BIOMARCADORES CARDÍACOS E MÉTODOS DE DETECÇÃO PARA O INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: DOS INDICADORES CLÁSSICOS AS INOVAÇÕES MOLECULARES E TECNOLÓGICAS 

CARDIAC BIOMARKERS AND DETECTION METHODS FOR ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION: FROM CLASSIC INDICATORS TO MOLECULAR AND TECHNOLOGICAL INNOVATIONS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202511132300


Matheus Soares Bulcão Leite¹; Antonio Schneider de Almeida Triana¹; Maria Eduarda Borges Holanda¹; Maria Carolina Fonseca Honaiser¹; Maria Fernanda Cordeiro Bittencourt¹; Michelle Martins de Arruda Neves¹; Marina Pequeno Camargo Da Silva¹; Isabella Schneider de Almeida Triana¹; Ciro Brasil Campos¹; Luciano Janussi Vacanti².


Resumo: 

Objetivo: Analisar o  papel, a sensibilidade e a especificidade dos biomarcadores séricos no diagnóstico de infarto agudo do miocárdio, comparando os indicadores clássicos com as inovações tecnológicas. Metodologia: Trata-se de um estudo de caráter exploratório, descritivo, analítico e comparativo, realizado por meio de revisão integrativa da literatura. Foram selecionados artigos indexados, nacionais e internacionais, dos últimos 5 anos. A pesquisa foi realizada na base de dados PubMed com os descritores: “Biomarkers”, “Myocardial infarction” e “Early diagnosis” associados pelo Operador Booleano “AND”. Foram identificados 955 artigos, dos quais nove atenderam aos critérios de inclusão: revisões sistemáticas ou meta-análises em português e inglês diretamente relacionadas à temática. Excluíram-se estudos de caso, artigos que não contemplem o tema por completo, artigos de opinião e trabalhos com acesso restrito. Fundamentação teórica: O IAM consiste na obstrução de uma artéria coronária, a qual resulta em isquemia e necrose do tecido cardíaco. Essa condição representa uma das principais causas de morte no mundo e constitui um importante problema de saúde pública. Para reduzir o índice de mortalidade, o diagnóstico rápido e preciso e a conduta adequada são essenciais, para isso os marcadores cardíacos são fundamentais. Dentre eles, destacam-se os séricos tradicionais: Creatina quinase (CK), mioglobina e as troponinas cardíacas e os novos marcadores: RNAs e microRNAs. Dessa forma,, é evidente a importância de estudos sobre essa temática.  Resultados e discussões: As troponinas cardíacas (cTnI e cTnT) permanecem como padrão-ouro para o diagnóstico de infarto do miocárdio, devido à sua alta sensibilidade e especificidade. Entretanto, novos biomarcadores vêm se destacando por aprimorar a detecção precoce e a avaliação prognóstica, como a H-FABP, nourina, apolipoproteína E e AATC. A associação desses marcadores às troponinas de alta sensibilidade (hs-cTnT e hs-cTnI) aumenta a precisão diagnóstica. Biomarcadores moleculares e epigenéticos, como microRNAs, lncRNAs (ex.: HIF1A-AS2) e RNAs circulares, apresentam potencial promissor para o diagnóstico precoce e estratificação de risco. Pesquisas recentes também exploram biomarcadores salivares como alternativa não invasiva e de baixo custo. Conclusão: Conclui-se que apesar dos avanços nas estratégias diagnósticas e terapêuticas, o infarto agudo do miocárdio continua sendo um desafio clínico de grande impacto global. O reconhecimento precoce da lesão miocárdica é essencial para reduzir complicações e mortalidade, reforçando a necessidade de marcadores mais sensíveis e específicos. Nesse contexto, a integração entre biomarcadores clássicos, como as troponinas (padrão – ouro, exame mais sensível), e novos marcadores moleculares e epigenéticos surge como uma abordagem promissora, capaz de otimizar o diagnóstico e orientar condutas terapêuticas mais precisas. A incorporação desses avanços à prática clínica poderá transformar o manejo do infarto, tornando o diagnóstico mais rápido, individualizado e eficaz. Com isso, esse estudo busca fomentar novas pesquisas sobre a temática ampliando as investigações sobre os diferentes métodos de detecção de IAM, considerando o impacto dessa condição.

