REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411121748
Jhanne Barreto Rangel1
Alessandra Tozatto2
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo investigar como a avaliação neuropsicológica pode contribuir para o tratamento eficaz do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) em crianças e adolescentes. Considerando que o desenvolvimento emocional nessa fase da vida influencia significativamente a manifestação dos medos e preocupações, torna-se crucial compreender o perfil psicológico individual de cada paciente. A alta prevalência do TAG na infância e adolescência ressalta a importância de uma intervenção precoce para prevenir a cronicidade e os impactos na vida adulta. A revisão da literatura demonstra que a avaliação neuropsicológica nessa população apresenta particularidades e é fundamental para identificar os sintomas específicos do TAG, avaliar a gravidade dos sintomas e identificar as habilidades preservadas. Além disso, a avaliação neuropsicológica permite compreender a forma como a ansiedade interfere no funcionamento diário da criança ou adolescente, auxiliando na escolha das intervenções mais adequadas. No entanto, é importante ressaltar que a avaliação neuropsicológica não é um processo simples e os resultados devem ser interpretados de forma cuidadosa, considerando a complexidade dos quadros de ansiedade e a influência de diversos fatores. Conclui-se que são necessárias mais pesquisas para aprofundar o conhecimento sobre os aspectos psicológicos do TAG na infância e adolescência, visando aprimorar a prática clínica e garantir um tratamento mais eficaz para essa população.
Palavras chaves: Avaliação neuropsicológica, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Infância, Adolescência.
ABSTRACT
This study aimed to explore the role of neuropsychological assessment in enhancing the efficacy of Generalized Anxiety Disorder (GAD) treatment in children and adolescents. Given the significant influence of emotional development during this life stage on the manifestation of fears and worries, a comprehensive understanding of each individual’s psychological profile is essential. The high prevalence of GAD in childhood and adolescence underscores the critical need for early intervention to prevent chronic conditions and long-term consequences. A literature review reveals that psychological assessment in this population presents unique characteristics and is vital for identifying specific GAD symptoms, assessing symptom severity, and pinpointing preserved abilities. Additionally, neuropsychological assessment offers insights into how anxiety impacts the daily functioning of children and adolescents, aiding in the selection of tailored interventions. However, it is crucial to recognize that neuropsychological assessment is a complex process, and results must be interpreted cautiously considering the multifaceted nature of anxiety disorders and the influence of various factors. In conclusion, further research is imperative to deepen our understanding of the psychological dimensions of GAD in childhood and adolescence, thereby improving clinical practices and ensuring more effective treatment for this population.
Keywords: Neuropsychological assessment, Generalized Anxiety Disorder, Childhood, Adolescence.
1 INTRODUÇÃO
O tema “Avaliação neuropsicológica no transtorno de ansiedade generalizada (TAG) na infância e adolescência” busca compreender como a avaliação neuropsicológica pode contribuir para o diagnóstico e tratamento desse transtorno em uma fase da vida marcada por intensas transformações. Considerando que o desenvolvimento humano é um processo dinâmico e multifatorial, influenciado por fatores biológicos, psicológicos e sociais, torna-se essencial analisar como o TAG se manifesta e interage com as particularidades de cada indivíduo em desenvolvimento. A alta prevalência do TAG nessa fase da vida evidencia a necessidade de uma abordagem que leve em conta as especificidades do desenvolvimento infantil e adolescente (Estanislau; Bressan, 2014).
A avaliação neuropsicológica é essencial para determinar se o desenvolvimento de crianças e adolescentes segue os padrões esperados para sua idade. Através dela, é possível identificar a necessidade de intervenções precoces e direcionar o desenvolvimento para um curso mais adaptativo (Jacowski et al., 2014).
O desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes interfere sobre as causas e o modo como se manifestam os medos e as preocupações que podem ser normais ou patológicos. Uma em cada dez crianças e adolescentes irão preencher os critérios diagnósticos para o Transtorno de Ansiedade – TA (Asbahr, 2004).
O psicólogo, ao avaliar o perfil psicológico de crianças e adolescentes com TAG, pode compreender as nuances de suas emoções e desenvolver estratégias de intervenção eficazes, reduzindo assim os efeitos do transtorno na vida adulta. (Salles et al., 2004).
No que diz respeito à avaliação neuropsicológica na infância e adolescência, se faz necessário considerar suas peculiaridades fazendo uma análise de todas as dimensões envolvidas nesse processo: a influência dos fatores neurobiológicos, a contribuição genética, o contexto familiar, as oportunidades do contexto históricocultural e de estimulação.
Os objetivos deste estudo é entender como a psicologia pode contribuir para o TAG na infância e na adolescência, compreender o desenvolvimento da criança e do adolescente; descrever o Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG e explicar como a avaliação neuropsicológica pode contribuir para o TAG na infância e na adolescência.
Na medida em que a avaliação neuropsicológica se processa por meio de observação, entrevistas e testes neuropsicológicos padronizados permite assim, investigar o funcionamento cognitivo e estabelecer as habilidades e as dificuldades específicas de um indivíduo para planejamento de intervenção. A avaliação neuropsicológica de crianças e adolescentes é imprescindível na identificação de diversos diagnósticos de transtornos do desenvolvimento.
