A RETROSPECTIVE EVALUATION OF COLOR REBOUND AND EXTERNAL ROOT RESORPTION IN PREVIOUS ENDODONTICALLY TREATED TEETH SUBJECTED TO INTERNAL BLEACHING
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202408161929
Tamy Kowalski1
Bruna Soares da Silva1
Fábio Herrmann Coelho de Souza2
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi realizar uma avaliação clínica e radiográfica retrospectiva da recidiva de cor e da presença de reabsorção radicular externa cervical em dentes tratados endodonticamente submetidos ao clareamento interno. Foram incluídos no estudo 34 pacientes adultos de ambos os sexos, que receberam a terapia de clareamento interno com tempo superior a 06 meses. Todos os pacientes foram avaliados clínica e radiograficamente por um profissional calibrado e cego para os objetivos do estudo. A análise subjetiva da cor do dente foi realizada através de uma escala de cores. Um questionário sobre a satisfação do paciente foi aplicado. A avaliação radiográfica para detecção de reabsorção radicular externa foi realizada através de uma radiografia periapical padronizada. Os dados foram tabulados, e representados de forma descritiva. Foram avaliados 46 dentes, em 34 pacientes, 27 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idades entre 22 e 66 anos, com média de tempo pós tratamento de 4,3 anos. A presença de reabsorção radicular externa foi encontrada em 4,3% dos casos (2 dentes). Houve recidiva de cor em 23,9% dos dentes analisados. Em 34,8% dos casos os pacientes ficaram muito satisfeitos, 21,7% ficaram satisfeitos, 17,4% ficaram pouco satisfeitos e 26,1% ficaram insatisfeitos em relação ao tratamento realizado. Concluiu-se que dentes desvitalizados submetidos ao clareamento interno apresentaram 23,9% de recidiva de cor, contribuindo para os 58,7% de insucesso dos tratamentos. A maioria dos pacientes avaliados mostrou-se satisfeita com o tratamento. A reabsorção radicular externa foi um resultado raro.
Palavras-chave: Clareamento dentário. Reabsorção da raíz. Satisfação do paciente.
ABSTRACT
A retrospective evaluation of color rebound and external root resorption in previous endodontically treated teeth subjected to internal bleaching. The aim of this study was a retrospective clinical and radiographic evaluation of the color rebound and the presence of external root resorption in previous endodontically treated teeth subjected to internal bleaching. The study included 34 adult patients of both sexes, who received internal bleaching therapy with evaluation time over 06 months. All patients were evaluated clinically and radiographically by a calibrated examiner (Kappa 1) and blind to the study objectives. Subjective dental color analysis was performed by using a shade guide. A questionnaire on patient satisfaction was also applied. Radiographic evaluation for cervical external root resorption detection was performed using a standardized periapical technique. Data were tabulated, and the results represented descriptively as percentages. 46 teeth were evaluated in 34 patients, 27 female and 7 male, aged between 22 and 66 years-old, with a mean time after treatment of 4.3 years. The presence of external resorption was found in 4.3% of cases (2 teeth). There was color rebound in 23.9% of the analyzed teeth. In 34.8% of cases, the patients were very satisfied, 21.7% were satisfied, 17.4% were somewhat satisfied and 26.1% were dissatisfied about the treatment. It is concluded that non-vital teeth subjected to internal bleaching showed 23,9% of color rebound, out of the 58.7% of global failure. The majority of the patients expressed satisfaction with treatment. External root resorption was a rare outcome.
Keywords: Internal bleaching. Root resorption. Patient satisfaction.
INTRODUÇÃO
Na Odontologia contemporânea, a estética do sorriso sofreu uma valorização significativa, ganhando destaque e importância. Nesse contexto, a beleza é influenciada pelo contorno, forma, simetria, alinhamento e principalmente pela cor dos dentes (VASCONCELLOS et al, 2000).
O escurecimento dos dentes, especialmente na região anterior, pode resultar em danos estéticos consideráveis (ATTIN et al., 2003). As principais causas extrínsecas do escurecimento dentário são cromógenos derivados da dieta habitual, como o vinho, café e chás. Já, as causas intrínsecas são: necrose pulpar, hemorragia intrapulpar, tecido pulpar remanescente após a terapia endodôntica, materiais endodônticos, materiais restauradores, reabsorção radicular e envelhecimento (SOMMA et al., 2008).
Manchas intrínsecas não podem ser removidas por procedimentos profiláticos regulares. No entanto, elas podem ser reduzidas por clareamento com agentes de penetração do esmalte e dentina (ALQAHTANI, 2014).
