AVALIAÇÃO DO PERFIL DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA POR TRAUMA ORTOPÉDICO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO SUL DO BRASIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10793040


Sirlei Fernanda Costa Marchini Thomaz1
Ricardo Zanetti Gomes2
Camila Marinelli Martins3


RESUMO

Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar o perfil dos pacientes acometidos por traumas ortopédicos em um Hospital Universitário do Sul do Brasil. 

Métodos: Trata-se de uma pesquisa de abordagem quantitativa, transversal, exploratória e com período retroativo, com população composta por 281 pacientes internados no período de setembro de 2021 a fevereiro de 2022, com o diagnóstico de trauma ortopédico. As variáveis foram coletadas no prontuário eletrônico do paciente.

Resultado: O perfil epidemiológico dos pacientes internados por traumas ortopédicos foram homens (59,79%) e a Hipertensão Arterial Sistêmica foi a comorbidade mais prevalente (27,05%). Do total, 54,09% sofreram acidente de trânsito e 27,4% apresentaram fraturas em membros inferiores. A alta médica foi de 95,02% e os óbitos totalizaram 4,27%. 

Conclusão: A maioria dos pacientes analisados eram do sexo masculino e pertenciam à faixa etária de 50 a 64 anos. O acidente de trânsito foi a principal causa de internação hospitalar em homens. As cirurgias de fraturas foram realizadas nos membros inferiores.

Palavras-chave: Comorbidades associadas; Ferimentos e Lesões; Fraturas ósseas; Perfil Epidemiológico; Procedimentos Ortopédicos. 

INTRODUÇÃO

O trauma é considerado uma das cinco causas mais importantes de morbidade e mortalidade em indivíduos com idade inferior a 60 anos, e a segunda causa de morte entre os brasileiros jovens e do sexo masculino.1 As lesões traumáticas podem ter diversas etiologias, desde acidentes de trânsito, agressões, quedas, acidentes de trabalho, entre outras.2 No Brasil, foram registradas em 2018 um total de 150.814 mortes por causas externas, sendo 55.914 (37%) por agressões e 33.625 (22%) por acidentes de trânsito.3  

A presença de complicações intra-hospitalares nas vítimas de trauma ortopédico representa uma condição grave, que influencia na morbimortalidade dos pacientes internados, pois a natureza das lesões pode influenciar no tempo de internação do paciente, tipo de tratamento e condições de alta hospitalar.4

As lesões ocorridas em virtude desses acidentes podem causar incapacidades temporárias ou permanentes, deficiências e diminuição da capacidade funcional, que interferem na qualidade de vida das vítimas e geram gastos públicos. 4,5

A partir do exposto, este estudo buscou avaliar o perfil dos pacientes acometidos por traumas ortopédicos em um Hospital Universitário do Sul do Brasil, a fim de compreender como as características clínicas e epidemiológicas influenciam no tratamento e nos desfechos desses pacientes. 

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, transversal, exploratória e com período retroativo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (CAAE 69148023.90000.0105). A população foi composta por pacientes com diagnóstico de trauma ortopédico internados no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, localizado na cidade de Ponta Grossa, um hospital universitário de alta complexidade referência no estado do Paraná.

Como critérios de inclusão adotou-se: internações no período de setembro de 2021 a fevereiro de 2022; presença de traumas ortopédicos e realização de cirurgias traumato-ortopédicas. Os critérios de exclusão foram: não constatação de trauma ortopédico; não realização de cirurgia ortopédica; falta de registro dos dados no prontuário eletrônico e óbito do paciente antes de realizar o procedimento cirúrgico.

O cálculo amostral foi realizado no software Epi Info 7®7 e considerou uma população total de 1052 indivíduos submetidos à cirurgias no período de 1 ano, uma frequência esperada do evento estimada em 50%, um erro de 5%, e um nível de confiança de 95%. Assim, o tamanho da amostra encontrado foi de 281 indivíduos. As variáveis idade, sexo, motivo do trauma, comorbidades, lesão, classificação da cirurgia e motivo da alta foram coletadas no prontuário eletrônico do paciente no software Philips TASY®

Inicialmente, foi realizada a análise descritiva dos dados com frequência simples e relativa, e intervalo de confiança de 95%. Para verificar a associação entre as variáveis categóricas foi utilizado o teste de qui quadrado. O nível de significância utilizado foi de 5% e todas as análises foram realizadas no ambiente R 4.1.0.8 

RESULTADOS

Identificou-se que a faixa etária mais prevalente foi a 50 a 64 anos (21,71%), o sexo masculino foi o mais encontrado (59,79%), e os acidentes de trânsito corresponderam ao motivo de trauma mais frequente (54,09%) (Tabela 1). 

