AVALIAÇÃO DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO RELACIONADO À COVID-19 LONGA ENTRE O PERÍODO DE 2021 A 2024 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202505101848


Gabriel Yuri Kikuchi
Ian Quinhones da Silva
Lucas Parmejiani Toigo
Vinicius de Souza Pinto
Deusilene Vieira


RESUMO 

A COVID longa tem sido amplamente reconhecida como uma condição multifatorial, caracterizada pela persistência de sintomas após a fase aguda da infecção pelo SARS-CoV-2. Este estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico da COVID longa entre 2021 e 2024, identificando fatores de risco, sintomas mais prevalentes e impactos na qualidade de vida dos pacientes. A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão integrativa da literatura, incluindo 46 estudos publicados em bases científicas indexadas. Os resultados apontaram que a prevalência da COVID longa varia entre diferentes populações, sendo mais comum em mulheres, idosos e indivíduos com comorbidades preexistentes, como doenças cardiovasculares, diabetes e imunossupressão. Os sintomas mais relatados foram fadiga, disfunções neurológicas, dispneia e dores musculoesqueléticas, com impacto significativo na funcionalidade e no bem-estar dos pacientes. A vacinação demonstrou reduzir o risco e a severidade da COVID longa, embora não elimine completamente a possibilidade de sintomas persistentes. No entanto, ainda existem desafios no diagnóstico e na abordagem terapêutica da síndrome, destacando-se a necessidade de diretrizes clínicas padronizadas e estratégias multidisciplinares para o manejo da condição. Os achados reforçam que a COVID longa representa um problema de saúde pública, exigindo políticas eficazes para sua prevenção, acompanhamento e tratamento. 

Palavras-chave: COVID longa. Epidemiologia. Vacinação. Saúde pública. 

INTRODUÇÃO 

No cenário global, o ano de 2020 foi marcado pelo surgimento de um surto de pneumonia aguda de causa desconhecida. O primeiro caso foi registrado em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, província de Hubei, China. A condição foi posteriormente identificada como resultante da infecção pelo coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARSCoV-2), levando à nomeação da doença como COVID-19 (Liu et al., 2020). 

Os coronavírus pertencem à família Coronaviridae e são conhecidos por causar desde infecções respiratórias leves, como resfriados comuns, até doenças graves, incluindo a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) (Rosa, Simioni & Damião, 2020). A rápida disseminação do SARS-CoV-2 resultou em um aumento expressivo de casos, caracterizando um surto global. Em resposta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em 30 de janeiro de 2020, a COVID-19 como uma emergência de saúde pública de interesse internacional (Prado et al., 2020).  

No Brasil, o Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional em 3 de fevereiro de 2020, por meio da Portaria nº 188. O primeiro caso confirmado foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo, impulsionando a adoção de medidas preventivas, como a higienização das mãos e a etiqueta respiratória (Oliveira et al., 2020). 

Atualmente, o Brasil registra 38.743.918 casos confirmados da doença, distribuídos por todas as regiões do país, com a região Sudeste concentrando mais de 15 milhões de casos. O número total de óbitos atingiu 711.380, com uma média diária de 131 novas mortes, de acordo com o Painel Coronavírus, atualizado regularmente pelo Ministério da Saúde (Coronavírus Brasil, 2024). 

A infecção pelo SARS-CoV-2 pode se apresentar de forma assintomática ou evoluir para a COVID-19, que pode variar de leve a crítica. Na fase aguda, os sintomas mais comuns incluem fadiga, dispneia, cefaleia, mialgia, artralgia, tosse, dor torácica, anosmia, ageusia e diarreia, geralmente manifestando-se entre cinco e seis dias após a exposição ao vírus, com duração de um a 14 dias (Pádua et al., 2023). 

Além do quadro agudo, um número significativo de pacientes apresenta sintomas persistentes mesmo após a resolução da infecção viral. Essa condição, conhecida como “COVID longa” ou “síndrome pós-COVID”, engloba um conjunto heterogêneo de manifestações clínicas, incluindo fadiga crônica, dispneia, disfunções neurológicas e cardiovasculares, que podem perdurar por semanas ou meses após a infecção inicial (Raveendran, Jayadevan & Sashidharan, 2021; Cavalaro et al., 2023). 

Estudos sobre a COVID longa são fundamentais para compreender a fisiopatologia da condição e identificar estratégias terapêuticas eficazes. A maioria dos pacientes com essa síndrome apresenta testes de PCR negativos, indicando a recuperação microbiológica, o que sugere que os sintomas persistentes não estão relacionados à replicação viral ativa, mas possivelmente a processos inflamatórios e imunológicos prolongados (Raveendran, Jayadevan & Sashidharan, 2021; Cavalaro et al., 2023). 

Diante desse contexto, a investigação da COVID longa é essencial para ampliar o conhecimento sobre a doença, avaliar seu impacto na qualidade de vida dos pacientes e aprimorar estratégias de diagnóstico, tratamento e prevenção. Assim, este estudo teve como objetivo analisar o perfil epidemiológico da COVID longa em adultos no período de 2021 a 2024, contribuindo para uma melhor compreensão dessa condição e para a formulação de políticas de saúde pública mais eficazes. 

