AVANÇOS E DESAFIOS NO CONTROLE E PREVENÇÃO DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO

UPDATES IN SURGICAL SITE INFECTIONS: ADVANCES AND CHAL-LENGES IN CONTROL AND PREVENTION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12558846


Joana Carolina da Silva Pimentel1; Michael Lima de Albuquerque2; Marlon Negreiros de Holanda3; Madson Huilber da Silva Moraes4


Resumo

As Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) são complicações sérias que podem surgir após procedimentoscirúrgicos, manifestando-se na incisão durante um período que varia de 30 a 90 dias, dependendo da natureza da operação. Essas infecções estão associadas a um aumento na morbidade e mortalidade, além de custos significativos para os sistemas de saúde, refletindo a urgência em desenvolver estratégias eficazes de prevenção e controle. Este artigo de revisão sistemática foca em atualizações sobre ISC, destacando avanços e desafios associados ao controle e prevenção dessas complicações graves, bem como inovações tecnológicas. A revisão foi conduzida em bases de dados científicas selecionadas, adotando critérios rigorosos para garantir a relevância das informações, que foram categorizadas em eficácia das estratégias de prevenção, inovações tecnológicas e impacto desses avanços na redução da incidência de ISC. A análise destacou a complexidade etiológica das ISC, incluindo contaminação do local operatório e a influência de fatores de risco modificáveis, e reiterou a importância de abordagens multiprofissionais e adaptações locais nos protocolos de prevenção. Discussões sobre iniciativas como o programa “Cirurgias Seguras Salvam Vidas” da OMS e diretrizes da Anvisa e CDC foram incluídas, assim como considerações sobre a aplicação de tecnologias emergentes como luz ultravioleta e peróxido de hidrogênio. O estudo concluiu ressaltando a necessidade crítica de investimentos em infraestrutura de saúde, educação profissional e pesquisa clínica para avançar na prevenção de ISC, promovendo a segurança e o bem-estar do paciente de maneira sustentável e acessível globalmente.

Palavras-chave: Infecção do Sítio Cirúrgico. Controle de infecções. Período pós operatório. Inovações tecnológicas. Infecção de Ferida Pós-Operatória.

1 INTRODUÇÃO

Na prática médica contemporânea, a implementação de boas práticas de saúde é essencial para a prevenção de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS), que representam complicações significativas associadas à morbidade e mortalidade hospitalar. Essas infecções, resultantes de interações complexas entre o paciente, o agente patogênico e o ambiente de cuidado, podem ser substancialmente reduzidas através da adesão rigorosa a protocolos estabelecidos de controle de infecção (FACCIOLA et al., 2019). Dentre as diversas categorias de IRAS, as Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC) destacam-se como uma complicação importante, envolvendo infecções que ocorrem no local de uma intervenção cirúrgica. A prevenção das ISC é crucial, pois estas não apenas prolongam a estadia hospitalar e aumentam os custos com cuidados de saúde, mas também impõem riscos significativos à recuperação do paciente. Assim, a estratégia de combate a essas infecções envolve uma série de medidas, incluindo a esterilização adequada de instrumentos, a administração de antibióticos profiláticos e a manutenção de práticas de assepsia rigorosas antes, durante e após os procedimentos cirúrgicos (MENGISTU et al., 2023). 

As Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) constituem complicações graves que podem surgir após intervenções cirúrgicas, manifestando-se na incisão em um período de 30 a 90 dias, conforme a natureza da operação. Estas infecções estão associadas a uma gama de desfechos negativos, incluindo incremento na morbidade e mortalidade, necessidade de internação em unidades de terapia intensiva, extensão do período de internação hospitalar e taxas elevadas de readmissão, configurando-se como uma das infecções mais recorrentes relacionadas aos cuidados de saúde no período pós-operatório (MONAHAN et al., 2020). 

