BIOPROSPECTING OF PHYTOCHEMICAL ANALYSES OF THE WHITE SUCUPIRA LEAF (PTERODON EMARGINATUS)
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202506121005
Luana Vitória de Almeida da Silva1
Massame de Sousa Nogueira2
Romer Antônio Carneiro de Oliveira Júnior3
Sinara de Fátima Freire dos Santos4
Guilherme Nobre Lima do Nascimento5
RESUMO
Este estudo realizou a bioprospecção fitoquímica qualitativa da folha da Sucupira Branca (Pterodon emarginatus), uma planta medicinal tradicionalmente utilizada na fitoterapia. Por meio de testes fitoquímicos de bancada, para identificação de possíveis grupos de compostos bioativos presentes nas folhas, como flavonoides, taninos, terpenóides e alcaloides. Os resultados qualitativos evidenciam a presença de metabolitos secundários, que são responsáveis por diversas atividades biológicas e terapêuticas da planta. Este levantamento fitoquímico contribui para o conhecimento sobre o potencial farmacológico da Sucupira Branca e reforça a relevância da bioprospecção de plantas medicinais na descoberta de novos princípios ativos naturais.
Palavras-chave: Pterodon emarginatus. Sucupira Branca. Análise fitoquímica qualitativa
ABSTRACT
This study performed a qualitative phytochemical bioprospecting of the leaves of Sucupira Branca (Pterodon emarginatus), a medicinal plant traditionally used in phytotherapy. Through bench phytochemical tests, to identify possible groups of bioactive compounds present in the leaves, such as flavonoids, tannins, terpenoids and alkaloids. The qualitative results evidence the presence of secondary metabolites, which are responsible for several biological and therapeutic activities of the plant. This phytochemical survey contributes to the knowledge about the pharmacological potential of Sucupira Branca and reinforces the relevance of bioprospecting of medicinal plants in the discovery of new natural active principles.
Keywords: Pterodon emarginatus. Sucupira Branca. Qualitative phytochemical analysis
1. INTRODUÇÃO
O Cerrado é reconhecido como um dos ecossistemas mais complexos e biodiversos do Brasil, sendo nesta rica matriz que se encontram espécies dotadas de elevado potencial terapêutico há séculos explorado pelo saber popular (Embrapa, 2021). A integração entre os saberes ancestrais e os recursos naturais delimita um cenário onde plantas medicinais, como a sucupira-branca (Pterodon emarginatus), se destacam não apenas pelo conhecimento popular, mas também por sua relevância no desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas (Silva, 2016).
Historicamente, comunidades locais vêm atribuindo à sucupira-branca múltiplos benefícios à saúde, fundamentados na ação de seus metabólitos secundários, tais como flavonoides, terpenóides e compostos fenólicos, os quais demonstram propriedades antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias (Silva et al., 2018; Ferreira et al., 2017; Pereira et al., 2021).
A exploração científica desta espécie tem revelado perfis fitoquímicos diferenciados entre as partes da planta, sendo que estudos indicam que as sementes possuem maior concentração de flavonoides, taninos e saponinas, enquanto as folhas apresentam predominância de sesquiterpenos e esteroides (Souza et al., 2019; Oliveira et al., 2020). Essas variações na composição química sugerem que os extratos derivados de cada parte da planta podem oferecer perfis farmacológicos distintos, justificando a necessidade de abordagens analíticas precisas por meio de técnicas cromatográficas para identificação e quantificação dos compostos de interesse (Costa et al., 2019).
Nesse contexto, a otimização dos métodos de extração, como os processos de Soxhlet, hidrodestilação e o uso do aparelho Clevenger, mostra-se essencial para maximizar o rendimento dos metabólitos, ajustando variáveis como o tipo de solvente, tempo e temperatura (Martins et al., 2020; Almeida et al., 2022). A pesquisa proposta objetiva, de maneira sistemática e mensurável, aferir o potencial fitoquímico dos extratos das sementes e folhas da sucupira-branca, correlacionando-os com atividades antimicrobianas de interesse clínico, o que pode viabilizar o desenvolvimento de novas formulações farmacêuticas.
