REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10901430
Mylena Ramos Gonçalves1
Jennyfer Morato Alves2
Cecilia Pereira da Silva3
Maria Eduarda Bastos Alves dos Santo4
Maria Jucelia Santana Teixeira5
Francisco Wilson de Lemos Dantas Júnior6
Judivan Alencar de Oliveira Júnior7
Vítor Dantas Gonçalves8
Hemilly Raquel Araújo de Sousa9
Andressa de Sousa Almeida10
Alice Paulino Dantas11
Camila de Araújo Amaro12
Rejane Pereira Vieira13
Josefa Taynara Gomes dos Santos14
Samara Bezerra Souza15
Orientador(a): Renata Lívia Silva Fonseca Moreira de Medeiros16
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo identificar os benefícios a longo prazo da vacinação contra a dengue e seu impacto nas taxas de hospitalização e morbidade. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com viés qualitativo. A pesquisa foi realizada de acordo com os estudos mais relevantes para a temática. Como resultado da pesquisa, foi possível comprovar os benefícios a longo prazo da vacinação contra a dengue. A vacina é extremamente importante para a proteção contra a doença e mostrou-se bastante eficaz, reduzindo em até 95% as taxas de hospitalização e 80% as taxas de morbidade. A revisão da literatura identificou evidências de que a vacina traz benefícios a longo prazo, no que se refere à diminuição da hospitalização e morbidade.
Palavras-chave: Vacinas, Dengue, Prevenção de doenças.
INTRODUÇÃO
A Dengue é uma arbovirose emergente, causada pelo vírus do gênero Flavivirus, transmitida pela picada do mosquito do gênero Aedes. No Brasil, existem quatro tipos de vírus: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A infecção pode manifestar-se de forma leve a grave, incluindo quadros clínicos com sintomas hemorrágicos.
A distribuição de Aedes aegypti aumentou recentemente devido a mudanças globais e pode ser mais prevalente em regiões temperadas como a Europa devido à presença de condições adequadas para o estabelecimento. As estratégias para controlar efetivamente dependem essencialmente da gestão ambiental, da participação da comunidade e do uso de larvicida e pulverização espacial — em caso de surtos 9
Classificada como Desastre Natural Biológico, dados de OPAS/OMS, a Dengue tem potencial para produzir surtos pelo seu caráter sazonal, com grande impacto na rede de atenção à saúde pública. Leva a perdas materiais, econômicas e danos ambientais, além do risco à saúde humana. Serviços de saúde, já sobrecarregados, reduzem sua capacidade de resposta pela necessidade de atendimento emergencial.
No Brasil, houve um aumento de 162,5% no número de casos prováveis em 2022 em relação ao mesmo período analisado em 2021. Regionalmente, o Centro-oeste apresentou a maior taxa de incidência, com 2.086,9 casos/ 100 mil habitantes, seguida pelas regiões sul e sudeste (1.050,5 e 536,6/casos/100 mil habitantes, respectivamente),12. A OMS atualizou os dados de ocorrência da doença até junho de 2023, e informou 2.162.214 casos e 974 óbitos por dengue no mundo. Dentre os países com maior número de casos por 100 mil habitantes, o Brasil com 1.515.460 se manteve na liderança, seguido pela Bolívia (126.182), Peru (115.949) e Argentina (99.456)12.
O controle de vetores desempenha o papel principal na redução da carga da doença, especialmente na ausência de uma vacina eficaz contra a dengue. A supressão de densidades de vetores é comumente tentada por meio de várias metodologias, como uso de inseticidas, redução de fontes e implementação de novos regulamentos para eliminação de vetores. Embora o público seja instado a destruir ou remover todos os possíveis criadouros internos e externos do Aedes, nem sempre foi eficaz devido à inadequação de recursos e ao fraco apoio comunitário 6,12
O uso de inseticidas surgiu como uma abordagem predominante e eficiente no controle de populações de vetores Aedes, particularmente durante surtos de doenças. Entre os inseticidas recomendados pela OMS, os piretróides com baixa toxicidade de mamíferos e maior eficácia são amplamente utilizados em programas de controle de vetores. Por mais de duas décadas, o Sri Lanka tem usado piretróides como adulticidas e temefos (organofosfato) como larvicida para o controle do mosquito Aedes 19
A aplicação constante e o uso indiscriminado levaram ao surgimento de resistência a inseticidas em populações de Aedes. Vários estudos relataram alta incidência de resistência a inseticidas neuroinibitórios em vetores de dengue do Sri Lanka. Além disso, a aplicação de temephos como larvicida é especialmente preocupante devido ao seu efeito tóxico na vida aquática não-alvo ¹.
