AVANÇOS EM CIRURGIAS MINIMAMENTE INVASIVAS PARA DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

ADVANCES IN MINIMALLY INVASIVE SURGERIES FOR CORONARY ARTERY DISEASE: AN INTEGRATIVE REVIEW

Graduação em Bacharelado em Medicina Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/os102411271001


Ana Clara de Paula Queiroz ¹ / Ana Laura Cavalcante de Mauro ² / Arthur Dutra Botelho ³ / Douglas Segadilha Prado ⁴ / Ériclis Menezes Cruz ⁵ / Felipe Rafaeli Cordova ⁶ / Francisca Bruna Mirelle Santiago ⁷ / Francisco Pereira Goulart Junior ⁸ / Júlio Davi Costa e Silva ⁹ / Julia Sánchez Sáez ¹⁰ / Lilian Moreau Barbosa de Oliveira ¹¹ / Poliana dos Santos Barros ¹² / Raquel de Oliveira Teixeira ¹³ / Wagner Longo Junior ¹⁴ / Waldomiro Medeiros Barbosa Junior ¹⁵


RESUMO

As técnicas minimamente invasivas em cirurgias cardíacas têm transformado o manejo da doença arterial coronariana (DAC), proporcionando alternativas eficazes às abordagens tradicionais. Este estudo realizou uma revisão integrativa da literatura para analisar os avanços recentes, comparando métodos como cirurgia toracoscópica assistida por vídeo (VATS), cirurgia robótica, anastomose sem esternotomia e revascularização híbrida. Foram incluídos artigos publicados nos últimos 10 anos que abordam a eficácia clínica, o impacto na recuperação e a redução de complicações. Os resultados demonstraram que essas técnicas oferecem menores taxas de morbidade e tempos de recuperação mais rápidos, mantendo taxas de sucesso comparáveis às abordagens tradicionais. Apesar dos avanços, desafios como custo, curva de aprendizado e limitações anatômicas restringem a adoção generalizada. Perspectivas futuras apontam para a necessidade de estudos de longo prazo e a ampliação do acesso a essas tecnologias. Este trabalho conclui que as técnicas minimamente invasivas são promissoras, mas dependem de uma implementação estratégica para maximizar seus benefícios.

Palavras-chave:  Cirurgia cardíaca minimamente invasiva; Doença arterial coronariana; Revascularização miocárdica; Cirurgia robótica; Resultados clínicos.

ABSTRACT

Minimally invasive techniques in cardiac surgeries have revolutionized the management of coronary artery disease (CAD), providing effective alternatives to traditional approaches. This study conducted an integrative literature review to analyze recent advancements, comparing methods such as video-assisted thoracoscopic surgery (VATS), robotic surgery, anastomosis without sternotomy, and hybrid revascularization. Articles published over the past 10 years were included, focusing on clinical efficacy, recovery impact, and complication reduction. Results showed that these techniques offer lower morbidity rates and faster recovery times, maintaining success rates comparable to traditional methods. Despite these advancements, challenges such as cost, learning curve, and anatomical limitations hinder widespread adoption. Future perspectives highlight the need for long-term studies and broader access to these technologies. This study concludes that minimally invasive techniques are promising but require strategic implementation to maximize their benefits.

Keywords: Minimally invasive cardiac surgery; Coronary artery disease; Myocardial revascularization; Robotic surgery; Clinical outcomes.

  1. INTRODUÇÃO

A doença arterial coronariana (DAC) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo, representando um impacto significativo na saúde pública global. Caracterizada pelo estreitamento ou obstrução das artérias coronárias devido ao acúmulo de placas ateroscleróticas, a DAC é responsável por um amplo espectro de condições clínicas, desde angina estável até infarto agudo do miocárdio. Sua prevalência crescente é impulsionada por fatores como envelhecimento populacional, sedentarismo, dieta inadequada e aumento das comorbidades metabólicas, como hipertensão e diabetes mellitus. No contexto terapêutico, a revascularização miocárdica desempenha um papel essencial no manejo da DAC, melhorando o fluxo sanguíneo para o miocárdio isquêmico e aliviando os sintomas, além de reduzir a incidência de eventos cardiovasculares adversos em determinadas populações de pacientes.