METODOLOGIA 

A metodologia adotada baseia-se em uma revisão integrativa, conduzida por meio de buscas em bases de dados científicas indexadas, com o objetivo de identificar estudos sobre a epidemiologia da COVID-19 longa.  

A busca bibliográfica foi realizada nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e PubMed, acessadas por meio de seus respectivos portais eletrônicos. Para a seleção dos artigos, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: (i) estudos primários, (ii) publicados entre 2021 e 2024, (iii) disponíveis em português ou inglês e (iv) realizados com adultos. Como critérios de exclusão, consideraram-se: (i) artigos de revisão, (ii) estudos duplicados, (iii) textos não disponíveis na íntegra e (iv) pesquisas sem relação direta com o tema da revisão. 

A seleção dos artigos ocorreu em duas etapas. Inicialmente, foram definidos os descritores mais adequados à pergunta de pesquisa, utilizando os termos indexados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os descritores selecionados foram: “post covid”, “long covid”, “signs and symptoms” e “epidemiology”, todos em inglês, a fim de ampliar o escopo da busca. Durante a pesquisa, esses termos foram combinados por meio dos operadores booleanos AND e OR. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A busca inicial resultou em 2.442 artigos, após a aplicação dos critérios de inclusão, conforme tabela 1.

Tabela 1 – Estratégia de buscas nas bases de dados através dos descritores 

Base de dados Combinação dos descritores Resultados 
PubMed (((post covid) OR (long covid)) AND (Epidemiology)) AND (Signs and Symptoms)  1390 
MEDLINE e LILACS (no portal BVS) (post covid) OR (long covid) AND (epidemiology) AND (Signs and Symptoms)  1052 
                                                           TOTAL 2442 
Fonte: Elaborado pelos autores (2025)

Utilizado os critérios de exclusão, com base na leitura dos títulos e resumos esse total foi reduzido para 503 artigos.  Posteriormente, foram excluídos 91 artigos duplicados, 105 que não estavam disponíveis para download gratuito e 261 estudos de revisão, editoriais e outras publicações irrelevantes para o tema. Após a aplicação dos critérios de seleção, foram incluídos 46 artigos para esta revisão integrativa, sendo 3 de 2021, 7 de 2022, 8 de 2023 e 28 de 2024. 

Os estudos selecionados estão apresentados no Quadro 1. 

Quadro 1 – Características dos estudos incluídos na revisão integrativa.

