REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412130708
Arquimedes Gomes Batista Filho,
Letícia Vieira da Rocha Vilarinho,
Esther Bastos Palitot
RESUMO
Introdução. A psoríase é uma doença crônica, inflamatória, cujos portadores são mais propensos a desenvolver diferentes comorbidades multissistêmicas. Novas doenças emergentes parecem compartilhar vias inflamatórias e fatores de risco com a psoríase. Há correlação mútua entre síndrome metabólica com a psoríase e com a sarcopenia, dessa forma, adventa-se a possibilidade de maior prevalência de sarcopenia em psoriásicos. Para analisar isoladamente a correlação entre essas duas patologias, evita-se o potencial de influência da síndrome metabólica nesse plano de trabalho. Objetivos. avaliar a presença de sarcopenia em pacientes com psoríase que não apresentam diagnóstico de síndrome metabólica atendidos no serviço de referência do Hospital Universitário Lauro Wanderley. Metodologia. Estudo transversal, descritivo, envolvendo pacientes com psoríase em acompanhamento no Centro de Referência de Apoio e Tratamento da Psoríase do Estado da Paraíba (CRATP – PB), de agosto de 2019 a maio de 2020. A análise dos dados foi obtida por estatística descritiva. Resultados e Discussão. A prevalência de sarcopenia na amostra geral foi de 40%. Entre os homens, 45,45%, e 34,78% em mulheres. Na população geral, ocorre em 14,2% em homens e 22,1% em mulheres. Síndrome metabólica não ocorreu em 66,67% do geral. Nesse grupo, a frequência de sarcopenia foi de 46,67%, sendo maior que do grupo com síndrome metabólica (26,67%). Nesse plano de trabalho, a sarcopenia ocorreu mais no sexo masculino, em idosos, com idade média da amostra de 57 anos, máxima de 77 anos e mínima de 27 anos. A maioria apresentava ensino fundamental e médio completos. Conclusão. A presença de sarcopenia foi maior que da população geral, predominando no grupo sem síndrome metabólica, em homens e em idosos. Assim, ressalta-se a importância da informação epidemiológica para o desenvolvimento de planos de cuidado e melhoria dos serviços de saúde no atendimento da psoríase e das suas comorbidades emergentes.
Palavras-Chave: Psoríase. Epidemiologia. Síndrome Metabólica. Sarcopenia.
ABSTRACT
Introduction. Psoriasis is a chronic, inflammatory disease, whose patients are more likely to develop different multisystemic comorbidities. New emerging diseases seem to share inflammatory pathways and risk factors with psoriasis. There is a mutual correlation between metabolic syndrome with psoriasis and with sarcopenia, therefore, we suggested the possibility of a higher prevalence of sarcopenia in psoriatic patients. To analyze the correlation between these two pathologies in isolation, the potential influence of the metabolic syndrome in this work plan is avoided. Objective. To assess the presence of sarcopenia in patients with psoriasis who do not have a diagnosis of metabolic syndrome treated at the reference service of Hospital Universitário Lauro Wanderley. Methodology. Cross-sectional, descriptive study involving patients with psoriasis being followed up at the Reference Center for Support and Treatment of Psoriasis in the State of Paraíba (CRATP – PB), from August 2019 to May 2020. Data analysis was obtained from descriptive statistics. Results and discussion. The prevalence of sarcopenia in the general sample was 40%. Among men, 45.45%, and 34.78% in women. In the general population, it occurs in 14.2% in men and 22.1% in women. Metabolic syndrome did not occur in 66.67%. In this group, the frequency of sarcopenia was 46.67%, being higher than that of the group with metabolic syndrome (26.67%). In this work plan, sarcopenia occurred more in males, in the elderly, with a mean age of the sample of 57 years, a maximum of 77 years and a minimum of 27 years. Most had completed elementary and high school. Conclusion. The presence of sarcopenia was greater than in general population, predominating in the group without metabolic syndrome, in men and in the elderly. Thus, the importance of epidemiological information for the development of care plans and improvement of health services in the treatment of psoriasis and its emerging comorbidities is emphasized.
Keywords: Psoriasis. Epidemiology. Metabolic Syndrome. Sarcopenia.
1 INTRODUÇÃO
A psoríase é uma doença crônica, inflamatória, que afeta aproximadamente 1% a 3% da população mundial (ARMSTRONG; HARSKAMP; ARMSTRONG, 2013). Acomete igualmente ambos os sexos, principalmente entre as segunda e quarta décadas de vida, manifestando-se clinicamente como lesões cutâneas eritemato-descamativas, com polimorfismo de apresentações clínicas. (DE BONA SILVEIRA; NETO; FERREIRA, 2017). No entanto, as evidências científicas atuais reconhecem que as implicações à saúde provocadas pela patologia estendem-se para além do envolvimento cutâneo. (TAKESHITA et al., 2017).
