BENEFÍCIOS DA EXECUÇÃO DE UMA OBRA SUSTENTÁVEL COMO ALTERNATIVA AOS MÉTODOS CONVENCIONAIS DA CONSTRUÇÃO CIVIL ESTUDO DE CASO: HUB – TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

BENEFITS OF EXECUTING A SUSTAINABLE WORK AS AN ALTERNATIVE TO CONVENTIONAL METHODS OF CIVIL CONSTRUCTION CASE STUDY: HUB – TECHNOLOGY AND INNOVATION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7594843


Roberta Karen Bastos dos Anjos1
Fernando de Farias Fernandes2
José Rodrigo Sevalho da Silva3


RESUMO

O estudo tratou da construção sustentável, que é um tema cada vez mais abordado no Brasil e no mundo. Com o intuito de apontar as principais vantagens de uma construção sustentável, e especialmente as vantagens econômicas, esse trabalho, por meio de revisões de literatura, fez análises dos selos de qualidade ambiental: Selo Casa Azul, Certificação LEED, Certificação AQUA e Selo Procel Edifica. Foi realizado um estudo de caso, com o mesmo intuito, no Hub – Tecnologia e Inovação que possui o Selo Procel Edifica. A partir das análises dos dados coletados é visível os benefícios de uma obra sustentável, mostrando que o Hub – Tecnologia e Inovação apresenta economia de energia em atendimento ao selo de sustentabilidade. Após a averiguação de todos os itens sustentáveis do Hub, propôs-se outras alternativas possíveis de sustentabilidade, como a possibilidade de reutilizar os resíduos de Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) para fabricação de tijolos. Com isso, é possível mostrar que a construção sustentável é viável e estimular sempre novas maneiras de cuidar do meio ambiente. 

Palavras-chave: Certificado; Construção Civil; Economia; Sustentabilidade.

ABSTRACT

The study dealt with sustainable construction, which is a topic increasingly discussed in Brazil and worldwide. In order to point out the main advantages of a sustainable construction, and especially the economic advantages, this work, through literature reviews, analyzed the environmental quality seals: Casa Azul Seal, LEED Certification, AQUA Certification and Procel Edifica Seal. A case study was carried out, with the same purpose, at Hub – Tecnologia e Inovação, which has the Procel Edifica Seal. From the analysis of the data collected, the benefits of sustainable construction are visible, showing that the Hub – Tecnologia e Inovação has energy savings in compliance with the sustainability seal. After checking all the sustainable items in the Hub, other possible sustainability alternatives were proposed, such as the possibility of reusing the waste from the Sewage Treatment Plant (ETE) to manufacture bricks. With this, it is possible to show that sustainable construction is viable and to always encourage new ways of taking care of the environment.

Keywords: Certificate; Construction; Economy; Sustainability.

1. INTRODUÇÃO

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), elaborou em 1987 o Relatório Brundtland, que é o arquivo intitulado Nosso Futuro Comum (Our Common Future). Esse relatório gerou o termo “Desenvolvimento Sustentável”, que remete à desempenhar as atividades sem comprometer as gerações futuras de cumprirem suas próprias atividades. (DINAMARCO et al., 2016).

O conceito da construção sustentável origina-se do conceito de Desenvolvimento Sustentável. (PEREIRA, 2009).

De acordo com Dinamarco et al. (2016), os temas ambientais estão sendo debatidos em todo o mundo, com isso, há a necessidade da arquitetura se adequar a esta questão. E assim sendo, diversos países criam sistemas para avaliação de construções sustentáveis.

Para Rodrigues et al. (2019), “a preservação ambiental é um tema cada vez mais discutido no mundo, atualmente já existem leis para regularizar ações que antigamente eram consideradas rotineiras”. Sendo a construção civil apontada como danosa devido ao significativo uso de recursos naturais e a poluição que gera, fez-se necessário adequar o setor da construção civil, criando novas técnicas e novas tecnologias construtivas com o intuito de aprimorar as obras para que sejam economicamente e ambientalmente viáveis. (RODRIGUES et al., 2019). 

Conforme Furukawa e Carvalho (2011), “os problemas ambientais originados pela atividade da construção civil vêm sendo bastante discutidos no Brasil, país que tem começado a incorporar técnicas construtivas e ecomateriais em seus empreendimentos.”

