EVALUATION OF RISK OF DYSBIOSIS IN POSTGRADUATE STUDENTS IN THE HEALTH FIELD
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202507051532
Alcione de Jesus Neves de Souza1
Emanuela Naiara Galvão e Silva2
Gisely Leticia Medeiros Bessa3
Jamilie Suelen dos Prazeres Campos4
Manuela Alves Marques5
Simone do Socorro Fernandes Marques6
Resumo
A microbiota intestinal desempenha um papel essencial na homeostase do organismo, sendo influenciada por diversos fatores, como alimentação, estresse e uso de medicamentos. Este estudo avaliou o risco de disbiose intestinal em 92 estudantes de pós-graduação da área da saúde em uma instituição privada de Belém do Pará. A metodologia incluiu a aplicação do Questionário de Risco de Disbiose, e os dados foram analisados pelo método hipotético-dedutivo. Os resultados apontaram que mais de 80% dos participantes apresentaram risco médio ou alto de disbiose, indicando uma discrepância entre o conhecimento acadêmico sobre saúde e a adoção de hábitos saudáveis. Além disso, cerca de 70% dos estudantes foram classificados com estado nutricional inadequado. A disbiose intestinal não demonstrou correlação significativa entre os diferentes cursos analisados, mas observou-se que alunos da área de Nutrição apresentaram melhor estado nutricional em comparação com os de Fisioterapia e Enfermagem. Constatou-se ainda que grande parte dos participantes desconhecia os impactos da disbiose na saúde, o que reforça a necessidade de ações educativas voltadas à promoção de hábitos saudáveis. Conclui-se que estratégias de conscientização são essenciais para a prevenção da disbiose intestinal e a melhoria da qualidade de vida desses profissionais da saúde.
Palavras-chave: Disbiose Intestinal. Questionário de Risco de Disbiose. Estado nutricional. Estudantes de saúde.
1 INTRODUÇÃO
A microbiota intestinal saudável de um indivíduo é caracterizada por uma ampla variedade de bactérias benéficas, como por exemplo os Lactobacillus, Bifidobacterium e outras cepas que desempenham funções essenciais na saúde digestiva e contribuem para a homeostase do organismo. Essas bactérias coexistem em um equilíbrio harmônico, promovendo uma digestão eficiente e adequada, fortalecendo o sistema imunológico e, dependendo dos alimentos ingeridos, prevenindo o crescimento excessivo de microrganismos patogênicos, o que resulta em um melhor funcionamento do sistema imune. Portanto, a homeostase intestinal é fundamental para o bem-estar geral do organismo (Faintuch, 2017, Oliveira et al., 2021, Santos et al., 2020, Teixeira et al., 2022).
No entanto, a microbiota é diversa para cada indivíduo e existem múltiplos fatores que podem resultar em alterações na sua composição, capazes de desencadear disfunções intestinais e em todo o organismo do indivíduo, chamado de disbiose. Santos et al. (2020) cita o “uso de medicamentos, estresse psicológico e fisiológico, hospitalização, idade, hábito alimentar desequilibrado e desenvolvimento imune do feto que é influenciado pelos microrganismos da mãe ainda dentro do útero”, além de condições de higiene, estrutura anatômica do organismo hospedeiro, bem como sua genética (Oliveira et al., 2021).
Os fatores supracitados auxiliam na proliferação e aumento de bactérias patogênicas presentes no intestino, a parede intestinal torna-se hiper permeável, há uma diminuição na eficácia da digestão e absorção de nutrientes, enquanto substâncias prejudiciais à saúde tornam-se mais propensas a serem absorvidas, gerando o desequilíbrio homeostático do organismo. Dessa forma, há um aumento de substâncias não desejadas na corrente sanguínea, alterações no sistema imunológico, desenvolvimento de doenças, inflamação na mucosa intestinal, dentre outros fatores prejudiciais à saúde de todo o organismo (Santos et al., 2020).
As consequências da disbiose são inúmeras. O que acontece no intestino, reflete em condições metabólicas, neurais, gástricas, imunológicas, dermatológicas, ginecológicas, cardiológicas, pneumológicas, urológicas, entre vários outros importantes para o bem-estar do indivíduo. Por isso, investigar e avaliar o risco de disbiose é fundamental para evitar alterações quantitativas e qualitativas na microbiota, iniciar tratamentos adequados em casos de evidência de disbiose e preservar o estado nutricional (Oliveira et al., 2021; Santos et al., 2020).