Foi realizada uma revisão de literatura narrativa sobre a temática em artigos publicados em periódicos especializados, nas bases de dados científicas do CAPES, Scielo e Lilacs que informam sobre aspectos da avaliação neuropsicológica no transtorno de ansiedade generalizada (TAG) em crianças e adolescentes.
Foram utilizadas as seguintes expressões de busca: avaliação, psicologia; transtorno de ansiedade generalizada (TAG); infância; adolescência.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Desenvolvimento biopsicossocial humano
O desenvolvimento biopsicossocial humano engloba diversas conotações, incluindo aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais. Nesse sentido, consiste no desenvolvimento mental e no crescimento orgânico. Os fatores que envolvem esse desenvolvimento conforme Monteiro et al., (2016, p. 05) são:
O aspecto físico-motor, que se refere ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica; o fator intelectual, que é a capacidade de pensamento e raciocínio; aspecto afetivo-emocional, a forma particular de o indivíduo integrar as suas experiências, sendo que a sexualidade faz parte desse aspecto; e, por fim, o social que é como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas.
Segundo Papalia e Feldman (2013), os princípios no ciclo vital são entrelaçados e cada pessoa insere-se num tempo e lugar onde as relações são recíprocas. Evidencia também um equilíbrio entre avanço e declínio e, ao mesmo tempo, ocorre a plasticidade que envolve a capacidade de modificação do desempenho cujo potencial apresenta limites.
Jacowski et al., (2014) destaca que apesar de haver a continuidade no desenvolvimento nem sempre é progressivo e para ser considerado normal certas características básicas devem ser satisfeitas com tarefas dominadas em cada período; caso manifeste o fracasso necessita ser temporário e será nomeado atraso quando não apresentar a maturidade nas áreas específicas.
Conforme Jacowski et al., (2014, p. 01):
O esclarecimento desses mecanismos permite estimular o crescimento, discernir fatores de risco ou identificar se exibem as falhas de percurso. Inúmeras transformações cerebrais acompanham essa trajetória possibilitando a aprendizagem de várias habilidades as quais se ampliam pelo aperfeiçoamento dos sistemas sensoriais, motores e funções cognitivas.
De acordo com Sadock et al., (2017) a infância se apresenta demarcada em etapas que vai do nascimento, com o parto de um feto até 15 meses, logo em seguida o ciclo do bebê até 2 anos; a fase pré-escolar dos 2 anos e meio aos 6 anos e por último os anos intermediários que são aqueles entre 6 a 12 anos de idade.
Papalia e Feldman (2013) afirmam que no período da infância acontece grande desenvolvimento e ao mesmo tempo as crianças não apresentam capacidade suficiente para satisfação de suas necessidades desde as básicas referentes à alimentação, vestuário e abrigo bem como de contato e afeição sendo os pais os principais modelos para aprendizagem e vinculação. Mediante a aquisição da fala e auto locomoção, os momentos de independência se instalam com a crescente necessidade de afirmar a autonomia, porém, a presença dos cuidadores se faz necessária para auxiliá-las na manifestação de seus impulsos.
Já na segunda infância elas praticam mais o autocontrole com atrativos por outras crianças e na terceira infância manifesta-se uma mudança gradual do comportamento da criança saindo dos pais em direção maior para os pares e o grupo de amigos que fica cada vez mais relevante, convertendo-se para outro estado do desenvolvimento (Papalia; Feldman, 2013).
Em seguida surge a adolescência que é uma fase do desenvolvimento que se inicia de 11 a 12 em diante. O ser humano vai aumentando as capacidades adquiridas anteriormente, seu raciocínio já é capaz de formular hipóteses e formar esquemas conceituais abstratos, conseguindo executar operações mentais dentro de princípios da lógica formal.
A adolescência se dá num período da vida do ser humano no qual acontecem profundas mudanças, caracterizadas, principalmente, por crescimento rápido, aparecimento das características sexuais secundárias, conscientização da sexualidade, estruturação da personalidade, adaptação ambiental e integração social (Yazille, 2006).
Estanislau e Bressan (2014, p. 01) relatam que:
A adolescência divide-se em fases, a inicial em que ocorrem as manifestações da puberdade intensificando as respostas emocionais em busca de sensações e as orientações pelas recompensas; a outra fase chamada de intermediária em que se manifesta maior vulnerabilidade a problemas ligados a regulação do afeto e do comportamento e a última fase, denominada tardia, em que é aumentada a maturação do lobo frontal percebida pela capacidade de autorregulação passando os indivíduos a manifestar um humor mais estável e positivo.
