BENEFITS OF OZONE THERAPY IN AESTHETIC BIOMEDICINE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10724980
Ana Carla Toebe1
Messias Pacheco2
RESUMO
A pele, como órgão versátil, desempenha funções cruciais na proteção do organismo. No entanto, o envelhecimento cutâneo resulta na perda de suas características fundamentais, como a produção de colágeno e elastina. O envelhecimento é um processo multifatorial, associado ao estresse oxidativo e à exposição crônica aos raios ultravioleta. A biomedicina estética moderna oferece uma variedade de abordagens para aprimorar a aparência facial, incluindo procedimentos não invasivos. A ozonioterapia, uma técnica que utiliza o ozônio como agente terapêutico, demonstrou eficácia em estimular a circulação sanguínea, melhorar a oxigenação tecidual e tratar condições estéticas. Este estudo adotou uma abordagem de revisão bibliográfica. A ozonioterapia revelou-se promissora na biomedicina estética devido aos seus múltiplos mecanismos de ação, como a melhoria da circulação sanguínea, a redução da inflamação e o estímulo ao sistema imunológico. Além disso, a ozonioterapia é utilizada em procedimentos estéticos para tratar problemas como celulite e gordura localizada. No entanto, sua aplicação requer regulamentação rigorosa e deve ser realizada por profissionais de saúde qualificados. A regulamentação recente no Brasil estabelece diretrizes adicionais para a prática da ozonioterapia, enfatizando a necessidade de equipamentos regulamentados e profissionais de nível superior. O futuro da ozonioterapia dependerá de pesquisas contínuas e regulamentações atualizadas, garantindo sua segurança e eficácia na prática clínica.
Descritores: Ozonioterapia. Envelhecimento da pele. Estética.
ABSTRACT
The skin, as a versatile organ, plays cruciais roles in protecting the body. However, cutaneous aging results in the loss of its fundamentais characteristics, such as the production of collagen and elastin. Aging is a multifactorial process associated with oxidative stress and chronic exposure to ultraviolet rays. Modern aesthetic biomedicine offers various approaches to enhance facial appearance, including non-invasive procedures. Ozone therapy, a technique utilizing ozone as a therapeutic agent, has demonstrated efficacy in stimulating blood circulation, improving tissue oxygenation, and treating aesthetic conditions. This study adopted a literature review approach. Ozone therapy has proven promising in aesthetic biomedicine due to its multiple mechanisms of action, such as improving blood circulation, reducing inflammation, and stimulating the immune system. Additionally, ozone therapy is used in aesthetic procedures to address issues like cellulite and localized fat. However, its application requires strict regulation and should be performed by qualified healthcare professionals. Recent regulation in Brazil establishes additional guidelines for ozone therapy practice, emphasizing the need for regulated equipment and higher-level professionals. The future of ozone therapy will depend on ongoing research and updated regulations, ensuring its safety and efficacy in clinical practice.
Keywords: Ozone Therapy. Skin Aging. Aesthetics.
