BENEFITS AND HARMS OF USE OF STEROIDS AND ANABOLIC DRUG: LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202506161438
ROCHA NETO, AM¹
SIMEÃO, DV²
AZEVEDO, PSS³
RESUMO
Atualmente, a sociedade criou novos hábitos e padrões relacionados à saúde e à aparência física, principalmente a partir da musculação e de dietas restritivas. Isso levou ao uso indiscriminado em massa de ergogênicos, anabolizantes e esteroides, muitas vezes sem a devida avaliação clínica prévia dos possíveis efeitos colaterais ou da incapacidade de utilização, resultando em danos orgânicos que, muitas vezes, são irreversíveis. Tendo como objetivo principal analisar as evidências científicas relacionadas aos benefícios e malefícios do uso de esteroides e anabolizantes. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura de cunho descritivo, baseada na elaboração do problema a ser estudado, cuja pergunta norteadora é: “Quais os benefícios e malefícios do uso de esteroides e anabolizantes”. A coleta de dados ocorrerá por meio de pesquisas em meios eletrônicos, como a Scientific Electronic Library Online (SciELO), a Literatura Latino-Americana e do Caribe de Ciências da Saúde (LILACS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). A base selecionada para as buscas será a Biblioteca Virtual em Saúde( BVS), que possui acesso aos artigos publicados nos meios eletrônicos mencionados. A coleta de dados será realizada de forma direta, por meio de pesquisa em artigos que abordem a temática, utilizando os descritores “Testosterona”, “Esteroides” e “Estética”, que serão cruzadas entre si para melhor obtenção de resultados. O cruzamento se dará por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”. Os resultados deste estudo foram estruturados em duas etapas. O primeiro passo é caracterizar os estudos utilizados, enquanto a segunda parte lida com os objetivos de pesquisa focados na análise de produções científicas capazes de esclarecer a questão central. Essa abordagem metodológica permite que a organização sistemática e rigorosa de achar para facilitar a compreensão e interpretação dos resultados obtidos. Embora os esteroides tenham aplicações médicas legítimas, seu uso recreativo ou sem supervisão se torna uma “roleta-russa” biológica. Os benefícios estéticos e esportivos não justificam os riscos de danos irreversíveis à saúde.
Palavras-chave: Medicina. Educação Física. Saúde.
ABSTRACT
Currently, society has created new habits and standards related to health and physical appearance, mainly through bodybuilding and restrictive diets. This has led to the indiscriminate mass use of ergogenics, anabolic steroids and steroids, often without prior clinical evaluation of possible side effects or inability to use them, resulting in organic damage that is often irreversible. The main objective is to analyze the scientific evidence related to the benefits and harms of the use of steroids and anabolic steroids. This is an integrative literature review of a descriptive nature, based on the elaboration of the problem to be studied, whose guiding question is: “What are the benefits and harms of the use of steroids and anabolic steroids?” Data collection will occur through searches in electronic media, such as the Scientific Electronic Library Online (SciELO), the Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS) and the Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). The database selected for the searches will be the Virtual Health Library (VHL), which has access to articles published in the electronic media mentioned. Data collection will be carried out directly, through research in articles that address the topic, using the descriptors “Testosterone”, “Steroids” and “Aesthetics”, which will be cross-referenced to obtain better results. The cross-reference will be done using the Boolean operators “AND” and “OR”. The results of this study were structured in two stages. The first step is to characterize the studies used, while the second part deals with the research objectives focused on the analysis of scientific productions capable of clarifying the central question. This methodological approach allows for the systematic and rigorous organization of findings to facilitate the understanding and interpretation of the results obtained. Although steroids have legitimate medical applications, their recreational or unsupervised use becomes a biological “Russian roulette”. The aesthetic and sporting benefits do not justify the risks of irreversible damage to health.
Keywords: Medicine. Physical Education. Health.
1. INTRODUÇÃO
Os esteroides e anabolizantes fazem parte de uma classe de medicamentos criados pela indústria farmacêutica, primariamente para o tratamento de pacientes com déficits físicos, hormonais e controle de doenças endocrinológicas. Atualmente, a sociedade criou novos hábitos e padrões relacionados à saúde e à aparência física, principalmente a partir da musculação e de dietas restritivas. Com isso, surgiram novos padrões físicos, e a população passou a desejar obter o que é considerado o “corpo perfeito” (Torrisi et al, 2020).
