REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412032302
Laiane Patrícia Soares Lopes1
André Soares Borges da Silva 2
Ione Maria Ribeiro Soares Lopes3
José James Lima da Silva Segundo 4
Mauricio Batista Paes Landim5
Lauro Lourival Lopes Filho6
RESUMO
A Doença de Hailey-Hailey ou pênfigo crônico benigno familiar é uma genodermatose autossômica dominante rara, com incidência estimada de 1/50.000, caracterizada pela presença de vesículas recorrentes crônicas e erosões principalmente nas áreas intertriginosas, tais como nuca, virilha, períneo, axila e região infra mamária. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão, analisando dados dos estudos produzidos entre os anos de 2003 e 2023 sobre os avanços terapêuticos da doença. Esta é uma revisão bibliográfica pelo método revisão integrativa de literatura e exploratória nas bases de dados on-line por meio da estratégia PICo e, segundo critérios de inclusão e exclusão, selecionou-se 21 artigos de periódicos distintos, escritos na língua inglesa. As terapêuticas demonstradas nos relatos de casos, série de casos e ensaios clínicos abordados neste artigo incluíram: medidas não farmacológicas; medicamentos tópicos e orais como 5-fluoracil 5% tópico, inibidores da calcineurina tópicos, cadexômero de iodo tópico, antibiótico oral, talidomida oral, retinóide oral, inibidores do TNF-alfa, antibiótico oral, azatioprina, imunobiológico além de procedimentos como laserterapia, terapia fotodinâmica. Pode-se concluir que, por se tratar de uma doença crônica e não haver terapêutica curativa, o tratamento vigente inclui medicamentos tópicos e sistêmicos, procedimentos médicos e cirúrgicos além de estratégias de prevenção de fatores desencadeantes da doença, como exposição à luz solar, fricção ou sudorese. Entretanto, ainda são escassos os ensaios clínicos controlados os quais comprovem a melhor terapêutica para o controle da doença.
Palavras-chaves: Doença de Hailey-Hailey; Pênfigo crônico familiar; Genodermatose.
ABSTRACT
Hailey-Hailey disease or familial benign chronic pemphigus is a rare autosomal dominant genodermatosis, with an estimated incidence of 1/50,000, described by the presence of chronic recurrent vesicles and erosions mainly in intertriginous areas, such as the neck, groin, perineum, axilla and inframammary region. The objective of this study was to carry out a review, analyzing data from studies produced between 2003 and 2023 on therapeutic advances in the disease. This is a bibliographic review using the integrative and exploratory literature review method in online databases using the PICo strategy and, according to inclusion and exclusion criteria, 21 articles were selected from different periodicals, written in the English language. Therapeutics demonstrated in case reports, case series and clinical trials covered in this article included: non-pharmacological measures; topical and oral medications such as topical 5-fluorouracil 5%, topical calcineurin inhibitors, topical iodine cadexomer, oral antibiotic, oral thalidomide, oral retinoid, TNF-alpha inhibitors, oral antibiotic, azathioprine, immunobiological in addition to procedures such as laser therapy, therapy photodynamics. It can be concluded that, in order to treat a chronic disease and there is no curative therapy, the current treatment includes described and systemic medications, medical and surgical procedures, as well as strategies to prevent factors that trigger the disease, such as exposure to sunlight, friction or sweating. However, there are still few controlled clinical trials that prove the best therapy for controlling the disease.
Keywords: Hailey-Hailey disease; Familial chronic pemphigus; Genodermatosis
INTRODUÇÃO
A Doença de Hailey-Hailey ou pênfigo crônico benigno familiar é uma genodermatose autossômica dominante rara, com incidência estimada de 1/50.000 (Ben lagha; Ashack; Khachemoun, 2020), caracterizada pela presença de vesículas recorrentes crônicas e erosões principalmente nas áreas intertriginosas, tais como nuca, virilha, períneo, axila e região infra mamária (Chiaravalloti; Payette, 2014). Na fisiopatologia da doença foi detectada uma adesão deficiente dos queratinócitos, levando a ocorrência de acantólise suprabasal generalizada especialmente da camada espinhosa (Gomes et al., 2020).