Trata-se de uma etapa muito importante para o desenvolvimento humano, como são também as demais fases da vida, mas é nesta fase da vida que o indivíduo descobre muitas coisas e é desafiado, com vivências e expectativas sociais variadas, presentes e concretas (Silva, 2012). Dentre essas experiências pode se incluir a sexual, a qual se não orientada para prevenção pode ter como consequência a gravidez indesejada, conforme ressalta Araújo Filho (2009, p.15),
O aumento da atividade sexual sem proteção na adolescência tem como ocorrência marcante o aumento no número de gestações precoces. Uma intrincada rede de fatores confere à gravidez na adolescência um grau elevado de risco para a mãe e para a criança, especialmente as de classes populares. As consequências perversas de uma gravidez na adolescência se fazem sentir tanto na morbidade/mortalidade da mãe e do bebê quanto nos impactos econômico, educacional, escolar e social.
Deve-se levar em conta no desenvolvimento da criança e adolescente o temperamento, que se caracteriza pela maneira de agir de cada indivíduo. Forehand e Long (2003) destacam que as várias formas que as crianças lidam com os conflitos refletem em seu estilo comportamental. Existem vários traços característicos de uma criança de temperamento difícil que podem ser observados na intensidade de sua reação e como se adapta aos acontecimentos; o nível de persistência e de emotividade.
De acordo com Vygotsky (2007, p. 237):
As formações psicológicas são produtos da influência social sobre o ser humano, são a representação e o fruto do ambiente cultural externo na vida do organismo. Ressaltada a importância do conceito de zona de desenvolvimento proximal para a aprendizagem, um dos postulados que Vygotsky coloca como fundamental nesse processo, qual seja, a teoria da mediação. Segundo ele, para que haja desenvolvimento, o fator cultural apresenta-se como determinante e os fenômenos psicológicos são resultantes das transformações genéticas ocasionadas a partir da atuação do sujeito no contexto social e cultural.
Segundo Monteiro et al.(2016), é preciso ter um desenvolvimento integral, ou seja, físico, social e emocional, sendo importante proporcionar à criança um desenvolvimento sócio afetivo adequado. Para Asbahr (2004) as crianças e adolescentes podem não reconhecer suas ameaças ou medos como excessivos ou contrários à razão, especialmente as menores, sendo nesse ponto bem diferente dos adultos.
2.2. Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG na infância e adolescência
Segundo Rodrigues (2011) a ansiedade é caracterizada enquanto uma sensação difusa, vaga e desagradável de apreensão, acompanhada por tensão ou desconforto derivados de perigos desconhecidos, internos ou conflituosos cujo caráter se manifesta de forma insidiosa. Pode vir acompanhada de experiência subjetiva de medo de perder o controle ou outra emoção em forma de terror ou pânico existindo uma hipervigilância mais direcionada ao futuro sendo a preocupação, a temática cognitiva mais comum.
Nas situações estressantes, o organismo libera substâncias químicas que dependem de estruturas cerebrais participantes do processamento da informação; neste momento, estão entre as mais importantes os neurotransmissores dopamina e a serotonina, capazes de produzir sensações mentais e físicas advindos de vários estímulos. As apresentações fisiológicas de palidez, palpitações, falta de ar, boca seca, tremores, sudorese, estímulos viscerais e etc., sucedem a ativação das respostas corporais e transcorre o aumento da atenção seletiva para certos aspectos do ambiente. Os sintomas comportamentais revelam-se na inquietude, isolamento e esquiva (Rodrigues, 2011).
A ansiedade precisa ser compreendida pelas manifestações do comportamento multideterminado sejam por fatores causais e em interação (Bunge et al., 2012). Ao observar crianças e adolescentes é recomendado que, para avaliar o que se tornou patológico use como referência a abordagem daquilo que é esperado e compreensível no comportamento para cada idade (Amorim; Assumpção, 2016).
Bungue et al., (2012, p. 08) definem ansiedade patológica quando:
A criança ou adolescente apresenta uma manifestação de exagero em relação ao estímulo e traz diferentes graus de sofrimento baseando-se numa apreciação irreal da ameaça que leva a restrição da autonomia. Observar a intensidade, frequência e duração, assim como as interferências na qualidade de vida e desempenho diário, são evidências criteriosas para fins diagnósticos nos transtornos de ansiedade. Deve haver ainda um impacto significativo na vida social e escolar, resultando em sérias consequências.
As reações exageradas referentes ao estímulo ansiogênico se desenvolvem, mais frequentemente, em indivíduos com uma disposição natural neurobiológica herdada. Apesar de ter um quadro clínico para cada síndrome de ansiedade, a maioria das crianças e adolescentes terá mais de um transtorno ansioso. Calculase que cerca de metade das crianças e adolescentes desenvolvem transtornos ansiosos comórbidos (Asbahr, 2004).
Os Transtornos de Ansiedade (TA) podem estar presentes em todas as fases da vida. De acordo com pesquisas feitas, também se tornam os mais habituais afetando de 10% a 20% na juventude sendo mais comum em meninas; predizem uma gama de dificuldades psicológicas na adolescência, incluindo transtornos de ansiedade adicionais do tipo pânico e depressão. Raramente ocorrem em sua forma pura e por serem altamente comórbidos são comuns a apresentação concomitante dos sintomas pertencentes ao Transtorno de Ansiedade de Separação (TAS), Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG e
Ansiedade Social/FS (Sadock et al., 2017). Outras comorbidades mencionadas são os Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Conduta (TC) (Rodrigues, 2011).
