AVALIAÇÃO NO RASTREIO E DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE PRÓSTATA ANTES E DURANTE A PANDEMIA POR SARS-COV-2 ENTRE OS PERÍODOS DE 2019 E 2021

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7953278


Álvaro Ian Pereira Bezerra Feitosa1
Dalvan Josué Fernandes da Silva1
Paulo Fernando Freitas Martins Filho1
Brenno Ivo Soares Santos1
Renandro de Carvalho Reis1


RESUMO

Introdução: O rastreio do câncer de próstata tem um papel importante no diagnóstico do mesmo, por não ter um fator de risco modificável, não se tem medidas preventivas e específicas para facilitar no combate a esse problema, se mostrando um imbróglio. Sendo o mesmo a maior causa de mortes no sexo masculino em 2021, e devido a pandemia da SARS-CoV-2 agravando ainda mais essa situação. O estudo tem como objetivo avaliar a demora no diagnóstico de casos de câncer de próstata ocasionados pela pandemia, avaliando os períodos pré e pós pandemia. Objetivos: avaliar o impacto na demora do diagnóstico de câncer de próstata em decorrência da pandemia por SARS-CoV-2 comparando os períodos pré-pandemia e pandemia. Metodologia: o estudo tratou-se de uma pesquisa comparativa que foi realizada no Hospital São Marcos, na cidade de Teresina, no Estado do Piauí. A pesquisa se deu através dos prontuários dos indivíduos que realizaram exames para rastreio de câncer de próstata, onde foram colhidos resultados histopatológicos, entre os períodos de pré-pandemia, sendo do mês de março, do ano de 2019, até o mês março, do ano de 2020, e o período de pandemia, entre o mês de março, do ano 2020, até o mês março, do ano de 2021. Resultados e Discussão: ocorreu uma diminuição significativa do número de pacientes que realizaram biópsia para rastreio de câncer de próstata no período de pandemia. Nesse contexto, em consonância com o estudo, após o surto de COVID-19, foi observado um grande declínio no número de novos diagnósticos de câncer de próstata, um decréscimo de 28% (correspondendo a cerca de 300 diagnósticos) face aos anos anteriores. A partir de maio, o número de diagnósticos começou a retornar para aproximadamente 95% do número esperado até o final de 2020 com base nos anos anteriores. Conclusão: O atraso no diagnóstico do câncer de próstata observado durante a pandemia de COVID-19 reflete o impacto da pandemia na detecção precoce do câncer e sinaliza possíveis efeitos a jusante no prognóstico de diagnósticos tardios de câncer. A taxa mais lenta de retorno para procedimentos de rastreamento de câncer de próstata deve ser investigada para garantir que os homens retornem para exames de rotina.

Palavras-chave: Câncer. Próstata. SARS-CoV-2.

ABSTRACT

Introduction: Screening for prostate cancer plays an important role in its diagnosis, as it does not have a modifiable risk factor, there are no preventive and specific measures to facilitate the fight against this problem, proving to be an imbroglio. The same being the biggest cause of male deaths in 2021, and due to the SARS-CoV-2 pandemic further aggravating this situation. The study aims to evaluate the delay in the diagnosis of prostate cancer cases caused by the pandemic, evaluating the pre and post pandemic periods. Objectives: to evaluate the impact on the delay in the diagnosis of prostate cancer due to the SARS-CoV-2 pandemic, comparing the pre-pandemic and pandemic periods. Methodology: the study is a comparative research that will be carried out at Hospital São Marcos, in the city of Teresina, in the State of Piauí. The research will take place through the medical records of individuals who have undergone prostate cancer screening tests, where histopathological results will be collected, between the pre-pandemic periods, from March, 2019, to March, of the year 2020, and the pandemic period, between the month of March, of the year 2020, until the month of March, of the year 2021. Results and Discussion: there was a significant decrease in the number of patients who underwent biopsy for cancer screening prostate cancer during the pandemic. In this context, in line with the study, after the outbreak of COVID-19, a large decline in the number of new diagnoses of prostate cancer was observed, a decrease of 28% (corresponding to about 300 diagnoses) compared to previous years. As of May, the number of diagnoses began to return to approximately 95% of the number expected by the end of 2020 based on previous years. Conclusion: The delay in prostate cancer diagnosis observed during the COVID-19 pandemic reflects the impact of the pandemic on early cancer detection and signals possible downstream effects on the prognosis of late cancer diagnoses. The slower rate of return for prostate cancer screening procedures should be investigated to ensure men return for routine checkups.

