AVALIAÇÃO DOS BIOESTIMULADORES DE COLÁGENO NO REJUVENESCIMENTO FACIAL

EVALUATION OF COLLAGEN BIOSTIMULATORS IN FACIAL REJUVENATION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10171872


Creuzeni Ribeiro de Oliveira1
 Janete Ferreira Andrade1
Soraia Lopes Lima2


Resumo

O colágeno, uma proteína crucial para a sustentação da pele, é naturalmente perdido com o envelhecimento, levando a sinais visíveis de envelhecimento facial. Os bioestimuladores de colágeno surgem como alternativas eficazes para estimular a produção de colágeno do próprio organismo, promovendo rejuvenescimento facial. Neste estudo, realizou-se uma revisão sistemática de artigos publicados entre 2008 e 2023, abordando os principais bioestimuladores: ácido polilático, hidroxiapatita de cálcio e policaprolactona. Foram analisados 15 artigos selecionados de diferentes bases de dados, destacando os resultados e durabilidade desses bioestimuladores. Observou-se que o ácido polilático restaura delicadamente o volume facial com efeitos duradouros por pelo menos 2 anos. A hidroxiapatita de cálcio apresenta eficácia em tecidos moles, especialmente na região média da face, normalmente tem efeitos de 12 a 18 meses, podendo em alguns casos durar até 24 meses. Já a policaprolactona oferece alta eficácia e segurança, com duração de até 4 anos. Além disso, discutiu-se a combinação desses bioestimuladores com outras técnicas, como fios de sustentação e toxina botulínica, mostrando resultados estéticos positivos. Este estudo destaca a importância da pesquisa contínua para a evolução dessas técnicas, proporcionando satisfação aos pacientes em busca de procedimentos estéticos não cirúrgicos.

Palavras-chave: Estética facial. Procedimento estético. Ácido polilático. Hidroxiapatita de cálcio. Policaprolactona.

INTRODUÇÃO

As marcas da idade são resposta de um processo natural e fisiológico inevitável proporcionado pela diminuição da produção e renovação de colágeno e elastina da pele, que leva a perda de elasticidade, firmeza e tônus muscular. Tecnicamente, o envelhecimento é um processo biológico constante causado por fatores intrínsecos ou extrínsecos ocasionado por alterações bioquímicas e estruturais das fibras de colágeno, reduzindo sua síntese e aumentando a degradação, como consequência ocorre alteração do volume facial, perda de elasticidade, rítides, sulcos e marcas de expressões (HADDAD et al., 2017; VASCONCELOS et al., 2020). 

A harmonização facial é o nome dado a procedimentos estéticos voltados ao rejuvenescimento da face para promoção do equilíbrio simétrico facial. Para isso, além do uso de preenchedores dérmicos para aumento de volume e restauração de contornos, os bioestimuladores de colágeno também são frequentemente utilizados e garantem segurança, eficácia e maior duração de ação (AVELAR & REIS & CURY-VIANA, 2022; GOLDBERG et al., 2013).

Os três tipos de bioestimuladores de colágeno mais utilizados são: ácido polilático, hidroxiapatita de cálcio e policaprolactona. Todos são biocompatíveis, absorvíveis, não tóxicos e não irritantes com diferentes princípios ativos que irão desencadear a produção de colágeno (SANTOS, 2021).

Considerando a busca pelo rejuvenescimento e a demanda contínua por soluções inovadoras para este, é relevante a condução de estudos para a compreensão de seus mecanismos de ação e seus efeitos à estética (BASS et al., 2010; SANT’ANNA et al., 2021). Desta forma, a partir de uma revisão sistemática, o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito e a durabilidade dos principais bioestimuladores de colágeno utilizados e associados a outros procedimentos para o rejuvenescimento facial.

METODOLOGIA 

O presente trabalho trata-se de uma revisão sistemática e análise de artigos publicados entre os anos 2008 e 2023 nos idiomas português e inglês. A busca foi feita nas bases de dados eletrônicos BVS (Portal de Revistas Científicas em Ciências e Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online), PubMed (NLM – National Library of Medicine), MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) e Google acadêmico.