Conforme a tabela 2, os acidentes de trânsito ocorreram mais frequentemente em indivíduos do sexo masculino (67,1%), já os traumas causados por acidentes do trabalho tiveram percentual de 76,5% no sexo masculino, dos quais 88,2% estavam na faixa etária de 30 a 64 anos. Em relação às fraturas patológicas, 88,9% foi representado pelas mulheres, sendo que 55,6% tinham idade entre 65 e 79 anos. Nas fraturas por prática esportiva houve predomínio do sexo masculino (72,7%), na faixa etária de 20 a 49 anos com 57,6%. Já quanto às quedas do mesmo nível, as mulheres totalizaram 60,0%, sendo a faixa etária de 65 a 79 anos a mais prevalente (46,7%). Não houve diferença quanto ao sexo nas quedas em altura, e a faixa etária em destaque foi de 40 a 49 anos (50,0%). O motivo do trauma por violência, briga e agressão teve 75,0% dos indivíduos do sexo masculino, com idades entre 20 e 39 anos (50%). Houve associação estatisticamente significativa entre motivo do trauma e sexo (p<0,001), bem como entre motivo do trauma e idade (p<0,001).

As comorbidades mais frequentes foram Hipertensão Arterial Sistêmica (27,05%), Diabetes Mellitus (9,61%) e Depressão (7,83%), sendo que 64 desses pacientes (22,78%) apresentavam duas ou mais comorbidades associadas e 159 (56,58%) não tinham nenhuma comorbidade. 

As lesões mais prevalentes foram fraturas de membros inferiores com 27,4% e fraturas de membros superiores com 19,22%. As cirurgias de urgência totalizaram 45,38%, as eletivas corresponderam a 34,34% e as emergenciais somaram 20,28%. 

De acordo com a Tabela 3, as cirurgias eletivas foram mais prevalentes na faixa etária entre 50 e 64 anos (24,1%). Já as cirurgias de urgência foram mais prevalentes na faixa etária entre 50 e 64 anos (22,9%), enquanto as cirurgias emergenciais ocorreram mais frequentemente na faixa etária de 20 a 29 anos (31,6%). Observou-se em todas as classificações de cirurgias homens e acidentes de trânsito como o sexo e o motivo do trauma mais prevalentes, respectivamente. Houve associação estatisticamente significativa entre classificação da cirurgia e: idade (p=0,022); sexo (p=0,013) e motivo de trauma (p<0,001).

 A maior parte dos pacientes receberam alta médica (95,02%), sendo que 11 (3,91%) reinternaram no período de 30 dias e 12 (4,27%) foram a óbito (Tabela 4).

DISCUSSÃO

O perfil epidemiológico dos pacientes internados por traumas ortopédicos no referido hospital foi formado na sua maioria por indivíduos do sexo masculino, o que corrobora com achados da literatura, uma vez que estudos realizados em diversas regiões do Brasil, com diferentes métodos encontraram proporções de indivíduos do sexo masculino variando entre 59,7% e 89,6%.9,10 A respeito da faixa etária mais prevalente, os resultados obtidos nesta pesquisa divergem das descobertas da literatura, pois esses foram mais prevalentes em uma faixa etária mais avançada do que em estudos anteriores, nos quais a faixa etária predominante variou entre 18 e 38 anos11,12.