Isso levou ao uso indiscriminado em massa de ergogênicos, anabolizantes e esteroides, muitas vezes sem a devida avaliação clínica prévia dos possíveis efeitos colaterais ou da incapacidade de utilização, resultando em danos orgânicos que, muitas vezes, são irreversíveis. Portanto, é essencial que haja uma boa recomendação e avaliação médica do paciente antes de qualquer tratamento que inclua esse tipo de substância (Jambi et al, 2024).
Autores de todo o mundo já alertaram sobre os riscos que essa prática oferece. No entanto, é uma prática indevida que, ao longo dos anos, aumentou o número de usuários, assim como, também, a incidência de complicações devido ao uso. O campo mais afetado é o da musculação, que normalmente é composto por homens e mulheres em busca de físicos cada vez mais avantajados, com maior volume muscular, desejando adquirir uma força física maior e atingir percentuais reduzidos de gordura corporal (Da Cunha et al, 2021).
É importante destacar que, mesmo sendo essa prática altamente danosa e às vezes letal, os órgãos fiscalizatórios não possuem meios que impeçam as pessoas de conseguir receitas ou prescrições para realizar a compra indiscriminada desse tipo de medicamento apenas para fins estéticos, o que gera uma grande polêmica no âmbito esportivo. Na categoria de fisiculturismo, onde valoriza-se apenas a estética, não é aplicada a lei antidoping, pois há um consenso de que todos os atletas participantes são usuários (Barroso et al, 2021).
Um estudo que avaliou tanto usuários recreativos de esteroides e anabolizantes quanto atletas de alta performance revelou que a maioria dos participantes apresentava taxas significativas de hipogonadismo, com níveis muito baixos de gonadotrofinas e testosterona. Após a interrupção do uso das substâncias, o retorno aos níveis hormonais normais pode levar de semanas a meses. Os longos períodos de alteração hormonal causaram efeitos adversos profundos no sistema reprodutor, além de potenciais impactos na fertilidade. Também foram identificadas mudanças psicológicas significativas em alguns dos participantes (Corona et al, 2021).
Segundo estudos atuais os níveis de testosterona tendem a reduzir em todos os homens após os 40 anos de idade, claramente essa redução não será igual para todos pois é bastante influenciada por fatores ambientais, sociais e físicos. A redução gradual dos níveis de testosterona implicam em certas alterações como, ganho de peso, perda muscular esquelética, alterações de sono e apetite e junto a isso a redução do hormônio liberador de gonadotrofina hipotalâmica, diminui a capacidade de resposta do tecido testicular com isso a testosterona sérica cai gerando menos desejo sexual e menos ereção (Petrovic et al, 2022).
Atualmente é feita a reposição de testosterona em certos pacientes acima dos 40 anos e que obtiveram bons resultados, com melhora de resposta sexual, melhor cognição, maior desempenho físico e redução de comorbidades, porém não é tão falado sobre uso de fitoterápicos para realizar tais reposições, estudos indicam que o uso do extrato de sementes da Trigonella foenum – graecum demonstrou efeitos anabólicos e androgênicos, devido aumento de testosterona livre, logo ela melhora os sintomas da deficiência androgênica em homens idosos (Mulawkar et al, 2023).
O presente estudo está sendo realizado em razão do grande aumento no número de usuários de esteroides e anabolizantes, seja para tratamento e controle de certas enfermidades ou para uso em benefício estético, englobando principalmente a população na faixa etária entre 18 e 30 anos. Tendo em vista o impacto negativo à saúde populacional, é preciso apresentar e esclarecer os mecanismos de ação, bem como os possíveis efeitos colaterais desses medicamentos que impliquem na morbimortalidade dos usuários. Tendo como objetivo principal analisar as evidências científicas relacionadas aos benefícios e malefícios do uso de esteroides e anabolizantes. Caracterizar as publicações científicas acerca da temática abordada.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura de cunho descritivo, baseada na elaboração do problema a ser estudado, cuja pergunta norteadora é: “Quais os benefícios e malefícios do uso de esteroides e anabolizantes”. A coleta de dados ocorrerá por meio de pesquisas em meios eletrônicos, como a Scientific Electronic Library Online (SciELO), a Literatura Latino-Americana e do Caribe de Ciências da Saúde (LILACS) e o Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). A base selecionada para as buscas será a Biblioteca Virtual em Saúde( BVS), que possui acesso aos artigos publicados nos meios eletrônicos mencionados. A coleta de dados será realizada de forma direta, por meio de pesquisa em artigos que abordem a temática, utilizando os descritores “Testosterona”, “Esteroides” e “Estética”, que serão cruzadas entre si para melhor obtenção de resultados. O cruzamento se dará por meio dos operadores booleanos “AND” e “OR”.
