BENEFITS OF ISOLATION FOR CONTEMPORARY DENTISTRY – A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202505310948
Camilly Ianara da Luz Souza1
Henrique Rhee Schuldt2
Vitor Schweigert Bona3
Resumo
O isolamento absoluto do campo operatório, por meio do uso do dique de borracha, é considerado um recurso essencial para a qualidade e segurança dos procedimentos odontológicos. Esta revisão de literatura teve como objetivo analisar os principais benefícios clínicos, eficácia e limitações da técnica, com base em evidências científicas publicadas entre 2000 e 2024. A pesquisa foi conduzida em bases de dados reconhecidas, utilizando critérios de seleção rigorosos. Os estudos analisados destacam que o isolamento absoluto contribui significativamente para o controle da contaminação, melhora da adesão de materiais restauradores e proteção do paciente. Apesar das vantagens, sua aplicação ainda é limitada por fatores como custo, tempo clínico e falta de treinamento. Conclui-se que a ampliação do uso dessa técnica depende de maior capacitação profissional e valorização do seu papel na prática odontológica contemporânea.
Palavras-chave: Diques de borracha. Isolamento absoluto. Odontologia.
Abstract
Absolute isolation of the operative field, achieved through the use of a rubber dam, is considered an essential resource for ensuring the quality and safety of dental procedures. This literature review aimed to analyze the main clinical benefits, effectiveness, and limitations of the technique based on scientific evidence published between 2000 and 2024. The research was conducted using well-established databases and strict inclusion criteria. The reviewed studies highlight that absolute isolation significantly contributes to contamination control, improved adhesion of restorative materials, and patient protection. Despite its advantages, its routine use is still limited due to factors such as cost, clinical time, and lack of professional training. It is concluded that expanding the adoption of this technique requires greater professional education and a broader appreciation of its value in contemporary dental practice.
Keywords: Rubber dams. Absolute isolation. Dentistry.
1 INTRODUÇÃO
O isolamento absoluto do campo operatório (IACO), por meio do uso do dique de borracha, constitui um dos pilares da odontologia moderna, sendo considerado essencial para garantir previsibilidade, controle de contaminação e segurança durante os procedimentos clínicos. Introduzido por Sanford C. Barnum em 1864, o isolamento absoluto passou a ser amplamente difundido ao longo das décadas, consolidando-se como técnica padrão principalmente em procedimentos restauradores e endodônticos (Díaz et al., 2017; Baratieri et al., 2010).
Diversos estudos apontam que o IACO promove uma barreira física eficaz contra contaminantes como saliva, sangue, microrganismos e contra a aspiração ou deglutição de pequenos instrumentos, além de proporcionar melhor visibilidade operatória e conforto tanto para o profissional quanto para o paciente (Campos et al., 2017; Benevides et al., 2019). Sua adoção está diretamente associada ao aumento da longevidade de restaurações e ao sucesso em tratamentos endodônticos, como evidenciado por Lin et al. (2014), que verificaram maior taxa de sobrevivência dentária em tratamentos realizados sob isolamento absoluto.
Apesar dos benefícios amplamente reconhecidos, a adesão à técnica ainda é limitada em muitos contextos clínicos. Estudos realizados em diferentes países, como os de Gilbert et al. (2010), Shashirekha et al. (2014) e Zou et al. (2016), revelam baixa frequência de uso do dique de borracha, mesmo entre profissionais capacitados. Os principais fatores citados para essa resistência incluem a percepção de aumento no tempo clínico, o custo dos materiais, o desconforto relatado por alguns pacientes e, sobretudo, a falta de treinamento prático adequado (Ahmed et al., 2014; Brunini et al., 2020).
Além de contribuir para melhores resultados clínicos, o IACO também se destaca por proporcionar maior biossegurança durante os procedimentos odontológicos. O controle da umidade, por exemplo, é essencial para o sucesso das técnicas adesivas (Falacho et al., 2023), e a redução do estresse em pacientes pediátricos durante o uso do dique já foi comprovada em estudos clínicos controlados (Ammann et al., 2012). Ainda assim, é evidente que sua implementação sistemática depende de mudanças institucionais, educacionais e culturais dentro da odontologia (Saleem et al., 2024).
Diante desse cenário, torna-se importante reforçar o ensino e o treinamento em isolamento absoluto durante a formação acadêmica, além de incentivar práticas clínicas baseadas em evidências que considerem o IACO como técnica padrão. Esta revisão de literatura tem por objetivo reunir e discutir criticamente as principais evidências científicas relacionadas ao uso do isolamento absoluto na odontologia contemporânea, com foco em seus benefícios clínicos, desafios de aplicação e estratégias para ampliar sua adoção na prática diária dos cirurgiões-dentistas.
2 METODOLOGIA
Este estudo configura-se como uma revisão bibliográfica, com o propósito de reunir, organizar e sintetizar o conhecimento científico disponível acerca do isolamento absoluto na prática odontológica. De acordo com Gil (2008), a revisão bibliográfica é fundamental para compreender o estado da arte de uma determinada temática, permitindo não apenas a identificação de contribuições relevantes, mas também a detecção de lacunas e controvérsias na literatura.
A busca por referências foi realizada em bases de dados científicas reconhecidas, como PubMed, Lilacs e Scielo, utilizando artigos publicados entre os anos de 2000 a 2024. Foram considerados apenas estudos nos idiomas inglês, português e espanhol, priorizando publicações que abordassem diretamente o tema proposto, bem como livros técnicos amplamente referenciados na área. As palavras-chave utilizadas incluíram: “rubber dams”, “dentistry” e “absolute isolation”, por estarem diretamente relacionadas ao escopo da pesquisa. Para refinar e otimizar os resultados, empregaram-se operadores booleanos (AND, OR), o que possibilitou maior precisão na recuperação dos artigos relevantes.
Foram incluídos na análise estudos que abordavam de forma direta o isolamento absoluto, os materiais utilizados, suas vantagens clínicas e eventuais limitações. Por outro lado, foram excluídos trabalhos com enfoque exclusivo em isolamento relativo, publicações sem aderência ao tema central ou que não estivessem alinhadas aos objetivos da presente revisão.
Figura 1 – Fluxograma para a busca dos artigos.