INTRODUÇÃO
A pele é um órgão notavelmente versátil que desempenha várias funções essenciais, dentre as quais se destaca a proteção do organismo contra uma ampla gama de fatores adversos, incluindo agentes mecânicos, físicos e biológicos. Essa função de salvaguarda é executada por meio de células altamente especializadas e de componentes proteicos que compõem a complexa estrutura da pele. A camada mais externa, conhecida como epiderme, é composta principalmente por células queratinizadas que formam uma barreira resistente à água e à invasão de patógenos. Logo abaixo, a derme contém fibras de colágeno e elastina que conferem força e elasticidade à pele. As glândulas sebáceas produzem sebo, que lubrifica a superfície, enquanto as glândulas sudoríparas regulam a temperatura e eliminam toxinas. Além disso, os vasos sanguíneos na derme fornecem nutrientes e oxigênio, promovendo a cicatrização. Essa complexa rede de estruturas e componentes da pele trabalha em conjunto para manter a integridade, proteger contra danos e promover a regeneração quando necessário. 1
O envelhecimento da pele causa perda das estruturas, através da redução de produção de colágeno e elastina, que são proteínas que fornecem firmeza e elasticidade à pele, com o avanço do tempo, a produção dessas proteínas diminuem, levando a um envelhecimento da pele e a maior flacidez. 2
O envelhecimento é um fenômeno que transcende todas as escalas celulares do corpo humano, e cada tipo de tecido revela suas próprias singularidades nesse processo. 2 Essa progressiva transformação é o resultado da deterioração intrínseca de moléculas, células e estruturas teciduais, culminando na gradual perda da habilidade de se adaptar às mudanças ou de se regenerar após sofrer danos.3
Embora uma série de teorias tenha sido proposta para desvendar os complexos mecanismos celulares e moleculares subjacentes ao envelhecimento, estudos recentes têm progressivamente enfatizado que o processo de envelhecimento está intrinsecamente ligado à acumulação de danos moleculares. Esse enfoque tem levado à formulação de uma teoria unificada que busca explicar o fenômeno do envelhecimento de maneira abrangente. Dentre os diversos processos que contribuem para a ocorrência desses danos, merecem destaque as reações envolvendo radicais livres e outras espécies reativas de oxigênio, assim como as reações metabólicas relacionadas a açúcares e aldeídos reativos, além dos erros espontâneos que ocorrem nos processos bioquímicos. 4
Dessa maneira, o estresse oxidativo pode ser conceituado como uma disparidade intrincada entre a produção incessante de Espécies Reativas de Oxigênio (EROS) e sua neutralização eficiente pelos antioxidantes, ajustada conforme as demandas únicas de cada célula. Nesse cenário complexo, o aumento exagerado ou a regulação inadequada da geração de EROS, embora não seja inequivocamente tido como um fator causal, desempenha um papel mais proeminente como um elemento modulador nos mecanismos subjacentes ao processo de envelhecimento. Essa relação complexa está estreitamente associada a um amplo espectro de condições patológicas.5
O processo de envelhecimento cutâneo desencadeia uma série de transformações intrincadas que estão ligadas a fatores de origem genética, bem como às influências extrínsecas derivadas do meio ambiente. Entre os fenômenos mais evidentes desse processo destacam-se a formação gradual de linhas de expressão e a manifestação irregular da pigmentação da pele. 6
Os antioxidantes desempenham um papel fundamental na prevenção e redução dos danos provocados pelos radicais livres nas células. Algumas vitaminas têm a capacidade de atuar como antioxidantes, e as mais frequentemente mencionadas na literatura são o retinol, o ácido ascórbico e o tocoferol. Essas substâncias são adequadamente denominadas como vitamina A, vitamina C e vitamina E, respectivamente, dessa forma, uma alimentação com falta de vitaminas é apontado como um determinante do processo de envelhecimento.7
Essas características visuais costumam emergir com mais notoriedade a partir da segunda década de vida e têm como principais instigadores a exposição crônica aos raios ultravioleta (UV) provenientes da luz solar e as alterações na estrutura e na tonicidade dos músculos que são intrínsecas ao avanço da idade, a deterioração intrínseca causada pelo aumento da idade, e uma alimentação com falta de vitaminas que possuem a capacidade de atuar como antioxidantes como vitamina A, vitamina C e vitamina E. Ainda que o envelhecimento da pele seja uma jornada inevitável e contínua, é um processo dinâmico que pode ser influenciado de maneira consciente e, em certa medida, modulado. 8
