Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 86, Maio/Junho de 2012.
Avaliação postural em alunos do ensino fundamental das escolas públicas municipais da cidade de Exu (PE)
POSTURAL ASSESSMENT IN ELEMENTARY SCHOOL STUDENTS IN PUBLIC SCHOOLS OF THE TOWN OF EXU (PE)
Ângela Medeiros Magalhães
Revisado por: Rodrigo Silva Perfeito (rodrigosper@yahoo.com.br)
Nova Fisio, Revista Digital. Rio de Janeiro, Brasil, Ano 15, nº 86, Maio/Junho de 2012.
Resumo
Alterações posturais são frequentemente encontradas na infância. Nessa fase, a postura sofre uma série de ajustes e adaptações às mudanças que ocorrem no corpo, além da influência psicossocial a que a criança é submetida, ocorrendo grande transformação na busca de um equilíbrio compatível com as novas condições. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi identificar as principais assimetrias, desníveis e desvios posturais em estudantes do Ensino Fundamental de escolas públicas do município de Exu, Estado de Pernambuco. Foram avaliados 116 alunos na faixa etária de 7 a 12 anos, sendo 50% do sexo feminino e 50% do sexo masculino. A coleta de dados foi feita no período entre novembro e dezembro de 2009. Como padrão postural de referência, utilizou-se o cartão de exame postural baseado no método de Kendall, visualizado em três planos: (A) plano coronal-anterior; (B) plano coronal-posterior; (C) plano sagital. Quanto aos resultados, foi encontrada incidência elevada de assimetrias e desvios posturais na maioria dos alunos avaliados, tanto no segmento superior quanto inferior do corpo. A frequência total dos problemas posturais por segmento corporal incluiu 38 alterações para cabeça, 122 de ombros, 23 de abdome, 80 de coluna vertebral, 1 de tórax, 29 de cíngulo superior (escápulas), 47 de cíngulo inferior (pelve), 31 de joelhos e 65 de pés, totalizando 436 alterações. Verificou-se também que do total de alterações posturais, as mais frequentes relacionam-se a ombros (28%), coluna (18,3%) e pés (14,9%), e menos frequentes em tórax (0,2%), abdome (5,3%) e escápulas (6,7%). Em todas as crianças que apresentaram algum tipo de alteração, estavam presentes problemas relacionados à coluna vertebral. A maior frequência de problemas se refere a membros superiores, como alterações de ombros. Dessa forma, este estudo sugere que os alunos das instituições de escolas públicas do município de Exu (PE) apresentam alta prevalência de debilidade postural.
Palavras chave: avaliação postural, Problemas posturais, Estudantes, Prevenção postural.
Resumen
Frecuentemente se encuentran alteraciones posturales en la infancia. En esa fase, la postura sufre una serie de ajustes y adaptaciones debido a cambios que ocurren en el cuerpo, agravados por influencia psicosocial a que se someten los niños, lo que causa gran transformación en la búsqueda del equilibrio compatible a las nuevas condiciones. Así, el presente estudio intenta identificar las asimetrías, desniveles y desviaciones posturales principales en alumnos de la educación básica pública en el distrito de Exu, Estado de Pernambuco (Brasil). Participaron del estudio 116 alumnos en la banda etaria de 7 a 12 años, siendo el 50 por ciento del sexo femenino y el 50 por ciento masculino. La colecta de datos fue echa durante los meses de noviembre y diciembre de 2009. El modelo de referencia utilizado fue la planilla de examen postural basado en el método de Kendall incluyendo tres planos: (A) plano coronal ventral; (B) plano coronal dorsal; (C) plano sagital. De acuerdo con los resultados, fue encontrada elevada incidencia de asimetrías, desviaciones y desniveles de postura em la mayoría de los alumnos examinados. La frecuencia total de los problemas posturales de los diferentes segmentos corporales incluye 38 alteraciones en la cabeza, 122 en hombros, 23 en abdomen, 80 en columna vertebral, 1 en tórax, 29 en cingulo superior (escapular), 47 en cingulo inferior (pelvico), 31 en rodillas y 65 en pies, totalizando 436 alteraciones. Se verificó también que las alteraciones más frecuentes están relacionadas con la cabeza (8,7%) y hombros (28%) y las menos frecuentes con el abdomen (5,3%), cordón espinal (18,3%) y tórax (0,2%). En todos los niños que presentaron alguna alteración, se encontraron problemas relatados a la espina dorsal. La mayor frecuencia de problemas se refiere a los miembros superiores, como alteraciones del hombro. De esa manera, este estudio sugiere que los estudiantes de escuelas públicas en el distrito de Exu (PE) presentan alta prevalencia de debilidad postural.