Após a pesquisa, os artigos serão lidos, aplicando-se os critérios de inclusão e exclusão para que o estudo possa ser realizado. A busca na literatura ocorrerá entre os meses de agosto de 2024 e maio de 2025. Serão incluídos no referido estudo artigos que apresentem resultados relacionados à temática abordada, artigos que apresentem tratamentos utilizando hormônios e contraindicações, disponíveis nas bases de dados de forma integral e gratuita, nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados entre 2014 e 2024. Serão excluídos artigos de revisão de literatura, incompletos, sem referências, artigos com viés comerciais e aqueles que não englobem a questão norteadora.
A análise dos dados será realizada por meio da leitura minuciosa dos artigos, onde serão extraídos dados relacionados ao tema selecionado, com foco nas semelhanças e diferenças de conteúdo entre os artigos obtidos, a fim de responder ao problema de pesquisa e ao objetivo central do estudo. Após isso, será realizada a síntese do estudo, com resumos dos artigos obtidos após intensa e exaustiva leitura, sendo selecionados apenas conteúdos relevantes para a presente pesquisa. Sua elaboração está estruturada em seis etapas distintas apresentadas na figura 1.
FIGURA 1: Etapas de construção de uma revisão integrativa.
3. RESULTADOS
Os resultados deste estudo foram estruturados em duas etapas. O primeiro passo é caracterizar os estudos utilizados, enquanto a segunda parte lida com os objetivos de pesquisa focados na análise de produções científicas capazes de esclarecer a questão central. Essa abordagem metodológica permite que a organização sistemática e rigorosa de achar para facilitar a compreensão e interpretação dos resultados obtidos.
3.1 Caracterização Dos Estudos Abordados
A caracterização dos estudos incluídos (N=19) revelou que na maioria, consistia em pesquisa quantitativa. A análise dos estudos obtidos caracterizou-se em bases de dados online, mostrou predominância de forma homogênea a base de dados BVS. Quanto ao tempo, o arranjo apontou a crescente publicação de estudos ao ano 2020. Houve predominância de estudos com a procedência da língua inglesa. Logo, a análise descritiva das produções científicas abordadas, estão descritas na tabela 1.
A pesquisa constou no total de 4 artigos. Para facilitar a análise dos dados, os estudos selecionados foram organizados em uma tabela para realizar a identificação de autor(es), ano de publicação, tema e objetivo de cada estudo, método utilizado e principais resultados.
Autor(es) | Título | Revista | Ano |
ABDULLAH R, BJØRNEBEKK A, HAUGER LE, HULLSTEIN IR, EDVARDSEN T, HAUGAA KH, et al.. | Severe biventricular cardiomyopathy in both current and former long-term users of anabolic– androgenic steroids. | Eur J Prev Cardiol | 2023. |
BARROSO WKS, RODRIGUES CIS, BORTOLOTTO LA, MOTA-GOMES MA, BRANDÃO AA, DE MAGALHÃES FEITOSA AD, et al. | Brazilian guidelines of hypertension | Arq Bras Cardiol. | 2021 |
CORONA G, RASTRELLI G, MARCHIANI S, FILIPPI S, MORELLI A, SARCHIELLI E, et al. | Consequences of anabolic-androgenic steroid abuse in males; Sexual and reproductive perspective. | World Journal of Men’s Health. | 2021 |
DA CUNHA CLP. | Electrocardiographic diagnosis of left ventricular hypertrophy. | Arquivos Brasileiros de Cardiologia. | 2021. |
FYKSEN TS, VANBERG P, GJESDAL K, VON LUEDER TG, BJØRNERHEIM R, STEINE K, et al.. | Cardiovascular phenotype of longterm anabolic-androgenic steroid abusers compared with strength-trained athletes. | Scand J Med Sci Sports | 2022 |
GALVÃO TF, TIGUMAN GMB, SARKIS-ONOFRE R, PAGE MJ, | – | Epidemiologia e Serviços de Saúde | 2022 |