Ao validar cientificamente o uso empírico desta planta, o estudo busca não somente comprovar a eficácia dos conhecimentos tradicionais, mas também oferecer bases robustas para a incorporação dos extratos na medicina integrativa e na farmacoterapia moderna (Lima et al., 2019). A convergência entre metodologias científicas e práticas tradicionais propicia uma análise aprofundada dos componentes bioativos, permitindo a identificação dos compostos responsáveis por efeitos terapêuticos diversos e estabelecendo uma padronização que contribui para a reprodutibilidade dos resultados (Almeida et al., 2022). Assim, ao articular as dimensões ecológica, química e farmacológica, a presente investigação reafirma o compromisso com a sustentabilidade ambiental e com a valorização dos saberes populares, demonstrando que a preservação dos recursos do Cerrado é imprescindível para o avanço de terapêuticas inovadoras e acessíveis (Santos et al., 2021).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A bioprospecção é uma ferramenta estratégica que busca explorar a biodiversidade em busca de compostos bioativos de interesse, como metabólitos secundários com potencial farmacológico, nutracêutico ou cosmético (Silva et al., 2022). No contexto da fitoterapia brasileira, o gênero Pterodon destaca-se não só por seu uso tradicional no tratamento de inflamações e processos reumáticos, mas também pela complexa composição de seus metabólitos secundários presentes em suas diversas partes, como casca, sementes e nas folhas (Bortolini et al., 2005). Tradicionalmente empregada na medicina popular, a folha da sucupira branca tem sido objeto de investigações que visam identificar os constituintes químicos responsáveis por suas ações terapêuticas (Abranches, 2015).
No caso das plantas medicinais, esse processo implica a identificação, extração e caracterização dos metabólitos secundários presentes nos tecidos vegetais (De Gutiérrez et al., 2010). Os termos “fitoquímica” e “metabólitos secundários” são centrais para essa abordagem, uma vez que os compostos produzidos pelas plantas – como flavonoides, saponinas, diterpenos e esteroides – são os principais responsáveis pelas atividades biológicas observadas (Chemane, 2019).
Entre esses compostos, os flavonoides possuem reconhecida ação antioxidante e anti inflamatória, enquanto componentes lipídicos, como os diterpenos, têm sido associados a atividades antimicrobianas e analgésicas (Pereira et al., 2021). Essas classes químicas não só contribuem para a defesa natural da planta contra agentes patogênicos e estresses ambientais, como também podem ser exploradas para o desenvolvimento de novos fármacos (Santos et al., 2010). Assim, a abordagem fitoquímica proporciona uma compreensão aprofundada dos mecanismos moleculares que sustentam a eficácia terapêutica dos extratos vegetais, tornando se uma etapa primordial na pesquisa de novas opções de tratamento (Terra, 2014).
A sucupira branca, popularmente conhecida por suas diversas aplicações terapêuticas, tem chamado a atenção da comunidade científica pela sua composição fitoquímica (Dos Santos, 2023). Além disso, um estudo fitoquímico do óleo da semente da P. emarginatus realizado por De Oliveira (2020), conseguiu isolar diversos metabólitos secundários da classe do terpeno (sesquiterpeno), que inclui espatulenol (anti-inflamatório, antimicrobiano e antioxidante); β-cariofileno (ansiolíticos, anticonvulsivo, antidepressivo, anti-inflamatório, antimicrobiano, antioxidante, antitumoral e sedativo); β-elemeno (anti-inflamatório com ação neurológica e antineoplásico); δ-cadineno (anti-inflamatório, antimicrobiano e larvicida), Germacreno-D (antimicrobiano e citotoxicidade) e α-humuleno (anti-inflamatória e antitumoral).
Esses compostos são responsáveis pelas atividades analgésicas, anti-inflamatórias, antimicrobianos e antioxidantes. Adicionalmente, estudos científicos têm evidenciado as significativas propriedades antimicrobianas da sucupira (Ferreira, 2014). A presença de esteroides, flavonoides, heterosídeos e triterpenos que conferem à planta uma atividade eficaz contra diversos microrganismos patogênicos, incluindo bactérias e fungos (Hansen, 2010; Machado, 2018). O óleo essencial das sementes demonstrou ação inibitória contra Micrococcus luteus, além de atividade antifúngica contra Candida albicans, Trichophyton rubron (Machado, 2018).