Apesar da eficácia comprovada das abordagens tradicionais, como a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) aberta, estas técnicas apresentam limitações significativas. A esternotomia completa, frequentemente necessária para acesso ao coração, está associada a um aumento na morbidade pós-operatória, incluindo maior risco de infecções, dor significativa e recuperação prolongada. Neste contexto, as técnicas minimamente invasivas emergem como uma alternativa promissora, oferecendo uma abordagem menos traumática com benefícios adicionais, como menor tempo de hospitalização, menor taxa de complicações e resultados cosméticos superiores. Como destaca o estudo de Head et al. (2019), os avanços nas práticas cirúrgicas, incluindo abordagens minimamente invasivas, têm sido fundamentais para transformar a revascularização miocárdica, adaptando-se às necessidades do paciente moderno e integrando inovações tecnológicas.

Entretanto, a adoção de técnicas minimamente invasivas enfrenta desafios. A curva de aprendizado para equipes cirúrgicas é acentuada, e os custos iniciais associados a tecnologias avançadas, como sistemas robóticos, são elevados. Além disso, a aplicabilidade dessas técnicas é limitada em determinados casos clínicos complexos, como em pacientes com múltiplos vasos acometidos ou anatomia coronariana desfavorável. Estas barreiras reforçam a necessidade de uma análise criteriosa e comparativa das técnicas disponíveis, considerando tanto seus benefícios quanto suas limitações.

O presente estudo tem como objetivo explorar os avanços recentes nas cirurgias cardíacas minimamente invasivas voltadas para a DAC, comparando as técnicas disponíveis e analisando os resultados clínicos obtidos até o momento. Baseando-se em evidências científicas, como as fornecidas por Alexander et al. (2018), que destacam a importância de terapias complementares para o manejo da DAC estável, e por Head et al. (2019), que contextualizam os avanços cirúrgicos, busca-se contribuir para um melhor entendimento do impacto dessas inovações na prática clínica atual. Este trabalho também visa identificar as lacunas na literatura e apontar direções para futuras pesquisas que possam acelerar a adoção de abordagens minimamente invasivas e, consequentemente, melhorar os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.

  1. METODOLOGIA

Este estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura científica, com o objetivo de sintetizar as evidências disponíveis sobre avanços em cirurgias cardíacas minimamente invasivas voltadas para o tratamento da doença arterial coronariana (DAC). Essa abordagem permite combinar dados de diferentes tipos de estudos, oferecendo uma visão abrangente e crítica das técnicas disponíveis e seus resultados clínicos. A busca foi realizada em bases de dados reconhecidas pela sua relevância científica e rigor metodológico, incluindo PubMed, Scopus e Cochrane Library, abrangendo publicações dos últimos 10 anos (2013-2023).

Foram selecionados estudos que atendiam aos seguintes critérios:

  1. Natureza do Estudo: Estudos clínicos, revisões sistemáticas e meta-análises que abordam técnicas minimamente invasivas aplicadas ao tratamento da DAC.
  2. População de Estudo: Pacientes adultos diagnosticados com DAC e submetidos a procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos.
  3. Desfechos Clínicos: Trabalhos que relataram resultados relacionados a taxa de mortalidade, tempo de hospitalização, complicações pós-operatórias, qualidade de vida e taxa de sucesso técnico.
  4. Relevância Temporal: Publicações dentro do intervalo de 2013 a 2023, a fim de capturar os avanços mais recentes na área.

Os estudos foram excluídos com base nos seguintes critérios:

  1. Estudos de baixa qualidade metodológica, como relatos de caso ou trabalhos sem descrição clara de metodologia e desfechos clínicos.
  2. Publicações que não abordassem diretamente cirurgias minimamente invasivas para DAC.
  3. Trabalhos cujo foco principal estivesse fora do escopo, como estudos exclusivamente sobre intervenções percutâneas ou farmacológicas.
  4. Estudos que carecessem de dados quantitativos para avaliação dos desfechos clínicos.

As buscas utilizaram palavras-chave e termos MeSH para garantir a precisão na identificação dos artigos relevantes. Os termos incluem: “minimally invasive cardiac surgery”, “coronary artery disease”, “robotic-assisted coronary surgery”, “clinical outcomes in minimally invasive surgery”, e suas variações.