A pesquisa teve como objetivo avaliar o risco de disbiose intestinal em estudantes, ao rastrear o risco de disbiose intestinal através do Questionário de Risco de Disbiose (DYS/FQM), comparar o risco entre os estudantes das áreas da saúde (Nutrição, Enfermagem e Fisioterapia), descrever as consequências clínicas associadas à disbiose e se pode afetar a rotina, desempenho e produtividade na vida dos estudantes de pós-graduação da área da saúde em uma Rede Particular de Ensino Superior em Belém – PA.
2 METODOLOGIA
Foram necessárias buscas e leitura da literatura científica através de sites de órgãos governamentais, trabalhos de conclusão de curso e sites eletrônicos de acesso aberto gratuito para ambientação das metodologias utilizadas para o referido tema e para o conhecimento das referências bibliográficas, como Google Acadêmico, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
Para a busca nas bases de dados eletrônicos, foram utilizados os seguintes termos: disbiose; disbiose intestinal; questionário de risco de disbiose; questionário DYS/FQM; microbiota intestinal; microbiota saudável; microbioma intestinal; microbioma gastrointestinal; hiperpermeabilidade intestinal.
2.1 CASUÍSTICA
Trata-se de um estudo observacional transversal, com abordagem quali-quantitativa.
2.2 FINALIDADE
Esta pesquisa é básica estratégica que teve por finalidade investigar o risco de disbiose intestinal em estudantes de pós-graduação da área da saúde, caracterizando-se portanto, como uma pesquisa descritiva e exploratória.
Após obtermos os dados de cada participante e conclusão do estudo, será enviado o resultado de maneira individual para cada participante, com a finalidade de os alunos terem conhecimento acerca de sua condição.
2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
De acordo com a Resolução CNS 466/12, o presente estudo só foi iniciado após o aceite do protocolo pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), haja vista que a pesquisa contou com a participação de seres humanos. Para isso, foi necessária a autorização para realização da pesquisa e a declaração de aceite da instituição que tem por número do aceite 7.090.648.
Após isso, através da plataforma Google Forms, foi disponibilizado o link com as perguntas para a pesquisa (APÊNDICE A) contendo o protocolo de coleta de dados dos participantes, com perguntas sociodemográficas e antropométricas para melhor conhecimento do público alvo adicionado na segunda seção o Questionário de Risco de
Disbiose (Dysbiosis Frequent Questions Management – DYS/FQM) juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO B), para autorizar a participação voluntária na pesquisa.
2.4 INSTRUMENTO DE PESQUISA
Para o levantamento de dados, foi utilizado o Questionário de Risco de Disbiose (DYS/FQM) desenvolvido pela FQM Farmanutrição® (ANEXO A), composto por 17 questões. Os grupos de perguntas são categorizados em idade, nascimento, amamentação infantil, alimentação habitual, álcool, atividade física, estresse, tabagismo, medicamentos/suplementos e condição clínica, expressos na literatura científica com grande influência na formação e equilíbrio da microbiota.
Foram acrescentadas perguntas de cunho sociodemográficos e antropométricos para melhor adaptação a esta pesquisa. Foi utilizado a plataforma Google Forms para transcrição dessas perguntas. O compartilhamento do mesmo apropriou-se de leitura de QR code via panfleto ou envio do link pelo aplicativo WhatsApp, com o intuito de facilitar o acesso e atingir o mínimo de sujeitos necessários para contemplar a amostra representativa calculada.
A partir da seção 2, iniciou-se o DYS/FQM. Cada questão possuiu alternativas com uma pontuação pré determinada, a depender da relevância do fator de risco, que deverá ser somada ao final do questionário, onde o valor final determinou se o risco de disbiose seria rotulado como baixo risco (0-10), médio risco (11-23), alto risco (24-36) ou muito alto risco (37-49) em caso do participante ter respondido todas as perguntas. Para a pergunta 7 ou 8, quando o participante não soube responder, a pontuação foi dada através dos seguintes valores: baixo risco (0-10), médio risco (11-22), alto risco (23-34) ou muito alto risco (35-46). Além disso, quando o participante não soube responder a pergunta 7 e 8, foi definido da seguinte forma: baixo risco (0-10), médio risco (11-21), alto risco (22-32) ou muito alto risco (33-43).