Além da prejuízo à qualidade de vida e do estigma social, portadores de psoríase são mais propensos a desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e síndrome metabólica. (MICHALEK; LORING; JOHN, 2017). Ademais, doença inflamatória intestinal, artrite psoriásica, doença renal crônica, esteatose hepática não-alcoólica, infecções e linfomas possuem risco aumentado nessa população, e somam-se a esse quadro multissistêmico novas doenças emergentes, que parecem compartilhar vias inflamatórias e fatores de risco com a psoríase. (TAKESHITA et al., 2017).
Em revisão sistemática e metanálise, Armstrong (2013), evidenciou que pacientes com psoríase são mais propensos a desenvolver síndrome metabólica que a população geral (Odds ratio >2). Diversos mecanismos podem explicar essa associação epidemiológica, mas, dentre esses, reforça-se o aumento de citocinas inflamatórias na patologia, acarretando em efeitos sistêmicos na regulação da insulina e no metabolismo lipídico. Atualmente, estuda-se a associação de múltiplas condições com a síndrome metabólica, dentre essas, encontra-se a sarcopenia. (ISHII et al., 2014a).
A sarcopenia vem sendo definida como a perda progressiva e generalizada de músculo esquelético associada com efeitos adversos como quedas, perdas funcionais, fragilidade e óbito. (CRUZ-JENTOFT; SAYER, 2019). Apresenta, atualmente, evidências de altos níveis de parâmetros inflamatórios na sua patogênese. (BANO et al., 2017). Além disso, avalia-se que a redução de força e da massa muscular mediadas por inflamação crônica e resistência à insulina na síndrome metabólica é uma das explicações para sua associação com a sarcopenia. (ISHII et al., 2014a).
Além do impacto à saúde, Cruz-Jentoft (2019), em Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis, reforça que a sarcopenia aumenta o risco de internações hospitalares e, consequentemente, seus custos. Apesar disso, essa condição tem sido negligenciada e subtratada na prática convencional, aparentemente devido à complexidade na determinação e mensuração de variáveis para seu diagnóstico clínico. Somado a isso, Takeshita (2017), reforça a identificação de comorbidades emergentes correlacionadas à psoríase para educação dos profissionais de saúde e adequado cuidado com essa patologia complexa.
Observa-se a relação mútua da síndrome metabólica com a psoríase e com a sarcopenia. Dessa maneira, devido ao mecanismo inflamatório compartilhado, adventamos a possibilidade de associação entre sarcopenia e psoríase. Para analisar isoladamente a correlação entre essas duas patologias, evitando o potencial de influência da síndrome metabólica nos resultados, o presente plano de trabalho objetivou avaliar a presença de sarcopenia em pacientes com psoríase que não apresentam diagnóstico de síndrome metabólica atendidos no serviço de referência do Hospital Universitário Lauro Wanderley.
Para tanto, avaliou-se a presença de sarcopenia em pacientes com psoríase sem síndrome metabólica, o perfil epidemiológico dos pacientes em relação a sexo, faixa etária, ocupação, grau de escolaridade e presença de sarcopenia em portadores de psoríase sem síndrome metabólica, bem como a relação entre a gravidade de psoríase através do instrumento do Psoriasis Area and Severity Index (PASI) em pacientes sem síndrome metabólica em função da presença de sarcopenia.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e documental, envolvendo o universo de pacientes com psoríase em acompanhamento no Centro de Referência de Apoio e Tratamento da Psoríase do Estado da Paraíba (CRATP – PB), localizado em João Pessoa-PB, no período de agosto de 2019 a maio de 2020. O CPATP-PB é a principal referência na abordagem da psoríase para o município e região, assim como para o desenvolvimento de pesquisas na área.
2.1 População e amostra
O número amostral foi definido por conveniência, a partir da pesquisa em prontuários, incluindo pacientes de ambos os sexos, com idade igual ou maior de 18 anos, portadores de psoríase, acompanhados no Centro de Referência de Apoio e Tratamento da Psoríase do Estado da Paraíba (CRATP – PB). Foram excluídos do estudo pacientes não portadores de psoríase, não acompanhados no serviço em questão, com menos de 18 anos de idade e cujos prontuários não continham as variáveis necessárias ao estudo, sendo essas referentes ao perfil epidemiológico dos indivíduos envolvidos, bem como à avaliação da presença ou não de Síndrome Metabólica e de Sarcopenia. Dessa forma, respeitando os critérios estabelecidos, a amostra final consistiu em 45 prontuários.