Os artigos selecionados foram avaliados criticamente com base nos seguintes aspectos:

  1. Técnicas Avaliadas: Diferentes métodos minimamente invasivos, como cirurgia robótica, cirurgia toracoscópica assistida por vídeo (VATS) e revascularização híbrida.
  2. Desfechos Clínicos: Indicadores como taxa de mortalidade, incidência de complicações (infecções, reoperações), tempo de recuperação (hospitalização, retorno às atividades) e qualidade de vida pós-operatória.
  3. Comparações: As técnicas minimamente invasivas foram comparadas entre si e com métodos tradicionais, como a cirurgia com esternotomia, para avaliação de superioridade ou equivalência.

Os resultados foram sintetizados de forma a identificar padrões, benefícios, limitações e lacunas na literatura existente. Os dados extraídos dos estudos incluídos foram tabulados para permitir uma comparação clara e objetiva entre as técnicas.

Essa metodologia rigorosa permite que o estudo atinja seu objetivo de analisar os avanços em cirurgias minimamente invasivas para DAC de forma robusta e confiável, oferecendo uma base sólida para discussões e conclusões fundamentadas.

  1. DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA (DAC) E REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA

3.1. Descrição da DAC: Patofisiologia e Impacto Clínico

A doença arterial coronariana (DAC) é caracterizada pela formação de placas ateroscleróticas nas artérias coronárias, resultando na obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo para o miocárdio. Esse processo ocorre devido à combinação de fatores inflamatórios crônicos, disfunção endotelial e deposição de lipídios na parede arterial. A redução do fluxo coronariano compromete o suprimento de oxigênio ao tecido miocárdico, resultando em isquemia, que pode se manifestar clinicamente como angina pectoris, dispneia e, em casos mais graves, infarto agudo do miocárdio.

Além do impacto na qualidade de vida dos pacientes, a DAC representa uma das principais causas de mortalidade global, especialmente em populações com alta prevalência de fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo. A crescente carga dessa condição sobre os sistemas de saúde sublinha a necessidade de abordagens terapêuticas eficazes e acessíveis para seu manejo. Entre essas, a revascularização miocárdica é uma estratégia terapêutica amplamente adotada para restaurar o fluxo sanguíneo e reduzir a carga isquêmica em pacientes com DAC.

3.2. Opções Cirúrgicas: Comparação entre Técnicas Tradicionais e Minimamente Invasivas

Historicamente, a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) com esternotomia mediana e circulação extracorpórea tem sido considerada o padrão-ouro para o tratamento de DAC complexa ou multivascular. Este método envolve a utilização de enxertos, como a artéria torácica interna ou veia safena, para contornar as áreas obstruídas. Apesar de sua eficácia bem documentada, como apontado por Taggart et al. (2019), esta abordagem apresenta desvantagens significativas, incluindo alta morbidade associada ao trauma cirúrgico, maior risco de infecção e um período prolongado de recuperação.

Nos últimos anos, técnicas minimamente invasivas têm ganhado destaque como alternativas menos traumáticas. Estas incluem a revascularização sem circulação extracorpórea (off-pump), cirurgia toracoscópica assistida por vídeo (VATS) e abordagens robóticas. O estudo de Lamy et al. (2018) oferece insights valiosos sobre a transição de procedimentos com circulação extracorpórea (on-pump) para off-pump, demonstrando uma redução em complicações pós-operatórias, como disfunção renal e infecções, embora algumas limitações técnicas ainda sejam observadas. Estas técnicas minimizam o impacto hemodinâmico, evitando os efeitos adversos associados à circulação extracorpórea.

Além disso, as técnicas minimamente invasivas frequentemente empregam enxertos arteriais, como os discutidos por Taggart et al. (2019), que mostram maior durabilidade e melhor patência a longo prazo em comparação com enxertos venosos. A cirurgia robótica, em particular, permite precisão superior na manipulação de estruturas delicadas e reduz o trauma tecidual, resultando em menor dor pós-operatória e melhor recuperação funcional.

A comparação entre as abordagens tradicionais e minimamente invasivas revela um equilíbrio entre eficácia e impacto no paciente. Embora os métodos tradicionais permaneçam como referência em casos de anatomia coronariana complexa ou em pacientes de alto risco, as técnicas minimamente invasivas emergem como alternativas promissoras, especialmente para populações comorbidas ou que demandam recuperação mais rápida. Esse avanço reflete uma transição progressiva na prática cirúrgica, com foco na personalização do tratamento e na melhoria da experiência e dos resultados clínicos dos pacientes.

