontrado em dentes expostos a ácido. Assim, mesmo que haja suspeita de bruxismo em um paciente, a erosão dentária foi identificada como o fator etiológico mais provável responsável pela perda de tecido dentário, especialmente em ambientes áridos, como no sudeste de Queensland.
Ekfeldt et al. (1990) realizaram um estudo sobre o índice individual de desgaste dentário e analisaram fatores correlacionados ao desgaste incisivo e oclusal em uma população adulta sueca. Participaram do estudo 585 indivíduos, e um índice individual de desgaste dentário foi utilizado como variável dependente para classificar os participantes conforme o desgaste incisivo e oclusal. Os resultados revelaram correlações significativas entre o aumento do desgaste incisivo e oclusal e variáveis como o número de dentes presentes, idade, sexo, ocorrência de bruxismo, uso de tabaco e capacidade tampão da saliva. A análise de regressão múltipla stepwise resultou em um fator de explicação total de R² = 0,41. Além disso, foi possível distinguir claramente entre grupos de indivíduos com e sem desgaste dentário com base nesses fatores. Os autores concluíram que o bruxismo foi responsável por apenas 3% do desgaste dentário observado.
2.6.3 Polissonografia
O diagnóstico do bruxismo do sono (BS) é realizado por meio da avaliação do desgaste dentário, sendo confirmado por exames eletromiográficos (EMG) dos músculos masseter e temporal (Carra et al., 2022). A polissonografia é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico do bruxismo, consistindo na gravação abrangente da atividade elétrica cerebral, respiratória e de sinais indicativos de relaxamento muscular, movimentos oculares, oxigenação sanguínea e frequência cardíaca, conforme os objetivos da investigação do sono, com registro de áudio e vídeo (Carra et al., 2022).
Von Zuben e Cibele (2024) realizaram uma revisão da literatura sobre a relevância da polissonografia nos distúrbios temporomandibulares (DTMs), focando no diagnóstico do bruxismo do sono. Através de uma análise bibliográfica, os autores concluíram que a literatura científica demonstrou que a utilização da polissonografia (PSG) pode minimizar falhas no diagnóstico.
Maluly et al. (2023) conduziram um estudo polissonográfico com o intuito de estimar a prevalência de bruxismo do sono em uma amostra populacional. A pesquisa envolveu 1.042 indivíduos que responderam a questionários e foram submetidos a exames de polissonografia. Após a PSG, os participantes foram classificados em três grupos: ausência de BS, BS de baixa frequência e BS de alta frequência. Os resultados revelaram que a prevalência de BS, conforme indicado pelos questionários e confirmada pela PSG, foi de 5,5%. Quando a PSG foi utilizada exclusivamente como critério diagnóstico, a prevalência aumentou para 7,4%, independentemente das queixas autorrelatadas. Entre os 5,5% (n = 56) com diagnóstico confirmado de BS, 26 foram classificados como de baixa frequência e 30 como de alta frequência. Os episódios de bruxismo ocorreram com maior frequência no estágio 2 do sono, sendo que eventos de bruxismo fásico foram mais prevalentes do que eventos tônicos ou mistos em todos os estágios do sono nos indivíduos com BS. Observou-se uma associação positiva entre BS e insônia, maior nível de escolaridade e índice de massa corporal normal ou com excesso de peso. Esses resultados demonstram a prevalência de BS em uma população amostrada pela PSG, que é a metodologia padrão-ouro na investigação de distúrbios do sono, combinada com questionários validados.
Stuginski-Barbosa et al. (2017) conduziram um estudo que analisou a conformidade dos critérios da Classificação Internacional de Distúrbios do Sono (ICSD-3) com a polissonografia para o diagnóstico de bruxismo do sono. O estudo incluiu 20 estudantes de pós-graduação e funcionários da Faculdade de Odontologia de Bauru, que foram submetidos a entrevistas, avaliações clínicas e PSG. Através da PSG, os indivíduos foram separados em dois grupos: aqueles com bruxismo (28,3 ± 5,8 anos; 9 mulheres e 1 homem) e aqueles sem bruxismo (25,9 ± 3,6 anos; 6 mulheres e 4 homens). A análise das curvas de características operacionais do receptor, área sob a curva (AUC), razões de verossimilhança (LR) e razão de chances (DOR) foram avaliadas para validar os critérios ICSD-3. Os critérios diagnósticos ICSD-3 para bruxismo apresentaram concordância justa a moderada com o diagnóstico da PSG, com AUC variando entre 0,55 e 0,75. Nenhum dos dentes avaliados atingiu a pontuação máxima para desgaste (pontuação 4), e a distribuição dos escores de desgaste dentário foi semelhante entre os grupos. O bruxismo semanal (mais de uma vez por semana) associado à dor ou fadiga muscular transitória na mandíbula pela manhã apresentou concordância moderada e significativa com o diagnóstico PSG de bruxismo (AUC = 0,75), com 90% de especificidade, LR positivo = 6 e DOR = 13,5. Quando a frequência do bruxismo autorrelatado aumentou para mais de quatro vezes por semana, a combinação desse achado com o desgaste dentário também mostrou altos valores de concordância com o diagnóstico PSG de bruxismo (AUC = 0,75, LR positivo = 6, DOR = 13,6). Os autores concluíram que a aplicação dos critérios ICSD-3 para o diagnóstico clínico do bruxismo pode ser limitada, e que o relato de bruxismo regular ou frequente, juntamente com a presença de (1) desgaste anormal dos dentes ou (2) episódios de dor muscular transitória na mandíbula pela manhã, foram os melhores discriminadores do ICSD-3 para o diagnóstico de bruxismo.
Lavigne et al. (1996) realizaram um estudo sobre a validade dos critérios diagnósticos em um estudo polissonográfico controlado para validar critérios diagnósticos para a atividade motora do sono facial, especificamente o bruxismo. O estudo envolveu 36 indivíduos, divididos em dois grupos: 18 com bruxismo e 18 assintomáticos. As gravações polissonográficas de todos os participantes foram analisadas. As observações clínicas revelaram que todos os 18 indivíduos com bruxismo relataram episódios frequentes durante o sono. Sendo que o desgaste dentário foi observado em 16 dos 18 participantes com bruxismo, e seis deles relataram desconforto na região maxilar. A análise dos dados polissonográficos mostrou que os sujeitos assintomáticos apresentaram uma média de 1,7 ± 0,3 episódios de bruxismo por hora de sono, enquanto os indivíduos com bruxismo mostraram um nível significativamente maior de atividade: 5,4 ± 0,6. Os controles apresentaram 4,6 ± 0,3 episódios de bruxismo por episódio e 6,2 (variando de 0 a 23) episódios de bruxismo por hora de sono, enquanto os com bruxismo mostraram, respectivamente, 7,0 ± 0,7 e 36,1 (variando de 5,8 a 108). Enquanto episódios de bruxismo com pelo menos dois sons de moagem foram observados em 14 dos 18 indivíduos com bruxismo. Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos em nenhum dos parâmetros do sono. Quando as variáveis relacionadas ao bruxismo na polissonografia foram combinadas em uma análise de regressão logística, o diagnóstico clínico foi corretamente previsto em 81,3% dos controles e 83,3% dos indivíduos com bruxismo. A validade desses critérios diagnósticos deve agora ser testada em uma amostra maior por meio de estudos longitudinais que incluam diferentes graus de bruxismo do sono.