Relatos sobre clareamento de dentes desvitalizados escurecidos foram descritos pela primeira vez durante meados do século 19 (SOMMA et al., 2008). O clareamento interno de dentes anteriores desvitalizados escurecidos tem se tornado uma terapia muito requisitada na prática odontológica, uma vez que o escurecimento dos dentes é motivo de grande preocupação por parte dos pacientes. Além disso, é uma alternativa conservadora e estética que oferece maior preservação da estrutura dental e baixo custo, especialmente quando comparada a procedimentos mais invasivos como a confecção de facetas ou coroas totais (ARI, UNGOR, 2002).
O clareamento interno apresenta resultados esteticamente satisfatórios; no entanto, apresenta como possível efeito colateral a reabsorção radicular externa cervical, o que prejudica ou até mesmo inviabiliza a permanência do elemento dental na cavidade bucal. A reabsorção radicular é geralmente assintomática e é usualmente detectada através de radiografias de rotina (HARRINGTON; NATKIN, 1979; FRIEDMAN, 1997; BERSEZIO et al, 2020).
Apesar da associação entre o clareamento interno e a reabsorção radicular externa não estar completamente elucidada, já foi demonstrado em modelos animais que agentes clareadores (peróxido de hidrogênio) são capazes de induzir sua ocorrência (ROTSTEIN et al., 1991).
A etiologia da reabsorção radicular externa relacionada ao clareamento interno é complexa (FRIEDMAN, 1997). No entanto, acredita-se que o agente clareador alcance os tecidos periodontais através dos túbulos dentinários, desnature a dentina, que passa a ser considerada como um tecido imunologicamente diferente, sendo conhecida como um corpo estranho (LADO et al, 1983; BERSEZIO et al, 2020) e inicie uma reação inflamatória que resulta na perda localizada de tecido dental (LAMBRIANIDIS et al, 2002).
Além da reabsorção radicular externa, outra limitação do clareamento de dentes tratados endodonticamente é a recidiva da cor obtida inicialmente (ATTIN et al., 2003; BERSEZIO et al, 2019). O re-escurecimento pode ser devido a uma redução química dos produtos gerados durante a ação dos agentes clareadores, infiltração marginal de restaurações, produtos químicos ou bacterianos e trauma dental (WATERHOUSE, NUNN, 1996). Segundo Friedman et al (1988), avaliando os resultados estéticos em 58 dentes despolpados entre 1-8 anos após o clareamento interno, foi percebida a ocorrência de recidiva de cor em 50% desses dentes.
O clareamento de dentes escurecidos tratados endodonticamente é um procedimento muito utilizado na prática odontológica por ser uma técnica conservadora, de baixo custo e com alto índice de sucesso (BERSEZIO et al, 2019). Entretanto, mais estudos sobre esse assunto são necessários para comprovar a associação entre o clareamento interno e a reabsorção radicular externa. Além disso, apesar deste tipo de procedimento ter um alto índice de sucesso, os resultados do clareamento não são mantidos em longo prazo, sendo a recidiva de cor um fato que deve ser estudado e melhor compreendido. Além disso, é necessário avaliar a satisfação dos pacientes com relação ao tratamento realizado. Assim sendo, o objetivo deste trabalho foi realizar uma avaliação clínica e radiográfica retrospectiva da recidiva de cor e da detecção de reabsorção radicular externa cervical em dentes anteriores endodonticamente tratados que foram submetidos à terapia de clareamento interno, assim como avaliar a satisfação dos pacientes quanto ao tratamento.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho consistiu em um estudo clínico e radiográfico retrospectivo e cego de dentes anteriores (incisivos e caninos) superiores e inferiores, endodonticamente tratados escurecidos que foram submetidos à terapia de clareamento interno. Este estudo foi realizado na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O projeto de pesquisa passou por avaliação e aprovação da Comissão de Pesquisa da Faculdade de Odontologia (COMPESQ) e do Comitê de Ética da UFRGS (número do parecer 150.923). Todos os pacientes assinaram um consentimento informado antes de entrarem para o estudo.
Para seleção da população estudada foram considerados:
Quadro 1 – Lista de critérios de inclusão.
Pacientes com dentes anteriores, superiores e inferiores endodonticamente tratados que receberam terapia de clareamento interno (técnica mediata/ Walking Bleach) num período superior a 06 meses |
Pacientes adultos de ambos os sexos |
Quadro 2- Lista de critérios de exclusão.