  1. PRINCIPAIS TÉCNICAS MINIMAMENTE INVASIVAS

Os dados analisados sobre os óbitos por infarto agudo do miocárdio (IAM) em Fernandópolis em 2023 permitem destacar padrões consistentes com as tendências nacionais, evidenciando a maior vulnerabilidade de idosos e homens, além da influência de fatores de risco associados, como comorbidades e estilo de vida. Entre os principais achados, observa-se que indivíduos acima de 60 anos representam a maior parcela das mortes (79,47%), com o grupo de 80+ anos sendo o mais afetado (33,86%). Adicionalmente, a predominância de óbitos no sexo masculino (60,15%) reforça a necessidade de ações específicas para este grupo.

As técnicas minimamente invasivas em cirurgias cardíacas representam um avanço significativo no manejo da doença arterial coronariana (DAC), oferecendo alternativas menos traumáticas em comparação com as abordagens tradicionais. Essas técnicas, focadas em reduzir a morbidade cirúrgica, o tempo de hospitalização e as complicações pós-operatórias, estão alinhadas com a evolução tecnológica e a personalização do cuidado médico. Abaixo, exploram-se as principais técnicas, com base em evidências científicas e experiências clínicas.

4.1. Cirurgia Toracoscópica Assistida por Vídeo (VATS): Procedimento e Benefícios Clínicos

A cirurgia toracoscópica assistida por vídeo, ou VATS (Video-Assisted Thoracoscopic Surgery), é uma técnica minimamente invasiva que utiliza pequenas incisões para introduzir instrumentos cirúrgicos e uma câmera que permite a visualização em alta definição da cavidade torácica. Em procedimentos relacionados à revascularização miocárdica, essa técnica oferece vantagens significativas em termos de menor trauma tecidual e recuperação acelerada.

Conforme analisado por Head et al. (2019), o VATS tem se mostrado eficaz na realização de procedimentos seletivos, como revascularização de um único vaso, devido à sua abordagem minimamente invasiva. Estudos mostram que a técnica reduz o risco de infecções e hemorragias em comparação com a esternotomia tradicional, além de minimizar a dor pós-operatória. Contudo, limitações incluem a dependência de habilidades avançadas da equipe cirúrgica e a dificuldade em tratar casos de anatomia coronariana complexa.

4.2. Cirurgia Robótica: Avanços Tecnológicos, Precisão Cirúrgica e Desafios Financeiros

A cirurgia robótica representa o ápice da precisão e inovação em procedimentos cardíacos minimamente invasivos. Por meio de sistemas avançados, como o Da Vinci Surgical System, os cirurgiões utilizam braços robóticos controlados remotamente, que oferecem maior precisão, amplitude de movimentos e visualização tridimensional. O estudo de Smith et al. (2021) destacou o impacto positivo dessa tecnologia em cirurgias valvares, estabelecendo um modelo para procedimentos de revascularização coronariana.

No contexto da DAC, a robótica permite intervenções com incisões menores e preserva a integridade estrutural do tórax. Benefícios clínicos incluem menor tempo de hospitalização, redução de complicações pós-operatórias e recuperação funcional mais rápida. Entretanto, desafios financeiros permanecem como uma barreira para sua ampla adoção. Os altos custos iniciais de aquisição e manutenção do sistema robótico limitam sua implementação, especialmente em instituições com recursos limitados. Além disso, a curva de aprendizado para a equipe cirúrgica pode retardar sua introdução em cenários clínicos.

4.3. Anastomose Sem Esternotomia: Técnicas Endoscópicas

A anastomose sem esternotomia utiliza técnicas endoscópicas para realizar conexões entre enxertos e vasos coronarianos sem a necessidade de abrir o tórax. Esta abordagem, frequentemente associada ao VATS e à robótica, é indicada para pacientes selecionados e contribui para a redução do trauma cirúrgico.

Conforme abordado por Falk et al. (2019), técnicas endoscópicas oferecem a possibilidade de revascularização miocárdica com maior precisão em casos específicos, como anastomoses de vasos únicos. A ausência de uma grande incisão torácica resulta em menor dor pós-operatória e menor risco de infecção. Contudo, limitações incluem a complexidade técnica e a aplicabilidade restrita a anatomias coronarianas favoráveis.