O Brasil, atualmente, destaca-se mais ao se tratar de construções sustentáveis. O sistema de avaliação mais utilizado, no Brasil, é a Certificação LEED, elaborado pela GBC (Green Building Council) nos Estados Unidos da América (EUA) e empregado, desde 2007, no Brasil. (SANTOS, 2019).

Além dos certificados criados nos demais países e adotados no Brasil – como a Certificação LEED e a Certificação AQUA – também foi criado no Brasil mais um sistema de certificação, o Selo Casa Azul da Caixa. (DINAMARCO et al., 2016).

No Amazonas, a Arena da Amazônia ganhou a certificação LEED, sigla em inglês de Liderança em Projetos de Energia e Meio Ambiente, no ano de 2014. (GOVERNO DO AMAZONAS, 2014).

Este artigo delimita-se ao estudo dos critérios de sustentabilidade para obras regulamentadas nos selos de qualidade: Casa azul da CAIXA; LEED; AQUA; Procel Edifica. Com o objetivo de apontar as principais vantagens de uma construção sustentável, com ênfase nas vantagens econômicas.

Igualmente o artigo trata do estudo de caso no HUB – Tecnologia e Inovação, que é um centro de desenvolvimento tecnológico da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), fica situado nas dependências da Escola Superior de Tecnologia (EST), na Av. Darcy Vargas, 1200 – Parque 10 de Novembro, Manaus – AM.

O projeto do prédio HUB foi elaborado – visando os conceitos de sustentabilidade eficiência energética – pela equipe de pesquisadores do próprio HUB e começou a ser construído em 2012, com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas e a Financiadora de Estudos e Projetos, em 2013, com a parte física pronta, foram realizadas as adequações elétricas, hidráulicas e acabamento final. A edificação dispõe de painel solar, sistema de uso de água da chuva, sistema de isolamento térmico, iluminação interna e externa em LED, e recebeu o selo de Eficiência Energética em 2016.

2. SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Segundo o Conselho Internacional da Construção – CIB (2014) “a indústria da construção como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis impactos ambientais.”

As obras não sustentáveis tem um alto consumo de recursos naturais para a produção de insumos para o canteiro de obras, passando por mudanças de solo, áreas de sol e vegetação, utilizam quantidade significativa de energia e tem um grande desperdício de água. Com isso, as construções não sustentáveis podem gerar o crescimento da poluição quando as obras são realizadas sem a devida consciência ambiental. Quando é construído um sistema de tratamento de esgoto de forma incorreta, por exemplo, ou o armazenamento inadequado de materiais pode poluir o solo, a água e o ar. Assim como pode ter impacto no aquecimento global, devido, por exemplo, a falta do replantio de árvores para minimizar os danos gerados durante uma obra. (MOBUSS CONSTRUÇÃO, 2018).

De acordo com Nazaro e Nogueira (2016), uma tecnologia sustentável que proporciona uso eficiente de recursos naturais e valoriza os resíduos é o biodigestor. Com o biodigestor surge o biogás gerado através do processamento anaeróbio dos resíduos sólidos orgânicos.

De acordo com o Green Building Council Brasil (GBC) (2020), “as edificações sustentáveis não só preservam o meio ambiente, mas também diminuem os custos da construção. Além disso, traz economia para o usuário final das edificações, a médio e longo prazo.”

Segundo Assis (2016), a sustentabilidade é uma oportunidade para as empresas elevarem os seus lucros, sendo a gestão sustentável uma estratégia de negócios.

As obras sustentáveis geram lucro, por isso é necessário desfazer-se da ideia de que a preservação ambiental é custosa e passar a ver como oportunidade de investimento. (PARKER BRAZIL TEAM, 2016).

Segundo a Revista GBC Brasil (2017), há muitas construções sustentáveis no Brasil com certificações ambientais, como o edifício Atrium Faria Lima – Fase 2, localizado na região de Pinheiros, em São Paulo, que conquistou a certificação LEED nível Silver em 2014 Commercial Interiors; e o Edifício Manchete, localizado no Rio de Janeiro, na praia do Flamengo, recebeu a certificação LEED nível Silver na categoria Core & Shell, garantindo ao edifício o status de Triple A.

Também houve certificação de vários estádios de futebol, no Brasil, dentre eles o Estádio Governador Magalhães Pinto, conhecido com Mineirão (Figura 2), em Belo Horizonte – Minas Gerais, de acordo com Rodrigues et al. (2019), foi reformado atendendo os requisitos da Certificação LEED, e com isso conquistou o nível mais elevado da certificação, o LEED Platinum.