Ano/AutoresTítulo Tipo de estudoObjetivoPrincipais resultados
2021/ Brito-Zerón et al.Post-COVID-19 syndrome in patients with primary Sjögren’s syndrome  Estudo observacionalAnalisar a frequência e características da COVID longa em pacientes com síndrome de Sjögren primária 57% dos pacientes continuaram sintomáticos após 5 meses, com fadiga, ansiedade/depressão e dor muscular como sintomas comuns. 
2021 / Ares-Blanco et al. SARS-CoV-2 pneumonia follow-up and long COVID in primary care Estudo observacional retrospectivoDescrever o acompanhamento da pneumonia por SARS-CoV-2 e definir marcos para a COVID longa Após 4 semanas, 28.3% dos pacientes ainda apresentavam sintomas; aos 12 meses, 8.3% relataram sintomas persistentes.
2021 / Peghin et al. Post-COVID-19 symptoms 6 months after acute infection among hospitalized and non-hospitalized patients Estudo de coorte bidirecional Avaliar a prevalência e fatores associados à síndrome pósCOVID-19 seis meses após a infecção 40.2% dos pacientes apresentaram síndrome pós-COVID-19; presença de anticorpos IgG foi associada à persistência dos sintomas. 
2022 / O’Hare et al.Complexity and Challenges of the Clinical Diagnosis and Management of Long COVID Estudo qualitativo Analisar desafios clínicos no diagnóstico e manejo da COVID longa no sistema de saúde dos EUA Dificuldade na atribuição de sintomas específicos à COVID longa; fragmentação no atendimento foi um problema identificado. 
2022 / Hawar et al. Long COVID-19 prevalence among a sample of infected people in Erbil City Estudo transversalEstimar a prevalência de sintomas persistentes em sobreviventes da COVID-19 e sua relação com comorbidades 54.67% apresentaram síndrome pósCOVID-19; maior prevalência entre pacientes com doenças crônicas. 
2022 / Bai et al. Female gender is associated with long COVID syndrome: a prospective cohort study Estudo de coorte prospectivo Investigar a associação entre gênero feminino e COVID longa 69% dos pacientes desenvolveram COVID longa; gênero feminino foi fator de risco independente (OR 3.3, p<0.0001). 
2022 / Moura et al. Central hypersomnia and chronic insomnia: expanding the spectrum of sleep disorders in long COVID syndrome Estudo de coorte prospectivo Avaliar a prevalência e características dos distúrbios do sono em pacientes com COVID longa Insônia foi relatada por 22.2% dos pacientes e hipersonia por 3.17%. Fatores como uso de esteroides e depressão estiveram associados aos distúrbios do sono 
2022 / Larijani et al. Characterization of long COVID-19 manifestations and its associated factors Estudo de coorte prospectivo Avaliar a incidência e fatores de risco associados à COVID longa 91.6% relataram sequelas neurológicas; idade e comorbidades aumentaram a susceptibilidade à COVID longa. 
2022 / Arjun et al. Characteristics and predictors of Long COVID among diagnosed cases of COVID-19 Estudo observacional prospectivo Estimar a incidência e identificar preditores de COVID longa Incidência de 29.2% após 4 semanas e 9.4% após 6 meses; doença mais grave associada a maior risco. 
2022 / Weinstock et al. Restless legs syndrome is associated with long-COVID in women Estudo transversal Investigar a relação entre síndrome das pernas inquietas e COVID longa A prevalência da síndrome das pernas inquietas aumentou de 5.7% para 14.8% após a COVID em mulheres. 
2023 / Dini et al. Acute pericarditis as a major clinical manifestation of long COVID-19 syndrome Estudo retrospectivo Investigar a prevalência e características clínicas de pacientes com COVID longa apresentando pericardite aguda 22% dos pacientes apresentaram pericardite; palpitações e doenças autoimunes foram fatores de risco associados. 
2023 / Mohtasham-Amiri et al. Long-COVID and general health status in hospitalized COVID-19 survivors Estudo transversal Avaliar complicações da COVID longa em sobreviventes hospitalizados 92.5% apresentaram sintomas persistentes, sendo queda de cabelo (61.4%) e fadiga (54.1%) os mais comuns. 
2023 / Shah et al. Long Covid symptoms and diagnosis in primary care: A cohort study Estudo de coorte Investigar sintomas associados ao diagnóstico de COVID longa na atenção primária Fadiga, falta de ar e palpitações foram os sintomas mais comuns após 12 semanas da infecção. 
2023 / Tauekelova et al. Association of Lung Fibrotic Changes and Cardiological  Dysfunction with Comorbidities in Long COVID-19 Cohort Estudo observacional Analisar a relação entre fibrose pulmonar, disfunção cardíaca e comorbidades na COVID longa Pacientes com hipertensão apresentaram maior disfunção cardíaca; fibrose pulmonar foi prevalente. 
2023 / Falsetti et al.The Relationship between PostCOVID Syndrome and the Burden of ComorbiditiesEstudo de coorte retrospectivo Investigar a correlação entre índice de comorbidade de Charlson e risco de COVID longa Pacientes com maior carga de comorbidades apresentaram maior risco de desenvolver COVID longa.
2023 / Duwel et al.A Cross-Sectional Study of the Physical and Mental WellBeing of Long COVID Patients in Aruba Estudo transversal Investigar padrões e prevalência de sintomas persistentes da COVID longa Fadiga (37.8%) e dispneia (38.7%) foram os sintomas mais comuns; mulheres apresentaram piores desfechos de saúde. 
2023 / Durstenfeld et al. Association of SARS‐CoV‐2  Infection and Cardiopulmonary Long COVID With Exercise Capacity Estudo transversal Avaliar a relação entre COVID longa cardiopulmonar e a capacidade de exercício em pessoas vivendo com HIV Pessoas vivendo com HIV apresentaram menor capacidade de exercício e incompetência cronotrópica mais prevalente
2023 / Wan et al. Long COVID active case detection initiative among COVID-19 patients in Port Dickson, Malaysia Estudo retrospectivo Determinar a proporção e fatores associados à COVID longa na Malásia 27.4% apresentaram sintomas persistentes; fadiga e dor muscular foram os mais frequentes. 
2024 / Alharbi et al. Long COVID-19 and Coexistence of Fatigue and Depression: A Crosssectional Study from Saudi Arabia Estudo transversal Analisar a prevalência e relação entre fadiga e depressão na COVID longa 22.7% dos participantes relataram fadiga, e depressão foi um preditor significativo da COVID longa
2024 / Appel et al. Definition of the Post-COVID syndrome using a symptom-based PostCOVID score in a prospective, multicenter, cross-sectoral cohort Estudo de coorte multicêntrico Avaliar a funcionalidade e correlações de um escore de sintomas para COVID longaO escore foi associado à gravidade da infecção, número de comorbidades e qualidade de vida reduzida.
2024 / Cornelissen et al. Fatigue and symptom-based clusters in post COVID-19 patients: a multicentre, prospective, observational cohort study Estudo multicêntrico prospectivo Avaliar a ocorrência de fadiga e identificar padrões de sintomas em pacientes com COVID longa 75.9% relataram fadiga 3-6 meses após a infecção; 52.7% atenderam aos critérios para Síndrome da Fadiga Crônica.
2024 / El Otmani et al. Prevalence, characteristics and risk factors in a Moroccan cohort of Long-Covid-19 Estudo observacional Estimar a prevalência e fatores de risco da COVID longa no Marrocos 47.4% dos pacientes apresentaram COVID longa; gravidade da infecção pulmonar foi principal fator de risco. 
2024 / EllingjordDale et al. Temporal trajectories of long-COVID symptoms in adults with 22 months follow-up in a prospective cohort study in Norway Estudo de coorte prospectivo Avaliar a evolução dos sintomas da COVID longa em adultos ao longo de 22 meses Sintomas como fadiga, anosmia e dificuldades cognitivas persistiram até 22 meses após a infecção.
