AVANÇOS CLÍNICOS NO USO DE PSICODÉLICOS PARA TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

CLINICAL ADVANCES IN THE USE OF PSYCHEDELICS FOR PSYCHIATRIC DISORDERS: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408151406


Alberto da Silva Almeida Junior1; Carlos Paulo da Silva2; Clara Martin Guilherme Guerzoni3; Ederaldo de Paula Oliveira4; Edis Rodrigues Junior5; Guilherme Ribeiro Jorge Mesquita6; Higor Ruan de Souza Rosa7; Izabela Christina Magalhães Malta Dionisio8; Janaina Luiza Thomé9; Karine Lis Rodrigues Luz10; Kayra D’ Kamilla Correa de Melo Batista11; Suellen Tavares Borges12; Tânia Martin Guilherme13; Vinícius Domingues Dias14; Weverson Ferreira Tavares15


RESUMO

A revisão integrativa explora o uso de psicodélicos na psiquiatria, abordando seu histórico, renascimento recente, e a eficácia clínica para tratar transtornos psiquiátricos como depressão, PTSD e ansiedade. Inicialmente, o uso terapêutico de psicodélicos foi promissor nas décadas de 1950 e 1970, mas foi reduzido devido a políticas restritivas e estigmatização. No entanto, um renascimento do interesse clínico foi impulsionado por novas pesquisas e mudanças na percepção pública, destacando a potencial eficácia dos psicodélicos em comparação com tratamentos tradicionais que frequentemente são ineficazes ou têm efeitos colaterais significativos. A revisão discute os mecanismos de ação e neuroplasticidade induzida por psicodélicos, as abordagens terapêuticas integrativas, e os riscos e desafios éticos associados. O futuro das terapias psicodélicas é prometedor, com avanços na pesquisa e mudanças regulatórias potencialmente ampliando suas aplicações na prática clínica. A revisão conclui com uma reflexão sobre as implicações para a prática clínica e sugere áreas para pesquisas futuras.

Palavras-chave: Psicodélicos, Psiquiatria, Terapias Psicodélicas, Neuroplasticidade, Transtornos Psiquiátricos, Mecanismos de Ação.

ABSTRACT

This integrative review explores the use of psychedelics in psychiatry, focusing on their historical context, recent resurgence, and clinical efficacy in treating psychiatric disorders such as depression, PTSD, and anxiety. Initially, psychedelic therapies showed promise in the 1950s and 1970s but were diminished due to restrictive policies and stigma. However, a resurgence in clinical interest has been driven by new research and changing public perceptions, highlighting the potential effectiveness of psychedelics compared to traditional treatments, which are often ineffective or have significant side effects. The review discusses the mechanisms of action and neuroplasticity induced by psychedelics, integrative therapeutic approaches, and the associated risks and ethical challenges. The future of psychedelic therapies appears promising, with advancements in research and regulatory changes potentially expanding their clinical applications. The review concludes with a reflection on clinical practice implications and suggestions for future research areas.

Keywords: Psychedelics, Psychiatry, Psychedelic Therapies, Neuroplasticity, Psychiatric Disorders, Mechanisms of Action.

1. INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicodélicas na psiquiatria remonta às décadas de 1950 e 1960, quando compostos como LSD e psilocibina começaram a ser investigados por seu potencial terapêutico em transtornos mentais. Durante esse período, pesquisas iniciais sugeriam que essas substâncias poderiam ter efeitos positivos em pacientes com depressão, ansiedade e dependência química, promovendo estados de consciência alterados que facilitavam a introspecção e a resolução de conflitos emocionais. Contudo, com a crescente associação dos psicodélicos à contracultura e à experimentação recreativa, as substâncias foram rapidamente estigmatizadas, resultando em uma proibição generalizada e no encerramento prematuro de muitos estudos promissores.