Outros estádios que também já receberam a certificação LEED, são a Arena Castelão, em Fortaleza (LEED Certified), a Arena Fonte Nova, em Salvador (LEED Silver), a Arena Itaipava Pernambuco, em Recife (LEED Silver), e a Arena da Amazônia, em Manaus (LEED Certified).

Outra certificação recebida em Manaus foi o Shopping Manaus Via Norte que recebeu a certificação AQUA, provando alta qualidade ambiental do empreendimento, a certificação foi acatada através de auditorias independentes que avalia os benefícios para a qualidade de vida do usuário, economia de energia, economia de água, disposição de resíduos e manutenções. (ACRÍTICA, 2014).

De acordo com Meio Ambiente & Construção (2020), mesmo apresentando tantas qualidades, as certificações ambientais ainda são tão utilizadas na engenharia civil, isso ocorre em consequência a fatores como: ser relativamente novo no mercado; no caso da certificação internacional, pode não estar 100% adaptada para a realidade brasileira; e alguns materiais sustentáveis apresentarem custo mais alto.

É evidente que terá custos com os profissionais especializados em selos de qualidade ambiental, esse custo é relativo de empresa a empresa, uma vez que pode ser feito uma qualificação dos profissionais da própria, assim como contratação de novos profissionais especializados. Contudo, ter profissionais especializados mostra que a empresa está comprometida com o meio ambiente, podendo realizar uma construção sustentável de qualidade. (DESTINO NEGÓCIO, 2015).

Apesar de as leis não exigirem a obtenção das certificações e nem da sustentabilidade, de acordo com a lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), no artigo 3º diz que a PNMC e as ações que decorrem dela deverão observar os princípios da precaução, da prevenção, da participação cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades comuns e quanto às medidas a serem tomadas na execução, “todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a redução dos impactos decorrentes das interferências antrópicas sobre o sistema climático”. E o no artigo 5º da lei supracitada tem como diretriz da PNMC “os compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no Protocolo de Quioto e nos demais documentos sobre mudança do clima dos quais vier a ser signatário”

2.1 Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal

O Selo Casa Azul, criado em 2009 pela CAIXA, foi o primeiro sistema de classificação do índice de sustentabilidade de projetos habitacionais elaborado para a realidade das construções brasileiras (CAIXA, 2020).

O Selo Casa Azul foi criado com o intuito de reconhecer e incentivar a prática de soluções urbanísticas e arquitetônicas de qualidade, o uso racional dos recursos naturais na execução dos programas habitacionais operacionalizados pela própria CAIXA, além disso busca promover a conscientização de empreendedores e moradores sobre os benefícios sociais e econômicos das construções sustentáveis, considerando a redução do custo de manutenção dos edifícios e das despesas mensais de seus usuários. (CAIXA, 2020).

2.2 Certificação AQUA-HQE | Alta Qualidade Ambiental

A certificação de construção sustentável AQUA-HQE surgiu a partir da certificação internacional francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environnementale), criada em 1974, na França. (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2016).

A certificação de sustentabilidade Processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental) foi lançada pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini – criada em 1967 pelo Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) –, em 2008, trazendo uma proposta de mudança na cultura da construção civil brasileira. (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2016).

2.3 Certificação LEED | Leadership In Energy And Environmental Design

“O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é uma ferramenta de Certificação que busca incentivar e acelerar a adoção de práticas de construção sustentável.” (GBC BRASIL, 2020).

Criada no ano 1993 pelo USGBC (Conselho de Green Building dos Estados Unidos), nos Estados Unidos da América, chegou ao Brasil no final de 2006. (ARQOK, 2020).

2.4 Procel Edifica

O Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (Procel Edifica), criado em 2003, avalia, em edifícios comerciais, a envoltória – a parte física da edificação –, o sistema de iluminação – de acordo com as atividades exercidas na edificação – e o sistema de condicionamento de ar. E para edifícios residenciais, o Procel Edifica avalia a envoltória e o sistema de aquecimento de água. (OLIVEIRA, 2014).

2.5 Metodologia

A metodologia utilizou revisões de literatura sobre sustentabilidade na construção civil e os selos de qualidades: Casa azul da CAIXA; LEED; AQUA; Procel Edifica. A pesquisa se obteve por meio dos sites de organizações responsáveis pelos selos de qualidades e por artigos obtidos pela plataforma Google Acadêmico.