2024 / Fang et al. Development and validation of a prognostic model for assessing long COVID risk following Omicron wave—a large population-based cohort study Estudo de coorte prospectivoDesenvolver e validar um modelo preditivo de risco para COVID longa 34.5% dos pacientes relataram COVID longa, com fadiga, insônia e tosse como sintomas mais comuns. 
2024 / Nakano et al. Occult endocrine disorders newly diagnosed in patients with post-COVID-19 symptoms Estudo retrospectivo Identificar doenças endócrinas ocultas diagnosticadas em pacientes com COVID longa 6.8% dos pacientes tiveram novos diagnósticos, com doenças endócrinas e metabólicas sendo as mais comuns. 
2024 / Foppiani et al. Long-COVID symptom monitoring: Insights from a twoyear telemedicine studyEstudo longitudinal Analisar a evolução dos sintomas da COVID longa ao longo de dois anos usando telemedicina 61% relataram sintomas após 2 anos; vacinação reduziu a prevalência de sintomas persistentes. 
2024 / Gourgoura et al.Modelling the longterm health impact of COVID-19 using Graphical Chain Models Estudo observacional com modelagem estatística Examinar a relação entre fatores predisponentes e sintomas persistentes da COVID longa IMC elevado e tabagismo aumentaram o risco de internação em UTI; fadiga e depressão foram interligadas e não dependiam do tempo de seguimento. 
2024 / Jebrini et al. Effects of cognitive training and group psychotherapy on cognitive performance of post COVID-19 patients Ensaio clínico não randomizado Avaliar os efeitos do treinamento cognitivo e psicoterapia em pacientes com COVID longa Melhoras significativas em funções cognitivas, especialmente memória verbal e habilidades visuoespaciais. 
2024 / Kamalakkannan et al. Factors associated with general practitioner-led  diagnosis of long COVID Estudo observacional retrospectivo Identificar fatores associados ao diagnóstico de COVID longa por médicos de atenção primária Mulheres, indivíduos de 40-59 anos e pacientes com doenças preexistentes tiveram maior probabilidade de diagnóstico. 
2024 / Low et al. Nirmatrelvir/ritonavir treatment and the risk of post-COVID condition over 180 days in Malaysia Estudo de coorte retrospectivo Avaliar o impacto do tratamento com nirmatrelvir/ritonavir na redução dos sintomas da COVID longa O tratamento não reduziu significativamente a incidência da COVID longa após 3 e 6 meses, mas reduziu sintomas emocionais negativos. 
2024 / Resendez et al. Defining the Subtypes of Long COVID and Risk Factors for Prolonged Disease: Population- Based Case-Crossover Study Estudo de casocontrole baseado em população Definir subtipos de COVID longa e fatores de risco para doença prolongada Identificadas 17 subcategorias de COVID longa; pacientes mais velhos e comorbidades apresentaram maior risco. 
2024 / Villa et al. High Prevalence of Long COVID in Common Variable Immunodeficiency:  An Italian Multicentric Study Estudo multicêntrico observacional Investigar a prevalência da COVID longa em pacientes com imunodeficiência comum variável 65.7% dos pacientes desenvolveram COVID longa; obesidade e fenótipo clínico complicado foram fatores de risco significativos. 
2024 / Tebeka et al. Complex association  between post-COVID-19 condition and anxiety and depression symptomsEstudo epidemiológico transversal Explorar a relação entre a COVID longa e sintomas de ansiedade e depressão 21% apresentaram ansiedade e 18% depressão; sintomas pré-existentes podem influenciar o desenvolvimento da COVID longa. 
2024 / Lim et al. Prevalence and predictors of post-acute COVID syndrome among infected healthcare workersEstudo transversal Avaliar a prevalência e fatores preditivos de COVID longa em profissionais de saúde 50.7% relataram sintomas persistentes; fadiga e tosse foram as queixas mais frequentes. 
2024 / Lawson et al. Long COVID and cardiovascular disease: a prospective cohort study Estudo de coorte prospectivo Avaliar o impacto das doenças cardiovasculares na recuperação da COVID longaPacientes com doenças cardiovasculares tiveram menor taxa de recuperação após 12 meses. 
2024 / Costa et al. Síndrome pósCOVID-19 e qualidade de vida em mulheresEstudo de coorte prospectivo Determinar o perfil clínico e epidemiológico da COVID longa e seu impacto na qualidade de vida de mulheres Mulheres tiveram maior prevalência de sintomas persistentes e pior qualidade de vida em comparação aos homens. 
2024 / Obeidat et al. Prevalence and characteristics of long COVID-19 in Jordan Estudo transversal Determinar a prevalência e características da COVID longa na população da Jordânia Tinnitus, problemas de concentração e dores musculoesqueléticas foram os sintomas mais prevalentes.
2024 / Ostlind et al. Dizziness-related disability in persons with post-COVID condition Estudo transversal Examinar a severidade e impacto da tontura na COVID longa 51.8% apresentaram incapacidade moderada ou severa relacionada à tontura. 
2024 / Matviichuk et al.Unveiling risk factors for post-COVID-19 syndrome development in people with type 2 diabetes Estudo observacionalIdentificar preditores de desenvolvimento da COVID longa em diabéticos tipo 2 Diabetes recém-diagnosticada, alta HbA1c e eventos cardiovasculares prévios foram fatores de risco.
2024 / Lee et al. Prevalence of orthostatic intolerance in long covid clinic patients and healthy volunteers Estudo multicêntrico Estimar a prevalência de intolerância ortostática em pacientes com COVID longa 52% dos pacientes relataram sintomas de intolerância ortostática; 15% apresentaram teste objetivo anormal. 
2024 / Lo et al. Long COVID symptoms after 8month recovery: persistent static lung hyperinflation associated with small airway dysfunction Estudo observacional de coorte Investigar a relação entre hiperinsuflação pulmonar estática e disfunção das vias aéreas em pacientes com COVID longa 53.1% apresentaram hiperinsuflação pulmonar; sintomas respiratórios persistiram em 57% dos pacientes após 8 meses.
2024 / Niewolik et al. Cluster analysis of long COVID symptoms for deciphering a syndrome and its long-term consequenceEstudo observacional com análise de cluster Identificar padrões de agrupamento dos sintomas da COVID longa Os sintomas foram agrupados em três clusters: reumatológicos e neurológicos, neuropsicológicos e cardiorrespiratórios, e sinais gerais de infecção. 
2024 / Sangkaew et al. Unveiling PostCOVID-19 syndrome: incidence, biomarkers, and clinical phenotypes in a Thai population Estudo de coorte bidirecional Investigar a incidência, biomarcadores e fenótipos clínicos da COVID longa 47% dos participantes apresentaram COVID longa, com fadiga e queda de cabelo sendo os sintomas mais comuns; níveis elevados de ALP foram um preditor significativo 
2024 / Watase et al. Cough and sputum in long COVID are associated with severe acute COVID-19: a Japanese cohort studyEstudo de coorte multicêntrico Identificar fatores de risco para tosse e produção de escarro em pacientes com COVID longa Pacientes com infecção grave e suporte ventilatório tiveram maior risco de sintomas persistentes de tosse e escarro aos 12 meses. 
2024 / Salci et al. Long COVID among Brazilian Adults and Elders 12 Months after Hospital Discharge Estudo de coorte populacional Analisar a prevalência e fatores associados à COVID longa em adultos e idosos no Brasil 64.2% apresentaram COVID longa; sintomas neurológicos, musculoesqueléticos e respiratórios foram os mais comuns. 
2024 / Zuo et al. The persistence of SARS-CoV-2 in tissues and its association with long COVID symptoms: a cross-sectional cohort study in China Estudo de coorte transversal Investigar a persistência do SARS-CoV-2 em tecidos humanos e sua associação com a COVID longa RNA viral foi encontrado em múltiplos órgãos até 4 meses após a infecção; maior carga viral esteve associada a sintomas persistentes.
Fonte: Elaborado pelos autores (2025) 
Perfil epidemiológico da COVID longa (2021-2024) 