MCKENZIE JE, BOSSUYT PM, et al. | |||
GOMES DA, PAIVA MS, RANCHORDÁS S, SANTOS RR, FERREIRA J, TRABULO M. | Acute Coronary Syndrome in a Young Male with Long-Term Use of Anabolic-Androgenic Steroids. | Arquivos Brasileiros de Cardiologia. | 2023 |
HAMMOUD S, VAN DEN BEMT BJF, JABER A, KURDI M. | Impaired cardiac structure and systolic function in athletes using supra-physiological doses of anabolic androgenic steroids. | J Sci Med Sport. | 2023 |
HANDELSMAN DJ. | Androgen Misuse and Abuse. | Endocrine Reviews. | 2021 |
JAMBI S, MIRZA A, ZUGHAIBI T, KHALIL H, BORAI A. | The assessment of liver function test and fertility hormones in Saudi athletes using anabolic androgenic steroids. | Saudi Pharmaceutical Journal. | 2024 |
LEITE DC, DE SOUSA RML, JÚNIOR ALRC, VELOSO HJF. | Factors associated with anabolic steroid use by exercise enthusiasts. | Revista Brasileira de Medicina do Esporte. | 2020 |
MULAWKAR PM, MAHESHWARI PN, GAUHAR V, AGRAWAL SG, MOHAMMED TO, SINGH AG, et al. | Use of Anabolic-Androgenic Steroids and Male Fertility: A Systematic Review and Meta-analysis. | Wolters Kluwer Medknow Publications | 2023 |
NOGUEIRA DE SÁ ACMG, MACHADO ÍE, IVATA BERNAL RT, MALTA DC. | Factors associated with high ldl-cholesterol in the brazilian adult population: National health survey | Ciência e Saúde Coletiva. | 2021 |
PETROVIC A, | Anabolic androgenic | Baishideng | 2022 |
VUKADIN S, SIKORA R, BOJANIC K, SMOLIC R, PLAVEC D, et al. | steroid-induced liver injury: An update. | Publishing Group | |
SMIT DL, GA, BMM, DE HO, DEN HM, & DE RW. | Prospective study on blood pressure, lipid metabolism and erythrocytosis during and after androgen abuse | Andrologia. | 2022 |
SMIT DL, VOOGEL AJ, DEN HEIJER M, DE RONDE W. Echocardiography | Anabolic Androgenic Steroids Induce Reversible Left Ventricular Hypertrophy and Cardiac Dysfunction. | Frontiers in Reproductive Health. | 2021 |
TORRISI M, PENNISI G, RUSSO I, AMICO F, ESPOSITO M, LIBERTO A, et al. | Sudden cardiac death in anabolic-androgenic steroid users: A literature review. | Medicina | 2020 |
STOJKO M, NOCOŃ J, PIŁAT P, SZPILA G, SMOLARCZYK J, ŻMUDKA K, et al. | Innovative Reports on the Effects of Anabolic Androgenic Steroid Abuse— How to Lose Your Mind for the Love of Sport. | Medicina | 2023 |
3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS ANALISADOS
3.2.1 Criação e uso de anabolizantes e esteroides
Os esteroides anabolizantes são substâncias sintéticas derivadas do hormônio masculino testosterona, desenvolvidos inicialmente na década de 1930 para tratar condições como hipogonadismo e atrasos no crescimento. Seu uso terapêutico foi ampliado para ajudar pacientes com doenças debilitantes, como câncer e AIDS, visando preservar a massa muscular (Torrisi et al, 2020).
Esses compostos atuam nos receptores androgênicos do corpo, estimulando a síntese proteica e promovendo o crescimento muscular. Além disso, aumentam a retenção de nitrogênio e a produção de glóbulos vermelhos, o que melhora a resistência física e a recuperação após exercícios intensos (Abdullah et al, 2023).
Na medicina, os esteroides são prescritos para tratar condições como anemia, queimaduras graves, distúrbios hormonais e perda muscular crônica. No entanto, seu uso é rigorosamente controlado devido aos potenciais efeitos colaterais (Fyksen et al, 2022).
A partir dos anos 1950, atletas e fisiculturistas começaram a utilizar anabolizantes para melhorar o desempenho físico e acelerar o ganho de massa muscular. Isso levou a casos de doping, resultando em proibições por organizações esportivas como o COI (Comitê Olímpico Internacional) (Jambi et al, 2024).