Dentes que receberam terapia de clareamento interno num período inferior a 06 meses |
Pacientes com hábitos parafuncionais severos |
Pacientes com higiene oral precária |
Pacientes portadores de necessidades especiais |
Dentes com ausência de tratamento endodôntico |
Dentes clareados somente pela técnica imediata (Power Bleaching) |
Os pacientes foram selecionados através de pesquisa de prontuários presentes no Setor de Triagem (Acolhimento) da Faculdade de Odontologia da UFRGS, e foram contatados por telefone. Aqueles pacientes que concordaram em participar foram avaliados clínica e radiograficamente em um dos ambulatórios da Faculdade de Odontologia, em uma sessão pré-determinada, por um examinador previamente calibrado pelo coeficiente Kappa (Kappa 1), totalizando 34 pacientes examinados neste estudo. O avaliador era cego para os objetivos do estudo e treinado com uso da escala de cores previamente a sua utilização.
Uma profilaxia prévia foi realizada na arcada que continha o elemento dentário, que foi submetido ao procedimento de clareamento interno a ser avaliado, através de micromotor, taça de borracha e pasta profilática. Após a profilaxia, com o paciente devidamente sentado na cadeira odontológica, com o refletor desligado e com luz natural, a avaliação da cor do dente, através do uso de uma escala de cores (Vitapan Classical), foi realizada. O registro da cor do dente específico foi realizado pelos critérios de aproximação e exclusão de cor.Foram registrados também a cor do dente homólogo, o material restaurador definitivo utilizado, o agente clareador, o número de sessões realizadas, a presença de barreira cervical, assim como o material utilizado para sua confecção, a utilização de hidróxido de cálcio e o tempo decorrido após o tratamento, estes dados foram analisados considerando os registros prévios no prontuário. Além disso, os pacientes foram questionados quanto à satisfação em relação ao tratamento realizado, utilizando uma escala de 1 a 4, sendo utilizados os graus muito satisfeito, satisfeito, pouco satisfeito e insatisfeito.
A avaliação radiográfica foi realizada através de radiografia periapical padronizada, com auxílio de posicionador, do elemento dental em questão, onde foi avaliada, através do auxílio de um negatoscópio e de uma lupa, a presença ou a ausência de reabsorção radicular externa cervical.
Os pacientes que apresentaram necessidades de tratamento, as quais foram constatadas no processo de avaliação clínica, foram encaminhados para atendimento na Faculdade de Odontologia, respeitando o fluxo de pacientes encaminhados.
Os dados coletados na avaliação clínica e radiográfica foram tabulados. Os resultados obtidos na avaliação da reabsorção radicular externa cervical e na análise de cor foram representados de forma descritiva em valores percentuais, assim como os dados relacionados à satisfação do paciente.
RESULTADOS
Foram avaliados 46 dentes desvitalizados submetidos à terapia de clareamento interno em 34 pacientes, 27 do sexo feminino e 7 do sexo masculino, com idades entre 22 e 66 anos, tendo idade média de 38 anos, com um espaço de tempo decorrido do tratamento de 12 meses até 9 anos, média de 4,3 anos. As tabelas de 1-5 descrevem as variáveis dependentes e independentes avaliadas. Tabela 1- Avaliação quanto à recidiva de cor e outros desfechos de dentes endodonticamente tratados submetidos ao clareamento interno.
Foram realizadas de 1 até 5 trocas de agente clareador, em média 2,4 consultas de troca. A reabsorção radicular externa cervical foi encontrada em apenas dois casos, sendo um desfecho raro. Este estudo apresentou uma alta taxa de insucesso relacionado ao clareamento interno em dentes desvitalizados (58,7%), sendo a recidiva de cor importante nesse contexto, somado aos dentes que receberam facetas, coroas protéticas ou exodontia.
DISCUSSÃO
Este estudo retrospectivo avaliou clínica e radiográficamente dentes desvitalizados submetidos a clareamento interno, buscando melhor compreender o comportamento destes dentes após o tratamento. Constatou-se que 4,3% (2 casos) dos dentes apresentaram reabsorção radicular externa cervical, sendo que a severidade em um dos casos ocasionou a perda do elemento dentário. Heithersay et al. (1999) analisaram 257 dentes em 222 pacientes com reabsorção radicular e descobriram que em 24,1% dos casos a reabsorção foi causada por tratamento ortodôntico, 15,1% por trauma dental, 5,1% por cirurgia (transplante dental ou cirurgia periodontal) e 3,9% por clareamento interno, sendo que uma combinação dos processos de clareamento interno com uma das outras causas é responsável por 13,6% dos casos de reabsorção externa.