Palavras-chaves: Biomarcadores cardíacos. Infarto agudo do miocárdio. Diagnóstico precoce. Métodos de detecção.

1 INTRODUÇÃO

Os distúrbios cardiovasculares, influenciados por fatores como envelhecimento, predisposição genética, hipertensão arterial, obesidade, tabagismo e dislipidemias, são a principal causa de morte em todo o mundo. O infarto do miocárdio (IM) é um dos distúrbios cardiovasculares mais prevalentes, com alta taxa de mortalidade – cerca de 27% -, e representa um importante problema de saúde pública (KIM et al. 2022). Essa condição resulta da interrupção súbita do fluxo sanguíneo em uma artéria coronária, geralmente em decorrência da ruptura de uma placa aterosclerótica e formação de trombo, o que leva à isquemia e necrose do tecido cardíaco. Clinicamente, pode se manifestar como dor torácica intensa irradiada para o membro superior esquerdo, pescoço ou mandíbula, associada a náuseas, sudorese e ansiedade, embora nem todos os pacientes apresentem o quadro clássico.

A incidência e mortalidade de IM têm aumentado nos últimos anos, com crescimento anual acima de 3,5% (TILEA, ioan; VARGA, andreea; SERBAN, razvan. 2021). Estudos  relacionam parte desse aumento à pandemia de COVID-19 devido à influência do vírus sobre eventos tromboembólicos (KIM et al. 2022). Ao mesmo tempo, os efeitos da pandemia sobre a esfera psicossocial da população levaram à redução da procura dos serviços de saúde, portanto, acrescentando ao obstáculo da detecção precoce do IM.

O diagnóstico precoce do IM é essencial para melhorar o prognóstico e reduzir a mortalidade, já que o atraso no reconhecimento do evento pode duplicar o risco de morte (KIM et al. 2022). Além disso, a maioria dos pacientes com dor torácica no pronto socorro não apresentam IM, o que torna crucial distinguir precocemente os casos de baixo risco, o que permite otimizar o fluxo hospitalar, reduzir o tempo de observação e evitar intervenções desnecessárias (KIM et al. 2022). 

Atualmente, além das características clínicas, os métodos diagnósticos  de IM podem ser divididos em dois grupos principais: os métodos baseados em alterações cardíacas e os marcadores moleculares. Do primeiro grupo, destacam-se o eletrocardiograma (ECG) e a ecocardiografia, amplamente utilizados na prática clínica. O ECG, embora seja o exame inicial mais comum, oferece certeza do diagnóstico em apenas 50 a 57% dos pacientes com IM, e depende de interpretação subjetiva, assim como o eletrocardiograma, embora tenham tido precisão aprimorada graças à criação de algorítmos baseados em big data (KIM et al. 2022). 

Atualmente, os biomarcadores séricos constituem ferramentas indispensáveis para o diagnóstico do IM. Entre eles, o complexo de troponinas cardíacas (cTnI e cTnT) é considerado o padrão-ouro, recomendado pelas principais diretrizes por sua elevada sensibilidade e especificidade para o dano miocárdico. Além de permitir o diagnóstico preciso, seus níveis permanecem elevados por até duas semanas, o que possibilita o monitoramento evolutivo do evento isquêmico (KIM et al., 2022).