No presente estudo, a principal causa de internação hospitalar teve como motivo do trauma o acidente de trânsito. Neste sentido, um levantamento realizado na cidade de São Paulo entre 2011 e 2013 sobre acidentes de trânsito identificou que 81,6% eram homens,13,14 o que reforça o achado de que o sexo masculino corresponde a maior parte dos indivíduos acometidos por acidentes de trânsito. Ficou evidente também nesse estudo que dentre as fraturas patológicas e as quedas do mesmo nível, a grande maioria dos pacientes eram mulheres idosas, sobretudo na faixa etária entre 65 e 79 anos. Isso corrobora o fato já comprovado por diversos estudos de risco aumentado de fraturas e fragilidade óssea em mulheres pós menopausa, sendo o estrogênio um fator protetor dentro de todo sistema regulador ósseo e consequentemente o seu déficit acarretar em maior vulnerabilidade a fraturas patológicas, e promover instabilidade predisponente a quedas de mesmo nível15,16

A comorbidade mais frequente neste estudo foi a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), sendo que 22,78% desses pacientes apresentavam duas ou mais comorbidades associadas. Estudos realizados no Brasil revelaram que a prevalência de HAS variou entre 22,3% e 43,9%, com média de 32,5%.17, 18 

Os principais tipos de cirurgias por trauma ortopédico foram realizados nos membros inferiores e a lesão mais frequente foi a fratura de membros inferiores. Em um estudo realizado na cidade de Santos, com pacientes vítimas de trauma, verificou-se que as fraturas de ossos longos são as lesões mais frequentes.19 As fraturas são as lesões mais frequentes nos traumas, levando ao tratamento cirúrgico em 82% dos casos.14 No presente estudo, houve associação estatisticamente significativa entre classificação da cirurgia e idade, bem como sexo. Por outro lado, as cirurgias emergenciais se enquadram nas expectativas apresentadas pela literatura quanto à faixa etária mais prevalente.

Os pacientes com traumas ortopédicos deste estudo que receberam alta médica totalizaram 95,02%. O Sistema Único de Saúde (SUS) define a alta hospitalar responsável como aquele em que prepara o usuário para o retorno ao domicílio com qualidade e segurança para continuidade dos cuidados, promoção da sua autonomia e reintegração familiar e social.20 A taxa de óbitos encontrada neste estudo foi de 4,27%, e os pacientes estavam igualmente nas faixas etárias de 30 a 39 anos e maiores de 80 anos. Isso pode corroborar o fato de indivíduos mais jovens (30 a 39 anos) estarem mais envolvidos em fatores de risco, além de ser a faixa etária em que há a influência comportamental representada pela impulsividade, fatores externos mais agudos e graves que levam a óbito.21,22 No outro extremo de idade, a maior fragilidade óssea e a menor resposta fisiológica a afecções como acidentes, patologias ósseas e infecções podem explicar a sua elevada prevalência. 22  

Os presentes resultados destacam a importância de compreender o perfil dos pacientes com traumas ortopédicos e as suas características epidemiológicas. Sugere-se a realização de novos estudos em outros hospitais de referência em traumas ortopédicos. Desse modo, será possível comparar o perfil dos pacientes provenientes de diferentes regiões do Estado do Paraná e do Brasil.

CONCLUSÕES

A maioria dos pacientes analisados eram do sexo masculino e pertenciam à faixa etária de 50 a 64 anos. O acidente de trânsito foi a principal causa de internação hospitalar, especialmente entre os homens. A hipertensão arterial sistêmica foi a comorbidade mais frequente. As cirurgias realizadas foram de membros inferiores, com destaque para as fraturas. A maior parte dos pacientes recebeu alta hospitalar, em relação ao óbito. Essas informações podem contribuir para um melhor planejamento e assistência aos pacientes, além de direcionar estratégias de prevenção. 

Conflito de Interesses 

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Suporte financeiro

Este estudo não recebeu nenhum suporte financeiro de fontes públicas, comerciais ou sem fins lucrativos.

REFERÊNCIAS

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22. Carvalho ICC, Saraiva IS. Perfil das vítimas de trauma atendidas pelo serviço de atendimento móvel de urgência. Rev Interd. 2015;8(1).

ANEXOS


1Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
https://orcid.org/0009-0002-62831339 – sirlei.marchini@uepg.br
2Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-9651-8298 – zanetticons@uol.com.br
3Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, Paraná, Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-9651-8298 – camila.marinelli@aacet.com.br