Além disso, a pesquisa mostrou que a diversificação de métodos de controle, como a incorporação de agentes de controle biológico ou reguladores de crescimento de insetos, pode fornecer soluções sustentáveis e de longo prazo para gerenciar populações de vetores de dengue, reduzindo a dependência de inseticidas neuroinibitórios. Portanto, os programas de controle de vetores de dengue estão procurando alternativas eficazes para minimizar o uso de inseticidas neuroinibitórios 11
Além disso, para obter maior controle da dengue, já que sua eliminação total é praticamente impossível, é necessário um trabalho coletivo envolvendo as ações que o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS) oferecem, que os agentes da vigilância sanitária continuem realizando as fiscalizações nas casas, terrenos e locais idôneos.
O objetivo deste estudo é descrever os benefícios a longo prazo da vacinação contra a Dengue e seu impacto nas taxas de hospitalização e morbidade.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com viés qualitativo que analisou a compilação de estudos anteriores sobre a vacinação contra a dengue e seus efeitos a longo prazo. O referido estudo possui como pergunta norteadora “Qual é o impacto da vacinação contra a dengue nas taxas de hospitalização e morbidade a longo prazo?”.
A pesquisa foi realizada mediante os descritores: (Vacinas) AND (Dengue) AND (Hospitalização), intermediado pelo operador AND. Utilizados estudos em inglês e português, e, através dos bancos de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), SCIELO E SCOPUS.
Foram selecionados estudos publicados no período de 2019 a 2024 que exploram o tema de “Benefícios a Longo Prazo da Vacinação contra a Dengue: Impacto nas Taxas de Hospitalização e Morbidade”. Esta seleção contribui para o avanço da literatura científica sobre o assunto tratado no título mencionado.
Foram incluídos textos completos e artigos abertos ao acesso, publicados em português e inglês. Entre os artigos disponíveis, foram selecionados aqueles que trazem uma abordagem qualitativa e comparativa relacionadas com os resultados de longo prazo da introdução da vacinação contra a dengue e a implicação direta e/ou indireta na demanda hospitalar e morbidade mediante indicadores de saúde como mortalidade, letalidade, incidência e prevalência.
Foram excluídos estudos como estudos de tese e monografias, sem relevância temporal, projetos em andamento, estudos com conflitos de interesse, estudos não relacionados e estudos que não agregam significativamente ao conhecimento científico. Assim como estudos que não estavam em inglês ou português, conforme citado anteriormente.
Foram selecionados estudos de revisão sistemática, meta-análise, revisão integrativa, estudos qualitativos e pesquisas científicas que estavam conforme os critérios de inclusão. Os resultados extraídos das bases de dados mencionadas foram consolidados e expostos na seção de resultados e discussões. Foi realizada uma análise qualitativa e sistemática dos dados provenientes dos artigos selecionados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dados apresentados pelo Painel de Monitoramento das Arboviroses,5 constata-se o aumento significativo dos casos de Dengue no início de 2024, contabilizando 512.353 casos suspeitos, 75 óbitos confirmados e 340 óbitos em investigação. As regiões que se destacam com maior número de casos prováveis são: região Sudeste com atualmente 308.842 casos, a região Centro-Oeste com 102.910 casos e a região Sul com 73.685 casos. Ambas apresentam como público predominante, pessoas pardas, sexo feminino, com faixa etária de 30 a 39 anos.
Os altos números de casos refletem negativamente nos níveis de hospitalização, ocasionando a soma de 10.405 internações atualmente, o que gera preocupações pelos especialistas diante da possibilidade de no Brasil haver uma nova epidemia de dengue em 2024 18. Mediante isso, o Ministério da Saúde adotou como medida a implantação da vacina Qdenga®, desenvolvida pelo laboratório Takeda e aprovada pela ANVISA por meio da resolução RE 661/23. Segundo o Dossiê da Takeda, o imunizante produzido com vírus atenuado, protege contra quatro sorotipos diferentes da dengue, sendo composto apenas pelo sorotipo 2 do vírus (DENV-2). A tecnologia utilizada é o DNA recombinante. Nesse caso, os sorotipos 1, 3 e 4 são usados para modificar geneticamente o sorotipo 2 para que a vacina proteja contra todos os sorotipos.