Palabras clave: Evaluación postural, Debilidad postural, Estudiantes, Prevención postural.
Introdução
Desde que assumiu a postura ereta, o maior desafio do Homem foi ficar em pé sem sobrecarregar a estrutura óssea e as articulações. Para isso, o corpo se defende diariamente na luta contra a gravidade a fim de compensar deficiências de equilíbrio ou dores (SOUCHARD, 1996 apud MADEIRA et al, 2002).
Magee (2002) deixa claro que a maior vantagem da postura ereta é habilitar as mãos a ficar livres e os olhos a focar mais longe à frente. Porém, as desvantagens incluem a sobrecarga aumentada sobre a coluna e os membros inferiores e dificuldades comparáveis na respiração e transporte do sangue à cabeça, o que se torna simples quando se tem postura adequada.
Por definição, postura é a posição ou a atitude do corpo em disposição estática ou o arranjo harmônico das partes corporais a situações dinâmicas, resultado da capacidade que os ligamentos, cápsulas e tônus muscular têm de suportar o corpo ereto, permitindo a permanência em dada posição por períodos prolongados sem desconforto e com baixo consumo energético (MAGEE, 2002).
Na postura padrão, a coluna apresenta curvaturas normais, e os ossos dos membros inferiores ficam em alinhamento ideal para a sustentação de peso. A posição neutra da pelve conduz ao bom alinhamento de abdome, tronco e membros inferiores. O tórax e a coluna superior se posicionam de forma que a função ideal dos órgãos respiratórios seja favorecida. A cabeça fica ereta, bem equilibrada, minimizando a sobrecarga sobre a musculatura cervical (KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995). Quando o equilíbrio não acontece, surgem os desvios posturais, que na infância podem ser tratáveis.
Desvio postural na infância
Vários são os desvios posturais apresentados pela criança durante a fase de desenvolvimento devido às alterações provenientes do próprio crescimento (CORREA, PEREIRA e SILVA, 2005). Calvete (2004) lembra que é na infância e adolescência que a postura se encontra em processo de desenvolvimento. Para Magee (2002), a postura decorrente de maus hábitos pode causar alterações na estrutura óssea durante a infância e a adolescência, gerando complicações no âmbito funcional, ortopédico, respiratório e outros, além de algias musculares.
As afecções do sistema musculoesquelético, particularmente as algias vertebrais, constituem um problema tão sério na sociedade moderna que equipes multidisciplinares procuram desenvolver normas para a adequada avaliação da coluna vertebral, a fim de diagnosticar precocemente problemas relacionados a postura (ALEXANDRE e MORAES, 2001). Assim, a avaliação passa a ser de enorme importância não apenas para o tratamento, mas também como fator de prevenção de intercorrências e feedback (BARAÚNA e ADORNO, 2001).
Excluindo-se as patologias de ordem traumática, senil ou infecciosa, acredita-se que as deformações ósseas tenham origem entre o nascimento e os 20 anos de idade. Justifica-se, diante disso, a importância de diagnosticar, na época de adolescência, os desvios posturais que ocorrem (LAPIERRE, 1982). O diagnóstico precoce, principalmente dos desvios da coluna vertebral, é fundamental. É aconselhável que todas as crianças sejam examinadas periodicamente, e com maior atenção na fase do crescimento rápido (MIRANDA e SODRÉ; GENESTRA, 2009).
Segundo Costa (1997), deve-se ficar atento às alterações posturais encontradas em crianças na faixa etária de 7 a 12 anos por ser um período intermediário entre o primeiro estirão de crescimento, que ocorre do nascimento até o 3º ano de idade, e o segundo, que acontece na adolescência. Crianças em idade escolar passam entre quatro e cinco horas na escola e permanecem sentadas a maior parte do tempo, e a escola tem se tornado o ambiente que mais favorece a postura de sustentação na posição sentada, tendo em vista que a criança permanece assim durante horas (FREIRE, TEIXEIRA e SALES, 2008).