2.2 Avaliação de síndrome metabólica:
Como critérios para a avaliação de Síndrome Metabólica foi utilizada a classificação proposta pelo NCEP–ATP III que utiliza dados clínicos e laboratoriais que podem ser facilmente obtidos. A presença de 3 dos 5 fatores de risco a seguir é bastante para o diagnóstico da SM: Obesidade abdominal por meio de circunferência abdominal- Homens > 102cm e Mulheres > 88cm; Triglicerídeos ≥ 150mg/dL; HDL Colesterol: Homens < 40mg/dL e Mulheres < 50mg/dL; Pressão Arterial ≥ 130mmHg ou ≥ 85mmHg; Glicemia de jejum ≥ 110mg/dL.
2.3 Avaliação de sarcopenia:
Para considerar um paciente como portador de Sarcopenia, utilizamos o Escore de ISHII que conta como parâmetros, a medida da força de aperto da mão e da circunferência da panturrilha. Ambas as variáveis são mensuradas nas consultas regulares do CPATP-PB. A força de aperto de mão é estimada em kg através de dinamômetro digital, em ambas as mãos, registrando-se a média do resultado das mesmas. A medida da circunferência da panturrilha é aferida com fita métrica inelástica, em posição ereta, com os pés afastados cerca de 20 cm, na máxima circunferência da musculatura, em ambas as panturrilhas, da qual obtém-se a média entre as aferições. Dessa forma, respeitou-se as seguinte equações (Escore de ISHII) para definição de sarcopenia:
Escore de ISHII em homens = 0,62 x (idade-64) – 3,09 x (medida da força de aperto de mão – 50) – 4,64 x (circunferência da panturrilha – 42);
Escore de ISHII em mulheres = 0,80 x (idade – 64) – 5,09 x (medida da força de aperto de mão – 34) – 3,28 x (circunferência da panturrilha – 42);
2.4 Variáveis do estudo:
As variáveis estudadas foram divididas em variáveis binárias: sexo ( masculino ou feminino), presença de sarcopenia (sim ou não), presença de síndrome metabólica (sim ou não); variáveis numéricas contínuas: força de aperto de mão, circunferência da panturrilha; variáveis categóricas nominais: idade por faixa etária (18 a 30 anos; 31 a 45 anos; 46 a 60 anos e maiores de 60 anos), nível de escolaridade (Analfabeto; Ensino Fundamental incompleto; Ensino Fundamental completo; Ensino Médio incompleto; Ensino Médio completo; Ensino Superior incompleto e Ensino Superior completo), ocupação; variáveis categóricas ordinais: severidade segundo PASI (leve, moderada, grave).
2.5 Análise dos dados:
Para a análise dos dados, foi realizada estatística descritiva das variáveis e ilustrada por meio de gráficos e tabelas de frequência, com valores absolutos e porcentagens. Para tanto, foram utilizados o Microsoft Excel (2013) e IBM SPSS Statistcs (versão 26).
2.6 Aspectos éticos:
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ciências Médicas da UFPB sob o CAAE 11343619500008069. Cumpre assinalar que os pesquisadores respeitaram os aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, preconizados pela Resolução nº466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 RESULTADOS
Foram selecionados 45 pacientes pelo estudo, sendo 30 (66,67%) portadores de psoríase sem síndrome metabólica (SM). Dentre esses, com base na tabela 1, observa-se distribuição igual entre os sexos (50% de homens e 50% de mulheres), com faixa etária mais prevalente dos 46 aos 60 anos, idade média 48,5 anos, mediana 51 anos, máxima de 77 anos e mínima de 19 anos (amplitude de 58 anos). Além disso, a maioria possuía ensino médio completo, e as ocupações mais frequentes foram professor e aposentado.
Tabela 1 – Distribuição dos pacientes com psoríase sem síndrome metabólica em acompanhamento no CPATP-PB segundo sexo, faixa-etária e escolaridade. João Pessoa (PB), Brasil, 2019-2020, n = 30.
A prevalência da sarcopenia na amostra geral de nosso estudo foi de 40% (n=18), podendo ser observada no Gráfico 1. Entre os homens, o rastreio foi positivo em 45,45%, e no sexo feminino, 34,78%, havendo, portanto, maior acometimento do gênero masculino (Gráfico 2). A prevalência de sarcopenia foi maior no grupo sem síndrome metabólica (46,67%) quando comparada ao grupo com síndrome metabólica (26,67%). A idade média dos sarcopênicos na amostra geral foi de 56,8 anos e a mediana de 56 anos, sendo a faixa etária mais frequente a dos maiores que 60 anos. Nessa faixa etária, a sarcopenia ocorreu em 61,54% das observações.