A biomedicina estética contemporânea disponibiliza uma ampla gama de abordagens, tanto cirúrgicas quanto não cirúrgicas, para revitalizar a aparência facial. No entanto, nos últimos dez anos, tem havido um notável aumento do interesse por procedimentos estéticos não invasivos. Esse interesse crescente é motivado por várias razões, incluindo a preocupação em relação à intervenção cirúrgica, o uso de anestesia e o período de recuperação tipicamente prolongado, bem como a possibilidade de insatisfação com os resultados obtidos.6
O ozônio é uma molécula composta por três átomos de oxigênio e é caracterizada como uma forma menos estável do oxigênio. Sua denominação, “ozônio,” tem origem na palavra grega “ozein,” que significa “cheiro,” devido ao seu odor distintivo. Encontra-se naturalmente na forma gasosa na atmosfera e pode ser produzido de duas maneiras: por exposição aos raios ultravioleta do sol ou de forma artificial, utilizando um gerador que cria ozônio a partir da passagem de oxigênio puro por uma descarga elétrica de alta voltagem e frequência elevada. 9
O ozônio utilizado em aplicações médicas é uma combinação que, no máximo, contém 5% de ozônio e 95% de oxigênio. A dosagem empregada no contexto médico varia de 1 a 100 mg de ozônio por litro de oxigênio, de acordo com a via de administração e a natureza da doença em consideração. A sua meia-vida, estimada em cerca de 40 minutos a uma temperatura de 20°C, torna-o uma substância de ação efêmera e precisa na prática clínica. 11
A ozonioterapia, uma técnica que utiliza o ozônio como agente terapêutico no tratamento de uma variedade de doenças, tem suas origens datadas do século XIX. Hoje em dia, é uma prática aprovada em vários países.11 A primeira aplicação do gás ozônio ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial, quando foi empregado para tratar soldados alemães afetados pela gangrena gasosa, uma condição resultante de infecções anaeróbias por Clostridium, que demonstra grande sensibilidade ao ozônio (O3). 12
A ozonioterapia consiste em uma modalidade terapêutica não invasiva que envolve a administração de ozônio no organismo. Composto por três átomos de oxigênio (O3), esse gás tem como intuito otimizar a oxigenação dos tecidos, buscando aprimorar a resposta de sistemas como o sistema imunológico e outros. 13
Entre os efeitos benéficos do ozônio destaca-se a sua ação antioxidante contra radicais livres.14 Além disso, contribui para aumentar a flexibilidade dos eritrócitos, facilitando o fluxo dessas células através dos vasos sanguíneos e promovendo um maior fornecimento de oxigênio aos tecidos, graças ao aumento do 2,3-difosfoglicerato, responsável pela transferência de oxigênio da hemoglobina para os tecidos.15 Outros efeitos terapêuticos incluem a diminuição da agregação plaquetária, propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e ação bactericida, fungicida e viricida. 16-17
Ao longo de um período considerável, a eficácia terapêutica do ozônio tornou-se notória em âmbito global. No entanto, sua aplicação em procedimentos estéticos teve início somente no ano 2000. Nesse período, por meio de estudos e aplicações, ficou evidente que esse gás tinha a capacidade de estimular a circulação sanguínea, oxigenar os tecidos e promover a atividade dos glóbulos vermelhos. 18
Esse achado proporcionou uma via para o tratamento de disfunções estéticas como gordura localizada, celulite, flacidez, estrias, acne, hipercromias e rugas. Essas condições, em grande parte, estão associadas à deficiente oxigenação e circulação periférica, à inflamação e ao acúmulo de toxinas.18 Dentro desse contexto, é questionado: quais são os benefícios descritos na literatura sobre a utilização da ozonioterapia na biomedicina estética?
O objetivo deste estudo é identificar os benefícios da ozonioterapia na biomedicina estética. Para isso, tem-se como objetivos específicos conceituar o que é a ozonioterapia, contextualizar a biomedicina estética, e discutir quais os benefícios da utilização da ozonioterapia na biomedicina estética.
Considerando algumas das principais preocupações das pacientes, como eventuais complicações após a cirurgia, recuperação prolongada, processo de cicatrização insatisfatório e insatisfação com os resultados obtidos, juntamente com a crescente demanda por parte daquelas clientes que não desejam ou não podem se submeter a intervenções cirúrgicas, torna-se incontestável a relevância de se familiarizar com alternativas não cirúrgicas confiáveis e seguras para abordar as técnicas não invasivas na biomedicina estética.