4.4. Revascularização Híbrida: Combinação de Intervenção Percutânea e Cirurgia Minimamente Invasiva

A revascularização híbrida combina a intervenção coronariana percutânea (ICP) com cirurgia minimamente invasiva para fornecer uma abordagem integrada ao tratamento da DAC. Essa estratégia permite abordar lesões coronarianas complexas que poderiam ser desafiadoras para uma única modalidade.

Head et al. (2019) ressaltam que a revascularização híbrida oferece uma solução personalizada para pacientes com múltiplos vasos acometidos, otimizando os benefícios das técnicas minimamente invasivas e da ICP. O procedimento é frequentemente realizado em duas etapas: uma ICP inicial para tratar lesões em artérias menos acessíveis, seguida por uma cirurgia minimamente invasiva para revascularizar vasos mais favoráveis à abordagem cirúrgica. Essa combinação reduz a morbidade associada à cirurgia aberta e melhora os desfechos em termos de funcionalidade miocárdica.

As técnicas minimamente invasivas discutidas acima demonstram avanços significativos em precisão, segurança e recuperação para pacientes com DAC. No entanto, como apontado por Falk et al. (2019) e Smith et al. (2021), o sucesso dessas abordagens depende da seleção criteriosa de pacientes, capacitação das equipes médicas e disponibilidade de infraestrutura tecnológica. Apesar dos desafios, a adoção crescente dessas técnicas sugere uma transição contínua para práticas menos traumáticas e mais personalizadas na revascularização miocárdica.

  1. COMPARAÇÃO DE RESULTADOS CLÍNICOS

As técnicas minimamente invasivas na revascularização miocárdica têm se destacado por sua capacidade de melhorar os desfechos clínicos em comparação com as abordagens tradicionais. Este avanço é evidenciado por taxas de sucesso equivalentes, menores tempos de recuperação e complicações reduzidas, aspectos que são amplamente respaldados por estudos multicêntricos e análises comparativas.

Os procedimentos minimamente invasivos demonstram taxas de sucesso comparáveis às técnicas tradicionais, com benefícios adicionais em determinados subgrupos de pacientes. De acordo com Lamy et al. (2018), os procedimentos realizados sem circulação extracorpórea (off-pump) apresentam taxas de revascularização bem-sucedida semelhantes às realizadas com circulação extracorpórea (on-pump), com a vantagem de minimizar complicações hemodinâmicas. O estudo reforça que, em pacientes com alto risco cirúrgico, técnicas menos invasivas apresentam uma alternativa segura e eficaz.

No contexto da cirurgia robótica, Smith et al. (2021) destaca que a precisão cirúrgica aprimorada contribui para resultados favoráveis em termos de patência dos enxertos coronarianos. Essa técnica garante revascularização completa em pacientes adequados, enquanto reduz a necessidade de reoperações associadas a complicações.

O tempo de recuperação é uma métrica crítica na avaliação de técnicas cirúrgicas. As abordagens minimamente invasivas mostram vantagens claras, proporcionando uma recuperação mais rápida e retorno precoce às atividades normais. Smith et al. (2021) identificou que os pacientes submetidos a procedimentos robóticos tiveram alta hospitalar mais precoce em comparação com aqueles submetidos à cirurgia aberta tradicional. Essa redução no tempo de internação, geralmente de 3 a 5 dias, reflete menores níveis de trauma cirúrgico e dor pós-operatória, bem como a redução de complicações inflamatórias sistêmicas.

Da mesma forma, o estudo de Lamy et al. (2018) relata que o uso de técnicas off-pump está associado a menor permanência hospitalar e menor necessidade de suporte intensivo pós-operatório. Essa abordagem é especialmente vantajosa em populações idosas e em pacientes com comorbidades que limitam sua capacidade de recuperação.

As complicações pós-operatórias são outro aspecto central na comparação de técnicas cirúrgicas. Os procedimentos minimamente invasivos apresentam taxas reduzidas de infecção de ferida cirúrgica, menor incidência de eventos tromboembólicos e menor risco de disfunção renal pós-operatória. Smith et al. (2021) demonstrou que a cirurgia robótica minimiza o risco de infecções, devido às menores incisões e à preservação das estruturas torácicas, enquanto Lamy et al. (2018) destacou que os procedimentos off-pump estão associados a menores taxas de complicações relacionadas à circulação extracorpórea, como disfunção cognitiva transitória e síndrome de resposta inflamatória sistêmica.