Fonte: Autores (2025).
3 RESULTADOS
Os resultados das filtragens realizadas estão apresentados no Quadro 1, que reúne o conjunto de dados utilizados na pesquisa.
Quadro 1 – Síntese dos artigos relacionados.





Fonte: Autores (2025).
Whitworth et al. (2000) conduziram um estudo observacional com duas coortes de dentistas no Reino Unido, com o objetivo de avaliar a utilização do dique de borracha e a seleção de irrigantes em tratamentos endodônticos. A pesquisa, que incluiu 643 profissionais, identificou como principais fatores limitantes para a adoção da técnica: a percepção de desconforto pelos pacientes, o tempo requerido para aplicação, os custos envolvidos e a insuficiência de treinamento adequado. O estudo constatou que a solução de hipoclorito de sódio (0,5-5,25%) permanece como o irrigante padrão-ouro preferencial entre os especialistas. Os resultados demonstraram que, embora o dique de borracha contribua significativamente para a segurança e eficácia dos procedimentos endodônticos, sua implementação enfrenta resistência devido aos fatores mencionados. Adicionalmente, observou-se forte correlação entre o uso do dique e a preferência pelo hipoclorito de sódio como solução irrigante.
Em 2002, Kosti et al. relataram dois casos clínicos de pacientes com alergia ao lençol de borracha contendo látex. No primeiro caso, a paciente desconhecia sua condição alérgica, o que resultou no desenvolvimento de dermatite-estomatite de contato durante o procedimento. A conduta terapêutica consistiu na substituição do lençol de borracha por um dique de policloreto de vinila (PVC) e na troca das luvas de látex por alternativas isentas desse material, resultando na ausência de desconforto pós-intervenção. No segundo caso, a paciente já tinha diagnóstico prévio de alergia ao látex, comunicando-o antecipadamente. Dessa forma, adotou- se uma abordagem preventiva, utilizando luvas de vinil, barreiras de PVC e removendo as borrachas de instrumentos endodônticos. Nenhum sintoma adverso foi observado. O artigo discute os riscos associados a reações alérgicas e fornece diretrizes para o manejo seguro desses pacientes. Ressalta-se a importância de não negligenciar relatos de incômodo durante o uso do dique de borracha, assegurando atendimento adequado a indivíduos com hipersensibilidade ao látex.
A revisão sistemática de Ahmad (2009) evidencia a importância do dique de borracha em Endodontia, destacando seus benefícios na segurança do paciente, controle de infecção e qualidade do tratamento, embora sua adoção não seja ainda universalmente implementada na prática clínica. Fatores diversos influenciam essa baixa adesão, incluindo a percepção de tempo adicional requerido (Whitworth, 2000), contraposta pelas vantagens operatórias que superam essa limitação, como melhor campo de trabalho livre de interferências labiais e linguais, redução da contaminação salivar, eliminação da necessidade de trocas frequentes de rolos de algodão e diminuição da exigência de enxágues pelo paciente (Reuter, 1983; Filipović et al., 2004). A omissão dessa técnica compromete aspectos críticos do tratamento endodôntico, desde a seleção de irrigantes até a exposição a riscos iatrogênicos como aspiração ou deglutição acidental de instrumentos, reforçando a necessidade de educação profissional para sua correta implementação.
Kemoli et al. (2009) realizaram um ensaio clínico para avaliar a qualidade e longevidade de restaurações proximais em molares decíduos, comparando a técnica ART (Tratamento Restaurador Atraumático) utilizando três marcas diferentes de cimento de ionômero de vidro (GIC) e dois métodos de isolamento (dique de borracha versus rolos de algodão), além de investigar a influência da experiência dos operadores e assistentes. O estudo envolveu três operadores experientes e quatro inexperientes, juntamente com quatro assistentes experientes e quatro inexperientes, todos submetidos a treinamento teórico-prático em ART conforme protocolo da OMS, específico para suas respectivas funções. Foram realizadas restaurações proximais em molares decíduos de 804 crianças, distribuídas entre os diferentes grupos de profissionais. Após dois anos, 648 crianças permaneceram disponíveis para reavaliação, revelando uma taxa de sobrevivência das restaurações de 30,8%. Os resultados demonstraram que a experiência do operador, a qualificação do assistente e o uso do dique de borracha estiveram significativamente associados a maiores taxas de sobrevivência das restaurações, destacando a importância desses fatores no sucesso do procedimento.
Baratieri et al. (2010) destacam a importância fundamental do dique de borracha para o isolamento absoluto em odontologia, evidenciando seus múltiplos benefícios. A técnica proporciona controle ideal de contaminação e umidade, além de melhorar significativamente a visibilidade do campo operatório, fatores essenciais para otimizar a adesão dos materiais restauradores. A revisão integra análises de práticas clínicas com evidências científicas, complementadas por demonstrações teóricas e práticas em manequim que ilustram a aplicação do método em diversos contextos clínicos. Ao comparar técnicas de isolamento absoluto e relativo, os autores confirmam a superioridade do dique de borracha como método mais eficaz. Além de ser crucial para o sucesso e durabilidade das restaurações, o isolamento absoluto protege o paciente contra riscos de aspiração ou deglutição acidental de instrumentos e resíduos, simultaneamente protegendo o profissional contra possíveis infecções presentes na cavidade oral. A pesquisa conclui que o domínio desta técnica é indispensável para resultados restauradores de excelência, sendo um pilar fundamental para a previsibilidade e qualidade nos tratamentos odontológicos, enquanto a falta de isolamento adequado pode comprometer significativamente os resultados clínicos.
