REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505170136
Daniely de Queiroz Cruz da Silva; Domingas Marcia Pereira dos Santos; Hugo Emanuel Nunes de Sousa; Kelly Eduarda Ribeiro Satel; Lohhana Natasha Cláudia Costa Salles; Lorena Maria da Silva Madureira Malachias; Luana da Silva Soares; Paula Gabriela Lima da Silva; Yuri Smangozewski Godinho Lopes Sampaio; Coautor: Fabrício Vieira Cavalcante; Coautor: Laura de Moura Rodrigues.
RESUMO
Introdução: Este artigo apresenta uma revisão sistemática que investiga a eficácia dos exercícios do assoalho pélvico e do biofeedback na reabilitação de homens com incontinência urinária. A incontinência urinária pode afetar até 60% dos homens, principalmente após cirurgias prostáticas e isto impacta significativamente a qualidade de vida desta população. Objetivo: Este estudo busca avaliar a eficácia dos tratamentos que envolvem exercícios do assoalho pélvico e/ou biofeedback para fornecer recomendações para práticas clínicas. Método: A metodologia envolveu a análise de estudos relevantes em inglês e português, com base nos critérios estabelecidos pelo PRISMA e que foi direcionado de acordo com a estratégia do acrômio PICo. A pesquisa bibliográfica foi conduzida utilizando as bases de dados Pubmed, Scielo e LILACs, contemplando artigos publicados no período de 2002 a 2024. Resultados/ Discussão: Dos 399 artigos inicialmente encontrados, apenas 18 artigos atenderam aos critérios de elegibilidade. A maioria dos estudos relataram melhora significativa nos sintomas de incontinência urinária com a prática dos exercícios do assoalho pélvico, especialmente se combinados ao biofeedback, acelerando a recuperação e beneficiando aspectos psicossociais dos participantes. Conclusão: A combinação de exercícios para o assoalho pélvico e biofeedback se mostrou uma abordagem eficaz na reabilitação da incontinência urinária masculina, contribuindo para a qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-Chave: Incontinência Urinária; Biofeedback; Assoalho Pélvico; Fisioterapia; Saúde do Homem.
ABSTRACT
Introduction: This article presents a systematic review investigating the effectiveness of pelvic floor exercises and biofeedback in the rehabilitation of men with urinary incontinence. Urinary incontinence can affect up to 60% of men, especially after prostate surgery and this significantly impacts the quality of life of this population. Objective: This study aims to evaluate the effectiveness of treatments involving pelvic floor exercises and/or biofeedback to provide recommendations for clinical practices. Methods: The methodology involves the analysis of relevant studies in english and portuguese, based on the criteria established by PRISMA and which was directed according to the PICo acronym strategy. The bibliographic search was conducted using the Pubmed, Scielo and Lilacs databases, including articles published between 2002 and 2024. Results/Discussion: Of the 399 articles initially found, only 18 articles met the eligibility criteria. Most studies reported significant improvement in urinary incontinence symptoms with the practice of pelvic floor exercises, especially when combined with biofeedback, accelerating recovery and benefiting the psychosocial aspects of participants. Conclusion: The combination of pelvic floor exercises and biofeedback has proven to be an effective approach in the rehabilitation of male urinary incontinence, contributing to the quality of life of patients.
Keywords: Urinary Incontinence; Biofeedback; Pelvic Floor; Physical Therapy; Men’s Health.
1. INTRODUÇÃO
O trato urinário humano está localizado no assoalho pélvico e desempenha funções essenciais, como o armazenamento e eliminação de urina. Durante essa fase as paredes da bexiga se expandem e os receptores sensoriais presentes em sua estrutura detectem a pressão e o volume, enviando sinais ao sistema nervoso central. A parede da bexiga é composta por fibras musculares lisas orientadas em múltiplas direções diferentes, essas fibras são conhecidas como músculo detrusor. Por meio do sistema nervoso autônomo, reflexos são ativados, promovendo a contração do músculo detrusor e o relaxamento do esfíncter uretral, resultando na miccção (Sam et al., 2018).