MÉTODO
A metodologia utilizada neste estudo foi uma revіsão bіbIіográfіcа, realizada utіIіzаndo аs bаses de dаdos Scientific Electronic Library Online (Scielo), Google Acadêmico e PubMed, que permіtem а buscа de pubIіcаções nаcіonаіs e іnternаcіonаіs. Nessa busca foram empregados os seguintes descritores: ozonioterapia, envelhecimento, e biomedicina estética.
Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: conformidade com o tema selecionado, objetivos alcançados, artigos de revisão bibliográfica e artigos de pesquisa experimental, artigos publicados entre os anos de 2013 e 2023, e publicações nos idiomas português e inglês.
Como critérios de exclusão, foram excluídos os artigos que aparecerem de forma duplicada, indisponíveis para acesso completo, que não concluam seus objetivos ou que fujam do tema selecionado.
Os artigos encontrados com base nos critérios de inclusão e exclusão foram аvаlіаdos, inicialmente, em seus títulos, e posterіormente através da leitura de seu resumo ou аbstrаct. O segundo passo foi a leitura do texto na íntegra. А pаrtіr dos estudos selecіonаdos, foi realizado uma аnálіse quаlіtаtіvа (metаssíntese) dos dados, аtrаvés dа descrіção dos trаbаlhos selecіonаdos, e buscа de tendêncіаs e generаlіzаções encontradas.
FUNCIONABILIDADE DA OZONIOTERAPIA
A oxidação é a capacidade que tem uma substância, numa reação química, de doar um elétron para outra substância. Exemplos de substâncias oxidantes são: a vitamina C, o peróxido de hidrogênio ou água oxigenada, o permanganato de potássio, e o ozônio. As terapias oxidativas ou bio-oxidativas utilizam a propriedade das substâncias de oxidarem outras produzindo algum tipo de benefício terapêutico. A ozonioterapia é uma das terapias oxidativas existentes. 19
O ozônio é aproximadamente 10 vezes mais solúvel que o oxigênio, o mesmo ocorrendo com sua capacidade de difusão e penetração tecidual. Quando entra em contato com um tecido biologicamente ativo o ozônio reage imediatamente com numerosas biomoléculas que juntas formam verdadeiros sistemas de tamponamento antioxidante. A grande maioria destas biomoléculas exerce papéis anti-inflamatório e analgésico, importantes, de modo simultâneo, às ações antioxidantes. 20
O ozônio é rapidamente inativado e resulta, dependendo do sistema e tamponamento atuante, na formação dos denominados ozonídeos, espécies reativas de oxigênio ou dos produtos de oxidação lipídica. 21
As espécies reativas de oxigênio são potencialmente citotóxicas, no entanto, a meia vida muito curta destas substâncias, com exceção do radical semiquinona e do ácido hipocloroso, reduz o risco delas, desde que as aplicações obedeçam a criteriosa seleção de pacientes e as doses recomendadas para cada modo de aplicação nos protocolos nacionais e internacionais das associações médicas de ozonioterapia. 19
Os produtos de oxidação lipídica são heterogêneos e representados pelos radicais peroxila e hidroperóxido, e por uma complexa mistura de aldeídos de baixo peso molecular e de alquenos. Alcançam o sistema vascular e podem sinalizar respostas em praticamente todo o organismo. A toxicidade destas substâncias é menor que as produzidas em meio hídrico. A meia-vida dos ozonídeos lipídicos é mais longa que a dos hídricos.19
Os ozonídeos hídricos aumentam a flexibilidade eritrocitária, realizam imunoativação leucocitária e causam a degraduação de autacoides e fatores de crescimento pelas plaquetas. Os lipídicos aumentam a ação enzimática da sintetase de óxido nítrico e consequentemente a oferta endotelial deste gás; induzem a mieloproliferação de eritrócitos mais longevos, com maior capacidade de transporte e liberação de oxigênio aos tecidos periféricos; e regulam o sistema antioxidante de modo difuso. 22