Com o avanço da química farmacêutica, novos esteroides foram sintetizados, buscando reduzir efeitos androgênicos (como virilização em mulheres) enquanto maximizam os efeitos anabólicos. Exemplos incluem a nandrolona e o estanozolol (Smit et al, 2021).
Usuários não médicos frequentemente adotam “ciclos” de uso, combinando diferentes esteroides em períodos específicos para maximizar resultados e minimizar danos. Alguns também utilizam terapias pós-ciclo (PCT) para restaurar a produção natural de testosterona (Da Cunha et al, 2021).
O uso indiscriminado pode causar hepatotoxicidade, hipertensão, ginecomastia (crescimento das mamas em homens), infertilidade, acne severa e alterações de humor, incluindo agressividade (“roid rage”). Em mulheres, há risco de virilização (voz grossa, crescimento de pelos) (Mulawkar et al, 2023).
Alguns usuários desenvolvem dependência psicológica, associando o uso de esteroides à autoestima e imagem corporal. Isso pode levar a padrões de uso compulsivo, mesmo diante dos riscos à saúde. Em muitos países, a venda de esteroides sem prescrição é ilegal. No Brasil, sua comercialização é controlada pela Anvisa, mas o mercado negro e a importação clandestina ainda são problemas recorrentes (Leite et al, 2020).
Devido aos riscos, muitos atletas optam por suplementos naturais ou SARMs (Moduladores Seletivos de Receptores Androgênicos), que prometem efeitos similares com menos colaterais, embora sua segurança ainda seja questionada (Galvão et al, 2022).
Embora os esteroides anabolizantes tenham aplicações médicas válidas, seu uso não supervisionado representa sérios riscos à saúde. A busca por resultados rápidos na musculação e no esporte deve ser ponderada frente a possíveis consequências a longo prazo, reforçando a importância do acompanhamento profissional e de métodos naturais de desenvolvimento físico (Petrovic et al, 2022).
3.2.2 Benefícios da sua utilização
O principal benefício dos esteroides anabolizantes é a aceleração do crescimento muscular, pois estimulam a síntese proteica e reduzem a degradação de proteínas. Isso permite que atletas e fisiculturistas alcancem resultados mais rápidos em comparação com o treinamento natural (Torrisi et al, 2020).
Além do ganho de força e resistência, os esteroides aumentam a produção de glóbulos vermelhos, melhorando a oxigenação dos músculos e retardando a fadiga. Isso é especialmente vantajoso para atletas de alta intensidade, como levantadores de peso e velocistas (Gomes et al, 2023).
Esteroides reduzem o tempo de recuperação entre treinos, permitindo sessões mais intensas e frequentes. Isso ocorre porque diminuem a inflamação muscular e aceleram a reparação de tecidos danificados, beneficiando atletas em fase de preparação competitiva (Barroso et al, 2021).
Em casos médicos, esteroides são usados para tratar osteoporose e outras condições que enfraquecem os ossos. Eles promovem a retenção de cálcio e estimulam a formação óssea, sendo úteis para idosos ou pacientes com deficiências hormonais (Smit et al, 2022).
Pacientes com HIV/AIDS, câncer ou queimaduras graves se beneficiam dos efeitos anticatabólicos dos esteroides, que ajudam a preservar a massa muscular e melhorar a qualidade de vida. Também são usados em casos de anemia, por estimularem a produção de hemácias (Da Cunha et al, 2021).
Alguns esteroides, como o estanozolol e a oxandrolona, têm efeitos termogênicos, auxiliando na queima de gordura e na definição muscular. Isso os torna populares entre fisiculturistas em fase de cutting (pré-competição) (Nogueira et al, 2021).
Em homens com deficiência de testosterona (hipogonadismo), a reposição hormonal com esteroides pode restaurar a libido, melhorar a ereção e aumentar a energia. No entanto, o uso excessivo pode ter o efeito contrário a longo prazo (Hammoud et al, 2023).
Indivíduos com baixos níveis de testosterona podem experimentar ganhos em humor, disposição e confiança após o uso terapêutico de esteroides. No entanto, em doses elevadas, podem ocorrer alterações de humor negativas, como irritabilidade e agressividade (Gomes et al, 2023).
