BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO RESISTIDO EM PACIENTES COM DORES MUSCULOESQUELÉTICAS PÓS CHIKUNGUNYA

BENEFITS OF RESISTANCE EXERCISE IN PATIENTS WITH MUSCULOSKELETAL PAINS AFTER CHIKUNGUNYA

BENEFICIOS DEL EJERCICIO DE RESISTÊNCIA EM PACIENTES COM DOLOR MUSCULOESQUELÉTICO DESPUÉS DE CHIKUNGUNYA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10140433


Mariana de Sousa Meneses Carvalho1
Juliana Sousa Santos1
Aureliano Machado de Oliveira1


RESUMO

Objetivo: Avaliar os benefícios do exercício resistido em pacientes com dores musculoesqueléticas pós Chikungunya em Teresina-PI. Métodos: Trata-se de estudo de campo, transversal, descritivo e quantitativo. Conduzido com amostra de 49 indivíduos de uma academia de ginástica de Teresina, de ambos os sexos, idade entre 18 e 65 anos e acometido por Chikungunya até dezembro de 2022. Os entrevistados foram investigados, através de um questionário, quanto aos benefícios da prática de exercício em relação às dores musculoesqueléticas, sintomas da doença. Os dados coletados foram tabulados estatisticamente com auxílio do Programa Microsoft Excel e analisados descritivamente nos resultados da pesquisa. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: A amostra, com média de idade de 30 ± 10 anos, apresentou maioria feminina, com prevalência de 33% dos sintomas de caráter reumatológico associado a psicológicos. A redução das dores musculoesqueléticas foi bem evidente, 85,71% dos entrevistados referiram melhora total ou bastante dos sintomas. Ainda, 45 indivíduos recomendam atividade física no manejo terapêutico da doença. Conclusão: Conclui-se que há relação benéfica entre a prática de exercício resistido na melhora dos sintomas da Chikungunya. Evidencia-se necessidade de investigações mais aprofundadas a respeito das manifestações psicológicas da doença em questão.

Palavras-chave: Dor musculoesquelética, Exercício Físico, Chikungunya.

ABSTRACT

Objective: To evaluate the benefits of resistance exercise in patients with musculoskeletal pains after Chikungunya in Teresina-PI. Methods: This is a field study, transversal, descriptive and quantitative. Conducted with a sample of 49 individuals from a gym in Teresina, of both sexes, aged between 18 and 65 years old and affected by Chikungunya until December 2022. The interviewees were investigated, through a questionnaire, regarding the benefits of practicing exercise in relation to musculoskeletal pain, symptoms of the disease. The collected data were statistically tabulated with the help of the Microsoft Excel Program and analyzed descriptively in the research results. The study was approved by the Research Ethics Committee. Results: The sample, with a mean age of 30 ± 10 years, was mostly female, with a 33% prevalence of rheumatological symptoms associated with psychological symptoms. The reduction in musculoskeletal pain was very evident, 85.71% of respondents reported complete or significant improvement in symptoms. Furthermore, 45 people recommend physical activity in the therapeutic management of the disease. Conclusion: It is concluded that there is a beneficial relationship between the practice of resistance exercise in improving Chikungunya symptoms. There is a need for more in-depth investigations into the psychological manifestations of the disease in question.

Keywords: Musculoskeletal Pain, Exercise, Chikungunya.