Outros marcadores clássicos continuam relevantes no contexto diagnóstico. A creatina quinase (CK) e sua fração CK-MB refletem o dano muscular cardíaco, embora possam estar elevadas em lesões não cardíacas. Já a mioglobina apresenta liberação precoce e alta sensibilidade, sendo útil na triagem inicial, especialmente quando combinada com outros biomarcadores (KIM et al., 2022). A Proteína de Ligação de Ácidos Graxos do tipo coração (H-FABP) também tem liberação rápida após a necrose miocárdica, o que reforça seu valor em diagnósticos precoces. Em contrapartida, a copeptina (CT-proAVP), apesar de promissora, possui curta meia-vida e baixa especificidade, limitando seu uso isolado (KIM et al., 2022). Buscando aumentar a acurácia diagnóstica, estudos recentes têm explorado estratégias combinadas de marcadores. A glicose plasmática, por exemplo, mostrou-se um marcador simples e acessível, refletindo a resposta ao estresse fisiológico do IM. Quando associada às troponinas cardíacas de alta sensibilidade (hs-cTnT e hs-cTnI), apresentou elevada precisão diagnóstica e valor prognóstico em pacientes atendidos nas primeiras horas após o início dos sintomas (SANCHEZ et al., 2023).

Nos últimos anos, a pesquisa cardiovascular avançou para a identificação de biomarcadores moleculares e epigenéticos, como os RNAs não codificantes (ncRNAs) – incluindo microRNAs (miRNAs), RNAs longos não codificantes (lncRNAs) e RNAs circulares (circRNAs). Essas moléculas apresentam alta estabilidade em fluidos corporais e alterações rápidas frente a lesões cardíacas, oferecendo potencial para diagnósticos mais precoces e específicos que os métodos convencionais (ALMAGHRBI et al., 2023). Entre eles, o lncRNA HIF1A-AS2, regulado pela hipóxia, tem destacado-se como marcador promissor para o diagnóstico precoce e a predição de disfunção ventricular esquerda pós-IAM (TAYAE et al., 2023).

Outras moléculas emergentes também despertam interesse, por exemplo a nourina, liberada poucos minutos após o início da isquemia, surge como possível indicador de lesão reversível e pode auxiliar na identificação precoce de síndromes coronarianas agudas em pacientes com sintomas atípicos (ELGEBALY et al., 2021). Adicionalmente, estudos identificaram novas proteínas associadas ao infarto, como a apolipoproteína E (APOE) e a aspartato aminotransferase cardíaca (AATC), que, em conjunto com enzimas clássicas, demonstraram alto desempenho diagnóstico (SHI et al., 2021).

Mais recentemente, investigações com biomarcadores salivares têm se destacado pela natureza não invasiva e custo reduzido da coleta, apresentando potencial para aplicações em triagem rápida e monitoramento em larga escala (DOMENICO et al., 2023).

Dessa forma, a pesquisa busca analisar o papel dos biomarcadores séricos e emergentes no diagnóstico precoce do infarto do miocárdio, destacando sua sensibilidade, especificidade e potencial de associação para aprimorar a acurácia diagnóstica e o prognóstico dos pacientes. 

Por fim, o infarto agudo do miocárdio permanece uma das principais causas de mortalidade global, mesmo com os avanços em métodos clínicos e de imagem, devido a limitação na sensibilidade e especificidade de exames tradicionais, como o eletrocardiograma, evidenciando a necessidade de novas estratégias diagnósticas. Sendo assim, compreender e comparar os biomarcadores é fundamental para otimizar o diagnóstico e o manejo clínico do infarto do miocárdio. Visto que, a investigação de biomarcadores moleculares e epigenéticos, como troponinas de alta sensibilidade, miRNAs e lncRNAs, representa uma abordagem promissora para detectar lesões miocárdicas precocemente e orientar condutas terapêuticas mais eficazes.

2.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA  

O infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma das principais causas de mortalidade global e um dos maiores desafios para a saúde pública. Essa condição resulta, em geral, da obstrução súbita de uma artéria coronária, causada pela ruptura de uma placa aterosclerótica e formação de trombo, o que leva à isquemia e necrose do tecido cardíaco (KIM et al., 2022). O diagnóstico rápido e preciso é essencial para o manejo adequado e redução da mortalidade, sendo os biomarcadores cardíacos fundamentais nesse processo diagnóstico.

2.1 Biomarcadores clássicos

Os biomarcadores séricos tradicionais foram os primeiros a serem utilizados para detectar o dano miocárdico, representando um marco importante no diagnóstico laboratorial das doenças cardiovasculares. Entre eles, destacam-se a creatina quinase (CK) e sua fração CK-MB, que refletem o dano muscular cardíaco, embora possam estar elevadas também em lesões não cardíacas, o que limita sua especificidade (KIM et al., 2022).