Esses resultados sugerem um amplo potencial para a utilização da sucupira em formulações antimicrobianas naturais (De Oliveira, 2020). Por fim, um estudo publicado por Dutra (2009) investigou a ação antimicrobiana do extrato etanólico das sementes de sucupira contra cepas 13 bacterianas multirresistentes, demonstrando uma inibição significativa do crescimento de Staphylococcus aureus. Outro estudo, publicado por Bustamante (2010), avaliou a atividade antimicrobiana de extratos de sucupira, confirmando sua eficácia na inibição do crescimento de diversas cepas bacterianas e fúngicas. Esses estudos ressaltam o potencial terapêutico da Pterodon emarginatus como um recurso valioso na luta contra infecções microbianas.
Em um estudo realizado por Cruz (2016), as análises fitoquímicas das folhas de Pterodon emarginatus revelaram a presença de compostos esteroidais, fenóis, depsidonas, depsídios, taninos e triterpenoides. Por exemplo, trabalhos que utilizaram extração etanólica das sementes e subsequente análise por CG-MS identificaram hidrocarbonetos sesquiterpênicos – como o δ-cadineno, ß-cariofileno, α-copaeno , γ-elemeno, geranilgeraniol e α-humuleno (Lucas et al., 2018). Esses estudos corroboram a importância da folha como uma fonte alternativa de bioativos, ampliando assim o potencial utilizável da planta.
No entanto, observa-se que, embora a maioria dos trabalhos ressalte as propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas dos extratos foliares, ainda há controvérsias quanto à padronização dos métodos de extração adotados, o que pode comprometer a reprodutibilidade dos resultados. Enquanto algumas abordagens utilizam maceração a frio com solventes hidroalcoólicos, outras preferem extração assistida por ultrassom – metodologias que podem resultar em perfis químicos diversos devido a variações na solubilidade dos compostos. Essa divergência metodológica aponta para a necessidade de uma padronização mais rigorosa nos estudos, a fim de se estabelecer um consenso quanto à composição exata e à eficácia dos extratos (Dutra et al., 2009; Cavalcante et al., 2014).
3. METODOLOGIA
3.1 TIPO DE ESTUDO E COLETA DA AMOSTRA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa experimental, de natureza qualitativa, destinada à identificação dos principais grupos de metabólitos secundários presentes na folha da sucupira-branca. A planta utilizada foi fornecida pelo Herbário da Universidade do Tocantins (HUTO). Segundo os dados disponibilizados, a espécie pertence à família Fabaceae e é classificada como Pterodon emarginatus Vogel, popularmente conhecida como sucupira branca. A amostra possui procedência no estado do Tocantins, mais especificamente do município de Porto Nacional, na sub-bacia do Ribeirão São João, com as coordenadas UTM 0795496/8848991, próximo ao Assentamento Prata, em habitat de cerradão, onde a planta apresenta o hábito arbóreo com aproximadamente 9 metros de altura. O registro da amostra encontra-se sob o número 150, e sua pulverização foi realizada na data de 05/03/2025.
3.2 PREPARAÇÃO DO EXTRATO ETANÓLICO
Para o preparo do extrato etanólico, foi aplicada a técnica de maceração, considerada amplamente eficaz na extração de compostos fenólicos de origem vegetal. Inicialmente, 62 g de folhas secas e pulverizadas foram adicionados a 1 L de álcool 96% em um recipiente adequado. O processo de maceração foi conduzido por 5 dias, com agitação moderada, garantindo o contato ótimo entre o solvente e a matriz vegetal. Ao final deste período, o extrato foi submetido a rotaevaporação para a remoção parcial do solvente, concentrando os compostos solubilizados. Este procedimento assegura a integridade dos metabólitos e é amplamente citado na literatura como sendo ideal para manter a atividade dos princípios ativos (Matos, 1988; Dutra et al., 2009).
3.3 TRIAGEM FITOQUÍMICA
A identificação dos principais grupos de metabólitos secundários foi realizada através de ensaios qualitativos, baseados na metodologia proposta por Matos (1988). Os testes foram conduzidos utilizando pequenas alíquotas do extrato concentrado. A seguir, descrevem-se os procedimentos específicos adotados para cada grupo de compostos:
3.3.1 Identificação de Alcalóides
Dois miligramas do extrato foram dissolvidos em 4 mL de ácido clorídrico a 5%. Da solução resultante, foram separadas três porções de 1 mL em tubos de ensaio, aos quais foram adicionadas, respectivamente, as seguintes soluções reagentes:
Reagente Bouchardat: Observa-se a formação de um precipitado laranja avermelhado, que indicaria reação positiva;
Reagente Dragendorff: A formação de um precipitado vermelho tijolo seria o indicativo positivo;
Reagente Mayer: A formação de um precipitado branco, igualmente, indicaria a presença de alcaloides. Em todos os casos, observou-se a ausência de precipitação, classificando-se o resultado como negativo para alcaloides.