Na medida em que ocorre o crescimento, é esperado para determinadas idades manifestações de medos e preocupações que são transitórios e capazes de proporcionar meios de ajustamento do indivíduo a variados níveis estressantes. No estado evolutivo ao nascer até 6 meses, a situação temida envolve perda do contato físico com a mãe e barulhos intensos; de 7 a 12 meses o medo se manifesta com relação a pessoas estranhas; a partir de 1 a 5 anos relaciona-se a barulhos intensos, animais e escuro; especificamente de 3 a 5 anos o medo está ligado a monstros e fantasmas; de 6 a 12 anos com relação a machucados, castigos e fracasso escolar e de 12 a 18 anos as ocorrências envolvem provas, exames ou indicar vergonha e sentimento de ser excluído (Bunge et al., 2012).
Em cada etapa da vida esses sentimentos serão influenciados pelo amadurecimento psíquico que proporcionará a compreensão do grau do risco na situação, incluindo a capacidade de diferenciar fantasia de realidade e de regulação emocional, que por sua vez tais aspectos estão circunscritos pelas diferenças individuais e culturais (Amorim; Assumpção, 2016).
Stallard (2010, p. 14) aponta que:
Os quadros de ansiedade costumam ter início na infância e, no entanto, não são tratados durante essa fase, chegando à idade adulta associada a outros transtornos, como a depressão, o abuso e a dependência de álcool e outras drogas, e a um maior risco de suicídio.
Em uma pesquisa realizada no Brasil com uma amostra de 1251 estudantes de Taubaté (SP), observou-se que os TA estão entre os casos psiquiátricos mais frequentes (Rodrigues, 2014).
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais DSMV (American, 2014, p. 01) os TA diferem entre si nos tipos de:
Objetos ou situações havendo as características de cada um deles mediante as seguintes classificações: Transtorno de Ansiedade de Separação; Mutismo Seletivo; Fobia Específica; Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social); Transtorno do Pânico; Agorafobia; Transtorno de Ansiedade Generalizada; Transtorno de Ansiedade Induzido por Substâncias/Medicamento; Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica e outro Transtorno de Ansiedade Especificado
Especificamente no TAG na infância e adolescência, é inevitável o excesso de preocupação incontrolável a uma variedade de eventos passados e futuros que tem poucas chances de ocorrer. Dá ênfase aos aspectos negativos do meio, traz manifestações de irritabilidade e continuamente as pessoas se ligam a qualidade de sua execução. A escola ocupa um espaço privilegiado para investigação dos fenômenos de ansiedade em crianças e adolescentes, podendo ainda exercer um papel crucial no curso do TAG ao incluir estratégias para reduzir o impacto dos sintomas no aluno, colegas e professor. O tratamento combinado de psicoterapia e medicação são mais produtivos do que de forma isolada (Estanislau; Bressan, 2014).
Quase sempre os sintomas vêm acompanhados de problemas físicos e por isso é comum a procura do atendimento médico. O sono, a concentração e atenção podem ficar alterados, além de diminuir a produtividade e trazer interferências nos relacionamentos entre os pares. Nas crianças são apontadas várias queixas somáticas e se mostrarem mais conformistas buscando excessivo zelo pela aprovação e perfeição nas tarefas, demonstrando também dificuldades em fazer amizades. Os jovens revelam-se extremamente inseguros e sensíveis às críticas estando desproporcionalmente preocupados com o julgamento das pessoas, os eventos e as doenças (Asbahr, 2004).
2.3. Avaliações e verificações sobre o TAG e os aspectos psicológicos na infância e adolescência
Estudos demonstram como as avaliações e verificações sobre o TAG e os aspectos psicológicos na infância e adolescência podem contribuir para o tratamento desses indivíduos. Sternberg (2008, p. 11) destaca que:
Não são apenas os processos cognitivos que se relacionam entre si e assim há a ocorrência de outros processos interagindo, como a motivação, sendo essa a razão pela qual se assimila melhor quando está incentivado para aprender. Em contrapartida, a aprendizagem talvez seja prejudicada se o indivíduo estiver ansioso com alguma coisa.
Borges et al., (2008) apontaram em seus estudos um panorama das publicações científicas recentes na área da avaliação neuropsicológica da criança e do adolescente. Investigaram aspectos psicológicos dos transtornos na infância, dedicando-se à avaliação dos prejuízos do córtex pré-frontal no TDAH, Transtorno de Espectro Autista – TEA, Transtorno Bipolar – TB e Transtorno de Conduta – TC. Em relação ao TEA, os resultados controversos impossibilitam uma generalização dos déficits em atenção; crianças deprimidas demonstraram desempenho pior na memória, e nos casos de TB pediátrico foram detectados prejuízos na memória e na atenção.
Na mesma direção, Rozenthal et al., (2004) em seus estudos, apontam os aspectos psicológicos da ansiedade e depressão, inserindo alterações na atenção sustentada, no controle inibitório e na capacidade de alternância de foco atentivo.