Gilbert et al. (2010) realizaram um estudo observacional para avaliar a frequência de utilização do dique de borracha em procedimentos odontológicos operatórios e investigar fatores associados ao seu uso, analisando variáveis relacionadas aos dentistas, às restaurações e aos pacientes. A pesquisa envolveu 229 dentistas-pesquisadores da Dental Practice-Based Research Network (DPBRN), que documentaram dados de 9.890 restaurações consecutivas em superfícies dentárias não restauradas anteriormente, realizadas em 5.810 pacientes. Os resultados revelaram que 63% dos profissionais não utilizaram o dique de borracha em nenhuma restauração durante o estudo, enquanto apenas 12% das intervenções empregaram essa técnica – sendo 83% desses casos concentrados em uma única região da DPBRN. Um levantamento complementar com dentistas norte-americanos em 2007 identificou como principais justificativas para a não utilização do dispositivo a “inconveniência” e a percepção de “desnecessariedade”, enquanto fatores como tempo e custo foram considerados menos relevantes. Os autores destacam que o tempo investido na colocação do dique pode ser compensado pela maior eficiência operatória em um campo seco e com visibilidade otimizada. A baixa prevalência de uso do isolamento absoluto (12%) indica a necessidade de desenvolver estratégias educacionais para promover sua adoção, particularmente considerando seus benefícios comprovados no controle de umidade, qualidade restauradora e segurança tanto para pacientes quanto para profissionais, prevenindo acidentes como aspiração de instrumentos.
Ammann et al. (2012) realizaram um estudo clínico piloto com o propósito de avaliar parâmetros relacionados ao estresse durante procedimentos odontológicos em pacientes pediátricos. A pesquisa foi conduzida com uma amostra composta por 72 crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 16 anos, submetidos a procedimentos de selamento de fissuras. O principal objetivo foi investigar o impacto do uso do dique de borracha no nível de estresse dos pacientes durante o tratamento. Foram aplicados critérios de exclusão rigorosos, entre os quais se destacam: dentes ainda não totalmente irrompidos, ausência de consentimento dos responsáveis, baixa adesão ao tratamento, uso de aparelhos ortodônticos fixos, além da utilização de medicações psicotrópicas ou cardiovasculares, entre outros fatores que poderiam interferir nos resultados. Os participantes foram divididos em dois grupos. No grupo experimental, os procedimentos foram realizados com isolamento absoluto por meio do dique de borracha. Já no grupo controle, utilizou-se isolamento relativo com roletes de algodão e ejetores de saliva. Ao todo, foram tratados 24 molares e 88 pré-molares com o uso de dique de borracha, enquanto 30 molares e 92 pré-molares foram tratados com isolamento por roletes de algodão. Os resultados obtidos indicaram que o uso do dique de borracha esteve associado a uma menor resposta de estresse nas crianças, evidenciada por uma frequência cardíaca reduzida, além de uma diminuição no tempo total do procedimento. Dessa forma, os autores concluem que, quando empregado por profissionais experientes, o isolamento absoluto com dique de borracha proporciona um ambiente clínico menos estressante para pacientes infantis e adolescentes, em comparação com o isolamento convencional por meio de algodão.
Considerando o objetivo específico da pesquisa, Lin et al. (2014) realizaram uma investigação com o intuito de avaliar se o uso do dique de borracha exerce influência significativa na taxa de sobrevivência a longo prazo de tratamentos endodônticos iniciais. Para isso, os autores utilizaram dados provenientes de um extenso banco de dados populacional nacional, permitindo uma análise ampla e representativa. A amostra do estudo incluiu 517.234 dentes que atenderam aos critérios de inclusão, todos submetidos a tratamento de canal radicular entre os anos de 2005 e 2011. Esses casos foram acompanhados até o final de 2011. Durante o período de observação, foram registradas 29.219 extrações dentárias, o que resultou em uma taxa geral de sobrevivência de 94,4%. Os dados revelaram que o uso do dique de borracha durante o tratamento endodôntico inicial esteve associado a uma maior taxa de sucesso após um seguimento médio de 3,43 anos. Especificamente, a taxa de sobrevivência dos dentes tratados com o auxílio do dique foi de 90,3%, enquanto nos casos em que o dique não foi utilizado, a taxa foi de 88,8%. Além disso, a análise estatística demonstrou que a razão de risco (hazard ratio) para extração nos dentes tratados com dique de borracha foi de 0,81, indicando uma redução significativa no risco de falha do tratamento. Importa destacar que os resultados permaneceram consistentes mesmo após o ajuste para possíveis variáveis de confusão, como idade do paciente, tipo dentário, sexo e presença de doenças sistêmicas. Diante desses achados, os autores concluíram que o uso do dique de borracha constitui um fator relevante para o aumento da longevidade e sucesso dos tratamentos endodônticos, reforçando sua importância clínica no contexto da terapia endodôntica.
No contexto da pesquisa realizada por Shashirekha et al. (2014), foi conduzido um estudo transversal com o objetivo de avaliar a prevalência do uso do dique de borracha em procedimentos endodônticos entre estudantes e profissionais da Odontologia no estado de Odisha, Índia. A amostra foi composta por 737 participantes, incluindo estudantes de graduação, clínicos gerais, endodontistas e outros especialistas. A análise estatística dos dados coletados foi realizada por meio dos testes qui-quadrado e exato de Fisher. A taxa de resposta obtida foi de 71%. Embora 94% dos participantes afirmassem conhecer o dique de borracha, apenas 30% relataram utilizá-lo em procedimentos de tratamento endodôntico, e somente 23% o empregavam rotineiramente em todos os casos de endodontia. A taxa de utilização também variou conforme a faixa etária dos pacientes: o dique era utilizado em 34,4% dos procedimentos realizados em adultos e em apenas 15,4% dos realizados em crianças. A maioria dos respondentes (68%) relatou ter tido contato com a técnica de isolamento absoluto durante a graduação. No entanto, diversos obstáculos foram apontados como limitadores à sua aplicação clínica. Entre os principais, destacam-se: treinamento insuficiente (91%), dificuldades na aplicação prática (87,5%), tempo adicional necessário para a instalação (84%), custo do material (82,4%), desconforto relatado pelos pacientes (71,7%) e falta de interesse (47%). Apesar dessas barreiras, 75% dos participantes manifestaram a opinião de que o uso do dique de borracha deveria ser obrigatório antes do início de tratamentos endodônticos, e 90% demonstraram interesse em aprofundar seus conhecimentos e habilidades relacionados à técnica. Os dados evidenciam que, embora o dique de borracha seja amplamente reconhecido como um recurso que contribui para a segurança e a eficácia dos procedimentos odontológicos, sua adoção clínica ainda é limitada. Os autores ressaltam a importância de reforçar o ensino da técnica durante a formação acadêmica e de promover treinamentos práticos, com o intuito de aumentar a sua aplicação na rotina profissional e, consequentemente, elevar a qualidade dos tratamentos realizados.