A COVID longa afeta uma parcela significativa dos indivíduos previamente infectados pelo SARS-CoV-2. Estudos demonstram uma variação na prevalência da síndrome em diferentes populações, com taxas que oscilam de 27,4% na Malásia (Wan et al., 2023) a 64,2% no Brasil (Salci et al., 2024), evidenciando que fatores geográficos, demográficos e socioeconômicos desempenham um papel crucial na manifestação da condição (O’Hare et al., 2022; Hawar et al., 2022; Moura et al., 2022; Alharbi et al., 2024). No estudo de Sangkaew et al. (2024), realizado na Tailândia, a prevalência de COVID longa atingiu 47%, com maior incidência em mulheres e em indivíduos com comorbidades prévias. De forma semelhante, Villa et al. (2024) destacaram que pacientes com imunodeficiências primárias apresentaram uma taxa de COVID longa de 65,7%, sugerindo que a resposta imunológica desempenha um papel importante na persistência dos sintomas. 

Fatores como sexo, idade e gravidade da infecção inicial também influenciam o risco de desenvolver COVID longa. A pesquisa de Peghin et al. (2021), conduzida na Itália, apontou que mulheres tinham um risco 1,55 vezes maior de desenvolver a síndrome quando comparadas aos homens. Além disso, pacientes que necessitaram de hospitalização, especialmente aqueles internados em unidades de terapia intensiva (UTI), apresentaram uma probabilidade significativamente maior de desenvolver sequelas persistentes (Peghin et al., 2021; Salci et al., 2024). Na análise conduzida por Resendez et al. (2024), que avaliou um grande banco de dados populacional nos Estados Unidos, foi identificado que pacientes com idade avançada e múltiplas comorbidades apresentaram maior risco de desenvolver COVID longa. 

No Brasil, um estudo de coorte conduzido por Salci et al. (2024) demonstrou que a prevalência da COVID longa em pacientes hospitalizados foi de 64,2%, com maior incidência em mulheres e idosos. Além disso, o risco de desenvolver sintomas persistentes foi duas vezes maior para pacientes internados em enfermaria e três vezes maior para aqueles que necessitaram de UTI, reforçando a relação entre gravidade da infecção inicial e persistência dos sintomas. 