Tendo em vista a predominância de alterações na memória e na atenção nos transtornos psicológicos, acentua-se a relevância de uma maior compreensão dos aspectos neurodesenvolvimentais da atenção na área da psicologia infantil (Borges et al., 2008).
Já o traço é geralmente entendido como uma média ou estado típico do indivíduo, refletindo não só as suas características, mas ainda os estresses que habitualmente estão presentes em seu contexto. A capacidade é quase sempre considerada um traço moderadamente estável, no entanto o nível de desempenho é transitório (Maxwell, 2018).
Barros e Hazin (2013) destacam que “a psicologia se encontra ligada a um estudo intensivo do comportamento. Portanto, é fundamental associar a avaliação quantitativa e os dados qualitativos expressos ou não pelo indivíduo”. Só assim a avaliação cumprirá seu objetivo de traçar um perfil do funcionamento psicológico do indivíduo com ênfase em aspectos cognitivos e entender a participação das variáveis emocionais, ambientais e neurológicas na configuração desse perfil, com vistas a formular uma hipótese diagnóstica que culminará na indicação terapêutica.
O estudo de Asbahr (2004) intitulado “Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neurobiológicos” destacou que os transtornos ansiosos encontram-se entre as condições psiquiátricas mais comuns na população pediátrica, mas são muito pouco considerados. Portanto, a identificação e o tratamento precoce podem evitar repercussões negativas na vida da criança e, possivelmente, a ocorrência de problemas psiquiátricos na vida adulta. Nesse sentido, Jarros (2011) destaca que quanto à identificação desses transtornos é importante novos estudos que possam contribuir para fortalecer as iniciativas de atendimento a esses grupos de pacientes.
Asbhar (2004) ressalta que os avanços nos estudos neurobiológicos poderão facilitar o esclarecimento de funções fisiopatológicas envolvidas, assim como favorecer o tratamento dos TA, e menciona também as estratégias atuais utilizadas nos tratamentos medicamentosos e psicológicos.
Toazza (2016, p. 01) afirma que:
Os TA fazem parte do grupo de transtornos psiquiátricos mais comuns na infância e adolescência, porém, tem-se pouca investigação dos mecanismos fisiopatológicos subjacentes. Esse estudo envolveu diferentes enfoques de avaliação neuropsicológica e de imagem neurofuncional, realização de tarefas e em repouso, a fim de conhecer as bases neurais dos TA culminado em três artigos advindos de dois projetos realizado com crianças e no seguimento de pacientes adolescentes e adultos jovens. Traz informações importantes sobre a origem das alterações nos TA, partindo dos circuitos neurais; os dados revelam modificações significativas na fluência verbal e conectividade cerebral; além de agregar valores fundamentais para entender os TA sob a visão da Neurociência,
Neuropsicologia, Psiquiatria e Fonoaudiologia.
Os resultados são replicados e avançam reforçando a importância da fluência verbal como um marcador de gravidade em crianças com TA e que essa associação é independente de sintomas comórbidos de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. É incentivado o desenvolvimento de outros estudos que busquem medidas neurobiológicas e implicações terapêuticas advindas dos resultados atuais, além, de intervenções que almejam mecanismos envolvidos na fluência verbal direcionados para funções executivas, memória e linguagem em idades ainda precoces podendo ser um percurso para reduzir problemas futuros e comorbidades associadas. A fonoaudiologia e neuropsicologia, ao entender os mecanismos linguísticos, trazem a possibilidade de novas terapêuticas em diferentes quadros clínicos (Toazza, 2016).
As investigações de Toazza (2016) indicam a conectividade funcional aberrante entre a amígdala basolateral esquerda e cinco regiões cerebrais relacionadas à ansiedade, além de ser encontrada correlação inversa entre amígdala basolateral esquerda e duas regiões; sem apontar diferenças significativas entre os sexos. De acordo com a literatura, encontraram conectividade intrínseca aberrante nos TA e os achados revelam vigorosa combinação entre TA e grande tamanho de efeito. O estudo fornece novas compreensões acerca da Neuroanatomia funcional da amígdala, conforme apontado por Asbhar (2004) sobre a importância de investigar as funções fisiopatológicas nos TA.
Os estudos de Montagner (2015) identificaram fatores de risco nos TA, tornase fundamental a investigação das rotas biológicas das trajetórias atípicas e de como fazer para modificá-las, novamente revelando a importância do entendimento fisiopatológico. Investigaram uma lacuna na literatura referente aos mecanismos que estão por trás dos transtornos emocionais na criança, sendo eles depressão e TA, a partir de achados que caracterizam através de quais mecanismos a psicopatologia parental confere riscos para transtornos psiquiátricos nos filhos.
Já a investigação nas alterações do sistema de orientação da atenção nos TA é bem estabelecida. O autor selecionou estudantes de seis a doze anos numa amostra da escola pública, primeiramente na fase da triagem, e na testagem do estudo com estudantes de seis a quatorze anos mediante a utilização de instrumentos para avaliação aplicados junto aos cuidadores e o público infantojuvenil (Montagner, 2015).