Keywords: Cancer. Prostate. SARS-CoV-2.

1 INTRODUÇÃO

O câncer de próstata atualmente se deflagra com a maior incidência de casos no sexo masculino, com cerca de 29,2% dos casos registrados, causando um impacto social na vida de milhares de habitantes. Estima-se que no triênio 2020-2022 o câncer de próstata terá a maior prevalência de causa primária nos pacientes do sexo masculino, causando uma mortalidade de 13,8% (INCA, 2022).

Por conseguinte, o diagnóstico do câncer de próstata se torna um fator preponderante para as medidas e prognósticos do paciente. A detecção quão mais cedo for feita, maiores serão as possibilidades de cura, podendo resultar um tratamento menos agressivo e sofrível ao enfermo. Além de acarretar numa menor onerosidade ao sistema de saúde pública. Ademais, cabe ressaltar ao diagnóstico, que é feito pela análise histopatológica do tecido adquirido pela biópsia do tecido prostático removido, que deve ser analisado sempre que houver anormalidades no exame físico, ao toque retal, ou na dosagem do PSA (antígeno prostático específico). O que requer um determinado tempo para conduta de trabalho para tal diagnóstico (COSTANZO, 2018). 

Vale ressaltar, que o rastreamento precoce em si não tem comprovação científica de benefícios maiores que os riscos presentes. O que acaba não sendo recomendado por órgãos de saúde, o excesso de exames de rotina voltadas a área, sem a indicação do profissional da área da saúde. Contudo, o diagnóstico precoce possibilita resultados mais satisfatórios em relação ao tratamento, de acordo com a clínica do paciente (INCA, 2022; BRASIL, 2022; INCA, 2022).

Para que o rastreamento e diagnóstico possam fazer parte e se adequar a atual situação é necessário entender os imbróglios acerca da temática, dos fatores socioculturais a educação de saúde pouco visadas e incompreendidas pelo sexo, até mesmo sobre o tabu inserido sob o exame do toque. Juntamente com a incapacitação causada pela pandemia do Sars-CoV-2, acabou-se afastando muitos pacientes dos exames de rotina realizados. Segundo a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), informou que em decorrência das restrições impostas pela pandemia, o número de cirurgias no SUS para retirada da próstata e os exames de diagnóstico tiveram uma redução drástica em comparação com o ano de 2019. O exame PSA (antígeno prostático específico) teve uma redução de 27%, e o da biópsia da próstata se deflagrou com um decréscimo de 21%, evidenciando ainda mais o impacto causado na saúde pública durante o período pandêmico (PORTAL DA UROLOGIA, 2022).

Tendo em vista os enredamentos da temática e a dificuldade mediante a cultura e os tabus sociais em relação ao objeto de estudo, questiona-se: como se encontra o atual estado para diagnóstico prevenção do câncer de próstata pós pandemia?

         O objeto, deste estudo, foi compreender a situação do número de casos devido ao atraso no diagnóstico de câncer de próstata em decorrência da pandemia na cidade de Teresina, no Estado do Piauí.

1.2 Objetivos

1.2.1 Gerais

Analisar os impactos do rastreio de câncer de próstata em decorrência da pandemia por SARS-CoV-2. Nesse viés, comparando os períodos de pré-pandemia e pós-pandemia, a fim de descrever e minimizar as consequências no rastreio e mortalidade.