Em ato contínuo, foi informado uma breve explicação sobre disbiose intestinal, seus sintomas, consequências e uma orientação nutricional. A fim de bonificar e incentivar, ao final da realização do questionário, os sujeitos puderam solicitar seus resultados, onde será enviado juntamente com uma breve explicação do mesmo após a conclusão deste estudo.
2.5 SELEÇÃO DA POPULAÇÃO DE ESTUDO
Para esta investigação, o universo compreendeu todos os alunos de pós-graduação da área da saúde com idade acima de 20 anos que aceitaram participar da pesquisa.
Os sujeitos da pesquisa foram alunos de ensino superior de pós-graduação lato sensu, dos cursos da área da saúde, em uma rede particular de ensino superior. Compreendeu os cursos de Especialização em Ensino e Gestão na Área da Saúde, Especialização em Enfermagem em Terapia Intensiva, Especialização em Fisioterapia Respiratório e Cardiovascular UTI/Enfermaria, Especialização em Fisioterapia em Terapia Intensiva – UTI, duas turmas de Especialização em Musculação Terapêutica e Fisiologia do Exercício para Grupos Especiais e Especialização em Nutrição Clínica, com a quantidade de alunos devidamente matriculados no período de coleta de dados (setembro de 2024 a março de 2025), sendo estipulado o total de 208 alunos.
Para encontrar o valor da amostragem representativa, utilizamos a plataforma Epi Info (OMS), considerando o valor total de alunos devidamente matriculados (208), com erro amostral de 10% e nível de confiança de 99%. O valor da amostra representativa encontrada foi de 92.
2.5.1 Critérios de Inclusão
Abrangeu-se os estudantes de pós-graduação na área da saúde (Nutrição, Fisioterapia e Enfermagem) devidamente matriculados no ano de 2023 e 2024, nos cursos ofertados por uma Instituição da rede privada de Ensino Superior em Belém do Pará, bem como os que aceitaram participar do estudo.
2.5.2 Critérios de Exclusão
Abrangeu-se os estudantes de graduação da rede privada de Ensino Superior em Belém do Pará, os de pós-graduação que não são da área da saúde e os que são da área da saúde e que não aceitaram participar do estudo.
2.6 PERÍODO DE COLETA DE DADOS
A pesquisa foi desenvolvida no período de setembro de 2024 a março de 2025, a partir da aprovação do CEP.
2.7 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
As formas metodológicas do presente trabalho foram organizadas seguindo os termos éticos e científicos fundamentais, como proposto na Resolução N° 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.
Após a aprovação da submissão do projeto ao CEP que tem por número do aceite 7.090.648, sucedeu o início da coleta de dados através de um questionário online. No processo de coleta dos resultados, foi garantido o total sigilo da identidade dos participantes, mediante a assinatura do TCLE, e a não discriminação ou estigmatização dos sujeitos da pesquisa, além da conscientização dos sujeitos quanto à publicação dos seus dados.
2.7.1 Riscos
A possibilidade de desconforto ou violação do anonimato ao responder o formulário online representou um dos riscos inerentes à pesquisa. É importante salientar que medidas foram tomadas para minimizar tais riscos, garantindo que a identidade permaneça confidencial e que o indivíduo tenha total liberdade para interromper e/ou desistir da participação na pesquisa a qualquer momento, sem quaisquer consequências adversas.
2.7.2 Benefícios
Os benefícios desta pesquisa estão relacionados à compreensão do risco de desenvolvimento de disbiose por parte dos participantes que preencherem o formulário ao concordarem em participar da pesquisa. Os participantes puderam solicitar o resultado do Questionário de Risco de Disbiose ao final do questionário online. Essa conscientização possibilita a adoção de medidas preventivas para amenizar ou evitar o agravamento desta condição clínica, que pode impactar negativamente na qualidade de vida e aumentar a suscetibilidade ao surgimento de doenças.
2.8 TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS
A pesquisa empregou o método hipotético dedutivo. Foi escolhido um problema e estabelecido hipóteses para a solução do mesmo, com a confirmação ou refutação dos dados.