Segundo Calvete (2004), na infância e adolescência, a postura encontra-se em processo de desenvolvimento. Nesse período, qualquer alteração funcional em função da má postura irá repercutir negativamente no futuro. A partir daí, vem a necessidade do avanço na reflexão das principais características que envolvem a má postura. Para detectar os desvios posturais, deve ser realizada avaliação postural por meio de um dos vários instrumentos de diagnose relatados na literatura. Após a análise dos resultados, sugere-se que as crianças sejam atendidas de acordo com as necessidades, podendo ser encaminhadas a outros profissionais, como fisioterapeuta ou ortopedista.
Na escola, por meio das aulas de Educação Física, pode ser potencializado o fortalecimento de musculaturas fragilizadas e o alongamento daquelas encurtadas, já que os exercícios terapêuticos são o principal meio pelo qual o equilíbrio muscular é restaurado. Além disso, fica clara a necessidade de desenvolver a consciência corporal (FREIRE, TEIXEIRA e SALES, 2008). Martelli e Traebert (2006) reafirmam que a idade escolar compreende a fase ideal para recuperação das disfunções na coluna vertebral de maneira eficiente, pois a correção precoce nesse momento possibilita padrões posturais corretos na vida adulta e é o período de maior importância para o desenvolvimento musculoesquelético do indivíduo.
Para Santos et al. (2009), o aumento significativo de problemas posturais em crianças de todo o mundo se deve à má postura durante a atividade escolar, como uso incorreto de mochila escolar, na maioria das vezes pelo excesso de peso de livros e cadernos, utilização de calçados inadequados, sedentarismo e obesidade.
Do ponto de vista de Iunes et al. (2005) e Kendall et al. (1995), a avaliação postural é de fundamental importância para o planejamento do tratamento fisioterapêutico e para o acompanhamento da evolução e dos resultados do tratamento. Normalmente, a avaliação postural é feita pelo método clássico, que consiste da análise visual do aspecto anterior, lateral e posterior do corpo, com o sujeito em trajes sumários, analisando os desníveis de ombro, clavículas, mamilo, cintura, espinhas ilíacas, joelhos e pés.
Fotos: a autora
Entre as várias lesões posturais encontradas na fase escolar, a principal é a escoliose, que se define como desvio no eixo sagital da coluna correspondente a valores maiores que 10 graus. A alteração inicia-se na infância e adolescência podendo acarretar, se não tratada devidamente, uma instalação definitiva dessa anomalia vertebral, afetando drasticamente a aparência física e possivelmente encurtando a expectativa de vida (SILVA, 2008).
Para Rodrigues et al. (2003), é principalmente no período de 7 a 12 anos de idade, quando ocorre a busca do equilíbrio para as novas proporções do corpo, que se evidenciam as transformações posturais.
Com base nessas informações, a pergunta condutora deste trabalho foi: os estudantes das escolas municipais de Exu, no Estado de Pernambuco, apresentam desvios posturais? Quais seriam esses desvios?
A importância deste estudo se baseou na necessidade de trabalhar com estudantes de escolas municipais da cidade de Exu, Estado de Pernambuco, a fim de buscar melhor compreensão dos problemas relacionados à má postura, uma vez que há escassez de estudos relacionados a tais problemas na região, além de buscar contribuir para a possibilidade de as escolas proporcionarem aos alunos não só o bem estar social e mental, mas também físico.
Materiais e métodos
Para a realização da pesquisa, foram avaliados 116 alunos na faixa etária de 7 a 12 anos, sendo 50% do sexo feminino e 50% do sexo masculino. A população objeto de estudo foi dividida em conglomerados exaustivos na forma de seis (6) instituições de ensino do município de Exu (PE). Como tecnicamente não há necessidade de que todas integrem a amostra, escolheram-se três (3).