Pesquisas recentes investigam o uso de esteroides em tratamentos de regeneração muscular e neurológica, como em casos de atrofia muscular espinhal e lesões graves. Seus efeitos anabólicos podem ser úteis na reabilitação de pacientes acamados ou em pós-operatórios (Petrovic et al, 2022).
3.2.3 Malefícios do seu uso
Muitos esteroides, especialmente os orais (como a oximetolona e o estanozolol), são metabolizados no fígado, podendo causar hepatite, colestase e até tumores hepáticos com uso prolongado. Casos de insuficiência hepática já foram relatados em usuários abusivos (Mulawkar et al, 2023).
Esteroides aumentam o LDL (colesterol ruim) e reduzem o HDL (colesterol bom), elevando o risco de aterosclerose, infarto e AVC. Além disso, causam hipertensão e hipertrofia ventricular, sobrecarregando o coração. O uso crônico suprime a produção natural de testosterona, levando à atrofia testicular, infertilidade e impotência. Em mulheres, causa virilização (crescimento de pelos, voz grossa, clitóris aumentado) e irregularidades menstruais (Stojko et al, 2023).
A “roid rage” (agressividade exacerbada) é um efeito comum devido às alterações nos níveis de neurotransmissores. Ansiedade, depressão, paranóia e até psicose podem surgir, especialmente em predispostos. O excesso de esteroides converte-se em estrogênio, causando o desenvolvimento de tecido mamário masculino. Muitos usuários precisam de cirurgia para corrigir o problema ou usam antiestrogênicos como prevenção (Leite et al, 2020).
Acne grave, oleosidade excessiva, calvície precoce (em geneticamente predispostos) e estrias por crescimento muscular acelerado são frequentes. Infecções de pele também podem ocorrer devido a aplicações inadequadas de injetáveis. Muitos usuários desenvolvem uma obsessão pela imagem corporal, acreditando que só conseguem resultados com esteroides. A síndrome de abstinência pode incluir fadiga extrema, depressão e perda de motivação (Gomes et al, 2023).
O uso prolongado pode enfraquecer a imunidade, aumentando a suscetibilidade a infecções. Alguns esteroides também reduzem a produção de cortisol, comprometendo a resposta do corpo ao estresse e inflamações. A alta ingestão de proteínas associada ao uso de esteroides, somada à retenção de líquidos e aumento da pressão arterial, pode sobrecarregar os rins, levando a cálculos renais ou até insuficiência renal em casos extremos (Corona et al, 2021).
O uso crônico acelera a queda de cabelo, engrossa a pele e pode causar alargamento da mandíbula (facial masculinização em mulheres). Além disso, o abuso de hormônios está ligado a um aspecto “inchado” devido à retenção hídrica. Casos de morte por falência múltipla de órgãos, trombose ou arritmias cardíacas já foram associados ao abuso de esteroides. Alguns danos, como cicatrizes hepáticas (cirrose), problemas cardíacos e infertilidade, podem ser permanentes (Handelsman et al, 2021).
4. CONCLUSÃO
Embora os esteroides tenham aplicações médicas legítimas, seu uso recreativo ou sem supervisão se torna uma “roleta-russa” biológica. Os benefícios estéticos e esportivos não justificam os riscos de danos irreversíveis à saúde. A busca por atalhos pode custar não apenas a performance futura, mas a vida. Se o objetivo for uma melhora física, métodos naturais com acompanhamento profissional ainda são o caminho mais seguro e sustentável.
REFERÊNCIAS
ABDULLAH R, BJØRNEBEKK A, HAUGER LE, HULLSTEIN IR, EDVARDSEN T, HAUGAA KH, et al. Severe biventricular cardiomyopathy in both current and former long-term users of anabolic–androgenic steroids. Eur J Prev Cardiol. 27 de março de 2023.
BARROSO WKS, RODRIGUES CIS, BORTOLOTTO LA, MOTA-GOMES MA, BRANDÃO AA, DE MAGALHÃES FEITOSA AD, et al. Brazilian guidelines of hypertension – 2020. Arq Bras Cardiol. 2021;116(3):516–658.
CORONA G, RASTRELLI G, MARCHIANI S, FILIPPI S, MORELLI A, SARCHIELLI E, et al. Consequences of anabolic-androgenic steroid abuse in males; Sexual and reproductive perspective. World Journal of Men’s Health. 1o de junho de 2021;39:1–14.