3 RESULTADOS
Foram avaliados 92 estudantes de pós-graduação da área da saúde em uma rede particular de ensino superior em Belém do Pará, sendo 52 (56,5%) da área de Nutrição, 28 (30,4%) da área de fisioterapia e 12 (13%) da área de enfermagem. Houve uma prevalência maior do sexo feminino (81,5%) em comparação com o sexo masculino (18,5%) e a idade dos participantes variou de 22 a 53 anos. Obteve-se uma média do IMC de 26,1 kg/m², onde 43,5% (n=40) foram classificados como sobrepeso, 28,2% (n=26) como eutróficos, 20,7% (n=19) como obesidade e 1,1% (n=1) como baixo peso.
Tabela 1 – Respostas obtidas através do Questionário do Risco de Disbiose (DYS/FQM) aplicado em estudantes de pós-graduação da área da saúde em uma rede privada em Belém do Pará, 2025.


Fonte: Elaborada pelos autores
Tabela 2 – Risco de disbiose em estudantes de pós-graduação da área da saúde em uma rede privada em Belém do Pará de acordo com o Questionário de Risco de Disbiose (DYS/FQM), 2025.

Tabela 3 – Correlação entre IMC e risco de disbiose em estudantes de pós-graduação da área da saúde em uma rede privada em Belém do Pará de acordo com o Questionário de Risco de Disbiose (DYS/FQM), 2025.

Fonte: Elaborada pelos autores
No que diz respeito ao risco de disbiose, a tabela 1 evidencia as respostas dos participantes do Questionário DYS/FQM em que, a partir da pontuação, pode-se avaliar o risco de disbiose intestinal. Ao observar a tabela 2, constata-se que 73,9% (n=68) da amostra foram classificados em médio risco, 18,5% (n=17) em baixo risco e 7,6% (n=7) em alto risco e nenhum foi classificado como muito alto risco. Ademais, foi correlacionado com o IMC (tabela 3), onde foi identificado que o baixo risco apresentou maior prevalência em eutróficos (52,9%; n=9), o médio risco apresentou o sobrepeso como maior prevalência (48,4%; n=31) e o alto risco apresentou a obesidade como maior prevalência (60%; n=3), porém não houve relação estatística significante entre o IMC e o risco de disbiose (p= 0,3348).
Tabela 4 – Correlação entre os cursos de Nutrição, Enfermagem e Fisioterapia de pós-graduação em uma rede privada em Belém do Pará com a classificação do Questionário de Risco de Disbiose (DYS/FQM), 2025.

Fonte: Elaborada pelos autores
Ao avaliar de forma individual as classificações do risco de disbiose quando comparadas entre os cursos de Nutrição, Enfermagem e Fisioterapia de pós-graduação de uma rede privada em Belém do Pará (tabela 4), constatou-se que nenhum apresentou muito alto risco. Para baixo risco, o curso de pós-graduação na área da Nutrição obteve maior prevalência (23,1%; n=12), seguido de Enfermagem (16,7%; n=2) e da Fisioterapia (10,7%; n=3). No que diz respeito ao médio risco, o curso de Enfermagem têm a maior prevalência (83,3%; n=10), posteriormente Fisioterapia (75%; n=21) e Nutrição (71,2%; n=37), enquanto que para alto risco o de maior prevalência foi Fisioterapia (14,3%; n=4), na sequência Nutrição (5,8%; n=3) e Enfermagem (0%; n=0), contudo não houve relação estatística significante entre os cursos e o risco de disbiose (p= 0,3139).
4 DISCUSSÕES
Os estudantes da área da saúde dos cursos de pós-graduação em uma rede privada em Belém do Pará, apresentaram 73,9% (n=68) de sua amostra o risco médio de disbiose e, no que tange o estado nutricional, identificou-se com maior número de indivíduo, a classificação de sobrepeso. Por se tratar de estudantes da área da saúde, esperava-se que a maior parcela fosse de baixo risco e eutróficos respectivamente, devido ao maior acesso aos conhecimentos necessários para a manutenção da saúde e a importância para evitar os impactos decorrentes de maus hábitos de vida. Porém, no estudo realizado por Garbaccio e Oliveira (2019), foi evidenciado que os estudantes da área da saúde apresentaram comportamento alimentar insatisfatório quando comparado com os da área de humanas e exatas.