A ozonioterapia age nas hemácias com a formação de peróxidos e a ativação do metabolismo pelo sistema glutationa com melhora da liberação de oxigênio e aumento da energia tissular, aumento de ATP. O O3 aumenta a concentração de 2,3 DPG com diminuição da afinidade da oxihemoglobina pelo O2 e um desvio na curva Oxiemoglobina/Hemoglobina para a direita com a consequente melhor oxigenação periférica. 23
A reação de peroxidação sobre os fosfolípides da membrana dos eritrócitos determina um aumento da carga elétrica negativa deles causando uma repelência elétrica que leva a um fenômeno de desagregação, de redução da adesividade celular, inativando as fibronectinas, as integrinas, e demais moléculas de adesão. O fenômeno de empilhamento eritrocitário fica extremamente reduzido inibindo a formação de trombos vermelhos. 22 A modificação induzida nas membranas das hemácias confere a elas maior capacidade de deformação e de troca gasosa. A redução da viscosidade sanguínea é outra consequência da ação do ozônio. Efeitos semelhantes são obtidos com as plaquetas, conferindo à ozonioterapia também um efeito antiadesivo e profilático contra trombos brancos. 22
Assim sendo, a ozonioterapia otimiza os parâmetros hemorreológicos e a capacidade de liberação do oxigênio aos tecidos supridos, nos pacientes portadores de doença isquêmica.
A oferta e o acúmulo de energia nos tecidos sofrem um marcante aumento, traduzido pela elevação da concentração de ATP. Esta maior oferta e subsequente acúmulo de energia parecem estar intimamente ligadas aos efeitos atenuantes dos sinais e sintomas de fadiga e da dor muscular. 23
A ação antimicrobiana direta contra bactérias, vírus e fungos do ozônio é poderosa.24 Estes microrganismos não possuem sistemas de tamponamento antioxidante e o estresse causado pelo O3 não pode ser controlado, tornando-os frágeis. A ozonioterapia não fornece ozônio ou ozonídeos em quantidades suficientes para atuar diretamente contra os micro organismos. Os efeitos microbicidas à distância se devem às mudanças metabólicas sinalizadas e deflagradas pelos ozonídeos e à produção de ozônio, como biomolécula, por neutrófilos ativados e catalizada por anticorpos específicos. 25
Os leucócitos atacam os agentes infecciosos através de ozônio e/ou de moléculas com propriedades semelhantes como os peróxidos. 24
Os hidroperóxidos de cadeia curta entram no núcleo das células e culminam com a ativação do RNA mensageiro, translação, consequente produção proteica e liberação de citocinas. A ativação de células imunocompetentes com indução de citocinas como interferons, interleucinas e fatores de crescimento, moléculas sinalizadoras, provoca modulação do sistema imunológico. 19
As modificações induzidas pela ozonioterapia nas características reológicas sanguíneas aliadas às respostas da média e microcirculações proporcionaram a possibilidade de tratamento e alívio de muitas afecções envolvidas com distúrbios isquêmicos, associados ou não a complicações infecciosas. Muitas amputações foram e poderão no futuro serem evitadas pela ozonioterapia.23
A resposta antioxidante que se segue ao estímulo oxidante controlado fornecido pela aplicação medicinal do ozônio é representada pelo aumento de substâncias classicamente reconhecidas como anti-inflamatórias já descritas. Grande parte dos efeitos analgésicos advém desta resposta.23
A grande maioria das dores mediadas pelo aumento da atividade muscular é aliviada pela ozonioterapia. O incremento da oferta de oxigênio e o acúmulo energético traduzido pelo aumento da concentração de ATP conferem aos tecidos proteção metabólica contra a opção anaeróbica, e menor estímulo químico aos receptores dolorosos 21- 26
Quando combinada com a injeção de corticoide, a ozonioterapia demonstra sinergismo anti-inflamatório, que ocorre em épocas diferentes. 27-28
Insuflação subcutânea de mistura de ozônio e oxigênio em ratos preveniu o aparecimento de alodínia e reduziu a expressão exagerada das enzimas pró-inflamatórias da família das caspases no parênquima do córtex orbitário frontal de roedores com modelos de