A doença foi primeiramente descrita em 1939 pelos irmãos Howard e Hugh Hailey, que trabalhavam no Departamento de Dermatologia da Escola de Medicina da Universidade de Emory, em Atlanta – Geórgia (EUA), em dois pares de irmãos. Nos anos recentes evidenciou-se que a enfermidade ocorre devido a mutações no gene ATP2C1 no cromossomo 3q21, o qual é responsável pela produção da proteína Ca2+-ATPase (Gomes et al., 2020) que regula a adesão desmossômica nos queratinócitos. As lesões podem ocorrer em dois picos, sendo o primeiro no final da adolescência e o segundo entre a terceira e quarta década de vida, apesar de existirem relatos de casos na infância, entre 3 e 5 anos (HU et al., 2000; XU et al., 2011).
Seu curso é caracterizado por períodos de surtos e remissões, podendo evoluir com remissão espontânea ou com complicações como fissuras dolorosas ou vegetações fétidas, as quais interferem significativamente na qualidade de vida do paciente. Além disso, outros fatores também podem atuar no surgimento da dermatose, dentre os quais cita-se radiação ultravioleta, transpiração, fricção e estresse (Chiaravalloti; Payette, 2014).
O tratamento do pênfigo crônico benigno familiar, ou doença de Hailey-Hailey, envolve terapias medicamentosas que possibilitam remissão temporária das lesões (Chiaravalloti; Payette, 2014), bem como técnicas que possibilitam uma regressão sintomática mais prolongada, tais como a dermoabrasão e o laser ablativo. Entretanto, a dermoabrasão pode provocar complicações e não pode ser realizada em todas as regiões corporais. O uso de glicopirrolato e afamelanotida são opções de tratamentos potenciais, mas estas ainda necessitam de maiores evidências de sua eficácia no tratamento da doença (Farahnik et al., 2017).
A melhor terapêutica é definida segundo tipo e tamanho da lesão e inclui medicamentos tópicos e sistêmicos, realização de procedimentos cirúrgicos, uso de toxina botulínica e laserterapia além de estratégias de prevenção de fatores desencadeantes da doença, como exposição à luz solar, fricção ou sudorese. O tratamento medicamentoso é composto por corticosteroides e retinóides tópicos e sistêmicos, além dos imunomoduladores, entre eles o metotrexato e ciclosporina. Quando a doença tem caráter resistente e extenso, pode-se usar técnicas como aplicação de laser de dióxido de carbono, terapia fotodinâmica, radioterapia por feixe de elétrons e toxina botulínica tipo A. Apesar do progresso na compreensão dos mecanismos moleculares e da fisiopatologia da doença de Hailey-Hailey, evidenciou-se níveis abaixo do ideal de respostas ao tratamento em um número substancial de pacientes (Chiaravalloti; Payette, 2014).
O objetivo deste estudo é realizar uma revisão, analisando dados dos estudos produzidos entre os anos de 2003 e 2023 sobre os avanços terapêuticos da doença.
METODOLOGIA
Realizou-se uma revisão de literatura de uma dermatose rara, a doença de Hailey Hailey. Este tipo de pesquisa permite sintetizar o conhecimento científico com o objetivo de fornecer a melhor evidência sobre o tema desenvolvido (Mendes; Silveira; Galvão, 2008) e aborda achados de estudos de pesquisadores que, usando diferentes metodologias, realizaram análise e síntese sistemática dos dados e dos resultados obtidos, o que auxilia no desenvolvimento de uma revisão integrada e crítica da literatura sobre determinada temática (Soares et al., 2014). Foram consideradas bases de dados nacionais e internacionais. Nesta etapa do estudo também ocorreu a definição do conteúdo textual.
A Revisão integrativa foi estruturada com base nos passos metodológicos propostos por Souza, Silva e Carvalho (2010) e conduzida em quatro etapas de investigação: elaboração da pergunta norteadora, busca ou amostragem da literatura, coleta de dados e análise crítica dos estudos incluídos. Ela foi norteada pela seguinte pergunta: quais os meios diagnósticos e opções de tratamento existem publicados na literatura sobre essa genodermatose rara, no período de agosto de 2003 até julho de 2023. A elaboração da questão da pesquisa foi fundamentada na estratégia PICo.
Quadro 1: Descrição da estratégia PICo. Teresina-PI, Brasil, 2024.
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
O período de pesquisas na literatura foi realizado entre os meses de junho e agosto de 2024, mediante acesso à consulta eletrônica as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analisis and Retrieval System Online (MEDLINE\PUBMED) via National Library of Medicine Scientific Eletronic Library (SciELO).