Esse estigma persistiu por várias décadas, levando ao abandono quase completo da pesquisa clínica com psicodélicos. Entretanto, nas últimas duas décadas, houve um renascimento significativo do interesse científico e médico por essas substâncias. Novos estudos têm reavaliado o potencial terapêutico dos psicodélicos, agora sob uma lente mais rigorosa e controlada. Ensaios clínicos recentes têm demonstrado que, quando administrados em contextos terapêuticos seguros e supervisionados, psicodélicos como psilocibina, MDMA e cetamina podem ser eficazes no tratamento de condições psiquiátricas resistentes, como depressão grave, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e ansiedade associada a doenças terminais.

A importância do tema para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas na psiquiatria é inegável. Muitos tratamentos convencionais, embora eficazes para uma parcela significativa da população, apresentam limitações substanciais, como efeitos colaterais adversos, baixa aderência e, em alguns casos, eficácia limitada, particularmente em pacientes com transtornos refratários. Os psicodélicos emergem como uma alternativa promissora, oferecendo não apenas uma nova classe de tratamentos, mas também uma abordagem radicalmente diferente, que visa tratar a raiz dos transtornos mentais por meio da modulação profunda da consciência e da neuroplasticidade.

Portanto, a revisão integrativa aqui apresentada tem como objetivo explorar e discutir os avanços clínicos no uso de psicodélicos para o tratamento de transtornos psiquiátricos. Este trabalho buscará sintetizar as evidências disponíveis, destacando os mecanismos de ação, os benefícios terapêuticos, as abordagens clínicas e os desafios éticos e práticos envolvidos. Ao fornecer uma visão abrangente e atualizada sobre o tema, pretende-se contribuir para a compreensão do papel dos psicodélicos na psiquiatria moderna e suas potenciais implicações para a prática clínica futura.

2. HISTÓRICO E RENASCIMENTO DA TERAPIA PSICODÉLICA

Nas décadas de 1950 e 1960, o uso de substâncias psicodélicas como o LSD e a psilocibina ganhou destaque na psiquiatria como uma promissora abordagem terapêutica. Durante esse período, pesquisadores exploraram o potencial dessas substâncias para tratar uma variedade de transtornos mentais, incluindo depressão, ansiedade, esquizofrenia e dependência química. Os psicodélicos eram vistos como ferramentas valiosas para promover estados alterados de consciência que poderiam facilitar a introspecção profunda e a resolução de traumas psíquicos. Trabalhos clínicos e experimentais dessa época indicavam que, quando usados em ambientes controlados e com orientação adequada, os psicodélicos poderiam induzir experiências transformadoras, com benefícios terapêuticos duradouros.

No entanto, o cenário começou a mudar drasticamente no final dos anos 1960, quando o uso recreativo e não supervisionado dessas substâncias se espalhou, principalmente entre movimentos contraculturais. Esse uso desenfreado, aliado à crescente preocupação com a segurança e os efeitos colaterais potenciais, levou à imposição de políticas restritivas por parte de governos ao redor do mundo. Em 1970, a promulgação da Lei de Substâncias Controladas nos Estados Unidos, que classificou os psicodélicos como substâncias de alto potencial de abuso e sem uso medicinal reconhecido, marcou o início de um longo período de estagnação na pesquisa sobre esses compostos. O estigma associado ao uso de psicodélicos como drogas perigosas e sem valor terapêutico consolidou-se, interrompendo abruptamente as investigações científicas e banindo praticamente todas as iniciativas de pesquisa clínica por várias décadas.

No entanto, nas últimas duas décadas, assistimos a um renascimento significativo do interesse científico e clínico nos psicodélicos, impulsionado por novas descobertas e pela reavaliação de seus potenciais terapêuticos. Estudos contemporâneos têm investigado os efeitos de substâncias como psilocibina, MDMA e cetamina em contextos terapêuticos rigorosamente controlados, demonstrando seu valor no tratamento de transtornos mentais resistentes a outras formas de intervenção. Esse renascimento tem sido facilitado por uma mudança gradual na percepção pública e acadêmica, que agora vê os psicodélicos não apenas como alucinógenos recreativos, mas como possíveis intervenções terapêuticas revolucionárias.

