REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10684406
Rebecca Abrantes Caetano De Almeida Braga1
Taís Feitosa da Silva2
Letícia Borburema De Oliveira3
Amanda Nobrega de Barros Gomes4
Maria Eduarda Cavalcante Félix5
Natália Maria Mesquita de Lima Quirino6
RESUMO
A prática esportiva na infância intensifica aspectos importantes como o desenvolvimento psicossocial e motor, uma vez que possibilita uma melhor qualidade de vida, transformando o estilo de vida do praticante para melhor. Entre os diversos esportes, está a natação, tem importância no desenvolvimento motor, psicomotor e socio afetivo das crianças e é bastante praticado nesta fase da vida. Por isso, essa temática vem sendo discutida e necessita de estudos que aprofundem os conhecimentos científicos existes atualmente. O presente trabalho tem como objetivo analisar a relação entre o desenvolvimento motor, por meio dos componentes da coordenação motora, e a qualidade de vida de crianças praticantes de natação. Para isso, participaram da pesquisa 14 crianças, praticantes de natação, por no mínimo, 6 meses, com idade entre 7 e 10 anos (72% meninas). Foi utilizado o Körperkoordination test für kinder (KTK), que avalia a coordenação motora geral e o questionário KIDSCREEN- 27, que avalia qualidade de vidapor meio de entrevista face a face. Os resultados foram organizados com a criação de categorias para os testes de coordenação motora geral realizados, que foram considerados grupos (baixo desempenho e alto desempenho), em seguida foi realizado o Teste T Independente para comparação entre os grupos. Em seguida, foi realizado o calculo do delta para cada domínio da qualidade de vida, entre os grupos.Quanto aos resultados, houve diferenças em percentual entre os domínios, de forma positiva, para o salto monopedal com 9,4% e, negativo, para suporte social e grupo de pares com -8,5%; já no salto lateral o percentual de domínio positivo 11,81% e, negativo, para suporte social e grupo de pares com -4,94%. Conclui-se que crianças praticantes de natação, que possuem menor e maior desempenho motor se relacionam de forma distintas com a qualidade de vida.
Palavras–chave: Habilidades Motoras; Nadar; Qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
A prática esportiva na infância intensifica aspectos importantes do crescimento, como o desenvolvimento psicossocial, psicomotor, condicionamento físico e cardiorrespiratório, melhorando a saúde e auxiliando o tratamento de doenças crônicas como asma e diabetes¹.
A qualidade de vida abrange muitos significados que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades em épocas, espaços e histórias diferentes, como uma construção social com a marca da relatividade cultural, sem permitir qualquer tipo de discriminação2.
Diante deste contexto e observando a atividade de natação, considera-se que sua realização tem importância no desenvolvimento motor, psicomotor e socio afetivo das crianças³. Assim, possibilitando diversos benefícios físicos, orgânicos, recreativos, sociais e terapêuticos4. A natação também proporciona a coordenação de membros superiores e inferiores, agilidade, equilíbrio, lateralidade e da orientação espacial5.
A coordenação motora é a capacidade de assegurar uma adequada combinação de movimentos que se desenvolvem ao mesmo tempo ou em sucessão, como por exemplo corrida e salto com os movimentos de membros superiores e inferiores6.
Na Educação física, a qualidade de vida envolve o oferecimento de melhores condições de vida por meio do exercício físico e da prática esportiva, transformando o estilo no qual as crianças vivem. Existe grande aceitação social e alto potencial de intervenção quando falamos de prática esportiva. Por esse motivo, tais intervenções podem ser direcionadas para a melhoria da qualidade de vida e do estilo de vida8.
Observa-se que os estudos sobre desenvolvimento motor de crianças, em sua maioria, são específicos ao aspecto motor e poucos se relacionam com a qualidade de vida na infância. Assim, estudos que objetivam compreender a relação do desenvolvimento motor e aspectos da qualidade de vida relacionado ao esporte são importantes, uma vez que o desenvolvimento motor pode sofrer alterações por fatores intrínsecos e extrínsecos ao longo do tempo, e os estudos relatam que a natação contribui com o desenvolvimento motor, assim como contribui para a qualidade de vida de crianças9. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a coordenação motora e a qualidade de vida de crianças praticantes de natação.
MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da Pesquisa
Esse estudo adotou a metodologia do estudo transversal, com abordagem quantitativa (dados obtidos para avaliar hipóteses) e do tipo descritivo correlacional10. Esse delineamento foi desenvolvido para analisar a correlação entre a avaliação motora e a qualidade de vida, em que obtivemos os dados analisando as crianças praticantes de natação, por meio da avaliação motora e qualidade de vida.