1.2.3 Específicos

Quantificar pacientes que fizeram biópsia e estudo histopatológico para rastreio do câncer de próstata; 

Identificar doenças de base relatadas por pacientes que fizeram o rastreio de câncer de próstata;

Comparar método escolhido para rastreio de câncer próstata e presença de doenças de base em pacientes com suspeita da doença nos períodos antes e durante a pandemia covid-19.

1.3 Justificativa

  Considera-se que a realização do trabalho é bastante oportuna e de suma relevância, por se tratar do estágio de diagnóstico do câncer de próstata nos períodos pré e pós-pandemia, destacando a elevada taxa de mortalidade nos últimos anos. Nesse panorama, somado ao atual cenário de pandemia da SARS-COV 2, a suspensão de consultas de rotina resulta no diagnóstico tardio e em estágios avançados da patologia, na qual se evidencia como um dos principais agravantes dessa patologia (COSTA, 2022; BIONDO, 2020). 

 Diante disso, esse enfermo que não possui medidas preventivas, mas medidas intervencionistas, à mínima adesão as consultas de rotina pelo sexo masculino acima de 45 anos, somado a suspensão durante o período pandêmico, pode resultar no aumento de diagnósticos tardios e mortalidade (STEFFEN, 2018; DE PAULA FARIA, 2020). 

  Desse modo, esta pesquisa proporcionara a percepção da realidade no diagnóstico e estágio desta patologia no cenário pós-pandêmico e anteriormente a ele. Pois o estudo trata-se de uma pesquisa comparativa que será realizada em clínica privada em Teresina, Piauí, onde se dará através dos prontuários dos indivíduos que tenham realizado exames para rastreio de câncer de próstata, sendo escolhido resultados histopatológicos, entre os períodos de pré-pandemia, sendo do mês de março, do ano de 2019, até o mês março, do ano de 2020, e o período de pandemia, entre o mês de março, do ano 2020, até o mês março, do ano de 2021. Com isso, evidenciando a importância da consulta de rotina e as consequências da sua não realização (DE PAULA FARIA, 2020).

Portanto, será útil para uma intervenção socioeducativa sobre o diagnóstico tardio de câncer de próstata na população masculina, destacando a importância do acompanhamento médico para a terapêutica de forma precoce e cura do paciente.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Anatomia

A próstata é uma glândula exclusiva do sistema reprodutor masculino, situada na cavidade pélvica e localizada previamente abaixo da bexiga urinária onde é atravessada pela uretra. Tem base, ápice, face anterior e duas faces ínfero-laterais. Em sua parte superior, sua base é contínua com o colo vesical, na inferior, o ápice está sobre a fáscia superior do diafragma urogenial, e na anterior, sua superfície relaciona-se com a sínfise púbica, onde esta encontra-se separada dela pela gordura extraperitoneal no espaço retropúbico. Posteriormente, ainda se relaciona com a superfície anterior do reto, separada dele através do septo retroprostático. Em sua composição encontram-se tecidos musculares lisos e tecido conjuntivo fibroso (JÚNIOR et al., 2010; DANGELO; FATTINI, 2007).

Dois ductos ejaculatórios, direito e esquerdo, desembocam na uretra prostática, em óstios localizados na parte anterior do colículo seminal, um em cada lado do óstio do utrículo prostático (COSTANZO, 2018; MOORE; DALEY, 2011).

Os ductos ejaculatórios compõem 20% da massa total do tecido glandular prostático e a zona periférica, que é a maior região da próstata, compõe cerca de 70% do total da massa glandular. Através dos ductos ejaculatórios, a próstata insere secreções juntamente ao produto ejaculado, compondo aproximadamente 90% do volume do sêmen, sendo que o restante do volume são espermatozoides (COSTANZO, 2018; MOORE; DALEY, 2011; STANDRING, 2010).