Na revisão de literatura conduzida por Ahmed et al. (2014), os autores propõem uma análise abrangente acerca da relevância do uso do dique de borracha na prática odontológica, abordando sua prevalência em diferentes países, bem como aspectos relacionados ao ensino da técnica, atitudes profissionais, aceitação por parte dos pacientes e implicações éticas. A revisão abrange publicações científicas veiculadas entre os anos de 1983 e 2013, com foco especial na formação odontológica e nas barreiras enfrentadas para a adoção do dique de borracha na prática clínica. Os autores destacam que, embora o dique de borracha seja um instrumento fundamental para o controle da umidade, a proteção do paciente e a segurança do cirurgião- dentista, sua utilização ainda é limitada entre os profissionais generalistas em diversos países. Observa-se uma tendência de queda na frequência de uso do dique após a conclusão da graduação, sugerindo a existência de lacunas na consolidação do hábito clínico. Dentre os fatores associados à baixa adesão do seu uso, ressaltam-se o treinamento insuficiente durante a formação acadêmica e a falta de reforço educacional contínuo. Apenas 44% dos dentistas generalistas relataram utilizar o dique de borracha em todos os procedimentos endodônticos, número considerado abaixo do ideal, sobretudo diante dos benefícios clínicos amplamente documentados. O estudo também discute estratégias voltadas à melhoria da aceitação por parte dos pacientes, enfatizando a importância de uma comunicação clara e eficaz. Explicações concisas, acompanhadas de argumentos convincentes e da apresentação dos benefícios do dique antes do início do tratamento, são apontadas como abordagens que podem minimizar resistências e promover maior adesão. Adicionalmente, os autores reforçam a necessidade de aprimorar o ensino da técnica de isolamento absoluto durante o curso de graduação, por meio de metodologias mais didáticas e práticas. Eles sugerem a realização de estudos futuros com a utilização de manequins e simulações entre colegas, com o objetivo de comparar diferentes métodos de ensino e desenvolver abordagens mais eficazes para a inserção definitiva do dique de borracha na rotina clínica.
Em estudo realizado na cidade de Tianjin, China, Zou et al. (2016) investigaram a prevalência do uso do isolamento absoluto com dique de borracha entre cirurgiões-dentistas, evidenciando uma baixa taxa de adoção dessa técnica na prática clínica. Por meio de um questionário estruturado, a pesquisa envolveu 300 profissionais distribuídos em 18 diferentes estabelecimentos odontológicos, com o objetivo de identificar padrões de uso do dique em procedimentos endodônticos, além de avaliar os fatores que influenciam sua utilização, como gênero, tempo de experiência clínica, área de atuação (generalista ou especialista) e ambiente de trabalho. Estudantes de graduação foram excluídos da amostra. O instrumento de coleta de dados consistiu em 30 perguntas que abordavam a experiência clínica dos profissionais com o uso do dique de borracha. Embora 63,3% dos entrevistados tenham relatado já ter utilizado o dique em algum momento, apenas 0,4% e 3,1% afirmaram utilizá-lo “sempre” em procedimentos restauradores diretos e tratamentos endodônticos, respectivamente, evidenciando uma adoção esporádica da técnica. A análise dos dados demonstrou que os profissionais com experiência entre 5 e 10 anos apresentaram a maior taxa de utilização do dique (76,3%), enquanto aqueles com mais de 20 anos de prática clínica apresentaram a menor (53,2%), sugerindo que a formação mais recente pode estar associada a maior familiaridade com a técnica. Endodontistas relataram as maiores e mais frequentes taxas de uso, possivelmente devido à necessidade técnica e ao maior domínio do isolamento absoluto em sua especialidade. Em contrapartida, os dentistas atuantes em hospitais apresentaram as menores taxas de uso, o que pode refletir limitações estruturais ou culturais desses ambientes de trabalho. Diante dos resultados obtidos, os autores concluíram que o uso do dique de borracha em Tianjin ainda é significativamente reduzido, apesar dos benefícios amplamente reconhecidos da técnica. Os dados obtidos podem auxiliar no desenvolvimento de políticas educacionais e institucionais voltadas à promoção do uso do isolamento absoluto, com vistas à melhoria da qualidade dos procedimentos odontológicos e à segurança dos pacientes.
Em 2017, Díaz M. et al. apresentaram uma abordagem teórica abrangente sobre os benefícios do isolamento absoluto (IA), fundamentada em evidências científicas, com o objetivo de incentivar sua adoção na prática clínica. Através de uma revisão bibliográfica, os autores exploraram aspectos históricos, componentes do isolamento absoluto, recomendações técnicas e fundamentos científicos que sustentam seu uso. Historicamente, o isolamento absoluto foi introduzido em 1864 por Sanford C. Barnum, que isolou um molar inferior utilizando um pedaço de pano de borracha. Desde então, o dique de borracha consolidou-se como um método eficaz para otimizar a visibilidade operatória, garantir a qualidade dos procedimentos odontológicos e aumentar a segurança do paciente — prevenindo, por exemplo, a deglutição acidental de pequenos instrumentais como limas e brocas. Ao longo dos anos, o dique de borracha passou a ser reconhecido como um instrumento essencial na odontologia moderna. Apesar da sua comprovada eficácia, muitos profissionais ainda não o utilizam rotineiramente. No entanto, seu papel na melhoria da previsibilidade, qualidade e longevidade dos tratamentos odontológicos é inegável. Isso se deve principalmente à capacidade do IA de proporcionar um campo operatório seco, limpo e livre de contaminação e umidade — condições fundamentais para o sucesso clínico.