O estudo avança na compreensão do papel da associação entre o viés atencional, que parcialmente mede o risco familiar para transtornos emocionais; o gênero mais suscetível, sendo o feminino; e o conhecimento do transtorno emocional materno em crianças típicas e livres de doenças. Esses resultados trazem implicações terapêuticas, mostrando que dentro da heterogeneidade de transtornos psiquiátricos, o tipo de transtorno emocional parental e o gênero podem esclarecer as diferenças individuais no viés atencional, assim como, o risco para apresentar transtorno emocional. Por outro lado, a pesquisa reforça a necessidade de investigação longitudinal para melhor esclarecimento dessas questões uma vez que os fatores de risco são identificados numa interação complexa (Montagner, 2015).
Já Teixeira (2014, p. 01) enfatiza a origem multifatorial dos TA e destaca que:
Apesar da alta prevalência na infância e adolescência, ainda se encontram subdiagnosticados e subtratados, apontando a importância de estudos que ajudem no entendimento desses quadros para a identificação precoce e formulação de estratégias de tratamento mais adequadas. Ao pesquisar sob a origem da ansiedade infantil, verifica lacunas ainda maiores, pois são recentes os achados, além de remeterem às inúmeras variáveis e diferentes trajetórias de vida. Destaca o papel dos familiares enquanto alvo de novas pesquisas e investiga a relação entre práticas educativas parentais de controle e ansiedade infantil num estudo que envolve mães com filhos entre seis e oito anos
Assim, os resultados de Teixeira (2014) confirmam o que há na literatura sobre as correlações positivas entre ansiedade infantil numa das categorias do controle psicológico: o controle crítico. As formas de suporte apropriado revelam-se menos importantes para um bom funcionamento da criança; maior frequência do uso de suporte apropriado entre as mães do grupo não clínico; a escolaridade materna correlaciona-se com o controle psicológico; apresenta correlação positiva entre a idade do pai e o suporte apropriado; as práticas de suporte apropriado estavam relacionadas ao maior número de moradores, mas têm estudos que contrariam essa hipótese, necessitando de mais conhecimento que investiguem essas variáveis; quanto mais novas as mães, maiores os escores de ansiedade infantil, e há hipótese de estar ligada a limitação do repertório comportamental da mãe e às outras influências contextuais sendo que tais dados são sugestivos e necessitam de maiores investigações.
A frequência de casos clínicos entre meninos é maior, o que contradiz a literatura, mas os achados sugerem que a diferença entre os sexos não é significativa com relação a crianças mais novas, o que pode ser mais evidente na transição da infância para a puberdade. Todavia, não foram encontradas pesquisas que confirmem os dados, apontando a necessidade de melhor investigação.
Cabe à comunidade científica brasileira progredir no empenho para reconhecer os múltiplos fatores que determinam tais quadros, avançando nesse campo com o intuito de investigar a relação entre práticas educativas parentais e ansiedade infantil significando ajudar na prevenção desse tipo de problema no desenvolvimento infantil, assim como, no tratamento e intervenções mais eficientes e adaptados a nossa cultura.
Sobre ansiedade, Rodrigues (2011) mencionou em seus estudos que as pessoas com TA estariam mais vulneráveis a apresentar prejuízos cognitivos. Através de avaliações neuropsicológicas focando no desempenho e nas alterações de determinados processos cognitivos, constatou-se que a ansiedade elevada pode interferir nos resultados e provocar déficits em especial na atenção, memória e funções executivas.
Confirmando os achados de Jarros (2011, p. 05) de que os dados na literatura sobre o funcionamento cognitivo de jovens com TA são insuficientes, o estudo objetivou:
Avaliar o funcionamento em crianças e adolescentes de 7 a 17 anos com TA, pré e pós-tratamento medicamentoso, sendo o primeiro estudo realizado no Brasil comparando o desempenho dos pacientes. No pré-tratamento entre os sujeitos do grupo com TA, preconiza-se desempenho significativamente inferior nas atividades que medem atenção, memória visual, memória verbal e funções executivas. Em relação à sintomatologia ansiosa e classificação, ambas foram medida pela “Escala Multidimensional de Ansiedade para Crianças” (MASC) e o grupo apresentou escores significativamente mais elevados. No pós-tratamento fica sugerido que, a partir de qualquer das intervenções realizadas seja pela medicação ou placebo, há melhoras no desempenho das crianças do grupo com TA referente aos processos cognitivos avaliados e de maneira mais pontual refletiriam no desempenho da eficiência intelectual estimada, funções executivas, memória verbal em longo prazo e sintomas de ansiedade; por outro lado constatam melhor desempenho intelectual após tratamento medicamentoso. Os resultados também apontam que as dificuldades cognitivas encontradas são compatíveis com o funcionamento prejudicado do lobo frontal acarretando prejuízos à vida acadêmica. Portanto, os sintomas ansiosos interferem no desempenho das funções cognitivas. Tais resultados são tendências a ampliações, a fim de contribuir para o planejamento de intervenções terapêuticas. A amostra pequena limita as conclusões e fica reduzida a possibilidade de fazer análises separadas por faixas etárias e gêneros e nem por diagnósticos específicos de TA, demonstrando também a carência de ensaios clínicos.
