AVALIAÇÃO PARASITOLÓGICA DE ALFACE EM FEIRAS E MERCADOS NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO, ACRE.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410312238


Andressa de Oliveira Passos¹; Ketlen Silva do Nascimento¹; Roberta Mariana de Carvalho¹; Matheus de Araújo da Silva²; Leandro Cavalcante Santos³.


RESUMO

Introdução: A busca de uma alimentação saudável vem crescendo no decorrer das últimas  décadas, fazendo a população optar por produto natural ocasionando com isso a ingestão de  vegetais crus, sendo a alface (Lactuca sativa L.) uma das mais consumidas no mundo; a  higienização é necessária para reduzir os riscos. As principais contaminação se deve às más  condições sanitárias da irrigação das hortaliças, no plantio e no manuseio inadequado destas  hortaliças folhosas. A temática é relevante por representarem um grave problema de saúde  pública. Objetivos: realizar uma avaliação parasitológica de alface (Lactuca sativa L.)  comercializadas no município de Rio Branco, Acre. Métodos: Foram coletadas amostras de  alface da espécie (Lactuca sativa L.) comercializadas em 3 feiras livres: Mercado Municipal  Elias Mansour, Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa) e Feira Livre e em  supermercados distintos X e Y do município de Rio Branco, Ac. Foram coletadas 5 amostras  de cada uma das 5 unidades, totalizando 25 amostras por mês e 250 entre os meses de  julho/2022 a novembro/2022 e fevereiro/2023 a junho/2023. Posteriormente, transportadas ao  Laboratório de Parasitologia do Centro Universitário Uninorte (UNINORTE). Estabeleceu-se  como unidade amostral para a hortaliça as folhas. 200g de folha foram pesadas, fatiada e  separadas para análise parasitológica e técnica de higienização. Para pesquisa de  enteroparasitas, foi realizado a lavagem das folhas com 500 ml de água destilada contendo 0,5  ml de detergente neutro. O líquido foi utilizado para as técnicas de Sedimentação Espontânea e  Faust. Para técnica de higienização, 200g de folhas foram submersas em solução contendo 1000  ml de água destilada e 10 ml de hipoclorito de sódio (2%), homogeneizadas por 10 min.  Posteriormente, o líquido foi utilizado para realização da técnica de sedimentação espontânea.  Resultados: Para análise da diversidade foi utilizado os índices de Shannon-Wiener. Nas técnicas parasitológicas foram identificados 51 agentes parasitários, sendo observado  Balantidium coli (7,2%), Entamoeba coli (6,8%), Endolimax nana (4,4%), Larva de  Strongyloides stercoralis (0,8%), seguido de Entamoeba histolyrica (0,4%), Arcella vulgaris (0,4%), e Larva de Enterobius vermicularis (0,4%). Dentre as unidades de comercialização da  alface, as que apresentaram a maior prevalência foram: Supermercado Y (27,5%), Mercado X  (23,6%), Feira Livre (25,4%), CEASA (15,7%) e Elias Mansour (7,8%). Os protozoários  representaram (94,1%) e Helmintos (5,9%). Faust representou (56,8%) dos parasitas  encontrados, contra (43,2%) da técnica de sedimentação espontânea. Não foram encontradas  nenhuma forma parasitária após a técnica de higienização com hipoclorito de sódio. Conclusões: As alfaces comercializadas em Rio Branco/AC continham diferentes tipos de  protozoários e helmintos, sendo que os enteroparasitas mais frequentes foram Balantidium coli e Entamoeba coli. A técnica de higienização demostrou ser eficaz na eliminação desses agentes. A ingestão de alface crua pode apresentar potencial risco aos consumidores, sendo  recomendado sua higienização antes do consumo. 

Palavras-chave: alface; saúde pública; parasitas; parasitose; Brasil.