Para conduzir a busca de artigos, foram utilizadas as palavras-chave: “bioestimuladores de colágeno”, “bioestimulador de colágeno facial”, “bioestimulador de colágeno na face” e “face collagen biostimulator”, que proporcionou uma abordagem abrangente e substancial para investigação do tema proposto.

A coleta de dados foi realizada através da leitura minuciosa e subsequente inclusão dos trabalhos acadêmicos relevantes em uma tabela Excel®, nos quais foram exploradas as possíveis correlações ou discordâncias entre os autores para elucidação dos objetivos. 

1 RESULTADOS 

Considerando os critérios de busca, foi feito o levantamento de 30 artigos de acordo com os critérios de inclusão, sendo apenas 14 inseridos no presente trabalho (Tabela 1).

De acordo com a pesquisa, os principais bioestimuladores de colágeno utilizados são o ácido polilático (PLLA), a hidroxiapatita de cálcio (CaHA) e a policaprolactona (PCL). Dos artigos encontrados, 7 discutiram sobre a PLLA, 10 sobre a CaHA e 6 sobre PCL. Estes são classificados como preenchedores semipermanentes, promovendo formação de um novo colágeno pelos fibroblastos e proporcionam diferentes resultados, a depender da área de aplicação na face (NARINS, 2008; MELO et al., 2017; LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021).

Os bioestimuladores apresentam duração média no corpo humano entre 18 meses e 4 anos, variando de acordo ao organismo e princípio ativo (MELO et al., 2017; LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021). O bioestímulo de colágeno ocorre através de uma reação inflamatória subclínica, promovendo o encapsulamento das partículas do produto inserido e resultando em fibroplasia. Com isso, o colágeno é produzido de forma intencional (VLEGGAAR, 2005). A representação da reação de um corpo estranho a um biomaterial pode ser observada no esquema da figura 1.

Segundo os dados, o PLLA estimula principalmente a restauração do volume da face a partir da resposta inflamatória desencadeada pelo ativo (NARINS, 2008; FREITAS, 2021). A CaHA apresenta resultados positivos em tecidos moles, principalmente na região média da face em restauração do volume perdido com o envelhecimento (LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021). Quanto ao PCL alta eficácia e segurança em tratamentos de preenchimento facial, promovendo processos de estimulação do colágeno são observados (MORHENN & LEMPERLE & GALLO, 2002; LAESCHKE, 2004). 

As principais publicações, com informações adicionais sobre os bioestimuladores de colágeno para o rosto são apresentadas na Tabela 2, nos quais resume os desfechos encontrados pelos autores e publicações de cada ano. Essa compilação oferece uma visão concisa das pesquisas recentes, destacando tendências e avanços no rejuvenescimento facial.

Em relação a durabilidade do efeito rejuvenescedor dos principais bioestimuladores de colágeno na estética facial, esta pode variar entre 12 meses a 4 anos de acordo com o princípio ativo utilizado (Tabela 3) (NARINS, 2008; LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021). O princípio ativo PLLA apresenta efeito duradouro com registros de no mínimo 2 anos no corpo humano, o PCL pode durar de 1 a 4 anos e o CaHA de 12 a 24 meses.

De acordo com os dados encontrados, foi notada frequentemente a associação de bioestimuladores de colágeno a outros materiais e tratamentos na estética facial, bem como os fios de PDO (fios de polidioxanona), toxina botulínica, aplicação de LED, laser, matriz polidensificada coesiva e ácido hialurônico.

Ficou evidenciada a utilização de fios de suspensão bioabsorvíveis associada a aplicação de CaHA para promover uma redução do tempo de execução do procedimento e recuperação da perda de volume do paciente, entretanto é necessário a condução de mais estudos para avaliar sua durabilidade (CHAO et al., 2017).

Além disso, também tem sido relatado o ganho estético e funcional quando a CaHA tem sido associada a outros tratamentos como a toxina botulínica, aplicação de LED, laser e ácido hialurônico, podendo ser realizados na sequência desejada e com garantia de segurança e eficácia dos agentes injetados no organismo (FABI et al., 2017; MELO et al., 2020;  DESTRI & COUTINHO, 2021) 

2 DISCUSSÃO 

O principal mecanismo de ação dos bioestimuladores de colágeno está relacionado à resposta inflamatória à derme, o que ativa os fibroblastos, desencadeando um processo inflamatório afim de produzir colágeno. Sendo possível substituir o suporte estrutural do paciente a partir desses bioestimuladores, melhorando também a flacidez facial (AVELAR & REIS & CURY-VIANA, 2022; GOLDBERG et al., 2013; SIQUEIRA, 2022).