Foram selecionados descritores controlados e não controlados (palavras-chaves) indexadas nos vocabulários Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e Medical Subject Hedings (MeSH) (Quadro 2). Para combinação dos termos, foram utilizados os operadores booleanos “AND” e “OR”.
Para a seleção dos estudos que atenderem a questão da pesquisa foram adotados filtros sendo o primeiro deles o estabelecimento de critérios de inclusão, a saber: estudos que priorizam como desfecho o tratamento da doença de Hailey-Hailey em formato de artigo de ensaios clínicos com texto completo, relatos de casos e séries de casos, disponíveis e publicados até o mês de julho de 2023. A exclusão foi condicionada aos registros duplicados, teses, dissertações, editoriais, normas técnicas, leis, resoluções, cartas, comentários e resumos de anais.
Para analisar os artigos selecionados foi utilizado um quadro que permitiu organizar os dados pela referência, título, bases de dados e tratamento da doença de Hailey-Hailey. Desta forma, a pesquisa pode trazer informações importantes que contribuem com a ampliação do saber na área médica dermatológica e servir de subsídio para tomadas de decisões em relação à doença descrita.
A seleção criteriosa dos artigos foi descrita através do fluxograma abaixo:
Figura I – Fluxograma da seleção dos estudos para a revisão integrativa da literatura.
Fonte: Dados da Pesquisa (2024).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Realizou-se uma pesquisa nas bases de dados escolhidas durante a qual foram elencadas publicações sobre a temática, totalizando 1.039 estudos. Dentre eles, foram escolhidos artigos de ensaios clínicos, relatos de casos e séries de casos relevantes ao tema, publicados de 2003 a 2023, escritos em quaisquer línguas e com textos completos. Ao aplicar os critérios de inclusão e exclusão e em conformidade com os objetivos da pesquisa, selecionou-se 21 publicações presentes em periódicos distintos.
Os artigos selecionados foram escritos em inglês e acessados por meio das bases de dados da BVS e PUBMED, sendo nesta a predominância deles, os quais abordaram terapêuticas utilizadas no tratamento da doença de Hailey-Hailey. Através da análise dos dados coletados, foram encontrados artigos nos anos de 2009, 2011, 2014, 2015, 2017, 2018, 2019, 2021 e 2022.
Por se tratar de uma doença multifatorial, o tratamento envolve diversas terapêuticas incluindo medidas farmacológicas e não farmacológicas conforme relatadas em relatos ou série de casos retrospectivos. Entre as medidas gerais de controle da doença cita-se mudanças de estilo de vida como evitar exposição a calor que repercutem em uma redução da sudorese e manutenção das lesões secas. Além disso, é recomendado a higienização da área acometida com antissépticos, e o uso de roupas que reduzam atrito nas regiões acometidas (Chauhan et al., 2019).
As medidas farmacológicas citadas nos estudos selecionados foram organizadas no Quadro I.
Quadro I – Publicações segundo autores, periódico/ano de publicação, título, tipo de estudo e tratamento utilizado. Teresina, 2024.
Fonte: Dados da pesquisa (2024).
Dentre os tratamentos tópicos utilizados, além de corticoides e antibióticos, os estudos trouxeram outras medicações que também são opções terapêuticas para pacientes diagnosticados com a doença de Hailey-Hailey. Os inibidores de calcineurina tópicos foram descritos em estudos recentes e indicados para o controle da doença. Tchernev e Cardoso (2011) defenderam o uso desta medicação tópica ao demonstrar, por meio de um relato de caso, melhora significativa e rápida do quadro clínico ao usar creme de pimecrolimus 1% duas vezes ao dia em paciente com lesões resistentes a tratamento com corticosteróides, antimicóticos e antibióticos. Os autores defenderam ainda que o tacrolimus 0,1% e o pimecrolimus são medicamentos que não bloqueiam a síntese de colágeno nos fibroblastos da pele e não levam a atrofia da pele como os corticosteróides tópicos. O tacrolimus apresentou melhor penetração e efeito supressor quando comparado ao pimecrilimus.
Outro tratamento tópico citado em estudo recente é com 5- fluoracil creme 5%, o qual apresentou resultados animadores. Dammak et al. (2009) descreveram um caso clínico de um paciente que utilizou esta medicação na concentração de 5% três vezes por semana durante 3 meses, seguidas de uma vez por semana durante 3 meses com acompanhamento clínico mensal e realização de hemograma completo trimestral. Ele apresentou remissão das lesões quase completa após 3 meses e está se perpetuou durante todo o tratamento.