RESUMEN

Objetivo: Evaluar los beneficios del ejercicio de resistencia en pacientes con dolor musculoesquelético después de Chikungunya en Teresina-PI. Métodos: Se trata de un estudio de campo transversal, descriptivo y cuantitativo. Realizado con una muestra de 49 individuos de un gimnasio de Teresina, de ambos sexos, con edades comprendidas entre 18 y 65 años y afectados por Chikungunya hasta diciembre de 2022. Las encuestas fueron investigadas, a través de un cuestionario, sobre los beneficios del ejercicio físico en relación hasta dolores musculoesqueléticos, síntomas de enfermedad. Los datos recolectados fueron tabulados estadísticamente mediante el programa Microsoft Excel y analizados descriptivamente en los resultados de la investigación. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación. Resultados: La muestra, con una edad media de 30 ± 10 años, fue mayoritariamente femenina, con una prevalencia del 33% de síntomas reumatológicos asociados a síntomas psicológicos. La reducción del dolor musculoesquelético fue muy evidente, el 85,71% de los entrevistados refirió una mejoría completa o significativa de los síntomas. Además, 45 personas recomiendan la actividad física en el manejo terapéutico de la enfermedad. Conclusión: Se concluye que existe una relación beneficiosa entre la práctica de ejercicios de resistencia en la mejora de los síntomas de Chikungunya. Es necesario realizar investigaciones más profundas sobre las manifestaciones psicológicas de la enfermedad en cuestión.

Palabras clave: Dolor Musculoesquelético, Ejercicio Físico, Chikungunya.

INTRODUÇÃO

A arbovirose Febre Chikungunya trata-se de uma infecção pelo Vírus Artritogênico Chikungunya (CHIKV), pertencente à família Togaviridae, gênero Alphavirus (FIOCRUZ, 2018). Conforme Faria et al. (2017), em humanos, os vetores responsáveis pela transmissão do vírus são os mosquitos fêmeas do gênero Aedes, os quais possuem um tropismo inicial por macrófagos, fibroblastos e células de Langerhans, através das quais atinge primeiramente os órgãos linfoides secundários, infectando depois os órgãos alvos – rins, fígado, cérebro, músculos e articulações.

Os mecanismos subjacentes à dor crônica, inflamação e lesão tecidual ainda não são compreendidos na CHIKV (Mayer et al., 2017). Entretanto, sabe-se que o vírus possui a capacidade de infectar as células sinoviais ocasionando a ativação da resposta inflamatória com a atuação de mediadores imunológicos, infiltração de células nas articulações e tecidos adjacentes, que levam a manifestações clínicas persistentes (Oliveira, 2022).

Dentre os fatores imunológicos envolvidos na CHIKV estão as quimiocinas, consideradas como reguladores das respostas imune inata e adaptativa. Além disso, elas atuam na migração de leucócitos e na homeostase, no entanto, a desregulação dos níveis séricos (aumento ou diminuição) pode atuar no desenvolvimento da dor e destruição tecidual em processos infecciosos (Oliveira, 2022).

Desse modo, a CXCL10, CCL2, IL-8 e RANTES são quimiocinas associadas aos mecanismos imunológicos envolvidos na imunopatogênese da CHIKV, e sua expressão não só é exclusiva da infecção aguda, mas também foi encontrada em pacientes com complicações reumatológicas crônicas (Oliveira, 2022).

O vírus mostra a capacidade de infectar aproximadamente 50% dos habitantes de uma população, dos quais aproximadamente 90% desenvolve manifestações clínicas que apresentam um amplo espectro de sintomas. A Febre Chikungunya desenvolve-se inicialmente com sintomas agudos, geralmente incapacitantes, como febre, calafrio, vômito, náuseas, dores nas articulações e fadiga. Posteriormente progridem os sintomas musculoesqueléticos, como poliartralgia e artrite, que podem levar a comprometimento significativo da função física, e permanecerem por meses e até anos. Assim, a percepção deste sintoma é tida como uma experiência multidimensional, apresentando-se nos mais variados níveis de intensidade e afetada por variáveis clínicas, afetivas e emocionais (Gomes et al., 2021).

O mecanismo principal que está envolvido na patogênese da CHIKV é a desregulação do processo inflamatório. A infecção pelo CHIKV é marcada pela resposta da imunidade inata contra vírus, que consiste na ação de macrófagos, células dendríticas e células NK, seguida da ativação da resposta imune adaptativa pelos linfócitos B e T, com geração das células de memória que levam a uma resposta específica à infecção e protege de reinfecções (Oliveira, 2022).