2.2 Fisiopatologia

Apenas três processos patológicos afetam a glândula prostática com um risco acentuado e direcionado a grau patológico de risco. Entre os mesmos se encontra carcinoma prostático, é uma lesão extremamente comum em homens. Entre os fatores associados, os de influências ambientais, com a migração de regiões de baixa incidência para outra de alta incidência, tem compatibilidade, porém, nenhum tem comprovação como causador (ROBBINS; COTRAN, 2016).

Os andrógenos desempenham um papel no crescimento e sobrevida do câncer de próstata, se ligando a um receptor androgênico (AR), que induzem a expressão de genes pró-crescimento e pró-sobrevida. A importância dos andrógenos se observa no efeito terapêutico de castração ou do tratamento com antiandrogênicos, que acabam induzindo a regressão da doença. Porém, muitos tumores acabam se tornando resistentes ao bloqueio androgênico, escapando e criando novos mecanismos, evitando uma necessidade generalizada do AR, tornando-se mais variável (ROBBINS; COTRAN, 2016).

As células prostáticas, normais e tumorais têm seu metabolismo regulado pela ação dos andrógenos produzidos nos testículos, principalmente testosterona e di-hidrotestosterona (DHT). Os testículos são responsáveis pela maior parte dos andrógenos (95%) produzidos e a glândula adrenal pelo restante (5%). O maior percentual de testosterona sérica localiza-se ligada a proteínas circulantes (SHBG e albumina) e apenas 2 a 3% encontram-se de forma livre na circulação, metabolicamente ativa, que é captada e adquirida a células prostáticas. Uma vez dentro da célula, a testosterona é metabolizada em DHT pela enzima 5-alfa-redutase, um metabólito muito mais potente. A DHT liga-se aos receptores androgênicos (AR) nucleares, ativando funções celulares de crescimento e causando o aumento neoplásico (MITCHELL, 2012).

2.3 Epidemiologia

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum entre homens no Brasil, ficando atrás apenas do câncer de pele. Em ambos os sexos, em valores totais é considerado o segundo tipo de câncer mais comum, ficando atrás apenas do CA de pulmão. A taxa de incidência do CA de próstata é maior em países desenvolvidos do que em países em desenvolvimento. É considerado um câncer mais comum em idade avançada, já que uma grande parcela ocorre em pacientes mais idosos, entre a faixa etária dos 65 anos. O aumento das taxas de incidência no Brasil pode ser analisado pela melhoria dos métodos diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e com o aumento da expectativa de vida. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que tenha um crescimento de casos e corresponda a 29,2% os tumores com incidência no sexo masculino (INCA, 2020).

2.4 Rastreamento

O rastreio do câncer de próstata nos últimos anos tem sido estimulado por campanhas nacionais promovidas por hospitais, sociedades médicas e outras organizações, em consonância com iniciativas mundiais conhecidas como Novembro Azul (STEFFEN, 2018).

Trata-se de um importante problema de saúde pública para os homens. As estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam para 65.840 novos casos de câncer de próstata a cada ano, entre 2020 e 2022 (BRASIL, 2022).

O rastreamento da neoplasia de próstata não tem o objetivo de prevenir o câncer, apenas detectar precocemente, antes do surgimento de sintomas da doença, aumentando teoricamente o sucesso do tratamento, e melhorando a qualidade de vida (WILSON; JUNGNER, 1968).

Nesse rastreamento é recomendado a utilização do toque retal acompanhado da dosagem sérica do antígeno prostático específico (PSA) para homens a partir de faixas etárias definidas (MULHEM et al., 2015).

O antígeno prostático específico (PSA) é uma protease da família das calicreínas sintetizada no epitélio próstatico e excretada no fluido seminal, na qual tem a função de liquefação do fluido seminal. Desde sua descoberta, em 1979, e a aprovação pela FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos, em 1986, até os dias de hoje, tornou-se ferramenta valiosa para diagnóstico precoce, tratamento e seguimento de pacientes com neoplasia prostática maligna.