Considerando os dados encontrados, o ácido polilático, o PLLA (Sculptra® ou New-Fill®) é um dos princípios ativos mais utilizados nos bioestimuladores de colágeno (FREITAS, 2021). O PLLA tem como objetivo principal restaurar o volume da face e não tratar linhas e dobras específicas, ou seja, reduz as deformidades do contorno facial de maneira delicada. Segundo  Moyle et al. (2004), o uso de PLLA através de injeções bilaterais garantiu aumentos de 4 a 6 mm na espessura dérmica das bochechas de pacientes com idade média de 41 anos e 30 pacientes). 

Considerando a eficácia do uso de PLLA para o rejuvenescimento e estímulo de colágeno, recentemente Freitas et al. (2021) ainda confirmou os baixos riscos de efeitos adversos deste ao realizar uma análise de materiais bibliográficos relevantes sobre os preenchedores cutâneos com capacidade bioestimulador.

A hidroxiapatita de cálcio (CaHA) foi considerada uma substância altamente eficiente em tratar tecidos moles, principalmente na região média da face para restaurar o volume perdido com o envelhecimento (LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021). Um estudo realizado por Yutskovskaya & Kogan & Leshunov (2014), em um grupo de 24 mulheres tratadas com dose única de CaHA e através de biópsias em quatro e nove meses depois da aplicação, apresentou evidências de remodelação tecidual bastante ativa. Vale evidenciar que a superfície das micropartículas componentes da CaHA é lisa, o que reduz a resposta inflamatória no organismo e garante excelentes resultados (YUTSKOVSKAYA & KOGAN & LESHUNOV, 2014).

Durante a presente a revisão, os autores consideraram a policaprolactona (PCL) (Ellansé®) como um bioestimulador de colágeno com maior durabilidade no corpo humano, cujo tempo de ação pode chegar até 4 anos no qual apresenta resultado imediato, sendo absorvido dentro das primeiras 6 a 8 semanas (LIN & CHRISTEN, 2020; MELO et al., 2017; REINKE & ZORG, 2012; GRITZALAS, 2011). Além disso, é reportado a eficácia e segurança na correção de pregas nasolabiais e aumento da testa, sem relato de complicação grave (FREITAS, 2021).

Considerando os dados obtidos por Morhenn & Lemperle & Gallo (2002) e Laeschke (2004), quando o PCL foi utilizado em preenchimento dérmico, este ainda demonstrou alta eficácia e segurança. Isso ocorre devido a estrutura química da base do PCL oferecendo suavidade, fundamental para o enchimento, combinada do tamanho apropriado da microesfera, impedindo a sua fagocitose. Logo após o preenchimento é iniciada a estimulação da resposta natural do corpo humano com consequentes processos de cura natural e estimulação de colágeno.

A durabilidade do ácido polilático principalmente no tratamento da lipoatrofia facial e cicatrizes, apresenta efeitos duradouros, já observados em estudos clínicos, no mínimo 2 anos (NARINS, 2008; LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021). O CaHA é classificado como um preenchedor semipermanente com duração média de 12 a 18 meses, sendo já observado em alguns pacientes com 24 meses (Tabela 3). Essa durabilidade dependente principalmente da idade, movimento dinâmico da área injetada e o próprio metabolismo do paciente (LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021). 

Considerando o impacto do uso dos bioestimuladores de colágeno na harmonização facial, fica evidente que o CaHA é capaz de estimular a formação de colágeno e elastina, aumentando o grau de elasticidade da pele o que proporciona melhor suporte para uso de preenchedores e fios de sustentação (OLIVEIRA et al., 2021). Em relação a PCL, possui a capacidade de reparar áreas que necessitam de volume e preenchimento, sendo não necessária sua associação imediata ao ácido hialurônico (FREITAS, 2021; LIMA & SOARES, 2020). Enquanto isso, o PLLA tem impacto positivo na reestruturação do volume da face e não às linhas e dobras específicas, ou seja, reduzir as deformidades do contorno facial de maneira delicada preenchimento (NARINS, 2008; LIMA & SOARES, 2020; FREITAS, 2021).