Ademais, o vírus possui o tropismo por infectar as células do músculo esquelético, macrófagos, sinoviócitos e osteoblastos levando a produção de citocinas e quimiocinas que promovem a destruição da cartilagem e do osso, contribuindo para as condições inflamatórias crônicas (Oliveira, 2022).

Conforme Faria et al. (2017), todo paciente que apresentar sinais clínicos e/ou laboratoriais em que há necessidade de internação em terapia intensiva ou risco de morte deve ser considerado como forma grave da doença. As formas graves da infecção pelo CHIKV acometem, com maior frequência, pacientes com comorbidades (história de convulsão febril, diabetes, asma, insuficiência cardíaca, alcoolismo, doenças reumatológicas, anemia falciforme, talassemia e hipertensão arterial sistêmica), crianças, pacientes com idade acima de 65 anos e aqueles que estão em uso de alguns fármacos (aspirina, anti-inflamatórios e paracetamol em altas doses).

A febre chikungunya tem se tornado um importante problema de saúde pública nos países onde ocorrem as epidemias, visto que metade dos casos evolui com artrite crônica, persistente e incapacitante. A presença desses sintomas pode predispor esses indivíduos a entrarem num processo de sedentarismo forçado, no qual, podem ser incapacitados de realizar até mesmo atividades habituais (Santiago, 2018).

O acometimento articular na chikungunya, nas suas diferentes fases, causa importante incapacidade física, impactando de forma significativa na qualidade de vida dos pacientes acometidos. A incapacidade laboral causada pela doença, em uma faixa etária economicamente ativa, amplia ainda mais a magnitude do problema para a população atingida. O tratamento da dor envolve todas as fases da doença e não apenas as fases subagudas e crônicas, devendo ser efetivo desde os primeiros dias de sintomas. A dor aguda tratada de forma inadequada é uma das principais causas de sua cronificação, e desencadeia outros sintomas como a depressão, a fadiga e os distúrbios do sono. Na infecção pelo CHIKV existe a necessidade de uma abordagem eficaz no controle da dor visando, inclusive, diminuir o tempo de doença clínica (Faria et al., 2017).

CHIKV também pode levar a manifestações clínicas atípicas e letais, tais como, a Síndrome de Guillain Barré, miocardite, hepatite e meningoencefalite, Nos recém-nascidos, a infecção congênita pode vir acompanhada de sinais clínicos variados, como febre, inapetência, apneia, manifestações cutâneas, edema distal e cerebral, encefalite e hemorragia (Oliveira, 2022).

O exercício físico resistido é o treinamento contra resistência, leva a um gasto energético acima dos níveis de repouso e geralmente é realizado com a utilização de pesos, e tem como benefícios: o desenvolvimento de potência, força e resistência muscular, diminuição de gordura corporal, e aumento de massa magra e deste modo favorece uma melhor aptidão física e qualidade de vida por facilitar atividades do cotidiano como por exemplo carregar pesos, subir escadas, entre outros. Diversos estudos afirmam que a atividade física contribui para a melhora da qualidade de vida dos indivíduos no decorrer de suas atividades diárias, além de diminuir o risco de agravos de uma série de doenças (Paixão et al., 2018).

Assim, conforme estudo realizado por Neumann et al. (2021), os exercícios resistidos, pelo o seu potencial de melhorar distúrbios musculoesqueléticos, presentes sobretudo na fase crônica da febre Chikungunya, podem nortear estudos para serem alternativas de manejo do paciente após infecção pelo CHIKV.

Além disso, pacientes com doença chikungunya de longa duração são afetados também por sintomas não reumáticos, e dentre eles destacam-se sintomas psicológicos. Exibindo-se, assim, a importância do acompanhamento de longo prazo e continuado desse indivíduo (Doran et al., 2022).

O tratamento da dor, seja de origem reumática ou não, envolve uma visão holística do indivíduo respeitando suas condições biopsicossociais, na tentativa de minimizar o desconforto e permitir que ele retorne as suas atividades. Promovendo assim, a melhora da qualidade de vida que por sua vez, deve ser compreendida como a sensação de conforto e bem-estar frente as obrigações do indivíduo em seu cotidiano e ambiente que o cerca (Monge et al., 2019).