Pesquisas recentes, como as de Carhart-Harris e Goodwin (2017), têm destacado o potencial terapêutico dos psicodélicos, argumentando que essas substâncias, quando usadas de maneira adequada, podem ser uma adição valiosa ao arsenal psiquiátrico moderno. Eles revisitam o potencial dos psicodélicos em tratar transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, à luz de novas evidências científicas. Da mesma forma, Vollenweider e Preller (2020) discutem a neurobiologia dos psicodélicos e como seus efeitos na plasticidade neural e na modulação da rede de modo padrão do cérebro podem ser a chave para seus benefícios terapêuticos. Já Santos e Medeiros (2021) realizam uma revisão integrativa da literatura, explorando o renascimento da terapia psicodélica e seus impactos potenciais na psiquiatria contemporânea, destacando a necessidade de mais estudos para validar esses tratamentos em larga escala e em diferentes populações clínicas.

Esses estudos coletivamente reforçam a ideia de que estamos diante de uma nova era na psiquiatria, na qual os psicodélicos, uma vez banidos e desacreditados, ressurgem como candidatos promissores para o tratamento de condições mentais complexas e refratárias.

3. EVIDÊNCIAS CLÍNICAS SOBRE O USO DE PSICODÉLICOS PARA TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS

Nos últimos anos, um corpo significativo de evidências clínicas emergiu, demonstrando o potencial dos psicodélicos no tratamento de transtornos psiquiátricos que, frequentemente, são refratários aos tratamentos convencionais. Este renascimento no interesse científico tem levado à realização de ensaios clínicos rigorosos, nos quais substâncias como psilocibina, LSD, MDMA e cetamina têm sido investigadas por sua capacidade de aliviar sintomas de depressão, transtorno de estresse pós-traumático (PTSD) e ansiedade, entre outros.

Psilocibina é uma das substâncias mais estudadas neste contexto, especialmente para o tratamento da depressão. Johnson e Griffiths (2017) conduziram um estudo pioneiro em que pacientes com depressão resistente ao tratamento convencional foram tratados com psilocibina em um ambiente controlado e supervisionado. Os resultados mostraram uma redução significativa e duradoura nos sintomas depressivos, com efeitos positivos persistindo por vários meses após uma única sessão terapêutica. Esses achados sugerem que a psilocibina pode atuar de forma rápida e eficaz, comparada aos antidepressivos tradicionais que muitas vezes levam semanas para apresentar efeitos clínicos.

MDMA, amplamente conhecido por seu uso recreativo, tem se mostrado promissor no tratamento do PTSD. Reiff et al. (2020) exploraram o uso de MDMA como um adjunto à psicoterapia em pacientes com PTSD severo e refratário. O estudo mostrou que o MDMA, quando utilizado em um ambiente terapêutico seguro e sob supervisão profissional, pode facilitar a reexperiência e a integração de memórias traumáticas, resultando em uma diminuição significativa dos sintomas de PTSD. Os resultados foram tão positivos que levaram à designação de “terapia inovadora” pela FDA nos Estados Unidos, acelerando o processo de aprovação para uso clínico.

Por outro lado, cetamina—um anestésico dissociativo com propriedades psicodélicas—tem sido investigada principalmente no contexto da depressão e da ideação suicida. Da Costa et al. (2022) revisaram uma série de estudos clínicos sobre o uso da cetamina e suas variantes, como a esketamina, no tratamento da depressão resistente. A cetamina tem a vantagem de apresentar efeitos antidepressivos rápidos, às vezes dentro de horas após a administração, o que é particularmente valioso em contextos de crise, como em pacientes com risco iminente de suicídio. No entanto, a cetamina também apresenta desafios, como a necessidade de administração repetida e o potencial para abuso, o que limita sua aplicabilidade em longo prazo.