De acordo com Dossiê da Takeda,5, a eficácia da vacinação foi maior na prevenção de hospitalização por DCV (95,4%; IC 95%: 88,4 – 98,2%), sem diferença significativa entre pacientes soronegativos e soropositivos prévios (94,4% e 97,2%). Aos 18 meses, a eficácia global da vacina contra a hospitalização permaneceu acima de 90%, sem diferença significativa entre pacientes previamente soropositivos e soronegativos (91,4% e 88,1%, respectivamente). Dados cumulativos de acompanhamento de longo prazo (54 meses após a segunda dose da vacina) sugerem alguma redução na proteção contra DCV até o mês 36, quando a eficácia da vacina se estabiliza acima de 60% contra DCV (61,2%; IC 95%: 56,0 – 65,8% por mês 54).
Tendo em conta a existência de necessidades infinitas de recursos limitados, a Takeda propõe a vacinação de rotina em dois grupos diferentes, aos 4 anos e aos 55 anos, visando prevenção a longo prazo e redução da carga de doenças na infância, bem como redução de internações e óbitos nas faixas etárias mais altas, conforme bula aprovada pela ANVISA. Este cenário também demonstrou uma redução de 27-37% nas infecções dependendo da gravidade da doença e provou ser custo-efetivo do ponto de vista do pagador (ICER de R$ 22.700/AVAQ ganho) e dominante do ponto de vista da empresa 9.
Esclarecem que o nível de proteção proporcionado pela imunidade cruzada é restrito e passageiro. Como resultado, os indivíduos que já contraíram a doença correm um risco aumentado de sofrer uma manifestação mais grave da doença se forem infectados com sorotipos diferentes. A pesquisa de Patel et al. (2023) revela que das crianças diagnosticadas com DENV, surpreendentes 81% sofreram uma infecção secundária e, destas, 53% desenvolveram febre hemorrágica. É precisamente por isso que há um esforço concentrado para desenvolver vacinas que tenham como alvo todos os quatro sorotipos, a fim de provocar respostas imunitárias mais potentes e eficientes. 7
Hoje em dia, há duas vacinas vivas atenuadas tetravalentes disponíveis para os quatro sorotipos do vírus da dengue: Dengvaxia® e Qdenga®. A primeira derivou da vacina contra a febre-amarela sendo introduzida no mercado em 2015. No mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) concedeu o registro de aprovação para a vacina no Brasil. Posteriormente, em 2018, a ANVISA recomendou evitar a vacinação em pessoas sem exposição anterior ao vírus. Ser soronegativo para a doença poderia aumentar o risco de hospitalização em 0,5% e de dengue grave em 0,2% em comparação com aqueles que já foram infectados 2-7
Por sua vez, a vacina Qdenga® revelou uma eficácia de 80% na redução da gravidade da doença e uma eficácia notável de 95% na prevenção da hospitalização entre indivíduos com teste positivo para a doença. Sua eficácia variou conforme o sorotipo, atingindo uma taxa elevada de 98% contra DENV2 e uma taxa levemente inferior de 63% contra DENV3. Adicionalmente, a vacina demonstrou eficácia de 59% na prevenção da infecção, com uma variação de 43-82% dependendo do sorotipo específico, e uma eficácia de 49% contra DENV4. Além disso, exibiu uma notável eficácia de 84% na prevenção da hospitalização ².
Quanto aos efeitos colaterais da vacina Dengvaxia® são geralmente leves a moderados. As reações locais, como dor, vermelhidão e inchaço, geralmente desaparecem três dias após a vacinação. Por outro lado, as reações sistêmicas, incluindo febre, dor de cabeça e dores musculares, podem se manifestar em um período de 14 dias 7.
O fato de a introdução de uma vacina contra a dengue ser rentável num país com um elevado nível de endemicidade reforçou os resultados de vários estudos anteriores que se concentraram especificamente em países endêmicos. Vários fatores tendem a tornar a vacinação contra a dengue particularmente favorável num país endêmico, tais como a elevada incidência da dengue, o elevado impacto da vacinação e o elevado custo por caso.
Como o Brasil é um país com alto índice de dengue, as taxas de soro prevalência tendem a ser altas, o que pode levar a um alto impacto da vacinação. Os elevados custos dos casos estão associados a um elevado PIB per capita, uma vez que os custos do tratamento são aproximadamente proporcionais ao PIB. A fim de otimizar a relação custo-eficácia da vacinação contra a dengue, estes três fatores devem ser considerados antes de introduzir a vacinação nacionalmente no futuro17.
