BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS DA DEXAMETASONA NO TRATAMENTO DA COVID-19.

BENEFITS AND HARMS OF DEXAMETHASONE IN THE TREATMENT OF COVID-19.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12679468


Rayssa Monteiro do Amaral Vilela
Livia Farias de Aquino Rocha
Carlos Henrique Torres da Silva
Mariany Marily Cabral Pudrente
Yago Matheus Martins de Lima


Resumo

A dexametasona mostrou-se vital no tratamento de casos severos de COVID-19, onde o sistema imunológico pode causar inflamação intensa nos pulmões, levando a dificuldades respiratórias graves. Este estudo é uma revisão integrativa segundo as normas feita por Souza et al. (2010), realizando uma análise baseada na literatura científica, a fim de obter uma compreensão concreta sobre o tema principal do trabalho. A dexametasona ajuda a prevenir e atenuar esses danos, sendo especialmente benéfica para pacientes hospitalizados que necessitam de oxigênio ou ventilação mecânica. Contudo, seu uso em casos leves é geralmente desencorajado devido ao potencial de suprimir o sistema imunológico e interferir na capacidade natural do corpo de combater infecções.

Palavras-chave: dexametasona; COVID-19; glicocorticoide.

1. INTRODUÇÃO

A dexametasona, um glicocorticoide sintético com propriedades anti-inflamatórias potentes, desempenha um papel crucial não só em tratamentos terapêuticos, mas também como ferramenta diagnóstica de primeira linha para o hipercortisolismo e na diferenciação das causas da síndrome de Cushing. Sua eficácia no diagnóstico de distúrbios endócrinos complexos destaca a versatilidade deste medicamento no campo da medicina.[1]

A dexametasona (DEX) tem sido uma protagonista crucial no tratamento de diversas doenças, desde doenças autoimunes até câncer, alergias, distúrbios oculares e, mais recentemente, o COVID-19. Sua eficácia no alívio de inflamações e na modulação do sistema imunológico a torna uma ferramenta poderosa na medicina. No entanto, a DEX não é isenta de desafios. Sua fraca solubilidade em água limita a administração eficaz, e o uso sistêmico pode desencadear efeitos colaterais graves, como hiperglicemia, hipertensão, distúrbios hidroeletrolíticos e úlceras pépticas. Esses obstáculos tornam a busca por formas de administração mais seguras e eficazes em um campo de pesquisa altamente relevante. [2]

A administração sistêmica da DEX, embora eficaz, frequentemente resulta em uma série de complicações devido à distribuição não seletiva do medicamento pelo corpo. Os efeitos adversos podem ser devastadores para os pacientes, comprometendo a qualidade de vida e, em alguns casos, limitando o uso contínuo do medicamento. A hiperglicemia, por exemplo, pode complicar o manejo do diabetes, enquanto a hipertensão pode aumentar o risco de eventos cardiovasculares. Estes efeitos adversos sublinham a necessidade de métodos de entrega mais direcionados que minimizem a exposição sistêmica e maximizem a eficácia terapêutica. [3]

Neste contexto, os nanossistemas baseados em peptídeos, como hidrogéis (HGs) e nanogéis (NGs), emergem como soluções promissoras. Esses sistemas têm a capacidade de encapsular medicamentos como a DEX, melhorando sua solubilidade e permitindo uma liberação controlada e direcionada. O uso de hidrogéis baseados em peptídeos, especificamente o homopeptídeo Fmoc-FF, demonstra um potencial significativo. A metodologia de “troca de solvente” utilizada para criar esses HGs permite a formação de estruturas capazes de carregar a DEX de maneira eficiente, melhorando a estabilidade e facilitando a administração direcionada. [3]

2. METODOLOGIA 

Este estudo é uma revisão integrativa segundo as normas feita por Souza et al. (2010), realizando uma análise baseada na literatura científica, a fim de obter uma compreensão concreta sobre o tema principal do trabalho.

Para o direcionamento do estudo foi estabelecido uma pergunta norteadora:  QUAIS OS  BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS  DA DEXAMETASONA NO TRATAMENTO DA COVID-19? Foram utilizadas as seguintes bases de dados PUBMED; BVS; MEDICINA INTENSIVA;  ( ; ). Para realização das pesquisas utilizamos alguns Descritores de Ciências da Saúde DesC, como: COVID-19, Novo Coronavírus, Dexametasona.  Além dos descritores, foi utilizado o operador booleano “AND”.