Para adentrar na fase miccional, normalmente é necessário o preenchimento progressivo da bexiga, entre 50% a 75%, ocorrendo a eliminação da urina quando o momento social e local se fazem oportunos, além dos lapsos necessários para dar início a essa fase; no entanto, há outras situações em que a micção também não é socialmente apropriada ou conveniente, o cérebro pode desse modo, conscientemente ou não, inibir essa resposta reflexa, resultando na postergação do processo. Essa interação entre os estímulos do sistema nervoso e a capacidade dos órgãos de se adaptar à pressão é crucial para manter a continência urinária quando necessário (D’Ancona et al., 2019). A sensação psicológica e emocional de urgência pode dar início a fase de micção que se torna mais pronunciada à medida que a bexiga se enche, indicando aumento da pressão interna até que seja suficiente para estimular o reflexo miccional (Strączyńska et al., 2019).
A continência considerada normal requer um funcionamento adequado do detrusor e dos esfíncteres, além de uma inervação íntegra e musculatura lisa e estriada normais, sendo capaz de manter-se fechado durante a maior parte do tempo e relaxar durante a micção para permitir o esvaziamento completo da bexiga voluntariamente (Szczygielska et al., 2022). Quando há falhas nesse sistema, ocorre a incontinência urinária (IU), definida pela International Continence Society (ICS) como “a queixa de qualquer perda involuntária de urina”. A IU é multifatorial e pode afetar até 60% dos homens após cirurgias prostáticas (Higa et al., 2013).
A prostatectomia radical é a cirurgia padrão para pacientes que apresentam câncer de próstata em estágio potencialmente curável, consistindo na remoção da próstata e vesículas seminais, no entanto, após a cirurgia os pacientes podem apresentar diferentes sintomas no trato urinário, como espasmos dolorosos da bexiga, fadiga, diminuição da capacidade física, infecção do trato urinário e do sítio cirúrgico, constipação, impotência sexual e a incontinência urinária (Mata et al., 2015). A IU masculina, especialmente após procedimentos como a prostatectomia radical, impacta significativamente a qualidade de vida desta população. Além das consequências físicas, essa condição afeta o bem-estar emocional e social dos pacientes. Neste contexto, a fisioterapia tem se mostrado essencial na reabilitação da IU, utilizando técnicas como os exercícios do assoalho pélvico (EAP) e o biofeedback para melhorar o tônus muscular e o controle esfincteriano (Strączyńska et al., 2019).
Os exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico ou exercícios de Kegel, têm sido amplamente utilizados no tratamento da IU, com o objetivo de melhorar o tônus muscular e o controle esfincteriano. Estudos recentes indicam que a fisioterapia pode reduzir significativamente os sintomas de incontinência e melhorar a qualidade de vida dos homens afetados. Além disso, o biofeedback, uma técnica que utiliza sinais visuais ou auditivos para auxiliar na reeducação neuromuscular, tem sido cada vez mais utilizado como um complemento eficaz para o tratamento fisioterapêutico, promovendo a percepção e o controle dos músculos pélvicos (Fernandes et al., 2022).
A incontinência urinária masculina é uma condição prevalente e debilitante que tem um impacto significativo na qualidade de vida (social, emocional e física). Pesquisas indicam que os homens com IU sofrem com a deterioração da autoimagem e sentimentos de estigmatização social. Esses homens frequentemente vivenciam constrangimento devido à incapacidade de controlar a micção, o que interfere nas interações sociais, familiares e profissionais. A ansiedade gerada pela IU pode levar à redução do desejo sexual e ao isolamento social. Além disso, o uso de dispositivos como fraldas ou absorventes, necessário para gerenciar a condição, muitas vezes intensifica o sentimento de perda de controle e masculinidade, contribuindo para uma percepção de si mesmo como “anormal” (Higa et al., 2013).
