AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO DAS GESTANTES QUE VIERAM A ÓBITO POR COVID 19 E NECESSITAM DE UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA EM PERNAMBUCO NO PERÍODO DE 2020

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7984819


Débora Larissa Rufino Alves; Halane Tatiane Muniz Alves; Liz Elllen Figueiredo Costa Ribeiro Dias; Maria Eduarda Aires Souto; Lucelia Vital Leite; Carlos André Souto Silva; Wanessa Ventura de Oliveira Cavalcanti; Elvis Vinicius Silva Lira; Mônica Rufino Alves Matias; Maria Vitoria Cavalcanti Barbosa Pessoa de Melo; Ana Carolina Arruda Silva; Diego de Albuquerque Sarmento.


Resumo

O estado de pandemia que teve início em 2019, com o primeiro caso e estende-se até́ a atualidade, tem como agente causal o SARS-COV-2, reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma doença respiratória que é denominada como COVID-19 . O vírus apresentou uma alta taxa de transmissibilidade e também apresentou alto índice de mortalidade na população mundial, com mais de três milhões de pessoas mortas no mundo, sendo dessas no Brasil mais de quinhentos mil.² No caso das gestantes, em função de sua condição de imunossupressão, quando apresentam a forma sintomática da COVID 19 podem desenvolver maiores complicações respiratórias e evoluir para óbito, sendo assim mais suscetíveis a permanência em unidade de terapia intensiva.4,5 O presente estudo tem por objetivo geral entender o perfil clínico e epidemiológico das gestantes e puérperas que evoluíram para óbito e fizeram uso de unidade de terapia intensiva, com diagnóstico confirmado de COVID 19, no ano de 2020, no Estado de Pernambuco. Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa de caráter transversal e retrospectivo. A coleta de dados foi realizada através de pesquisa no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVE Gripe), foram coletadas informações acerca dos dados sociodemográficos das mulheres, seus antecedentes pessoais, dados obstétricos, internação em UTI, suporte ventilatório, uso de retrovirais e desfecho duro. Como resultados, das 210 mulheres estudadas, 82% eram pardas, cerca de 80% das mulheres estavam no terceiro trimestre (59,5%) ou puérperas (25,2%). Das que estiveram na UTI, 75% utilizaram suporte ventilatório, 17% usaram retrovirais, 14% da amostra evoluiu para óbito

Palavras-chave: Gestante, COVID-19, UTI

Abstract

The state of a pandemic that began in 2019, with the first case and continues to the present, has SARS-COV-2 as its causal agent, recognized by the WHO (World Health Organization) as a respiratory disease that is known as COVID-19 . The virus had a high rate of transmissibility and also had a high mortality rate in the world population, with more than three million people dead in the world, of which more than five hundred thousand in Brazil.² In the case of pregnant women, due to their condition of immunosuppression, when they present the symptomatic form of COVID 19, they can develop greater respiratory complications and progress to death, thus being more susceptible to stay in an intensive care unit.4,5 The present study’s general objective is to understand the clinical and epidemiological profile of pregnant and postpartum women who died and made use of an intensive care unit, with a confirmed diagnosis of COVID 19, in the year 2020, in the state of Pernambuco. This is a cross-sectional and retrospective study with a quantitative approach. Data collection was carried out through research in the Influenza Epidemiological Surveillance Information System (SIVE Influenza), information was collected about the socio demographic data of women, their personal history, obstetric data, ICU admission, ventilatory support, use of retrovirals and hard ending. As a result, of the 210 women studied, 82% were brown, about 80% of the women were in the third trimester (59.5%) or had recently given birth (25.2%). Of those who were in the ICU, 75% used ventilatory support, 17% used retroviral drugs, 14% of the sample died.