ABSTRACT

Introduction: The search for a healthy diet has grown over the last few decades, making the  population opt for natural products, resulting in the intake of raw vegetables, with lettuce  (Lactuca sativa L.) being one of the most consumed in the world; hygiene is necessary to reduce  risks. The main contamination is due to poor sanitary conditions in the irrigation of vegetables,  planting and inadequate handling of these leafy vegetables. The topic is relevant because they  represent a serious public health problem. Objectives: to carry out a parasitological evaluation  of lettuce (Lactuca sativa L.) sold in the municipality of Rio Branco, Acre. Methods: Lettuce  samples of the species (Lactuca sativa L.) sold in 3 open-air markets were collected: Mercado  Municipal Elias Mansour, Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa) and Feira Livre  and in different supermarkets X and Y in the municipality of Rio Branco , Ac. Methods: Lettuce  samples of the species (Lactuca sativa L.) sold in 3 open-air markets were collected: Mercado  Municipal Elias Mansour, Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa) and Feira Livre  and in different supermarkets X and Y in the municipality of Rio Branco , Ac. 5 samples were  collected from each of the 5 units, totaling 25 samples per month and 250 between the months  of July/2022 to November/2022 and February/2023 to June/2023. Subsequently, transported to  the Parasitology Laboratory of the Uninorte University Center (UNINORTE). Leaves were  established as the sampling unit for vegetables. 200g of leaf was weighed, sliced and separated  for parasitological analysis and hygiene technique. To search for enteroparasites, the leaves  were washed with 500 ml of distilled water containing 0.5 ml of neutral detergent. The liquid  was used for the Spontaneous Sedimentation and Faust techniques. For the hygiene technique,  200g of leaves were submerged in a solution containing 1000 ml of distilled water and 10 ml  of sodium hypochlorite (2%), homogenized for 10 min. Subsequently, the liquid was used to  perform the spontaneous sedimentation technique. Results: To analyze diversity, the Shannon Wiener indices were used. In parasitological techniques, 51 parasitic agents were identified,  with Balantidium coli (7.2%), Entamoeba coli (6.8%), Endolimax nana (4.4%), Larva of  Strongyloides stercoralis (0.8%), followed by of Entamoeba histolyrica (0.4%), Arcella  vulgaris (0.4%), and Enterobius vermicularis larvae (0.4%). Among the lettuce sales units,  those with the highest prevalence were: Supermercado Y (27.5%), Mercado X (23.6%), Feira  Livre (25.4%), CEASA (15.7%) and Elias Mansour (7.8%). Protozoa represented (94.1%) and  Helminths (5.9%). Faust represented (56.8%) of the parasites found, compared to (43.2%) from  the spontaneous sedimentation technique. No parasitic forms were found after the sodium  hypochlorite cleaning technique. Conclusions: Lettuces sold in Rio Branco/AC contained  different types of protozoa and helminths, with the most common enteroparasites being  Balantidium coli and Entamoeba coli. The hygiene technique proved to be effective in  eliminating these agents. Ingesting raw lettuce may present a potential risk to consumers, and  it is recommended to clean it before consumption.

Keywords: lettuce; public health; parasites; parasitosis; Brazil.

INTRODUÇÃO

Em todo o mundo, há uma alta incidência de doenças parasitárias de grande importância  para a saúde pública, afetando principalmente a população de classes mais baixas dos países cujo as condições de saneamento básico e higiene são precárias [1]. A estimativa da população  mundial infectada por enteroparasitas é cerca de 1,5 bilhões de pessoas, considerando que em  locais endêmicos, a prevalência pode chegar a 60% [2]. 

No Brasil, essa estimativa varia de 2% a 36% [3]. O país possui um clima quente e  úmido, além de uma situação socioeconômica favorável à distribuição de parasitoses, que se  prevalecem nas comunidades de baixo poder aquisitivo e precárias condições sanitárias [4].

A forma mais comum de adquirir uma parasitose é através da ingestão de helmintos ou  protozoários em suas formas infectantes, presentes em alimentos ou água contaminada [5]. Os  estudos indicam que hortaliças apresentam altos índices de contaminação causados por fezes  durante a irrigação de jardins, contaminação do solo pelo uso de fertilizantes contendo fezes,  ou até mesmo contaminação em decorrência ao manuseio dos alimentos [6].  