3.3.2 Identificação de Antraquinonas
Dois miligramas do extrato foram dissolvidos em 3 mL de benzeno em um tubo de ensaio grande. Em seguida, adicionou-se 2 mL de hidróxido de amônio a 10% com agitação suave. A presença de antraquinonas seria evidenciada pela formação de uma coloração rósea, vermelha ou violeta na fase aquosa. No presente estudo, não houve formação dessas colorações, caracterizando o resultado como negativo.
3.3.3 Identificação de Saponinas
Dois miligramas do extrato foram dissolvidos em 1 mL de etanol 80% e, posteriormente, diluídos até um total de 15 mL com água destilada. O preparo foi agitado vigorosamente num tubo de ensaio fechado. Caso a camada espumosa formada se mantivesse estável por mais de 30 minutos, o teste seria considerado positivo para saponinas. No experimento realizado, não se observou espuma persistente, indicando a ausência deste grupo.
3.3.4 Identificação de Taninos
Dois miligramas do extrato foram dissolvidos em 10 mL de água destilada. Imediatamente, adicionou-se uma gota de cloreto férrico a 1%. A formação de precipitado ou a mudança de cor seriam sinais definitivos da presença de taninos. Este teste apresentou resultado positivo, confirmando os taninos como o único grupo de metabólitos detectado na folha.
3.3.5 Identificação de Catequinas
Dois miligramas do extrato foram dissolvidos em 3 mL de metanol, seguido da adição de 1 mL de solução aquosa de vanilina 1% e 1 mL de ácido clorídrico concentrado. A geração de uma coloração vermelha intensa indicaria a presença de catequinas. No entanto, nenhuma coloração característica foi observada, resultando em teste negativo.
3.3.6 Identificação de Flavonoides
Dois miligramas do extrato foram dissolvidos em 3 mL de metanol. Em seguida, foram adicionadas cinco gotas de ácido clorídrico concentrado e um pedaço de aproximadamente 1 cm de fita de magnésio. O aparecimento de uma coloração rósea na solução seria indicativo da presença de flavonoides, o que não ocorreu, caracterizando o resultado como negativo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A triagem fitoquímica realizada nas folhas da sucupira-branca permitiu a identificação de classes de compostos presentes no extrato etanólico, conforme demonstrado na Tabela 1.
Os testes qualitativos empregados indicaram os seguintes resultados:

Como pode ser constatado, dentre os diversos grupos de metabólitos secundários analisados, a única classe identificada nas folhas foi a dos taninos, evidenciando um perfil fitoquímico bastante restrito neste sistema. Os demais testes para alcaloides, saponinas, catequinas, antraquinonas e flavonoides não apresentaram reação positiva, indicando uma ausência ou teores muito baixos destes compostos na matriz vegetal analisada.
Os procedimentos de extração seguiram um protocolo padronizado, onde as folhas secas foram pulverizadas e submetidas à extração com etanol 96% sob agitação, a fim de maximizar a recuperação dos metabólitos solúveis. A análise qualitativa foi conduzida utilizando reagentes específicos (por exemplo, reação com Cloreto Férrico 1% para taninos), conforme descrito por Matos (1988). Os resultados obtidos, portanto, demonstram de forma objetiva que a presença de taninos é o traço fitoquímico dominante nas folhas da sucupira branca.
A detecção de taninos nas folhas pode ter importantes implicações terapêuticas e ecológicas. Os taninos são reconhecidos por suas propriedades adstringentes, antioxidantes e anti-inflamatórias, o que corrobora relatos tradicionais sobre as aplicações medicinais da sucupira branca na redução de processos inflamatórios e na proteção celular contra o estresse oxidativo (Rodrigues et al., 2024). A ação dos taninos pode, inclusive, contribuir para a cicatrização de feridas (queimaduras e dermatoses) e para a proteção contra toxinas microbianas, reforçando seu potencial como agente fitoterápico (Abranches, 2015).