Os critérios de inclusão foram: ter o consentimento dos pais ou responsáveis por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que autoriza a participação do menor na pesquisa; estar matriculado entre a 1ª e a 4ª série numa das escolas públicas selecionadas no município de Exu (PE); não possuir nenhuma alteração postural congênita; possuir integridade física e psicológica; e ter entre 7 e 12 anos de idade. Os critérios de exclusão foram: estar fora da faixa etária pretendida (menor de 7 anos e maior de 12 anos); possuir alterações posturais congênitas; e apresentar algum tipo de déficit físico ou distúrbio psicológico.
Fotos: a autora
A coleta de dados foi feita no período entre novembro e dezembro de 2009. Para tanto, as sessões de fotografia com os alunos foram realizadas no próprio ambiente escolar, em uma sala adequada designada pela direção da escola. A área destinada para a aquisição das fotografias foi devidamente preparada, a fim de obter melhor qualidade na imagem, permanecendo no local somente o aluno, pesquisadora e assistente escolar e os instrumentos necessários à coleta de dados.
Os estudantes foram abordados nos horários de aula definidos com os diretores e professores na própria escola. Individualmente, o aluno foi avaliado sobre uma superfície plana, descalço, com traje de banho. Como padrão postural de referência, utilizou-se o cartão de exame postural baseado no método de Kendall, McCreary e Provance (1995), visualizado em três planos: (A) no plano coronal anterior, observou-se a inclinação e a rotação cervical, a elevação de ombro e inclinação pélvica, a rotação de tronco e fêmur e a angulação do joelho e pés; (B) no plano coronal posterior, observou-se o alinhamento da escápula e da coluna, o posicionamento dos pés e a confirmação de algumas alterações vistas no plano coronal anterior; (C) no plano sagital, observou-se a retifica¬ção e protrusão da cabeça, ombro, abdome, o alinhamento torácico e lombar, as rotações pélvicas e a hiperextensão de joelho.
Após a coleta, os dados foram processados pelo software SPSS Statistica (Statistical Package for the Social Sciences), aplicativo utilizado em ciências sociais, a fim de proceder à realização de estatística descritiva. Neste trabalho, aplicaram-se os seguintes testes e análises estatísticos: análise de medidas de posição; análise de medidas de dispersão; análise de variância; e correlação.
Resultados
Os resultados das assimetrias e desníveis posturais – tanto à esquerda como a direita, englobando os seguintes segmentos do corpo: cabeça, ombro, abdome, coluna vertebral, tórax, cíngulo superior, cíngulo inferior, joelhos e pés, distribuídos em porcentagem, número de alunos, sexo, frequência do total das alterações, bem como, das alterações por segmento corporal, assim como o número das alterações associadas – estão no Gráfico 1, a seguir:
No Gráfico 1 observa-se a distribuição das alterações posturais: 8,7% da cabeça; ombro, as mais frequentes na pesquisa, com 28%; abdome, relativamente em pequena quantidade, com 5,3%; coluna, segunda colocação, com 18,3%; tórax, a menor frequência da pesquisa 0,2%.
No cíngulo superior, as alterações em escápulas foram de 6,7%, já no cíngulo inferior as alterações se mostraram em 10,8%, ficando os joelhos com 7,1% – ocupando a terceira colocação de alterações mais frequentes, ficaram os pés, com 14,9%. Em relação à coluna vertebral, quinze crianças apresentaram hipercifose torácica; sete, dorso plano; a hiperlordose lombar se destacou, sendo percebida em trinta crianças avaliadas, lombar plana em vinte crianças e oito com escoliose.
O registro de alteração em tórax foi mínimo, nenhuma das crianças apresentou tórax deprimido, rodado ou desviado, apenas uma criança se mostrou com tórax elevado. No cíngulo superior, catorze crianças apresentaram escápulas abduzidas e quinze apresentaram escápulas elevadas; no cíngulo inferior, o maior número de alterações ficou com o membro inferior em adução postural, com 44 crianças, além de três inclinações de pelve e nenhuma com rotação da pelve.
Nos joelhos, os números de alterações foram proporcionais: oito crianças apresentaram joelhos rodados medialmente, apenas uma com joelhos rodados lateralmente, nove com geno valgo e seis com geno varo, quatro com hiperextensão de joelhos e três com flexão de joelhos.