O aumento da transmissão de doenças parasitárias por hortaliças nos últimos anos se dá  em decorrência das mudanças na população em seu estilo de vida, preferindo a ingestão dos alimentos prontos, semiprontos e naturais, além de ser recomendada essa inclusão na rotina em  razão ao seu rico conteúdo de vitaminas, fibras e sais minerais [7]. Além disso, as hortaliças  folhosas, possuem um baixo valor calórico, favorecendo o seu consumo in natura e se tornando um importante via de transmissão de parasitas intestinais [8], [9].

Em sua maioria, a parasitose intestinal é bem tolerada pelo hospedeiro, apresentando-se  por vezes com sintomas leves ou até assintomática, porém, alguns parasitas podem provocar  sintomas mais significativos que devem ser considerados para o auxílio ao diagnóstico  etiológico que são realizados no setor de parasitologia, utilizando diferentes métodos de análise,  como o Hoffman, Rugai, Faust e Will, por exemplo [10]. Os parasitas mais frequentes em  termos mundiais são Giardia lamblia, e em seguida o grupo dos helmintos como Ascaris  lumbricoides, Ancilostomídeos e Trichuris trichiura [11].

No geral, pessoas de todas as idades podem ser afetadas, podendo ter como sintomas  diarreia, emagrecimento, má absorção, anemia e em alguns casos mais graves, como obstrução  intestinal, desnutrição e até levar o indivíduo a óbito, porém, a população com maior fator de  risco para as doenças parasitárias e oportunistas como Ancilostomíase e Ascaridíase são as  crianças, idosos e indivíduos com distúrbios imunes[12].

O controle parasitológico é um desafio, pois é notável cada vez mais a inclusão de  hortaliças nas refeições da população em geral [13]. A hortaliça de maior consumo no Brasil é  a alface (Lactuca sativa L.), de origem Asiática e pertencente à família Asteraceae, que  geralmente é consumida em forma de salada crua e se constitui em fonte importante de minerais,  fibras e vitaminas [14].

A investigação e o diagnóstico de parasitas presentes em hortaliças se fazem importantes pois fornecem dados sobre as condições higiênicas a respeito do plantio, transporte,  armazenamento e manuseio dos produtos, além dos equipamentos e recipientes contaminados,  alertando sobre o risco de contaminação para seus consumidores A rastreabilidade das prováveis fontes de contaminação desses alimentos é um grande desafio para os profissionais de saúde nos países em desenvolvimento, sendo assim, este estudo tem como intuito avaliar a prevalência parasitária em folhas de alface (Lactuca sativa L.) oriundas de feiras livres e  supermercados da cidade de Rio Branco, Acre

MATERIAL E MÉTODOS

Tipo de Pesquisa

O presente trabalho é um estudo transversal de caráter exploratório através da pesquisa  de parasitas em folhas de alface (Lactuca sativa L.) oriundas de feiras livres e supermercados  da cidade de Rio Branco, Acre.

Local da pesquisa

O estado do Acre é uma das 27 federativas do Brasil, localizada na Região Norte do país  e pertencente a Amazônia Ocidental, possui Rio Branco (Figura 1) como capital do estado. O  presente estudo foi desenvolvido em Rio Branco, no qual possui população estimada de 364.756  habitantes em 2022 [16].

Figura 1. Localização geográfica de Rio Branco, estado do Acre, Brasil Fonte: Elaborado pelo autor.

Foram coletadas amostras de alface da espécie (Lactuca sativa L.) comercializadas em  3 feiras livres: Mercado Municipal Elias Mansour, Central de Abastecimento de Rio Branco  (Ceasa) e Feira Livre e em supermercados distintos X e Y do município de Rio Branco, Ac.