Estudos indicam que entre 10% e 57% dos homens que passam por cirurgias prostáticas desenvolvem algum grau de incontinência urinária, ressaltando a importância do desenvolvimento de estratégias fisioterapêuticas eficazes para sua reabilitação (Strączyńska et al., 2019; Szczygielska et al., 2022). A eficácia dos exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico para o tratamento da incontinência urinária têm demonstrado alta eficácia na recuperação do controle urinário, com benefícios claros em comparação à ausência de tratamento, especialmente quando realizados sob orientação de um profissional (Kakihara et al., 2007).
Os estudos de Strojek et al. (2021) mostram os impactos do treinamento muscular do assoalho pélvico, os resultados indicaram uma melhora significativa na incontinência urinária e na qualidade de vida dos pacientes que realizaram EAP, em comparação com aqueles que não receberam tratamento. Esses achados reforçam a importância da fisioterapia para a recuperação de pacientes com disfunções urinárias. Além disso, o uso do biofeedback, ao permitir a visualização da atividade muscular, auxilia os pacientes a identificar com precisão os músculos do assoalho pélvico e a maximizar os efeitos do treinamento. A combinação de EAP com biofeedback tem se mostrado mais eficaz do que a aplicação isolada de cada abordagem (Kakihara et al., 2007; Szczygielska et al., 2022), promovendo uma recuperação mais rápida da continência urinária e reduzindo a necessidade de uso de fraldas e outros dispositivos de controle urinário (Dorey et al., 2003).
Com isso, o presente estudo tem o objetivo principal de avaliar a eficácia dos tratamentos que envolvem exercícios do assoalho pélvico e/ou biofeedback para a reabilitação de homens com incontinência urinária, visando consolidar as evidências científicas disponíveis sobre a eficácia dessas intervenções, proporcionando uma base sólida para práticas fisioterapêuticas mais direcionadas.
2. MÉTODOLOGIA
2.1 Características do Estudo
Esta revisão sistemática foi elaborada com base nos critérios estabelecidos pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), conforme Moher et al. (2009). Esse protocolo fornece diretrizes claras e padronizadas para garantir a transparência, qualidade e a reprodutibilidade das revisões sistemáticas. Além disso, a estruturação do trabalho foi direcionada de acordo com a estratégia do acrômio PICo.
A metodologia PICo (População, Intervenção, Comparação e “Desfecho[1]”) foi utilizada como base para organizar e orientar as pesquisas. Esse modelo facilita a definição dos critérios de inclusão e exclusão, bem como a identificação das evidências mais relevantes. A formulação da pergunta da pesquisa com base no PICo serviu como guia para a realização de uma busca bibliográfica mais direcionada. O Quadro 1 apresenta a aplicação do acrômio PICo neste estudo e resume os principais achados identificados nos artigos científicos selecionados para compor esta revisão.
Quadro 1 – Metodologia PICo
Pico | Descrição |
População | Homens com incontinência urinária |
Intervenção | Fisioterapia pélvica e biofeedback |
Comparação | Tratamento com EAP combinado com biofeedback vs. Tratamento isolado com EAP |
Desfecho | Avaliação de melhora na continência urinária e qualidade de vida dos pacientes |
Fonte: Autoria própria (2025)
Os artigos incluídos nesta revisão atendem aos critérios de estudos de caso e/ou ensaios clínicos randomizados, além de meta-análises sobre condutas fisioterapêuticas pélvicas e/ou biofeedback em pacientes masculinos com incontinência urinaria.
2.2 Critérios e caracterização da busca
A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed, Scielo e Lilacs, incluindo publicações em inglês e português, com o intuito de captar uma maior diversidade de estudos e perspectivas relacionadas ao tema. Para isso, utilizou-se uma combinação de descritores cadastrados nos vocabulários controlados MeSH (Medical Subject Headings) e DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), as estratégias de busca aplicadas foram as seguintes: em português, Incontinência Urinária AND Assoalho Pélvico AND Fisioterapia AND (Homem OR Masculino OR Masculina) e Incontinência Urinária AND Assoalho Pélvico AND Fisioterapia AND (Homem OR Masculino OR Masculina) AND Biofeedback; e em inglês, Urinary Incontinence AND Biofeedback AND Pelvic Floor AND (Men OR Male) e Urinary Incontinence AND Pelvic Floor AND (Men OR Male) AND Muscle Training.