Uma das consequências mais comuns em decorrência das limitações físicas da Febre Chikungunya é a redução do nível de relações sociais do indivíduo, que associada a várias complicações neurológicas, devido à natureza neurotrópica do vírus, reflete em repercussões psicológicas, como depressão e ansiedade, condições de saúde capazes de comprometer a qualidade de vida consideravelmente após a fase aguda da doença (Souda et al., 2018).

Na fase crônica da Chikungunya, podem ser empregados os mesmos esquemas terapêuticos da fase subaguda (análgésicos, opioides, AINEs, corticoids), caso se mostrem eficazes no controle da artrite e bem tolerados pelo paciente. No entanto, casos em que a artropatia persiste por mais de três meses geralmente requerem o uso de outros fármacos. Nessas circunstâncias, recomenda-se, inicialmente, o emprego de Drogas antirreumáticas modificadoras da doença (DMARDs), com destaque para o metotrexato, além dos agentes antimaláricos e da sulfassalazina (Monge et al., 2019).

As investigações sobre as quimiocinas na CHIKV são necessárias para averiguar o papel da resposta imunológica na patologia articular observadas durante o percurso da infecção e sua associação com fase crônica. Assim, os mediadores imunológicos são considerados biomarcadores que podem auxiliar no prognóstico e desenvolvimento de novos alvos terapêuticos para o tratamento das complicações articulares dos pacientes com CHIKV crônica (Oliveira, 2022).

Alem das opções de tratamento farmacológico, outros tipos de intervenções terapêuticas podem ser empregadas no manejo das fases agudas, subagudas e crônica da Chikungunya, de forma isolada ou associada ao uso de medicamentos. Nessa perspectiva, notadamente a fisioterapia é bastante indicada, dada a diversidade e versatilidade de recursos eficientes no alívio dos sintomas da doença e na reabilitação functional do indivíduo: eletroterapia, termoterapia, fototerapia, hidroterapia, cinesioterapia e terapia manual (Misra et al., 2018).

Dessa forma, a presente pesquisa teve como objetivo geral de estudo avaliar os benefícios do exercício resistido em pacientes com dores musculoesqueléticas pós acometimento por Chikungunya. Além disso, visou identificar as principais manifestações musculoesqueléticas advindas após a infecção; analisar como a prática de exercício físico resistido interfere na qualidade de vida do paciente com a poliartralgia, sintoma da doença; e identificar a necessidade de apoio psicossocial e multidisciplinar a longo prazo de pacientes que tiveram CHIKV, visando mitigar os sintomas não reumáticos, muitas vezes subestimados.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de campo, transversal, do tipo descritivo com abordagem quantitativa. A população base foi obtida após abordagem de indivíduos clientes de uma academia de ginástica do município de Teresina, dentre os quais foi possível selecionar 60 indivíduos com diagnóstico de Chikungunya. Dessa forma, foi utilizada uma calculadora online para o cálculo amostral, com confiabilidade de 95% e com margem de erro de 5%, resultando em uma amostra de 49 indivíduos.

Os indivíduos da amostra atenderam aos seguintes critérios de inclusão para a participação no estudo: ter tido a doença até dezembro de 2022, ter idade entre 18 anos e 65 anos, ter capacidade cognitiva e autonomia para responder ao questionário da entrevista e concordar em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Como fatores de exclusão tem-se: pacientes com diagnóstico anterior de outra doença de caráter reumático.

A amostra foi selecionada mediante busca ativa de indivíduos que cumprem os critérios da pesquisa. Em seguida, realizou-se um convite para participar da pesquisa e, após aceito, o questionário de perguntas objetivas foi aplicado, o qual foi possível avaliar sobre o nível de atividade física e sobre o nível de dor.

Os dados coletados foram tabulados estatisticamente no Programa Microsoft Excel, apresentados visualmente em tabelas e em gráficos, conforme suas variáveis, e analisados descritivamente nos resultados desta pesquisa.