A ausência dos outros grupos de compostos – alcaloides, saponinas, catequinas, antraquinonas e flavonoides – pode ser explicada por diversos fatores. Primeiramente, é possível que a fenologia da planta influencie a biossíntese dos metabólitos (Santana et al., 2010). Estudos indicam que a expressão de certos compostos secundários pode variar significativamente conforme a época de colheita e as condições ambientais (Dutra et al., 2009). Assim, a fase de desenvolvimento das folhas durante a coleta pode ter favorecido a acumulação de taninos, em detrimento dos demais metabólitos.
Em segundo lugar, o método de extração adotado também pode ter impactado no perfil fitoquímico verificado. A escolha por etanol 96%, na maioria dos casos, é eficiente para extrair compostos lipofílicos – como terpenos e esteroides– como solvente exclusivo da extração pode ter limitado a recuperação de metabólitos mais hidrofílicos, como determinados flavonoides e catequinas, que poderiam ser extraídos de forma mais eficaz com solventes contendo uma maior proporção de água, como o etanol 70% (Dutra et al., 2009). Dessa forma, a metodologia empregada pode ter limitado a detecção desses compostos, não significando necessariamente sua ausência absoluta na folha.
A literatura sobre a composição fitoquímica de Pterodon emarginatus revela que diferentes partes da planta exibem perfis químicos bastante diversificados. Por exemplo, estudos com sementes frequentemente relatam a presença de diterpenos e compostos lipofílicos (Bustamante et al., 2010), enquanto as folhas ainda são pouco exploradas.
Em diversas espécies do Cerrado, por exemplo, o estresse ambiental pode favorecer a síntese de taninos como mecanismo de defesa, enquanto a produção de outras classes de metabólitos pode ser inibida (Sgiers, 2022). Assim, nossos achados dialogam com a hipótese de que fatores ambientais e métodos de extração influenciam diretamente o perfil fitoquímico das folhas de Pterodon emarginatus.
Apesar de os achados serem claros quanto à presença de taninos, algumas limitações precisaram ser consideradas. A escolha exclusiva do solvente etanólico pode ter restringido a extração dos demais metabólitos presentes na folha, sugerindo que experimentos futuros deveriam incluir o uso de solventes com diferentes polaridades para um perfil fitoquímico mais abrangente. Outra limitação foi a ausência de análises quantitativas que permitiriam correlacionar a concentração dos taninos com as atividades biológicas mensuradas – isso é, naturalmente, um passo essencial para validar o potencial terapêutico dos extratos.
Futuras pesquisas também deverão explorar a influência de variáveis ambientais – como estação do ano e condições de cultivo – sobre a síntese de metabólitos nas folhas, contribuindo para a padronização dos protocolos de extração e análise. Estudos que integrem técnicas avançadas, como HPLC quantitativo e espectrometria de massa, serão fundamentais para confirmar e expandir os resultados preliminares aqui apresentados (Dutra et al., 2009).
Por fim, investigações que correlacionem o perfil fitoquímico com dados biológicos (por exemplo, ensaios de atividade antioxidante e anti-inflamatória) poderão fornecer uma melhor compreensão dos mecanismos responsáveis pelos efeitos terapêuticos atribuídos à sucupira branca.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo investigou a composição fitoquímica das folhas da sucupira-branca (Pterodon emarginatus), uma espécie amplamente utilizada na medicina popular do Cerrado. A análise qualitativa revelou a presença de taninos como o principal grupo de metabólitos secundários, enquanto flavonoides, catequinas, saponinas, alcaloides e antraquinonas não foram detectados. Esses achados reforçam a relevância dos taninos na atividade antioxidante e anti-inflamatória da planta, destacando seu potencial terapêutico.
A pesquisa também apontou que fatores como métodos de extração e variações ambientais podem influenciar a composição química das folhas, indicando a necessidade de padronização para futuras análises. A ausência de alguns compostos não exclui sua possível presença em concentrações limitadas, reforçando a importância de estudos complementares com técnicas avançadas. Ao confirmar a viabilidade científica do uso tradicional da sucupira branca, o trabalho contribui para a valorização dos conhecimentos populares e abre caminho para novas aplicações farmacêuticas baseadas em princípios ativos naturais.
REFERÊNCIAS
ABRANCHES, Monise Viana. Plantas Medicinais e Fitoterápicos: abordagem teórica com ênfase em nutrição. AS Sistemas, 2015.