Os instrumentos, que não são padronizados para a população brasileira, dificultam a comparação deste estudo a outros vistos na literatura; sendo novamente confirmada essa observação feita por Teixeira (2014) e Baptista e Soares (2017).
Jarros (2011, p. 06) contribuiu com seus estudos ao favorecer a avaliação de várias funções psicológicas.
Utilizou uma avaliação diagnóstica psiquiátrica completa e ampla bateria de testes neuropsicológicos relacionados às funções cognitivas para avaliar, numa amostra de origem comunitária, adolescentes com idade de 10 a 17 anos através de um estudo transversal. Em relação às áreas de atenção, memória verbal semântico-episódica, praxia visuoconstrutiva, funções executivas e inteligência não foram encontradas diferenças apreciáveis na aplicação dos testes. Constatou que os adolescentes apresentavam ansiedade leve, desempenho melhor na avaliação de memória de trabalho com o teste Span Verbal de Dígitos ordem inversa, o que pode ter influência nesse processo cognitivo, ao serem comparados aos sujeitos com ansiedade grave e aos controles, que não diferem entre si. Houve associação entre os adolescentes com TA e prejuízo no reconhecimento de faces de raiva e, por outro lado, apresentaram uma maior habilidade em nomear as faces neutras que pode estar associado a uma facilidade no reconhecimento em que não apresentam conteúdo emocional; na tarefa de reconhecimento facial mediante as outras emoções (felicidade, tristeza, nojo, surpresa, medo), não foram encontradas diferenças significativas. Tais achados confirmam aquilo que os modelos cognitivos atuais demonstram referente à influência da ansiedade na detecção e/ou processamento de emoções.
Observa-se que o enfoque principal tem sido a investigação da ansiedade generalizada em crianças e adolescentes. Como pode ser visto, nos TA destacamse a forte prevalência, as comorbidades e os prejuízos, indicando a necessidade de intervenções mais precoces associadas ao tratamento. Verifica-se a existência de lacunas na literatura sobre o funcionamento cognitivo em crianças e jovens dessa população, visto que a ansiedade é de grande importância no campo da cognição e desempenho.
A junção de informações a respeito de conhecimentos sobre a ansiedade e os aspectos psicológicos, pode ser valiosa para a identificação e compreensão do problema na evolução da manifestação psicológica; porém, confirma-se a necessidade de mais estudos com resultados que questionem e avaliem a ansiedade generalizada em crianças e adolescentes.
Percebe-se que os achados ao investigaram os TA e os aspectos psicológicos, apuraram a ansiedade associada com outro construto, além de apontarem resultados inconsistentes vistos nas amostras restritas e grande variabilidade metodológica. Esses fatos dificultam a generalização dos dados indicando a necessidade de novos exames com observações, investigação longitudinal e ensaios clínicos, recomendando também uma maior integração entre pesquisas e neuroimagem.
2.4. Avaliação neuropsicológica
A avaliação neuropsicológica normalmente se estrutura em uma série de métodos, técnicas e instrumentos. E, existe uma preocupação permanente com a objetividade, precisão, validade e interpretação dos dados. Essa preocupação ocorre em razão das questões de ordem emocional que afetam a avaliação, e que podem alterar os resultados (Capovilla, 2007).
O Conselho Federal de Psicologia (2024, p. 01) define avaliação neuropsicológica como:
Um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas.
Dessa forma, o objetivo da avaliação clínica na avaliação neuropsicológica não é determinar em que nível se situa um desempenho, mas que estratégia o sujeito utiliza para alcançá-lo (Rodrigues, 2011).
Conforme a Resolução CFP nº 006/2019 (2019, p. 01):
Estabelece regras para a elaboração de documentos escritos por psicólogos. A resolução foi publicada no Diário Oficial da União em 1º de abril de 2019 e entrou em vigor 90 dias após a data de publicação. Entre os documentos previstos na Resolução CFP nº 006/2019 estão: Declaração, Atestado, Relatório Psicológico, Relatório Multiprofissional, Laudo Psicológico, Parecer Psicológico.
Assim, percebe-se que os resultados das avaliações psicológicas têm grande impacto para as pessoas, para os grupos e para a sociedade.
É competência do psicólogo fazer um planejamento e realizar o processo avaliativo baseado nos aspectos técnicos e teóricos. A escolha do número de sessões para a sua realização, das questões a serem respondidas, bem como de quais instrumentos/técnicas de avaliação devem ser utilizados será baseada nos seguintes elementos segundo Conselho Federal de Psicologia (2024, p. 01):
- Contexto no qual a avaliação psicológica se insere;
- Propósitos da avaliação psicológica;
- Construtos psicológicos a serem investigados;
- Adequação das características dos instrumentos/técnicas aos indivíduos avaliados;
- Condições técnicas, metodológicas e operacionais do instrumento de avaliação.