Em 2017, Campos et al. realizaram uma pesquisa clínica que destacou a relevância do uso do dique de borracha durante procedimentos de fechamento de diastemas com resina composta. O isolamento absoluto mostrou-se fundamental para a prevenção da contaminação por umidade e favoreceu uma retração gengival mais eficaz em comparação com outras técnicas. Os diastemas podem ser tratados por diferentes especialidades, como a odontologia operatória e a ortodontia. Entre as opções terapêuticas estão o fechamento com facetas ou coroas de porcelana, que oferecem bons resultados estéticos, porém, são procedimentos mais invasivos, exigindo maior desgaste da estrutura dental. Uma consequência comum dos diastemas, especialmente entre os incisivos centrais superiores, é a ausência da papila interdental, comprometendo a estética do sorriso. Na pesquisa, foram apresentados dois casos clínicos conduzidos sob isolamento absoluto com dique de borracha. Utilizou-se resina composta nanohíbrida para o fechamento dos espaços. Os resultados obtidos evidenciaram restaurações com anatomia fiel à estrutura dental natural e com a formação espontânea da papila interdental, melhorando significativamente a estética final. O uso do isolamento absoluto foi determinante para a adaptação cervical adequada das restaurações, reforçando a importância dessa técnica em procedimentos restauradores diretos. Além de contribuir para resultados estéticos superiores, o isolamento com dique de borracha preserva a estrutura dentária, minimiza complicações clínicas e aumenta a satisfação dos pacientes, por se tratar de um procedimento minimamente invasivo e de menor custo em comparação com alternativas protéticas.
Gerdolle et al. (2019) desenvolveram e descreveram uma estratégia técnica voltada à otimização do uso do dique de borracha, especialmente em casos clínicos mais desafiadores, como lesões cervicais. Apesar dos benefícios bem documentados do isolamento absoluto, a adesão à técnica ainda é baixa, tanto por parte dos profissionais quanto dos pacientes, que frequentemente a percebem como desconfortável ou desnecessária. A proposta dos autores parte de um questionamento relevante: ainda vale a pena utilizar uma técnica introduzida há mais de 150 anos? A resposta apresentada é afirmativa, uma vez que, quando corretamente aplicada, o isolamento do campo operatório proporciona uma associação entre eficiência operatória, segurança clínica e maior conforto ao paciente. O isolamento absoluto eficaz previne contaminações durante o procedimento, criando um ambiente seco e controlado, o que favorece a longevidade e a previsibilidade dos tratamentos. O estudo também detalha os materiais recomendados, a abordagem técnica ideal e os diversos benefícios associados ao uso adequado do isolamento absoluto. Dessa forma, enfatiza-se que a escolha dos materiais apropriados e o domínio da técnica são determinantes para o sucesso clínico, especialmente em procedimentos restauradores complexos.
Na revisão de literatura de Benevides et al. (2019), os autores abordam o impacto do uso do isolamento absoluto (IA) em restaurações diretas de resina composta, com ênfase também em tratamentos endodônticos. Os pesquisadores destacam que o isolamento absoluto é mais eficiente do que o relativo no controle e redução da contaminação por saliva, sangue e microrganismos. O IA oferece uma proteção completa da cavidade bucal contra possíveis incidentes, como a deglutição de materiais, enquanto o isolamento relativo, que utiliza rolos de algodão e sugador, não proporciona essa segurança adicional. Em relação às restaurações, o IA exige a exposição dos dentes adjacentes para garantir a recuperação do ponto de contato. Já no tratamento endodôntico, a exposição é restrita apenas ao dente a ser tratado. O uso do dique de borracha no tratamento endodôntico é amplamente reconhecido, sendo considerado um padrão ouro e essencial pela Associação Americana de Endodontistas. No entanto, sua utilização não é comum no setor público devido ao custo mais elevado e ao maior tempo clínico necessário, o que torna sua adoção mais desafiadora, especialmente em contextos com limitações de recursos. O avanço da Odontologia nos últimos anos não tem sido uniformemente acompanhado por todos os segmentos da sociedade brasileira, onde a desigualdade de renda ainda influencia negativamente nos índices de cárie. A contaminação por saliva e microrganismos presentes na cavidade oral é uma das principais causas de falhas nos procedimentos odontológicos. O IA, introduzido em 1864, foi desenvolvido com o objetivo de minimizar essas falhas, oferecendo maior segurança ao paciente. Em resumo, a adoção do IA pode reduzir riscos de contaminação, promovendo um aumento substancial no sucesso clínico tanto em tratamentos endodônticos quanto em restaurações com resina composta.
O estudo observacional conduzido por Brunini et al. (2020) teve como objetivo entrevistar profissionais e estudantes de odontologia, bem como seus pacientes, na região Noroeste do estado do Paraná, a fim de avaliar as percepções de cada grupo sobre a eficácia e segurança do uso do dique de borracha (IA). O estudo procurou identificar os fatores que influenciam a adoção ou rejeição dessa técnica e alertar para sua importância na prática endodôntica. Embora se reconheçam os diversos benefícios do isolamento absoluto, tanto para os pacientes quanto para os dentistas, observa-se que ele é pouco utilizado no tratamento endodôntico de rotina. O estudo foi realizado entre maio e setembro de 2017, com a aplicação de questionários a 50 profissionais, 50 estudantes e 100 pacientes de clínicas privadas e universitárias na região Noroeste do Paraná. Os resultados indicaram que 66% dos profissionais e 74% dos estudantes utilizam o dique de borracha de forma rotineira. Entre os pacientes, 54% das clínicas universitárias e 52% das clínicas privadas relataram que o dique é desconfortável, embora a maioria tenha demonstrado preferência pelo seu uso devido aos benefícios, como a proteção contra aspiração e deglutição de instrumentais. Os dentistas que rejeitam o uso do dique frequentemente citam a resistência dos pacientes e o tempo necessário para sua inserção como principais razões. Em conclusão, o estudo mostrou que, embora o isolamento absoluto seja amplamente aprovado por profissionais e estudantes, os pacientes, apesar do desconforto, preferem utilizá-lo, conscientes das vantagens que ele proporciona.