Foram excluídos artigos duplicados, artigos não correspondentes com o assunto e periódicos incompletos e pagos. O tipo de verificação usado para elaborar este estudo trata-se da análise de conteúdo descrita por Bardin (1977), que consiste em um exame detalhado sobre os dados obtidos, para assim ter um maior entendimento e elaboração de hipóteses sobre o tema. Foi estabelecido um período temporal do corte do nosso estudo do ano de 2020 ao ano 2024 e realizado uma análise minuciosa sobre as informações de interesse dos documentos pesquisados sobre o tema, as quais foram submetidas a um exame de dados no que se refere ao BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS  DA DEXAMETASONA NO TRATAMENTO DA COVID-19.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Quadro de resultados 

IDAno e autorTítulo Base de dados Síntese 
1Alexander Grundmann, 2022.Menos complicações neurológicas da COVID-19 com dexametasona e remdesivir.PUBMEDAvaliar o impacto do tratamento com Dexametasona.
2A. Zangrillo,2021.Dexametasona no COVID-19: um medicamento para todos?Medicina Intensiva A pandemia de COVID-19 desafiou os médicos de todo o mundo a tratar uma doença nova e desconhecida. Com mais de 95 milhões de casos confirmados desde o seu início1, muito esforço tem sido feito para identificar os melhores tratamentos possíveis.
3Aljuhani, 2024Dexametasona versus metilprednisolona para disfunção de múltiplos órgãos em pacientes gravemente enfermos com COVID-19: um estudo  multicêntrico de correspondência de escore de propensãoBVS – Biblioteca regional da saúdeA dexametasona apresentou menor MODS no terceiro dia de internação na UTI em comparação à metilprednisolona, sem diferença estatisticamente significativa na mortalidade.
4Muhammad Daniyal Waheed , 2023Comparação de eficácia e segurança de dexametasona em dose baixa versus dose alta em pacientes hospitalizados com COVID-19: uma meta-análisePUBMEDO presente estudo mostrou que doses mais altas de dexametasona não conseguiram aumentar a eficácia em comparação com doses baixas de dexametasona. Assim, com base nos achados desta meta-análise, dexametasona em baixas doses pode ser recomendada para esses pacientes.
5Bruno M Tomazini,2020Efeito da dexametasona nos dias de vida e sem ventilador em pacientes com síndrome de desconforto respiratório agudo moderado ou grave e COVID-19: o ensaio clínico randomizado CoDEXPUBMEDEntre pacientes com COVID-19 e SDRA moderada ou grave, o uso de dexametasona intravenosa mais tratamento padrão em comparação com o tratamento padrão isolado resultou em um aumento estatisticamente significativo no número de dias sem ventilação mecânica (dias vivos e livres de ventilação mecânica ) durante 28 dias.
6Peter Horby , 2020Dexametasona em pacientes hospitalizados com Covid-19PUBMEDEm pacientes hospitalizados com Covid-19, o uso de dexametasona resultou em menor mortalidade em 28 dias entre aqueles que estavam recebendo ventilação mecânica invasiva ou apenas oxigênio na randomização, mas não entre aqueles que não receberam suporte respiratório.
7Muhammad Daniyal Waheed, 2023Comparação de eficácia e segurança de dexametasona em dose baixa versus dose alta em pacientes hospitalizados com COVID-19: uma meta-análise.PUBMEDO presente estudo mostrou que doses mais altas de dexametasona não conseguiram aumentar a eficácia em comparação com doses baixas de dexametasona. Assim, com base nos achados desta meta-análise, dexametasona em baixas doses pode ser recomendada para esses pacientes.

A dexametasona tem se mostrado essencial no tratamento de casos severos de COVID-19. Nesses casos, o sistema imunológico pode reagir de maneira excessiva à infecção, causando uma inflamação intensa nos pulmões que pode levar a sérias dificuldades respiratórias. A dexametasona ajuda a prevenir e atenuar esses danos aos tecidos pulmonares, facilitando a respiração e salvando vidas. Contudo, seu uso é geralmente reservado para pacientes hospitalizados que necessitam de oxigênio ou ventilação mecânica, pois o uso inadequado em casos leves pode não ser benéfico e até prejudicial. [1]

Para pacientes com sintomas leves, que estão se recuperando em casa, o uso de corticosteroides como a dexametasona pode ser contraproducente. Além dos possíveis efeitos colaterais, os corticosteroides podem suprimir o sistema imunológico, interferindo na habilidade natural do corpo de combater infecções. Isso significa que, em vez de proporcionar benefícios, o medicamento pode comprometer a capacidade do corpo de lutar eficazmente contra a infecção, levando a resultados adversos. [2]

Essa abordagem cuidadosa no uso da dexametasona reflete a importância de considerar o estado clínico de cada paciente. Em casos severos, a dexametasona pode ser um verdadeiro salva vidas, mas em casos leves, sua utilização pode ser desnecessária e até prejudicial. Assim, a decisão de administrar este medicamento deve ser sempre baseada em uma avaliação criteriosa por parte dos profissionais de saúde, que levam em conta a gravidade da doença e as necessidades específicas de cada paciente.  [3] 