A pesquisa iniciou após a aprovação do Comitê de Ética, obedecendo a resolução 466 de 2012 e resolução 510 de 2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), respeitando a ética em pesquisa com seres humanos. Possui CAAE 66737822.2.0000.5210 e número de parecer 5.895.294.

Os riscos dessa pesquisa incluíram a exposição de dados pessoais dos envolvidos no estudo durante a entrevistas realizada com os pesquisadores, podendo, assim, perder a confidencialidade das informações. Para redução desses riscos, não foi permitido foto ou uso de qualquer outro dado que possibilite identificar os pacientes envolvidos na pesquisa.

Os benefícios da pesquisa foram proporcionados pelo levantamento de dados a respeito dos impactos do exercício físico resistido na qualidade de vida de pacientes com dores musculoesqueléticas pós Chikungunya, possibilitando acesso a resultados importantes para uma alternativa de manejo terapêutico desse paciente, além de instigar a realização de estudos nesse campo de pesquisa e, consequentemente, maior embasamento médico.

RESULTADOS

Para análise inicial das informações utilizou-se um estudo descritivo dos dados. A amostra consistiu em 49 indivíduos, sendo 28 do sexo feminino (57,14%) e 21 do sexo masculino (42,86%). Os indivíduos entrevistados foram acometidos pela febre Chikungunya até dezembro de 2022. A média de idades mais prevalentes (32 dos 49 indivíduos) foi de 20 a 40 anos. Todos os entrevistados asseguraram não ter diagnóstico anterior de doença reumatológica.

Foi analisada a presença de sintomas após o acometimento por Chikungunya (Gráfico 1). Com isso, observou-se, além de manifestações musculoesqueléticas, grande prevalência (67%) de sintomas psicológicos associados, sendo que os mais referidos foram ansiedade, desânimo e sofrimento emocional.

Gráfico 1 – Frequência das manifestações clínicas da Chikungunya conforme seu caráter, seja reumatológico ou associado a sintomas psicológicos.

Fonte: Carvalho et al., 2023.

Ainda, baseando-se no questionário aplicado, foi possível estabelecer uma relação direta entre a prática de exercício resistido e melhora das manifestações clínicas da Chikungunya (Gráfico 2).

Conforme investigação, 42 dos 49 indivíduos entrevistados referiram redução significativa (reduziu totalmente ou bastante) das dores musculoesqueléticas após prática de atividade física, auxiliando no bem-estar do paciente. Apenas 4 pessoas afirmaram que os reduziram pouco e 3 pessoas não observaram melhora das manifestações clínicas da doença associada à prática de exercício resistido.

Gráfico 2 – Correlação entre a prática de exercício físico resistido e o nível de redução das dores musculoesqueléticas após acometimento por Chikungunya.

Fonte: Carvalho et al., 2023.

Tendo em vista o conceito subjetivo de qualidade de vida, o estudo permitiu graduar a percepção dos indivíduos entrevistados acerca dessa condição de bem-estar associada aos sintomas da febre Chikungunya (Tabela 1). Evidenciou-se que todos os entrevistados apresentaram queixas em relação à qualidade de vida. Desses, 29 a descreveram como ruim, 17 descreveram como moderada e, apenas 3, a referiram como regular.

Tabela 1 – Correlação entre a prática de exercício físico resistido e o nível de redução das dores musculoesqueléticas após acometimento por Chikungunya.

QUALIDADE DE VIDA COM SINTOMAS DA CHIKVINDIVÍDUOS
0 RUIM29
1-3 MODERADA17
4-6 REGULAR3
7-10 ÓTIMA0

Fonte: Carvalho et al., 2023.

Na análise do que a prática de exercício físico resistido proporcionou a cada indivíduo acometido por Chikungunya, foi possível estabelecer uma correlação entre redução da dor e o quanto esse indivíduo recomenda incluir essa atividade no manejo terapêutico da doença (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Nível de recomendação da prática de exercício físico resistido para melhora dos sintomas da Chikungunya.

Fonte: Carvalho et al., 2023.