Os estudos multicêntricos fornecem dados robustos sobre a eficácia e segurança das técnicas minimamente invasivas em diferentes populações e contextos clínicos. O estudo multicêntrico de Lamy et al. (2018), que incluiu pacientes de diversos centros especializados, reforçou a equivalência das taxas de mortalidade entre técnicas off-pump e on-pump, enquanto destacou a vantagem das técnicas menos invasivas na redução de complicações graves. Da mesma forma, Smith et al. (2021), com base em experiências multicêntricas em cirurgia robótica, identificou resultados consistentes em termos de segurança, eficácia e menor impacto no paciente.

A análise comparativa evidencia que as técnicas minimamente invasivas oferecem benefícios significativos em termos de recuperação mais rápida e redução de complicações, sem comprometer as taxas de sucesso. No entanto, a seleção criteriosa dos pacientes é essencial, considerando as limitações de algumas técnicas, como a robótica, em casos de anatomia coronariana complexa.

Em suma, as técnicas minimamente invasivas têm se mostrado equivalentes, ou até superiores, às tradicionais em vários aspectos clínicos, confirmando seu papel crescente na prática contemporânea da revascularização miocárdica. Esses avanços, conforme demonstrado por Lamy et al. (2018) e Smith et al. (2021), continuam a transformar o manejo da DAC, promovendo melhores resultados para os pacientes e menor impacto nos recursos de saúde.

  1. DISCUSSÃO

6.1. Avanços Tecnológicos: Benefícios das Novas Técnicas e Seu Impacto na Prática Clínica

Os avanços tecnológicos têm desempenhado um papel central na transformação das abordagens cirúrgicas para a doença arterial coronariana (DAC). A integração de sistemas robóticos, técnicas endoscópicas e intervenções híbridas oferece uma combinação de precisão, segurança e menor invasividade. Conforme destacado por Mack et al. (2019), a adoção de tecnologias inicialmente aplicadas em substituições valvares transcateter (TAVR) está abrindo caminho para inovações semelhantes em procedimentos de revascularização miocárdica, especialmente para pacientes de baixo risco cirúrgico. Estas inovações proporcionam benefícios como menor trauma tecidual, recuperação mais rápida e redução de complicações, aumentando a adesão do paciente ao tratamento e a sua qualidade de vida pós-operatória.

No contexto das práticas atuais, Head et al. (2019) ressaltam que o impacto das técnicas minimamente invasivas é amplificado pela incorporação de ferramentas avançadas, como imagens intraoperatórias em 3D e instrumentação robótica. Essas inovações permitem maior precisão no manuseio de estruturas anatômicas delicadas, resultando em melhores desfechos clínicos. Além disso, o uso de enxertos arteriais em abordagens minimamente invasivas, conforme observado por Taggart et al. (2019), tem demonstrado maior durabilidade e superioridade a longo prazo, particularmente em pacientes com anatomia coronariana favorável.

6.2. Desafios: Custos, Curva de Aprendizado e Limitações em Populações Específicas

Embora os avanços tecnológicos tenham impulsionado a evolução das técnicas cirúrgicas, desafios significativos permanecem. O custo elevado associado à aquisição e manutenção de sistemas robóticos e equipamentos especializados é uma barreira para a ampla implementação dessas tecnologias, especialmente em instituições com recursos limitados. Além disso, o treinamento necessário para dominar técnicas avançadas, como a cirurgia robótica, impõe uma curva de aprendizado considerável para equipes cirúrgicas, o que pode limitar sua adoção em larga escala.

Mack et al. (2019) apontam que, apesar de os procedimentos minimamente invasivos serem promissores para pacientes de baixo risco, a aplicabilidade em populações de alto risco ou com múltiplos vasos comprometidos ainda apresenta limitações. Além disso, Head et al. (2019) ressaltam que a heterogeneidade anatômica e a presença de comorbidades complexas podem restringir o uso dessas técnicas, exigindo uma seleção criteriosa dos pacientes.