Em resumo, enquanto a dexametasona se destaca como uma ferramenta valiosa no tratamento de COVID-19 em situações graves, seu uso deve ser limitado e cuidadosamente monitorado. Isso garante que os benefícios superem os riscos e que os pacientes recebam o tratamento mais adequado conforme a progressão da doença. As lições aprendidas durante a pandemia ressaltam a importância de tratamentos personalizados e a necessidade de orientações claras e baseadas em evidências para o manejo de diferentes estágios da infecção. [2]

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dexametasona, um potente corticosteroide, emergiu como uma opção terapêutica crucial para pacientes com COVID-19 em estado grave. Estudos clínicos robustos evidenciaram que a administração deste medicamento pode diminuir significativamente a mortalidade entre aqueles que necessitam de suporte respiratório, como ventilação mecânica ou oxigênio suplementar. Este achado é particularmente relevante no contexto da pandemia, onde estratégias eficazes de tratamento são urgentemente necessárias para salvar vidas e reduzir a pressão sobre os sistemas de saúde.

Entretanto, a dexametasona não deve ser utilizada indiscriminadamente em todos os pacientes diagnosticados com COVID-19. Seu uso é restrito a casos graves e críticos, devendo ser administrada exclusivamente sob supervisão médica em ambientes hospitalares. O uso inadequado de corticosteroides pode trazer riscos significativos, incluindo a supressão do sistema imunológico, que pode agravar infecções ou levar ao desenvolvimento de complicações adicionais. Portanto, é imperativo que o tratamento com dexametasona seja conduzido com cautela e baseada em evidências clínicas sólidas.

Cada paciente é um indivíduo único, com particularidades que devem ser rigorosamente consideradas no processo de decisão terapêutica. Fatores como idade, presença de comorbidades e o uso concomitante de outros medicamentos influenciam a resposta ao tratamento e os potenciais riscos associados. Assim, a personalização do tratamento é essencial para maximizar os benefícios e minimizar os riscos. Médicos e profissionais de saúde devem avaliar cuidadosamente o quadro clínico de cada paciente antes de prescrever dexametasona, assegurando que a decisão seja embasada em uma análise holística do estado de saúde do indivíduo.

Por fim, é crucial compreender que a dexametasona não cura a COVID-19. Embora possa ajudar a reduzir a inflamação pulmonar e melhorar os sintomas em casos graves, não substitui outras medidas preventivas fundamentais, como o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene das mãos. Continuar seguindo as orientações das autoridades de saúde e consultar profissionais de saúde para obter informações e conselhos atualizados sobre o uso da dexametasona são passos essenciais para a gestão eficaz e segura da COVID-19. A colaboração contínua e informada entre pacientes e profissionais de saúde é a chave para enfrentar os desafios impostos pela pandemia.

REFERÊNCIAS

1 HILAL-DANDAN, Randa. Manual de farmacologia e terapêutica de Goodman e Gilman. 2. ed. Porto Alegre: Amgh, 2015. 1204 p.

2 MADAMSETTY, V. S. et al. Dexamethasone: Insights into Pharmacological Aspects, Therapeutic Mechanisms, and Delivery Systems. ACS Biomaterials Science & Engineering, v. 8, n. 5, p. 1763–1790, 19 abr. 2022.

3 GALLO, E. et al. Fmoc-FF hydrogels and nanogels for improved and selective delivery of dexamethasone in leukemic cells and diagnostic applications. Sci Rep, p. 9940–9940, 2024.‌

4 GRUNDMANN, A. et al. Fewer COVID‐19 Neurological Complications with Dexamethasone and Remdesivir. Annals of Neurology, v. 93, n. 1, p. 88–102, 9 nov. 2022. 

5 ZANGRILLO, A. et al. Dexametasona en COVID-19: ¿un medicamento para todos? Medicina Intensiva, abr. 2021. n

6 ALJUHANI, O. et al. Dexamethasone versus methylprednisolone for multiple organ dysfunction in COVID-19 critically ill patients: a multicenter propensity score matching study. BMC Infect Dis, p. 189–189, 2024.

7 BATOOL, S. et al. Efficacy of Intravenous Albumin for Spontaneous Bacterial Peritonitis Infection Among Patients With Cirrhosis: A Meta-Analysis of Randomized Control Trials. Cureus, v. 14, n. E. e33124, 1 ten. 2022.

8 TOMAZINI, B. M. et al. Effect of Dexamethasone on Days Alive and Ventilator-Free in Patients With Moderate or Severe Acute Respiratory Distress Syndrome and COVID-19. JAMA, v. 324, n. 13, p. 1307, 6 out. 2020.

9 THE RECOVERY COLLABORATIVE GROUP. Dexamethasone in Hospitalized Patients with Covid-19 — Preliminary Report. New England Journal of Medicine, v. 384, n. 8, p. 693–704, 17 jul. 2020.

10 WAHEED, M. D. et al. Comparison of Efficacy and Safety of Low-Dose Versus High-Dose Dexamethasone in Hospitalized COVID-19 Patients: A Meta-Analysis. Cureus, 17 jan. 2023.