Até chegar aos cidadãos, os imunobiológicos passam por um rigoroso processo de produção, começando com estudos e pesquisas, passando por inúmeros testes até ser validada e disponibilizada nos postos de saúde16. No combate a epidemias a vacinação apresenta-se como o método com melhor custo benefício, apresentando diminuição com gastos relacionados à hospitalização, além da prevenção de doenças infecciosas auxiliando na diminuição de morbidade e mortalidade ³.
No entanto, desde a criação das primeiras vacinas existiram muitos obstáculos a respeito de sua aceitação 6, podendo ser relacionados a fatores culturais e sociais entrelaçados ao medo, a falta de informação e circulação de falsas notícias, gerando pensamentos negacionistas e descrentes a respeito da eficácia da mesma4. Um exemplo do reflexo desses pensamentos pode ser visto na pandemia do Covid-19, na qual muitas pessoas rejeitaram a imunização, contribuindo para o surgimento de novas ondas de infecções, resultando no colapso do sistema de saúde 6.
Acontecimentos como este ainda tendem a perdurar, principalmente quando relacionados a vacinas recém-produzidas, como no caso o imunizante Qdenga®, que protege contra os 4 tipos de vírus da dengue. O novo imunizante incorporado no Programa Nacional de Imunização do SUS está gerando receio na população devido às dificuldades apresentadas no seu modo de distribuição e número de doses oferecidas, que no momento se encontram limitadas apenas a faixas etárias distintas 9.
O sucesso da vacinação depende não só do cumprimento da vacinação, mas também das condições adequadas de armazenamento, preparação e administração destas vacinas. Neste contexto, os enfermeiros tornam-se atores-chave nos cuidados de saúde, assumindo a responsabilidade pelos cuidados de enfermagem, orientando os serviços para alcançar os resultados esperados e influenciando a qualidade dos cuidados prestados 10.
O apoio dos enfermeiros do setor da saúde na gestão do imunobiológico é importante para garantir a eficácia da vacinação, prevenir doenças infecciosas e promover a saúde humana. Os enfermeiros responsáveis pela tecnologia têm papel importante nesse trabalho e devem ser capacitados e atualizados sobre normas e procedimentos relacionados à vacinação 4,10,9.
Devido à carga de trabalho dos enfermeiros nas instalações médicas, os especialistas têm dificuldade em gerir e supervisionar as salas de vacinação. Outro obstáculo na supervisão de enfermagem é a falta de recursos materiais e humanos, levando a atrasos na prestação do serviço. Portanto, pode-se concluir que a enfermagem é um fator importante na prevenção de erros no uso de imunobiológicos e que a formação contínua da equipe de enfermagem e a revisão contínua dos procedimentos são ferramentas importantes para garantir segurança e eficiência 4,3.
Principalmente, a enfermagem reconhece as informações de vacinação do usuário. Reconhecem a importância dos processos educativos, embora não consigam realizá-los eficazmente devido às dificuldades no manejo e no cuidado cotidiano 13.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo dá ênfase para a importância que a vacina desempenha na prevenção contra a dengue. Com base nos resultados, pode-se concluir que a vacinação contra a dengue teve maior impacto na prevenção de hospitalização por DCV. Ademais, foi comprovada a eficácia a longo prazo, reduzindo de forma considerável em até 95% as taxas de hospitalização. Foi evidenciado, também, que a vacina Qdenga® apresentou 80% de redução da gravidade da doença. Além disso, a vacinação trará benefícios econômicos, visto que com a redução da hospitalização e morbidade ocorrerá consequentemente a diminuição de gastos com hospitalização.
Embora tenha sido comprovado os benefícios da vacinação, atualmente ainda existem tabus relacionados à vacina. Para que este quadro se reverta, é importante ocorrer uma educação da população em relação à vacinação, a fim de desmistificar o negacionismo que ainda perdura no corpo social. Além de destacar a importância do papel da enfermagem nessa aplicabilidade e desafios da vacinação contra a dengue, sendo necessário mais estudos que abordem todo o impacto dessa vacinação e suas próximas atualizações.
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2 Email: jennyfermoratobs@hotmail.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/7362699854696499
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11 Email: alicedantas1051@gmail.com Lattes: https://lattes.cnpq.br/5336034288000015
12 E-mail: camilaamarobeatriz@outlook.com
ORCID : https://orcid.org/0009-0008-4532-4232
13 E-mail: rejanevieira239@gmail.com
14 e-mail:tainaralira1234@gmail.com
15 E-mail:samarabezerra2015@hotmail.com }
Lattes: https://lattes.cnpq.br/4867346262114051
16 Orcid:https://orcid.org/0000-0002-9913-4863