O cadexômero de iodo, por apresentar propriedades antimicrobianas, antiinflamatórias e absortivas do exsudato da pele também foi defendido como opção terapêutica viável para a doença de Hailey-Hailey. Tang e Tan (2011) descreveram o caso clínico de um homem de 50 anos com lesões persistentes na virilha, pescoço e axilas e refratárias a tratamento com várias combinações de corticosteroide tópico (dipropionato de betametazona 0,05%, valerato de betametasona 0,1%), antibiótico (fucidina, gentamicina) e antifúngico (clotrimazol) cremes. Então optou-se por usar pó de iodo cadexômero como monoterapia e após 10 meses, houve remissão de todas as erupções e este resultado foi sustentado.
Em se tratando de tratamentos sistêmicos, dentre os antibióticos orais as tetraciclinas mostraram ser eficazes e tem efeitos antimicrobiano e antiinflamatório. Le Saché-de Peufeilhoux et al. (2014) realizaram relatos de casos de 6 pacientes que usaram a doxiciclina 100 mg ao dia por três meses e 50 mg como dose de manutenção, e tiveram resultados satisfatórios no controle das lesões em 5 dos 6 pacientes descritos no estudo. Chauhan et al. (2019) descreveram o caso de um paciente com lesões extensas acometendo pescoço, região mamária, inframamária, abdômen, costas, períneo, nádegas, coxas que realizou tratamento com minociclina 100 mg oral duas vezes ao dia e após 2 semanas, quando as lesões remitiram, a medicação foi reduzida para 100 mg ao dia e obteve controle das lesões após 2 meses.
Alguns relatos de casos mostraram que o uso de retinoides orais foram satisfatórios em pacientes com doença de Hailey-Hailey refratária. Sárdy e Ruzicka (2014) descreveram os casos de duas pacientes femininas nos quais o tratamento com alitretinoína oral resultou em remissão das lesões. A alitretinoína na dosagem de 30 mg ao dia promoveu uma remissão clínica quase completa em detrimento da redução gradual da prednisolona usada pela paciente por via oral, além de terem apresentados poucos episódios de recaída. Naidoo et al. (2019) apresentaram o caso de paciente que não respondeu ao tratamento com antibióticos tópicos, orais e anti-sépticos e, ao usar acitretina 10 mg uma vez ao dia, obteve a eliminação das lesões após 2 meses, demonstrando que este outro retinoide pode ser útil em pacientes com DHH resistente.
Terapias utilizando imunossupressores foram citadas em estudos como opção de tratamento para casos refratários da doença de Hailey-Hailey. A talidomida foi uma das drogas apresentadas por Nanda et al. (2014) como uma alternativa terapêutica para casos refratários da doença não responsivo ao tratamento com corticosteroides em altas doses de dapsona. Segundo os autores que relataram o caso de um paciente de 30 anos, com lesões dolorosas recorrentes que realizou tratamentos com antibióticos orais e tópicos, corticosteroides e obteve apenas controle parcial ou temporário da doença, ao incluir a talidomida oral 100 mg três vezes ao dia por 5 semanas, seguida de redução da dose é mantida em 50 mg diariamente por 6 meses, obteve melhora significativa. Ao interromper o tratamento, o paciente não apresentou recorrência das lesões.
Outra medicação imunossupressora apresentada como tratamento para pênfigo crônico benigno familiar foi a azatioprina. Os autores Malan et al. (2019) descreveram o uso desta medicação em paciente com doença de Hailey-Hailey a qual foi acrescentada após resultado não satisfatório no controle das lesões em tratamento anterior. O paciente apresentou grande melhora após 5 dias de tratamento com azatioprina associada a antibiótico tópico e remissão parcial após 3 meses de tratamento.
Em relação ao tratamento com imunobiológicos, Sand e Thomsen (2015) avaliaram retrospectivamente os registros de 118 pacientes tratados off-label com inibidores do TNF alfa em um departamento universitário de dermatologia. Devido aos efeitos adversos, alguns deles graves, seu uso é controverso.