Tosun et al. (2023) realizaram um estudo sobre a avaliação do bruxismo do sono por meio de análise polissonográfica em pacientes com implantes dentários, com o objetivo de confirmar o bruxismo do sono (BS) e avaliar os achados clínicos do tratamento de implantes dentários em pacientes com essa condição. O estudo envolveu 368 pacientes, que totalizavam 838 implantes endóseos. Foram selecionados 19 pacientes que apresentaram complicações mecânicas em implantes para análise polissonográfica, a fim de monitorar os sintomas do sono, sendo que seis desses pacientes foram identificados como portadores de bruxismo, o que foi confirmado por meio da análise polissonográfica. Os episódios eletromiográficos do bruxismo representaram pelo menos 20% das contrações voluntárias máximas dos pacientes enquanto estavam acordados. A maioria dos episódios de bruxismo (80%) ocorreu em estágios leves do sono, enquanto apenas 5% dos episódios foram detectados durante a fase de movimento rápido dos olhos (REM). As gravações dos estágios do sono foram semelhantes entre todos os indivíduos, e os episódios de bruxismo não provocaram excitação. Os pacientes não estavam cientes de seus hábitos parafuncionais durante a noite. A análise polissonográfica foi considerada um método eficaz e de baixo custo para confirmar hábitos oclusais parafuncionais durante o sono. No entanto, as questões apresentadas por pacientes com implantes dentários não foram adequadamente abordadas. Apesar disso, a utilização de uma placa de bruxismo noturna parece ter validade em pacientes com bruxismo do sono.
Trindade e Rodriguez (2024) realizaram um estudo que utilizou a análise polissonográfica para identificar o comportamento de pacientes com bruxismo do sono durante uma noite de sono em um ambiente hospitalar. A amostra foi composta por trinta pacientes, que foram submetidos a avaliação clínica e polissonografia. A análise descritiva correlacionou apneia, excitações e movimentos dos membros nos 12 pacientes que apresentavam sinais e sintomas de bruxismo do sono, sendo que quatro deles foram confirmados através da PSG. Em comparação com os quatro pacientes com bruxismo confirmado (grupo PSGB) e os oito pacientes confirmados sem bruxismo (grupo NPSGB), o índice de eventos respiratórios foi menor no grupo PSGB (13,17 e 17,95, respectivamente). O índice médio de movimento das pernas foi superior no grupo PSGB em relação ao grupo NPSGB durante o tempo total de sono (21,36 e 8,42, respectivamente) e durante a fase REM (34,54 e 10,30, respectivamente). Os autores concluíram que a análise polissonográfica é eficaz para o diagnóstico do bruxismo do sono.
2.6.4 Diagnóstico ambulatorial
Dispositivos portáteis, como mini detectores de atividade eletromiográfica (EMG) e sistemas de polissonografia ambulatorial, têm sido utilizados para avaliar a atividade do bruxismo. Esses dispositivos oferecem vantagens, como a possibilidade de monitoramento do sono em casa e a redução de custos (Carra et al., 2022).
Castroflorio et al. (2015) realizaram um estudo comparativo entre o diagnóstico clínico e a monitorização portátil de EMG/ECG para bruxismo do sono. A amostra incluiu 45 indivíduos, sendo 19 homens e 26 mulheres, com idade média de 28,11 anos. A presença de bruxismo foi avaliada por um médico, e a atividade muscular e a frequência cardíaca foram registradas utilizando um dispositivo portátil de EMG. Os dados foram analisados utilizando o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0. Vinte e seis indivíduos (11 homens e 15 mulheres com idade média de 28-10 anos) foram diagnosticados com bruxismo, enquanto 19 indivíduos (7 homens e 12 mulheres com idade média de 30-10 anos) foram diagnosticados como não apresentando a condição. Considerando o diagnóstico instrumental por EMG/ECG como padrão de referência, foram observadas taxas inaceitáveis de falso-positivos e falso-negativos para todos os sinais e sintomas clínicos. Assim, os autores concluíram que o diagnóstico de bruxismo realizado com um gravador portátil de EMG/ECG é confiável e não correlacionado aos achados da avaliação clínica.
Em um estudo posterior, Castroflorio et al. (2024) intitulado “Detecção do Bruxismo do sono: comparação entre um Holter portátil eletromiográfico e eletrocardiográfico e polissonografia”, o objetivo foi comparar a detecção de episódios de bruxismo por meio da eletromiografia de superfície combinada com a frequência cardíaca registrada por um dispositivo portátil compacto (Bruxoff®) e a contagem de episódios de bruxismo por meio de polissonografia. O estudo incluiu 25 participantes, sendo 14 com provável bruxismo e 11 sem a condição. Todos os participantes passaram por gravações do Bruxoff e polissonografia na mesma noite. Coeficientes de correlação e gráficos de Bland-Altman foram utilizados para medir a correlação e a concordância entre os dois métodos. Os resultados mostraram uma forte correlação e um elevado índice de concordância entre os dados do Bruxoff e da polissonografia. Além disso, a análise da curva característica do receptor demonstrou alta sensibilidade e especificidade do dispositivo portátil (92,3% e 91,6%, respectivamente) quando o corte foi ajustado para quatro episódios de bruxismo por hora, conforme critérios publicados. O dispositivo Bruxoff apresentou boa precisão diagnóstica na diferenciação da atividade muscular mesquática rítmica (RMMA) de outras atividades bucofaciais. Esses resultados são significativos, considerando a necessidade de dispositivos portáteis simples e confiáveis para o diagnóstico do bruxismo, tanto em ambientes clínicos quanto em pesquisas.
Shochat et al. (2017) investigaram a validação do dispositivo BiteStrip para o bruxismo do sono, testando a eficácia do dispositivo eletromiográfico portátil (BiteStrip) na detecção de eventos eletromiográficos nos músculos masseter que indicam bruxismo do sono, em comparação aos eventos eletromiográficos tradicionais (MEMG). O estudo envolveu 18 participantes, incluindo 6 que buscavam tratamento para bruxismo, 4 com sintomas de apneia do sono e 8 controles sem sintomas. Todos os participantes foram submetidos a uma polissonografia noturna, que incluiu gravações MEMG e do BiteStrip. Os índices totais de BiteStrip e MEMG (eventos por hora) foram calculados com base no tempo total de gravação (TRT) e no tempo total de sono (TST). Medidas de precisão, correlações de Spearman e comparações de grupos não paramétricos foram realizadas. A sensibilidade média do BiteStrip foi de 0,72, e o valor preditivo positivo médio foi de 0,75. As correlações entre os índices totais de BiteStrip e MEMG em relação ao TRT e TST foram r = 0,81, r = 0,79 e r = 0,79, respectivamente. As análises de Bland-Altman demonstraram boa concordância entre os índices. Diferenças significativas entre os grupos foram observadas nas pontuações e índices totais. Os escores do BiteStrip e MEMG apresentaram relações fortes. A sensibilidade e o valor preditivo positivo foram considerados aceitáveis. O estudo concluiu que o BiteStrip é um dispositivo eficaz para identificar eventos eletromiográficos no músculo masseter associados ao bruxismo.
Ommerborn et al. (2015) realizaram um estudo intitulado “Um Novo Método de Análise para Quantificação de Abrasão no Dispositivo Bruxcore para o Diagnóstico do Bruxismo do Sono”, visando avaliar um método de análise semiautomático computadorizado recentemente desenvolvido para determinar a objetividade do Dispositivo de Monitoramento Bruxalized Bruxism (BBMD) e sua confiabilidade intermediária. A capacidade do BBMD de diferenciar bruxismo do sono (BS) de controles saudáveis também foi avaliada em termos de sensibilidade, especificidade e valores preditivos. Este estudo incluiu 69 indivíduos, sendo 48 do grupo com bruxismo (com idades entre 20 e 40 anos) e 21 do grupo controle. O diagnóstico de bruxismo do sono foi baseado nos critérios da Associação Americana de Distúrbios do Sono. Todos os participantes passaram por uma avaliação clínica dentária e, em seguida, usaram o BBMD por cinco noites consecutivas. Os BBMDs foram analisados por dois examinadores independentes usando o novo método, que contabilizou a área desgastada em pixels. A confiabilidade foi avaliada por meio da análise do coeficiente de correlação intraclasse (ICC). Dentre os resultados mostrou-se uma alta confiabilidade, com ICC = 0,99, e a comparação dos escores médios de pixels revelou que os valores foram aproximadamente oito vezes maiores para o bruxismo do que para os controles. Com um ponto de corte de pontuação de pixel selecionado de 2900, foram encontradas uma sensibilidade de 79,2% e uma especificidade de 95,2%. O diagnóstico clínico foi corretamente previsto em 97,4% dos casos de bruxismo e em 66,7% dos controles. Os autores concluíram que o método de análise desenvolvido para a avaliação do BBMD é clinicamente adequado, objetivo e aplicável, demonstrando capacidade para diferenciar o bruxismo. No entanto, esses dados precisam ser confirmados em investigações adicionais que utilizem gravações polissonográficas.