A mioglobina, liberada precocemente após o início da necrose miocárdica, apresenta alta sensibilidade, mas baixa especificidade, sendo útil especialmente na triagem inicial, quando associada a outros marcadores (KIM et al., 2022).

O maior avanço entre os marcadores clássicos foi a identificação das troponinas cardíacas (cTnI e cTnT), consideradas o padrão-ouro no diagnóstico do IAM devido à sua alta sensibilidade e especificidade para o dano miocárdico. As troponinas de alta sensibilidade (hs-cTn), desenvolvidas posteriormente, permitem a detecção de lesões miocárdicas nas primeiras horas após o evento isquêmico, tornando o diagnóstico mais precoce e confiável (KIM et al., 2022).

Além disso, estudos recentes destacam que a combinação entre glicose plasmática e troponina de alta sensibilidade (hs-cTnT) aumenta significativamente a precisão diagnóstica, possibilitando estratificação mais eficaz dos pacientes atendidos nas fases iniciais do infarto (YUFERA-SÁNCHEZ et al., 2023).

2.2 Biomarcadores moleculares e epigenéticos

O avanço da biologia molecular impulsionou a descoberta de novos biomarcadores capazes de detectar o IAM de forma ainda mais precoce e específica. Entre esses, destacam-se os RNAs não codificantes (ncRNAs), incluindo microRNAs (miRNAs), RNAs longos não codificantes (lncRNAs) e RNAs circulares (circRNAs), que apresentam elevada estabilidade em fluidos biológicos e rápida resposta às lesões cardíacas (ALMAGHRBI et al., 2023).

Os microRNAs miR-137 e miR-106b, por exemplo, têm sido associados aos estágios iniciais de inflamação em pacientes com angina instável, sendo considerados biomarcadores promissores para o diagnóstico precoce (ELGEBALY et al., 2021). Já o lncRNA HIF1A-AS2, regulado pela hipóxia, mostrou-se um marcador sensível e específico para a detecção precoce do IAM, além de ser preditor de disfunção ventricular esquerda após o evento isquêmico (TAYAE et al., 2023).

Outras proteínas emergentes, como a apolipoproteína E (APOE) e a aspartato aminotransferase cardíaca (AATC), também apresentaram bom desempenho diagnóstico quando combinadas aos marcadores clássicos, evidenciando o potencial de estratégias integradas (SHI et al., 2021). Além disso, a nourina, uma molécula liberada poucos minutos após o início da isquemia, tem sido estudada como marcador de lesão reversível precoce e pode contribuir para o diagnóstico diferencial em pacientes com sintomas atípicos (ELGEBALY et al., 2021).

Esses avanços indicam uma tendência crescente de incorporação de biomarcadores moleculares e epigenéticos ao arsenal diagnóstico, ampliando a capacidade de identificação rápida e precisa do IAM.

2.3 Inovações tecnológicas e métodos de detecção emergentes

A incorporação de novas tecnologias laboratoriais e de análise diagnóstica tem revolucionado a forma como os biomarcadores são detectados e interpretados. Entre essas inovações, destaca-se o chip microfluídico imunológico “All-in-One”, que permite a medição simultânea e quantitativa de múltiplos biomarcadores cardíacos em tempo real, com elevada precisão e sensibilidade, otimizando o diagnóstico em situações de emergência (ZENG et al., 2024).

Outra abordagem inovadora em crescimento é o uso de biomarcadores salivares. Esses marcadores apresentam vantagens como coleta não invasiva, baixo custo e potencial para triagens populacionais em larga escala. Pesquisas recentes demonstraram correlação significativa entre os níveis plasmáticos e salivares de proteínas cardíacas, o que reforça o potencial clínico dessa metodologia (DOMENICO et al., 2023).