A severidade das ISC pode ser particularmente preocupante em cirurgias que envolvem a inserção de implantes protéticos, devido aos altos riscos de complicações de longo prazo e aos custos significativamente maiores associados (BAGCHI et al., 2020). A diversidade dos procedimentos cirúrgicos que requerem vigilância para ISC, abrangendo desde intervenções cardíacas e ortopédicas até procedimentos menos invasivos, sublinha a urgência de desenvolver estratégias de prevenção e controle altamente específicas e ajustadas ao tipo de cirurgia realizada, a fim de mitigar riscos e diminuir a prevalência dessas infecções potencialmente devastadoras (BRATZLER et al., 2013).

Na investigação das Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC), o entendimento dos agentes etiológicos envolvidos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento. Essas infecções são frequentemente causadas por uma variedade de patógenos, sendo os mais comuns os microrganismos gram-positivos, como Staphylococcus aureus, incluindo as cepas resistentes à meticilina (MRSA). Além disso, os organismos gramnegativos, como Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa, também são causadores significativos de ISC, particularmente em procedimentos que envolvem o trato gastrointestinal ou geniturinário. Fungos, como Candida spp., embora menos comuns, representam uma preocupação crescente, especialmente em pacientes imunocomprometidos ou aqueles submetidos a intervenções longas e complexas (SRIUSHASWINI et al., 2022). A identificação precisa desses agentes patogênicos e a compreensão de suas vias de transmissão são cruciais para orientar as práticas de controle de infecção e a seleção de terapias antimicrobianas adequadas, minimizando assim o risco de ISC e melhorando os resultados clínicos dos pacientes (WORKU et al., 2023). 

A incidência de ISC é exacerbada por uma interação complexa de múltiplos fatores, incluindo a contaminação do local operatório por diversos organismos, a administração de profilaxia antimicrobiana, o estado de saúde do paciente e a técnica cirúrgica empregada. Adicionalmente, fatores de risco associados ao paciente, como tabagismo, idade avançada, patologias vasculares, obesidade, desnutrição, diabetes e o uso de terapia imunossupressora, são determinantes para a cicatrização de feridas e podem aumentar significativamente a probabilidade de desenvolvimento de ISC (FRY, 2019; TRIANTAFYLLOPOULOS et al., 2015).

A condição é especialmente prevalente em países de renda média a baixa, onde as limitações de recursos e a acumulação de fatores de risco, como a ausência de profilaxia antimicrobiana e a alta incidência de cirurgias emergenciais, são desafios constantes. Nos Estados Unidos, estima-se que entre 2 a 4% dos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos anualmente desenvolvem ISC, com variações notáveis entre procedimentos considerados limpos e aqueles contaminados ou sujos, demandando uma atenção especial às práticas de controle de infecção (BERRÍOS-TORRES et al., 2017; NIHR GLOBAL RESEARCH HEALTH UNIT ON GLOBAL SURGERY, 2021). No Brasil, a estimativa de desenvolvimento de Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC) é uma questão relevante para o sistema de saúde, dado o impacto significativo dessas infecções na segurança do paciente e nos custos hospitalares. Embora as taxas específicas de ISC possam variar de acordo com o tipo de cirurgia e as práticas de controle de infecção de cada instituição, estudos indicam que essas infecções ocorrem em aproximadamente 1% a 3% dos pacientes submetidos a cirurgias em ambiente hospitalar. A prevenção dessas infecções é possível através da aplicação de diretrizes baseadas em evidências, que podem prevenir até 60% dos casos (CALDERWOOD et al., 2023). Essas informações sublinham a necessidade de práticas rigorosas de prevenção e controle de infecções para minimizar a incidência de ISC nos centros de saúde.

A antibioticoprofilaxia cirúrgica é uma prática clínica crucial projetada para reduzir a incidência de Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC). Este procedimento envolve a administração de antibióticos antes, durante e, em alguns casos, após uma intervenção cirúrgica para prevenir infecções que podem ser introduzidas durante o ato operatório. A escolha do antibiótico, o timing da administração e a duração do tratamento dependem do tipo de cirurgia, dos microrganismos esperados, das condições do paciente e das diretrizes específicas de cada instituição de saúde (DHOLE et al., 2023). Idealmente, o antibiótico deve ser administrado de forma que as concentrações sanguíneas e nos tecidos sejam ótimas no momento da incisão e durante a cirurgia. A antibioticoprofilaxia tem sido comprovada por estudos para diminuir significativamente o risco de ISC, especialmente em procedimentos classificados como limpocontaminados, contaminados ou sujos. Portanto, a aplicação criteriosa dessa prática é essencial para melhorar os resultados pós-operatórios e reduzir o fardo das infecções hospitalares (PURBA et al., 2018; DHOLE et al., 2023).