O estudo realizado por Caviglia et al. (2020) teve como objetivo investigar a umidade relativa do campo operatório durante procedimentos odontológicos, utilizando diferentes técnicas de isolamento: absoluto, modificado e relativo. A pesquisa foi um estudo piloto experimental e visou determinar como a umidade variava ao nível da borda incisal dos incisivos centrais superiores, empregando técnicas de isolamento com e sem dispositivos de aspiração. Para a análise da umidade, foi utilizado um termo-higrômetro digital (DIEHL Thermotron Hygro), instrumento que mede a temperatura e a umidade relativa do ar ambiente. Os resultados indicaram que, com o isolamento absoluto, a umidade relativa foi significativamente baixa (33%), proporcionando as melhores condições para procedimentos adesivos. Com o isolamento modificado, as medições de umidade variaram entre 31% e 95%, dependendo do uso de sistemas acessórios de aspiração. Já com o isolamento relativo, a umidade foi quase totalmente saturada (98%), visto que essa técnica não controla a umidade do ar específico. O estudo concluiu que o uso de aspiração prejudica a umidade em todas as técnicas, mas, ainda assim, o isolamento absoluto se mostrou o mais eficaz para controlar a umidade. A conclusão do estudo destaca que o isolamento absoluto oferece as melhores condições para os procedimentos clínicos, pois mantém a umidade controlada dentro dos níveis ideais. Contudo, é importante avaliar cada caso individualmente para determinar a previsão de utilização do isolamento total, garantindo uma adesão mais eficiente durante os tratamentos.
No relato de caso clínico apresentado por Jurado et al. (2021), foi destacado o uso do dique de borracha antes da colagem das facetas em cerâmica, enfatizando sua importância para evitar a contaminação e aumentar as chances de sucesso na adesão entre a cerâmica e o dente natural. O estudo aborda como o uso desse método melhora a adesão e evita contaminações, ainda que, até o momento, não existam relatos que expliquem como alcançar um bom isolamento sem prejudicar os tecidos moles. Embora o isolamento absoluto tenha sido criticado por ser um método demorado e caro, o artigo reforça que ele continua sendo essencial tanto para proteger o paciente quanto para garantir o bom manuseio do operador durante os procedimentos odontológicos. O caso descrito envolveu uma paciente de 34 anos, cujo principal desejo era melhorar o seu sorriso. O procedimento incluiu a aplicação de facetas cerâmicas após uma preparação conservadora dos dentes. Para garantir o campo operatório livre de contaminação, foi utilizado isolamento absoluto com dique de borracha e fita teflon para retração gengival. O protocolo de adesão foi seguido rigorosamente, resultando em uma restauração esteticamente satisfatória. Além disso, foi recomendado o uso de um protetor bucal durante a noite para a paciente, a fim de preservar melhor as facetas. Após cinco anos, o acompanhamento foi bem-sucedido. O relato de caso descreve um passo a passo preciso para a colagem das facetas, sem ocorrência de sangramento gengival, o que poderia comprometer a adesão dos materiais. A técnica de isolamento não apenas ajuda a reduzir o tempo de tratamento, mas também melhora o conforto do paciente, contribuindo para uma experiência clínica bem-sucedida a longo prazo.
No estudo transversal conduzido por Zahra et al. (2021), o foco foi avaliar o conhecimento dos profissionais sobre o uso do dique de borracha durante o tratamento endodôntico. O estudo foi realizado no Departamento Operativo do Instituto de Odontologia das Forças Armadas (AFID), em Rawalpindi, entre 1º de março e 31 de maio de 2020. Para isso, foi aplicado um questionário baseado na web, que incluía perguntas fechadas nas categorias de demografia, experiência clínica, uso de técnicas de isolamento, conhecimento sobre o uso, procedimentos e contraindicações do dique de borracha. O questionário foi enviado a 387 dentistas de Rawalpindi e Islamabad, dos quais 300 responderam, resultando em uma taxa de resposta de 77,5%. Os dados foram analisados usando o SPSS versão 20, e os resultados foram apresentados em números e porcentagens. Entre os 300 dentistas entrevistados, 79 (26,33%) afirmaram utilizar o dique de borracha em procedimentos restauradores e endodônticos. A maioria (73,3%) utilizava outros métodos de isolamento, como rolos de algodão, ejetores de saliva e sucção de alto volume. Embora todos os participantes estivessem cientes da importância do dique de borracha, 57,3% dos dentistas apontaram como principal desafio o alto fluxo diário de pacientes, o que limitava o tempo disponível para o uso do isolamento absoluto. Apesar disso, o estudo conclui que o uso do dique de borracha continua sendo altamente recomendado, devido à sua eficácia na proteção contra contaminações e outros benefícios associados à técnica.
No ensaio clínico randomizado de não-inferioridade realizado por Olegário et al. (2022) na clínica de odontopediatria da Universidade de São Paulo, dois grupos de controle foram formados para comparar o uso de isolamento absoluto (IA) e isolamento relativo (IR) em restaurações de molares primários em crianças de 4 a 8 anos. O estudo envolveu 174 molares de 93 crianças, todas em boas condições gerais de saúde e com bom comportamento durante as consultas. As crianças selecionadas apresentavam lesões de cárie, seja por cavitação ou por restaurações falhadas em molares primários. Após 24 meses, 157 casos foram avaliados, com uma pequena porcentagem de desistências. Os resultados mostraram que a taxa de sobrevida das restaurações com IA foi de 60,4%, enquanto com IR foi de 54,3%. O uso do IA foi 53% mais caro quando comparado ao IR. Não foi detectada diferença significativa entre os dois grupos quanto à dor, mas o estudo destacou que o uso do IR foi associado a bons resultados, possivelmente devido à natureza mais acessível e ao menor custo. O estudo também indicou que, apesar de o IA ter um custo mais elevado e exigir um prazo de execução maior, o IR mostrou-se uma alternativa viável para práticas de ensino e decisões clínicas, especialmente em contextos de maior limitação financeira. Além disso, o comportamento das crianças foi um aspecto considerado, e o estudo observou que não houve diferença significativa entre os comportamentos das crianças dos dois grupos. É importante notar que o bom comportamento das crianças pode estar relacionado ao seu baixo nível socioeconômico e ao fato de os pais terem procurado tratamento odontológico na universidade, o que contribuiu para o bom desempenho do estudo. Concluindo, o estudo sugere que o IR pode ser recomendado para a prática clínica e para ensino, devido ao seu custo mais acessível e à eficácia comparável ao IA.