Amostragem

Para essa pesquisa foram coletadas amostras de alface da espécie Lactuca sativa  L. Essas feiras e supermercados foram delimitados de forma aleatória. Foram coletadas 5  amostras de cada uma das 5 unidades, totalizando 25 amostras por mês e 250 entre os meses de  julho/2022 a novembro/2022 e fevereiro/2023 a junho/2023. 

Coleta das amostras

As hortaliças foram armazenadas em sacos plásticos para transporte de uso único pelos  próprios vendedores, depois acondicionadas em caixas isotérmicas contendo gelox e ficha de  registo para anotações da procedência e aspectos macroscópicos. As amostras foram  transportadas até o Laboratório de Parasitologia do Centro Universitário -UNINORTE, Rio  Branco-AC, no prazo máximo de 3 horas.

Como critérios de inclusão para este estudo, foram selecionadas alfaces da espécie  Lactuca sativa L. dos respetivos locais de estudo descrito acima e que apresentaram bons  aspectos como cor, textura e ausência de fungos macroscópicos.

Análise Parasitológica 

No laboratório, utilizando luvas descartáveis em látex de procedimento não cirúrgico,  estabeleceu-se como unidade amostral para a hortaliça as folhas, sendo assim, cada unidade  amostral oriunda de uma das unidades de coleta foi separada, pesada 200g em balança analítica para posteriormente as folhas serem separadas em Becker higienizados, devidamente  identificados. Nesta fase foi realizado a lavagem de folha por folha com volume de 500 ml de  água destilada evitando, deste modo, contaminação externa e adicionado 0,5 mL de detergente  neutro para auxiliar no desprendimento de sujidades e possíveis parasitos. A amostra ficou  homogeneizando em agitador magnético por 10 minutos, logo após as folhas foram prontamente suspensas, e em seguida desprezadas. Havendo assim, a cada lavagem troca de  luva para que não ocorra contaminação cruzada. O líquido proveniente da lavagem das folhas  foi utilizado para pesquisa das formas parasitarias, seguindo seus protocolos da técnica de  sedimentação espontânea de Hoffman, Pons e Janer (1934) [17] e Faust (1938) [18].

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os resultados encontrados neste trabalho, foi possível observar que dentre as 250 amostras de alface, (20,4%) possuíam algum parasita entérico (Figura 2 e 3)  Balantidium coli (7,2%), Entamoeba coli (6,8%), Endolimax nana (4,4%), Larva de  Strongyloides stercoralis (0,8%), seguido de Entamoeba histolytica (0,4%), Arcella vulgaris (0,4%) e Larva de Enterobius vermicularis (0,4%).

Figura 2: Agentes parasitários encontrados em alfaces de feiras e supermercados utilizando as técnicas de  Sedimentação Espontânea e Faust. 40 x. Fonte: Elaborado pelo autor.

Dentre os resultados obtidos das amostras analisadas, percebe-se que são encontradas  diferentes formas parasitárias, entre helmintos e protozoários, e a estrutura parasitária mais  citadas são as Entamoebas, sendo relatadas em demais pesquisas [19], [13] [20], [21], [22],  [23].

Figura 3: Espécies de agentes parasitários encontrados em alfaces de feiras e supermercados utilizando as técnicas  de Sedimentação Espontânea e Faust. 40 x. Fonte: Elaborado pelo autor.

O Balantidium coli é um protozoário encontrado normalmente na luz intestinal de  suínos, mas que com a ingestão deste agente pelo homem pode ocasionar contaminação  especialmente quando há presença de fissuras na mucosa do colo, ocasionando infecção  secundaria. Essa contaminação ocorre especialmente devido ao adubo utilizado no plantio das  hortaliças [24]. Balantidium coli (7,2%) representou o protozoário mais frequente nesta  pesquisa. 