Além das diferenças geográficas e populacionais, a dificuldade no reconhecimento da COVID longa como uma condição clínica específica tem sido um problema, isto porque, como apontou O’Hare et al. (2022), a fragmentação no atendimento e a ausência de critérios diagnósticos padronizados dificultam a identificação precoce da síndrome e impactam de forma negativa no cuidado com os pacientes. 

Sintomas persistentes e impactos na qualidade de vida 

Os sintomas persistentes da COVID longa são amplamente variáveis, afetando múltiplos sistemas do organismo e impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Estudos demonstram que os sintomas mais frequentes incluem fadiga, dispneia, disfunções neurológicas (como “brain fog”) e dores musculoesqueléticas (El Otmani et al., 2024; Nakano et al., 2024; Gourgoura et al., 2024; Jebrini et al., 2024; Resendez et al., 2024; Villa et al., 2024). 

A fadiga é frequentemente descrita como o sintoma mais incapacitante da COVID longa, afetando cerca de 75,9% dos pacientes imunossuprimidos segundo Villa et al. (2024). Estudos realizados em diferentes países confirmam essa tendência: 54% na Malásia (Wan et al., 2023), 49,8% no Brasil (Salci et al., 2024) e 47% na Tailândia (Sangkaew et al., 2024). Em uma análise conduzida por Cornelissen et al. (2024), a fadiga foi identificada como um fatorchave na redução da capacidade laboral dos indivíduos afetados, limitando sua produtividade e aumentando os custos socioeconômicos da COVID longa. 

Além da fadiga, sintomas respiratórios e cardiovasculares são amplamente relatados. Watase et al. (2024) identificaram que pacientes que tiveram COVID-19 grave apresentaram persistência de tosse e produção de muco por mais de 12 meses, especialmente aqueles que necessitaram de ventilação mecânica invasiva. A análise de Tauekelova et al. (2023) revelou que 36,6% dos pacientes apresentaram fibrose pulmonar, enquanto 27% desenvolveram disfunções cardíacas persistentes.  

Figura 1 – Curso da doença COVID-19 

Fonte: Koc et al. (2022) 

Os sintomas neurológicos também são recorrentes, como a chamada “brain fog” (névoa mental) que tem sido documentada, sendo caracterizada por dificuldades cognitivas, lapsos de memória e falta de concentração. Dini et al. (2023) e Shah et al. (2023) indicam que cerca de 30% a 40% dos pacientes com COVID longa relataram comprometimento cognitivo. Adicionalmente, Weinstock et al. (2022) encontraram uma associação entre COVID longa e síndrome das pernas inquietas, sugerindo que distúrbios do sono e problemas neurológicos podem estar interligados. Além disso, Tebeka et al. (2024) analisaram a relação entre COVID longa e transtornos psiquiátricos, demonstrando que pacientes com sintomas persistentes apresentavam maior risco de desenvolver ansiedade e depressão. 

No quesito sono, Moura et al. (2022) relataram que 22,2% dos pacientes desenvolveram insônia crônica, enquanto 3,17% apresentaram hipersonia, sugerindo uma disfunção no eixo neuroendócrino pós-COVID. 

Outro aspecto é a associação entre COVID longa e manifestações musculoesqueléticas. Segundo Foppiani et al. (2024), 48,7% dos pacientes apresentaram dor muscular ou articular, tornando a mobilidade um desafio diário. Achados semelhantes foram identificados por Falsetti et al. (2023), que indicaram que a doença pode induzir processos inflamatórios crônicos, exacerbando quadros pré-existentes de artrite e dores musculares. 

Com relação aos sintomas mais frequentes, a Figura 1 é a representação dos sintomas mais amplamente referidos nos textos analisados nesta revisão, quais sejam: 

Figura 2 – Distribuição dos sintomas mais frequentes da COVID Longa 

Fonte: Elaborado pelos autores (2025) 

Em relação ao impacto na qualidade de vida, Lawson et al. (2024) observaram que mais de 60% dos pacientes com COVID longa relataram redução na capacidade de realizar atividades cotidianas, incluindo trabalho e lazer. Esse impacto foi particularmente notável em indivíduos mais velhos e em mulheres, conforme relatado por Ellingjord-Dale et al. (2024). Brito-Zéron et al. (2021) destacaram que a persistência dos sintomas afeta diretamente a funcionalidade do paciente, aumentando os casos de afastamento do trabalho e aposentadorias precoces por invalidez. 

Associação entre COVID longa e condições pré-existentes 

Estudos aponta ainda que indivíduos com histórico de doenças crônicas apresentam maior probabilidade de complicações pós-COVID-19 e que pacientes com doenças cardiovasculares parecem ser um dos grupos mais vulneráveis (Low et al., 2024; Costa et al., 2024; Matviichuk et al., 2024; Lee et al., 2024).  

O estudo de Tauekelova et al. (2023) indicou que 27% dos pacientes com COVID longa apresentaram disfunção cardíaca persistente, incluindo alterações na pressão arterial e arritmias, com maior incidência em indivíduos hipertensos. Achados similares foram relatados por Fang et al. (2024), que destacaram uma relação entre COVID longa e insuficiência cardíaca de início tardio. Além disso, Durstenfeld et al. (2023) identificaram que pacientes que desenvolveram COVID longa apresentavam níveis elevados de biomarcadores inflamatórios cardíacos, sugerindo um mecanismo de dano vascular prolongado. 