ALMEIDA, R. F., et al. Standardization of Pterodon emarginatus extracts for pharmaceutical applications. Journal of Ethnopharmacology, 284, 114789. 2022. https://doi.org/10.1016/j.jep.2021.114789
BORTOLINI, Roberta Ghilosso et al. Modulação por Sucupira (Pterodon polygalaeflorus, Benth) da distribuição de Linfócitos T ativados e T de memória em linfonodos (LN) de camundongos com Artrite Induzida por Colágeno tipo II (CIA) e da mielopoiese em baços de camundongos primados com Adjuvante Completo de Freund (AFC). 2005. Dissertação (Pós-graduação em Biociências)- Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.
BUSTAMANTE, K. G. L. et al. Avaliação da atividade antimicrobiana do extrato etanólico bruto da casca da sucupira branca (Pterodon emarginatus Vogel) Fabaceae. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 12, n. 3, p. 341–345, jul. 2010.
CAVALCANTE, G. S. et al. Prospecção fitoquímica e avaliação de atividades biológicas das folhas de sucupira branca. Universidade Estadual do Ceará. Química e Sociedade: Motores da Sustentabilidade. 2014. Disponível em: <https://www.abq.org.br/cbq/2014/trabalhos/7/6143-17936.html>.
CHEMANE, Maria Isabel. Avaliação fitoquímica e antioxidante dos extractos de Cassytha Filiformis; Commiphora Schlechteri; Ochna Natalitias e Pavetta Kotdzei. 2019. Tese de Doutorado. Universidade Eduardo Mondlane.
COSTA, M. L., et al. Phytochemical profiling of Pterodon emarginatus seeds and leaves by HPLC and GC-MS. Phytochemistry Letters, 31, 123-130.2019. https://doi.org/10.1016/j.phytol.2018.11.010
CRUZ, Simoni Aparecida Barbosa. Avaliação da atividade tóxica e do perfil fitoquímico de duas espécies da família fabaceae: bowdichia virgilioides kunth e pterodon emarginatus vogel. 2016. 56 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Química) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Anápolis,2016.
DE GUTIÉRREZ, Ingrid Estefania Mancia et al. Plantas Medicinais no Semiárido: conhecimentos populares e acadêmicos. SciELO-EDUFBA, 2010.
DE OLIVEIRA, J. B; SILVA, B. F. L. da.; MACHADO, A. M. de R. .; LUCAS, E. M. F. . Influência das condições de armazenamento de sementes de sucupira (Pterodon emarginatus) na presença de seus metabólitos bioativos. Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento. v. 9, n. 11, p. e3509119833, 2020.
DOS SANTOS, Tania Teles. Análise Fitoquímica e Avaliação das Atividades Antioxidante e Antimicrobiana da Schinus terebinthifolius,(Aroeira-Vermelha) Considerando o Aspecto Sazonalidade. 2023. Dissertação de Mestrado. Universidade do Estado da Bahia (Brasil).
DUTRA, Rafael C. et al. Atividades antimicrobiana e leishmanicida das sementes de Pterodon emarginatus Vogel. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 19, p. 429-435, 2009.
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Biodiversidade [Internet]. Agência de Informação Tecnológica: Temáticas – Bioma Cerrado. Brasília: Embrapa; [s.d.]. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/bioma cerrado/biodiversidade.
FERREIRA, A. L., et al. Anti-inflammatory and analgesic effects of furanoditerpenes isolated from Pterodon emarginatus seeds. Journal of Natural Products, 80(3), 765-773. 2017. https://doi.org/10.1021/acs.jnatprod.6b01045
FERREIRA, S. B.; DANTAS, I. C.; CATÃO, R. M. R. Avaliação da atividade antimicrobiana do óleo essencial de sucupira (Pterodon emarginatus Vogel). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 16, p. 225-230, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbpm/a/YkX9wtpYJwP75VLygmbmTYd/?lang=pt&format=html.
HANSEN, Daiane; HARAGUCHI, Mitsue; ALONSO, Antônio. Propriedades farmacêuticas da sucupira (Pterodon spp.). Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 46, p. 607- 616, 2010.
LIMA, T. C., et al. Integrating traditional knowledge and scientific validation of medicinal plants from the Cerrado: The case of Pterodon emarginatus. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2019, 8123457. https://doi.org/10.1155/2019/8123457
LUCAS, Esther Maria Ferreira et al. Alteração no perfil químico das garrafadas de sementes de sucupira (pterodon emarginatus) mediante a variação do tempo de maceração e do teor alcoólico das cachaças. In: 14ª Semana de Ciência & Tecnologia 2018-CEFET-MG. 2018.