Keywords: pregnant woman, COVID-19, ICU

1 INTRODUÇÃO

O estado de pandemia que teve início em 2019, com o primeiro caso e estende-se até a atualidade, tem como agente causal o SARS-COV-2, reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma doença respiratória que é denominada como COVID-19.¹ O vírus apresentou uma alta taxa de transmissibilidade pois houve a disseminação por 18 países em 30 dias, e também apresentou alto índice de mortalidade na população mundial com mais de três milhões de pessoas mortas no mundo, sendo dessas no Brasil mais de quinhentos mil.²

É válido ressaltar que em alguns grupos essa taxa de mortalidade é ainda mais preocupante. Um estudo publicado em junho de 2020 evidenciou que na população mundial obstétrica ocorreram 160 mortes, sendo 124 apenas no Brasil. Os números de óbitos recentemente publicados, por TAKEMOTO et al, dão ao Brasil o índice de 77% das mortes mundiais. 6 Essa taxa tão mais elevada no país pode se dar pelo crescente índice de mortalidade apresentada pelo mesmo, o que difere da realidade mundial da população das primeiras publicações.³

Inicialmente a demanda fisiológica de gestar é considerada uma condição comum de imunossupressão, dessa forma, as grávidas uma vez infectadas, de forma sintomática pelo covid-19 podem desenvolver maiores complicações respiratórias e evoluir para óbito, sendo assim mais suscetíveis a permanência em unidade de terapia intensiva.4,5

É importante apontar que para gestantes, o prognóstico da doença não é satisfatório quando há necessidade de internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI).

Dentre as informações alarmantes trazidas pelos artigos científicos publicados quanto ao perfil de mortalidade por COVID-19 é que a maioria dos óbitos em gestantes ocorreram no período puerperal, bem como, existe uma indicação de associação positiva entre mortalidade materna e internação em unidade de terapia intensiva.6 Dessa forma, fica evidente o quanto é importante o estudo e publicações científicas dessa temática.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Entender o perfil clínico e epidemiológico das gestantes e puérperas que evoluíram para óbito e fizeram uso de unidade de terapia intensiva, com diagnóstico confirmado de COVID 19, no ano de 2020, no Estado de Pernambuco

2.2 Objetivos Específicos

  • Caracterizar o perfil sociodemográfico das mulheres gestantes que vieram a óbito e fizeram uso de UTI, por COVID-19.
  • Identificar a associação do uso de cuidados intensivos por gestantes com COVID-19 e mortalidade.

3 HIPÓTESE

O presente estudo tem como hipótese a ratificação da relação positiva entre alta mortalidade de gestantes com COVID-19 e o uso de unidade de terapia intensiva, UTI, uma vez que os pacientes que fazem uso de UTI têm prognóstico mais reservado por, em geral, apresentam a forma mais grave da doença. No entanto, é importante que seja realizada uma coleta e análise de dados, pois se tratando do público gestantes e puérperas os estudos publicados ainda são pequenos e/ou inexistentes para fazer qualquer afirmação.

4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

4.1 Desenho do estudo

Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa de caráter transversal e retrospectivo. A coleta de dados foi realizada através de pesquisa no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVE Gripe), que integra um conjunto de sistemas de monitoramento do Ministério da Saúde. Foi utilizado um formulário padronizado no qual foram coletadas informações acerca dos dados sociodemográficos das mulheres, seus antecedentes pessoais, dados obstétricos, internação em UTI, suporte ventilatório, uso de retrovirais e desfecho duro. O artigo está de acordo com as normas da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

4.2 Localização do estudo

Foi realizado no estado de Pernambuco e, de maneira retrospectiva, os dados coletados foram referentes aos período do ano de 2020 (45 semanas epidemiológicas)

4.3 População

O objeto do estudo foram gestantes e puérperas que evoluíram para óbito e fizeram uso de UTI com diagnóstico confirmado de COVID no estado de Pernambuco.

4.4 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídas todas as gestantes e puérperas que fizeram uso de UTI e foram a óbito pelo COVID-19 no estado de Pernambuco. Foram excluídas da pesquisa todas as mulheres que foram a óbito por COVID mas não estavam grávidas nem eram puérperas

4,5 Instrumento da pesquisa

Roteiro semi-estruturado com dados sociodemográficos, epidemiológicos e clínicos das gestantes e puérperas que fizeram uso de UTI e vieram a óbito por COVID-19

4.6 Variáveis

Idade classificada em anos , raça, cor auto declarada por branca, preta, parda ou indígena e mortalidade.

