EVALUATION OF LIMESTONE TAILINGS AS A SUSTAINABLE ALTERNATIVE FOR PAVING LAYERS ON HIGHWAYS IN THE AMAZON REGION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202507091020
José Carlos Dias Curvelo Júnior1
Kênia Vitor da Paixão2
Cézar Oliveira de Souza3
Andrea Barbieri de Barros4
Robinilson Gusen Braga5
Resumo
Este artigo avalia a viabilidade técnica e ambiental do uso de rejeitos de calcário, provenientes da atividade mineradora, como alternativa sustentável para camadas de pavimentação rodoviária na região Norte do Brasil. Foram realizados ensaios laboratoriais de caracterização geotécnica e mecânica, incluindo compactação, Índice de Suporte Califórnia (CBR), limites de Atterberg, granulometria e equivalente de areia, utilizando amostras coletadas em Espigão do Oeste (RO) e misturas com materiais de jazidas da rodovia RO-383. Os resultados demonstram que o rejeito de calcário in natura possui propriedades compatíveis com os requisitos normativos para uso em sub-bases estabilizadas, especialmente quando incorporado em proporções de até 30% em misturas com materiais naturais. A adoção desse resíduo como insumo alternativo pode reduzir significativamente a exploração de jazidas, diminuir custos de construção e mitigar impactos ambientais, promovendo práticas mais sustentáveis na engenharia rodoviária. O estudo reforça o potencial do rejeito de calcário como solução inovadora para a pavimentação, alinhando desenvolvimento econômico e responsabilidade ambiental.
Palavras-chave: pavimentação sustentável; rejeito de calcário; CBR; reciclagem de materiais;
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento sustentável da infraestrutura rodoviária é um dos grandes desafios enfrentados pelo Brasil, especialmente nas regiões Norte, onde a expansão da malha viária é fundamental para o escoamento da produção agrícola, integração regional e melhoria da qualidade de vida das populações locais. No entanto, a construção de rodovias demanda grandes volumes de materiais naturais, o que pode resultar em impactos ambientais significativos, como a degradação de jazidas e a geração de resíduos provenientes de atividades mineradoras.
Diante desse cenário, a busca por alternativas que conciliem desempenho técnico, viabilidade econômica e responsabilidade ambiental tornou-se prioridade para órgãos gestores e pesquisadores do setor. Entre as estratégias mais promissoras está o reaproveitamento de resíduos industriais e minerários, como o rejeito de calcário, que frequentemente é descartado de forma inadequada, gerando passivos ambientais e custos adicionais para as empresas mineradoras.
Este artigo apresenta uma avaliação detalhada do potencial de utilização do rejeito de calcário como insumo alternativo em camadas de pavimentação rodoviária, com foco nas sub-bases e bases granulares, além de seu emprego como substituto parcial do pó de pedra na capa asfáltica. A pesquisa, conduzida no estado de Rondônia, envolve a caracterização geotécnica e mecânica do material, bem como a análise comparativa de seu desempenho em misturas com materiais convencionais de jazidas locais. O objetivo é contribuir para a adoção de práticas mais sustentáveis e eficientes na engenharia rodoviária, promovendo a redução do impacto ambiental, o reaproveitamento de resíduos e a otimização dos recursos naturais disponíveis ou relevantes em termos teóricos e práticos.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
A fundamentação teórica para o uso do rejeito de calcário na pavimentação rodoviária está ancorada em três eixos principais: sustentabilidade ambiental, viabilidade técnica e conformidade normativa.
2.1. Sustentabilidade e Economia Circular
A crescente preocupação com a sustentabilidade ambiental e a escassez de recursos naturais tem impulsionado a busca por alternativas que promovam o reaproveitamento de resíduos industriais e minerários. Segundo Santos e Lopes (2021), a utilização de resíduos como o rejeito de calcário contribui significativamente para a redução do impacto ambiental, uma vez que minimiza a necessidade de exploração de novas jazidas e reduz o volume de resíduos depositados em aterros ou barragens. Essa abordagem está alinhada aos princípios da economia circular, que propõe a reinserção de resíduos nos ciclos produtivos, transformando passivos ambientais em ativos econômicos e promovendo o uso racional dos recursos naturais.