O psicólogo deve fazer uma análise crítica dos resultados obtidos na avaliação, verificando se realmente essa avaliação trouxe elementos seguros e suficientes para a tomada de decisão nos vários contextos de atuação do psicólogo.
Considerando o contexto apresentado, os psicólogos utilizam a avaliação como ferramenta para obter informações que os auxiliem a responder perguntas sobre a mente e o comportamento das pessoas. Dada a natureza complexa e multifacetada do comportamento humano, que é influenciado por uma intrincada rede de fatores interconectados, é praticamente impossível prever com precisão todas as nuances e determinantes do agir humano
Conforme a ética profissional é importante que a(o) psicóloga(o) mantenha-se atenta(o) aos seguintes princípios de acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2024, p.01):
- Contínuo aprimoramento profissional visando ao domínio dos instrumentos de avaliação neuropsicológica;
- Utilização, no contexto profissional, apenas dos testes psicológicos com parecer favorável do CFP que se encontram listados no Satepsi;
- Emprego de instrumentos de Avaliação Psicológica para os quais a(o) profissional esteja qualificada(o);
- Realização da Avaliação Psicológica em condições ambientais adequadas, de modo a assegurar a qualidade e o sigilo das informações obtidas; • Guarda dos documentos de Avaliação Psicológica em arquivos seguros e de acesso controlado;
- Disponibilização das informações da Avaliação Psicológica apenas àqueles(as) com o direito de conhecê-las;
- Proteção da integridade dos testes, não os comercializando, publicando ou ensinando àqueles(as) que não são psicólogos(as).
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2024) a Resolução CFP Nº 06/2019, apresenta normas para elaborar documentos escritos produzidos pela(o) psicóloga(o) no exercício profissional, que descreve detalhadamente o que precisa constar nas modalidades de documentos como: “declaração, atestado psicológico, relatório psicológico, relatório multiprofissional, laudo psicológico e parecer psicológico”.
Observa-se que a devolutiva da entrevista é obrigatória e é o momento em que o profissional de Psicologia apresenta os resultados de uma avaliação neuropsicológica e seu parecer. É uma etapa importante da avaliação, pois é quando os resultados são passados para os responsáveis de maneira simples e clara, e são explanadas sugestões para melhorar as questões identificadas na avaliação do paciente. Para que a devolutiva seja eficaz, o psicólogo deve: explicar cada ponto do laudo de modo detalhado, relatar o que foi observado durante o processo de avaliação, conceituar cada função cognitiva, exemplificar (Conselho Federal de Psicologia, 2024).
Percebe-se que as avaliações têm uma restrição sobre o que é possível entender e prever. Todavia, avaliações focadas em métodos cientificamente comprovados chegam a soluções das questões emocionais muito mais confiáveis que opiniões sem conhecimentos especializados no assunto.
3. CONCLUSÃO
Com este estudo foi possível verificar que os aspectos psicológicos do TAG na infância e adolescência é uma área de crescente interesse na psicologia do desenvolvimento na atualidade. Observou-se a importância de conhecer as manifestações clínicas do TAG em seu início lento e insidioso, perceber o desenvolvimento com a idade e a dificuldade em precisar os seus indicativos sintomáticos, o que reforça a importância da identificação precoce do transtorno, do tratamento efetivo e de fácil acesso com a finalidade de evitar repercussões em longo prazo e, possivelmente, a incidência de problemas psiquiátricos na fase adulta.
A psicologia do desenvolvimento vem possibilitando maior conhecimento acerca das habilidades cognitivas e de suas transformações ao longo da infância e da adolescência. As disfunções psicológicas em ambas as fases da vida são resultantes de diversas variáveis de natureza neurobiológica e ambiental, como as associadas à maturação cerebral, ao uso de estratégias cognitivas, ao ensino formal e à cultura, às características da reorganização cerebral e por isso apresentam características muito mais heterogêneas do que homogêneas.
Conclui-se que a avaliação neuropsicológica de crianças e adolescentes é imprescindível na identificação de diversos diagnósticos de transtornos do neurodesenvolvimento. Além disso, possui peculiaridades que a diferenciam da avaliação de adultos. Cabe ao psicólogo estabelecer o perfil do déficit e sua extensão funcional, bem como as habilidades preservadas. E no que tange aos resultados, estes precisam ser analisados com a devida cautela, considerando-se os aspectos multifatoriais dos quadros clínicos.
Por fim, observou-se que a avaliação neuropsicológica tem uma área de atuação bem explorada no Brasil e por isso cabe destacar a importância científica de propor estudos aprofundados nessa área com a finalidade de contribuir no entendimento dos processos cognitivos, seus correlatos neurológicos e psiquiátricos, caracterizando melhor esse perfil. Portanto, fica evidente no presente trabalho, a necessidade de produzir mais conhecimentos específicos sobre os aspectos psicológicos do TAG na Infância e Adolescência.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1Discente em Psicologia, Centro Universitário UniRedentor/Afya, Itaperuna/RJ
2Docente em Psicologia, Centro Universitário UniRedentor/Afya, Itaperuna/RJ
aletozatto@gmail.com