Além disso, o volume de procedimentos cirúrgicos executados por uma instituição pode influenciar as taxas de ISC, sendo observada uma redução na incidência de infecções em hospitais de maior volume em comparação com aqueles de menor volume (ANDERSON et al., 2014). O impacto de uma ISC transcende os aspectos físicos, afetando significativamente a qualidade de vida dos pacientes e elevando a ansiedade durante o período de convalescença, especialmente após a alta hospitalar, quando os pacientes passam a gerir de forma autônoma o cuidado de suas feridas (SHAH et al., 2017).  

A classificação das feridas cirúrgicas é uma ferramenta essencial para avaliar o risco de Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC). As feridas são categorizadas com base na contaminação microbiana observada ou esperada durante o procedimento cirúrgico. Existem quatro categorias principais: feridas limpas, feridas limpo-contaminadas, feridas contaminadas e feridas sujas ou infectadas. Feridas limpas são aquelas não expostas a tratos orgânicos normalmente colonizados por bactérias, apresentando baixo risco de ISC. Feridas limpo-contaminadas envolvem uma exposição controlada a tais tratos, com risco ligeiramente maior. Feridas contaminadas são expostas a uma contaminação grossa, aumentando consideravelmente o risco de ISC. Por fim, feridas sujas ou infectadas já apresentam evidência de infecção no momento da cirurgia, portanto, o risco de desenvolvimento adicional de ISC é elevado (ABUIHMOUD et al., 2018). A precisão na classificação das feridas é crítica para a implementação de estratégias adequadas de prevenção de infecções, que devem ser adaptadas ao nível de risco associado a cada tipo de ferida.

Neste contexto, a presente revisão de literatura se propõe a analisar de forma abrangente as estratégias, desafios e inovações tecnológicas atinentes à prevenção e controle de ISC. O estudo objetiva sintetizar práticas e protocolos eficazes para redução da incidência de ISC, identificar os obstáculos enfrentados pelos sistemas de saúde, como a variabilidade nas práticas e limitações de recursos, e avaliar o impacto das novas tecnologias na melhoria dos resultados cirúrgicos e na diminuição das taxas de infecção, visando oferecer uma perspectiva consolidada que possa direcionar aprimoramentos nas intervenções e políticas de saúde, promovendo uma segurança elevada para os pacientes.

2 METODOLOGIA 

Este trabalho consiste em uma revisão narrativa da literatura, focada nos desenvolvimentos recentes e desafios associados à prevenção e controle das Infecções do Sítio Cirúrgico. Procedeu-se a uma busca estruturada nas principais bases de dados científicas, como National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Google Acadêmico e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), empregando-se descritores como “Infecções do Sítio Cirúrgico”, “Controle de infecções do sítio cirúrgico”, ‘’Período pós-operatório, Inovações tecnológicas; Infecção de Ferida Pós-Operatória.

Os critérios de inclusão abrangeram artigos em inglês e português que reportavam avanços recentes na implementação de novas tecnologias e métodos de controle de ISC, incluindo investigações sobre novos protocolos de profilaxia, eficácia de técnicas emergentes e abordagens integrativas para aprimorar a aderência às práticas preventivas. Foram excluídos da análise, artigos que não apresentavam dados empíricos, revisões narrativas sem foco específico em avanços recentes, estudos sem revisão por pares, relatórios de casos isolados e publicações ultrapassadas, para assegurar a relevância e atualidade das informações. A análise dos dados foi conduzida através de uma abordagem narrativa, estruturando as informações em categorias principais, tais como a eficácia das estratégias de prevenção, inovações tecnológicas no controle de ISC, métodos para incrementar a aderência às práticas preventivas e o impacto desses avanços na redução da incidência de ISC. 