Gráfico 1– Prevalência de pacientes com rastreamento positivo para sarcopenia na amostra geral do estudo. João Pessoa (PB), Brasil, 2019-2020, n = 45.
Gráfico 2– Prevalência de pacientes com rastreamento positivo e negativo para sarcopenia na amostra geral do estudo, segundo sexo. João Pessoa (PB), Brasil, 2019-2020, n = 45.
Dos 30 pacientes portadores de psoríase sem SM, 14 (46,67%) foram identificados como sarcopênicos (Gráfico 3), correspondendo a 8 (57,14%) de indivíduos do sexo masculino e 6 (42,86%) do sexo feminino (Tabela 2). A faixa etária com maior prevalência de sarcopenia foi em maiores de 60 anos, equivalente a 7 pacientes (50%), a maioria homens (n=6). A segunda faixa etária mais prevalente foi dos 46 aos 60 anos (n=5), com a maioria de mulheres (n=4). A idade média foi 57 anos, mediana de 58 anos, máxima 77 anos e mínima 27 anos. A maioria apresentava ensino fundamental e médio completos (Tabela 2).
Gráfico 3– Prevalência de pacientes com rastreamento positivo para sarcopenia no grupo de portadores de psoríase sem síndrome metabólica. João Pessoa (PB), Brasil, 2019-2020, n = 14.
Tabela 2 – Distribuição dos pacientes com rastreamento positivo para sarcopenia no grupo de portadores de psoríase sem síndrome metabólica, segundo sexo, faixa-etária e escolaridade. João Pessoa (PB), Brasil, 2019-2020, n = 14.
Em relação à gravidade da psoríase, entre os pacientes sarcopênicos sem síndrome metabólica, o Psoriasis Area Severity Index (PASI) foi identificado como grave em 7 pacientes, correspondendo a 50% desses indivíduos. Na análise de prontuário, 1 foi classificado como moderado e 6 não apresentavam a informação.
3.2 DISCUSSÃO
Atualmente, observa-se a emergência de diferentes comorbidades associadas à psoríase. (TAKESHITA et al., 2017). Este estudo forneceu dados sobre a prevalência de síndrome metabólica (SM) e sarcopenia em uma população do Centro de Referência de Apoio e Tratamento da Psoríase do Estado da Paraíba (CRATP – PB), associando tais achados com o perfil socioepidemiológico da amostra. Destaca-se o caráter inovador do estudo ao buscar a prevalência de sarcopenia na população em questão.
A prevalência de síndrome metabólica na amostra do presente estudo foi de 33,33%. Segundo Armstrong (2013), em uma revisão sistemática com meta-análise de 12 trabalhos observacionais, mostrou OR de 2,26 (IC 95%, 1,70-3,01) na associação de psoríase com SM. Na mesma análise, a prevalência de síndrome metabólica em psoriásicos variou de 14% a 40%, estando o achado do nosso estudo em concordância com esses dados.
Outros estudos transversais com amostras reduzidas evidenciaram prevalência mais alta de síndrome metabólica em pacientes com psoríase em comparação ao nosso estudo. Dentre esses, em estudo nacional, Santos et al. (2016), a partir da avaliação de 59 pacientes com psoríase, evidenciou prevalência (55,9%) de síndrome metabólica baseado na NCEP-ATPIII. Em pesquisas internacional, Rojas, Castellanos e Peñaranda (2013), com amostras de 52 indivíduos psoriásicos, mostraram frequência de 59,6% da condição.
Nos pacientes com psoríase sem síndrome metabólica, analisa-se suas características em comparativo com psoriásicos. Nesses, é consenso na literatura ocorrência da doença com distribuição igual entre homens e mulheres. (DE BONA SILVEIRA; NETO; FERREIRA, 2017). Há, assim, concordância com nosso estudo, que mostrou simetria entre o grupo masculino e feminino.
A escolaridade mais prevalente foi ensino médio completo, diferindo de outro estudo aplicado em serviços público de saúde no qual a maior prevalência foi de ensino fundamental incompleto. Relaciona-se tais achados com a evidência, em geral, de menores condições socioeconômicas entre os usuários do Sistema Único de Saúde. (DE BONA SILVEIRA; NETO; FERREIRA, 2017). No entanto, no estudo de Santos et al. (2016), houve maioria com ensino médio completo, semelhante ao nosso trabalho.