2.2. Viabilidade Técnica do Rejeito de Calcário
Diversos estudos demonstram que o rejeito de calcário apresenta propriedades físicas e mecânicas compatíveis com os requisitos para uso em camadas de sub-base e base de pavimentos rodoviários (Machado & Bernucci, 2017). Ensaios laboratoriais de compactação, Índice de Suporte Califórnia (CBR), limites de Atterberg, granulometria e equivalente de areia são fundamentais para avaliar o desempenho do material. Resultados apresentados por Curvelo Júnior et al. (2025) indicam que o rejeito de calcário in natura pode alcançar CBR de até 49%, superando o limite mínimo exigido pela norma DNIT 139/2010-ES para sub-bases estabilizadas granulometricamente, que é de 20%. Além disso, misturas contendo até 30% de rejeito mantêm a capacidade de suporte adequada, viabilizando sua aplicação sem comprometer a durabilidade ou a resistência das camadas estruturais.
2.3. Conformidade Normativa e Diretrizes Técnicas
A aplicação do rejeito de calcário em pavimentação deve seguir rigorosamente as normas técnicas brasileiras, como a ABNT NBR 7182 (Ensaio de compactação), DNIT-ME 164/2013 (Compactação Proctor Modificado), DNIT-ME 172/2016 (CBR), e DNIT 139/2010-ES (Especificação de materiais para sub-base). O atendimento a esses requisitos garante que o material alternativo apresente desempenho equivalente ou superior aos materiais convencionais, assegurando a qualidade, segurança e vida útil das obras rodoviárias.
2.4. Implicações para a Engenharia Rodoviária
A incorporação do rejeito de calcário como insumo alternativo representa uma inovação para a engenharia rodoviária brasileira, especialmente em regiões onde a disponibilidade de agregados naturais é limitada. Conforme os estudos realizados no estado de Rondônia, a adoção do rejeito pode reduzir custos de construção, promover o desenvolvimento regional e incentivar políticas públicas voltadas à sustentabilidade e à inovação tecnológica no setor de infraestrutura.
3 METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa aplicada, de natureza quantitativa, com abordagem experimental em laboratório, voltada à avaliação do desempenho técnico de um material alternativo para a infraestrutura viária. O método empregado foi o experimental comparativo, com base em ensaios normatizados, tendo como foco a mensuração objetiva de propriedades físicas e mecânicas do rejeito de calcário in natura e em misturas com materiais convencionais.
3.1. Delineamento da pesquisa
A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Ensaios Geotécnicos do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Rondônia (DER-RO). A estratégia metodológica consistiu na execução de ensaios laboratoriais de caracterização geotécnica e mecânica, de acordo com normas técnicas brasileiras, comparando os resultados do rejeito de calcário com materiais granulares provenientes de jazidas utilizadas em obras da região.
3.2. Amostragem e materiais
As amostras de rejeito de calcário foram coletadas na Companhia de Mineração de Rondônia (CMR), localizada na Rodovia RO-133, no município de Espigão do Oeste (RO).
Também foram obtidas amostras de materiais naturais de duas jazidas da Rodovia RO-383, no trecho entre a BR-364 e a Linha 11, no município de Cacoal (RO).
Para análise do comportamento mecânico das misturas, foram preparadas quatro composições com proporções distintas de rejeito de calcário, conforme descrito a seguir:
- Jazida Linha 10:
- 70% material da jazida + 30% rejeito
- 50% material da jazida + 50% rejeito
- Jazida Linha 32:
- 70% material da jazida + 30% rejeito
50% material da jazida + 50% rejeito
3.3. Procedimentos de coleta e preparação
As amostras foram coletadas manualmente, armazenadas em sacos plásticos e transportadas para o laboratório, onde passaram por processo de homogeneização, secagem ao ar e peneiramento, conforme critérios normativos. As misturas foram elaboradas em bancada, com pesagem gravimétrica dos componentes.
3.4. Técnicas e instrumentos de coleta de dados
Foram realizados os seguintes ensaios normatizados:
- Ensaio de Compactação Proctor Modificado (DNIT-ME 164/2013; NBR 7182/2016) – para determinar a densidade máxima e umidade ótima das amostras;
- Índice de Suporte Califórnia (CBR) (DNIT-ME 172/2016) – para avaliar a capacidade de suporte;
- Limites de liquidez e plasticidade (DNER-ME 122/94 e ME 082/94) – para classificar o solo quanto à plasticidade;
- Análise granulométrica (DNER-ME 080/94) – para caracterização da distribuição do tamanho dos grãos;
- Equivalente de areia (DNER-ME 054/97) – para determinar a proporção de finos não plásticos presentes no solo.
