REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202409192255
Maria Rita Souza Pires1
Renan Lucas Freire Gomes2
RESUMO
As lesões por pressão são feridas que surgem em áreas da pele submetidas à pressão contínua, especialmente em pacientes acamados ou com mobilidade reduzida. Essas lesões ocorrem principalmente sobre proeminências ósseas, como quadris, calcanhares e sacro, e resultam da interrupção do fluxo sanguíneo, levando à isquemia e à necrose tecidual. Atualmente, a laserterapia tem se destacado como uma novidade no tratamento das lesões por pressão, como uma abordagem não invasiva que acelera a cicatrização e promove a regeneração tecidual. Este estudo teve como objetivo descrever os benefícios da laserterapia na cicatrização de lesões por pressão de pacientes acamados. O método utilizado para o alcance do objetivo foi a revisão de literatura, baseada na pesquisa por obras nas bases de dados SCIELO e MEDLINE, na qual foram submetidas a leitura íntegra e elaboração do texto de discussão. No total, foram encontradas oito obras que ressaltam a utilização de laserterapia para a cicatrização de lesões por pressão de pacientes acamados. A laserterapia se destacou como um tratamento promissor para pacientes acamados com lesões por pressão, não apenas acelerando a cicatrização das lesões, mas também melhorando a qualidade de vida desses pacientes ao aliviar a dor e prevenir a progressão das feridas. Utilizando feixes de luz de baixa intensidade, a terapia estimula a microcirculação, reduz a inflamação e aumenta a produção de colágeno, proporcionando uma recuperação mais rápida e melhor qualidade de vida para os pacientes. Essa abordagem personalizada é essencial para otimizar os resultados clínicos e estéticos, oferecendo uma alternativa segura e eficaz para a gestão dessas lesões complexas, promovendo a qualidade de vida dos pacientes acamados.
Palavras-chave: Úlcera por pressão. Terapia a laser. Cicatrização.
INTRODUÇÃO
As Lesões por Pressão (LPPs), anteriormente conhecidas como úlceras de pressão, ou escaras de decúbito, são áreas de dano localizado na pele e/ou tecidos subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea, resultantes de pressão prolongada, associada ou não a cisalhamento e/ou fricção (Almeida et al., 2019). Em geral, as LPPs são classificadas por estágios entre 1 e 4, sendo o primeiro estágio relacionado a um eritema não branqueável de pele íntegra, e o quarto estágio um ferimento de grande espessura com exposição de ossos, músculos e tendões (Morais et al., 2016). Segundo Carvalho (2019), ainda existem LPPs de estadiamentos não classificáveis, por apresentarem uma grande quantidade de tecidos esfacelados e necrosados que cobrem a base da ferida.
Globalmente, as LPPs afetam milhões de pessoas anualmente, com uma prevalência estimada entre 5% e 20% em hospitais e até 30% em instituições de longa permanência, principalmente pacientes acamados, com mobilidade limitada, se tornam os mais vulneráveis ao desenvolvimento (Constantin et al., 2018). Segundo Padula e Delarmente (2019), nos Estados Unidos, estima-se que 2,5 milhões de pacientes desenvolvem LPP anualmente, resultando em milhares de mortes devido a complicações associadas, sendo que grande parte são idosos em estágios críticos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
De acordo com uma Nota Técnica da Agência Nacional de Vigilância em Saúde (ANVISA), mais de 1,1 milhões de casos de LPPs foram notificados no ano de 2022, sendo mais de cinco mil casos em estágio 4. De acordo com Teixeira et al. (2020), a incidência de LPPs está relacionada com o tempo de permanência do paciente na unidade de internação, utilização de cateteres nasoentéricos e vesicais, assim como pacientes em utilização de traqueostomia (TOT), sendo que entre 10 e 15% destes pacientes permanecem em internação na UTI.
Carvalho et al. (2019) apontam que idosos, especialmente acima dos 65 anos, são os mais afetados, devido à perda de elasticidade da pele e redução da mobilidade, assim como, mulheres tendem a ser mais vulneráveis, em parte devido à maior longevidade e predisposição a condições crônicas que aumentam o risco de acamamento prolongado, e dentre as raças que apresentam maior prevalência de LPP, estão pessoas de pele mais clara, devido à menor espessura da pele e maior susceptibilidade a danos por pressão.