Na seleção e organização dos artigos para o trabalho, adotou-se uma metodologia criteriosa com o objetivo de garantir a integridade e relevância dos dados analisados. Inicialmente, procedeu-se à busca de artigos em bases de dados reconhecidas, filtrando as publicações conforme o título, ano de publicação e metodologia empregada. Priorizaram-se trabalhos publicados recentemente para assegurar a atualidade das informações. Cada título foi analisado para determinar sua pertinência ao tema de estudo, com especial atenção àqueles que apresentavam metodologias de revisão sistemática e pesquisas quantitativas, dado o rigor metodológico e a amplitude de análise que esses formatos oferecem.

Posteriormente, organizou-se os artigos selecionados em uma matriz, categorizando-os por ano de publicação e detalhando sua metodologia específica. Esse processo permitiu uma visão clara da evolução do tema ao longo do tempo e das diversas abordagens metodológicas adotadas. Tal organização facilitou a identificação de lacunas de pesquisa existentes e proporcionou uma base sólida para a síntese e análise dos dados coletados, culminando em uma revisão abrangente e coesa das literaturas pertinentes ao estudo em questão.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A revisão da literatura científica identificou inicialmente 20 artigos relevantes. Após uma leitura criteriosa dos títulos e resumos, publicações não diretamente relacionadas ao tema foram excluídas, resultando em uma seleção final de 11 artigos. Esses estudos, publicados entre 2012 e 2024, foram escolhidos por estarem alinhados aos objetivos e critérios de inclusão desta investigação. Para a coleta de dados, foram consultados diversos bancos de informação acadêmica, resultando na seleção de artigos provenientes de várias fontes: dois artigos foram acessados via Scielo, quatro através do PubMed, dois pelo BVS, e os demais distribuídos entre a revista Research, Society And Development (Res., Soc. Dev.), e a Revista Científica Multidisciplinar (RECIMA21) consultadas através do Google Acadêmico.

Quanto à distribuição temporal dos estudos selecionados, observou-se que um artigo (10%) foi publicado em cada um dos anos 2012, 2014, 2016, 2018 e 2022. O ano de 2020 destacou-se com quatro publicações (40%), enquanto os anos de 2023 e 2024 contaram cada um com uma publicação (10%). Os critérios de seleção dos artigos incluíram a relevância dos objetivos abordados, a robustez dos métodos empregados, e a relevância dos resultados obtidos, facilitando assim a discussão e análise das informações pertinentes ao estudo em questão.

Este estudo analisou o impacto econômico das Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) em países de baixa e média renda em relação aos países europeus de alta renda. Observou-se que os custos adicionais associados às ISC são comparáveis nos dois contextos, variando de US$ 174 a US$ 29.610 em países de baixa e média renda e de US$ 21 a US$ 34.000 em países europeus. Contudo, a diversidade nos métodos dos estudos impacta a comparabilidade dos dados. A análise ressalta o significativo ônus econômico das ISC, que varia conforme diversos fatores como a definição de ISC, sua gravidade, a população estudada, e o ambiente hospitalar. A necessidade de adoção de métodos padronizados em estudos multicêntricos para avaliar os custos e consequências dessas infecções é enfatizada (Monahan et al., 2020).

Em outro estudo realizado em hospitais do Rio de Janeiro, foi identificada uma incidência de 3,5% de eventos adversos cirúrgicos entre pacientes internados, com uma taxa de 5,9% entre os pacientes submetidos a cirurgias. Surpreendentemente, 68,3% desses eventos foram considerados evitáveis, e aproximadamente 20% dos afetados sofreram incapacidade permanente ou óbito. O estudo destaca a necessidade de implementar medidas rigorosas de segurança e monitoramento eficaz para prevenir e mitigar esses eventos (Moura; Mendes, 2012).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) elaborou um documento detalhado sobre medidas preventivas contra infecções relacionadas à assistência à saúde, destacando a importância do manejo apropriado de cateteres. Este documento enfatiza o uso de sistemas de lock com antissépticos ou antimicrobianos para os dispositivos de longa duração e discute a importância de manter uma rigorosa higiene e cuidado no manuseio de equipamentos intravenosos para evitar infecções da corrente sanguínea. Também aborda estratégias para a manutenção de sistemas de infusão e a importância crítica da higienização das mãos.