O estudo experimental realizado por Bonadiman et al. (2022) avaliou a contaminação bacteriana de resinas compostas em uma clínica escola, comparando os níveis de contaminação nas técnicas de Isolamento Absoluto (IA) e Isolamento Relativo (IR). Foram analisados três grupos: G1 (controle, com 10 tubos de resina novos), G2 (20 tubos com IA) e G3 (20 tubos com IR). O material foi enviado para o laboratório de microbiologia da instituição, onde a coleta foi realizada com palitos roliços de madeira estéreis sob condições assépticas, extraindo cerca de 2mm de cada amostra. Após a coleta e incubação, a turbidez indicou crescimento bacteriano em 40% das amostras do grupo IA e 55% das amostras do grupo IR. Embora a contaminação tenha sido maior no grupo IR, a diferença não foi estatisticamente significativa. O estudo ressalta que alguns profissionais relatam dificuldades no uso do IA devido à necessidade de habilidades específicas, tempo e cooperação do paciente. O estudo também destaca a importância da desinfecção adequada dos tubos de resina e do descarte do primeiro incremento de resina entre pacientes, a fim de minimizar o risco de infecção cruzada. Além disso, recomenda-se sempre que possível o uso da técnica de IA, uma vez que proporciona um campo operatório mais limpo e seco, melhor visibilidade e evita acidentes e contaminações, contribuindo para a maior segurança e eficácia nos procedimentos odontológicos.
Falacho et al. (2023) realizaram um estudo clínico com o objetivo de avaliar o impacto do isolamento com dique de borracha na resistência de união ao cisalhamento de dois sistemas adesivos diferentes aplicados ao esmalte. Para isso, foram preparadas as superfícies de esmalte mesial, distal, lingual e vestibular de 30 terceiros molares humanos, totalizando 120 áreas. As unidades dentárias estavam clinicamente e radiograficamente livres de cáries, rachaduras, restaurações, tratamentos de canal ou outras anomalias. Uma tala personalizada foi feita para manter os dentes na cavidade oral de um voluntário. Quatro cilindros de resina composta foram colados em cada dente utilizando os adesivos OptiBond FL e Prime&Bond Ativo, com ou sem o isolamento com dique de borracha. A resistência ao cisalhamento foi testada em uma máquina de ensaio universal, e os modos de falha foram avaliados. O nível de significância para as análises estatísticas foi definido em 5%. Os resultados mostraram que, nos grupos sem o isolamento com dique de borracha, todos os espécimes apresentaram falhas adesivas. No entanto, com o isolamento absoluto, foi possível obter melhores resultados de resistência à tração, independentemente do sistema adesivo utilizado. Constatou-se que o isolamento com dique de borracha aumenta a resistência de união ao esmalte, o que reforça a importância do seu uso durante procedimentos adesivos, pois proporciona uma adesão mais eficiente e duradoura.
Lopes et al. (2023) realizaram um artigo técnico com o objetivo de abordar o uso do isolamento absoluto, detalhando suas diversas vantagens e a influência direta no sucesso clínico de procedimentos endodônticos e restauradores, além de promover a biossegurança. O estudo enfatiza que, nos tratamentos endodônticos, o uso do isolamento absoluto está associado a taxas de sucesso mais altas, pois ele cria uma barreira eficaz ao redor dos dentes que serão tratados. O método se baseia no uso de um lençol de borracha, geralmente de látex, que é mantido no lugar por um arco do tipo Young. No lençol, são feitos pequenos furos, através dos quais é possível isolar a área de trabalho ao redor do dente, proporcionando um campo operatório controlado e livre de contaminações. A técnica de isolamento absoluto é descrita por Wang et al. (2016) como uma maneira eficaz de criar essa barreira. Apesar de suas vantagens comprovadas, o uso do isolamento absoluto ainda é considerado baixo, o que acaba impactando a qualidade dos procedimentos e, em alguns casos, pode ser um fator contributivo para o insucesso de tratamentos. A não utilização dessa técnica aumenta os riscos para pacientes e profissionais, especialmente no que se refere à contenção de aerossóis. Por isso, é fundamental incentivar o uso do isolamento absoluto entre estudantes e profissionais da área, para que compreendam os benefícios e a importância dessa prática, o que contribuirá para um aumento da qualidade e da segurança nos tratamentos odontológicos.
Santos, M.J.M.C et al. (2024) discutem em sua revisão integrativa os diversos fatores que influenciam a longevidade das restaurações diretas, utilizadas para tratar lesões de cárie. O objetivo do estudo foi avaliar como os aspectos relacionados ao dente, ao paciente e ao dentista contribuem para o sucesso ou fracasso das restaurações. O fracasso das restaurações resulta em custos adicionais e pode causar prejuízos aos dentes, como perda de tecido dentário e vitalidade, além de afetar negativamente a confiança do paciente. De acordo com alguns estudos mencionados pelos autores, fatores genéticos desempenham um papel importante na suscetibilidade à cárie, especialmente genes relacionados ao esmalte dental, propriedades salivares e imunidade. Contudo, o risco genético pode ser modificado por fatores ambientais, como estilo de vida, hábitos alimentares e doenças sistêmicas, os quais também influenciam no desenvolvimento das lesões de cárie. Além disso, características específicas da restauração, como a presença de múltiplas superfícies, margens profundas e a localização dentária, têm impacto direto na durabilidade das restaurações. No contexto do paciente, fatores como condições médicas, hábitos, saúde periodontal e preditores de risco de cárie também influenciam no sucesso das restaurações. No que diz respeito ao dentista, a experiência, a destreza manual e a capacidade de tomar decisões adequadas são essenciais para o sucesso do tratamento. A escolha da técnica de isolamento e o tipo de prática odontológica empregada também são fatores determinantes. A combinação desses aspectos relacionados ao operador, como habilidade e conhecimento, contribui para reduzir as taxas de falha e melhorar a vida útil das restaurações.