Ao comparar essas substâncias, é evidente que cada uma possui um perfil único de eficácia e aplicabilidade clínica. Enquanto a psilocibina e o LSD parecem ser mais eficazes em promover uma introspecção profunda e duradoura, resultando em mudanças psicológicas persistentes, o MDMA é particularmente útil em facilitar a psicoterapia em pacientes com PTSD, onde a reexperiência emocional e a empatia são componentes-chave do processo terapêutico. A cetamina, por sua vez, oferece uma solução rápida para o alívio da depressão aguda, embora com limitações em termos de duração dos efeitos e questões de segurança.

Esses estudos coletivamente sublinham o potencial transformador dos psicodélicos na psiquiatria, oferecendo novas esperanças para pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais. No entanto, é crucial continuar a expandir essas pesquisas para otimizar os protocolos terapêuticos, minimizar os riscos e maximizar os benefícios desses tratamentos emergentes.

4. MECANISMOS DE AÇÃO E NEUROPLASTICIDADES INDUZIDA POR PSICODÉLICOS

Os psicodélicos têm atraído atenção crescente na psiquiatria moderna não apenas por seus efeitos terapêuticos, mas também por sua capacidade de induzir mudanças neurobiológicas profundas, conhecidas como neuroplasticidade. A neuroplasticidade refere-se à capacidade do cérebro de se reorganizar, formando novas conexões neuronais em resposta à experiência e ao aprendizado. Essa característica é fundamental para entender como os psicodélicos podem exercer efeitos duradouros no tratamento de transtornos psiquiátricos.

Calder e Hasler (2022) exploram em seu estudo os efeitos neurobiológicos dos psicodélicos, com ênfase na sua capacidade de induzir neuroplasticidade. Eles destacam que substâncias como a psilocibina, o LSD e a cetamina atuam principalmente nos receptores de serotonina (5-HT2A) no cérebro, modulando a atividade de redes neurais críticas para o processamento emocional e cognitivo. A ativação desses receptores não só altera temporariamente a consciência, mas também desencadeia uma cascata de eventos moleculares que promove o crescimento de novas sinapses e a renovação de circuitos neuronais. Essas mudanças podem ajudar a “destravar” padrões rígidos de pensamento e comportamento, que são característicos de muitos transtornos psiquiátricos, como depressão e PTSD.

Olson (2022) contribui para essa discussão ao investigar os mecanismos bioquímicos subjacentes à neuroplasticidade induzida por psicodélicos. Ele argumenta que o aumento da plasticidade sináptica — a capacidade dos neurônios de fortalecer ou enfraquecer suas conexões — pode ser a chave para entender os efeitos terapêuticos duradouros observados em pacientes. O estudo de Olson também sugere que os psicodélicos estimulam a produção de fatores neurotróficos, como o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que são essenciais para a sobrevivência e o crescimento dos neurônios. Isso pode explicar por que os pacientes frequentemente relatam não apenas uma melhora nos sintomas, mas também uma sensação geral de renovação e clareza mental após o tratamento com psicodélicos.

Dos Santos e Hallak (2020) expandem essa linha de investigação ao revisar as evidências sobre os mecanismos psicológicos e biológicos através dos quais os psicodélicos podem exercer seus efeitos terapêuticos. Eles discutem como a indução de estados alterados de consciência, que promovem a introspecção e a dissolução do ego, pode facilitar a reestruturação cognitiva e emocional necessária para a recuperação em muitos transtornos mentais. Além disso, os autores abordam como a neuroplasticidade induzida por psicodélicos pode ser particularmente eficaz em transtornos onde há um “encurtamento” das respostas neurais, como na depressão, onde circuitos cerebrais rígidos perpetuam pensamentos e comportamentos negativos.

A neuroplasticidade induzida por psicodélicos não só explica a eficácia dessas substâncias em aliviar sintomas de transtornos psiquiátricos, mas também oferece uma janela para intervenções terapêuticas que podem ter efeitos mais duradouros do que os tratamentos convencionais. Ao modificar a estrutura e a função das redes neurais, os psicodélicos parecem facilitar um “reset” no cérebro, permitindo aos pacientes escaparem de padrões patológicos que, de outra forma, seriam difíceis de alterar.