Finalizando com as alterações de pés, seis crianças apresentaram dedos em martelo, seis com arco anterior baixo, uma com pé pronado, dois com pés supinados, e o maior número ficou para arco longitudinal plano, com cinquenta crianças apresentando esse tipo de alteração, enquanto nenhuma, com alteração de hálux valgo e antepé varo.
Tendo em vista que as alterações posturais podem ser associadas, ficou claro que a maioria das crianças (48,2,%) apresentou de três a quatro alterações conjuntas e apenas três crianças (2,6%) não apresentaram nenhuma alteração. De acordo com o total de alterações da cabeça, evidenciou-se que cabeça para a frente totalizou 55,3%, inclinação lateral 44,7%, enquanto nenhuma criança apresentou rotação de cabeça (0%). Em relação ao ombro, identificaram-se 23,8% de ombro baixo, 18% de ombro alto, 15,6% de ombro anterior e 42,6% de rotação medial de ombro. Dentro das alterações do segmento abdome, a protrusão foi de 100%, enquanto nenhuma criança (0%) apresentou cicatrizes abdominais.
A hipercifose torácica se mostra em 18,8% dos alunos pesquisados, dorso plano em 8,8%, hiperlordose lombar em 37,5%, lombar plana em 25% e escoliose em 10%. As alterações no toráx se apresentaram em mínima quantidade, totalizando 100% das alterações no segmento tórax, pois nos demais tipos como tórax deprimido, rodado e desviado foi de 0% (zero). As alterações do cíngulo superior apresentaram-se em 48,3% para escápulas abduzidas e 51,7% para escápulas elevadas. As alterações posturais no cíngulo inferior totalizam 93,6% das alterações em adução postural de membro inferior; 6,4% inclinação; e nenhuma alteração como rotação da pelve 0,0%.
No presente estudo, as alterações em joelho apresentaram-se em 25,8% rodado medialmente, 3,2% rodado lateralmente, 29% geno valgo, 19,4% geno varo, 12,9% hiperextensão e 9,7% flexão de joelhos. Das alterações do pé, dedos em martelo representaram 9,2%, nenhuma de hálux valgo (0%); arco anterior baixo esteve presente em 9,2%, nenhuma alteração do tipo antepé varo (0%). Pés pronados aparecem apenas em 1,5%, e pés supinados em 3,1%, enquanto o arco longitudinal plano se evidencia com a maioria das alterações em pé, com 76,9%.
Em cinco crianças observou-se apenas uma alteração postural, vinte crianças apresentaram dois tipos de alteração. Em destaque ficaram três alterações, correspondendo a 31 do total de crianças avaliadas. Em seguida, ficaram quatro alterações, totalizando 25 crianças; cinco alterações, dezessete crianças; seis crianças apresentaram onze alterações; e duas mostraram sete tipos; uma somente com oito alterações; e uma somente com nove alterações; apenas três crianças não apresentaram nenhuma alteração postural.
Na análise da presença de alterações associadas, observou-se que 4,3% das crianças apresentaram apenas uma alteração; 17,2% duas alterações; 26,7% três alterações; 21,6% quatro alterações; 14,7% cinco alterações; 9,5% seis alterações; 1,7% sete alterações, 0,9% nove alterações; e apenas 2,6% nenhuma alteração.
Discussão
Neste estudo, discutiu-se a questão postural, os hábitos diários, estratégias para diagnóstico e mecanismos para elaboração de uma proposta de educação postural no ambiente escolar. Tem-se como ponto de partida uma reflexão sobre os problemas de saúde que podem originar-se no cotidiano familiar e escolar a partir da adoção de posturas inadequadas. Abordou-se também a importância da educação postural no contexto da saúde, sobretudo no aspecto preventivo.
De todas as manifestações posturais, a mais frequente foi no segmento do ombro, com 28%. Tais constatações também foram verificadas por Pinho e Duarte (1995) em trabalho de análise postural em escolares de 7 a 10 anos.