Em seguida, os protozoários mais prevalentes foram Entamoeba coli (6,8%) e Endolimax nana (4,4%), esses protozoários são caracterizados como comensais da microbiota  intestinal do homem, no entanto, esses organismos nutrem-se de restos digestivos, apresentam  benefícios nessa relação sem causar prejuízo ao organismo humano, entretanto, mesmo não  estando atrelado a patologia, a presença desses agentes em alfaces é indicativo de transmissão  fecal-oral, assim, sua identificação é importante para medidas profilática para evitar infecção  via fecal-oral de demais patógenos intestinais, como amebas patogênicas de Entamoeba  histolytica [24], [25].

Entamoeba histolytica representou apenas 0,4% dos 51 (100%) parasitas encontrados nesta pesquisa, e mesmo apresentando baixa frequência, possui grande preocupação a nível de  saúde pública e importância médica, por apresentar elevada patogenicidade no homem [26]. Este protozoário também é relatado em amostras de alface em diversos outros estudos [24], [25], [26], [27]. Este parasita predomina em regiões de clima tropical, possuindo o cisto como  forma infectante, no qual, se dissemina através de hortaliças e águas contaminadas com fezes humanas, sendo que os portadores assintomáticos são os principais carreadores da doença e  responsáveis por contaminar os alimentos, podendo indicar os elevados índices de  contaminação em feiras livres e supermercados [26]. 

Entre os protozoários relatados nesta pesquisa, Arcella vulgaris foi menos frequente,  apresentando (0,4%). Há poucos estudos relatando sua presença, entretanto, este é o primeiro  relato no Estado do Acre, mas sabe-se que é uma ameba de água doce encontrado em alguns  países como no lago do Palacio Imperial do Japão-Tóquio [28], em água de caverna no México [29], na Ilha no Oceano Atlântico- Georgia do Sul [30], sendo que no Brasil, os primeiros  relatos foram em estudos de [31], [32], [33] e [34].

Strongyloides stercoralis representou o grupo de helmintos mais frequentes  nessa pesquisa (0,8%), seguindo de Enterobius vermicularis (0,4%), dados semelhantes com  estudo de [35]. Strongyloides stercoralis é helminto causador da Estrongiloidíase, doença  parasitaria que muitas vezes é assintomática, entretanto, a larva pode penetrar pulmões,  traqueias, epiglote e que se dirige até o trato digestório no qual pode se desenvolver, além disso,  quando sintomática, os principais achados clínicos são febre, dor abdominal com diarreia e flatulência [36].

As folhas de alface (Lactuca sativa L.) são flexíveis e justapostas com estrutura  compacta, podendo ser de fácil aderência aos parasitas, podendo ser cultivadas tanto em solo  com utilização de adubos de animais ou então cultivadas no formato hidroponia, todavia,  mesmo que a utilização de adubo de animais possa facilitar a contaminação com enteroparasitas [24], o uso da água oriunda de barragens ou açudes podem ser veículo de contaminação de  protozoários e helmintos [35].

Este estudo demonstra que as hortaliças contaminadas por parasitas apresentam  distribuição entre supermercados e feiras livres, entretanto o Supermercados Y (27,5%)  apresentou a maior frequência de parasitas encontrados nas 250 amostras de alface, seguido de  (25,4%) em Feira Livre, (23,6%) em Supermercado X, (15,7%) CEASA e (7,8%) Elias  Mansour (Figura 4)

Figura 4: Frequência de enteroparasitas distribuídas nas unidades de coletas Fonte: Elaborado pelo autor.

Os dados dessa pesquisa demostram a maior frequência de parasitas encontrados em  supermercados em comparação com feiras livres, dados convergidos com estudos de [37] e [38], no qual sugere que a manipulação e armazenamento da hortaliça antes da comercialização  contribua para a contaminação, que enquanto em feiras livres o produto é ofertado direto do  produtor, em supermercados ocorre uma maior manipulação do produtor até a oferta ao  consumidor.

Das 51 forma parasitarias relatados nesta pesquisa, (94,1%) é referente a protozoários  (Figura 5), dados divergentes com pesquisa de [39] que verificando a presença de  enteroparasitas em alfaces comercializadas em Rio Branco, houve maior abundância e  frequência Ascaris sp., seguidos de Balantidium sp. Ascaris sp. não foi relatado nesta pesquisa,  entretanto, Balantidium coli foi o protozoário de maior frequência.