Conforme o gráfico, observou-se que a maioria, 45 indivíduos (91,8%) recomendam totalmente a prática de atividade física associada ao tratamento para bons resultados no quadro sintomático da febre Chikungunya.

DISCUSSÃO

Conforme o presente estudo, foi possível avaliar o quanto a prática de exercício físico resistido reduziu as dores musculoesqueléticas, sintomas da Febre Chikungunya, através da percepção dos indivíduos entrevistados. Assim, é possível inferir a atividade física como coadjuvante terapêutica no manejo da doença. O que consolida a hipótese inicial levantada no estudo.

A melhora dos sintomas musculoesqueléticos da febre Chikungunya foi bem significativa com a prática de exercício físico regular, corroborando com o estudo de Neumann et al. (2021), onde afirma que os exercícios físicos, praticados por pacientes com Chikungunya, induziram melhora na função física na posição sentada e em pé e reduziram a dor em doentes crônicos.

Para o grupo de indivíduos avaliados no estudo, a intensidade da dor, como manifestação clínica da Febre Chikungunya, é de moderada a grave, podendo ser limitante e até mesmo incapacitante para algumas atividades cotidianas. Isso se correlaciona com o resultado de Elsinga et al. (2017), visto que explicaram que a Qualidade de Vida Relacionada à Saúde com CHIKV foi afetada principalmente nos domínios físico e emocional.

Tendo em vista a avaliação de sintomas de caráter não reumatológico no presente estudo, foi possível perceber o quão subestimado ainda é esse aspecto da Chikungunya, o que carece de mais investigações e devida atenção médica. Para Doran et al. (2022), os sinais e sintomas do paciente afetado não devem ser caracterizados apenas como poliartralgia debilitante, deve incluir, ainda, o comprometimento psicológico envolvido.

A fadiga é um fator presente em indivíduos com dor crônica decorrente da Chikungunya e o exercício físico associado promove melhora no bem-estar físico e mental, melhora o quadro de artralgia e melhora a disposição para realizar atividades diárias (Silva; Castro, 2020).

Assim, de fato, os exercícios resistidos podem ser considerados como uma abordagem de tratamento para pacientes com distúrbios musculoesqueléticos da febre Chikungunya.

CONCLUSÃO

Os resultados do estudo corroboraram com a hipótese apontada inicialmente, mostrando relação direta entre nível de atividade física e redução de sintomas musculoesqueléticos da febre Chikungunya. Ainda, aponta-se a presença de manifestações psicológicas, muitas vezes subestimadas, associadas ao acometimento pela doença que ainda carecem de atenção, visando o manejo holístico do paciente. Frente a isso, destaca-se a importância de novos estudos que possam colaborar com este e também atualizar as evidências já existentes, induzindo mais discussões sobre o assunto. Concomitantemente, há a necessidade de ampliação da amostra com o intuito de mitigar os vieses do presente estudo.

REFERÊNCIAS

BENJAMANUKUL, Saovanee et al. Manifestações reumáticas da infecção pelo vírus Chikungunya: prevalência, padrões e entesite. Plos one, v. 16, n. 4, pág. e0249867, 2021.

BRASIL, Ministério da Saúde. Chikungunya: manejo clínico. Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília, 2017.

BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Monitoramento dos casos de arboviroses até a semana epidemiológica 18 de 2022. Boletim Epidemiológico, 53, 1-40, 2022.

BRITO, Carlos et al. Atualização no tratamento das manifestações musculoesqueléticas na febre chikungunya: uma diretriz. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical , v. 53, 2020.

DEBBO, Alejandra. Manifestações musculoesqueléticas persistentes pós-febre chikungunya: uma série de casos em um estado do Nordeste brasileiro. 2019.

DORAN, Churnalisa et al. Sequelas de Chikungunya a longo prazo e qualidade de vida 2,5 anos pós-doença aguda em uma coorte prospectiva em Curaçao. PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 16, n. 3, pág. e0010142, 2022.