Participantes
Participaram do estudo 14 crianças praticantes de natação, residentes na cidade de João Pessoa – PB, cuja anuência foi concedida, por meio de protocolo de autorização (ANEXO A). O convite para a participação nesse estudo foi, primeiramente, direcionado às crianças, explicado os requisitos necessários, e, logo em seguida, sendo direcionado aos pais, a quem foi concedida uma explicação detalhada sobre o estudo e sua metodologia, prosseguindo com a entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do Termo de assentimento livre e esclarecido (TALE).
Quanto ao critério de recorte para a pesquisa, escolheu-se o público de crianças que: a) com idade entre 7 e 10 anos; b) praticantes de natação por no mínimo 6 meses; c) regularmente matriculados na escola d) estivessem com os termos TCLE e TALE assinados. Foram excluídas: a) as crianças que não completaram qualquer uma das etapas; b) que não compareceram no dia da coleta ou as que se recusaram a participarem no dia da coleta.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética das Faculdades Nova Esperança (CAAE: 64482222.1.0000.5179), conforme orienta a Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os participantes e seus responsáveis assinaram os respectivos termos presencialmente, atestando participação voluntária.
Instrumentos e procedimentos de coletas de dados
A avaliação da coordenação motora foi realizada a partir das provas de salto monopedal e salto lateral do Körperkoordination Test fürKinder KTK ,que consiste em uma bateria composta por quatro provas, utilizando as mesmas tarefas de coordenação para várias idades, no entanto, possuem dificuldades acrescidas conforme aumente a idade indivíduos. Neste estudo, foram usados dois testes da bateria, sendo estes: salto monopedal e salto lateral.
O teste para o salto monopedal consiste em saltar placas de espuma, de forma crescente, ultrapassando cada placa, com apenas um dos pés e aterrissando com o mesmo pé. São três tentativas em cada placa a mais ou a menos. Em cada placa e a cada tentativa, há uma pontuação fornecida que, ao final, totaliza um somatório. Caso a criança obtenha êxito acrescenta-se uma placa a mais, caso não, retira-se uma placa.
O teste do salto lateral é formado por um retângulo no chão dividido ao meio, no qual as crianças devem saltar com os pés juntos de um lado para o outro, não podendo encostar na linha durante o tempo estimado. São duas tentativas de 15 segundos, com 10 segundos de descanso entre cada tentativa. Ao final, são somados e analisados os valores válidos das duas tentativas.
Além dos dois testes, um questionário por meio de entrevista face a face foi utilizado para requerer as informações sobre idade (anos), estatura (cm), massa corporal (quilogramas). Já a qualidade de vida foi avaliada por meio do instrumento traduzido e validado para o português, por meio do KidScreen-27 – qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) na versão reduzida de 27 itens 11 e envolviam: Perguntas baseadas no que as crianças sentiram durante a semana anterior da entrevista. Perguntas sobre atividade física e saúde (Como está a saúde; Consegue correr bem); Saúde (Sua vida tem sido agradável; você tem se divertido); Humor em geral (Você tem se sentido triste; Você tem se sentido sozinho); Sobre você (Você tem tido tempo suficiente para você mesmo); Família e vida em casa (Seus pais têm tempo suficiente pra você); Dinheiro (Você tem dinheiro suficiente para fazer as mesmas coisas que seus amigos); Amigos (Você se diverte com seus amigos); Escola e aprendizagem (Você está indo bem na escola). Outras das perguntas que estiveram na entrevista, possuíam como opções de resposta: nunca, pouco/raramente, algumas vezes/ moderadamente, frequentemente/muito, sempre/totalmente. Todos os itens são pontuados em uma escala Likert de cinco pontos, variando de 1=nunca a 5=sempre ou de 1=nada a 5=extremamente. O KidScreen-27 é um instrumento válido e confiável para a medida da QVRS12.
Análise estatística
O cálculo dos escores foi baseado na estatística descritiva dos instrumentos KIDSCREEN utilizando o Microsoft Excel13 e apresentados com média e desvio padrão da média, baseados no método de reamostragem. Foram criadas duas categorias, sendo no salto monopedal, menor ou igual a 52 pulos, considerado baixo desempenho e acima ou igual a 53, consideração alto desempenho; No salto lateral, menor ou igual a 48 pulos, considerado baixo desempenho e maior ou igual a 49 pulos, alto desempenho. A comparação entre os domínios da QVRS e o desempenho do salto lateral e monopedal foram calculados por meio do delta da diferença entre os grupos e teste T-independente para comparar as médias entre os grupos. A análise estatística foi realizada com o programa IBM Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 25.0 (IBM Corp., Armonk, EUA). A significância adotada foi de P<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fizeram parte do estudo 14 crianças, com média de idade (anos) 8 (1,09), estatura (cm) 1,38 (0,41) e peso corporal (kg) 41 (11,80). Como limitações deste estudo estão o tamanho da amostra e a não realização da bateria completa dos testes motores.
Em relação aos escores dos domínios da qualidade de vida entre os grupos (desempenho motor alto e baixo) no salto monopedal, não foram observadas diferenças significantes (TABELA 2). Observou-se que a média com alto desempenho é maior no ambiente escolar (100), já a média menor do grupo com baixo desempenho é a do domínio de autonomia e relação com os pais (84,4).