A World Health Organization (WHO) em 2018, desenvolveu um guia detalhado para a vigilância de infecções do sítio cirúrgico, com ênfase especial em contextos de recursos limitados. Este guia promove uma abordagem multimodal para a prevenção dessas infecções, incluindo mudanças sistêmicas, educação, treinamento, monitoramento e feedback de dados, além de mudanças culturais. Sublinha-se que a vigilância das infecções é um componente essencial dos programas de prevenção e controle, e que a adoção de medidas preventivas adequadas, como a preparação antisséptica das mãos e o uso correto de antibióticos, é fundamental para reduzir a incidência de tais infecções.

Em 2019 por meio de um estudo, foram exploradas as práticas de prevenção e controle de Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC) em hospitais de grande porte em Minas Gerais, seguindo as diretrizes do Programa “Cirurgias Seguras Salvam Vidas” da WHO. Os resultados indicaram que, embora a maioria dos hospitais adote protocolos para a prescrição de antibióticos profiláticos e mantenha a esterilidade dos materiais, a adesão plena às medidas recomendadas é baixa, com apenas 3,3% das instituições cumprindo integralmente. A maioria dos hospitais apresentou adesão parcial, ressaltando a necessidade urgente de reforçar a conformidade com as práticas de segurança para melhorar a segurança do paciente cirúrgico (ARAÚJO, 2019).

Em outra análise, uma revisão integrativa conduzida por uma equipe de enfermagem em hospitais investigou estratégias de prevenção de ISC de 2018 a 2023, examinando 14 artigos e 7 diretrizes. Esta revisão sublinhou a importância de implementar protocolos e checklists padronizados, além de enfatizar a educação em saúde como métodos essenciais para reduzir as incidências de ISC. A revisão também destacou a necessidade de investimento contínuo em novas tecnologias e materiais cirúrgicos para avançar na prevenção de ISC (SANTOS et al., 2022).

Houve ainda, a validação de um checklist cirúrgico proposto pela WHO, que após a adaptação e avaliação rigorosa por especialistas, demonstrou eficácia após ajustes significativos. Este checklist validado agora serve como uma ferramenta importante para aumentar a segurança dos pacientes e reduzir as taxas de ISC, com potencial para aplicação global em práticas cirúrgicas (ROSCANI et al., 2015). 

Em 2023 foi analisada a implementação de um projeto de melhoria para reduzir ISC em um hospital universitário, utilizando um conjunto de medidas preventivas. A análise de dados de 2018 a 2020 revelou uma diminuição nas taxas de ISC com a adesão ao checklist de cirurgia segura, embora os desafios da pandemia de COVID-19 em 2020 tenham impactado negativamente esses resultados. O estudo enfatiza a importância de manter estratégias de prevenção robustas e contínuas para garantir um ambiente seguro e reduzir as infecções (XAVIER et al.,2023).  

Um artigo recente discute a importância do rastreamento e descolonização de Staphylococcus aureus antes de cirurgias para prevenir infecções do sítio cirúrgico (ISC). Destaca-se que o S. aureus, tanto na forma sensível a meticiclina quanto Staphylococcus aureus resistente a meticiclina (MRSA), é um agente comum dessas infecções, cuja epidemiologia está evoluindo devido à resistência ao mupirocina e à emergência de novos clones. O estudo salienta que o rastreamento pré-operatório seguido de descolonização pode significativamente reduzir as ISC e diminuir o tempo de internação hospitalar, especialmente em cirurgias limpas maiores. No entanto, ressalva a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e educacional mais ampla para otimizar essas práticas (HUMPHREYS et al., 2016).

Foram aplicados protocolos de higiene e descolonização, analisando a para prevenir infecções recorrentes de pele e tecidos moles por Staphylococcus aureus em crianças.

Revelando assim, que apesar de altas taxas de colonização, as estratégias de descolonização, incluindo o uso de mupirocina e banhos antissépticos, mostraram eficácia variável, indicando que enquanto a descolonização pode reduzir a colonização, seu impacto em prevenir infecções é limitado e comparável apenas às práticas de higiene padrão. Este achado sugere que intervenções rigorosas podem ser benéficas, mas são necessárias mais pesquisas para aprimorar estas estratégias preventivas (CANE; POSFAY-BARBE; PITTET, 2024).