dor neuropática. A resposta encontrada pode sugerir que a ozonioterapia protege algumas das células de um destino apoptótico. 29
Quando utilizada como condicionamento depois da lesão causada pela compressão e inflamação da herniação discal, em humanos, a ozonioterapia reduziu a concentração das proteínas de lesão oxidativa. 30
APLICAÇÃO DA OZONIOTERAPIA
A ozonioterapia oferece diversas formas de aplicação, cada uma adaptada ao objetivo do tratamento e às necessidades dos pacientes. Descreve-se essas diferentes formas de aplicação:
I) Auto-hemoterapia maior: Neste método, o sangue do paciente é retirado, misturado com ozônio e, em seguida, reintroduzido na corrente sanguínea. Acredita-se que essa técnica possa estimular o sistema imunológico e melhorar a circulação sanguínea, contribuindo para o tratamento de diversas condições 31
II) Insuflação retal: A ozonioterapia pode ser administrada através do reto. Essa técnica é frequentemente empregada para tratar condições relacionadas ao trato gastrointestinal, como colite e infecções intestinais. O ozônio age localmente no trato digestivo. 32
III) Insuflação vaginal: Semelhante à insuflação retal, essa técnica envolve a administração de ozônio, mas através da vagina. É utilizada no tratamento de infecções e condições ginecológicas, com o ozônio atuando na região ginecológica afetada 33
IV) Injeção local de ozônio: Nessa técnica, o ozônio é injetado diretamente na área do corpo que necessita de tratamento, como articulações, músculos ou tecidos afetados por lesões. É uma abordagem comum no tratamento de dor crônica, osteoartrite e lesões musculoesqueléticas.34
V) Banho de ozônio: O paciente é submerso em água ozonizada, frequentemente por meio de um banho de corpo inteiro. Essa forma de aplicação é utilizada para tratar condições de pele, melhorar a circulação sanguínea e promover o relaxamento .35
VI) Ingestão de água ozonizada: Alguns praticantes recomendam a ingestão de água ozonizada para promover a saúde geral e a desintoxicação do corpo. No entanto, essa técnica é altamente controversa e carece de evidências científicas sólidas.36
VII) Aplicação tópica: O ozônio é aplicado diretamente na pele, geralmente na forma de óleo ozonizado. Essa abordagem é empregada no tratamento de condições dermatológicas, feridas e infecções cutâneas, com o ozônio atuando localmente na pele afetada.37
VIII) Inalação de ozônio: Essa técnica envolve a inalação de uma mistura controlada de ozônio e oxigênio. É utilizada em algumas condições respiratórias e é conhecida como “insuflação por via auricular” quando o ozônio é insuflado através do canal auditivo.38
BENEFÍCIOS DA OZONIOTERAPIA
A ozonioterapia é uma abordagem terapêutica que tem sido estudada por seus potenciais benefícios em diversas áreas da saúde. 39 Destaca-se alguns desses benefícios: I) Melhoria da Circulação Sanguínea: Um dos benefícios relatados da ozonioterapia é a melhoria da circulação sanguínea. Esse tratamento é frequentemente utilizado para aprimorar o fluxo sanguíneo, o que pode ser particularmente benéfico em casos de insuficiência vascular periférica. O ozônio é acreditado por sua capacidade de dilatar os vasos sanguíneos, aumentando assim o transporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos.39 II) Tratamento de Feridas: A ozonioterapia também demonstrou eficácia em situações relacionadas ao tratamento de feridas crônicas, úlceras e lesões cutâneas. Acredita-se que o ozônio possui propriedades antimicrobianas que auxiliam na prevenção de infecções e estimulam a cicatrização.39
III) Propriedades Anti-inflamatórias: Outro benefício da ozonioterapia está relacionado às suas propriedades anti-inflamatórias. Esses efeitos podem ser valiosos no tratamento de condições inflamatórias, como a osteoartrite, auxiliando na redução da inflamação e do desconforto associado.40