Com os textos verificou-se cada um dos critérios de cada selo de qualidade, para se obter os ganhos que se conquista ao empregar um critério de um determinado selo. 

Para a coleta de dados os recursos utilizados foram as plantas, memoriais descritivos, planilhas orçamentárias e projetos complementares existentes do HUB – Tecnologia e Inovação (projeto elétrico, projeto hidráulico, propostas de serviços, e documentos para obter o selo Procel Edifica). Realizou-se visita ao HUB, onde foram feitos registros fotográficos, e entrevista com o atual responsável administrativo do HUB. De mesmo modo, conversou-se com os responsáveis durante o período de projeto e construção do HUB.

Ao analisar os orçamentos do HUB, buscou-se encontrar o valor de cada elemento sustentável. Em seguida, verificou-se os ganhos de cada item ao longo de um mês – utilizando as especificações dos fabricantes.

Além disso, fez-se várias propostas com a possibilidade de se investir em mais dois recursos sustentáveis: a utilização de resíduos da ETE para fabricação de tijolos; um biodigestor para cozinha do HUB. Para isso, verificou-se os elementos necessários de cada um dos elementos com a intenção de averiguar se o HUB teria a condição de aplicar esses recursos.

A seguir, tem-se o Fluxograma 1 para ilustrar as etapas supracitadas.

Fluxograma 1 – Etapas do projeto

Fonte: Autor, 2021.

3. RESULTADOS

3.1 Verificação dos selos de sustentabilidade: Casa Azul; LEED; AQUA; Procel Edifica

Com os resultados apresentados nos estudos realizados, é possível elaborar os dois quadros (Quadro 1 e Quadro 2). 

O selo da Casa Azul possui 49 critérios de avaliação, sendo que alguns geram benefícios econômicos, outros ambientais e outros melhoram a qualidade de vida, alguns ainda tem o objetivo de gerar mais de 1 benefício. No Quadro 1 tem-se a quantidade de critérios que visam meio ambiente, economia e qualidade de vida para os selos Casa Azul, LEED e AQUA.

Quadro 1 – Quantidade de critérios que visam um benefício

SeloMeio AmbienteEconomiaQualidade de vidaTotal de Critérios
Casa Azul30192649
LEED5437
AQUA73714

Fonte: Autor, 2021.

Tendo em vista que em cada um dos 3 pilares há diversas vantagens e desvantagens, identificou-se sucintamente os principais dos selos Casa Azul, LEED, AQUA e Procel Edifica no Quadro 2.

Quadro 2 – Principais vantagens e desvantagens dos selos

SeloVantagens AmbientaisVantagens SociaisVantagens FinanceirasDesvantagens
Casa AzulMinimização do impacto no ambiente;Redução de uso de matéria-prima.Geração de renda para a comunidade local;Capacitação de profissionais e moradores;Qualidade de vida.Redução do consumo de energia;Redução do consumo de água.Só pode ser considerado para empreendimentos habitacionais.
LEEDBaixo impacto ambiental: utilizando materiais reciclados, ou de reuso, ou recicláveis (gerando pouco resíduos).Maior qualidade de vida.Economia de água potável;Economia de energia.Ainda pouco adaptado ao Brasil: Como o sistema de pontuação.
AQUAMenor impacto ambiental.Melhores condições de saúde e conforto.Economia no consumo de água e energia elétrica;Manter o valor de patrimônio ao longo do tempo.Ainda é relativamente novo no mercado.
Procel EdificaReduzir impactos causados ao meio ambiente (reduzindo o consumo de energia).Estimular pesquisas sobre o conceito de eficiência energética e a aplicação desses conceitos em todos os tipos de edifícios.Ganhos econômicos no consumo de energia.Necessita investimento financeiro inicial.

Fonte: Autor, 2021.

3.2 Estudo de Caso: HUB – Tecnologia e Inovação

3.2.1 Visita ao HUB

No mês de dezembro de 2020 foi realizado visita ao Hub, sendo recebida pelo professor Roberto Higino, que prestou os seguintes esclarecimentos referentes ao selo de eficiência energética: que as luzes de todo o prédio são de LED, seguindo conforme o selo; os condicionadores de ar são inverter novamente com o intuito de estar de acordo com o selo; que as janelas foram projetadas para aproveitar a luz natural; existe o sistema de captação de água da chuva; e um sistema de placas fotovoltaicas.