A reabsorção radicular pode ocorrer com mais freqüência nos casos onde há maiores concentrações de agente clareador e histórico de trauma (FRIEDMAN, 1997; ATTIN et al., 2003). Além disso, os estudos indicam que a aplicação de calor (método termocatalítico), a falta de uma barreira cervical e a utilização de 30% de peróxido de hidrogênio estão associados com a ocorrência de reabsorção radicular externa cervical (ATTIN et al., 2003). Neste estudo, nenhum dos casos analisados fez uso da técnica termocatalítica, nem relatou histórico de trauma. Na maioria dos casos, relatou-se o uso de barreira cervical, sendo os materiais mais utilizados: cimento de ionômero de vidro, cavit, seguido por cimento de ionômero de vidro associado ao cavit e fosfato de zinco. Hansen-Bayless & Davis (1992) indicaram que uma barreira é necessária para evitar a penetração radicular de agentes clareadores, visto que a obturação do canal não impede de forma adequada a difusão dos agentes clareadores da câmara pulpar para a porção radicular. McInerney & Zillich (1992) constataram que Cavit e IRM proporcionaram melhor vedação interna da dentina do que o cimento de fosfato de zinco, enquanto Hansen-Bayless & Davis (1992) relataram que o Cavit era uma barreira mais eficaz do que o IRM.
A técnica de claremanto interno utilizando perborato de sódio e peróxido de hidrogênio não causa reabsorção radicular até um ano após o clareamento. Esta observação pode ser explicada pelo fato do perborato de sódio inibir a função dos macrófagos, pois estes estimulam a reabsorção óssea pelos osteoclastos e a destruição da dentina e cemento (JIMENEZ-RUBIO, SEGURA, 1998). Neste estudo observou-se que o uso do Perborato de sódio foi utilizado em 73,9% dos casos, sendo realizadas de uma a cinco trocas de agente clareador. A obtenção do efeito desejado utilizando perborato de sódio e água pode levar mais tempo para aparecer, sendo assim podem ser necessárias trocas mais frequentes do agente clareador (SOMMA, 2008). Frank et al (2022) relatam eficácia similar para peróxido de hidrogênio, peróxido de carbamida e perborato de sódio no clareamento de dentes não-vitais.
Lesões ósseas inflamatórias têm um valor de pH baixo, o que é ideal para a reabsorção de tecido duro (MCCORMICK et al., 1983; BERSEZIO et al, 2020). Uma opção de tratamento (pós-clareamento) nestes casos consiste na colocação de hidróxido de cálcio na câmara pulpar, pois ele é capaz de induzir um pH mais elevado na dentina (TRONSTAD et al., 1981). Tronstad et al. (1981) assumiram que formações reparadoras de tecido duro são suportadas por esse tratamento. O presente estudo encontrou a presença de hidróxido de cálcio em 30,4% dos dentes analisados, que em conjunto com a alta taxa de uso de barreira cervical e tendo como agente clareador o perborato de sódio, pode ter contribuído para a baixa taxa de reabsorção radicular externa.
Após o clareamento interno, ocasionalmente pode ser observado um re-escurecimento (FRIEDMAN, 1997; BERSEZIO et al, 2019), isto pode ser causado presumivelmente pela re-organização química dos produtos do clareamento, difusão de substâncias e pela penetração bacteriana através de fendas marginais entre a restauração e o dente. Dependendo do estudo, a taxa de recorrência após dois anos é de 10%, ao fim de cinco anos 25%, e depois de oito anos 49% (FRIEDMAN, 1997; FRIEDMAN et al., 1988; GLOCKNER et al., 1999). Anitua et al. (1990) não encontraram nenhuma mudança de cor em nenhum dos 258 dentes tratados no seu estudo nos primeiros três anos após o tratamento. Na avaliação após 4 anos, os operadores encontraram uma ligeira alteração na cor somente em seis dos dentes tratados. Neste presente estudo, em 41,3% dos casos (19 dentes) houve sucesso no tratamento, ou seja, observou-se manutenção da cor do dente avaliado em relação ao dente homólogo, porém houve uma alta taxa de insucesso, com recidiva de cor quando comparado ao dente homólogo ou restauração estética associada, em uma média de tempo de 4,3 anos após o tratamento. Essa alta taxa de insucesso pode ser explicada pela recidiva de cor ou pela necessidade de realização de faceta ou coroa protética.