A pesquisa bibliográfica foi realizada ao longo do período compreendido entre setembro de 2024 à abril de 2025, e considerou artigos publicados entre os anos de 2002 à 2024, focando principalmente nas publicações das duas últimas décadas, buscando garantir a contemporaneidade e a aplicabilidade dos dados obtidos. Foram incluídos na seleção artigos que atendiam aos critérios de estudos de caso e ensaios clínicos randomizados, os quais oferecem um maior nível de evidência científica, com estudos de homens diagnosticados com incontinência urinária, submetidos a intervenções fisioterapêuticas voltadas ao fortalecimento do assoalho pélvico, incluindo ou não o uso de técnicas complementares como o biofeedback durante o processo de reabilitação. Além desses, também foram incluídas meta-análises que fornecessem dados abrangentes sobre os tratamentos. Quanto aos critérios de exclusão, foram descartados estudos que envolviam populações femininas, crianças ou indivíduos com comorbidades não relacionadas à incontinência urinária. Também foram excluídas publicações duplicadas, estudos com dados insuficientes ou inconsistentes, bem como artigos não disponíveis na íntegra, pois poderiam comprometer a avaliação crítica e a extração de informações relevantes.
Após a definição das estratégias de busca e aplicação dos descritores previamente estabelecidos, a seleção dos estudos foi conduzida conforme os critérios estabelecidos pelo protocolo PRISMA. Foram adotados critérios de inclusão e exclusão previamente definidos, com foco em estudos voltados à fisioterapia pélvica aplicada à incontinência urinária masculina e, por fim, leitura completa dos textos que atendiam aos critérios de elegibilidade. Apenas artigos que cumpriram integralmente os critérios metodológicos e temáticos foram incluídos na análise final.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, foram identificados 399 estudos por meio de busca eletrônica nas bases de dados selecionadas. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade, 237 estudos foram excluídos, incluindo duplicadas, artigos que não se enquadravam no recorte temporal previamente estipulado, bem como aqueles que abordavam outras condições clínicasdistintas ou que envolviam populações diferentes da masculina. Na etapa seguinte, 162 artigos foram avaliados com base nos títulos, resultando na seleção de 51 para a leitura dos resumos, com o intuito de verificar a adequação dos artigos ao tema proposto, nessa fase, foram eliminados os artigos que, embora inicialmente identificados, não apresentavam relevância direta para a questão da pesquisa ou não atendiam aos parâmetros metodológicos estabelecidos. Dentre esses, 27 foram selecionados para leitura na íntegra. Após essa análise final, 9 estudos foram novamente excluídos por não se enquadrarem nos critérios de elegibilidade. Como resultado, 18 estudos foram incluídos nesta revisão sistemática. A Figura 1 apresenta um esquema detalhado das etapas do processo de seleção e exclusão dos estudos.

Dos 18 artigos incluídos nesta revisão, foram selecionados para análise detalhada 12 pesquisas que apresentavam resultados diretamente relacionados ao objetivo proposto. O Quadro 2 resume as principais informações extraídas desses artigos, incluindo autores, tipos de estudos, amostras, principais resultados e considerações relevantes, servindo como base para as análises dos resultados. Os outros 7 estudos foram utilizados exclusivamente para contextualização teórica das informações e por isso não foram incluídos neste quadro.
Quadro 2: Artigos priorizados para análise dos resultados e discussão.