Segundo França (2018), o diagnóstico das LPPs é clínico, baseado na avaliação visual e palpação da pele e tecidos subjacentes, e no Brasil, diversos profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, com o tanto que estejam habilitados a realizar o diagnóstico e a classificação das LPP. Sendo assim, o fisioterapeuta, por sua formação e expertise em avaliação da função muscular e articular, na prevenção, atua através da mobilização precoce e implementação de terapias específicas para prevenir a formação de novas lesões, assim como, auxilia o planejamento de prevenção de LPPs e redução da sobrecarga tissular (Silva et al., 2019).
O tratamento das LPPs é multidisciplinar e depende do estágio da lesão, onde as intervenções incluem: Reposição e alívio da pressão; Cuidado da ferida, priorizando uma limpeza adequada, desbridamento e aplicação de curativos que promovam um ambiente úmido para a cicatrização são essenciais; Controle de infecção; Suporte nutricional; e uso de terapias adjuvantes, como a laserterapia (Almeida et al., 2017).
Bernardes e Jurado (2018), afirmam que a laserterapia é uma intervenção terapêutica que utiliza feixes de luz de baixa intensidade para promover a reparação tecidual e acelerar a cicatrização de lesões por pressão, uma vez que a luz emitida pelo laser penetra nas camadas da pele e é absorvida pelas células, estimulando a produção de ATP, o que aumenta a energia celular, sendo assim, esse processo promove a síntese de colágeno, fundamental para a regeneração tecidual, além de reduzir a inflamação e o edema local.
A alta prevalência de LPPs em hospitais e instituições de longa permanência, bem como a gravidade das complicações associadas, como infecções e até óbito, sublinham a necessidade urgente de intervenções eficazes para a prevenção e tratamento dessas lesões. A laserterapia tem se destacado como uma modalidade terapêutica promissora no manejo de LPPs, devido à sua capacidade de promover a regeneração tecidual, reduzir a inflamação e melhorar a cicatrização. Além disso, este estudo visa fornecer subsídios para a prática clínica, contribuindo para a ampliação do conhecimento dos profissionais de saúde, especialmente fisioterapeutas, sobre as melhores abordagens terapêuticas disponíveis.
O objetivo geral deste estudo, foi descrever os benefícios da laserterapia na cicatrização de LPPs de pacientes acamados. Para isso, foram utilizados os objetivos específicos: apresentar a pré-disposição de pacientes restritos ao leito para adquirirem LPPs; analisar os efeitos do laser na reconstrução de camadas da pele; e especificar as formas de tratamento com laser mais atuais na literatura.
METODOLOGIA
A revisão integrativa da literatura (RIL), trata-se de um método eficaz para reunir e sintetizar os conteúdos disponíveis, mais atuais, sobre determinado tema, fornecendo não somente a análise desses materiais, mas também uma reflexão sobre como os autores estão contribuindo com a pesquisa, identificando as barreiras e também trazendo novas perspectivas para esse cenário (Gil, 2022).
Este é um estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa, baseado nas etapas descritas por Gil (2022) (Figura 1): elaboração da pergunta de pesquisa; busca de literatura nas bases de dados; seleção dos estudos encontrados; análise minuciosa dos estudos encontrados; e elaboração do texto de discussão.
Figura 1 – Etapas da RIL 5
Fonte: autoria própria (2024).
A primeira fase da RIL foi a elaboração da pergunta de pesquisa, definida através da utilização da estratégia de PICO (Casarin et al., 2020). P (Paciente/Problema): Pacientes acamados com lesões por pressão (LPPs); I (Intervenção): Laserterapia; C (Comparação): (Ausência de tratamento com laser ou tratamentos convencionais); O (Resultado): Melhora na cicatrização de LPPs. Sendo assim, a pergunta de pesquisa utilizada foi: “Em pacientes acamados com lesões por pressão, a laserterapia é eficaz na cicatrização das LPPs em comparação com o tratamento convencional ou ausência de tratamento com laser?”.
A seleção dos estudos ocorreu entre os meses de julho e agosto de 2024, com a utilização da ferramenta de busca e seleção PRISMA (Figura 2). As obras incluídas na busca, eram originais e publicadas entre os anos de 2020 e 2024, com idioma inglês ou português, com texto completo e disponíveis gratuitamente nas bases de dados. Os critérios para inelegibilidade foram: estudos caracterizados como livros, capítulos de livro, resumos de congressos e eventos, cartilhas e manuais de saúde.