O professor Roberto Higino também prestou esclarecimentos da situação atual do selo de eficiência energética da Procel: que não há manutenção do selo; não houve renovação, logo não possuem mais o selo vigente; o prédio já apresenta inconformidades:

  1. Uma das salas encontrasse com uso de condicionador de ar não inverter;
  2. Uma das salas possui persiana na janela.

Para o professor Roberto Higino não “compensa” pois não obtiveram vantagens que ele desejava: diferencial e visibilidade. Todavia ele reconhece que com o selo há um ganho ambiental.

Depois das tratativas iniciais, em companhia do professor Roberto Higino, fez-se uma vistoria, onde constatou-se que:

A estrutura das janelas foi executada para captar a luz solar e evitar o aquecimento do mesmo (Figura 1.a e 1.b).

Figura 1.a e 1.b – Janelas do Hub

Fonte: Autor, 2020.

Há detectores de presença nos corredores. Como uma forma de economizar energia, uma vez que as lâmpadas são apagadas automaticamente quando não há pessoas utilizando os corredores (Figura 2).

Figura 2 – Detector de presença

Fonte: Autor, 2020.

As salas possuem condicionadores de ar inverter (com exceção de uma) (Figura 3).

Figura 3 – Condicionador de ar inverter

Fonte: Autor, 2020.

Na Figura 4 mostra uma das lâmpadas. São utilizadas lâmpadas LED, que economizam energia.

Figura 4 – Lâmpada LED

Fonte: Autor, 2020.

A água captada com o sistema de captação de água de chuva é armazenada na cisterna indicada na imagem ao lado (Figura 5).

Figura 5 – Cisterna do Hub

Fonte: Autor, 2020.

3.2.2 Análise dos projetos do Hub

A análise foi realizada a partir da verificação das plantas, dos memoriais descritivos e algumas planilhas orçamentárias do Hub, que foram fornecidas pela equipe do HUB.

Na Tabela 1 tem-se o quantitativo de luminárias e ar condicionados dispostos no Hub.

Tabela 1 – Quantidades de luminárias e ar condicionados

Quantidade no Hub
Luminária LED137
Inverter 9.000 BTU/h04
Inverter 12.000 BTU/h02
Inverter 18.000 BTU/h03
Inverter 22.000 BTU/h21

Fonte: Autor, 2021.

É mostrado na planta de locação (Figura 6 e 7) o sistema de captação de água de chuva do Hub. 

Figura 6 – Planta de locação 

Fonte: CTDI, 2014.

Figura 7 – Detalhe A 

Fonte: CTDI, 2014.

Na Figura 8 é mostrado a vista de satélite das placas fotovoltaicas do Hub. A planta desse sistema de placas fotovoltaicas é representada na Figura 9. 

Figura 8 – Sistema de Placas fotovoltaicas

Fonte: Google Maps, 2021.

Figura 9 – Sistema de Placas fotovoltaicas

Fonte: CTDI, 2014.

A Figura 10 mostra a planta de corte com os detalhes da cobertura (fachada lateral e fachada frontal, respectivamente).

Figura 10 – Planta de Corte Cobertura

Fonte: CTDI, 2014.

Na Figura 11, tem-se a planta de corte da fachada frontal do HUB-Tecnologia e Inovação, com detalhes arquitetônicos.

Figura 11 – Planta de Corte Fachada Frontal

Fonte: CTDI, 2014.

Após a análise nos projetos, foi possível apurar que:

O maior custo relacionado a sustentabilidade foi o serviço de instalação elétrica em baixa tensão do sistema fotovoltaico, sendo em torno de 14,14% do gasto total da obra;

Com relação a todos os gastos, houve um pequeno gasto a mais no material permanente condicionador de ar Split, devido o mesmo ter a tecnologia INVERTER com selo A de eficiência energética PROCEL. No total foram comprados e instalados 30 (trinta) condicionadores de ar Split;

O custo para a obtenção do selo de eficiência energética foi de aproximadamente 5,6% em relação ao custo da obra;

A obra com todos os seus aspectos sustentáveis – incluindo a obtenção do selo da PROCEL – gerou um custo de cerca de 24,6% a mais do que uma construção base (sem nenhum aspecto sustentável).

As 137 luminárias do tipo LED que o Hub dispõe, são indicadas na Figura 12.

Figura 12 – Localização das Luminárias

Fonte: CTDI, 2014.