Além disso, foi avaliada a aplicação da profilaxia antimicrobiana em cirurgias limpas num hospital universitário brasileiro, observando que uma grande porcentagem de pacientes recebeu antibióticos de maneira inapropriada, seja em tempo ou dosagem, levando a uma taxa de ISC de 10%. Este resultado sublinha a necessidade urgente de revisão e aderência mais estrita às diretrizes de profilaxia para melhorar os resultados dos pacientes (GEBRIM et al. 2014).

Já em relação às Infecções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) investigadas em hospitais europeus, destacou-se a alta incidência de pneumonia e infecções do sítio cirúrgico. A análise sugere que intervenções preventivas e estratégias de controle são essenciais para reduzir a prevalência dessas infecções, enfatizando a importância de práticas baseadas em evidências (MOHAMMED; MUSSE, 2020).

Um estudo analisou o uso de campos adesivos impregnados com iodo na prevenção de ISC em cirurgias da coluna. Apesar do uso desses campos, não houve redução significativa nas taxas de ISC, embora tenham contribuído para reduzir o tempo de internação e os custos associados. Este resultado aponta para a necessidade de revisão das práticas de prevenção de ISC, particularmente em procedimentos ortopédicos (KRUMMENAUER et al., 2021).

3.1 Estratégias de prevenção e controle

Em virtude do impacto significativo das ISC na morbidade e mortalidade dos pacientes, bem como dos custos adicionais expressivos para os sistemas e seguros de saúde, é imperativa uma avaliação contínua dos métodos de prevenção e controle que visam mitigar eventos adversos nas fases pré, intra e pós-operatórias. Avaliar a eficácia de cada estratégia permite implementar melhorias que garantam maior segurança ao paciente (MONAHAN et al., 2020). É reconhecido que fatores de risco modificáveis, tanto relacionados ao paciente quanto ao ambiente, influenciam o desenvolvimento de ISC. Estudos indicam que a aplicação efetiva de medidas de prevenção e controle poderia evitar aproximadamente 67% dos eventos adversos associados aos procedimentos cirúrgicos (MOURA; MENDES, 2012).

Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde iniciou em 2008 o programa “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”, com o objetivo de reduzir em 25% a taxa de incidência de ISC até 2020. Esta iniciativa visa fornecer às equipes hospitalares informações sobre padrões de segurança cirúrgica e estabelecer protocolos que podem ser globalmente adotados, incluindo um “checklist de segurança cirúrgica” para uso em salas de operação e para disseminação em hospitais ao redor do mundo. Além disso, as diretrizes abordam os contextos pré, peri e pós-operatório, sugerindo a participação de equipes multiprofissionais e considerando os protocolos locais, disponibilidade de recursos e a documentação completa da assistência prestada (ARAÚJO, 2019).

Adicionalmente, a Anvisa segue recomendações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e foca no controle dos fatores de riscos modificáveis, conforme também sugerido pela Association of Perioperative Registered Nurses (AORN). Estas diretrizes sublinham a importância de uma boa infraestrutura, manutenção das técnicas de assepsia adequadas e limpeza do ambiente. Sobre o banho pré-operatório, ele deve ser feito com água e sabão neutro ou combinado com um antisséptico, conforme recomendado pela Anvisa e WHO, com a AORN aconselhando dois banhos, um na véspera e outro na manhã da cirurgia (ANVISA, 2017; WHO, 2018; ARAÚJO, 2019).

Outras práticas recomendadas incluem a investigação de contaminação nasal por Staphylococcus aureus e, se positivo, a descontaminação com mupirocina tópica durante cinco dias antes do procedimento cirúrgico. A tricotomia deve ser realizada com cuidado, usando tricotomizador elétrico apenas quando necessário, e a WHO permite o uso de tesouras para este fim. A AORN enfatiza a necessidade de trocar a lâmina do tricotomizador a cada novo procedimento e realizar a tricotomia fora da sala de cirurgia para evitar contaminação cruzada (ARAÚJO, 2019). A antibioticoprofilaxia cirúrgica intravenosa deve ser administrada durante a indução anestésica e até 60 minutos antes da incisão cirúrgica, para maximizar sua eficácia contra infecções patogênicas no local da incisão (SANTOS et al., 2024).