IV) Estímulo ao Sistema Imunológico: Alguns defensores da ozonioterapia argumentam que ela pode fortalecer o sistema imunológico, tornando o organismo mais resistente a infecções e doenças. Isso pode ocorrer devido ao aumento da oxigenação tecidual e ao potencial efeito antioxidante do ozônio. 13
V) Tratamento de Dores Crônicas: A ozonioterapia é ocasionalmente utilizada como uma opção de tratamento para dores crônicas, como a dor lombar crônica e dores articulares. A melhoria da circulação e o efeito anti-inflamatório podem contribuir para alívio sintomático.41
VI) Estética: Na área da estética, a ozonioterapia é aplicada para tratar condições como celulite e redução de gordura localizada. Acredita-se que o ozônio estimule a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos, o que pode resultar em melhorias estéticas e na aparência da pele.42
VII) Desintoxicação: A ozonioterapia também é considerada por alguns praticantes como um meio de desintoxicação do corpo. Ela pode ajudar na eliminação de toxinas e radicais livres, auxiliando na purificação do organismo.43
VIII) Melhoria na Oxigenação Celular: Acredita-se que essa terapia aumente o fornecimento de oxigênio às células, contribuindo para a saúde geral do organismo.44
RISCOS DA OZONIOTERAPIA
A ozonioterapia é uma terapia alternativa que envolve a administração controlada de uma mistura de ozônio para tratar várias condições médicas e estéticas. 45 No entanto, é importante estar ciente dos riscos envolvidos nesse tratamento, que podem ser categorizados da seguinte maneira:
I) Efeitos Colaterais Imediatos: Após uma sessão de ozonioterapia, é comum os pacientes experimentarem efeitos colaterais imediatos. Isso pode incluir dor no local da aplicação, vermelhidão, inchaço e sensação de calor. Felizmente, esses efeitos geralmente são leves e temporários, desaparecendo após algum tempo.45
II) Irritação Respiratória: A inalação de ozônio pode causar irritação nos pulmões e vias respiratórias. Isso pode levar a sintomas como tosse, falta de ar e até mesmo piora de problemas respiratórios preexistentes, como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). 46
III) Reações Alérgicas: Algumas pessoas podem ser alérgicas ao ozônio ou aos materiais utilizados na terapia. Isso pode resultar em reações alérgicas, como erupções cutâneas, coceira, olhos lacrimejantes e espirros. 47
IV) Infecções e Contaminações: Quando os equipamentos usados na ozonioterapia não são devidamente esterilizados ou quando o procedimento não é realizado em condições higiênicas adequadas, existe um risco de infecções ou contaminações.48
V) Lesões na Pele: A aplicação inadequada do ozônio na pele pode causar lesões, como queimaduras ou ulcerações. Isso ocorre quando a concentração ou a duração da exposição não são controladas adequadamente.48
VI) Reações Sistêmicas Raras: Embora raras, em alguns casos a ozonioterapia pode levar a reações sistêmicas que afetam o corpo como um todo. Isso pode incluir sintomas como febre, mal-estar geral e até mesmo distúrbios mais graves, como a formação de bolhas nos pulmões.49
VII) Interferência com Medicamentos: A ozonioterapia pode interferir com a eficácia de medicamentos que o paciente esteja tomando, reduzindo sua eficácia ou causando interações medicamentosas adversas.49
VIII) Riscos a Longo Prazo Não Compreendidos: Um dos desafios com a ozonioterapia é que os riscos a longo prazo não são completamente compreendidos. Isso ocorre porque a prática não foi amplamente estudada quanto aos seus efeitos a longo prazo na saúde. 49
É fundamental que pacientes considerem cuidadosamente os riscos e benefícios da ozonioterapia, discutam suas preocupações com um profissional de saúde qualificado e estejam cientes das limitações e incertezas associadas a essa forma de tratamento. Além disso, a ozonioterapia deve ser realizada por profissionais de saúde devidamente treinados e em conformidade com as regulamentações locais para minimizar os riscos potenciais. 49
REGULAMENTAÇÃO DA OZONIOTERAPIA NO BRASIL