No presente estudo, as alterações em coluna vertebral se mostraram em segundo lugar entre as alterações mais frequentes, com 18,3%. Dentro das alterações de coluna vertebral, a hiperlordose lombar foi a mais frequente, com 37,5%; incidência que pode ser considerada baixa se comparada ao resultado de 58% de casos identificados na pesquisa realizada por Penha et al (2005). Em seguida, vem a região lombar plana com 25% e a hipercifose torácica com 18,8%. Estudo realizado por Martelli e Traebert (2006) envolvendo escolares de 6 a 17 anos de idade mostrou que a hipercifose estava presente em 20,9% dos pesquisados, com predominância no sexo masculino.
Como o presente estudo englobou crianças de 7 a 12 anos, o índice de hipercifose encontrada pode ser explicado, segundo Nissinen (1993 apud DUARTE, 2004), pelo crescimento da criança, sendo mais evidente em meninos do que em meninas. Sobre alterações em abdome, 23 crianças apresentaram protrusão abdominal. Segundo Asher (1976) e Souchard (1985), crianças de 6 a 10 anos tendem a projetar o abdome para a frente e hiperestender os joelhos para a distribuição do peso anteroposterior. Talvez isso explique a elevada ocorrência de hiperlordose lombar (37,5%), característica considerada normal desde que a acentuação não seja em demasia. No presente trabalho, o percentual de escolares com escoliose foi de 10%.
Também foram frequentes na amostra estudada alterações em pé, 14,9%, sendo a terceira causa mais encontrada. Dentro deste segmento (pé), o arco longitudinal plano obteve o maior número de alterações, com índice de 76,9%. O número de alunos foi de cinquenta. Para Salomão et al (1993), a definição do pé plano é muito controversa entre os vários autores. A expressão retropé valgo não descreve o arco plantar e o antepé e nem sempre está presente no pé plano. A melhor denominação talvez seja hiperpronação, uma condição difícil de ser medida.
Em relação a hálux valgo, não foi encontrada nenhuma alteração nos alunos da pesquisa. Ruaro et al (2000) dizem que a morfologia do hálux valgo evidencia o desvio medial do primeiro metatarsal, saliência na face interna da articulação metatarsofalângica e desvio lateral do primeiro dedo. O aparecimento do hálux valgo depende da presença de fatores intrínsecos e extrínsecos. São reconhecidos traços genéticos na incidência familiar dessa deformidade, e o desenvolvimento e a progressão parecem estar sob influência de calçados com formato inadequado, ou seja, afilados na câmara anterior e com salto elevado.
No tratamento do hálux valgo é impossível ser dogmático, sendo a tendência inicial não operatória. O tratamento cirúrgico tem por finalidade aliviar os sintomas, corrigir o alinhamento, restabelecer os princípios biomecânicos, devolver a função, possibilitar conforto no uso de calçados comerciais e atender às exigências da estética (RUARO et al, 2000). Talvez isso explique a falta de alterações desse tipo na população em estudo, por se tratar de crianças, em que não é comum ainda a utilização de calçados com fins estéticos.
Mesmo com incidência relativa, o geno valgo estava presente, com 29%, e geno varo, com 19,4%. Do recém-nascido à criança em idade escolar, desvios angulares no ângulo Q, também chamado de ângulo frontal do joelho, são fisiológicos e correspondem ao desenvolvimento motor inerente a cada fase do crescimento. A condição fisiológica do recém-nascido é o joelho varo, o qual se retifica por volta dos 6 meses de idade. Tende então a alcançar o padrão valgo por volta de 1 ano de idade, sendo máximo aos 4 anos. A partir dessa fase, ocorre a ação inversa de diminuição do valgo, estabilizando o ângulo final aos 6 anos de idade (VOLPON, 1995). No que diz respeito a alterações relacionadas à cabeça, este estudo mostrou com mais frequência a cabeça para a frente, correspondendo a 55,3%; em seguida, inclinação lateral, com 44,7%.
O número elevado de crianças com possíveis desvios posturais encontrados neste estudo pode ter sido consequência de alterações fisiológicas naturais do crescimento e desenvolvimento humano. No entanto, alterações estruturais podem ser provocadas pela utilização inadequada do mobiliário (carteiras escolares), vícios posturais como, por exemplo, a forma de carregar mochilas, o uso de calçados inadequados, o sedentarismo, a desnutrição, entre outras causas.