Autores e Ano | Tipo de Estudo | Amostra | Principais Resultados | Considerações |
Aydin et al., 2018 | Ensaio clínico randomizado | 60 homens com IU pós- prostatectomia radical | Melhora significativa na continência urinária no grupo de EAP e redução do uso de fraldas | EAP é eficaz na redução da IU pós-prostatectomia. |
Burgio et al., 2006 | Ensaio clínico randomizado | 125 homens candidatos à prostatectomia radical | Menor tempo até alcançar continência e menor gravidade da IU no grupo com treino pré-operatório assistido por biofeedback. | O treino pré-operatório pode acelerar a recuperação e reduzir sintomas da IU após a prostatectomia radical. |
Dorey et al., 2003 | Estudo de caso | 3 homens com gotejamento pós-miccional | Melhora da função erétil e redução do gotejamento com EAP e biofeedback | Eficácia do EAP para disfunções urogenitais masculinas |
Floratos et al., 2002 | Ensaio clínico randomizado | 42 homens com IU pósprostatectomia | Melhora significativa na IU por biofeedback e por instrução verbal intensiva | Biofeedback e instruções verbais são eficazes para o aprendizado dos EAP |
Goode et al., 2011 | Ensaio clínico randomizado | 208 homens com IU após prostatectomia radical | Redução significativa da IU nos grupos de tratamento ativo | A terapia comportamental é eficaz na redução da IU, a adição de biofeedback não aumentou a eficácia do tratamento. |
Hsu et al., 2016 | Meta-análise | 1.108 homens com IU pósprostatectomia | Biofeedback associado ao EAP foi mais eficaz que EAP isolado; melhora significativa na IU e qualidade de vida nos períodos curto, médio e longo prazo | Apoia uso de biofeedback como terapia complementar |
Kakihar a et al., 2007 | Ensaio clínico randomizado | 20 homens com IU pósprostatectomia | Melhora da continência no grupo com EAP após 12 meses | Não demonstrou diferença entre grupo que recebeu eletroestimulação adicional |
Milios et al., 2019 | Ensaio clínico randomizado | 97 homens com IU pós- prostatectomia radical | Melhora significativa da função do assoalho pélvico e redução da IU | EAP pode acelerar a recuperação da função do assoalho pélvico e reduzir a IU |
Robinso n et al., 2008 | Ensaio clínico randomizado | 126 homens com IU pós- prostatectomia radical | Redução nos sintomas do trato urinário inferior; padrão de impacto diferente na qualidade de vida. | EAP ajuda na recuperação dos sintomas urinários |
Strączyń ska et al., 2019 | Revisão sistemática | 1078 homens com IU pós- prostatectomia radical | EAP eficaz para IU pósprostatectomia, com melhora física e na qualidade de vida | Reforça os EAP como abordagem terapêutica eficaz |
Strojek et al., 2021 | Ensaio clínico randomizado | 37 homens com IU pós- prostatectomia radical | Melhora na qualidade de vida e sintomas depressivos após treinamento pélvico | Reforça a eficácia do EAP |
Szczygi elska et al., 2022 | Ensaio clínico randomizado | 60 homens com IU pós- prostatectomia radical | Melhora significativa da IU com EAP, especialmente quando combinado com biofeedback. | O biofeedback potencializa os efeitos do EAP no tratamento da IU |
A presente revisão sistemática analisou 12 estudos que abordam intervenções com EAP, isoladamente ou combinados com biofeedback, para o tratamento da IU masculina, principalmente no contexto da pós-prostatectomia radical, uma vez que essa cirurgia é considerada uma das causas de incontinência urinária em homens.Os estudos incluídos compreendem ensaios clínicos randomizados, estudos de casos, revisões sistemáticas e metaanálises, com amostras variando entre 3 e 208 participantes em pesquisas individuais, além de análises que reuniram diversos estudos, englobando mais de 1.000 homens no total, com amplas faixas etárias, geralmente entre 50 e 80 anos.