Em resumo, a revisão dos mecanismos neurobiológicos e bioquímicos dos psicodélicos, com foco na neuroplasticidade, revela uma base científica robusta para seus efeitos terapêuticos. As pesquisas de Calder e Hasler (2022), Olson (2022), e Dos Santos e Hallak (2020) oferecem evidências convincentes de que os psicodélicos não apenas aliviam sintomas de transtornos psiquiátricos, mas também promovem mudanças cerebrais que podem sustentar essas melhorias a longo prazo. A compreensão desses mecanismos é essencial para o desenvolvimento de novas terapias baseadas em psicodélicos, que podem revolucionar o tratamento de transtornos mentais graves e resistentes.

5. APLICAÇÕES CLÍNICAS E ABORDAGENS TERAPÊUTICAS INTEGRATIVAS

O renascimento do interesse pelo uso de psicodélicos na psiquiatria tem impulsionado o desenvolvimento de abordagens terapêuticas que integram esses compostos em tratamentos clínicos para uma variedade de transtornos mentais. Psicodélicos como a psilocibina, o MDMA e a cetamina são estudados não apenas como agentes isolados, mas também como parte de protocolos terapêuticos integrativos, onde são combinados com intervenções psicoterapêuticas. A psicoterapia assistida por psicodélicos, em particular, tem mostrado resultados promissores no tratamento de condições resistentes a terapias tradicionais, como PTSD, depressão e ansiedade.

Krediet et al. (2020) revisam o potencial dos psicodélicos no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), um dos quadros psiquiátricos mais difíceis de tratar. Em seu estudo, os autores destacam como a psicoterapia assistida por MDMA tem mostrado resultados promissores, com pacientes relatando uma redução significativa dos sintomas após apenas algumas sessões de tratamento. Essa abordagem se diferencia das terapias tradicionais, que muitas vezes exigem anos de intervenções contínuas, oferecendo uma alternativa mais eficiente e potencialmente mais duradoura.

Gregorio et al. (2021) ampliam essa discussão ao explorar os efeitos de outros psicodélicos, como LSD, psilocibina e cetamina, no tratamento de diversos transtornos mentais, incluindo depressão resistente ao tratamento, ansiedade e dependência química. Eles argumentam que a integração de psicodélicos em regimes terapêuticos permite aos pacientes acessar estados de consciência alterados, onde podem enfrentar e processar traumas e emoções reprimidas de maneira mais eficaz. Além disso, os autores observam que a psicoterapia assistida por psicodélicos pode induzir estados de abertura mental e emocional, que facilitam a reestruturação cognitiva necessária para a recuperação em longo prazo.

Reiff et al. (2020) complementam essas descobertas com uma análise detalhada das implicações clínicas da psicoterapia assistida por psicodélicos. Eles discutem como a combinação de psicodélicos com terapias de suporte emocional e cognitivo pode maximizar os benefícios terapêuticos, reduzindo a necessidade de intervenções farmacológicas tradicionais que muitas vezes têm efeitos colaterais adversos. A abordagem integrativa discutida por Reiff et al. também inclui a consideração de fatores como o ambiente de tratamento (set and setting), a preparação prévia do paciente e o suporte pós-sessão, que são cruciais para a eficácia e segurança do tratamento.

Em termos de eficácia, as evidências sugerem que as abordagens integrativas que utilizam psicodélicos podem superar os tratamentos convencionais em várias dimensões. Isso é particularmente evidente em transtornos como depressão resistente ao tratamento, onde as taxas de resposta a terapias tradicionais são frequentemente baixas. Os estudos revisados indicam que, ao facilitar o processamento emocional profundo e ao induzir estados de consciência alterados, os psicodélicos podem proporcionar um alívio sintomático significativo e, em alguns casos, uma remissão completa dos sintomas.