Trindade e Rodriguez (2024) conduziram um estudo que avaliou o bruxismo do sono por meio de análise polissonográfica, visando identificar o comportamento de pacientes com bruxismo durante uma noite de sono em ambiente hospitalar. A amostra foi composta por trinta pacientes, que passaram por avaliação clínica e polissonografia. A análise descritiva correlacionou apneia, excitações e movimentos dos membros em 12 pacientes que apresentavam sinais e sintomas de bruxismo do sono, dos quais quatro foram confirmados através da polissonografia. Ao comparar os quatro pacientes com bruxismo confirmado (grupo PSGB) com os oito pacientes sem bruxismo confirmado (grupo NPSGB), observou-se que o índice de eventos respiratórios foi menor no grupo PSGB (13,17 em comparação a 17,95, respectivamente). O índice médio de movimento das pernas foi maior no grupo PSGB em relação ao grupo NPSGB durante o tempo total de sono (21,36 comparado a 8,42) e durante a fase REM (34,54 em comparação a 10,30). Os autores concluíram que a análise polissonográfica é uma ferramenta eficaz para o diagnóstico do bruxismo do sono.
2.7 BRUXISMO EM VIGÍLIA
De acordo com Shetty et al. (2020), o bruxismo em vigília é considerado uma ação semi-voluntária, em contraste com o bruxismo do sono, que apresenta características distintas (Lavigne et al., 2015; Carra et al., 2022). Ao contrário do bruxismo do sono, foi identificado que um fator periférico, o colapso oclusal progressivo, pode estar associado ao bruxismo em vigília. Kawakami et al. (2024) realizaram um estudo com o objetivo de investigar o padrão de atividade eletromiográfica (EMG) diurna em pacientes com colapso oclusal, visando revelar a atividade característica dos músculos masseter em indivíduos com colapso de mordida, tanto durante a vigília quanto durante o sono. O estudo incluiu seis pacientes com colapso de mordida progressivo (grupo PBC), seis controles pareados por idade e sexo (grupo MC) e seis controles jovens (grupo YC). Os eletromiogramas dos músculos masseter foram registrados continuamente com um gravador de EMG portátil durante os períodos de vigília e sono. A atividade EMG parafuncional, tanto diurna quanto noturna, foi classificada como fásica, tônica ou mista, utilizando um limiar de EMG correspondente a 20% do aperto voluntário máximo. A atividade fásica diurna, amplamente observada, foi detectada exclusivamente no grupo PBC. Os três grupos apresentaram diferenças significativas em relação ao número de episódios fásicos diurnos, com 13,29 ± 7,18 episódios por hora no grupo PBC, 0,95 ± 0,97 no grupo MC e 0,87 ± 0,98 no grupo YC (p < 0,01). A análise da curva ROC sugeriu que a contagem de episódios fásicos diurnos poderia ser utilizada como preditor da perda dentária associada ao colapso oclusal. Assim, os autores concluíram que a perda significativa de mordida pode estar relacionada à atividade muscular mastigatória diurna, mas não à parafunção durante o sono.
Outro fator que pode diferir entre as manifestações de bruxismo são as influências psicológicas e emocionais. Hermesh et al. (2015) conduziram um estudo sobre a relação entre bruxismo e hiperatividade parafuncional em pacientes ambulatoriais com fobia social, avaliando a influência da ansiedade, depressão e do uso de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (SSRIs) em um grupo com bruxismo e fobia social. A amostra foi composta por 73 pacientes (23 com fobia social, 17 tratados com SSRIs e 33 controles saudáveis), todos submetidos a uma avaliação psiquiátrica e completaram a Escala de Ansiedade Social de Leibowitz e o Inventário de Depressão de Beck. A atividade parafuncional oral foi avaliada por meio de exame dentário e de um questionário.
O bruxismo em vigília e pelo menos uma atividade parafuncional foram mais prevalentes no grupo com fobia social em comparação aos controles. A gravidade da fobia social previu a presença de atividades parafuncionais. A depressão esteve associada a um maior risco de atividades parafuncionais orais e bruxismo em vigília (Lavigne et al., 2015; Klasser et al., 2015). O tratamento crônico com SSRIs para fobia social não teve impacto sobre o sono e o bruxismo em vigília. Os autores concluíram que a avaliação clínica e a análise da ansiedade são fundamentais para o diagnóstico e o planejamento do tratamento de pacientes psiquiátricos, ressaltando que um tratamento eficaz da fobia social pode mitigar o bruxismo e que há um risco elevado de bruxismo em vigília em pacientes com fobia social.
Serra-Negra et al. (2024) realizaram um estudo sobre bruxismo do sono, bruxismo em vigília e qualidade do sono entre estudantes de odontologia brasileiros, visando avaliar a qualidade do sono neste grupo. A amostra consistiu em 183 alunos com idades variando entre 17 e 46 anos. Para a coleta de dados, foi utilizado o PSQI-BR (a versão brasileira do Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh). O diagnóstico de bruxismo do sono e bruxismo em vigília foi baseado em dados autorrelatados. Obtendo uma prevalência de bruxismo em vigília de 36,5%, enquanto a prevalência de bruxismo do sono foi de 21,5%. Componentes relacionados à duração do sono mostraram associação com bruxismo do sono (PR = 1,540; IC 95%: 1,00-2,37) e bruxismo em vigília (PR = 1,344; IC 95%: 1,008-1,790). Além disso, observou-se uma associação entre a eficiência habitual do sono e bruxismo em vigília (PR = 1,323; IC 95%: 1,03-1,70). O componente de perturbação do sono também foi associado ao bruxismo em vigília (PR = 1,533; IC 95%: 1,03-2,27). A má qualidade do sono foi identificada como um fator relevante para a condição. Essas informações refletem a complexidade e a inter-relação entre bruxismo, fatores psicológicos e a qualidade do sono, enfatizando a importância de abordagens diagnósticas abrangentes e o manejo eficaz das condições associadas.
Para o diagnóstico do bruxismo em vigília, podem ser empregados métodos como autorrelato, questionários e eletromiografia (EMG) (Fujisawa et al., 2023; Manfredini e Lobbezoo, 2019; Kawakami, 2024). Fujisawa et al. (2023) conduziram um estudo com o objetivo de determinar a ocorrência de eventos de apertamento diurno em indivíduos com e sem pressão autorrelatada, visando confirmar a validade da autoconsciência relacionada ao apertamento durante o dia. A amostra foi composta por 55 indivíduos, divididos em dois grupos: um grupo com apertamento (n=27) e um grupo controle (n=28). Os registros de EMG dos músculos temporais foram obtidos ao longo de 5 horas, e todos os dados de EMG foram gravados e armazenados em um dispositivo portátil, que apresentava um tamanho semelhante ao de um aparelho auditivo, permitindo a coleta de dados durante o dia sem restringir as atividades diárias dos participantes. O número médio de eventos de apertamento foi de 192, com um desvio padrão variando entre 8 e 228, para o grupo de apertamento, e 24, com desvio padrão entre 5 e 26, para o grupo controle (p < 0,05, teste de Mann-Whitney). Não houve diferenças significativas no número de eventos funcionais entre os grupos. Assim, a diferença significativa no número de eventos de apertamento observada entre os grupos sugere que o apertamento diurno autorrelatado pode ser considerado um parâmetro diagnóstico confiável para o bruxismo em vigília.