DA CUNHA CLP. Electrocardiographic diagnosis of left ventricular hypertrophy. Vol. 117, Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia; 2021. p. 932–3.
FYKSEN TS, VANBERG P, GJESDAL K, VON LUEDER TG, BJØRNERHEIM R, STEINE K, et al. Cardiovascular phenotype of long-term anabolic-androgenic steroid abusers compared with strength-trained athletes. Scand J Med Sci Sports. 1o de agosto de 2022;32(8):1170–81.
GALVÃO TF, TIGUMAN GMB, SARKIS-ONOFRE R, PAGE MJ, MCKENZIE JE, BOSSUYT PM, et al. A declaração PRISMA 2020: Diretriz atualizada para relatar revisões sistemáticas. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2022;31(2).
GOMES DA, PAIVA MS, RANCHORDÁS S, SANTOS RR, FERREIRA J, TRABULO M. Acute Coronary Syndrome in a Young Male with Long-Term Use of Anabolic Androgenic Steroids. Vol. 120, Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Sociedade Brasileira de Cardiologia; 2023.
HAMMOUD S, VAN DEN BEMT BJF, JABER A, KURDI M. Impaired cardiac structure and systolic function in athletes using supra-physiological doses of anabolic androgenic steroids. J Sci Med Sport. 1o de outubro de 2023;26(10):514–21.
HANDELSMAN DJ. Androgen Misuse and Abuse. Vol. 42, Endocrine Reviews. Endocrine Society; 2021. p. 457–501.
JAMBI S, MIRZA A, ZUGHAIBI T, KHALIL H, BORAI A. The assessment of liver function test and fertility hormones in Saudi athletes using anabolic androgenic steroids. Saudi Pharmaceutical Journal. 1o de fevereiro de 2024;32(2).
LEITE DC, DE SOUSA RML, JÚNIOR ALRC, VELOSO HJF. Factors associated with anabolic steroid use by exercise enthusiasts. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 1o de julho de 2020;26(4):294–7.
MULAWKAR PM, MAHESHWARI PN, GAUHAR V, AGRAWAL SG, MOHAMMED TO, SINGH AG, et al. Use of Anabolic-Androgenic Steroids and Male Fertility: A Systematic Review and Meta-analysis. Vol. 16, Journal of Human Reproductive Sciences. Wolters Kluwer Medknow Publications; 2023. p. 268–85.
NOGUEIRA DE SÁ ACMG, MACHADO ÍE, IVATA BERNAL RT, MALTA DC. Factors associated with high ldl-cholesterol in the Brazilian adult population: National health survey. Ciência e Saúde Coletiva. 2021;26(2):541–53.
PETROVIC A, VUKADIN S, SIKORA R, BOJANIC K, SMOLIC R, PLAVEC D, et al. Anabolic androgenic steroid-induced liver injury: An update. Vol. 28, World Journal of Gastroenterology. Baishideng Publishing Group Inc; 2022. p. 3071–80.
SMIT DL, GA, BMM, DE HO, DEN HM, & DE RW. Prospective study on blood pressure, lipid metabolism and erythrocytosis during and after androgen abuse. . Andrologia. 2022;54.
SMIT DL, VOOGEL AJ, DEN HEIJER M, DE RONDE W. Anabolic Androgenic Steroids Induce Reversible Left Ventricular Hypertrophy and Cardiac Dysfunction. Echocardiography Results of the HAARLEM Study. Frontiers in Reproductive Health. 1o de setembro de 2021;3.
STOJKO M, NOCOŃ J, PIŁAT P, SZPILA G, SMOLARCZYK J, ŻMUDKA K, et al. Innovative Reports on the Effects of Anabolic Androgenic Steroid Abuse—How to Lose Your Mind for the Love of Sport. Medicina (Lithuania). 1o de agosto de 2023;59(8).
TORRISI M, PENNISI G, RUSSO I, AMICO F, ESPOSITO M, LIBERTO A, et al. Sudden cardiac death in anabolic-androgenic steroid users: A literature review. Vol. 56, Medicina (Lithuania). MDPI AG; 2020. p. 1–19.
1Adroaldo De Miranda Rocha Neto, Acadêmico de Medicina da faculdade CET.
²Demetryus Vieira Simeão, Acadêmico de Medicina da faculdade CET
³Me. Pedro Simão da Silva Azevedo, Professor da Faculdade CET