6.3. Implicações para a Prática Clínica: Recomendação de Técnicas Baseadas no Perfil do Paciente

A personalização da escolha da técnica cirúrgica com base no perfil do paciente é essencial para otimizar os resultados clínicos. Procedimentos menos invasivos, como a cirurgia robótica ou híbrida, são mais adequados para pacientes jovens, com baixa carga de comorbidades e anatomia coronariana favorável. Para pacientes mais idosos ou com anatomia complexa, as técnicas tradicionais, como a esternotomia aberta, ainda podem ser a melhor opção, considerando a robustez da abordagem e a experiência consolidada das equipes.

Como enfatizado por Taggart et al. (2019), a escolha de enxertos arteriais duplos em procedimentos minimamente invasivos deve ser considerada em pacientes com expectativa de vida elevada, dado o benefício em termos de durabilidade e patência. Além disso, os dados de Head et al. (2019) sugerem que a abordagem híbrida pode ser ideal para pacientes com múltiplos vasos comprometidos, pois combina os benefícios da intervenção percutânea e da cirurgia minimamente invasiva, maximizando os resultados enquanto minimiza o impacto no paciente.

Os avanços tecnológicos transformaram o panorama das cirurgias cardíacas, oferecendo alternativas menos invasivas e mais eficazes para pacientes com DAC. Contudo, desafios relacionados a custos, treinamento e adequação ao perfil do paciente ainda limitam sua adoção em larga escala. A seleção criteriosa da técnica mais apropriada, embasada em estudos como os de Mack et al. (2019), Head et al. (2019) e Taggart et al. (2019), é fundamental para maximizar os benefícios das novas abordagens e garantir o melhor cuidado para cada paciente. O futuro das cirurgias minimamente invasivas dependerá não apenas do desenvolvimento tecnológico, mas também da implementação de estratégias que tornem essas inovações acessíveis e eficazes para uma população ampla e diversificada.

  1. CONCLUSÃO

Os avanços nas técnicas minimamente invasivas têm transformado o manejo da doença arterial coronariana (DAC), oferecendo alternativas inovadoras e eficazes às abordagens tradicionais. Essas técnicas, como cirurgia robótica, toracoscopia assistida por vídeo (VATS), e revascularização híbrida, destacam-se por seu impacto positivo nos resultados clínicos, proporcionando menores taxas de complicações, tempos de recuperação mais curtos e melhor qualidade de vida pós-operatória. Estudos como o de Smith et al. (2021) reforçam os benefícios dessas tecnologias, evidenciando sua capacidade de aliar precisão cirúrgica e segurança em um contexto minimamente invasivo.

A integração de avanços tecnológicos e novas terapias farmacológicas, conforme discutido por Alexander et al. (2018), também tem contribuído para otimizar os desfechos clínicos e ampliar as indicações para procedimentos minimamente invasivos. Além disso, a crescente adaptação das equipes cirúrgicas e a disponibilidade de infraestrutura tecnológica têm consolidado essas técnicas como uma escolha viável e eficaz para pacientes com DAC, especialmente aqueles que apresentam contraindicações ou preferências por abordagens menos invasivas.

Essas perspectivas apontam para um cenário em que as tecnologias minimamente invasivas se tornarão parte integrante da prática clínica, redefinindo o padrão de cuidado em DAC e proporcionando benefícios sustentáveis para pacientes e sistemas de saúde. Smith et al. (2021) e Alexander et al. (2018) reforçam que esses avanços não apenas melhoram os resultados clínicos imediatos, mas também oferecem um futuro promissor para o manejo dessa condição prevalente e de alto impacto.

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1 Graduanda em Medicina pela Unilago | 2 Graduanda em Medicina pela União das Faculdades dos Grandes Lagos | 3 Graduando em Medicina pela Universidad Central del Paraguay | 4 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil- UB | 5 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil | 6 Graduando em Medicina pela Universidade do Contestado – UnC | 7 Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Ceará | 8 Graduando em Medicina pela União das Faculdades dos Grandes Lagos | 9 Graduando em Medicina pela Unipê | 10 Graduanda em Medicina pela Unilago | 11 Graduanda em Medicina pela UnC – Universidade do Contestado Sede Mafra | 12 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 13 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil | 14 Graduando em Medicina pela União das Faculdades dos Grandes Lagos | 15 Graduando em Medicina pelo Centro Universitário de João Pessoa – Unipê1