4.7 Análise estatística dos dados

Os dados obtidos da plataforma de domínio público SIVE Gripe foram transferidos para uma planilha e tabulados com o auxílio dos programas Microsoft Excel e

Microsoft Word versões do Office 2007. Para a confecção das tabelas e figuras, foram utilizados números absolutos e porcentagens.

4.8 Riscos e desconfortos

O possível risco se dá pelo uso inadvertido dos dados uma vez publicado pela autora, visto que as informações obtidas nesse estudo já são de domínio público do SIVE Gripe com privacidade garantida.

4.9 Benefícios

A publicação dessas informações para o meio acadêmico é o maior benefício, visto que se trata de uma temática nova, no contexto de pandemia. Tornando essa publicação imprescindível.

5 RESULTADOS

Compuseram a amostra 210 mulheres, sendo 82% pardas, e aproximadamente 80% das mulheres estavam no terceiro trimestre (59,5%) ou puérperas (25,2%).

No que se refere às gestantes que necessitaram de internações em UTI, 75% utilizaram suporte ventilatório, 17% fizeram uso de antiviral.

Em relação ao desfecho duro, cura ou óbito foram de pior prognóstico com 14% da amostra, no entanto, é válido ressaltar que o desfecho cura foi mais evidenciado em mulheres que não necessitam de cuidados especializados em UTI.

6 DISCUSSÃO

O perfil epidemiológico encontrado no presente estudo é de faixa etária entre 18 e 35 anos e maioria parda, a seleção da idade tem o intuito de excluir possíveis complicações associadas a extremos de etários na gestação, tal seleção está em consonância com BARBOSA et al, que em seu estudo selecionou as pacientes com os mesmo critérios e encontrou resultados semelhantes no critério raça parda. 2

No contexto clínico, o período gestacional é de importante preditor de complicações, visto que há uma demanda fisiológica importante da gestação e somada a ela a agressão ao sistema imune pelo vírus do covid 19 pode estar associado a piores evoluções da doença. 7

Do percentual de pacientes que necessitam de internação em UTI, a maioria fez uso de suporte ventilatório, assim pode ser evidenciada uma relação entre os fatores internação e UTI e uso de suporte ventilatório. Nesse sentido, estudos corroboram com o presente estudo, no qual cerca de metade das mulheres que foram internadas em UTI usaram suporte ventilatório. 8,7,11

Resultados opostos ao nosso estudo foram evidenciados por Smith et al e   Cuñarro-López et al que não encontraram mortalidade materna nas mulheres que necessitam de cuidados intensivos em unidades de terapia intensiva. 9, 10

Assim sendo, é válido ressaltar que a maior parcela das pacientes deste estudo não teve necessidade de internação em UTI e consequentemente não usaram suportes ventilatórios invasivos. O que indica ser uma informação tranquilizadora.

A redução da mortalidade associada ao uso de antivirais pela gestantes pode ser observada, apesar de não ser possível afirmar categoricamente que o uso de antivirais reduz a mortalidade em gestantes. Diante dessa informação, outro estudo realizado com mais de 250 pacientes o percentual de mortalidade foi de 8%, indicando assim uma relação com os dados encontrados no presente artigo. 8

O desfecho duro, morte, não deve ser associado em primeira análise ao uso de suporte ventilatório, internação em UTI e uso de antiviral, uma vez que a maior parcela das mulheres com COVID-19 tiveram bom prognóstico e baixa taxa de mortalidade. 2, 7, 10

7 CONCLUSÃO

Esse estudo tornou possível a breve caracterização do perfil epidemiológico e clínico das gestantes pernambucanas, bem como indicar possíveis associações com a mortalidade materna das que fizeram uso de UTI. A temática estudada é de grande relevância e diante dos dados apresentados e discutidos fica evidente que os índices de mortalidade materna em Pernambuco existentes estão em consonância com o panorama mundial no ano de 2020. No entanto, é imprescindível que mais pesquisas nessa temática sejam realizadas para melhor elucidação da temática, bem como que esses resultados possam viabilizar uma melhor assistência para as gestantes brasileiras.

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