No entanto, a incorporação de psicodélicos na prática clínica exige uma cuidadosa consideração das implicações éticas e práticas. A necessidade de terapeutas especializados, o gerenciamento dos riscos associados ao uso de substâncias psicodélicas e a necessidade de uma estrutura regulatória robusta são aspectos que devem ser abordados para garantir a segurança e a eficácia dessas terapias.

Em conclusão, a análise das aplicações clínicas e abordagens terapêuticas integrativas envolvendo psicodélicos, conforme discutido por Krediet et al. (2020), Gregorio et al. (2021) e Reiff et al. (2020), oferece uma visão abrangente das possibilidades e desafios no uso dessas substâncias na psiquiatria moderna. A psicoterapia assistida por psicodélicos representa uma abordagem promissora que, com o suporte de mais pesquisas e uma estrutura regulatória adequada, tem o potencial de revolucionar o tratamento de transtornos mentais severos.

6. RISCOS, DESAFIOS E CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O uso de psicodélicos na psiquiatria, apesar dos avanços promissores e das evidências de eficácia, não está isento de riscos e desafios. É crucial considerar não apenas os benefícios potenciais, mas também os riscos associados a essas substâncias, as questões éticas envolvidas e os desafios regulatórios enfrentados na prática clínica. Esta seção examina os potenciais riscos, as preocupações éticas e os desafios regulatórios relacionados ao uso de psicodélicos em contextos clínicos.

6.1. Potenciais Riscos e Efeitos Adversos

O uso de psicodélicos pode envolver riscos, que precisam ser cuidadosamente geridos para garantir a segurança dos pacientes. Vanin (2020) explora os riscos associados ao uso de psicodélicos, incluindo efeitos adversos agudos e a possibilidade de reações psicóticas, especialmente em indivíduos com predisposições psiquiátricas subjacentes. Embora a maioria dos estudos clínicos mostre que os psicodélicos são relativamente seguros quando administrados em ambientes controlados, há casos de efeitos adversos, como aumento da ansiedade, desorientação e experiências desagradáveis durante os episódios de alteração da consciência.

Além disso, Vanin destaca que a monitorização rigorosa e a seleção adequada dos pacientes são fundamentais para minimizar esses riscos. O ambiente terapêutico deve ser cuidadosamente estruturado para garantir que os pacientes recebam o suporte necessário durante e após as sessões de tratamento.

6.2. Considerações Éticas e Legais

Waters (2022) aborda as questões éticas e legais envolvidas na administração de psicodélicos em contextos clínicos. Uma das principais preocupações éticas é a segurança e o bem-estar dos pacientes. É essencial que os psicodélicos sejam administrados apenas por profissionais qualificados em ambientes controlados, com um processo de triagem rigoroso para identificar possíveis contraindicações e garantir a adequação dos pacientes ao tratamento.

Outra consideração ética relevante é o consentimento informado. Os pacientes devem ser plenamente informados sobre os potenciais riscos e benefícios dos psicodélicos, e o processo de consentimento deve ser transparente e compreensível. A administração de psicodélicos deve ser baseada em princípios éticos sólidos, garantindo que os pacientes tenham a capacidade de tomar decisões informadas sobre seu tratamento.

Além disso, Waters discute as implicações legais do uso de psicodélicos, que ainda são substâncias regulamentadas em muitos países. A legalidade e a regulamentação do uso de psicodélicos variam amplamente entre as jurisdições, e os profissionais de saúde devem estar cientes das leis e regulamentações locais ao implementar essas terapias. A criação de protocolos legais e éticos claros é essencial para integrar os psicodélicos na prática clínica de forma segura e responsável.