A diabetes mellitus também se mostrou um fator de risco significativo. Segundo Mohtasham-Amiri et al. (2023), indivíduos diabéticos apresentaram uma chance 2,3 vezes maior de desenvolver COVID longa em comparação com aqueles sem a doença. Além disso, Ostlind et al. (2024) relataram que a inflamação crônica associada ao diabetes pode potencializar processos inflamatórios desencadeados pela infecção por SARS-CoV-2, aumentando a persistência dos sintomas. Arjun et al. (2022) sugerem que a hiperglicemia pode contribuir para a disfunção mitocondrial e fadiga crônica relatada em pacientes com COVID longa. 

Em pacientes com doenças pulmonares pré-existentes também se percebe maior risco, como em uma coorte realizada por Wan et al. (2023), em que indivíduos com asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) apresentaram taxas significativamente mais altas de COVID longa e sintomas respiratórios persistentes. Watase et al. (2024) corroboram essa correlação, observando que a persistência de tosse produtiva e dispneia estava diretamente associada a danos pulmonares prévios e à gravidade da infecção inicial. 

Nos estudos incluídos nessa revisão, a imunossupressão também se destaca como fator predisponente. Segundo Villa et al. (2024), pacientes com imunodeficiência comum variável apresentaram uma prevalência de COVID longa de 65,7%, sendo a fadiga e as infecções recorrentes os sintomas mais comuns. Ellingjord-Dale et al. (2024) também perceberam que indivíduos imunossuprimidos, incluindo aqueles em tratamento com imunobiológicos, tinham uma resposta imune menos eficiente contra a COVID-19, prolongando a replicação viral e aumentando a severidade dos sintomas pós-infecção. 

Também tem sido investigada a relação entre COVID longa e distúrbios psiquiátricos, como em Tebeka et al. (2024) que encontraram uma forte associação entre COVID longa e sintomas de ansiedade e depressão, sugerindo que fatores neuroinflamatórios podem estar envolvidos no desenvolvimento dessas condições. Shah et al. (2023) relataram ainda que pacientes com histórico prévio de transtornos psiquiátricos apresentavam maior risco de sintomas persistentes relacionados à COVID longa, reforçando a existência de alterações neurometabólicas de longa duração. 

Alterações endócrinas também foram documentadas por Nakano et al. (2024) que identificaram que 6,8% dos pacientes desenvolveram distúrbios metabólicos e endócrinos após a infecção, com impacto na regulação hormonal e na função tireoidiana. 

Sobre a persistência viral e sua relação com a COVID longa, o estudo conduzido por Zuo et al. (2024) revelou a presença de RNA viral em tecidos humanos até quatro meses após a infecção, sugerindo que a replicação viral residual pode estar associada à inflamação crônica e à perpetuação dos sintomas. 

Papel da vacinação na prevenção e gravidade da COVID longa 

Em um estudo conduzido por Ellingjord-Dale et al. (2024), foi identificado que a vacinação reduziu em 41% o risco de COVID longa em indivíduos que contraíram a infecção. Os resultados de Wan et al. (2023) indicaram que pacientes não vacinados tinham uma probabilidade significativamente maior de apresentar fadiga e problemas respiratórios persistentes. Além disso, Lawson et al. (2024) reforçaram que a imunização completa foi associada a uma menor intensidade de sintomas neurológicos e musculoesqueléticos após a infecção. 

A análise de Obeidat et al. (2024) também confirmou esses achados, evidenciando que a vacinação reduz a inflamação sistêmica associada à COVID longa. O estudo de Lim et al. (2024) analisou o impacto específico das diferentes vacinas e concluiu que indivíduos imunizados com vacinas de RNA mensageiro (mRNA), como Pfizer e Moderna, apresentaram maior proteção contra COVID longa em comparação com aqueles vacinados com imunizantes de vetor viral, como AstraZeneca e Johnson & Johnson. 

Outro fator relevante é o número de doses recebidas, pois, segundo Kamalakkannan et al. (2024), Lo et al. (2024) e Niewolik et al. (2024), indivíduos que receberam duas ou mais doses da vacina apresentaram um risco reduzido de desenvolver COVID longa em comparação com aqueles que receberam apenas uma dose ou não foram vacinados. Do mesmo modo, Duwel et al. (2023) relataram que a administração da dose de reforço reduziu a duração média dos sintomas da COVID longa de 6 meses para 3 meses. 

Em contrapartida, alguns estudos indicam que a vacinação não elimina completamente o risco de COVID longa, uma vez que Bai et al. (2022) observaram que, embora a vacinação reduza a incidência da síndrome, alguns indivíduos ainda desenvolvem sintomas persistentes mesmo após a imunização, sugerindo que outros fatores, como predisposição genética e resposta imunológica individual, podem influenciar a persistência dos sintomas. Resendez et al. (2024) também relataram que pacientes vacinados que contraíram a COVID-19 grave ainda apresentavam sintomas persistentes, embora em menor intensidade. 