2.8 TRATAMENTO E MÉTODOS COMPORTAMENTAIS
Até o presente momento, nenhum tratamento disponível para o bruxismo demonstrou ser totalmente eficaz. Contudo, a literatura especializada menciona diversas abordagens que buscam controlar e mitigar essa condição, apresentando níveis variados de eficácia (Klasser et al., 2015). Ommerborn et al. (2017) conduziram um estudo que investigou os efeitos de uma placa oclusal em comparação ao tratamento cognitivo-comportamental na atividade do bruxismo do sono, com o intuito de avaliar a eficácia do tratamento cognitivo-comportamental (CBT). O estudo comparou um grupo que utilizou a placa oclusal (OS), composto por 29 indivíduos, com um grupo submetido ao tratamento CBT, que incluía 28 pacientes diagnosticados com bruxismo. O tratamento foi realizado ao longo de um período de 12 semanas, durante o qual o grupo de OS recebeu acompanhamento psicológico. Ambos os grupos foram avaliados antes do tratamento, após o tratamento e seis meses depois, em relação à atividade do bruxismo. As análises revelaram uma redução significativa na atividade do bruxismo; no entanto, os efeitos observados foram modestos, e não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos para qualquer variável dependente. Este estudo representou uma tentativa inicial de comparar CBT e OS em pacientes com bruxismo, indicando a necessidade de investigações controladas adicionais para verificar os efeitos dos tratamentos.
Já Sato et al. (2015) realizaram uma investigação sobre o uso de biofeedback eletromiográfico (EMG BF) com o objetivo de avaliar tanto o bruxismo do sono (BS) quanto o bruxismo em vigília (BV). Doze participantes do sexo masculino, com idades entre 23 e 31 anos e que apresentavam sintomas subjetivos de BV e BS, foram aleatoriamente divididos em dois grupos: o grupo de Bruxismo (n = 7) e o grupo controle (CO) (n = 5). Os participantes foram submetidos a gravações de EMG durante o dia e à noite ao longo de três semanas consecutivas. Embora o número de eventos EMG tônicos não tenha mostrado diferenças estatisticamente significativas entre as semanas 1 a 3 no grupo controle, houve uma redução significativa nos eventos nas semanas 2 e 3 em comparação com a semana 1 no grupo de Bruxismo, tanto diurna quanto noturna (p < 0,05, teste de Scheffé). Os resultados sugerem que o EMG BF pode ser utilizado para melhorar a atividade do BV e pode fornecer uma abordagem eficaz para regular os eventos de EMG relacionados ao BS.
Jadidi et al. (2018) realizaram um estudo para investigar o efeito dos estímulos elétricos de condicionamento na atividade eletromiográfica do músculo temporal durante o sono, com o objetivo de aplicar um novo dispositivo inteligente de biofeedback (Grindcare®), que utiliza pulsos elétricos para inibir a atividade de EMG nesse músculo durante o sono. O estudo incluiu 14 indivíduos com bruxismo, dor muscular mandibular ao despertar e desgaste dental visível. A atividade EMG do músculo temporal foi registrada, analisada em tempo real e o conteúdo de frequência determinado por meio de um algoritmo de reconhecimento de sinal.
Todos os participantes tiveram gravações de EMG basais realizadas durante cinco a sete noites consecutivas, seguidas de gravações EMG com feedback ativado durante três semanas, sem feedback por duas semanas e, finalmente, mais três semanas com biofeedback. Não foram observados efeitos de sessão sobre a duração média das horas de sono (p = 0,626). O número de episódios de EMG por hora de sono foi significativamente reduzido durante as duas sessões com biofeedback (54 ± 14%; 55 ± 17%; p < 0,001) em comparação com a atividade EMG basal e a sessão sem biofeedback. Este estudo sugere que o biofeedback utilizando pulsos elétricos não causa distúrbios significativos no sono e está associado a uma redução acentuada na atividade eletromiográfica do músculo temporal durante o sono.
2.9 APARELHOS OCLUSAIS
Ommerborn et al. (2017) conduziram uma investigação sobre os efeitos de aparelhos oclusais rígidos e flexíveis na atividade muscular noturna associada ao bruxismo. O estudo incluiu 10 participantes, e a atividade muscular foi monitorada enquanto utilizavam tanto aparelhos oclusais rígidos quanto flexíveis. Os resultados mostraram que o aparelho oclusal rígido reduziu significativamente a atividade muscular em oito dos dez participantes, enquanto o aparelho oclusal flexível resultou em uma diminuição na atividade muscular apenas em um participante; em cinco indivíduos, esse aparelho aumentou significativamente a atividade muscular. Os autores concluíram que os aparelhos oclusais flexíveis podem elevar a atividade eletromiográfica em 50% dos pacientes avaliados.
Já Magdaleno e Ginestal (2020) realizaram um estudo sobre os efeitos dos aparelhos oclusais de estabilização em pacientes com distúrbios temporomandibulares (DTM) e bruxismo. Através de uma revisão da literatura, identificaram três casos clínicos nos quais o uso do aparelho oclusal de estabilização resultou em alterações oclusais irreversíveis. Os autores também relataram que o uso desses aparelhos impactou negativamente a relação do disco condilar em pacientes com deslocamento do disco com redução, além de afetar as características respiratórias em indivíduos com apneia do sono. Concluíram que o aparelho pode induzir modificações na postura corporal, mas ressaltaram a necessidade de mais estudos para validar esses achados, destacando que as repercussões clínicas dessas alterações ainda são mal compreendidas.
Klasser et al. (2020) investigaram o uso de placas oclusais (OAs) em pacientes com bruxismo do sono, com o objetivo de avaliar as alterações no apertamento dental associadas a esses dispositivos. Realizou-se uma revisão da literatura sobre o tema, concluindo que originalmente, essas placas foram desenvolvidas como uma medida temporária para auxiliar dentistas na análise de relações dentárias inadequadas. Os autores constataram que a função básica das placas oclusais é proteger os dentes e, simultaneamente, reduzir a atividade muscular durante o sono.
Harada et al. (2016) também conduziram um estudo para verificar os efeitos da placa oclusal e do aparelho de estabilização (SS) em pacientes com bruxismo do sono. A amostra foi composta por 16 indivíduos diagnosticados com bruxismo, cuja atividade muscular do masseter direito foi avaliada por meio de EMG, registrando dados durante três noites em cinco períodos: antes da colocação dos aparelhos, imediatamente após, e 2, 4 e 6 semanas após a inserção. Antes do tratamento, a média de eventos de bruxismo foi de 2,98 ± 1,61 episódios por hora. Os resultados demonstraram que ambos os tipos de dispositivos oclusais reduziram significativamente a atividade do bruxismo do sono logo após a inserção, com significância estatística verificada pelo teste ANOVA (p < 0,05); no entanto, nenhuma redução foi observada em 2, 4 ou 6 semanas subsequentes (p > 0,05). Não houve diferenças estatísticas significativas nos efeitos do bruxismo entre a placa oclusal e o dispositivo SS. Assim, os autores concluíram que ambos os aparelhos foram eficazes na redução das atividades eletromiográficas do masseter associadas ao bruxismo, sendo esse efeito transitório.