6.3. Desafios Regulatórios

Os desafios regulatórios são um aspecto crítico na adoção generalizada dos psicodélicos como tratamentos clínicos. A natureza restritiva das regulamentações sobre psicodélicos, muitas vezes motivada por preocupações com o potencial de abuso e os riscos associados, pode limitar o acesso a essas terapias inovadoras. Vanin (2020) e Waters (2022) destacam que a mudança nas regulamentações e a aceitação dos psicodélicos na prática clínica requerem um esforço contínuo para demonstrar sua segurança e eficácia através de pesquisa rigorosa e evidências robustas.

Além disso, os desafios regulatórios incluem a necessidade de protocolos claros para a administração de psicodélicos, a formação de profissionais de saúde e a integração dessas terapias nos sistemas de saúde estabelecidos. A colaboração entre pesquisadores, legisladores e profissionais de saúde é fundamental para superar esses desafios e facilitar a adoção segura e eficaz dos psicodélicos na prática clínica.

Em conclusão, a discussão sobre os riscos, desafios e considerações éticas no uso de psicodélicos revela um panorama complexo que exige um equilíbrio cuidadoso entre inovação e segurança. Embora os psicodélicos ofereçam novas esperanças para o tratamento de transtornos psiquiátricos, é essencial abordar os riscos associados, garantir a conformidade com as normas éticas e legais, e enfrentar os desafios regulatórios para garantir que essas terapias possam ser integradas de forma segura e eficaz na prática clínica. A abordagem cuidadosa e informada é crucial para maximizar os benefícios terapêuticos dos psicodélicos enquanto se minimizam os riscos e se respeitam os princípios éticos fundamentais.

7. FUTURO DAS TERAPIAS PSICODÉLICAS NA PSIQUIATRIA

O futuro das terapias psicodélicas na psiquiatria é promissor e cheio de potencial, mas também enfrenta desafios significativos. Com os avanços recentes na pesquisa e a crescente aceitação social, as terapias psicodélicas estão se tornando uma área de crescente interesse e inovação. No entanto, ainda há muitas questões a serem exploradas e desenvolvidas. Esta seção examina as perspectivas futuras para a integração das terapias psicodélicas na psiquiatria, com base em estudos recentes e nas tendências emergentes.

7.1. Avanços das Pesquisas e Aceitação Social

Scangos et al. (2023) fornecem uma visão detalhada sobre as perspectivas futuras das terapias psicodélicas na psiquiatria, destacando os avanços recentes na pesquisa e os desenvolvimentos tecnológicos que podem influenciar a integração dessas terapias na prática clínica. O estudo enfatiza a importância de continuar a explorar os mecanismos neurobiológicos dos psicodélicos e os efeitos terapêuticos de longo prazo. Scangos e colegas apontam para a necessidade de mais estudos clínicos e de seguimento a longo prazo para confirmar a eficácia e a segurança das terapias psicodélicas.

Além disso, o estudo aborda a crescente aceitação social das terapias psicodélicas, observando que o aumento da conscientização e a educação pública estão contribuindo para uma mudança na percepção pública sobre esses compostos. Essa aceitação social é crucial para o avanço da regulamentação e para a integração bem-sucedida das terapias psicodélicas nos sistemas de saúde.

Nutt (2019) discute o futuro das terapias psicodélicas com foco na necessidade de mudanças regulatórias e na importância da evidência científica para suportar a adoção clínica dessas terapias. O estudo explora como a pesquisa científica pode influenciar as políticas públicas e a aceitação das terapias psicodélicas, ressaltando que a revisão das regulamentações e a atualização das políticas de saúde mental são fundamentais para o avanço dessas abordagens.

Nutt também destaca a necessidade de mais pesquisas sobre as diferentes doses, protocolos de administração e combinações terapêuticas para otimizar os resultados clínicos. O estudo sugere que, à medida que mais dados científicos se tornam disponíveis, é provável que vejamos uma expansão no uso de psicodélicos em contextos clínicos, acompanhada por um maior suporte regulatório e institucional.