Figura 2 – Fluxograma PRISMA.
Fonte: Adaptado de Galvão, Tiguman e Sarkis-Onofre (2020).
Os estudos foram buscados nas bases de dados: Biblioteca Eletrônica Científica Online – SCIELO (do inglês: Scientific Electronic Library Online) e Sistema de Análise e Recuperação de Literatura Médica Online – MEDLINE (do inglês: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online). Foram utilizados os descritores em ciências da saúde (DECS): “Úlcera por pressão” (Pressure Ulcer); “Terapia a laser” (Laser Therapy) e “Cicatrização” (Wound Healing), separados pelo operador booleano “AND”.
Após a aplicação dos filtros de idioma e tempo de publicação dos estudos, estes foram exportados das plataformas e foram organizados em uma planilha desenvolvida no Microsoft Word, em ano de publicação, resultados, nomes dos autores, tipo de estudo e níveis de evidência (Quadro 1). Os níveis de evidência foram divididos da seguinte forma: I – revisão de literatura ou sistemática; II – relato de caso; III – ensaio clínico randomizado; IV – coorte ou caso-controle; V – estudo descritivo; VI – opiniões de especialistas.
Este estudo não foi submetido ao comitê de ética de pesquisa, por se tratar de uma revisão de literatura, e sendo assim, não envolveu seres humanos durante o seu desenvolvimento.
Resultados
Quadro 1 – Resultados do levantamento de dados.
Ano | Autores | Tipo de Pesquisa e Nível de Evidência | Resultados |
2023 | Fernandéz Guarino et al. | Opinião de especialistas VI | Este estudo reuniu as diretrizes mais atualizadas sobre a cicatrização de lesões por pressão para fisioterapeutas, e um dos tópicos é a contribuição do fisioterapeuta na utilização da laserterapia para pacientes acamados. |
2023 | Lucena et al. | Relato de Caso II | Paciente de 28 anos, diagnóstico de polineuropatia, história pregressa de depressão, insuficiência renal crônica e COVID-19 grave. Apresentou uma LPP na região sacral, cavitária, de alta extensão, bordos irregulares, presença de 20% de necrose e liquefação. A terapia a laser aplicada foi com o Therapy EC da DMC® – Potência de 100 mW, comprimento de onda de 660 e 808 nanômetros. |
2022 | Almeida et al. | Revisão de Literatura I | Diversos fatores influenciam a eficácia da laserterapia de baixa intensidade na aceleração do processo de cicatrização, especialmente relacionados à profundidade da lesão e ao estado nutricional do paciente. No entanto, essa terapia apresenta algumas limitações, como a necessidade do envolvimento ativo do paciente no autocuidado durante o tratamento, o que pode resultar em um maior número de sessões. |
2021 | Goyal e Kothiyal | Relato de Caso II | Paciente de 53 anos, tetraplégico, acamado e com lesão por pressão estágio 3 entre C5 e C6. O laser utilizado foi o Lite Cure Gallium-Aluminium-Arsenide (GaAlAs) classe IV, durante 19 sessões, com duração de 8 a 15 minutos. |
2021 | Macedo et al. | Revisão de Literatura I | Foram analisados 7 estudos nesta revisão, e, embora muitos deles apresentam os efeitos positivos da laserterapia, ainda não existe um consenso nem protocolos específicos estabelecidos que definem claramente os parâmetros de irradiação, como comprimento de onda, energia, fluência, potência, irradiância, duração do pulso e intervalos entre as sessões de tratamento. |
2021 | Machado e Barbeitos | Relato de Caso II | Paciente idoso com diagnóstico de Alzheimer, acamado e com uma lesão por pressão entre T1 e T5, submetido a aplicação de laser com caneta 660 e 904 nm, e programação de aplicação em 3J por ponto, e aplicação do laser na borda da ferida e extensões, nas primeiras semanas de tratamento. Aumentou-se para 4J após a 4ª aplicação. |
2021 | Nascimento et al. | Revisão de Literatura I | As buscas realizadas nas bases de dados eletrônicas revelaram que a maioria dos resultados eram compostos por estudos de revisão bibliográfica, que se concentravam principalmente na técnica de tratamento utilizada ou no perfil sociodemográfico dos pacientes com LPPs. |
2020 | Lima et al. | Revisão de Literatura I | 10 obras foram encontradas e a maioria indicou que o laser de baixa intensidade gera resultados superiores no processo de cicatrização de úlceras por pressão. |
Fonte: a autora (2024).