Ao passo que, Ommerborn et al. (2021) realizaram um estudo para determinar quais terapias são mais comumente empregadas por cirurgiões-dentistas (CD) e especialistas no tratamento do bruxismo. Um questionário composto por 13 itens foi distribuído a todos os membros ativos do plano de saúde odontológico da Renânia do Norte (n = 5500; lista de 2016) e da região de Westphalia-Lippe (n = 4984; lista de 2016). Os resultados indicaram que a placa de bruxismo foi a terapia mais frequentemente prescrita para o tratamento dessa condição, seguida por técnicas de relaxamento, equilíbrio oclusal, fisioterapia e reconstrução oclusal. Além disso, ao comparar as opiniões dos CDs com as dos especialistas sobre a afirmação de que “o bruxismo do sono é causado por interferências oclusais”, foi observada uma diferença significativa entre os dois grupos (p = 0,021). Oitenta e cinco por cento dos especialistas discordaram dessa afirmação, enquanto apenas 47,7% dos CDs concordaram. Os autores concluíram que a maioria dos dentistas está alinhada com as recomendações científicas atuais, acreditando que o tratamento do bruxismo deve ser conservador e reversível; no entanto, o estudo também identificou divergências de opinião entre os CDs e os especialistas em relação às terapias mais frequentemente prescritas. As placas oclusais se destacaram como a abordagem mais utilizada para o tratamento do bruxismo. Como conclusão geral, os autores enfatizaram a necessidade de aprimorar o conhecimento sobre bruxismo entre os clínicos gerais.
2.10 TERAPIA MEDICAMENTOSA
Etzel et al. (1991) conduziram um estudo com a finalidade de avaliar os efeitos do L-triptofano no bruxismo do sono (BS). A amostra foi composta por 8 pacientes diagnosticados com BS, que foram avaliados por meio de eletromiografia (EMG). O estudo foi realizado em um desenho duplo-cego e randomizado, no qual os participantes receberam L-triptofano (50 mg/kg) ou um placebo durante 8 dias, seguidos de mais 8 dias com a troca dos tratamentos. Os resultados não revelaram diferenças significativas entre as duas intervenções, sugerindo que o uso de L-triptofano é ineficaz no tratamento do bruxismo do sono.
Já Mohamed et al. (1997) realizaram uma investigação para avaliar a eficácia da amitriptilina no tratamento do bruxismo. O estudo utilizou um desenho duplo-cego e randomizado, onde dez adultos com bruxismo do sono receberam amitriptilina (25 mg por noite) e um placebo (25 mg por noite) durante um período de uma semana. Não foram observadas diferenças significativas em relação à intensidade e à localização da dor, nem na atividade EMG do músculo masseter com o uso de amitriptilina. Portanto, os autores concluíram que esse medicamento não é recomendado para o controle da dor e tratamento do bruxismo.
Huynh et al. (2016) conduziram uma revisão da literatura focada nos tratamentos disponíveis para o bruxismo do sono de forma multidisciplinar. A análise incluiu estudos randomizados e controlados que avaliaram 7 tratamentos farmacológicos e 3 dispositivos bucais. O número necessário para tratar (NNT) foi calculado com base em dados brutos do laboratório do sono do Hôpital du Sacré-Coeur, em Montreal, ou de artigos publicados. O tamanho do efeito (ES) foi determinado para todos os estudos incluídos. Nos tratamentos mais eficazes, o NNT variou de 1 a 4, enquanto um ES elevado foi considerado acima de 0,8. Os tratamentos com os melhores resultados em termos de NNT e ES foram o dispositivo de avanço mandibular (MAD) e a clonidina, apresentando NNT (+/- 95% IC) e ES de 2,2 (1,4 a 5,3) e 1,5 para o MAD, e 3,2 (1,7 a 37,3) e 0,9 para a clonidina, respectivamente. Um NNT de 3,8 (1,9 a 69,4) e um ES de 0,6 foram observados com a placa oclusal para bruxismo, resultando em uma redução de 42% no índice de bruxismo. O NNT não pôde ser calculado para o clonazepam, embora o ES tenha sido de 0,9. Embora os resultados de NNT e ES sugiram que o MAD e a clonidina sejam os tratamentos experimentais mais promissores, ambos foram associados a efeitos colaterais, como desconforto durante a ressonância magnética, supressão do sono REM e hipotensão matinal no caso da clonidina. A placa de bruxismo e o clonazepam parecem ser alternativas aceitáveis a curto prazo, embora ensaios clínicos randomizados sejam necessários para validar esses achados.
Saletu et al. (2015) realizaram um estudo sobre a farmacoterapia do bruxismo do sono, investigando os efeitos agudos do clonazepam no BS. Participaram da pesquisa 10 pacientes que já haviam recebido tratamento com placa oclusal. Após uma noite de adaptação, os pacientes foram submetidos a um tratamento com placebo e 1 mg de clonazepam, administrado 30 minutos antes de dormir. Em comparação ao placebo, a administração de 1 mg de clonazepam resultou em uma redução significativa no índice médio de bruxismo, passando de 9,3 para 6,3 episódios por hora de sono. Além disso, houve melhorias no período total de sono, no tempo total de sono, na eficiência do sono, na latência do sono e na quantidade de tempo acordado durante o período total de sono, além de um aumento no tempo de sono e nos movimentos durante o estágio 2. O estudo demonstrou que a administração de 1 mg de clonazepam promoveu uma melhoria significativa tanto no índice de bruxismo quanto na qualidade do sono. Os autores concluíram que o clonazepam pode reduzir os sintomas do bruxismo do sono, apresentando boa tolerabilidade entre os pacientes.
2.11 TOXINA BUTOLINICA
Tinastepe e Küçük (2015) realizaram uma revisão da literatura focada no uso da toxina botulínica para o tratamento do bruxismo, com o objetivo de fornecer uma visão geral que esclarecesse os conceitos fundamentais referentes a essa abordagem terapêutica, embasada em trabalhos científicos disponíveis. A pesquisa foi conduzida no PubMed para identificar artigos relevantes sobre a toxina botulínica e sua aplicação no bruxismo, além de localizar estudos adicionais. Um total de 11 estudos relacionados ao tema foi identificado, dos quais apenas 2 eram ensaios controlados randomizados que compararam a eficácia das toxinas botulínicas na redução da frequência de episódios de bruxismo e da dor miofascial após as injeções. Os resultados desses estudos indicaram que a toxina botulínica pode ser utilizada para diminuir tanto o bruxismo do sono quanto a dor miofascial em pacientes afetados por bruxismo. A revisão concluiu que são necessários mais estudos randomizados e controlados para validar a segurança e a confiabilidade da toxina botulínica para o uso clínico rotineiro no tratamento do bruxismo, uma vez que a pesquisa baseada em evidências sobre este tópico é ainda limitada.
Lee et al. (2020) conduziram um estudo sobre a aplicação da toxina botulínica no bruxismo do sono, com o objetivo de avaliar os efeitos da injeção desse composto na gestão do bruxismo. O estudo incluiu 12 participantes diagnosticados com bruxismo, envolvidos em um ensaio clínico duplo-cego e randomizado. Seis indivíduos receberam injeções de toxina botulínica em ambos os músculos masseteres, enquanto os outros seis foram tratados com solução salina. A atividade eletromiográfica dos músculos masseter e temporal foi registrada antes da injeção, e posteriormente aos 4, 8 e 12 semanas após a aplicação, sendo usada para calcular a frequência dos episódios de bruxismo. O número de eventos de bruxismo no músculo masseter apresentou uma diminuição significativa no grupo que recebeu a toxina botulínica (p = 0,027). No entanto, no músculo temporal, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos ou nas avaliações realizadas. Os sintomas subjetivos de bruxismo diminuíram em ambos os grupos após a injeção (p < 0,001). Os autores sugeriram que a injeção de toxina botulínica reduziu o número de episódios de bruxismo, possivelmente através da diminuição da atividade muscular, ao invés de uma ação no sistema nervoso central. Este estudo controlado fornece suporte para o uso da injeção de toxina botulínica como uma intervenção eficaz no tratamento do bruxismo do sono.