Esses avanços tecnológicos, aliados à integração de biomarcadores clássicos e moleculares, apontam para uma nova era no diagnóstico cardiovascular — mais rápida, sensível, específica e acessível — contribuindo para a redução das taxas de mortalidade e para o aprimoramento do cuidado clínico aos pacientes com infarto agudo do miocárdio.

2.4 Considerações finais da fundamentação

Com base na literatura atual, observa-se uma transição do modelo diagnóstico tradicional, centrado em exames enzimáticos e clínicos, para uma abordagem molecular e tecnológica, que utiliza múltiplos biomarcadores em associação. Essa integração permite identificar lesões miocárdicas de forma mais precoce, precisa e personalizada, oferecendo subsídios para intervenções terapêuticas imediatas e redução de complicações associadas ao infarto agudo do miocárdio.

3 METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza básica, com objetivos exploratórios, descritivos, analíticos e comparativos, realizada por meio de um delineamento bibliográfico, documental e de revisão integrativa da literatura. A abordagem do problema é de natureza mista, utilizando-se tanto da análise qualitativa quanto quantitativa dos dados extraídos dos estudos selecionados.

Foram utilizados artigos científicos indexados relevantes, nacionais e internacionais,  identificados na base de dados eletrônica de amplo conhecimento na área médica, PubMed. 

Realizou-se uma revisão  através dos descritores “Biomarkers”, “Myocardial infarction” e “Early diagnosis” associados pelo Operador Booleano “AND”, sendo encontrados 955 artigos nos últimos 5 anos (de 2020 até 2025). A partir do fichamento desses artigos, foram adotados critérios de inclusão e exclusão para o refinamento da revisão. Incluiu-se artigos de meta-análises ou revisões sistemáticas relacionados diretamente com a temática, nos idiomas português e inglês. E excluídos os artigos que não se relacionaram com o tema estudado ou focados em aspectos extremamente específicos e insignificantes para a revisão proposta, além de artigos de opinião, estudos de caso e estudos cujo texto não estava disponível. 

Após a leitura dos resumos, 9 artigos foram selecionados integralmente ou por trechos que tivessem contribuições pertinentes ao estudo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O desenvolvimento na detecção e aplicação de biomarcadores cardíacos aumentou a capacidade de diagnóstico precoce do infarto agudo do miocárdio (IAM), o que está sendo complementado por ferramentas clínicas tradicionais e de imagem.

É evidente uma tendência clara alteração de antigos marcadores séricos como troponinas, CK-MB para novos marcadores moleculares como miRNAs, lncRNAs e proteínas em contextos pós-isquêmicos e inflamatórios, bem como tecnologias diagnósticas ascendentes. Marcadores tradicionais ainda têm um importante serviço conciliar patogênico. A troponina cardíaca (cTnI e cTnT), cardiotroponina, ainda é considerada o padrão-ouro, sendo detectável entre 3 e 6 horas após o evento isquêmico e permanecendo elevada por até duas semanas, com elevada sensibilidade e especificidade (KIM et al., 2022). A introdução de troponinas na faixa de alta sensibilidade (hs-cTn) permite um diagnóstico ainda mais precoce, um fator particularmente importante nas primeiras horas de atendimento.  Com variáveis facilmente obtidas, como são as da glicemia no sangue, evidencia-se um ganho diagnóstico considerável que se soma à avaliação clínica para estratificação de risco em indivíduos assistidos precocemente (SÁNCHEZ et al., 2023).Outros marcadores, incluindo CK-MB, mioglobina, H-FABP e copeptina, também são de interesse clínico. CK-MB é útil no diagnóstico complementar e na detecção de re-infarto, mas mioglobina e H-FABP exibem uma liberação precoce, o que é valioso para o rastreamento inicial (KIM et al., 2022). Têm alta sensibilidade e baixa especificidade, mas ganham em desempenho quando combinados com outros marcadores, particularmente troponinas, em comparação com biomarcadores semelhantes. As concentrações de copeptina são liberadas pelo corpo em menos de uma hora.