3.5. Procedimentos de análise dos dados
Os dados obtidos foram organizados em planilhas e submetidos a análise comparativa com base em critérios estabelecidos pelas normas do DNIT 139/2010-ES, referentes à aplicabilidade de materiais em camadas de sub-base de pavimentos. A análise foi feita considerando o comportamento individual do rejeito de calcário e suas misturas com materiais das jazidas, com ênfase em indicadores de desempenho como CBR, densidade e granulometria.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
4.1. Rejeito de Calcário in natura
O material apresentou Índice de Suporte Califórnia (CBR) de 49%, classificação HRB A-2-6 e equivalente de areia de 57,8%. Esses valores atendem plenamente aos critérios estabelecidos pela norma DNIT 139/2010 ES, que exige ISC ≥ 20% para aplicação em sub-bases estabilizadas granulometricamente (DNIT, 2010).
4.2. Misturas com Jazidas
Verificou-se que, quanto maior a adição de rejeito de calcário, menor o CBR das misturas:
- Jazida Linha 10: CBR caiu de 68% (jazida) para 61% (30% rejeito) e 42% (50% rejeito)
- Jazida Linha 32: CBR reduziu de 64% (jazida) para 62% (30% rejeito) e 48% (50% rejeito)
Esses dados confirmam que proporções moderadas, limitadas a até 30%, mantêm a capacidade de suporte aceitável, viabilizando o uso do material como sub-base com desempenho técnico satisfatório (MACHADO; BERNUCCI, 2017).
4.3. Implicações Técnicas
A introdução do rejeito como agregado alternativo exige compatibilização granulométrica e controle rigoroso das proporções utilizadas. Ensaios de densidade seca máxima e umidade ótima, realizados conforme a norma DNIT-ME 164/2013, confirmam a viabilidade de compactação adequada do material.
Figure 1 – Comparativos de Materiais Utilizados
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo evidenciam que o rejeito de calcário in natura apresenta desempenho técnico compatível com os requisitos normativos para aplicação em sub-bases de pavimentos rodoviários, especialmente quando utilizado em proporções de até 30% em misturas com materiais naturais de jazidas. O material demonstrou índices de suporte, granulometria e propriedades físicas adequadas, comprovando sua viabilidade como alternativa sustentável na infraestrutura viária.
A incorporação do rejeito de calcário representa um avanço significativo para a sustentabilidade no setor de pavimentação, pois contribui para a redução da extração de recursos naturais, a valorização de resíduos minerários e a mitigação dos impactos ambientais associados ao descarte inadequado desses materiais. Além disso, o aproveitamento do rejeito pode gerar benefícios econômicos, ao diminuir custos de aquisição e transporte de materiais convencionais, e sociais, ao fomentar o desenvolvimento regional e a geração de empregos.
Recomenda-se, portanto, a adoção do rejeito de calcário como insumo alternativo em obras rodoviárias, observando-se rigorosamente o controle das proporções e a compatibilização granulométrica das misturas para garantir o desempenho técnico e a durabilidade das camadas estruturais. Estudos complementares em escala piloto e avaliações de desempenho a longo prazo são fundamentais para consolidar a aplicação desse material em diferentes contextos geotécnicos e operacionais.
Em síntese, o reaproveitamento do rejeito de calcário se mostra uma solução inovadora, eficiente e alinhada aos princípios da economia circular, capaz de transformar desafios ambientais em oportunidades para a engenharia rodoviária brasileira e promover um modelo de desenvolvimento mais responsável e sustentável
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES (DNIT). ME 164/2013, ME 172/2016, DNIT 139/2010-ES.
DNER. ME 122/94, ME 082/94, ME 080/94, ME 054/97.
MACHADO, M. M.; BERNUCCI, L. L. Pavimentação Rodoviária: materiais, ensaios e projeto. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
SANTOS, S. R.; LOPES, F. A. Sustentabilidade na pavimentação: uso de resíduos como alternativa aos materiais convencionais. Revista Engenharia Civil, v. 28, n. 2, p. 37-52, 2021.
1 Docente do Curso Superior de Engenharia Civil no Centro Universitário São Lucas (UniSL), Campus Porto Velho. Mestre em Engenharia Civil da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E-mail: jose.carlos@saolucas.edu.br
2 Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade de Brasília (UnB). Engenheira Civil do Departamento de Estradas e Rodagem e Transportes de Rondônia, RO. E-mail: kenianatha@gmail.com
3 Graduado em Engenharia de Produção Civil pelo CEFET-MG e Mestre em Administração da universidade Federal de Rondônia (PPGMAD/UNIR). E-mail: <cezaros@gmail.com
4 Docente do Curso superior de Medicina da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Graduada medicina e Mestre em Ciências da Saúde da universidade Federal do Mao Grosso (UFMT). E-mail: <dra.andrea.barbieri@gmail.com
5 Graduado em Engenharia Civil pela FARO, Pós-graduado em Infraestrutura de Transportes e Rodovias pela UNICID. E-mail: robinilsonbraga@hotmail.com