Outro ponto importante para destacar é a correlação do risco de disbiose com os cursos Nutrição, Fisioterapia e Enfermagem (tabela 4). Era esperado, e foi constatado, que o curso de Nutrição obtivesse a maior prevalência de baixo risco e a menor em médio risco, devido ao conhecimento dos alimentos que causam a hiper permeabilidade intestinal. Contudo, no que diz respeito ao alto risco, esperava-se que Nutrição tivesse a menor prevalência, porém, é possível que não tenha sido constatado devido a baixa parcela da amostra de estudantes do curso de Enfermagem que participaram da pesquisa.
Além disso, atualmente a constante evolução da ciência e a necessidade de profissionais cada vez mais qualificados exercem considerável pressão nos estudantes ao possuírem uma demanda contínua por maior produção bibliográfica, pela exigência de manter-se atualizado através da leitura e participação de congressos, pela escassez de tempo para conciliar estudos, trabalho e vida social, além de questões relacionadas à saúde mental ocasionadas pela incerteza à melhora da qualidade de vida (Marcilio et al., 2020).
No estudo de Santos et al., (2021), discutiu-se que o estado nutricional de profissionais da área da saúde têm sofrido impacto devido a carga horária de trabalho em conjunto com o estresse diário, que como consequência gera o desequilíbrio fisiológico a partir de alterações metabólicas, privação de um sono de qualidade, ansiedade e compulsão alimentar. Estes fatores somatizados são o ambiente ideal para o desenvolvimento do aumento de peso. Ou seja, apesar do conhecimento obtido durante a graduação, as condições ambientais em que são expostos podem influenciar significativamente no perfil nutricional, além de favorecerem o consumo de alimentos de alta densidade energética e baixo valor nutricional.
Ademais, a ingestão contínua de alimentos de baixa qualidade nutricional e hipercalóricos, como os açúcares refinados, gordura trans e alimentos industrializados, ocasionam a deficiência de micronutrientes essenciais para o funcionamento cerebral adequado, influenciando no “funcionamento dos neurotransmissores e no metabolismo energético do cérebro, podendo influenciar na memória, e por conseguinte desempenho acadêmico dos estudantes” (Costa, Petribú, Santos, 2023), além de alterar a microbiota intestinal e impactar no desenvolvimento de Disbiose Intestinal, que, como supracitado, traz como consequências o desequilíbrio metabólico, gástrico, imunológico, entre outros, bem como o aumento de peso (Oliveira et al., 2021; Santos et al., 2020).
No estudo de Valentim et al., (2024), quando aplicaram um questionário de avaliação subjetiva para verificar o risco de disbiose, descobriu-se que 51,92% obtiveram algum risco. Onde os mesmos investigaram a prevalência de sinais e sintomas de Disbiose Intestinal e hipersensibilidade alimentar e/ou ambiental entre os profissionais da área da saúde, em que a dieta rica em proteína de base animal era predominante, particularmente carne vermelha e produtos lácteos, o que pode levar à disbiose. Comparado a este trabalho, onde mais de 70% da população do estudo com risco de disbiose nível médio, o que, como supracitado, não se esperava visto que todos os estudantes são profissionais da saúde.
Entende-se que de forma geral os hábitos alimentares, nível de qualidade de vida, rotina universitária muitas vezes associado ao trabalho, estresse, ingestão de medicamentos antibióticos, atividades físicas, todos esses são fatores que contribuem para o risco de disbiose revelada por meio deste. Neste cenário, no desequilíbrio microbiano ou disbiose, bactérias nocivas colonizam desproporcionalmente o intestino em resposta à inflamação do hospedeiro. A composição da dieta é fundamental para direcionar a evolução de novas espécies de bactérias (Di Tommaso et al., 2021).
Embora as graduações em saúde forneçam conhecimento teórico sobre os benefícios e malefícios de alguns comportamentos, como a qualidade da alimentação, os cuidados com a microbiota intestinal, as horas mínimas adequadas de sono, a prática de atividade física, entre outros, a realidade prática dos estudantes da área da saúde pode ser complexa. Este contraste entre teoria e prática é observado em outros estudos, que demonstram que, mesmo entre os profissionais da saúde, o comportamento alimentar nem sempre é satisfatório (Garbaccio, Oliveira, 2019, Miranda, Vidigal, 2021, Valentim et al., 2024).