A faixa etária de maior prevalência nesse estudo foi dos 46-60 anos, com idade média de 48,5 anos. Observações atuais mostram maior prevalência de psoríase em adultos com o avançar da idade. (MICHALEK; LORING; JOHN, 2017). Somado a isso, De Bona Silveira, Neto e Ferreira (2017) apontam a existência de dois picos de incidência, sendo esses na segunda e quarta décadas de vida, havendo, portanto, maior frequência da segunda faixa etária em nossa amostra. Bezerra et al. (2014), em população com 64 psoriásicos do mesmo centro do presente estudo, evidenciou idade média semelhante de 48 anos, podendo tratar-se de característica específica da população local.
Para Fielding et al. (2011), a prevalência de sarcopenia difere entre estudos, indo de 12% em pessoas de 60 a 70 anos a 50% em maiores de 80 anos, havendo, assim, o achado comum da condição estar associada com a senilidade. Todavia, literaturas atuais têm ressaltado a presença de sarcopenia também na população de meia idade quando associada com outras condições. (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). A prevalência da sarcopenia na amostra geral de nosso estudo foi de 40% (n=18), sendo maior no grupo sem SM, 46,67%, contra 26,67% com SM. Em maiores que 60 anos, a prevalência de sarcopenia foi de 61,54%. Assim, houve maior prevalência de sarcopenia em psoríasicos maiores que 60 anos quando comparados à população geral da mesma faixa etária da literatura.
Em relação ao sexo, ISHII et al. (2014) avaliou a prevalência de sarcopenia em 14,2% em homens e 22,1% em mulheres. O mesmo conclui, entretanto, que homens entre 65-74 anos mostraram-se mais susceptíveis à sarcopenia, enquanto a população feminina apresentou significância de associação em idades acima de 75 anos. Dentre a amostra masculina do nosso estudo, 45,45% foram rastreados positivamente para sarcopenia, e entre o sexo feminino, 34,78%. Dessa forma, em relação ao sexo, houve prevalência maior de sarcopenia em pacientes com psoríase quando comparados à população geral, predominando o gênero masculino. Avaliando o grupo sem SM, a maior prevalência de sarcopenia também foi em homens (57,14%) e na faixa etária maior que 60 anos (50%), havendo concordância em relação à idade de acometimento e na susceptibilidade do sexo masculino, porém com prevalência mais alta que da população geral.
Dentre os pacientes sarcopênicos do presente plano de trabalho, a maioria apresentava psoríase grave (n=7, 50%). No entanto, os registros de 6 indivíduos não possuíam a informação, constituindo limitação encontrada. Além disso, o fato da amostra fazer parte de centro de referência de psoríase, casos mais graves podem ser mais frequentes. Estudos apontam que a maior parte dos portadores de psoríase apresentam quadro leve, diferindo do resultado encontrado. (ROJAS; CASTELLANOS; PEÑARANDA, 2013).
Sabendo-se que a adequada avaliação da massa muscular humana é uma dificuldade encontrada por diferentes estudos (FIELDING et al., 2011), o trabalho utiliza do Escore de ISHII para definição de sarcopenia a partir de parâmetros clínicos de mais fácil obtenção. A mesma possui elevada acurácia no rastreio da patologia. (ISHII et al., 2014). Todavia, sua aplicabilidade vem sendo feita em populações mais idosas e asiáticas, o que difere da população geral do estudo. Entretanto, ISHII destaca a importância do desenvolvimento de critérios de simples obtenção clínica para rastreio da sarcopenia e sua aplicação em diferentes raças e etnias.
Além disso, ressaltam-se limitações no estudo, as quais foram sua amostra reduzida, obtida por conveniência em um centro de referência estadual, no qual há, potencialmente, maiores chances de casos graves e com maiores comorbidades, bem como informações não disponíveis nos prontuários e redução das atividades do CRATP – PB devido às condições de saúde pública nacionais. Entretanto salienta-se a importância de perfis clínico-epidemiológicos para aprimoramento do serviço de saúde local e criação de hipóteses para estudos longitudinais e analíticos.
4. CONCLUSÃO
Apesar das limitações do presente estudo quanto ao seu tamanho amostral, os resultados aqui encontrados, em consonância com a literatura atual, sugerem maior prevalência de sarcopenia entre pacientes com psoríase quando comparados à população em geral de ambos os sexos, sendo mais alta no grupo sem síndrome metabólica, em homens e em idosos. Sugere-se o desenvolvimento de estudos com delineamento causal para demonstrar a associação entre as condições. Por fim, ressalta-se a importância de informações epidemiológicas para o desenvolvimentos de planos de cuidado e melhoria dos serviços de saúde, principalmente em condições com comorbidades emergentes e multissistêmicas, como a psoríase.
REFERÊNCIAS:
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