Na pesquisa de Long et al. (2022) realizaram uma revisão da literatura sobre a toxina botulínica e o bruxismo, com o intuito de avaliar a eficácia das toxinas botulínicas no tratamento desta condição. A pesquisa incluiu bancos de dados eletrônicos como PubMed, Embase e Science Citation Index, além de sites como Cochrane Central Register of Controlled Trials e ClinicalTrials.gov, totalizando 28 estudos do PubMed, 94 da Embase, 60 do Science Citation Index, bem como dois ensaios clínicos em andamento e dois do Cochrane Central Register of Controlled Trials. Contudo, apenas quatro estudos atenderam aos critérios de inclusão e foram finalmente analisados. Esses estudos demonstraram que as injeções de toxina botulínica podem reduzir a frequência dos episódios de bruxismo, diminuir a dor induzida pela condição e satisfazer a autoavaliação dos pacientes quanto à eficácia do tratamento. Em comparação com o uso de aparelhos oclusais, as toxinas botulínicas mostraram-se igualmente eficazes no manejo do bruxismo. Além disso, as injeções de toxina botulínica em doses inferiores a 100 unidades foram consideradas seguras para pacientes saudáveis. Portanto, as injeções de toxina botulínica são eficazes no tratamento do bruxismo e sua utilização é segura, o que as torna viáveis para aplicação clínica em pacientes saudáveis que sofrem dessa condição.
2.12 ACUPUNTURA E BRUXISMO
Santos et al. (2017) realizaram uma revisão sobre a utilização da acupuntura no tratamento da dor orofacial em pacientes com bruxismo, com o intuito de demonstrar a eficácia dessa terapia na analgesia para indivíduos afetados por essa condição. Para a pesquisa, foram consultadas as bases de dados Medline, Lilacs e PubMed, que evidenciaram o mecanismo de ação e a efetividade da acupuntura na dor associada ao bruxismo. Os artigos selecionados indicaram que, embora o mecanismo de ação da acupuntura não esteja completamente elucidado, essa prática promove a liberação endógena de mediadores químicos, como opióides, cortisona e acetilcolina, que contribuem para a redução da dor. Dessa forma, a acupuntura pode ser considerada uma alternativa viável no manejo da dor facial crônica e miofascial, incluindo aquelas decorrentes do bruxismo.
Dallanora et al. (2024) conduziram um estudo que avaliou a aplicação de acupuntura no tratamento de pacientes com bruxismo, com o objetivo de investigar a redução da atividade muscular em repouso. A amostra foi composta por 15 pacientes, todos submetidos a exames eletromiográficos antes e após uma sessão de acupuntura, com avaliações realizadas nos cinco dias subsequentes ao tratamento. Os resultados mostraram que entre 66% a 73% dos pacientes apresentaram uma diminuição significativa na atividade dos músculos temporais anteriores e masseteres (p < 0,05) 60 horas após a sessão de acupuntura. Especificamente, no músculo temporal anterior direito, a redução de atividade foi de 66% às 60 horas e 66% às 84 horas; no músculo temporal esquerdo, a redução foi de 73% às 60 horas e 80% às 84 horas. Para o músculo masseter direito, a diminuição ocorreu em 60% após 12 horas, 73% após 60 horas e 73% após 108 horas. No músculo masseter esquerdo, a redução foi de 66% após 60 horas, 60% após 84 horas e 86% após 108 horas. Os autores concluíram que a acupuntura é eficaz na diminuição da atividade muscular dos músculos mastigatórios, embora enfatizem a necessidade de mais investigações para confirmar a eficácia desse tratamento específico para o bruxismo.
Esteves et al. (2017) conduziu também um estudo sobre a aplicação da acupuntura no manejo do bruxismo. Foram selecionados 10 pacientes diagnosticados com bruxismo, que apresentavam dor nos músculos masseter e temporal e/ou desgaste dentário. Todos os participantes foram submetidos a sessões de acupuntura de 30 minutos, totalizando até 10 sessões. Os resultados indicaram que, após aproximadamente cinco sessões, 7 dos pacientes relataram melhora significativa na dor e na fadiga dos músculos mastigatórios, além de um relaxamento perceptível desses músculos. Os autores concluíram que a acupuntura pode promover a melhora dos sintomas associados ao bruxismo, destacando sua natureza não invasiva como uma vantagem adicional.
3 METODOLOGIA
A metodologia deste artigo foi desenvolvida para conduzir uma revisão sistemática da literatura sobre as implicações do bruxismo na saúde bucal e geral, abordando aspectos relacionados ao diagnóstico, tratamento e estratégias preventivas. A revisão abrangeu publicações de 1981 a 2024, com o objetivo de consolidar o conhecimento atual sobre essa condição. Inicialmente, a questão de pesquisa foi definida como: “Quais são as implicações do bruxismo na saúde bucal e geral, e quais métodos diagnósticos, tratamentos e estratégias preventivas estão disponíveis entre 1981 e 2024. Essa questão orientou todas as etapas subsequentes da pesquisa.
Os critérios de inclusão e exclusão foram estabelecidos para garantir a relevância e a qualidade dos estudos selecionados. Os artigos incluídos deveriam ser publicações em periódicos revisados por pares, focados em aspectos do bruxismo, e ter sido publicados no intervalo de 1981 a 2024. Além disso, os estudos deveriam envolver populações humanas. Por outro lado, foram excluídos artigos que não apresentassem dados originais, revisões não sistemáticas, ou que estivessem em idiomas diferentes do português, inglês ou espanhol, bem como aqueles que abordassem condições não relacionadas ao bruxismo.
Uma busca abrangente foi realizada em bases de dados eletrônicas, como PubMed, Scopus, Web of Science e Google Scholar. As palavras-chave utilizadas incluíram termos como “bruxismo”, “saúde bucal”, “diagnóstico”, “tratamento” e “prevenção”, sendo as estratégias de busca adaptadas para cada base de dados por meio da utilização de operadores booleanos (AND, OR) para refinar os resultados obtidos.
Os artigos identificados foram inicialmente avaliados com base em seus títulos e resumos, seguindo-se a uma seleção mais detalhada que considerou os critérios estabelecidos. Para garantir a imparcialidade, dois revisores independentes analisaram a elegibilidade dos artigos, e qualquer divergência entre eles foi resolvida por meio de consenso ou pela consulta a um terceiro revisor.
A extração de dados relevantes dos estudos selecionados foi realizada de maneira sistemática. As informações coletadas incluíram características dos participantes (como idade e sexo), métodos diagnósticos utilizados, tratamentos aplicados e sua eficácia, além das estratégias preventivas recomendadas. Para organizar e sistematizar esses dados, foi criada uma planilha que facilitou a comparação entre os diferentes estudos.
A análise dos dados extraídos foi realizada qualitativamente, permitindo a identificação de padrões, tendências e lacunas na literatura existente sobre o bruxismo. Durante essa análise, foi considerada a qualidade metodológica dos estudos, classificando as evidências de acordo com sua robustez e confiabilidade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O bruxismo configura-se como um dos principais desafios enfrentados pela odontologia contemporânea. Diversas definições foram propostas ao longo do tempo. Embora Marie e Pietkiewicz (1907) tenham introduzido essa temática na literatura francesa em 1901, o primeiro sistema de classificação formalmente estabelecido foi desenvolvido por Miller em 1936. Os autores mencionados utilizaram o termo “bruxomanie” para referir-se ao bruxismo de forma geral, enquanto Miller (1936) restringiu seu uso ao bruxismo diurno. Recentemente, um consórcio internacional de especialistas publicou na edição mais atual do ICSD (ICSD-3) (American Academy of Sleep Medicine, 2024) uma definição simplificada e universal do bruxismo, com a finalidade de estabelecer um consenso sobre o tema. Assim, definiu-se que o bruxismo é uma atividade repetitiva dos músculos mastigatórios, caracterizada pelo apertamento ou rangido dos dentes, pelo travamento da mandíbula ou pelo ato de empurrá-la.