2.5 Exames e Diagnóstico

No Brasil, sabemos que o câncer de próstata é um grave problema de saúde pública. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), com altas taxas de incidência e a mortalidade dessa neoplasia fazem com que o câncer de próstata seja o segundo mais comum entre a população masculina, sendo superado apenas pelo câncer de pele não-melanoma (GOMES, 2003).

O diagnóstico que confirma o câncer da próstata é feito através do estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata, sendo considerado sempre que houver anormalidades no toque retal ou na dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA). O relatório anatomopatológico deve fornecer a graduação histológica do sistema de Gleason, cujo objetivo é informar sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à disseminação, além de ajudar na determinação do melhor tratamento para o paciente. Na graduação histológica, as células do câncer são comparadas às células prostáticas normais. Quanto mais diferentes das células normais forem as células do câncer, mais agressivo será o tumor e mais rápida será sua disseminação. A escala de graduação do câncer da próstata varia de 1 a 5, com o grau 1 sendo a forma menos agressiva, e o grau 5 como forma mais agressiva (BRASIL, 2022).

O rastreamento do câncer de próstata também pode surgir como oportunidade para homens de 50 a 70 anos quando estes buscam serviços de saúde por outros motivos. Assim, a possibilidade de detecção precoce deste câncer se dá pela realização de exames do toque retal e da dosagem do PSA total, onde o agente de saúde deve informar sobre as limitações, benefícios e riscos da detecção precoce (BRASIL, 2002).

2.6 Tratamento e Prevenção

Para tratamento do Câncer de Próstata (CP), vários fatores devem ser considerados além dos dependentes diretamente da neoplasia, como níveis de PSA e estadiamento. Alguns fatores dependentes do paciente em questão devem ser considerados: idade, expectativa de vida, comorbidades e interesse sexual, perfil psicológico e capacidade socioeconômica de aderência ao seguimento pós-tratamento ou de se submeter a observação clínica (JÚNIOR et al., 2010).

Prostatectomia radical (PR) é o método mais popular na comunidade urológica, sendo padrão-ouro para muitos, usado em pacientes mais jovens e com boa saúde, pois têm maiores taxas de disfunção sexual, na fase aguda, e baixos níveis de incontinência urinária grave e, é reprodutível em nosso meio, pois seu aprendizado não requer materiais cirúrgicos especiais. Permite excelente controle da doença localizada, com sobrevida livre de progressão em dez anos de 47 a 73% em séries recentes. A maioria dos casos de CP é submetido a cirurgia com preservação neurovascular (JÚNIOR et al., 2010).

Radioterapia (RT) é um método mais moderno que permite resultados similares em termos de toxicidade sexual e urinária, em comparação à cirurgia, e maiores complicações retais e entéricas (níveis aceitáveis). Porém, é menos reprodutível, pois depende de equipamentos de alto custo e de tecnologia avançada.

Braquiterapia (BT) intersticial ou BT de baixa dose consiste no implante de sementes radioativas, geralmente de iodo-125, ouro ou paládio. Tem os atrativos de ser um método ambulatorial de baixa morbidade e com alguns apelos de menor toxicidade sexual. Não deve ser indicada para pacientes com próstatas de grande volume. Casos de melhor indicação são de pacientes com idade avançada e com neoplasias de baixo risco (JÚNIOR et al., 2010).

Observação, essa proposta do watchful-waiting (WW) é clássica em algumas escolas e consiste em observar os pacientes e apenas intervir quando houver progressão ou sintomatologia, devendo ser utilizada nos mais idosos ou com comorbidades significativas e limitada expectativa de vida (JÚNIOR et al., 2010).

Hormonioterapia (HT) é uma alternativa para idosos ou para aqueles com expectativa de vida limitada, devendo-se ressaltar os efeitos colaterais metabólicos, musculoesqueléticos, cardiovasculares, psíquicos e sexuais. Na maioria das vezes, não se trata de modalidade curativa, mas paliativa (JÚNIOR et al., 2010).