3.2 Desafios na prevenção e controle

Embora existam múltiplas orientações, diretrizes e protocolos estabelecidos, as taxas de incidência das ISC permanecem significativas. É notório que as estratégias de prevenção e controle dessas intercorrências não são completamente implementadas na prática clínica, enfrentando-se dificuldades na instauração das medidas necessárias nos períodos pré, intra e pós-operatório (WHO, 2018). Ademais, o checklist de segurança cirúrgica proposto pela WHO necessita de adaptações conforme a realidade e condições de cada localidade (ROSCANI et al., 2015). 

Sua eficácia foi corroborada por um estudo realizado entre 2019 e 2020 em um hospital universitário, que evidenciou uma redução na taxa de ISC com a adesão ao protocolo. No entanto, observou-se um aumento nas taxas durante a pandemia, indicando a dificuldade em sustentar a aplicação das orientações e medidas preventivas contra ISC (XAVIER et al., 2023).

Nos países de baixa e média renda, um dos principais desafios é a escassez de investimentos e recursos adequados para a saúde, o que impacta diretamente a implementação eficaz das medidas de prevenção de ISC. Apesar da disponibilidade de protocolos apropriados, persistem falhas significativas na sua execução, resultando em altas taxas de incidência de ISC nesses locais (SANTOS et al., 2022). Tal contexto sublinha a importância dos investimentos governamentais em saúde, refletindo diretamente na qualidade do atendimento prestado aos pacientes (ARAÚJO, 2019).

É crucial reconhecer que as infecções se relacionam intensamente com o aumento da seleção de patógenos resistentes, fenômeno exacerbado pelo uso indiscriminado de antibióticos em profilaxias cirúrgicas e práticas inadequadas de prevenção e controle de infecções (HUMPHREYS et al., 2016). Cerca de 80% das ISC têm origem endógena, com o Staphylococcus aureus sendo frequentemente o agente isolado. A relevância epidemiológica deste microrganismo está em transformação devido à propagação de novos clones e ao surgimento de resistência ao antibiótico mupirocina, comumente utilizado contra estas bactérias (CANE; POSFAY-BARBE; PITTET, 2024).

Ademais, a eficácia das políticas preventivas depende substancialmente do conhecimento e preparo dos profissionais de saúde. O uso incorreto de antibióticos profiláticos cirúrgicos não só coloca os pacientes em risco, mas também contribui para a seleção de patógenos resistentes e o desenvolvimento de ISC. Portanto, tais desafios podem ser mitigados por meio de iniciativas educativas dirigidas às equipes hospitalares sobre o uso racional da antibioticoprofilaxia (GEBRIM et al., 2014).

3.4 Inovações tecnológicas

O interesse em tecnologias e novas pesquisas que contribuam para a prevenção de ISC tem aumentado significativamente nas discussões científicas, impulsionado pelo crescimento das taxas de mortalidade associadas a infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Esse cenário tem estimulado a busca por inovações que possam complementar os programas de prevenção já existentes, refletindo a urgência em encontrar soluções eficazes (MOHAMMED; MUSSE, 2020; COSTA et al., 2020).  

No entanto, o desenvolvimento de tecnologias de suporte para a prevenção de ISC é complexo, considerando a etiologia multifatorial dessas infecções (KRUMMENAUER et al., 2020). Pesquisas recentes avaliaram a eficácia de máquinas emissoras de luz ultravioleta e peróxido de hidrogênio na desinfecção de salas cirúrgicas, revelando um potencial para reduzir a colonização ou infecções nos pacientes internados quando utilizadas nas salas de operação. Contudo, permanecem incertezas sobre o custo-benefício dessas tecnologias, já que é necessário demonstrar não apenas eficiência em minimizar complicações, mas também viabilidade econômica (COSTA et al., 2020).