Discussão
Pacientes acamados apresentam uma sensibilidade aumentada ao desenvolvimento de lesões por pressão (LPPs) devido à imobilidade prolongada e à incapacidade de alterar frequentemente a posição corporal. A falta de movimento contínuo leva à compressão prolongada dos tecidos moles entre proeminências ósseas e superfícies de apoio, resultando em isquemia local e dano tecidual. Essa condição é agravada pela diminuição da sensibilidade e da percepção de dor, especialmente em pacientes com comprometimentos neurológicos, como idosos com Alzheimer ou outras condições que afetam a comunicação ou o nível de consciência. Além disso, a umidade da pele, causada por sudorese, incontinência ou feridas, aumenta o risco de danos, tornando a pele mais vulnerável à ruptura e ao desenvolvimento de úlceras (Machado; Barbeitos, 2021).
A baixa nutrição dos pacientes acamados, compromete a integridade da pele e a capacidade de cicatrização, e a presença de comorbidades, como diabetes e doenças vasculares, que reduzem a circulação sanguínea e retardam a recuperação dos tecidos danificados. A falta de estímulo físico e a pressão constante sobre essas áreas do corpo diminuem ainda mais a capacidade de resposta do organismo, agravando a propensão a desenvolver úlceras por pressão (Lima et al., 2020).
Quando aplicado sobre a pele, o laser penetra nas camadas mais profundas dos tecidos, onde sua energia é absorvida pelos cromóforos celulares, como a água e os cromossomos. Esse processo desencadeia uma série de respostas celulares benéficas, incluindo a melhoria da microcirculação, o aumento da síntese de colágeno e a redução da inflamação. A energia do laser também promove a produção de adenosina trifosfato (ATP), que é crucial para o metabolismo celular e fornece a energia necessária para o crescimento e regeneração das células. Além disso, o laser estimula a atividade dos fibroblastos, células responsáveis pela produção de colágeno e elastina, fundamentais para a reparação da pele e a manutenção de sua elasticidade e firmeza (Almeida et al., 2022).
A energia fornecida pelo laser ajuda a aumentar a produção de ATP, que impulsiona a atividade metabólica e a regeneração celular. O laser também ativa enzimas antioxidantes que reduzem o estresse oxidativo e a inflamação local, contribuindo para uma recuperação mais rápida. Além disso, a estimulação do fluxo sanguíneo local melhora a oxigenação dos tecidos e a remoção de produtos metabólicos nocivos, promovendo um ambiente mais favorável para a cicatrização. Esses efeitos combinados resultam em uma regeneração mais eficiente e uma recuperação mais rápida das lesões cutâneas (Almeida et al., 2022).
Embora a laserterapia seja geralmente considerada segura, existem alguns riscos associados à sua aplicação. Entre os principais riscos estão a possibilidade de queimaduras na pele se o laser for utilizado inadequadamente, ou a ocorrência de reações adversas em pacientes com condições específicas, como fotossensibilidade. É crucial que a terapia seja realizada por profissionais treinados e que se siga rigorosamente os protocolos estabelecidos para evitar efeitos indesejados. Em relação ao acesso, o laser de baixa intensidade está cada vez mais disponível em clínicas e hospitais especializados, embora o custo possa variar e nem sempre esteja acessível para todos os pacientes. A acessibilidade pode ser um desafio em algumas áreas, mas a crescente popularidade da técnica está promovendo um aumento no número de estabelecimentos que oferecem esse tratamento (Macedo et al., 2021).