Esse trabalho mostra que em 34,8% dos casos, os pacientes ficaram muito satisfeitos, em 21,7% ficaram satisfeitos, em 17,4% ficaram pouco satisfeitos e em 26,1% ficaram insatisfeitos em relação ao tratamento realizado. Vale a pena salientar que a opinião do paciente em relação ao sucesso do tratamento é frequentemente mais positiva do que a opinião do dentista (ANITUA et al., 1990; GLOCKNER et al.,1999). Segundo Gupta & Saxena (2014), a análise do grau de satisfação do paciente mostrou que 87,8% (36/41) deles estavam muito satisfeitos com os resultados obtidos; 7,32% (3/41) estavam satisfeitos, enquanto 4,9% (2/41) não estavam satisfeitos. Ainda de acordo com Gupta & Saxena (2014), a maioria dos participantes (97,6%) não era nem ciente do fato de que seu dente escurecido poderia ser clareado, nem dos procedimentos de confecção de faceta (95,12%), o que demonstra a falta de conscientização do público em geral. A opção de tratamento mais comum que eles sabiam era a colocação de coroa (78,1%) ou a extração seguida por substituição (48,8%).
O presente trabalho apresentou certa limitação na avaliação de estabilidade de cor, devido ao fato de ser um estudo retrospectivo, não havendo controle do preenchimento dos prontuários e por isso encontrando dificuldade na coleta dos dados, que muitas vezes não constavam nos arquivos, tais como cor inicial e final, radiografias e fotografias. No estudo realizado por Gupta & Saxena (2014), em cada visita de rechamada, a avaliação do matiz foi realizada usando a escala Vitapan Classical, e as tonalidades foram comparadas à tonalidade anterior ao tratamento e de cada consulta de reavaliação; já, Bernardon et al. (2010) utilizaram, além da escala de cores, espectrofotômetro em suas avaliações. O presente trabalho realizou uma análise subjetiva da estabilidade de cor, baseada na comparação com o dente homólogo e na análise de satisfação do paciente em relação ao tratamento. De acordo com Lim et al. (2004), está bem estabelecido que a determinação visual da cor é subjetiva, comparada à precisão da avaliação do espectrofotômetro. No entanto, Vachon et al. (1998) sugerem que, embora as leituras do espectrofotômetro indiquem uma diferença estatisticamente significativa, essas diferenças poderiam ser clinicamente idênticas as do olho humano ou clinicamente irrelevantes. Ainda, segundo o estudo de Gupta & Sexana (2014), após a conclusão do tratamento, os pacientes eram questionados quanto ao seu nível de satisfação com base na Escala Analógica Visual. O nível de satisfação foi tomado de 0-10, sendo 10 muito satisfeito, 8-9 satisfeito, 6-7 parcialmente satisfeito e ≤5 como insatisfeito, semelhante ao método utilizado no presente estudo.
Radiografias do dente clareado devem ser feitas após o tratamento, a fim de diagnosticar a reabsorção radicular tão cedo quanto possível. Nenhuma informação está disponível na literatura sobre intervalos precisos de tempo para a tomada de radiografias pós-operatórias (ATTIN et al., 2003). Neste presente estudo, as radiografias de controle pós-operatório foram realizadas com média de tempo pós tratamento de 4,3 anos.
Os dados foram finalizados e analisados de forma descritiva. Além das limitações observadas no estudo, o número da amostra obtida no estudo foi de 46 dentes, podendo ser considerada uma avaliação interina. Sendo assim, a realização de estudos prospectivos, com maior controle sobre os dados registrados e com uma amostra maior se mostra necessária, com objetivo de melhor descrever a recidiva de cor em dentes endodonticamente tratados submetidos ao clareamento interno e assim melhor entender o processo.
O clareamento interno é um procedimento simples, conservador e eficaz para restauração da estética de dentes desvitalizados, visto que o escurecimento dental, especialmente na região anterior, pode resultar num comprometimento estético considerável (MADHU, 2013). Além disso, apresenta grande aceitação e satisfação por parte dos pacientes, pois muitos desconhecem que seu caso pode ser solucionado de uma maneira mais simples e menos invasiva. Apesar disso, o clareamento interno apresenta algumas limitações como a recidiva de cor e a reabsorção radicular externa cervical. Cada caso deve ser avaliado individualmente e essas questões devem ser explicadas para o paciente no momento da decisão do tratamento.
CONCLUSÕES
A partir dos resultados encontrados nesse estudo, conclui-se que dentes desvitalizados submetidos ao clareamento interno apresentaram 23,9% de recidiva de cor, sendo esse um dos fatores que mais contribuiu para a taxa de insucesso dos tratamentos de 58,7%. Apesar disso, a maioria dos pacientes mostrou-se satisfeita em relação ao tratamento. A reabsorção radicular externa cervical foi encontrada em 4,3% dos casos, sendo considerada um desfecho raro.
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1Cirurgiã-dentista – UFRGS
2Pós-doutor em Dentística – UFPel; Professor de Dentística – UFRGS