Dos 12 estudos incluídos nesta revisão, todos relataram melhora significativa nos sintomas de IU masculina com o uso de EAP, isoladamente ou combinados com biofeedback. No entanto, o estudo de Kakihara et al. (2007), incluiu também um grupo que recebeu treinamento funcional do assoalho pélvico associado à eletroestimulação. Esse estudo demonstrou que, embora o grupo que realizou EAP isoladamente tenha apresentado melhora na continência urinária após 12 meses, não houve diferença significativa entre os grupos que receberam EAP com eletroestimulação. Esses resultados sugerem que a eletroestimulação não trouxe benefícios adicionais relevantes, o que direciona o foco para técnicas mais simples e acessíveis, como o próprio EAP com biofeedback.
Entre os artigos analisados, cinco utilizaram exclusivamente os EAP como intervenção principal (Aydin et al., 2018; Kakihara et al., 2007; Milios et al., 2019; Robinson et al., 2008; Strojek et al., 2021), demonstrando melhora significativa nos sintomas de IU. Quatro artigos associaram os EAP combinados com biofeedback (Burgio et al., 2006; Dorey et al., 2003; Floratos et al., 2002; Szczygielska et al., 2022), sugerindo um efeito potencializador da combinação entre as abordagens. Além disso, três trabalhos destacaram a eficácia do biofeedback quando comparado ao EAP isolado (Goode et al., 2011; Hsu et al., 2016; Strączyńska et al., 2019), reforçando sua utilidade como recurso complementar na reabilitação da IU masculina. Esses achados apontam para a eficácia dos exercícios do assoalho pélvico no tratamento da incontinência urinária masculina, com possíveis benefícios adicionais quando associados ao biofeedback.
A análise dos estudos selecionados nesta revisão sistemática fornece evidências que corroboram fortemente para a eficácia doEAP, principalmente se associados ao biofeedback como estratégia de reabilitação para homens com IU, sobretudo no contexto da pósprostatectomia. Robinson et al. (2008) e Strojek et al. (2021) confirmaram a eficácia do EAP na recuperação da continência urinária em suas pesquisas, eles destacaram melhorias significativas nos sintomas urinários e na qualidade de vida dos participantes. O estudo de Strojek et al. (2021) focou na incontinência urinária de esforço, e com os resultados positivos, houve uma diminuição dos sintomas depressivos no grupo experimental, enquanto Robinson et al. (2008) analisou sintomas do trato urinário inferior de forma mais ampla, indicando que o EAP contribuiu para uma reabilitação funcional eficiente, promovendo a recuperação póscirúrgica.
Tanto o estudo de Aydin et al. (2018) quanto o de Milios et al. (2019) investigaram o impacto do EAP em homens após a prostatectomia radical, destacando a eficácia dessa intervenção na recuperação dos pacientes. Em ambos os estudos foram inclusos também grupos com treinamento pré-operatório, e os resultados mostraram melhorias significativas na redução dos sintomas de IU, com melhorias nas pontuações de qualidade de vida e diminuição no uso de fraldas, enquanto que no grupo controle (que não realizaram EAP), observou-se aumento no uso de fraldas. Além disso, Milios et al. (2019) indicou que o treinamento pré-operatório acelerou a recuperação da função do assoalho pélvico, contribuindo para uma recuperação mais rápida e eficaz, com benefícios contínuos após a cirurgia.
Além do treinamento do assoalho pélvico, o biofeedback emerge como uma ferramenta complementar valiosa. Uma das vantagens do biofeedback está em sua capacidade defornecer informações sensoriais ou visuais sobre a contração muscular, facilitando a aprendizagem e a execução correta dos EAP, especialmente em pacientes com dificuldade em reconhecer e ativar a musculatura perineal (Floratos et al.,2002). A pesquisa de Floratos et al. (2002) reforça que essa ferramenta auxilia no aprendizado motor necessário para o sucesso do treinamento, embora instruções verbais intensivas também tenham se mostrado igualmente eficazes. Segundo Dorey et al. (2003), a associação do biofeedback ao EAP potencializa a consciência corporal dos pacientes, facilitando o recrutamento muscular adequado e promove uma reabilitação mais efetiva, suas pesquisas também apontaram para a melhoria da função erétil e a redução da pósmicção, demonstrando que a abordagem pode trazer benefícios adicionais além da IU.