A laserterapia promove a aceleração da cicatrização e a regeneração tecidual de forma não invasiva e segura, onde a aplicação do laser de baixa intensidade estimula a microcirculação, aumenta a produção de colágeno e reduz a inflamação local, o que é crucial para a recuperação de lesões por pressão. Além disso, o laser possui efeitos analgésicos, ajudando a aliviar a dor sem a necessidade de medicamentos, que muitas vezes podem ter efeitos colaterais indesejados em pacientes frágeis. A terapia com laser também pode prevenir a progressão das úlceras ao fortalecer a barreira cutânea e melhorar a qualidade da pele ao redor das lesões, tornando-a mais resistente a novos danos. Dessa forma, a laserterapia não apenas acelera o processo de cicatrização, mas também contribui para a melhora da qualidade de vida dos pacientes acamados (Fernandéz-Guarino et al., 2023).
O uso de laser por fisioterapeutas no tratamento e prevenção de LPPs, apresenta inúmeros benefícios, tornando-se uma das terapias de primeira linha recomendadas por especialistas. A flexibilidade do tratamento a laser permite a combinação de diferentes tipos de lasers em uma única sessão, adaptando-se às características específicas da lesão. Lasers fracionados, como os ablativos (comprimentos de onda de 2790–10.600 nm) e não ablativos (1320–1927 nm), são os mais utilizados, com os lasers ablativos sendo considerados o padrão ouro para o tratamento de cicatrizes (Fernandéz-Guarino et al., 2023).
Segundo Nascimento et al. (2021), o uso do laser para cicatrização de LPPs demonstra ser uma técnica eficaz na aceleração do processo de reparação tecidual, com resultados significativos em um período relativamente curto de tratamento. Na 12ª sessão de laserterapia, o paciente já apresentava uma redução de 50% na profundidade e 60% na extensão da úlcera, evidenciando a eficácia do laser em promover uma cicatrização mais rápida e eficiente. Em comparação com outro paciente, que possui resultados similares, mas apenas após 22 sessões, o que destaca a potencialidade da laserterapia em otimizar o tempo de tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com LPPs, acelerando a recuperação e reduzindo o risco de complicações associadas às lesões.
Estes lasers atuam através da criação de colunas de dano térmico seletivo na pele, promovendo a regeneração e remodelação do colágeno, o que resulta na diminuição da espessura da derme e no aumento da flexibilidade da pele. Além disso, lasers vasculares, como o laser de corante pulsado (PDL), são eficazes na redução do eritema e da neovascularização excessiva em LPPs, inibindo a proliferação de fibroblastos e promovendo a formação de colágeno tipo III. O tratamento precoce com lasers têm mostrado resultados promissores na melhora da cicatrização e na qualidade estética de regeneração da pele, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar e personalizada para otimizar os resultados clínicos e estéticos dos pacientes (Fernandéz-Guarino et al., 2023).
No estudo de Machado e Barbeitos (2021), a utilização da laserterapia foi em conjunto com o ultrassom terapêutico, além da utilização de outras coberturas de utilização tópica, mas a aplicação do laser com canetas de 660 e 904 nm, utilizando uma dose inicial de 3J por ponto e aumentada para 4J após a quarta aplicação, potencializou a reparação tecidual ao estimular a microcirculação, a produção de colágeno e a redução da inflamação local. Esse protocolo, aplicado nas bordas da ferida e suas extensões, promove uma cicatrização mais rápida e eficaz, diminuindo o tempo de tratamento e reduzindo o risco de complicações, como infecções, que são comuns em pacientes acamados.
O uso do laser Lite Cure Gallium-Aluminium-Arsenide (GaAlAs) classe IV, próximo ao infravermelho, mostrou-se altamente eficaz no tratamento de úlceras de pressão em áreas complexas, como a sacral e trocantérica, para este paciente com a mobilidade reduzida. Este tratamento sem contato, com emissão de feixe contínuo e comprimento de onda de 980 nm, promove uma profunda penetração tecidual, favorecendo a regeneração celular, aumento da circulação sanguínea local e alívio da dor. Com dosages entre 7 J/cm² a 9 J/cm² e potências de 7,5 a 10 watts, as sessões, que duraram de 8 a 15 minutos para cada úlcera, foram realizadas 19 vezes ao longo de 6 semanas, proporcionando uma aceleração na cicatrização das feridas. A terapia não apenas melhorou a qualidade de vida do paciente ao reduzir o tempo de recuperação, mas também diminuiu o risco de infecções e complicações associadas a LPP (Goyal; Kothiyal, 2021).