Considerações finais
Diante dos resultados obtidos e analisados, e dentro das limitações do estudo, concluiu-se que a maioria das crianças apresenta algum grau de desvio postural. A frequência total dos desvios posturais por segmento corporal, sendo 38 alterações para cabeça, 122 em ombro, 23 em abdome, oitenta em coluna vertebral, um em tórax, 29 em cíngulo superior (escápulas), 47 em cíngulo inferior (pelve), 31 em joelhos e 65 em pés, totaliza 436 alterações. Pode-se observar o total de alterações posturais, com coluna e ombro, 18,3% e 28%, respectivamente, sendo as mais frequentes; e menor frequência de alterações em abdome (5,3%) e tórax (0,2%). Tais desvios podem ser atribuídos ao peso das mochilas, às cadeiras que não são ergonômicas, mas também como consequência de alterações fisiológicas naturais do crescimento e desenvolvimento humano.
Em suma, entende-se que a metodologia utilizada neste estudo, bem como o rigor observado nas avaliações da postura, permitiram verificar a prevalência de alterações posturais nas crianças escolares de uma cidade brasileira e os fatores associados às alterações. Os resultados mostraram alta prevalência de alterações na postura dos alunos. A alta prevalência é preocupante tanto do ponto de vista da saúde coletiva quanto do ponto de vista ortopédico. Sendo assim, considera-se importante que os profissionais da área de saúde estejam aptos a realizar avaliações da postura, e recomenda-se que as avaliações comecem a fazer parte do cronograma escolar. Com a inserção desse procedimento no âmbito educacional, alterações e patologias da coluna vertebral poderão ser identificadas precocemente.
As considerações feitas no início deste trabalho, sobre as vantagens de ações preventivas em saúde na escola e da necessidade de novas alternativas para redução dos efeitos adversos da postura, indicam que a escola de Ensino Fundamental é o espaço adequado para promover programas preventivos relativos a problemas musculoesqueléticos. No que diz respeito à educação para a saúde, recomenda-se que os dados provenientes desta investigação e de outras que dela decorrerem possam oferecer contribuições úteis ao planejamento de medidas visando à manutenção, melhoria e promoção do bem-estar físico dos escolares.
Ao ser efetuada a avaliação postural, verificou-se grande interesse por parte dos alunos, além de se constatar, nos colégios estudados, carência de informação e ausência de programas educativos sobre o tema. Contudo, fica evidente que a boa postura depende diretamente do conhecimento do próprio corpo e da imagem ou consciência que cada um tem de si mesmo em cada momento. Logo, só é possível manter postura padrão se o indivíduo tiver conhecimento suficiente do corpo, associado a estímulos sensoriais e modelos posturais adequados. Todo o processo de avaliação visou tanto à prevenção quanto à caracterização dos vícios posturais evitando que o estado de debilidade muscular passe a patológico.
O presente trabalho pretendeu contribuir para o avanço da atuação da fisioterapia e proporcionar ampliação do conhecimento dos alunos acerca da postura corporal a partir das escolas estudadas. Porém, não é possível confirmar se tais conhecimentos estão sendo aplicados pelos estudantes na vida diária. Dessa forma, sugere-se que outros estudos sejam realizados a fim de investigar os efeitos em longo prazo de uma intervenção preventiva, com consequente mudança de hábito postural, além de programas que permitam ao professor identificar e orientar quanto às mudanças nos fatores de risco que atuam no ambiente escolar.
Referências bibliográficas
ALEXANDRE, N; MORAES, M. Modelo de avaliação físico-funcional da coluna vertebral. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 9, n. 2, mar./abr. 2001.
ASHER, C. Variações de postura na criança. São Paulo: Manole, 1976.
BARAÚNA, M; ADORNO, M. Avaliação cinesiológica das curvaturas lombar e torácica das gestantes do cifolordômetro e da fotogrametria computadorizada e sua correlação com a dor lombar. Revista Fisioterapia Brasil, v. 2, n. 3; mai/jun 2001, p. 145-54.
CALVETE, S. A relação entre alteração postural e lesões esportivas em crianças e adolescentes obesos. Motriz, Rio Claro, v. 10, n. 2, p. 67-72, mai./ago. 2004. Escola de Educação Física e Esporte USP.