3 METODOLOGIA

3.1 Natureza do estudo

Este estudo tratou-se de uma pesquisa comparativa onde sua finalidade será traduzida através de números e informações para classificá-las realizando sua análise. Foi utilizada a metodologia de estudo observacional, do tipo Caso-Controle, pois este refere-se a uma amostra de pessoas com características em comum, onde as variáveis serão analisadas durante o tempo da pesquisa.

3.2 Localização e data da realização da pesquisa

A pesquisa foi realizada no Hospital São Marcos, localizado na Rua Olavo Bilac, nº 2.300, Centro, na cidade de Teresina, no Estado do Piauí, no período entre maio a outubro de 2022, de segunda-feira à sexta-feira, no horário das 9h às 11h.

3.3 Caracterização da amostra 

Para este estudo, foram utilizados 600 prontuários de pacientes do sexo masculino, acima de 45 anos de idade, que realizaram exames para rastreio de câncer de próstata no Hospital São Marcos. A pesquisa dos prontuários será com base nos critérios de inclusão e exclusão. Os dados foram coletados mediante a aprovação do Hospital São Marcos através do Termo de Compromisso de Utilização de Dados – TCUD (APÊNDICE A). Os dados coletados serão organizados, classificados e armazenados em banco construído no programa Bioestat 5.3.

3.4 Critérios de inclusão 

Pacientes do sexo masculino, com 45 anos de idade ou mais, sem distinção de raça;

Pacientes que realizaram exame histopatológico para rastreio de câncer de próstata;

3.5 Critérios de exclusão

Todos pacientes do sexo feminino;

Pacientes do sexo masculino com 44 anos ou menos;

Pacientes que realizaram outros exames que não para rastreio de câncer de próstata;

3.6 Coleta de dados

Para coletar os dados (idade, sexo, resultado de exame histopatológico para câncer de próstata e data), foram utilizados prontuários de pacientes que realizaram exame histopatológico para biópsia de câncer de próstata (ANEXO C).

3.7 Protocolo da pesquisa

A pesquisa iniciou com o encaminhamento do termo de aceite a instituição referida, por meio da Declaração de Autorização da Instituição Co-Participante – DAIC (APÊNDICE B) juntamente com o Termo de Compromisso de Utilização de Dados – TCUD (APÊNDICE A). Recebendo sinal positivo para iniciar a pesquisa, os dados serão coletados respeitando os critérios de inclusão e exclusão respectivamente.

3.8 Análise estatística

Foi utilizada análise descritiva simples dos dados, comparando dados pré e pós-pandemia, dispostos em gráficos e tabelas. Os dados foram analisados através do software Bioestat 5.3. Será utilizado o TESTE T STUDEN para comparar os resultados da amostra obtidos através dos dados coletados em prontuários para diagnóstico para câncer de próstata, entre os períodos pré-pandemia, sendo do mês de março, do ano de 2019, até o mês março, do ano de 2020, e o período de pandemia, entre o mês de março, do ano 2020, até o mês março, do ano de 2021, por SARS-CoV-2.

3.9 Aspectos éticos

Os prontuários foram disponibilizados para coleta de dados conforme o Termo de Compromisso de Utilização de Dados – TCUD (APÊNDICE A). Estes dados ficaram sob responsabilidade dos pesquisadores no período de 5 anos. Ademais, todos os princípios éticos foram respeitados em todas as fases da pesquisa.

3.10 Riscos

Há risco de quebra de sigilo para os pacientes, mesmo que de forma não intencional e involuntária, o que é comum a todas as pesquisas envolvendo humanos. Entretanto, para minimizar este risco, os orientadores e a equipe hospitalar contribuíram para o manuseio dos prontuários da forma mais correta e transparente possível, a fim garantir o sigilo ético da pesquisa.