Figura 5: Maior frequência de protozoários em relação a helmintos entre as 51 formas parasitarias encontradas.  Fonte: Elaborado pelo autor.

Estudo de [38] e [40] abordaram questões relacionadas a pesquisa de parasitas em  amostras de alface, semelhante a esta pesquisa, sendo que nesses estudo o instrumento de  análise parasitológica foi a técnica de sedimentação espontânea para análise das amostras,  relatando elevada ocorrência de protozoários e helmintos, relatando que essa ocorrência não  está em conformidade com as diretrizes dos órgãos sanitários. A Resolução da Diretoria  Colegiada (RDC) n° 14, de 28 de março de 2014, no inciso I do artigo 12 estabelece um limite  de tolerância de presença de matérias estranhas macroscópicas e microscópicas em alimentos e  bebidas, e que a presença de parasita representa um descumprimento da lei. A Associação  Brasileira das Empresas e Entidades de Classificação de Produtos Vegetais e Laboratórios de  Alimentos (2021) relata que não ocorre uma fiscalização sobre os alimentos in natura, como  vegetais, legumes e hortaliças, assim, estes alimentos estão sendo produzidos sem que ocorra  um processo de testes de qualidade, podendo colocar a saúde dos consumidores em risco. 

O acompanhamento higiênico e sanitário, especialmente o parasitológico sobre a  produção, manutenção, coleta e venda de hortaliças deve ser um fator de extrema importância  na promoção de medidas preventivas, no intuito da, redução nas taxas de contaminação  parasitológica de parasitas intestinais em hortaliças, isso inclui adoção de boas práticas  agrícolas pelos produtores, como a utilização de adubos orgânicos tratados, o controle da água  utilizada na irrigação das plantações, além disso, os consumidores devem estar cientes da  importância da higienização adequada de produtos consumidos in natura [38].

Dado ao alto índice parasitário encontrado nos alimentos, pode-se afirmar que um controle de qualidade alimentar é de grande importância para a saúde da população. A  fiscalização, entretanto, vem sendo um grande desafio tendo em vista que devido à globalização  a distribuição destes alimentos são feitos em larga escala. Tangendo fatores como a  manipulação de todas as partes envolvidas desde a produção, transporte e acondicionamento  desta hortaliça. 15

CONCLUSÕES

O diagnóstico laboratorial das hortaliças colabora para o monitoramento das condições  higiênicas sanitárias de todo o processo de comercialização das alfaces, analisando os tipos de  adubos utilizados no seu plantio, bem como a água da irrigação até o transporte e manuseio da  hortaliça. Neste estudo, foi verificado a positividade elevada de helmintos e protozoários nas  amostras de alfaces analisadas, sendo o mais frequente o grupo das Entamoebas spp., seguido  de Ascaris, Ancilostomideo, Girdia lamblia, Strongyloides e Toxocara spp. respectivamente. 

A presença de parasitas em hortaliças gera um risco na sua disseminação e acaba  causando um alerta sobre a provável subnotificação de parasitoses intestinais. É fundamental a  conscientização da necessidade de realizar a correta higienização dos alimentos antes de  consumi-los, para colaborar com a redução das parasitoses, devendo ser acompanhada pela  vigilância sanitária, que também deve atuar de maneira efetiva nos supermercados e feiras  livres.

Contudo, é importante reforçar a necessidade de ações promovidas pelo Sistema de  Vigilância Sanitária, e orientar corretamente os agricultores de hortaliças sobre as condições de  cultivo e manuseio, com o intuito de minimizar os riscos de contaminações, tendo como  objetivo a melhoria nas condições de vida da população.

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¹Acadêmico(a) do Curso de Graduação Bacharelado em Biomedicina do Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco – Acre.
²Enfermeiro e mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP.
³Docente do Curso de Graduação Bacharelado em Biomedicina do Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco – Acre.