Alzahrani et al. (2021) descreveram como promissor o tratamento com outro imunobiológico, o dupilumabe. Segundo o relato, três pacientes com doença de HaileyHailey que receberam injeções subcutâneas de dupilumabe, sendo a dose de ataque de 600 mg e depois de 300 mg em semanas alternadas, eles apresentaram melhora significativa e redução da gravidade das lesões, além de melhora sustentada dos sintomas por cerca de 2 anos. Em contrapartida, outro estudo realizado por Alamon-Reig et al. (2022), o qual descreveu o tratamento de 3 pacientes com a mesma medicação, apesar de dois pacientes terem apresentado melhora significativa em 2 e 5 meses de tratamento, respectivamente, uma resposta sustentada completa não foi alcançada durante 14 e 16 meses de acompanhamento.
Outrossim, nos casos de refratariedade ao tratamento medicamentoso, foi considerada a possibilidade da utilização de terapia fotodinâmica para controle da doença. Alsahli et al. (2017) realizou um estudo com 8 pacientes com lesões de longa duração que não respondiam positivamente às drogas. Em sua pesquisa, houve a utilização da luz, oxigênio e metil-amino levulinato, um fotossensibilizador. Foi realizada a terapia em protocolos padronizados de três irradiações, com intervalos de 3 semanas. As respostas foram satisfatórias, gerando uma limpeza parcial ou completa das lesões por um período de 3 a 36 meses. Paralelo a isso, a eficácia nas áreas não inguinais demonstrou ser melhor. Entretanto, os pacientes relataram dor durante e logo após o procedimento, mas que pode ser notoriamente revertida com analgésicos prévios, resfriamento com água borrifada e anestesia local tumescente.
Megna et al. (2018) relatou o resultado do uso de vitamina D (800 UI/die) por 3 meses, via oral, no controle de doença em uma paciente com história de placas eritematosas maceradas, erosivas e crostas que se localizavam nas axilas e áreas submamárias, em ambas as mamas, que iniciaram há 2 anos. Concomitantemente, tentou-se o uso de pomada de tacalcitol a 4 mcg/g. Todavia, o tratamento tópico foi descontinuado após 10 dias, por desencadear uma resposta irritativa, gerando prurido, irritação e sensação de queimação. Nesse meandro, a administração oral de vitamina D se mostrou eficaz na remissão dos sintomas apresentados pela paciente e após 90 dias, as lesões se reduziram apenas a eritemas leves, mantendo-se neste estágio por 7 meses, com a doença controlada.
A terapia com laser de dióxido de carbono ablativo fracionado também se configura como uma alternativa terapêutica, segundo Ortiz e Zachary (2011). Foi evidenciado que o uso de laser de CO2 demonstrou resultados positivos em um paciente com quadro sintomático recorrente por 14 anos, em região axilar, com placas recalcitrantes. Nessa perspectiva, houve a melhora significativa no quadro clínico do paciente estudado pelo autor. Entretanto, não há uma recomendação direta quanto ao uso de laser ablativo fracionado no tratamento da doença de Hailey-Hailey, necessitando de mais evidências e de melhores parâmetros de laser ideais. Sendo assim, essa modalidade, apesar de alguns sucessos em sua aplicabilidade, ainda não se configura como uma excelente medida terapêutica no momento.
Ibrahim et al. (2017) relatou o uso de naltrexona no tratamento de 3 pacientes e promoveram redução de mais de 80% das lesões provocadas pelo pênfigo familiar benigno. Foi utilizada a dose de 1,5mg a 3,0 mg por dia. Durante a pesquisa, os autores excluíram tratamentos tópicos e sistêmicos e observaram que após 3 meses de uso em dois pacientes e 4 meses no terceiro paciente, as placas se restringiram a eritemas leves nas regiões axilares, virilhas e abaixo dos seios. Os pacientes foram acompanhados a cada 2 a 3 meses, por um intervalo de 1 ano. Desse modo, para os autores, a Naltrexona em dose baixa, se mostrou efetiva e uma boa opção na terapia ou como adjuvante de baixo custo, embora seu uso tenha sido off-label e não aprovado ainda pela Food and Drug Administration (FDA).
Em contrapartida, Loughlin et al. (2019), posteriormente, analisou também o uso de Naltrexona em baixa dose, considerando 14 pacientes que variavam entre graus moderados a graves da doença, acompanhando-os por 33,6 semanas, observando que a resposta clínica dos pacientes não foi satisfatória, sendo 6 pacientes com resposta medicamentosa nula, 6 pacientes com resposta positiva inicialmente, mas com recidivas e 2 pacientes com resposta satisfatória sustentada por mais de 1 ano e que as duas pacientes com boa resposta, são irmãs.