Biomarcadores moleculares e epigenéticos merecem atenção especial para a detecção precoce de danos isquêmicos. RNAs não codificantes (ncRNAs), miRNA e lncRNAs, são estáveis em fluidos corporais e têm uma relação próxima com eventos isquêmicos aos quais reagem rapidamente (ALMAGHRBI et al., 2023). Um estudo recente também relatou up-regulation de miR-137 e miR-106b minutos após isquemia, que se associam aos estágios iniciais de inflamação em pacientes com angina instável (GAO et al., 2021). Entre estes lncRNAs, HIF1A-AS2 emergiu como particularmente interessante, pois mostrou níveis de plasma mais altos precocemente e forte correlação com deficiência do ventrículo esquerdo após IAM, sendo um excelente preditor que apresenta alta sensibilidade e especificidade (TAYAE et al., 2023). Estes resultados identificam esses marcadores como potencialmente úteis no diagnóstico precoce e na estratificação prognóstica.

 Cabe ainda observar que outras proteínas novas, como a apolipoproteína E (APOE) e a aspartato aminotransferase cardíaca (AATC), apresentaram alto desempenho no diagnóstico de IAM  quando usadas em combinação com marcadores clássicos e integradas em modelos multivariados (SHI et al., 2021).. Além disso, Nourin, uma molécula que é regulada para cima poucos minutos após o início da isquemia, também foi proposta como um marcador para lesão reversível precoce que potencialmente permite “incluir”/”excluir” apresentações atípicas (ELGEBALY et al., 2021).

A introdução de nova tecnologia diagnóstica, incluindo o sistema “Tudo-em-Um” (All-in-One) microimunológico, é um grande avanço, pois permite análise rápida e altamente precisa de vários biomarcadores simultaneamente em intervalos de tempo decrescentes, o que pode ser de vital importância em ambientes agudos. Além disso, o interesse por biomarcadores salivares tem sido aumentado devido ao método de coleta não invasiva combinado com baixo custo e a possibilidade de triagem em larga escala (DWOMOKIJO et al., 2023): para algumas proteínas cardíacas foi encontrada boa correlação entre os níveis no plasma e na saliva, nomeadamente DOMENICO et al. (2023). Os dados apresentados indicam que a aplicação de abordagens tradicionais e novas de biomarcadores com novas plataformas tecnológicas pode melhorar drasticamente tanto a sensibilidade quanto a especificidade para IAM nas primeiras horas, com intervenções de tratamento que podem levar à redução das taxas de mortalidade.

Tabela 1 – Comparação entre biomarcadores clássicos e emergentes no diagnóstico precoce do IAM

BiomarcadorTipo / NaturezaTempo de elevação pós-IAMSensibilidade / EspecificidadeVantagens principaisLimitações principais
Troponina (cTnI / cTnT, hs-cTn)Proteína cardíaca clássica3–6 h (hs-cTn: até 1–2 h)Alta / AltaPadrão-ouro; persistência prolongada; alta acuráciaPode não estar elevada nas primeiras horas
CK-MBEnzima3–12 hModerada / ModeradaComplementar; útil no diagnóstico de reinfartoBaixa especificidade
MioglobinaProteína muscular1 hAlta / BaixaLiberação precoce; útil na triagem inicialBaixa especificidade isolada
H-FABPProteína citoplasmática cardíaca1–3 hAlta / ModeradaDetecção precoce; útil em combinaçãoDisponibilidade limitada
CopeptinaPeptídeo (CT-proAVP )< 1 hAlta / BaixaLiberação imediata; útil combinada à troponinaCurta meia-vida; baixa especificidade
miR-137, miR-106bmicroRNAs inflamatóriosMinutos–1 hAlta / AltaElevada precocidade; estabilidade molecularFalta de padronização clínica
lncRNA HIF1A-AS2RNA longo não codificante1–2 hAlta / AltaDiagnóstico precoce e valor prognósticoExige métodos laboratoriais específicos
NourinaProteína inflamatória emergenteMinutosAlta / AltaDetecta lesão reversível precoceEstudos clínicos iniciais
APOE, AATCProteínas emergentes1–3 hAlta / AltaComplementam marcadores clássicosNecessidade de validação multicêntrica
Biomarcador es salivaresDiversos (proteínas / RNAs)VariávelModerada / ModeradaNão invasivo; baixo custoPadronização ainda em andamento
Microfluídica “All-in-One”Tecnologia diagnóstica inovadoraTempo realAlta / AltaDetecção simultânea de múltiplos marcadores; resultado rápidoCusto inicial elevado; necessidade de infraestrutura
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados de Kim et al. (2022); Sánchez et al. (2023); Almghrbi et al. (2023); Gao et al. (2021); Taye et al. (2023); Shi et al. (2021); Elgebaly et al. (2021); Domenico et al. (2023).