A literatura apresenta considerável disparidade em relação à epidemiologia do bruxismo, o que pode ser atribuído à faixa etária estudada, aos tipos de bruxismo e aos critérios diagnósticos utilizados (Manfredini et al., 2023). Glaros (1981) relatou que o bruxismo em vigília ocorre com maior frequência do que o bruxismo do sono, sendo mais prevalente entre homens na vigília e entre mulheres no sono. Em contrapartida, Manfredini et al. (2023) e Ohayon et al. (2021) afirmam que o bruxismo do sono não apresenta predisposição de gênero. A prevalência do bruxismo em adultos é de 8% (31,4%), sem distinção entre as variantes de sono e vigília, com uma tendência de diminuição à medida que a idade avança (Manfredini et al., 2023).
Em relação à etiologia do bruxismo, a literatura revela divergências em vários aspectos, mas há consenso sobre sua associação com fatores emocionais, como depressão, estresse, distúrbios do sono e outras experiências vivenciadas pelo indivíduo, caracterizando-o como de etiologia multifatorial. Durante a década de 1960, os fatores relacionados à oclusão e à anatomia ganharam destaque como potenciais causas do bruxismo (Klasser et al., 2015). No entanto, Lobbezoo et al. (2022) conduziram uma revisão abrangente e afirmaram que, até o presente momento, não existem evidências que comprovem uma relação causal entre bruxismo e oclusão. Segundo Manfredini et al. (2022), os fatores anatômicos e estruturais periféricos desempenham um papel insignificante na patogênese do bruxismo.
Fatores genéticos também são mencionados na literatura como possíveis determinantes da etiologia do bruxismo. Embora Carra et al. (2022) relatem que a hereditariedade apresenta uma correlação fraca com o bruxismo do sono, Lobbezoo et al. (2024), Abe et al. (2022) e Rintakoski et al. (2022) sustentam que a genética pode ter um papel relevante na etiologia do bruxismo.
Adicionalmente, a relação entre bruxismo e fatores psicológicos é objeto de controvérsias. Karakoulaki e Andreadis (2015) sugeriram que níveis elevados de estresse psicológico estão associados a uma maior atividade do bruxismo, uma afirmação corroborada por Pingitore et al. (1991), que indicam que fatores físicos e psicológicos se correlacionam com o bruxismo. Indivíduos que apresentam alta atividade de bruxismo frequentemente reportam níveis elevados de estresse em suas rotinas diárias e no ambiente de trabalho (Giraki et al., 2020). Entretanto, Bayar et al. (2022) demonstraram que não houve diferenças significativas nos fatores psicológicos entre indivíduos com e sem bruxismo. Além disso, uma revisão sistemática realizada por Manfredini et al. (2019) concluiu que não existem evidências que sustentem uma relação entre o bruxismo do sono e fatores psicológicos.
Pesquisas indicam uma relação entre distúrbios associados a neurotransmissores, como dopamina, adrenalina e noradrenalina, e a etiologia do bruxismo (Carra et al., 2022). Lobbezoo et al. (2021) afirmaram que distúrbios relacionados à dopamina podem estar implicados na etiologia do bruxismo. Alencar, Martins e Vieira (2024) destacaram que a concentração de catecolaminas urinárias está diretamente relacionada a episódios de bruxismo. De acordo com Lobbezoo et al. (1997), o sistema dopaminérgico central pode influenciar a modulação do bruxismo do sono, sugerindo que a forma iatrogênica do bruxismo pode resultar do uso crônico de medicamentos que afetam o sistema dopaminérgico, enquanto o bruxismo idiopático pode ser suprimido por agonistas da dopamina em uso agudo.
Klasser et al. (2015) consideram o bruxismo do sono, atualmente, como um distúrbio do movimento relacionado ao sono. Lavigne et al. (2023) argumentam que o bruxismo do sono pode ser uma manifestação extrema da atividade muscular mastigatória que ocorre durante o sono em muitos indivíduos normais. As parafunções, tanto durante a vigília quanto durante o sono, estão associadas a problemas de sono e comportamentais (Carra et al., 2021). O padrão típico de atividade eletromiográfica (EMG) em pacientes com bruxismo é caracterizado como atividade muscular mastigatória rítmica (RMMA) (Carra et al., 2022), sendo que a maioria dos episódios de RMMA ocorre em associação com a excitação do sono, precedidos pela ativação fisiológica dos sistemas nervoso central e simpático (Carra et al., 2023). A ocorrência do bruxismo do sono é controversa em relação às fases do sono (Gouveia et al., 1996), mas é mais frequentemente detectada nos estágios 1 e 2 do sono não-REM (Macaluso et al., 1998). Gouveia et al. (1996) indicaram uma predominância do bruxismo nos estágios 1 e 2 do sono não-REM, com uma incidência menor nos estágios 3 e 4 do mesmo ciclo.
No que diz respeito ao diagnóstico do bruxismo, o desgaste dentário é frequentemente considerado um indicativo clássico da condição; no entanto, não deve ser utilizado como único critério diagnóstico. Segundo Ekfeld et al. (1990) e Khan et al. (1998), o desgaste dentário não está necessariamente associado ao bruxismo. Ekfeld et al. (1990) afirmam que o bruxismo contribui apenas com 3% dos casos de desgaste dentário, enquanto Khan et al. (1998) sugerem que o desgaste está mais relacionado à erosão dentária do que à atrição decorrente do bruxismo. Johansson et al. (2018) corroboram essa visão, indicando que o impacto do bruxismo no desgaste dentário é inferior ao que se havia anteriormente estimado.
Conforme Carra et al. (2022), para estabelecer um diagnóstico preciso de bruxismo, é essencial a coleta de dados eletromiográficos (EMG) dos músculos mastigatórios, em combinação com gravações de áudio e vídeo. O uso da polissonografia (PSG) pode reduzir a margem de erro no diagnóstico (Von-Zuben e Cibele, 2024). Um estudo realizado por Trindade e Rodriguez (2024) sobre a análise polissonográfica do bruxismo concluiu que a polissonografia é uma ferramenta eficaz para o diagnóstico do bruxismo do sono. Essa metodologia polissonográfica foi avaliada como um método eficaz e de baixo custo para confirmar hábitos oclusais parafuncionais durante o sono (Tosun, Karabuda e Cuhadaroglu, 2023), sendo considerada um padrão ouro na investigação de distúrbios do sono (Carra et al., 2022; Maluly et al., 2023).
Adicionalmente, dispositivos portáteis que detectam a atividade EMG, bem como sistemas de polissonografia ambulatorial, são utilizados para avaliar a atividade do bruxismo (Carra et al., 2022). O diagnóstico do bruxismo do sono por meio de gravadores EMG/ECG portáteis é considerado confiável e viável para identificar eventos eletromiográficos do músculo masseter que indiquem a atividade do bruxismo (Shochat et al., 2017; Castroflorio et al., 2015). Esses dispositivos oferecem vantagens, como a possibilidade de realizar a avaliação do sono em casa e a redução de custos (Carra et al., 2022). Eles são simples e confiáveis, não apenas para o diagnóstico do bruxismo do sono, mas também para a realização de pesquisas (Castroflorio et al., 2024). De acordo com Ommerborn et al. (2015), a utilização desses dispositivos é clinicamente adequada, objetiva e aplicável para a detecção do bruxismo do sono.
Para o diagnóstico do bruxismo em vigília, o autorrelato apresenta-se como um método confiável (Fujisawa et al., 2023). Contudo, muitas pessoas não têm consciência de seus hábitos, o que pode dificultar a utilização de questionários (Kawakami et al., 2024). Além do autorrelato e dos questionários, a utilização de EMG portátil durante o dia, em ambientes de trabalho e escolares, também pode ser uma alternativa viável para o diagnóstico do bruxismo em vigília (Fujisawa et al., 2023).