No estudo transversal de Saleem, N. E et al. (2024), o objetivo foi avaliar as atitudes dos acadêmicos de odontologia da Universidade Umm Al-Qura, em Meca, Reino da Arábia Saudita, em relação ao uso do isolamento absoluto com dique de borracha e identificar os fatores que influenciam sua aplicação. O dique de borracha é amplamente reconhecido como essencial para garantir os mais altos padrões de cuidado e segurança nos tratamentos odontológicos, sendo crucial para o sucesso clínico dos procedimentos. O estudo foi realizado com 203 estudantes, dos quais 191 responderam ao questionário on-line, resultando em uma taxa de resposta de 95,5%. A pesquisa teve como foco entender as percepções dos estudantes sobre o uso do isolamento absoluto na prática odontológica. Os resultados mostraram que 99% dos estudantes utilizaram o isolamento em restaurações adesivas, e 82,2% concordaram que o isolamento adequado só é possível com o uso do dique. A maioria, 85,9%, reconheceu as vantagens do dique. Além disso, foi identificada uma associação significativa entre as limitações no uso do isolamento e o ano acadêmico, com os veteranos enfrentando menos dificuldades. O estudo também revelou que 85,3% dos estudantes receberam treinamento adequado sobre o uso do dique, e 86,4% manifestaram a intenção de continuar utilizando o isolamento após a graduação. Com base nos resultados, pode-se afirmar que os estudantes têm uma atitude positiva em relação ao uso do isolamento absoluto. O estudo sugere que, apesar dessa atitude positiva, é necessário continuar aprimorando a educação sobre o uso do isolamento absoluto, defendendo sua aplicação consistente para melhorar o atendimento ao paciente e os resultados clínicos.
4 DISCUSSÃO
A utilização do IACO com dique de borracha na prática odontológica tem sido amplamente investigada na literatura científica. Os estudos analisados apresentam evidências consistentes sobre seus benefícios, mas também revelam desafios significativos em sua implementação rotineira. Esta discussão integra os achados dos 25 artigos revisados, estabelecendo relações entre as diferentes perspectivas apresentadas na literatura especializada.
Benefícios Consensuais do IACO
A maioria dos estudos revisados, incluindo os trabalhos de Baratieri et al. (2010), Benevides et al. (2019) e Lopes et al. (2023), demonstram concordância quanto às vantagens proporcionadas pelo IACO. Esses benefícios incluem:
- Controle efetivo da contaminação: O dique de borracha cria uma barreira física eficiente contra fluidos orais e microrganismos, conforme destacado por Campos et al. (2017) e Falacho et al. (2023). Essa característica é particularmente relevante em procedimentos adesivos e endodônticos, onde a contaminação pode comprometer significativamente os resultados.
- Melhoria na qualidade dos procedimentos: Diversos autores, como Díaz et al. (2017) e Gerdolle et al. (2019), ressaltam que o IACO proporciona melhor visibilidade do campo operatório e condições mais adequadas para a execução de técnicas precisas.
- Segurança aumentada: Whitworth et al. (2000) e Ahmad (2009) destacam a importância do IACO na prevenção de acidentes como a aspiração ou deglutição de instrumentos odontológicos.
Evidências Clínicas dos Benefícios
Estudos clínicos robustos fornecem dados concretos sobre os benefícios do IACO. A pesquisa de Lin et al. (2014), envolvendo uma ampla população, demonstrou que o uso do dique de borracha está associado a maior taxa de sucesso em tratamentos endodônticos. Resultados semelhantes foram observados por Falacho et al. (2023) em relação à resistência de união de materiais restauradores. Ammann et al. (2012) acrescentam outra dimensão importante ao demonstrar que o IACO pode reduzir o estresse em pacientes pediátricos quando comparado a técnicas de isolamento relativo. Esses achados são particularmente relevantes para a prática clínica, sugerindo benefícios que vão além dos aspectos técnicos.
Barreiras à Adoção do IACO
Apesar das evidências favoráveis, a literatura identifica várias barreiras à adoção generalizada do IACO:
- Fatores relacionados aos profissionais: Gilbert et al. (2010) e Shashirekha et al. (2014) observaram baixas taxas de utilização do IACO na prática clínica, atribuindo esse fenômeno a percepções de inconveniência e falta de necessidade.
- Aceitação pelos pacientes: O estudo de Brunini et al. (2020) revela que uma parcela significativa dos pacientes considera o IACO desconfortável, embora Jurado et al. (2021) sugiram que abordagens adequadas de comunicação podem melhorar essa aceitação.
- Aspectos econômicos e operacionais: A pesquisa de Olegário et al. (2022) chama atenção para o maior custo associado ao IACO, enquanto Zou et al. (2016) destacam a resistência à mudança entre profissionais experientes.
Estudos com Perspectivas Diferentes
Algumas pesquisas apresentam resultados que relativizam a superioridade absoluta do IACO:
- Olegário et al. (2022) não encontraram diferenças estatisticamente significativas na sobrevivência de restaurações em dentes decíduos quando compararam IACO e isolamento relativo.
- Bonadiman et al. (2022) observaram que, embora o IACO resulte em menor contaminação bacteriana, a diferença em relação a outras técnicas não atingiu significância estatística em seu estudo.
Fatores que Influenciam os Resultados
A análise dos estudos permite identificar vários fatores que contribuem para as diferenças observadas:
- Variabilidade metodológica: Estudos como o de Lin et al. (2014), com grandes amostras populacionais, contrastam com pesquisas como a de Olegário et al. (2022), que utilizaram desenhos experimentais mais controlados.
- Experiência do profissional: Kemoli et al. (2009) demonstraram que a habilidade do operador influencia significativamente os resultados obtidos com o IACO.
- Contexto de aplicação: Ahmed et al. (2014) e Saleem N.E et al. (2024) destacam a importância do ambiente educacional e da infraestrutura disponível na adoção da técnica.
5 CONCLUSÃO
O isolamento absoluto do campo operatório é fundamental para tratamentos odontológicos de qualidade, garantindo melhor controle de contaminação, segurança e resultados clínicos superiores. Embora seu uso ainda enfrente resistência por fatores como custo e tempo, os benefícios comprovados justificam sua adoção como padrão na prática odontológica. Conclui-se que uma maior capacitação profissional e conscientização são essenciais para ampliar sua utilização.
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1 Camilly Ianara da Luz Souza Discente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário Uniasselvi de Blumenau, Brasil E-mail: cauluz1805@gmail.com
2 Henrique Rhee Schuldt. Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário Uniasselvi de Blumenau, Brasil. Especialista em Endodontia pelo Centro Universitário Avantis. E-mail: henriqueschuldt@gmail.com
3 Vitor Schweigert Bona. Docente do Curso Superior de Odontologia do Centro Universitário Uniasselvi de Blumenau, Brasil. Mestre e Doutor em Dentística Restauradora pela Universidade Federal de Santa Catarina. E- mail: vsbona@gmail.com