3.11 Benefícios

Sabendo que a pandemia por COVID 19 trouxe prejuízos a saúde dos indivíduos no Brasil e no mundo, os benefícios foram demonstrados através de planos e medidas a fim de melhorar o atendimento e acolhimento, a fim de melhorar a qualidade no atendimento dos pacientes para um enfrentamento de uma outra possível pandemia.

3.12 Desfecho

Esperava-se que através de uma pesquisa comparativa entre períodos pré-pandemia e pandemia, foi-se analisado e comprovado o atraso no diagnóstico do câncer de próstata devido ao anseio dos pacientes em virtude do vírus SARS-CoV-2.

4 RESULTADOS

No gráfico 01, observa-se uma totalidade de 194 pacientes no período pré-pandemia e 128 pacientes na pandemia, num intervalo de 66 a 75 anos com a maior incidência de pacientes, tanto antes como no período da pandemia.

Gráfico 01: Totalidade de pacientes por faixa de idade que realizaram biópsia para rastreio de câncer de próstata no período pré-pandemia e pandemia.

Fonte – Autoria dos pesquisadores

Além disso, temos uma redução em todos os períodos de idade quando comparamos a quantidade de pessoas que realizaram o rastreio pré-pandemia e no período pandêmico.

No gráfico 02, observa-se uma totalidade de 26 pacientes no período pré-pandemia e 11 pacientes na pandemia, da mesma forma que o gráfico anterior tivemos uma redução de mais de 50% no número de pacientes que fizeram esse tipo de rastreio.

Gráfico 02: Totalidade de pacientes por faixa de idade que realizaram exame de antígeno para rastreio de câncer de próstata no período pré-pandemia e pandemia.

Destaca-se a faixa de idade entre 56 a 65 anos que teve um aumento do número de indivíduos que realizaram o exame, na pandemia, quando comparado com o pré-pandêmico.

O gráfico 03, estabelece a relação entre os pacientes que realizaram o rastreio e se os mesmos teriam alguma doença de base que poderia agravar a sua condição caso contraísse a covid-19.

Gráfico 03: Percentual dos pacientes com doença de base que realizaram biópsia para rastreio do câncer de próstata no período pré-pandemia e pandemia.

Fonte – Autoria dos pesquisadores

Diante dos dados, observamos nos dois períodos um maior destaque para o grupo de pacientes que não apresentavam doença de base. A hipertensão arterial sistêmica isolada, foi a patologia com a maior incidência, seguido dos pacientes que apresentavam hipertensão arterial e diabetes mellitus. Vale ressaltar que na totalidade dos indivíduos pesquisados tivemos a redução de 194 para 128 pacientes.

No gráfico 04, devido à época da pandemia COVID-19, muitos pacientes apresentavam comorbidades, que significavam pacientes de alto risco para o COVID-19. Assim, muitos pacientes deixaram de realizar o rastreio do câncer de próstata no período da pandemia, por receio de contrair a doença e apresentar sintomas mais graves.

Gráfico 04: Percentual dos pacientes com doença de base que realizaram exame de antígeno para rastreio do câncer de próstata no período pré-pandemia e pandemia.

Fonte – Autoria dos pesquisadores

Observa-se uma maior incidência de pacientes que possuem hipertensão arterial sistêmica realizando o rastreio por antígeno, seguido pelo grupo dos indivíduos que não apresentavam patologia de base.

5 DISCUSSÃO

No período de pandemia, os casos de rastreio do câncer de próstata reduziram. O câncer é um problema de saúde pública a nível global, e assim como diversas outras doenças crônicas, o diagnóstico e o tratamento do câncer também foram afetados pela pandemia de COVID-19 (COSTA et al., 2022).

Ademais, em consonância com o presente estudo, em outro estudo a coleta de PSA e de biópsia da próstata, que junto com o exame de toque retal diagnosticam a doença, apresentaram quedas na ordem de 27% e 21%, respectivamente. O número de consultas urológicas no SUS também caiu 33,5%. E as internações de pacientes com o diagnóstico da doença tiveram queda de 15,7%. Esse cenário reforça mais ainda o estudo desenvolvido (PORTAL DA UROLOGIA, 2022).

