REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th10247022209
Dailys P.Bergesch¹
Charles Rech²
Lidiane I. Filippin³
RESUMO
INTRODUÇÃO: A Bandagem Elástica Adesiva é um recurso terapêutico difundido no mundo desde a década de 70 pelo quiropraxista Kenzo Case, o qual propõe distintas tensões e colocações para o tratamento de afecções mioarticulares, funcionais, circulatórias e linfáticas. As tensões utilizadas pelos profissionais são aplicadas de forma subjetiva e, as grandezas físicas (plasticidade, força, tensão, deformação, resiliência e elasticidade) as quais podem interferir no resultado do tratamento ainda são pouco conhecidas. OBJETIVO: testar o comportamento elástico mecânico da Bandagem Elástica Adesiva. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo experimental realizado por três ensaios distintos verificando a deformação instantânea com medição logo após aplicação da carga; deformação ao longo do tempo com carga constante; deformação constante ao longo do tempo. RESULTADOS: O resultado do primeiro ensaio mostrou que a pretensão imposta por ser colada no papel não corresponde a 10% como descrito na literatura. Pode-se ainda observar que inicialmente há uma deformação elástica e depois com acréscimo a carga, passa a atuar em uma zona quase rígida. A deformação ao longo do tempo com carga constante mostrou maior deformação nos primeiros trinta minutos e depois se mantem com variação tendendo a zero. Finalmente, no ensaio de deformação constante ao longo do tempo, revela que as bandagens mantêm sua elasticidade por longo tempo, não tendo a necessidade de serem trocadas com frequência. CONCLUSÃO: As propriedades mecânicas das bandagens são diferentes dependendo do tipo e modelo e podem alterar os resultados clínicos, uma vez que eles são baseados nas tensões.
INTRODUÇÃO
A bandagem terapêutica, conhecida como elástico cinesiológico devido sua elasticidade no sentido longitudinal, atinge um aumento de até 40% do comprimento inicial e, mantém as propriedades de elasticidade, espessura e peso semelhante a pele [1]. Essas características fundamentalmente ocorrem pela composição do material, o qual é composto por finos fios de elastano, o que permite total movimentação articular, muscular e atividades cotidianas [2;3]. O uso da bandagem elástica foi difundido por Kenzo Kase (1973) no Japão, o qual utilizava como suporte após tratamento de disfunções muscular e articulares [4]
Evidências apontam diversas tensões (0 – 50%) e colocações (polvo, Y, X, entre outas) para distintos objetivos terapêuticos [1;4]. Esses, estão concentrados em seis aplicações denominadas correções: mecânica, de fáscia, de espaço, de ligamentos e tendões, funcional, circulatória e linfática [5]. Entretanto, as explicações de como ocorre cada correção não estão totalmente elucidadas, pois as evidências atuais não são unânimes nas respostas fisiológicas apresentadas pelo uso das bandagens, os delineamentos experimentais são diversos e há poucos estudos acerca das propriedades físicas das bandagens [6].
A relação entre a tensão e os efeitos fisiológicos ainda é bastante discutido na literatura. Segundo publicações de Kase et al, quanto maior a tensão maior o efeito mecânico, ou seja, à medida que aumenta a tensão imposta pela bandagem aumenta a compressão do tecido e das articulações promovendo limitações mecânicas [5].. Por outro lado, quanto menor a tensão, maior o efeito sensitivo provocado, pois maior seria a descompressão nas terminações nervosa livres e nos corpúsculos do sistema somatossensorial [4;7].
Entretanto, as grandezas físicas como plasticidade, força, tensão, deformação, resiliência e elasticidade relacionadas as bandagens ainda carecem de maior investigação para confirmar a manutenção da elasticidade e consequentemente a força exercida sobre a pele. Para isso, testes físicos são necessários para descrever o comportamento das bandagens perante as grandezas físicas e supor a manutenção da tensão sobre a pele. Neste estudo três ensaios mecânicos foram delineados para tentar descrever a elasticidade das bandagens: i) deformação instantânea com medição logo após aplicação da carga; ii) deformação ao longo do tempo com carga constante; iii) deformação constante ao longo do tempo. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a elasticidade da bandagem com três métodos distintos.
2 Metodologia
As bandagens utilizadas para avaliação eram novas e os pedaços foram retirados do inicio do rolo em todos os experimentos. Para avaliar a elasticidade nas bandagens foram aplicadas três metodologias distintas, organizadas como segue:
2.1 Procedimento primeiro experimento
Primeiramente foi investigada a deformação sob carga constante instantânea (ilustração 1), ou seja, a cada incremento de carga de 50 gf, foi realizada a medição de estiramento da bandagem. Foram utilizadas bandagens de dez fabricantes distintos todas na cor bege. Inicialmente foi cortada uma amostra com comprimento de referência lref (50 mm) e em seguida retirado o papel, que originalmente mantém a bandagem pré-tensionada, para fazer a medição do comprimento inicial lo. Logo após foram colocados sucessivamente os pesos de 50 gf em 50 gf e foram feitas as medições de estiramento a cada carga aplicada. As medições de deslocamento das bandagens foram realizadas com paquímetro digital Mitutoyo 0,01 mm de resolução e os pesos utilizados foram previamente aferidos com balança digital Marte AD2000 com resolução de 0,01 g.