Embora a vacinação reduza o risco de sintomas persistentes, algumas manifestações podem ocorrer independentemente do status vacinal. Em Lo et al. (2024), 53,1% dos pacientes vacinados com COVID longa apresentaram hiperinsuflação pulmonar estática, indicando um impacto residual da infecção nas vias aéreas pequenas. Além disso, Niewolik et al. (2024) demonstraram que os sintomas da doença se agrupam em padrões distintos dependendo do histórico vacinal, com pacientes não vacinados apresentando maior prevalência de sintomas inflamatórios crônicos. 

Levando em conta os efeitos relatados acima com adesão e não adesão à vacinação, a Figura 2 expõe, de acordo com dados dos artigos incluídos nesta revisão, a redução do risco de COVID longa, considerando várias etapas do esquema vacinal: 

Figura 3 – Efeito da Vacinação na Redução do Risco de COVID Longa 

Fonte: Elaborado pelos autores (2025) 
Medidas terapêuticas e abordagem clínica 

Os estudos analisados apontam que a abordagem multidisciplinar, envolvendo clínicos gerais, pneumologistas, neurologistas, cardiologistas e fisioterapeutas, é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes (Resendez et al., 2024; Tebeka et al., 2024; Tauekelova et al., 2023). 

O estudo de Foppiani et al. (2024) destaca que a reabilitação pulmonar tem se mostrado eficaz para pacientes com sintomas respiratórios persistentes, como dispneia e fadiga. Os dados de Watase et al. (2024) também indicam que a fisioterapia respiratória pode reduzir a persistência da tosse e melhorar a capacidade pulmonar de pacientes afetados. 

Para os sintomas musculoesqueléticos, como dores articulares e fadiga crônica, Villa et al. (2024) e Falsetti et al. (2023) apontam que o exercício físico supervisionado pode ser benéfico, melhorando a resistência e reduzindo a inflamação sistêmica. Além disso, intervenções como fisioterapia personalizada e acompanhamento nutricional são recomendadas para ajudar na recuperação da força muscular e no equilíbrio metabólico (Bai et al., 2022). 

Para os sintomas neurológicos, incluindo “brain fog”, cefaleias e transtornos do sono, Shah et al. (2023) e Weinstock et al. (2022) sugerem que a suplementação de ômega-3 e antioxidantes pode contribuir para a melhora cognitiva, enquanto estratégias como terapia cognitivo-comportamental (TCC) têm se mostrado eficazes no tratamento da insônia associada à COVID longa. 

Mesmo não existindo um tratamento farmacológico específico para a COVID longa, pesquisas sugerem algumas soluções, como em Durstenfeld et al. (2023) que relataram que pacientes com inflamação crônica associada à COVID longa apresentaram melhora após o uso de corticosteroides e inibidores da interleucina-6 (IL-6), indicando um papel da modulação inflamatória na recuperação desses pacientes. Além destes, Zuo et al. (2024) sugerem que a persistência viral pode estar relacionada aos sintomas prolongados da COVID longa, e que o uso de antivirais, como o Paxlovid, pode ser investigado como uma opção terapêutica para reduzir a replicação residual do vírus. 

Como já ressalvado, a COVID longa interfere na saúde mental dos indivíduos identificados com a doença. Nesse sentido, Brito-Zéron et al. (2021) observaram que pacientes com sintomas prolongados frequentemente apresentam isolamento social e dificuldades para retornar ao trabalho, o que reforça a necessidade de suporte psicossocial. Também são sugeridos programas de reabilitação que envolvem grupos de apoio, terapia ocupacional e psicoterapia para melhorar a qualidade de vida e a reintegração dos pacientes às atividades diárias (Salci et al., 2024). Além disso, a telemedicina tem sido recomendada para facilitar o acompanhamento a longo prazo (Obeidat et al., 2024). 

Sobre os critérios diagnósticos, de acordo com Sangkaew et al. (2024), a ausência de biomarcadores específicos dificulta a confirmação do diagnóstico e o desenvolvimento de tratamentos direcionados. Outro desafio identificado por Wan et al. (2023) e Kamalakkannan et al. (2024) é a falta de treinamento dos profissionais de saúde para lidar com a COVID longa. A necessidade de diretrizes clínicas mais robustas foi destacada em estudos como os de Duwel et al. (2023) e Larijani et al. (2022), que ressaltam que as estratégias terapêuticas ainda são altamente heterogêneas entre diferentes países e sistemas de saúde. A criação de protocolos internacionais baseados em evidências científicas é essencial para padronizar a abordagem da COVID longa e garantir um tratamento mais eficaz e acessível. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A análise do perfil epidemiológico da COVID longa entre 2021 e 2024 demonstrou que a condição afeta uma parcela significativa da população, com variações associadas a fatores demográficos, geográficos e clínicos. Os achados evidenciam que mulheres, idosos e indivíduos com comorbidades, como doenças cardiovasculares, diabetes e imunossupressão, apresentam maior risco de desenvolver sintomas persistentes, que incluem fadiga, disfunções neurológicas, respiratórias e musculoesqueléticas. Além disso, a vacinação é um fator de proteção relevante, reduzindo a incidência e gravidade dos sintomas da COVID longa, embora não elimine completamente o risco da síndrome. Apesar disso, os desafios persistem no diagnóstico precoce e na padronização do tratamento. 

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