Com a pandemia COVID-19, houve uma redução da ida às consultas, o que antes já era difícil, devido a demora em conseguir vaga, com a pandemia piorou, prejudicando o tratamento e atrasando o diagnóstico do câncer de próstata (COSTA et al., 2022).

Somado a isso, ocorreu uma diminuição significativa do número de pacientes que realizaram biópsia para rastreio de câncer de próstata no período de pandemia. Nesse contexto, em consonância com o estudo, após o surto de COVID-19, foi observado um grande declínio no número de novos diagnósticos de câncer de próstata, um decréscimo de 28% (correspondendo a cerca de 300 diagnósticos) face aos anos anteriores. A partir de maio, o número de diagnósticos começou a retornar para aproximadamente 95% do número esperado até o final de 2020 com base nos anos anteriores (DEUKEREN et al., 2022).

No cenário da pandemia COVID-19, os esforços foram somados para atender a alta demanda do coronavírus, assim, os encontros com pacientes com neoplasias novas e antigas reduziram significativamente. Embora muitos diagnósticos de câncer tenham apresentado tendência parecida com a observada para câncer de próstata. O câncer de próstata está entre as neoplasias que apresentaram uma das maiores quedas, com cerca de 49,1% de 2019 para 2020 (LONDON et al., 2020).

Mesmo que os riscos do COVID-19 sejam minimizados por meio da vacinação e da imunidade coletiva, os pacientes que abandonaram a rotina de seus cuidados típicos podem encontrar barreiras difíceis de superar à reentrada. Por esses motivos, os sistemas de saúde precisarão identificar as áreas em que os pacientes não estão acompanhando seus cuidados ou triagem de câncer de rotina e encontrar maneiras de tranquilizá-los e reengajá-los (EPSTEIN et al., 2022).

O pico da pandemia de COVID-19 resultou em uma redução drástica no número de testes de rastreamento de câncer concluídos, embora os surtos subseqüentes de COVID-19 não tenham tido um impacto perceptível nas taxas de rastreamento (EPSTEIN et al., 2022).

Quanto à limitação do estudo, notou-se que a quantidade de pacientes com comorbidades acabou resultando numa diminuição do número de pessoas realizando o rastreio, devido ao receio de contrair a COVID-19 e apresentar gravidade no caso.

6 CONCLUSÃO

O atraso no diagnóstico do câncer de próstata observado durante a pandemia de COVID-19 reflete o impacto da pandemia na detecção precoce do câncer e sinaliza possíveis efeitos a jusante no prognóstico de diagnósticos tardios de câncer. A taxa mais lenta de retorno para procedimentos de rastreamento de câncer de próstata deve ser investigada para garantir que os homens retornem para exames de rotina. Sendo, portanto, os exames de rotina, essenciais para detecção das neoplasias em estado precoce, possibilitando assim, um melhor prognóstico para o paciente.

REFERÊNCIAS

BIONDO, Chrisne Santana et al. Detecção precoce do câncer de próstata: atuação de equipe de saúde da família. Enfermería Actual de Costa Rica, n. 38, p. 32-44, 2020.

BRASIL, 2015a INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Câncer de próstata. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-prostata. Acesso em: 12 de Maio de 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle do Câncer de Próstata. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cancer_da_prostata.pdf. Acesso em: 29 mar. 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Assistência à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev. Câncer da próstata: consenso – Rio de Janeiro: INCA, 2002.

COSTA, Yasmim Xavier Arruda et al. Diagnóstico de câncer de próstata em uma análise de incidência nos estados da Bahia e Rio Grande do Norte: houve influência do COVID-19?. Research, Society and Development, v. 11, n. 2, p. e59711226285-e59711226285, 2022.

COSTANZO, Linda S.. Fisiologia. 6. ed. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

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