Ilustração 1: desenho esquemático do experimento I
Os valores medidos foram anotados e analisados graficamente utilizando as Equações (1) e (2) sendo que a Equação (1) representa a deformação percentual relativa (l – lo ) em relação ao estiramento total da bandagem (lmax – lo).
(1)
em que l representa o comprimento real, lo o comprimento inicial, e lmax o estiramento máximo e a Equação (2) representa a deformação percentual relativa (l – lo ) em relação ao comprimento inicial.
(2)
1.2 Procedimento segundo experimento
No segundo ensaio, fez-se uma avaliação da deformação ao longo do tempo e também sob carga constante (ilustração 2). Os experimentos 2 e 3 só foram realizados com a bandagem cor bege com a marca que obteve melhor desempenho no experimento 1. Foram colocadas 5 cargas (50 gf, 100 gf, 150 gf, 500 gf, 1000 gf) e a medição de deformação foi realizada durante 3 dias (no primeiro dia a cada hora, depois em 24 h, 30 h 72 h e 90 h após o início do experimento).
Ilustração 2: desenho esquemático do experimento II
1.3 Procedimento terceiro experimento
Por fim, no terceiro ensaio, foi verificado variação da tensão sob deformação fixa, ou seja, as bandagens foram sujeitas a estiramentos constantes de 20, 30, 40 e 50%, do tamanho inicial e medido a variação da força de contração exercida ao longo do tempo. Para medição de força utilizou-se uma célula de carga, instalada em uma das extremidades do tirante tensionador da bandagem (Ilustração 3), com capacidade máxima de 500 gf, com incerteza de medição relativa de 0,2% F.S, calculada conforme a técnica de propagação de erros proposta por Kleine McKlintock [8] que pode ser encontrada em Beckwith et al [9]. Os dados foram adquiridos e armazenados via computador a partir de uma placa conversora A/D 16 bits com ponte de Wheatstone e software específico. A taxa de aquisição foi de 1 Hz.
Ilustração 3: desenho esquemático do experimento III.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados mensurados com a primeira metodologia de carga constante instantânea, para as diferentes marcas de bandagens estão apresentados nas Figura 1a, 1b e 1c.
Na Figura 1a está representado a variação do comprimento em relação a carga aplicada nas diversas bandagens ensaiadas. Verifica-se que com a retirada da proteção de papel há uma redução do tamanho da amostra que inicialmente era de 50 mm. Logo após, com a aplicação das primeiras cargas as bandagens têm comportamento semelhante e com tendência linear, entre 50 gf e 250 gf. Após estes valores, o comportamento é mais disperso, ainda que mantida a mesma tendência de não ter mais influência totalmente elástica, e sim, estar atuando em uma zona quase rígida do material. A linha contínua representa a tendência média de todas as bandagens analisadas.
Figura 1a – Deformação vs carga aplicada nas diferentes bandagens testadas.
Na Figura 1b está representada a deformação percentual relativa considerando o estiramento total da bandagem (Equação 1). Verifica-se que até a deformação de 40% todas as bandagens têm comportamento similar e atuam na zona elástica do material, ou seja, há uma proporcionalidade entre a tensão aplicada versus deformação, demonstrando a propriedade de resiliência do material. Após este valor, as bandagens ficam menos elásticas, mas com tendências bem aproximadas. A linha contínua representa a tendência média de todas bandagens analisadas.
Figura 1b – Tensão vs deformação percentual relativa em relação ao estiramento total
Na Figura 1c está representada a deformação percentual relativa considerando o comprimento inicial (Equação 2). Para este resultado é possível verificar que a linearidade acontece para valores mais baixos de percentual de deformação, em torno de 30%, pois é avaliada em relação ao comprimento inicial. Contudo, trata-se de uma avaliação meramente qualitativa visto que é fortemente dependente do valor inicial e não retrata a deformação total. A linha contínua representa a tendência média de todas bandagens analisadas.
Figura 1c – Tensão vs deformação percentual relativa em relação ao comprimento inicial.