CORREA, A; PEREIRA, J; SILVA, M. Avaliação dos desvios posturais em escolares: estudo preliminar. Revista Fisioterapia Brasil 6(3):175-178, maio-jun. 2005. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xisesrc=googleebase=LILACSelang=penextAction=lnkeexprSearch=491219eindexSearch=ID>. Acesso em: 15. jul. 2010.
COSTA, C. Estudo da evolução postural: aspectos morfológicos e formação do esquema corporal. Dissertação (Mestrado em Fisioterapia) – Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 1997.
DUARTE, M. Estudo comparativo do ângulo de Cobb e do ângulo por tangente para avaliação da influência da bandagem funcional sobre as curvaturas lombar e torácica. Dissertação (Mestrado em Fisioterapia) – Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2004.
FREIRE, I; TEIXEIRA, T; SALES, C. Hábitos posturais: diagnóstico a partir de fotografias. Revista da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Campinas, v. 6, n. 2, 2008.
IUNES, D. et al. Confiabilidade intra e interexaminadores e repetibilidade da avaliação postural pela fotogrametria. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 9, n. 3, 2005, Alfenas (MG).
KENDALL, F; McCREARY, E; PROVANCE, P. Músculos: provas e funções. 4. ed., São Paulo: Manole, 1995.
LAPIERRE, A. Reeducação física: cinesiologia, reeducação postural, reeducação psicomotora. 6ª ed. Vol. II, São Paulo: Manole, 1982.
MADEIRA, J. et al. Prevalência de lombalgia em acadêmicos de fisioterapia no ambulatório de um hospital universitário. Revista Fisioterapia Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], ano 3, n. 6, p. 371-6, nov. 2002.
MAGEE, D. Disfunção músculo-esquelética. 3ª ed. São Paulo: Manole, 2002, p. 105-57.
MARTELLI, R; TRAEBERT, J. Estudo descritivo das alterações posturais de coluna vertebral em escolares de 10 a 16 anos de idade: Tangará-SC, 2004. Revista Brasileira de Epidemiologia. v. 9, n. 1, p. 87-93, mar. 2006.
MIRANDA, J; SODRÉ, C; GENESTRA, M. Proposta de adaptação de protocolo de avaliação postural aplicada para diagnóstico precoce da escoliose na idade escolar no município de Volta Redonda/RJ – Volta Redonda RJ. Revista Práxis, ano I, nº 1, jan. 2009, p. 55-8.
PINHO, R; DUARTE, M. Análise postural em escolares de Florianópolis – SC. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. v. 1, n. 1, p. 49-58, 1995.
RODRIGUES, L. et al. Utilização da técnica de Mire para detectar alterações posturais. Rev Fisioter Univ São Paulo, 2003;10:16-23.
RUARO, A et al. Estudo comparativo entre duas técnicas de osteotomia no tratamento do hálux valgo: análise clínica e radiográfica. Revista Brasileira de Ortopedia, julho, 2000, Umuarama, PR.
SALOMÃO, O. et al. Hálux valgo e pé plano: estudo radiográfico em 160 pacientes. Revista Brasileira de Ortopedia. Junho, 1993, São Paulo.
SANTOS, C. et al. Ocorrência de desvios posturais em escolares do ensino público fundamental de Jaguariúna, São Paulo. Revista Paulista de Pediatria, v. 27, n. 1. São Paulo: Mar. 2009, p. 74-80.
SILVA, V. Escoliose em crianças de 7 a 8 anos nas escolas privadas no município de São Desidério. 2008.109 f. Tese (Doutorado em Ortopedia) – Faculdade São Francisco de Barreiras (Fasb), Bahia.
SOUCHARD, P. Ginástica postural global. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
Parabéns pelo artigo. Este tipo de obra ajuda a identificar possível problemas relacionados a saúde enquanto podem ser tratados, pois são crianças.
Excelente!
Parabéns, pois é artigo desse porte que deve de ser publicado. Nossas “escolas|crianças” GRITAM por esse tipo de avaliação, onde podemos tratar de uma forma certa as possiveis alterações posturais.