5. CONCLUSÃO

O infarto agudo do miocárdio (IAM) permanece uma das principais causas de mortalidade global e um relevante desafio de saúde pública. O reconhecimento precoce do evento é determinante para reduzir o risco de morte. Mesmo com os avanços em métodos clínicos e de imagem, a limitação na sensibilidade e especificidade de exames tradicionais, como o eletrocardiograma (ECG), evidencia a necessidade de estratégias diagnósticas aprimoradas.

Este estudo demonstra que os biomarcadores séricos são ferramentas indispensáveis para o diagnóstico do IAM. O complexo de troponinas cardíacas (cTnI e cTnT) constitui o padrão-ouro por sua elevada sensibilidade e especificidade para o dano miocárdico. A introdução das troponinas de alta sensibilidade (hs-cTn) possibilita diagnóstico mais precoce e acurado. Outros marcadores clássicos, como CK-MB, mioglobina e a proteína H-FABP, mantêm relevância clínica para a triagem inicial devido à rápida liberação após a necrose miocárdica.

Observa-se uma tendência crescente na busca por novos marcadores moleculares capazes de ampliar a acurácia diagnóstica. As abordagens combinadas oferecem ganhos relevantes, como a associação entre glicose plasmática e hs-cTn, que aumenta a precisão diagnóstica e o valor prognóstico nas fases iniciais do evento isquêmico.

A pesquisa atual direciona-se à identificação de biomarcadores moleculares e epigenéticos, como os RNAs não codificantes (ncRNAs), incluindo microRNAs (miRNAs) e RNAs longos não codificantes (lncRNAs). Essas moléculas apresentam alta estabilidade em fluidos corporais e respostas rápidas às lesões cardíacas. O lncRNA HIF1A-AS2, bem como os miR-137 e miR-106b, destacam-se como potenciais marcadores de diagnóstico precoce e indicadores de disfunção ventricular esquerda pós-IAM. Novas proteínas, como a apolipoproteína E (APOE) e a aspartato aminotransferase cardíaca (AATC), demonstram desempenho promissor quando integradas a modelos com marcadores clássicos.

As inovações tecnológicas e os métodos de coleta também avançam significativamente. Biomarcadores salivares vêm se consolidando como alternativa viável, devido à coleta não invasiva e ao baixo custo, o que favorece sua aplicação em triagens populacionais. Plataformas diagnósticas emergentes, como o chip microfluídico imunológico “Tudo-em-um” (All-in-One), permitem análise simultânea e precisa de múltiplos biomarcadores, sendo cruciais para o atendimento rápido em situações agudas.

Em suma, a investigação de biomarcadores moleculares e epigenéticos, como troponinas de alta sensibilidade, miRNAs e lncRNAs, representa uma abordagem promissora para detectar lesões miocárdicas precocemente e orientar condutas terapêuticas mais eficazes. A compreensão e comparação entre abordagens tradicionais e inovadoras, aliadas à integração de novas plataformas tecnológicas, permite otimizar o diagnóstico e o manejo clínico do infarto do miocárdio, reduzindo taxas de mortalidade e promovendo maior eficiência nos serviços de saúde.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNICEUB Campus Asa Norte. E-mail: matheus.bleite@sempreceub.com;
²Docente do Curso Superior de Medicina do Instituto UNICEUB Campus Asa Norte. Doutor em Cardiologia (USP/SP). E-mail: lucvacanti@gmail.com.