ELSINGA, J et al. Impacto relacionado à saúde na qualidade de vida e estratégias de enfrentamento para chikungunya: um estudo qualitativo em Curaçao. PLoS Negl Trop Dis, 11(10): e0005987, 2017.

FARIA, A et al. Chikungunya: Manejo Clínico. 2017.

FILHO; GOMES. Terapia com Exercício Físico no Tratamento da Chikugunya na Fase Crônica. 2022.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, Brasil. Chikungunya: sintomas, transmissão e prevenção. Ministério da Saúde, 2018.

GOMES, Chiara et al. Principais alterações articulares em indivíduos acometidos por Chikungunya: uma revisão de literatura. Research, Society and Development, v. 10, n. 3, p. e46310313617-e46310313617, 2021.

MARQUES, Claudia et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Parte 1-Diagnóstico e situações especiais. Revista Brasileira de reumatologia, v. 57, p. s421-s437, 2017.

MARQUES, Claudia et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Parte 2-Tratamento. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 57, p. s438-s451, 2017.

MAYER, Sandra et al. O surgimento de doenças virais transmitidas por artrópodes: uma perspectiva global sobre dengue, chikungunya e zika. Acta tropica, v. 166, p. 155-163, 2017.

MINSHUL, Claire; GLESON, Nigel. Considerações sobre os princípios do treinamento resistido em estudos de exercícios para o manejo da osteoartrite do joelho: uma revisão sistemática. Arquivos de Medicina Física e Reabilitação. v. 98, n. 9, pág. 1842-1851, 2017.

MISRA et al. Rheumatology science and pracrice in India. Rheumatology International, v.38, n.9, p. 1587 – 1600, 2018.

MOGAMI, Roberto et al. Ultrassonografia do chiungunya diagnóstico das febres. Radiologia Brasileira. v. 50, p. 71-75, 2017.

MONGE et al. Pan-American League of Associations for Rheumatology-Central American, Caribbean and Andean Rheumatology Association Consensus-Conference Endorsements and Recommendations on the Diagnosis and Treatment of Chikungunya-Related Inflamatory Arthropathies in Latin América. JCR: Journal of Clinical Rheumatology, v.25, n.2, p.101-107, 2019.

NEUMANN, I. et al. Resistance exercises improve physical function in chronic Chikungunya fever patients: a randomized controlled trial. Eur J Phys Rehabil Med, 57(4):620-629, 2021.

OLIVEIRA. O papel das quimiocitocinas CXCL10, CCL2, EL-8 e RANTES na febre Chikungunya crônica: uma revisão da literature. 2022.

OSTHOFF, Anne et al. Recomendações EULAR 2018 para atividade física em pessoas com artrite inflamatória e osteoartrite. Anais das doenças reumáticas, v. 77, n. 9, pág. 1251-1260, 2018.

PAIXÃO, Enny et al. Doença crônica de Chikungunya: uma revisão sistemática e meta-análise. Transações da Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 112, n. 7, pág. 301-316, 2018.

SANTIAGO, André. Avaliação do nível de atividade física habitual de pacientes com infecção crônica pelo vírus chikungunya. 2018.

SILVA, Thiago; CASTRO, Cássia. Efeitos do Exercício Resistido em Indivíduos com Dor Crônica Decorrentes da Chikungunya: Utilização de Percepção de Fadiga. Revista Expressão Católica Saúde, v. 5, n. 2, p. 46-55, 2020.

SOUSA et al. Impacto da Chikungunya na qualidade de vida, Fortaleza/CE. 2018.

TRITSCH, Sarah et al. Dor articular crônica 3 anos após a infecção pelo vírus chikungunya caracterizada em grande parte por sintomas recorrentes-remitentes. The Journal of reumatology, v. 47, n. 8, pág. 1267-1274, 2020.

VANAALST et al. Sequelas a longo prazo da doença do vírus chikungunya: uma revisão sistemática. Medicina de viagem e doenças infecciosas, v. 15, p. 8-22, 2017.


1 Centro Universitário UniNovafapi, Teresina – PI.