A literatura não é unanime, porém sugere que a bandagem distendem-se de 30 a 60% do seu tamanho, e isto está relacionado a quantidade de elastano colocada na fabricação que varia de 3 a 4%, esta tensão é justificada pela elasticidade da musculatura humana[10-12;4]. Esta distensão de 30 a 60% refere-se ao tamanho cortado pelo usuário, e a partir disso são aplicadas as porcentagens para as correções. Kase et al,[4] define que os termos alongamento e tensão são usados de forma intercambiável para o método Kinesio Taping e têm o mesmo significado.
Assim, o experimento um, mostra a deformação percentual relativa em relação ao comprimento inicial em diferentes marcas. Em todas elas a deformação é bastante similar até 30%. Clinicamente, essa informação é relevante especialmente para os tratamentos que propõe tensões maiores, como os tratamentos mioarticulares (50%-75% de estiramento da bandagem), na qual as bandagens já entrariam atuando em uma zona rígida o que pode influenciar no resultado do tratamento.
Com a segunda metodologia foi avaliado a deformação ao longo do tempo (Figura 2). Primeiramente é cortada a amostra (50 mm) e retirado o papel de proteção da bandagem e observa-se uma contração da mesma devido a pré-carga. Neste ensaio foi observado que para todas as cargas impostas há uma deformação inicial nas bandagens e após mantem-se em um platô com pequena variação em relação ao tempo. Este experimento foi somente realizado com a bandagem padrão-ouro na cor bege, o qual apresentou melhor comportamento no experimento 1. A maior deformação acontece nos primeiros trinta minutos e depois se mantem com variação tendendo a zero. Verifica-se, também, que para cargas de 500 gf e 1000 gf há uma pequena diferença na deformação, pois nesta condição do ensaio a bandagem está fora de sua zona elástica, podendo já ser considerada então as propriedades de bandagem rígida e, não mais bandagem elástica.
Figura 2 – Segundo experimento com teste da deformação ao longo do tempo.
Na terceira metodologia foi analisada também a elasticidade ao longo do tempo, contudo com deformação constante (Figura 3). Primeiramente foram cortadas as amostras com valor de referência de 100 mm e após retirado o papel de proteção. O estiramento relativo aplicado para as 4 amostras foi de 20%, 30%, 40% e 50%. Verificou-se que a grande variação da elasticidade acontece nos trinta primeiros minutos e que após segue uma tendência linear com pouca variação no tempo. Este resultado revela que as bandagens mantêm sua elasticidade por longo tempo, não tendo a necessidade de serem trocadas com frequência.
Figura 3 – Carga (gf) vs. Tempo (dias): diferentes tensões impostas ao longo de vários dias consecutivos.
Neste ensaio é possível observar que as maiores tensões perdem mais elasticidade nos primeiros minutos (30 minutos) e depois tendem a estabilizar. A bandagem que recebeu um estiramento relativo de 50% perdeu aproximadamente 30% de elasticidade considerando a tensão mensurada e a bandagem que recebeu a menor estiramento relativo (20%) perdeu menos de 10% da elasticidade nos primeiros minutos e depois manteve-se em um platô, constatando que quanto maior o estiramento relativo imposto inicialmente, maior será a perda da elasticidade inicial e, consequentemente, menor será a tensão aplicada sobre o tecido. Clinicamente é possível supor que tratamento se desejam maiores tensões iniciais, como por exemplo, tratamento do tecido mioarticulares com sugestão de 50% de distensão [5] que tem uma perda em torno de 30% da tensão imposta nos primeiros trinta minutos. Obviamente que, este estudo, não responde se a manutenção da tensão sob a pele é importante ao longo do tratamento, bem como as implicações clínicas que esta provoca. No entanto, o terapeuta deve ter certeza da perda das propriedades físicas da bandagem na sua prática clínica, tanto para tempo de troca da bandagem, como para a tensão inicial imposta.
Golab et al [6]estudou a tensão-deformação das bandagens e concluiu que nas tensões mais altas as bandagens diferem-se substancialmente. Ainda os autores sugerem que essas tensões diferem ainda mais em tratamentos superiores a 50%, como por exemplo nas técnicas para tendões e ligamentos. Rodriguez et al,[13] avaliou quatro marcas e diferentes cores, objetivando verificar o momento em que a bandagem se rompe quando submetido a tração. Os autores concluíram que diferentes marcam apresentaram comportamentos elásticos diferentes quando submetidos às tensões. Em nosso estudo, no experimento um, foi mostrado que até a deformação de 40% todas as bandagens têm comportamento similar, atuando na zona elástica do material, demonstrando a propriedade de resiliência do material. Após este valor, as bandagens ficam menos elásticas, passam a atuar em uma zona mais rígida, mas não chegam à ruptura.