3.2.3 Custo-benefício

A economia com a utilização das luminárias do tipo LED, inicia-se com o fato da vida útil de uma lâmpada de LED ser cerca de três vezes maior que a de uma lâmpada fluorescente. Tem-se no Quadro 3 a seguir o preço das luminárias considerando a troca das luminárias.

Quadro 3 – Economia da LED quanto a durabilidade

Tipo de lumináriaCusto unitárioQuantidade de luminária no HubCusto Total
LED140,00 (1 x 140)13719.180,00
Fluorescente177,00 (3 x 59)13724.249,00

Fonte: Autor, 2021.

Ponderando apenas o aspecto da durabilidade, há uma economia de 20,9% em relação a vida útil comparando a luminária fluorescente. Entretanto, a luminária LED também tem economia mensal, visto que possui um menor consumo de energia, que é detalhada no Quadro 4.

Quadro 4 – Economia mensal da LED devido o consumo de energia

Tipo de lumináriaConsumo de energia (kW/h p/ mês)Preço da energia (reais p/ kW/h)Custo unitário mensalQuantidade de luminárias no HubCusto Mensal Total
LED 8,41,002178,421371.153,30
Fluorescente 16,01,0021716,031372.196,76

Fonte: Autor, 2021.

Verificando o custo do consumo das luminárias de LED nota-se que existe uma economia de aproximadamente 47% comparando com luminárias do tipo fluorescente. Com isso, levando em consideração os dois aspectos, tem-se uma economia anual em torno de 34%. 

A durabilidade e o consumo de energia (kW/h por mês) utilizados são dados do fabricante. A Figura 13 mostra uma tabela com a equivalência da lâmpada LED com outros modelos de lâmpadas.

Figura 13 – Equivalência lâmpadas LED

Fonte: Boreal LED, 2018.

Do mesmo modo, tem-se a tecnologia do ar condicionado Inverter que possibilita que o compressor não desligue totalmente e com isso evita as oscilações de energia causadas pelo ligar e desligar automático do aparelho, onde é necessário mais força para funcionar, gerando picos de energia.

No Quadro 5 é apresentado o custo mensal dos ar condicionados com a tecnologia inverter e dos ar condicionados comuns. O consumo de energia do aparelho (kW/h por mês) aplicado corresponde ao fornecido pelos catálogos dos fabricantes. Utilizou-se também, para encontrar o custo, o auxílio de uma calculadora de consumo de ar condicionado disponível em uma aplicação web (https://www.webarcondicionado.com.br/como-calcular-o-consumo-do-ar-condicionado).

Quadro 5 – Custo mensal ar condicionado inverter versus ar condicionado comum.

Tipo de ar condicionadoConsumo de energia do aparelho (kW/h p/ mês)Preço da energia (reais p/ kW/h)Custo unitário mensalQuantidade de ar condicionados no HubCusto Mensal Total
Inverter 9.000 BTU/h17,01,00217113,5804454,32
Inverter 12.000 BTU/h22,51,00217150,3302300,66
Inverter 18.000 BTU/h33,91,00217226,5003679,50
Inverter 22.000 BTU/h42,21,00217281,95215.920,95
Total7.355,43
Comum 9.000 BTU/h20,21,00217134,9604539,84
Comum 12.000 BTU/h23,11,00217154,3402308,68
Comum 18.000 BTU/h34,01,00217227,1603681,48
Comum 22.000 BTU/h45,01,00217300,66216.313,86
Total7.843,86

Fonte: Autor, 2021.

Comparando o consumo de energia do ar condicionado invertido com um ar condicionado convencional verificou-se uma economia de cerca de 6,3%.

3.2.4 Proposta de Sustentabilidade

3.2.4.1 Utilização dos resíduos de ETE para fabricação de tijolos

As ETE’s geram resíduos, que são ricos em matéria orgânica e que podem ser utilizados como material para construção de tijolos.

O Hub possui uma Estação de tratamento de esgotos domésticos por reator anaeróbio de fluxo ascendente e filtro biológico aerado percolador, com sistema para reuso. Com capacidade de 2.500 litros/dia. Para DBO máxima de entrada de 400 mg/L, e eficiência de remoção de DBO acima de 85%. Todavia ainda não utiliza os resíduos gerados pela Estação. A Figura 14 apresenta a ETE do HUB.

Figura 14 – ETE do Hub

Fonte: Autor, 2020.