Em relação ao bruxismo em vigília, foi identificado que um fator periférico, o colapso oclusal progressivo, pode estar associado a essa condição, diferenciando-a do bruxismo do sono (Kawakami et al., 2024). A perda múltipla de dentes pode estar ligada à parafunção muscular mastigatória durante a vigília, mas não à parafunção observada no sono (Kawakami et al., 2017). Há indícios de que a relevância dos fatores psicológicos e emocionais varia entre pacientes com bruxismo em vigília e aqueles com bruxismo do sono (Manfredini e Lobbezoo, 2019). Bayar et al. (2022) relataram que indivíduos com bruxismo em vigília apresentaram níveis de ansiedade superiores aos observados em pacientes com bruxismo do sono. Adicionalmente, um estudo indicou que indivíduos com fobia social possuem um risco aumentado de desenvolver bruxismo em vigília (Hermesh et al., 2015). As diferenças entre bruxismo do sono e bruxismo em vigília também são evidentes em achados relacionados ao sono. Serra-Negra et al. (2024) observaram que pessoas com bruxismo em vigília relataram mais distúrbios do sono e menor eficiência do sono em comparação àquelas que não apresentavam qualquer tipo de bruxismo.
Quanto ao tratamento, atualmente não existe uma terapia que promova a cura definitiva do bruxismo. A terapia cognitivo-comportamental pode ser aplicada a ambos os tipos de bruxismo, mas os efeitos a longo prazo não são significativos (Ommerborn et al., 2015). Entretanto, acredita-se que essa abordagem possa ter um impacto mais relevante no bruxismo em vigília, uma vez que os fatores psicológicos se mostram mais proeminentes nessa forma da condição. O biofeedback, uma forma de terapia cognitivo-comportamental, tem o potencial de modificar comportamentos. Jadidi et al. (2018) introduziram um dispositivo inovador denominado “biofeedback inteligente”, que demonstrou eficácia ao reduzir a atividade do bruxismo sem interferir na qualidade do sono.
Os aparelhos oclusais são outra modalidade terapêutica utilizada no tratamento do bruxismo. A placa de bruxismo é a abordagem mais comum, embora seu mecanismo de ação não esteja completamente elucidado (Ommerborn et al., 2021). Harada et al. (2016) relataram que o uso de placas de bruxismo, com ou sem recobrimento oclusal, se mostrou eficaz no manejo do bruxismo, apresentando resultados temporários na diminuição da atividade eletromiográfica (EMG) do músculo masseter associada ao bruxismo do sono. Em contrapartida, aparelhos oclusais flexíveis aumentaram em 50% a atividade EMG dos pacientes (Okeson et al., 1987). Além disso, Magdaleno e Ginestal (2020) observaram que o uso de aparelhos oclusais de estabilização poderia induzir a modificações posturais. Klasser et al. (2020) realizaram uma revisão da literatura e concluíram que os aparelhos oclusais não resolvem os eventos do bruxismo do sono, mas desempenham um papel fundamental na proteção dental durante a atividade de bruxismo.
Diversos medicamentos, incluindo benzodiazepínicos (como clonazepam), fármacos relacionados à dopamina (como L-dopa), medicamentos cardioativos (como clonidina e propranolol) e agentes que atuam na serotonina (como amitriptilina e triptofano), foram testados para auxiliar no controle do bruxismo. Huynh et al. (2016) identificaram a clonidina como a opção farmacológica mais promissora, pois reduziu a ocorrência do bruxismo e inibiu a ativação dos eventos autônomos e motores associados, embora apresentasse risco de hipotensão, sendo aceitável apenas a curto prazo. O propranolol, por sua vez, não demonstrou eficácia no manejo do bruxismo (Huynh et al., 2016). Etzel et al. (1991) relataram que o triptofano também é ineficaz no tratamento do bruxismo do sono, assim como a amitriptilina, que segundo Mohamed et al. (1997), não é recomendada para controle da dor ou tratamento do bruxismo. Em contrapartida, a administração de 1 mg de clonazepam mostrou-se eficaz na redução dos efeitos do bruxismo do sono (Saletu et al., 2015), e a L-dopa resultou em uma diminuição moderada dos episódios de bruxismo (Lobbezoo et al., 1997). Apenas 1% dos pacientes com bruxismo do sono recebe tratamento medicamentoso (Ommerborn et al., 2021).
A toxina botulínica demonstrou ser uma opção eficaz, segura e confiável para o uso clínico no tratamento do bruxismo (Tinastepe et al., 2015). Outra revisão da literatura indicou que as injeções de toxina botulínica são efetivas no manejo do bruxismo e seguras para aplicação (Long et al., 2022), sugerindo que a injeção de toxina botulínica pode reduzir a frequência dos episódios de bruxismo e a atividade muscular, tornando-se uma alternativa viável de tratamento para a condição (Lee et al., 2020).
A acupuntura também é utilizada como estratégia terapêutica para o bruxismo. Embora mais estudos sejam necessários para comprovar sua eficácia, a acupuntura demonstrou a capacidade de diminuir a atividade dos músculos mastigatórios (Dallanora et al., 2024). Segundo Esteves, pacientes relataram melhorias na dor e fadiga dos músculos mastigatórios a partir da quinta sessão de acupuntura. Apesar de seu mecanismo de ação não estar completamente esclarecido, a acupuntura pode promover a liberação endógena de mediadores químicos, como opioides, cortisona e acetilcolina, contribuindo para a redução da dor, o que a torna uma alternativa no tratamento da dor facial crônica e miofascial relacionada ao bruxismo (Santos et al., 2017). Além disso, a acupuntura é considerada uma terapia não invasiva (Esteves et al., 2017).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo permitiu chegar a várias conclusões significativas sobre o bruxismo, um distúrbio que apresenta desafios no diagnóstico e tratamento. Primeiramente, observa-se que ainda não há um consenso sobre a definição precisa do bruxismo, o que dificulta a comunicação entre profissionais da saúde, assim como o diagnóstico e o acompanhamento de pacientes afetados. Essa falta de acordo também se estende à prevalência dos diferentes tipos de bruxismo, evidenciando a necessidade de pesquisas mais aprofundadas.
Adicionalmente, foi constatado que o bruxismo do sono se caracteriza como um evento completamente involuntário e é classificado como um distúrbio do movimento relacionado ao sono, enquanto o bruxismo em vigília parece assumir um caráter semi-voluntário. Essa distinção sugere que diferentes mecanismos podem estar em jogo em cada tipo de bruxismo, implicando a necessidade de abordagens diagnósticas e terapêuticas específicas. Os fatores relacionados ao sono foram identificados como as principais hipóteses etiológicas do bruxismo do sono. O diagnóstico dessa condição baseia-se em relatos de rangido dental, na presença de sinais e sintomas clínicos, e é confirmado por meio de dados eletromiográficos (EMG) dos músculos mastigatórios. No entanto, é importante ressaltar que o desgaste dentário não deve ser considerado um critério diagnóstico isolado.
A polissonografia é reconhecida como o método padrão ouro para o diagnóstico do bruxismo, enquanto o autorrelato e o uso de EMG são considerados métodos confiáveis para o diagnóstico do bruxismo em vigília. Contudo, até o presente momento, não se encontrou um tratamento que seja efetivo e permanente na cura do bruxismo. Embora a terapia cognitivo-comportamental seja mencionada como uma possível abordagem terapêutica, seus efeitos a longo prazo podem ser limitados. As placas oclusais, por sua vez, desempenham um papel importante na proteção dos dentes contra o atrito durante as atividades de bruxismo. No entanto, o uso de medicamentos para tratar essa condição é pouco comum, e não há evidências suficientes que comprovem sua eficácia. Em contrapartida, terapias como a toxina botulínica e a acupuntura têm demonstrado ser opções eficazes e seguras no auxílio ao tratamento do bruxismo.
Por fim, destaca-se a responsabilidade do cirurgião-dentista no manejo de pacientes com bruxismo, ressaltando a importância de uma abordagem integrada com outras áreas da saúde para melhorar o prognóstico do tratamento. Assim, a realização de mais estudos sobre o bruxismo é essencial para promover um entendimento mais profundo dessa condição, o que poderá contribuir para o desenvolvimento de diagnósticos e tratamentos mais eficazes.
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