Ademais, Kieffer et al. (2018), analisou a resposta de 4 pacientes ao uso de apremilast que tinham lesões nas axilas, seios, virilha e pescoço. Os resultados foram satisfatórios quando o antagonista da fostodiesterase-4 foi utilizado na dose de 30mg, duas vezes ao dia, tendo resultado logo após o primeiro mês de uso. Os pacientes foram avaliados em intervalos de 2 a 3 meses, durante 10 meses. Após 6 meses de uso, as lesões foram quase totalmente eliminadas. No entanto, dois pacientes tiveram episódios de surtos nesse período e suspenderam o uso. Como efeitos adversos foram relatados casos de diarreias transitórias e mialgia.
Borghi et al. (2014) relata o caso de uma paciente idosa, de 72 anos, com lesão na vulva e região inguinal, que após fazer uso de cloreto de magnésio hexahidratado na solução de 33g em 1L de água, obteve melhora considerável de suas lesões, após 1 mês de uso. As placas eritematosas e crostas eram refratárias aos tratamentos com corticosteroides tópicos, antifúngicos, antibióticos, antissépticos e hidratantes e foram reduzidas exponencialmente. A paciente foi acompanhada por 12 meses e neste intervalo, teve apenas dois episódios de exacerbação, decorrentes de situações de grande estresse, entretanto, com menor intensidade e duração, quando comparado aos episódios anteriores a terapia com MgCl₂. Além disso, a paciente relatou apenas o sabor da solução como indesejado, negando efeitos colaterais.
Abaca, Flores e Parra et al. (2018) analisaram a resposta de um paciente que após falha na monoterapia com prednisona 40mg, por dia, por 3 semanas, fez uso de fototerapia em associação medicamentosa, tendo excelente resultado. O paciente que tinha lesões nas axilas, tronco, membros superiores e virilha realizou a fototerapia UVB de banda estreita em um total de 8 sessões, que eram realizadas semanalmente, em uma dose de 300mJ/cm2, aumentando progressivamente a dose em 50mJ/cm2, até atingir a dose máxima de 500mJ/cm2. Ao término das oito semanas e após a retirada gradual do corticosteroide, houve resolução completa das lesões, restando apenas uma hiperpigmentação nos locais acometidos. Por fim, o paciente iniciou tratamento com creme de clotrimazol 1% e betametasona 0,1%, uma vez ao dia, sem recidiva por 12 meses, demonstrando que a irradiação da fototerapia UVB configurou-se como uma boa alternativa, quando associada ao uso do corticosteroide no controle de lesões refratárias.
Wulf e Wiegell (2022) apontaram que o uso de radioterapia superficial em 13 pacientes com DHH. Desse total, 9 pacientes tiveram remissão completa após o primeiro ciclo de tratamento, 3, após dois ciclos e 1, obteve melhora parcial. Cada área corporal afetada pela doença, foi tratada com 1 ciclo de radioterapia superficial, com uma dose total de 16 gray em 8 frações de 2 gray a cada 2 a 3 dias. Foram relatadas inflamações leves a graves por 1 mês, que foram tratadas com uso de corticoides tópicos e antibióticos orais nos casos graves.
CONCLUSÃO
Por se tratar de uma genodermatose crônica e não haver terapêutica curativa, o tratamento vigente inclui medicamentos tópicos e sistêmicos, realização de procedimentos cirúrgicos e laserterapia além de estratégias de prevenção de fatores desencadeantes da doença, como exposição à luz solar, fricção ou sudorese cutânea. Entretanto, ainda são escassos os ensaios clínicos controlados os quais comprovem a melhor terapêutica para o controle da doença.
REFERÊNCIAS
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1 Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade de Tecnologia de Teresina – CET. E-mail:
laianelopes@hotmail.com
2 Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade de Tecnologia de Teresina – CET. E-mail: 99263734andre@gmail.com
3 Doutorado em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. E-mail:
ione.gin@hotmail.com
4 Especialista em Dermatologia pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail:
jameslimasegundo@gmail.com.
5 Doutorado em Ciência – Cardiologia pela Universidade de São Paulo – USP. E-mail:
mauriciolandim@ufpi.edu.br
6 Doutorado em Medicina (Dermatologia Clínica e Cirúrgica) pela Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. E-mail: lllf@outlook.com.br