MACHADO, M. S. L. et al. Fitoterapia brasileira: análise dos efeitos biológicos da sucupira (Bowdichia virgilioides e Pterodon emarginatus). Brazilian Journal of Natural Sciences , v. 1, n. 2, n. ISSN 2595-0584, p. 15–21, 2018.
MARTINS, F. R., et al. Antimicrobial activity of Pterodon emarginatus extracts against clinical isolates. Microbial Pathogenesis, 147, 2020. 104385. https://doi.org/10.1016/j.micpath.2020.104385
MATOS FJA. Introdução à fitoquímica experimental. Fortaleza: EUFC; 1988.
OLIVEIRA, D. S., et al. Sesquiterpenes and steroids from Pterodon emarginatus leaves: Chemical characterization and biological activities. Phytomedicine, 67, 2020. 153157. https://doi.org/10.1016/j.phymed.2019.153157
PEREIRA, J. M., et al. Phenolic compounds and antioxidant activity of Pterodon emarginatus leaves. Food Chemistry, 343, 2021. 128552. https://doi.org/10.1016/j.foodchem.2020.128552
PEREIRA, Joedna Cavalcante et al. Espécies medicinais do Brasil com potencial anti inflamatório ou antioxidante: Uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 7, p. e10310716196-e10310716196, 2021.
RODRIGUES, Lívia et al. Revisão literária: o uso do ora-pro-nóbis na ação anti inflamatória. 2024.
SANTOS, Alexandre P. et al. Composição química, atividade antimicrobiana do óleo essencial e ocorrência de esteróides nas folhas de Pterodon emarginatus Vogel, Fabaceae. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 20, p. 891-896, 2010.
SANTOS, E. M., et al. Conservation strategies for medicinal plants in the Brazilian Cerrado. Biodiversity and Conservation, 30(4), 2021. 1025-1041. https://doi.org/10.1007/s10531- 021-02105-3
SANTOS, Rajá Vidya Moreira dos. Conhecimento etnobotânico de moradores do Residencial Monte Cristo de Boa Vista – Roraima sobre a Lippia origanoides Kunth. (Salva-do-campo), composição química e análise biológicas. 2023. 98f. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) – Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, 2023.
SGIERS, Aline Pericolo. Concentração de taninos condensados e α-tocoferol em Desmodium incanum e Paspalum notatum em diferentes condições edafo-climáticas dos Campos Sulinos Brasileiros. 2022.
SILVA, Joanda Paolla Raimundo et al. Diversidade química e atividades farmacológicas da espécie Justicia aequilabris. 2022.Tese (Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos) – Farmacoquímica- Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2022.
SILVA, R. A., et al. Ethnobotanical survey and pharmacological potential of Pterodon emarginatus in the Cerrado biome. Journal of Ethnopharmacology, 210, 2018, 1-9. https://doi.org/10.1016/j.jep.2017.08.027
SILVA, Wilson Lázaro Pereira da. Estudo etnobotânico de plantas medicinais nativas em fragmentos do cerrado no município de urutaí (GO). 2016.
SOUZA, L. M., et al. Phytochemical analysis and antioxidant activity of Pterodon emarginatus seeds. Revista Brasileira de Farmacognosia, 29(3), 349-356. 2019. https://doi.org/10.1016/j.bjp.2018.08.005
TERRA, Ionara Antunes. Ensino de Botânica nos cursos de graduação em farmácia: sua contribuição na formação e atuação do farmacêutico. Teses e Dissertações PPGECIM, 2014.
1Graduando de Farmácia, UNITOP, Palmas, Tocantins, Brasil. E-mail: luanavitoria201201@gmail.com
2Graduando de Farmácia, UNITOP, Palmas, Tocantins, Brasil. E-mail: mas.samynogueira@gmail.com
3Bacharel em Farmácia, Esp. em Biotecnologia, Palmas, Tocantins, Brasil. E-mail:romer.junior.1998@gmail.com.
4Doutora em Ciências (Química Analítica e Inorgânica), Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo, Brasil. E-mail: profasinarafreire@gmail.com
5Doutorado em Química. Universidade Federal de Uberlândia, UFU, Brasil. E-mail: Guilherme.nobre@mail.uft.edu.br