Para Lucena et al. (2023), a utilização da laserterapia adjuvante neste protocolo promoveu uma aceleração na regeneração do tecido cicatricial, favorecendo uma recuperação mais rápida e eficaz de lesões de pele. Com base nas diretrizes de Precauções no uso do laser (Therapy EC), a aplicação foi feita em 35 pontos de 1J com laser vermelho e infravermelho concomitantes no leito da ferida, 25 pontos de 1J ao redor da lesão, e 8 pontos de 1J de infravermelho na cicatriz de uma lesão por micropore na lombar baixa. Essa abordagem favoreceu a reparação tecidual através do aumento da microcirculação, redução da inflamação e estimulação da síntese de colágeno, promovendo a cicatrização de forma mais rápida e com menos complicações.
Segundo Lucena et al. (2023), essa combinação terapêutica não só melhora os resultados clínicos, mas também contribui para uma abordagem mais holística e preventiva no cuidado de pacientes com alto risco de lesões cutâneas. A aplicação do laser aumenta a circulação local e acelera o processo de remoção de tecido necrosado ao promover a autofagia e a desintegração das células mortas. Além disso, o laser reduz a inflamação e o estresse oxidativo na área tratada, facilitando a limpeza do tecido necrosado e preparando o leito da ferida para a regeneração de novos tecidos saudáveis.
Outro ponto importante de destaque para a regeneração de células saudáveis com a utilização da laserterapia, é o alívio da dor, pois em geral, feridas com necrose e tecidos cavitários têm tendência em apresentar alto nível de dor em pacientes acamados ou restritos ao leito. Uma das principais vantagens da laserterapia é que se trata de uma técnica não dolorosa, o que é particularmente benéfico para os pacientes. Diferentemente de procedimentos invasivos que podem causar desconforto, a laserterapia utiliza feixes de luz de baixa intensidade que penetram na pele sem causar dor (Macedo et al., 2021).
Para Lima et al. (2020), o laser de baixa intensidade possui efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e antiedematosos, favorecendo a reparação tecidual. Os comprimentos de onda de 658 e 660 nm mostraram-se mais eficazes na cicatrização tecidual quando comparados a outros comprimentos de onda. No entanto, houve variações consideráveis nos parâmetros de potência e dosagem nas intervenções, sem um padrão fixo de aplicação.
A dosagem de 4 J/cm² e a potência de 30 mW foram as mais recorrentes, embora aplicadas em uma minoria dos estudos. Observa-se uma escassez de pesquisas sobre o uso do laser de baixa intensidade em úlceras por pressão, especialmente realizadas por fisioterapeutas, devido à falta de padronização na literatura sobre os parâmetros de tratamento, como comprimento de onda e dosagem. Segundo a literatura, a terapia a laser estimula analgesia, síntese de ATP, e microcirculação, promovendo a regeneração tecidual, o que contribui para a redução do tempo de internação e dos custos com curativos (Lima et al., 2020).
CONCLUSÃO
Os objetivos do presente estudo foram alcançados ao demonstrar os benefícios da laserterapia na cicatrização de LPPs em pacientes acamados. Os resultados obtidos corroboram com a literatura ao evidenciar que a laserterapia é uma modalidade terapêutica eficaz na aceleração do processo de cicatrização e na promoção da regeneração tecidual, sendo uma importante ferramenta no manejo dessas lesões.
O estudo descreveu a predisposição dos pacientes acamados ao desenvolvimento de LPPs, destacando fatores como imobilidade prolongada, comorbidades e nutrição inadequada, que comprometem a integridade da pele e aumentam a suscetibilidade a essas lesões. Foi visto ainda, que a aplicação do laser de baixa intensidade nas LPPs promove uma série de respostas celulares benéficas, como a estimulação da microcirculação, aumento da síntese de colágeno e redução da inflamação, que são essenciais para a recuperação da pele danificada.
Além disso, a análise dos efeitos do laser revelou que o tratamento potencializa a regeneração celular ao aumentar a produção de ATP e ativar enzimas antioxidantes, resultando em uma cicatrização mais rápida e eficiente. A pesquisa também identificou as formas mais atuais de laserterapia, incluindo o uso de lasers ablativos e não ablativos, que demonstraram eficácia significativa na remodelação do colágeno e na melhoria da qualidade da pele.
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1Acadêmica de Fisioterapia na Faculdade Metropolitana de Manaus
2Professor Especialista na Faculdade Metropolitana de Manaus