Diante da proposta de associação de outros tratamentos junto aos bioestimuladores de colágeno, podemos citar o uso de fios de PDO, que tem como principal contradição a durabilidade do efeito baixa, bem como o deslocamento superficial dos fios; eritema transitório; presença de infecção e ondulações na pele; e rigidez facial temporária em poucos casos (SILVA & SOUZA & SOUZA, 2022). Entretanto, o grau de satisfação dos pacientes submetidos a ambos os procedimentos associados é elevado (CHAO et al., 2017).

É possível a utilização de fios de suspensão bioabsorvíveis associados a aplicação de CaHA, sendo necessário aguardar o tecido cicatrizar, para que o fio ao redor seja absorvido e com a fibrose resultante garantir um efeito duradouro de fixação. Para tratar a deficiência de volume da bochecha do paciente foi utilizado o bioestimulador de colágeno à base de CaHA, reduzindo a perda de volume. É válido ressaltar que o bioestimulador de colágeno tem excelentes resultados no preenchimento do volume, podendo ser utilizado sozinho para tratar a flacidez da pele, nesse caso, ou combinado a outros procedimentos estéticos para potencializar os resultados (CHAO et al., 2017).

Além disso, o uso de toxina botulínica, aplicação de LED e laserterapia associadas aos bioestimuladores de colágeno têm sido ferramentas promissoras para o rejuvenescimento facial (DESTRI & COUTINHO, 2021).

Apesar de ser interessante unir diferentes procedimentos estéticos e melhorar o resultado esperado, é fundamental realizar um espaçamento entre os tratamentos individuais de aproximadamente 1-2 semanas para avaliar os resultados e os efeitos colaterais locais e, em seguida, prosseguir com o tratamento (FABI et al., 2017; MELO et al., 2020). 

De acordo com as diretrizes propostas por Melo et al. (2020), essa abordagem cuidadosa permite uma avaliação minuciosa antes de continuar com o procedimento. No contexto do tratamento facial, essa prática se aplica especialmente na aplicação de estimuladores de colágeno, suturas suspensas de PLLA/PLGA e ácido hialurônico reticulado. Esses materiais são frequentemente utilizados em combinação para rejuvenescimento facial, sendo aplicados na parte superior, média e inferior do rosto, bem como no pescoço, buscando resultados estéticos eficazes e seguros.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, verificou-se que a utilização cuidadosa e planejada dos principais bioestimuladores de colágeno, incluindo o PLLA, a CaHA e a PCL, no contexto do rejuvenescimento facial, oferece resultados notáveis para os pacientes em busca de procedimentos estéticos não cirúrgicos. O PLLA é utilizado para restauração delicada do volume facial, mantendo efeitos duradouros por pelo menos 2 anos, enquanto a CaHA demonstra eficácia em tecidos moles, especialmente na região média da face, promovendo uma remodelação tecidual ativa, promovendo efeitos de 12 a 18 meses, podendo durar até 24 meses. A PCL oferece alta eficácia e segurança, com uma duração de até 4 anos e estimulação natural do colágeno. A combinação desses bioestimuladores com outras técnicas, como fios de sustentação, toxina botulínica e laser, tem apresentado resultados estéticos positivos. Apesar do custo elevado e da espera pelos resultados, a harmonização facial e o rejuvenescimento alcançados oferecem uma satisfação significativa aos pacientes, destacando a importância contínua da pesquisa e prática clínica baseada em evidências para a evolução dessas técnicas e o benefício dos pacientes a longo prazo.

REFERÊNCIAS

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 1Discente do Curso de Biomedicina da Faculdade Uninassau, colegiado de Biomedicina de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. e-mail: janferreirasandrade@gmail.com; 988174612nj@gmail.com 
2Docente do Curso Superior de Biomedicina da Faculdade Uninassau, colegiado de Biomedicina de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil. Doutora em Medicina Translacional (Universidade Federal de São Paulo). e-mail: soraia_lps@hotmai.com