Para utilizar os resíduos gerados por essa ETE é necessário cuidado visto que é um resíduo de alta periculosidade devido a inúmeros organismos patogênicos. Com o material coletado, deve-se realizar, com diferentes porcentagem de resíduos nos corpos-de-prova, ensaios de massa específica (g/cm³), absorção (%), retração de secagem (%), retração de queima (%) e resistência à compressão (MPa). Propõe-se usar incorporação de 5%, 10%, 15% e 20% de resíduo da ETE, para verificar qual a proporção a ser utilizada.

3.2.4.2 Biodigestor para cozinha do HUB

O Hub possui uma cozinha pequena, onde existe a possibilidade de implementar um biodigestor igualmente de pequeno porte, para transformar os resíduos orgânicos gerados na cozinha em biogás e fertilizante. Na Figura 15 é mostrada a vista parcial da cozinha, e pode-se notar que realmente é uma cozinha pequena, além disso o uso dela é pouco e dispõe apenas de cooktop.

Figura 15 – Vista parcial da cozinha do Hub

Fonte: Okimoto, 2020.

Um biodigestor doméstico custa atualmente, em média, R$ 2.000,00. Ademais, por ser de pequeno porte existe também a viabilidade de se construir um biodigestor caseiro. Contudo, para garantir a segurança é recomendado a compra. (Figura 16). 

Figura 16 – Biodigestor

Fonte: Portal Ecoeficientes, 2019.

Logo, na cozinha do Hub haveria uma pequena quantidade de resíduos orgânicos para entrada no biodigestor, todavia a necessidade da energia do biogás também é baixa.

4. CONCLUSÕES

Após a finalização do artigo é possível constatar que cada critério das certificações tem sua importância e traz um benefício, seja benefício econômico, benefício ambiental ou benefício social. Alguns critérios têm relevância maior, visto que possuem mais de um benefício.

Em relação às vantagens financeiras, todos apresentam alguma vantagem seja ela na construção da obra – como o Selo Casa Azul da caixa econômica, que para exemplificar tem-se a economia de água – ou também a médio prazo – como o Selo Procel Edifica, que tem economia nas contas de luz.

No aspecto ambiental, seguindo os critérios do selo, se utilizará menos água dos rios; gastará menos diesel das termoelétricas.

Este Estudo de Caso propôs analisar o custo benefício de uma obra com o selo de qualidade, com o intuito de mostrar as vantagens existentes no HUB – Tecnologia e Inovação, ao se optar por uma obra sustentável. Posteriormente, com a realização do estudo e com as devidas análises feitas pode-se observar que, embora haja um custo inicial para a execução dos elementos sustentáveis, este custo pode ser restituído em virtude da economia obtida em curto à médio prazo. A redução do consumo de energia é um dos objetivos do selo Procel, no Hub houve uma redução de mais de 16% ao ano atendendo os critérios do selo.

Igualmente, em atendimento ao selo Procel Edifica, o HUB, junto a Universidade do Estado do Amazonas, possui uma pesquisa de eficiência energética realizada nos laboratórios do HUB. Os Estudos de monitoramento da água e da estação de tratamento de esgoto, são estudos do HUB que devem ser acompanhados futuramente.

O projeto do HUB – Tecnologia e Inovação é um modelo de projeto a ser seguido na região amazônica e em dois aspectos – sistema de iluminação e sistema de condicionamentos de ar – pode ser seguido como modelo no nordeste e em qualquer região do Brasil, se tratando da envoltória, deve-se realizar um pequeno estudo de campo para verificar sua viabilidade, uma vez que o tipo climático – temperatura, umidade e pressão atmosférica – são diferentes em cada região.

5. REFERÊNCIAS

ARQOK. O primeiro selo: LEED – A história. Disponível em: https://arqok.wordpress.com/2012/09/28/o-primeiro-selo-leed/. Acesso em: 20 de out de 2020.

ASSIS, Deisy de. Sustentabilidade gera lucro e negócios competitivos. Disponível em: https://www.fecomercio.com.br/noticia/sustentabilidade-gera-lucro-e-negocios-competitivos. Acesso em: 21 de out de 2020.

CAIXA. Guia Selo Casa Azul +CAIXA, 2020. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/Downloads/selo_casa_azul/Guia_Selo_Casa_Azul_CAIXA_Junho_2020.pdf. Acesso em: 20 de ago de 2020.

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