5 CONCLUSÃO
Diante dos resultados encontrados, mais de 80% da população estudada apresentou risco médio ou alto de disbiose intestinal. Isso sugere que, apesar do conhecimento acadêmico sobre saúde, profissionais e alunos da área da saúde não necessariamente adotam hábitos alimentares saudáveis, o que evidencia a desconexão entre teoria e prática. Esse fator preocupante foi identificado através da prevalência de alunos que apresentavam o estado nutricional inadequado, como o sobrepeso, a obesidade e baixo peso, que atingiu quase 70% dos estudantes avaliados, ou seja, apenas 30% dos estudantes foram classificados como eutróficos.
Além disso, a disbiose intestinal não apresentou correlação positiva com os cursos da área da saúde, o que reforça a necessidade de refletir sobre a aplicação dos conhecimentos nutricionais. Apesar da maior prevalência do risco médio e alto de disbiose intestinal na população do estudo, ao comparar esses riscos entre os estudantes de pós-graduação da área da saúde de uma instituição privada em Belém do Pará, notou-se que a área da Nutrição possuía um estado nutricional mais adequado quando comparado com os de Fisioterapia e Enfermagem, ainda que idealmente seja necessário adotar melhores costumes.
Ainda, durante o estudo, foi visto que apesar da população estudada ser vista como “promotora de saúde”, há desconhecimento do que é a disbiose intestinal e suas consequências. Sendo possível, no futuro, que este grupo possa desenvolver doenças com morbidade e mortalidade impactantes na nossa população, acarretando um envelhecimento sem qualidade de vida.
Dessa forma, sugere-se que ações educativas sejam realizadas voltadas a esse público, com o objetivo de enfatizar a importância de manter hábitos saudáveis. Isso inclui uma alimentação adequada e equilibrada, a prática regular de atividade física, as vantagens de priorizar as horas mínimas adequadas de sono, controle do estresse e a manutenção da saúde mental. Tais hábitos são fundamentais para prevenir a Disbiose Intestinal e garantir o estado nutricional adequado.
Outrossim, é necessário refletir sobre a importância da implementação urgente de programas educativos planejados pelos próprios educadores no ambiente acadêmico durante a formação do profissional da área da saúde ou que sejam integradas ao currículo acadêmico, com a finalidade não só de prevenir as patologias ocasionadas pelo desequilíbrio desses hábitos supramencionados, mas de melhorar o desempenho acadêmico e profissional almejado, promovendo melhorias em diversas esferas da vida dos indivíduos.
Por fim, a adoção desses hábitos saudáveis irá contribuir para a prevenção de patologias e de um desenvolvimento de um estilo de vida mais equilibrado e produtivo, o que beneficiará a qualidade de vida dos estudantes e profissionais da saúde e os tornará exemplos de indivíduos saudáveis à sociedade através de seus costumes.
6 REFERÊNCIAS
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1Nutricionista. Especialista em Nutrição Clínica do Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA, Belém – PA, Brasil. E-mail: alcionesouza986@gmail.com
2Nutricionista. Programa de Pós-Graduação em Nutrição Clínica do Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA, Belém – PA, Brasil. E-mail: nutriemanuelagalvao@gmail.com
3Nutricionista. Programa de Pós-Graduação em Nutrição Clínica do Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA, Belém – PA, Brasil. E-mail: giselybessa.nutri@gmail.com
4Nutricionista. Mestre em Saúde, Ambiente e Sociedade da Amazônia. Docente do curso de Nutrição Clínica do Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA, Belém – PA, Brasil. E-mail: jamilie.campos@prof.cesupa.br
5Nutricionista. Programa de Pós-Graduação em Nutrição Clínica do Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA, Belém – PA, Brasil. E-mail: nutri.manuelamarques@gmail.com
6Nutricionista. Mestre em Doenças Tropicais. Docente e Coordenadora da Pós-graduação em Nutrição Clínica do Centro Universitário do Estado do Pará – CESUPA, Belém – PA, Brasil. E-mail: simone.marques@prof.cesupa.br