Um estudo realizado no Sul do Brasil examinou o uso de campos adesivos impregnados com iodo, identificando que, embora os custos com complicações tenham sido menores nos pacientes que utilizaram essa ferramenta, não foram encontradas associações estatisticamente relevantes com a diminuição das ISC. Além disso, verificou-se a ineficácia da antibioticoprofilaxia tópica como complemento ao regime intravenoso previamente implementado (KRUMMENAUER et al., 2020). 

Estudos subsequentes envolvendo o uso de esponjas de colágeno impregnadas com gentamicina aplicadas sobre a fáscia no momento do fechamento da incisão cirúrgica demonstraram que a incidência de ISC foi relativamente maior nos pacientes que receberam esse tratamento inovador. Esses resultados sublinham a complexidade e os desafios no desenvolvimento e implementação de novas tecnologias na prevenção de ISC, destacando a necessidade de avaliações rigorosas quanto à eficácia e ao impacto econômico antes de sua adoção em larga escala (COSTA et al., 2020). 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão de literatura abordada neste estudo destaca os desafios persistentes e as estratégias inovadoras na prevenção e controle das Infecções do Sítio Cirúrgico (ISC). A evidência acumulada sugere que, apesar dos avanços significativos na adoção de protocolos de prevenção, a incidência de ISC permanece preocupante, implicando necessidade de aprimoramento contínuo nas práticas de saúde. O impacto econômico substancial dessas infecções, tanto em países de baixa e média renda quanto em nações desenvolvidas, reforça a urgência de implementações mais efetivas e abrangentes que possam mitigar os custos associados e melhorar os desfechos clínicos.

Fica claro que a adesão rigorosa às diretrizes estabelecidas, como a antibioticoprofilaxia cirúrgica e a higienização, é fundamental, porém insuficiente isoladamente. A variabilidade nas práticas, a diversidade dos contextos clínicos e as limitações de recursos impõem barreiras significativas que exigem soluções personalizadas e adaptadas às realidades locais. Portanto, é essencial que as estratégias de prevenção e controle sejam flexíveis e adaptáveis, permitindo ajustes conforme as especificidades de cada ambiente hospitalar e população.

Os resultados também apontam para a importância da inovação tecnológica e da integração de novas práticas, como o uso de checklists cirúrgicos e a vigilância contínua de ISC, para fortalecer as medidas de prevenção. A colaboração multidisciplinar, envolvendo cirurgiões, enfermeiros, microbiologistas e gestores de saúde, emerge como um pilar central para o sucesso dessas intervenções, destacando-se a necessidade de formação contínua e de uma cultura de segurança do paciente que permeie todos os níveis de cuidado.

Além disso, o estudo enfatiza a necessidade de mais pesquisas que foquem não apenas nas práticas de prevenção, mas também na análise detalhada dos determinantes de risco associados ao desenvolvimento de ISC. Entender mais profundamente como fatores como a duração das cirurgias, as condições pré-existentes dos pacientes e os procedimentos específicos contribuem para o risco de ISC pode levar a estratégias mais direcionadas e eficazes.

Em suma, enquanto progressos são evidentes, os dados coletados reforçam a necessidade de um compromisso contínuo com a excelência em práticas cirúrgicas e com a segurança do paciente. A redução sustentável da incidência de ISC será alcançada através da harmonização entre conhecimento científico, tecnologia avançada e uma abordagem humana e compreensiva que considere as complexidades de cada caso e cada contexto operatório. Assim, promoverá um ambiente cirúrgico mais seguro e uma recuperação mais eficaz e livre de complicações para os pacientes.

REFERÊNCIAS

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1Discente do curso de medicina no Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos- ITPAC Cruzeiro do Sul.
joanacpimentell@gmail.com

2Discente do curso de medicina no Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos- ITPAC Cruzeiro do Sul.
michaelalbuquerque@hotmail.com

3Mestre em Ciências da Saúde- Faculdade de Medicina do ABC- FMABC
marlonholanda@hotmail.com

4Docente do curso de medicina- ITPAC, Mestre em Ciências da Saúde (UFAC)
madson.moraes@cruzeirodosul.itpac.br