Recentemente, GROSSO et al [14], analisou três amostras de duas marcas e conclui que não houve um padrão linear da rigidez da bandagem destas duas marcas. Os autores concluem que dentro da zona elástica a relação tensão versus deformação da bandagem elástica funcional apresenta uma progressão exponencial e que há um padrão não linear dos módulos de rigidez das bandagens elásticas, uma vez que sofre variação ao longo da sua deformação elástica. Os autores não fazem correlação com a questão clínica.
Os fabricantes de bandagem não fornecem nenhum estudo ou norma técnica utilizada para fabricação ou sobre o comportamento das bandagens.
Este estudo apresenta algumas limitações. A primeira limitação diz respeito ao fato de que a medição não foi realizada com as bandagens aderidas a pele. Outra limitação foi que o segundo e terceiro experimento foi realizado apenas com a bandagem que obteve melhor desempenho no primeiro experimento e não com todas as marcas. Outra limitação é que não foram realizados os experimentos com bandagens de outras cores que não a da cor bege. Outros ensaios se fazem importantes para ratificar estes resultados.
CONCLUSÃO
Conclui-se que a elasticidade é semelhante e linear nas diferentes marcas analisadas e de mesma cor, nas cargas iniciais, em cargas maiores há diferenças entre as marcas, o que também pode impactar nos resultados clínicos.
No primeiro experimento foi possível verificar que há um comportamento semelhante até a deformação de 40% da elasticidade do material e a partir deste ponto prevalece à perda da elasticidade. Esse achado é relevante especialmente para tratamentos (correções) que sugerem tensões maiores como os mioarticulares (50%-75%).
No experimento dois mostrou que a perda é maior no início do estiramento (primeiros 30 minutos), ou seja, este é o maior “recoill” da bandagem. Após este período a perda é gradual e constante supondo que enquanto permanecer colada, ela estará atuando. Nas colocações com maiores tensões a perda gradual é maior, o que pode sugerir alteração das tensões descritas na literatura considerando a possível perda da tensão dos primeiros 30 minutos. No entanto, após este tempo as bandagens mantêm sua elasticidade por longo tempo. No terceiro experimento, é possível observar que as maiores tensões perdem mais elasticidade nos primeiros minutos (30 minutos) e depois tendem a estabilizar.
Em suma, este estudo mostrou que não há necessidade de trocas frequentes das bandagens como descrito na literatura, mas sim, quando iniciarem o seu descolamento, o que está diretamente relacionado à qualidade e quantidade da cola. Isso também nos leva a conclusão que a partir da variação de um único componente temos elementos suficientes para alterar os resultados clínicos, pois se o algodão, o acrílico adesivo, ou o papel de suporte é mudado, isso automaticamente altera as propriedades da fita. Cabe ao terapeuta examinar a Bandagem Elástica Adesiva que irá trabalhar minuciosa e criticamente, uma vez que sua qualidade será fundamental para o sucesso da terapia e o conforto do paciente.
REFERÊNCIAS
[1] SIJMONSMA, J. TapingNeuro Muscular Bandas Neuromusculares Manual 1ªEdição. Portugal: Aneid Press, 2007.
[2] KEIL, A. Bandagem terapêutica no Esporte e na Reabilitação. 1ªEdição. São Paulo: Manole, 2014.
[3] PERRIN, D H. Bandagens Funcionais e Órteses Esportivas. 3ª Edição. Porto Alegre: Editora Ateneu, 2012.
[4] KASE, K; WALLIS, J; KASE, T. Clinical Therapeutic Applications of the Kinesio Taping Method. 3ªEdition. Albuquerque.Kinesio. IP, 2013.
[5] LEMOS, T. V; SANTOS, G. P. Raciocínio Clínico em Bandagens Terapêuticas. 1ª Edição, São Paulo: Ed.Andreoli, 2018.
[7] MORINI JR, N. Bandagem Terapêutica: Conceito de Estimulação Tegumentar. 2ª Ed.. São Paulo: Rocca, 2016.
[8] KLEINE S. J; F. MCCLINTOCK . A. Describing uncertainties in single-
sample experiments”.Mech. Engr. 75:3-8, 1953
[9] BECKWITH T. G, MARANGONI R. D., J. H., Leinhard, Mechanical Measurements, 5ª edição.1993
[10] KASE, K; STOCKHEIMER, K. R.; PILLER, N. Lymphoedema and Cronic Swelling. 1ªEdition, US: Kinesio USA, 2006.
[11] AGUIRRE, T. Kinesiology Taping Teoría y Práctica. 1ªEdição. Espanha: OrvyImpresión Gráfica SL, 2010
[12] KUMBRINK, B; KTaping a Ilustrated Guide. 1ª Edição. Springer, 2012.
[13]GROSSO, C. et al. Determinação da rigidez da bandagem elástica funcional. http://fisiosale.com.br/tcc/2017/caroline_ingridy.pdf acessado e, 05.03.2019