A regulamentação da ozonioterapia no Brasil é um tema complexo e em constante transformação, resultando em uma prática que não é uniformemente regulamentada em todo o país, levando a uma heterogeneidade nas abordagens adotadas. 49
Em 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu a Resolução nº 2181 de 20 de abril de 2018, representando um marco importante na regulamentação da ozonioterapia no país. De acordo com essa resolução, a ozonioterapia é permitida como um procedimento médico complementar, mas com importantes restrições. Ela só pode ser realizada por médicos e deve ser baseada em protocolos clínicos e científicos estabelecidos. Isso implica que a ozonioterapia é reconhecida como uma prática médica, porém sujeita a rigorosas regulamentações que buscam garantir sua segurança e eficácia. 50
Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desempenha um papel fundamental na regulamentação da ozonioterapia. A ANVISA é responsável por regulamentar a importação, produção e comercialização de equipamentos e substâncias utilizados na ozonioterapia. Isso significa que os equipamentos utilizados na prática devem ser devidamente registrados na ANVISA, garantindo que atendam aos padrões de qualidade e segurança estabelecidos. Além disso, a importação de substâncias controladas, como o ozônio medicinal, deve obedecer às regulamentações específicas da ANVISA.51
Vale destacar que, em alguns estados brasileiros, os conselhos regionais de fisioterapia e odontologia podem ter suas próprias regulamentações e diretrizes relacionadas à ozonioterapia. Isso se aplica principalmente às práticas de fisioterapeutas e dentistas, que podem estar sujeitos a regulamentações específicas em seus respectivos estados.
Em resumo, a ozonioterapia no Brasil é uma prática sujeita a regulamentações complexas e variáveis, com diferentes diretrizes emitidas por várias autoridades regulatórias, incluindo o CFM, a ANVISA e os conselhos regionais de profissões de saúde. É fundamental que profissionais de saúde e pacientes estejam cientes das regulamentações aplicáveis em sua região e sigam as orientações e protocolos estabelecidos para garantir a segurança e eficácia desse tratamento.51
Recentemente, a Lei nº 14.648, de 4 de agosto de 2023 foi aprovada, onde fica autorizada a realização da ozonioterapia como procedimento complementar, sendo necessárias a realização por um profissional da saúde de nível superior inscrito em seu conselho, a utilização de equipamentos regularizados pela ANVISA, e o profissional deve avisar o paciente de que esse procedimento é de uso complementar.51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ozonioterapia é uma modalidade terapêutica com potencial abrangente na medicina, incluindo a biomedicina estética, devido à sua capacidade de melhorar a circulação sanguínea, combater inflamações, fortalecer o sistema imunológico e tratar dores crônicas.
Seus benefícios sugerem um papel promissor no alívio sintomático e na qualidade de vida dos pacientes, através da otimização da oxigenação tecidual e redução da inflamação. Contudo, é imperativo enfatizar a importância da regulamentação rigorosa para garantir sua segurança, ressaltando a necessidade de profissionais qualificados e adesão às diretrizes estabelecidas por autoridades regulatórias. No contexto brasileiro, a evolução da regulamentação, incluindo a Lei nº 14.648 de 2023, reforça a necessidade de práticas responsáveis e equipamentos regulamentados pela ANVISA. A ozonioterapia representa uma promissora modalidade terapêutica, mas seu uso requer responsabilidade, atualizações regulatórias e pesquisa contínua para compreender plenamente seus benefícios e limitações na prática clínica.
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1Graduanda do Curso de Biomedicina do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas–FMU, Brasil
2Biomédica, Profa. Dra. do Curso de Biomedicina do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas–FMU, Brasil