Em resumo, o futuro das terapias psicodélicas na psiquiatria é promissor, com avanços na pesquisa e uma crescente aceitação social contribuindo para a possível integração dessas terapias na prática clínica. No entanto, ainda há várias áreas que precisam de mais investigação e desenvolvimento para garantir a eficácia e a segurança desses tratamentos. O avanço contínuo na pesquisa, a revisão das regulamentações e o treinamento adequado dos profissionais de saúde mental serão fundamentais para realizar o potencial completo das terapias psicodélicas na psiquiatria.

8. CONCLUSÃO

A revisão integrativa sobre o uso de psicodélicos na psiquiatria revela uma área de crescente interesse e potencial para a inovação terapêutica. A análise dos estudos e das evidências clínicas disponíveis mostra que os psicodélicos estão emergindo como uma alternativa promissora aos tratamentos convencionais para diversos transtornos psiquiátricos. A seguir, sintetizamos os principais achados, discutimos suas implicações para a prática clínica e apresentamos sugestões para pesquisas futuras.

Os principais avanços clínicos discutidos ao longo desta revisão destacam o potencial dos psicodélicos como tratamentos eficazes para transtornos psiquiátricos, incluindo depressão resistente ao tratamento, PTSD e ansiedade. Estudos recentes demonstraram que substâncias como psilocibina, LSD, MDMA e cetamina podem proporcionar alívio significativo dos sintomas e promover mudanças duradouras no bem-estar psicológico dos pacientes. A evidência de eficácia é suportada por uma combinação de dados clínicos e experimentais que mostram melhorias nas condições de saúde mental quando esses compostos são utilizados sob condições controladas e em conjunto com psicoterapia.

Além disso, a revisão das evidências sobre mecanismos de ação e neuroplasticidade sugere que os psicodélicos podem atuar induzindo mudanças neurológicas que facilitam a recuperação e a reestruturação cognitiva. Esses efeitos são atribuídos à capacidade dos psicodélicos de alterar a conectividade neural e promover a plasticidade cerebral, aspectos que são fundamentais para o tratamento de transtornos mentais complexos.

O renascimento do interesse clínico em psicodélicos, impulsionado por novas pesquisas e mudanças na percepção pública, tem levado a uma reavaliação das políticas e regulamentações relacionadas a essas substâncias. A integração dos psicodélicos na prática clínica é respaldada pela crescente aceitação social e pelos avanços na compreensão de seus efeitos terapêuticos.

Os avanços discutidos têm implicações significativas para a prática clínica na psiquiatria. A introdução dos psicodélicos como opções terapêuticas pode oferecer novas possibilidades para pacientes que não respondem adequadamente aos tratamentos convencionais. A integração desses tratamentos pode levar à personalização da terapia, adaptando os métodos de intervenção às necessidades específicas de cada paciente.

No entanto, a prática clínica deve ser adaptada para lidar com os desafios associados ao uso de psicodélicos, como a necessidade de um ambiente controlado e a importância do acompanhamento psicológico durante e após o tratamento. A formação contínua dos profissionais de saúde e a implementação de protocolos rigorosos são essenciais para garantir a segurança e a eficácia das terapias psicodélicas.

Em suma, os psicodélicos oferecem uma abordagem inovadora e potencialmente transformadora para o tratamento de transtornos psiquiátricos. O reconhecimento de seus benefícios terapêuticos, aliado à crescente aceitação social e avanços na pesquisa, marca uma nova era na psiquiatria. No entanto, é essencial abordar as lacunas existentes e enfrentar os desafios associados para garantir que essas terapias possam ser integradas de forma segura e eficaz na prática clínica, promovendo avanços significativos no cuidado e no tratamento de condições de saúde mental.

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1Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil
2Graduando em Medicina pela Unesulbahia
3Graduando em Medicina pela Unilago
4Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil
5Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
6Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
7Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil
8Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil
9Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
10Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
11Graduando em Medicina pela Centro universitário de Jaguariuna – UNIFAJ
12Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
13 Graduanda em Medicina pela Unilago
14Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil
15Graduando em Medicina pela Universidade Brasil