A maioria dos estudos revisados demonstraram que a combinação de EAP com biofeedback resulta em melhorias significativas na recuperação da continência urinária. O estudo de Burgio et al. (2006) observou que pacientes que receberam treinamento comportamental assistido por biofeedback apresentaram uma redução mais rápida na gravidade da IU e uma taxa mais alta de recuperação da continência em comparação com o grupo controle.
Similarmente, as pesquisas de Hsu et al. (2016) e de Strączyńska et al. (2019) reforçam que a associação de biofeedback potencializa os efeitos do EAP, reduzindo o tempo para atingir a continência, com efeitos significativos na redução da IU em curto, médio e longo prazo, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Já os estudos de Straczynska et al. (2019), utilizaram o “Insert Test” como uma ferramenta de avaliação da eficácia do treinamento pélvico, evidenciando uma correlação positiva entre a aderência ao tratamento e a melhora da incontinência. No grupo A, que realizou treinamento com EAP de forma isolada, 60% dos pacientes alcançaram controle total da miccção, enquanto no grupo B, que associou o EAP ao uso do biofeedback, esse índice foi de 85%, indicando que o fortalecimento dos músculos pélvicos resultaram na redução significativa dos episódios de perda urinária. A intervenção combinada com o biofeedback demonstrou ser ainda mais eficaz, promovendo uma recuperação mais rápida e eficiente. Como resultado, os pacientes que aderiram a um protocolo estruturado de reabilitação apresentaram uma melhora funcional notável, o que lhes permitiu retomar as atividades cotidianas com maior segurança e confiança.
Entretanto, um desafio recorrente na reabilitação da IU masculina é a baixa adesão ao tratamento (Straczynska et al., 2019). Segundo Higa et al. (2013), muitos homens demonstram resistência em buscar ajuda devido ao estigma e ao constrangimento associados à condição. Essa barreira cultural e social impede que muitos pacientes obtenham os benefícios da fisioterapia pélvica e do biofeedback. Em termos emocionais, a IU pode levar a uma série de desafios psicológicos. Homens que sofreram ou ainda sofrem desse problema frequentemente relatam sentimentos de perda da masculinidade, baixa autoestima e até mesmo sintomas depressivos. A incapacidade de controlar a própria micção impacta diretamente suas relações interpessoais, podendo afetar o convívio social e conjugal.
A IU masculina, particularmente após a prostatectomia radical, representa um desafio significativo para os pacientes, afetando sua qualidade de vida em múltiplas dimensões. Não se trata apenas de uma questão física, mas também de um impacto emocional profundo, gerando sentimentos de vergonha, ansiedade e, muitas vezes, isolamento social. Compreender os efeitos dos tratamentos reabilitativos é essencial para promover autonomia e a autoestima desses indivíduos (Goode et al., 2011;Higa et al., 2013; Strojek et al., 2021). Dessa forma, campanhas educativas e estratégias de conscientização são essenciais para aumentar a adesão e promover melhores resultado terapêuticos. Colla et al. (2015) destaca que pacientes que recebem suporte adequado, tanto no aspecto fisioterapêutico quanto no apoio emocional, tem uma recuperação mais satisfatória e um retorno mais rápido às suas atividades normais.
Os aspectos psicossociais, como suporte emocional e educação do paciente, desempenham um papel importante na eficácia do tratamento. O estudo de Goode et al. (2011) adotou uma abordagem mais holística, combinando treinamento comportamental, estratégias de controle da bexiga e monitoramento por meio de diários. Os resultados demostraram que após 8 semanas de intervenção, os grupos que receberam terapia comportamental apresentaram uma redução média de 50% a 59% nos episódios de IU, com efeitos positivos mantidos por até 12 meses após o tratamento. Além disso, os participantes relataram menor impacto da incontinência nas atividades diárias e uma diminuição na percepção de que a incontinência era extremamente perturbadora, indicando melhorias significativas na qualidade de vida dos participantes, sugerindo que a intervenção terapêutica não apenas reduziu os sintomas físicos da IU, mas também teve um impacto positivo no bem-estar emocional e social dos pacientes.