TABELA 2. Comparação dos escores da Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) entre baixo e alto desempenho motor no teste de salto monopodal.
Domínio da QVRS | Baixo desempenho (n= 7) | Alto desempenho (n= 7) | Δ% | Valor-P |
Saúde e Bem-estar Físico | 88,8 (13,6) | 93,3 (8,8) | 5,1 | 0,486 |
Bem-estar Psicológico | 85,7 (10,3) | 87,5 (18,5) | 2,1 | 0,821 |
Autonomia e Relação com os pais | 84,4 (10,9) | 90,5 (8,9) | 7,2 | 0,288 |
Suporte Social e Grupo de pares | 92,2 (13,7) | 84,4 (10,3) | -8,5 | 0,265 |
Ambiente Escolar | 91,4 (11) | 100 | 9,4 | 0,064 |
Total | 88,5 (9,3) | 91,1 (6,1) | 2,94 | 0,556 |
Escores apresentados por média (DP) baseados no método de reamostragem. Baixo desempenho ≤ 52 acertos. Alto desempenho ≥ 53 acertos. Δ%, diferença percentual entre os grupos: ((Alto−Baixo)/Baixo)*100).
Na tabela 2, observou-se ainda que para o domínio do ambiente escolar a diferença percentual entre os grupos de maior e menor desempenho foi mais expressiva (9,4%) ambiente escolar.
O produto do desenvolvimento motor está relacionado com as experiências e vivências individuais de cada criança. Quanto maior o número de experiências motoras de qualidade, maior será o desempenho nas tarefas motoras realizadas por elas14. A análise de correlação apontou que, quanto maior o desempenho no salto monopedal, maior os escores do componente (domínio) Saúde e Bem-estar Físico (r = 0,595; P<0,05).
Na tabela 3 estão apresentados os resultados da comparação dos escores dos domínios da qualidade de vida com os grupos (desempenho motor alto e baixo) do salto lateral, não tendo apresentado diferença significante. Observou-se que a média com alto desempenho é maior no ambiente escolar (100), já a média com baixo desempenho é a de autonomia e relação com os pais (82,1).
TABELA 3. Comparação dos escores da Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS) entre baixo e alto desempenho motor no teste de salto lateral.
Domínio da QVRS | Baixo desempenho (n= 7) | Alto desempenho (n= 7) | Δ% | Valor-P |
Saúde e Bem-estar Físico | 87,8 (14,3) | 93,6 (8,0) | 6,6 | 0,377 |
Bem-estar Psicológico | 84,7 (10,7) | 88,3 (16,9) | 4,25 | 0,646 |
Autonomia e Relação com os pais | 82,1 (9,7) | 91,8 (8,9) | 11,81 | 0,075 |
Suporte Social e Grupo de pares | 91,1 (14,4) | 86,6 (11,1) | -4,94 | 0,527 |
Ambiente Escolar | 90,2 (11,3) | 100 | 10,9 | 0,062 |
Total | 87,2 (9,2) | 92,1 (6,1) | 5,6 | 0,265 |
Escores apresentados por média (DP) baseados no método de reamostragem. Baixo desempenho ≤ 48 saltos. Alto desempenho ≥ 49 saltos. Δ%, diferença percentual entre os grupos: ((Alto−Baixo)/Baixo)*100).
Observou-se que para o domínio de autonomia e relação com os pais a diferença percentual entre os grupos de maior e menor desempenho foi mais expressiva (11,8) autonomia e relação com os pais.
Embora não tenha havido diferença significante entre os grupos baixo e alto desempenho nos domínios da QVRS no teste KTK, diferentes percentuais foram observados. Tal resultado pode ser explicado por uma possível diferença da influência destes domínios ainda na infância, no qual uns estão mais sensíveis a coordenação motora do que outros.
Um estudo de revisão identificou que a composição corporal e a prática regular de atividades físicas foram as variáveis que apresentaram maior influência no teste KTK15. Considerando fatores antropométricos como importantes para o desenvolvimento motor de crianças, Aguiar e colaboradores (2018) observaram que escolares com excesso de peso tinham 94% de chances de terem dificuldade na tarefa de equilíbrio e na tarefa salto monopedal foi encontrada associação com o Índice de Massa Corporal (IMC) 16.
CONCLUSÃO
Conforme os resultados, conclui-se que crianças que possuem menor e maior desempenho motor podem estar relacionadas de forma distintas com a qualidade de vida.
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1Faculdade De Enfermagem Nova Esperança
2 Autora correpondente – Universidade Estadual da Paraíba
3Universidade Estadual da Paraíba
4,6Universidade Federal da Paraíba
5Escola Cidade Integral Estadual Médio Professora Maria José Costa Albuquerque – Secretaria de Estado da Educação da Paraíba