Ao comparar os tratamentos de EAP combinados com biofeedback e o tratamento isolado com EAP, os resultados das pesquisas indicam que a combinação de ambas as intervenções é mais eficaz na recuperação da continência urinária. Os estudos demonstraram que o uso do biofeedback em conjunto com EAP não apenas acelera a recuperação da função urinária, mas também contribui para uma maior adesão ao tratamento, uma vez que os pacientes conseguem visualizar em tempo real a atividade muscular do assoalho pélvico (Floratos et al., 2002; Hsu et al., 2016; Szczygielska et al., 2022 ). Em contraste, os estudos que avaliaram apenas o EAP isoladamente, mostraram melhorias significativas, mas de forma mais lenta em comparação com os grupos que receberam também o biofeedback (Kakihara et al., 2007).
Embora ambos os tratamentos apresentem benefícios, os resultados sugerem que o biofeedback potencializa os efeitos dos EAP, tornando-o uma opção mais eficaz, reforçando a importância de um tratamento integrado, que combine os aspectos físicos do exercício com os benefícios psicológicos e cognitivos proporcionados pelo biofeedback, oferecendo uma abordagem mais completa para o manejo da IU pós-prostatectomia. Dessa forma, os resultados analisados confirmam a eficácia dos exercícios pélvicos e do biofeedbeck na reabilitação da IU masculina, contudo, ainda há espaço para melhorias na disseminação da informação e no incentivo à adesão ao tratamento. Cabe aos profissionais da saúde não apenas oferecer as melhores intervenções, mas também sensibilizar os pacientes para a importância da reabilitação, garantindo que possam recuperar sua dignidade, autonomia e qualidade de vida.
Apesar dos resultados positivos, algumas limitações metodológicas foram identificadas nos estudos analisados. Houve varições nos protocolos adotados, diferenças na duração do tratamento, na frequência das sessões e no tipo de biofeedback utilizado, dificultando a comparação direta entre os estudos e consolidação dos achados. Além disso, a qualidade metodológica variou, com alguns estudos apresentando amostras reduzidas e períodos de seguimentos curtos, limitando a possibilidade de avaliar os efeitos a longo prazo das intervenções e também pela generalização dos resultados para populações mais amplas. Essas limitações ressaltam a necessidade de estudos futuros mais padronizados e com maior rigor metodológico, a fim de fortalecer a validade e a aplicabilidade dos resultados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos analisados nesta revisão reforçam a eficácia dos EAP isoladamente ou combinados com o biofeedback na reabilitação da incontinência urinária masculina, principalmente no contexto pós-prostatectomia radical. Além da redução da perda urinária, essas intervenções mostraram melhorar a qualidade de vida dos pacientes, promovendo maior autonomia, autoestima e reintegração às atividades diárias. Reforçando a importância de se adotar uma abordagem terapêutica que considere não apenas os aspectos físicos da condição, mas também os impactos emocionais e psicossociais.
Apesar dos avanços, a ausência de padronização e a presença de amostras pequenas em alguns estudos ainda limitam a generalização dos resultados. Por isso, se faz necessário mais pesquisas com maior rigor metodológico e acompanhamento em longo prazo, a fim de consolidar as evidências existentes. Diante disso, recomenda-se que a inclusão dos EAP e do biofeedback seja incentivada na prática clínica como parte de uma estratégia reabilitadora integrada e acessível. Mais do que restaurar o controle miccional, essas abordagens contribuem para a recuperação do bem-estar, da confiança e da dignidade dos homens que enfrentam a incontinência urinária.
¹Traduzido do inglês: outcomes.
REFERÊNCIAS
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