AVALIAÇÃO DO PERFIL CLÍNICO DAS GESTANTES OBESAS QUE VIERAM A ÓBITO POR COVID 19 EM PERNAMBUCO ENTRE 2020 E 2021

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.13144134


Débora Larissa Rufino Alves; Daniele Sofia de Moraes Barros Gattás; Lisandra Karoll Torres Pinheiro Cordeiro; Marcio José de Carvalho Lima; Loreanne Gomes Nascimento; Maria Vitoria Cavalcanti Barbosa Pessoa de Melo; João Victor Santos Silva; Fabiana Silva Ferreira de Souza Mattos.


RESUMO: A OMS (Organização Mundial de Saúde) em 2019 notificou na China o primeiro caso de COVID-19, que deu início ao estado de pandemia inédito na história contemporânea da humanidade. O vírus foi intitulado, inicialmente, de SARS-CoV-2, este causador de doença predominantemente respiratória que posteriormente foi nomeada COVID-19. O caráter alarmante do vírus deu-se devido a  uma alta taxa de transmissibilidade pois houve a disseminação por 18 países em 30 dias, e também apresentou alto índice de mortalidade na população mundial com mais de três milhões de pessoas mortas no mundo, sendo dessas no Brasil mais de quinhentos mil. (BARBOSA, 2020). Ter covid 19 e compor um grupo de risco nessa pandemia está relacionado com uma maior chance de complicação e desfecho de morte, assim, gestar se enquadra nos grupos de risco devido a imunossupressão que fisiologicamente a gestação ocasiona (VILAR, 2013).  A obesidade é considerada uma comorbidade e a literatura a relaciona como um fator complicador da gestação, podendo ser um prognóstico ainda mais desafiador quando infectadas pelo SASCOV-2. Diante disso, o objetivo deste estudo é entender o perfil clínico e epidemiológico das gestantes e puérperas obesas que evoluíram para óbito com diagnóstico confirmado de COVID no período de Março de 2020 até Setembro de 2021 no Estado de Pernambuco. Metodologia:  Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa de caráter transversal e retrospectivo, os dados foram coletados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVE Gripe), qual fornece estatísticas ideais PARA USO, os dados foram tabulados com o auxílio dos programas Microsoft Excel e Microsoft Word versões do Office 2007. Foi respeitada a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados e Discussão: Há aumento percentual do óbito de gestantes obesas quando comparados os anos 2020 ( 11,4%) e 2021 (25%), esses resultados que corroboram com que até então há descrito na literatura encontrados por URQUIZA, PAPAPANOU E NOGUEIRA em três publicações distintas do ano de 2020 e 2021 com público de estudo semelhante. É imprescindível dizer que houve um número maior de casos em 2021 e essa pode ser uma possível explicação do aumento do número de óbitos do público estudado nesta pesquisa. Conclusão: É imprescindível a relevância da temática estudada, bem como é preciso mais  aprofundamento nos estudos dessa temática  mortalidade materna em gestantes obesas contaminadas por COVID19.

PALAVRA-CHAVE: COVID19, OBESIDADE, MORTALIDADE MATERNA

1. INTRODUÇÃO 

1.1 PANDEMIA

A OMS (Organização Mundial de Saúde) em 2019 notificou na China o primeiro caso de COVID-19, que deu início ao estado de pandemia inédito na história contemporânea da humanidade. O vírus foi intitulado, inicialmente, de SARS-CoV-2, este causador de doença predominantemente respiratória que posteriormente foi nomeada COVID-19.

Inicialmente os primeiros casos da doença foram associados a um mercado atacadista zoonótico, nessa linha de hipótese, os morcegos foram propostos  como reservatório de diversos tipos de outros coronavírus. Essa afirmação foi possível pois as identidades genéticas do COVID-19 esteve presente em aproximadamente 96% dos casos, indicando também uma grande capacidade de transmissão a outros animais da mesma espécie.(TAKEMOTO, 2022)

O caráter alarmante do vírus deu-se devido a  uma alta taxa de transmissibilidade pois houve a disseminação por 18 países em 30 dias, e também apresentou alto índice de mortalidade na população mundial com mais de três milhões de pessoas mortas no mundo, sendo dessas no Brasil mais de quinhentos mil. (BARBOSA, 2020)

É importante ressaltar que O SARS-CoV-2 ,um beta coronavírus, é o sétimo coronavírus a infectar a espécie humana. O caráter de contaminação e sintomatologia pelo CORONAVÍRUS gera dicotomia de entendimento, pois apesar de não ser o vírus mais letal descoberto, ele apresenta um potencial de morbidade e mortalidade bastante elevado.(GOIS, 2022)

1.2 TRANSMISSÃO E DIAGNÓSTICO

No que tange a forma de transmissão pelo SARS-CoV-2, se dá  predominantemente, por meio do contato com pessoas infectadas através das gotículas de saliva e de secreções respiratórias que ficam em superfícies contaminadas a partir da tosse ou espirro. Uma vez contaminado, o período que antecede os primeiros sintomas é definido como  período de incubação, podendo variar entre 2 e 14 dias, nesse período é possível rastrear  a origem e a causa da doença com testes diagnósticos específicos. 

A incubação pelo coronavírus inclui todos os pacientes contaminados, sendo eles assintomáticos ou sintomáticos, em casos sem sintomas o rastreamento do vírus no período incubatório acaba sendo dificultado (FERNANDES, 2023).

Para o diagnóstico preciso do COVID 19 é utilizado testes sorológicos, particularmente, o IgG, além de informações clínicas epidemiológicas, exames RT-PCR, sorologia quando disponível e validada e tomografia computadorizada do tórax também são importantes. (MENEZES, 2023)

1.3 GRUPOS DE RISCO  E COMORBIDADE 

Compor um grupo de risco nessa pandemia está relacionado com uma maior chance de complicação e desfecho de morte quando contaminados pelo COVID19, assim, gestar se enquadra nos grupos de risco devido a imunossupressão que fisiologicamente a gestação ocasiona.  É válido elucidar que, apesar de comum, a queda fisiológica da imunidade da gestante uma vez infectadas, de forma sintomática pelo covid-19 podem desenvolver maiores complicações respiratórias e evoluir para óbito (VILAR, 2013)

A literatura associa ter uma comorbidade como um fator complicador da gestação, podendo ser um prognóstico ainda mais desafiador quando infectadas pelo SASCOV-2.  A obesidade é uma comorbidade caracterizada como uma alteração funcional do metabolismo lipídico e aumento do tecido adiposo que em gestantes podem acarretar em aumento de taxas de partos operatórios, elevação do risco de complicações perinatais, como maior prevalência de fetos macrossômicos, desproporção céfalo-pélvica, trauma, asfixia e maior associação com diabetes mellitus e síndromes hipertensivas gestacionais (PRATES, 2023)

Apesar de ser um  fator complicador na gestação, não existe um consenso quanto à definição de obesidade na gestação, a literatura apontam como parâmetro o IMC (kg/m2 ) pré-gravídico ou no primeiro trimestre >30, outros utilizam o peso corporal da gestante superior a 150% do peso ideal (MATTAR, 2009).

1.4 MORTALIDADE MATERNA

O Ministério da Saúde baseileiro define a mortalidade materna como o óbito de uma mulher durante o período gestacional ou até 42 dias após o término da gestação, independentemente da localização ou duração da gravidez. Pode ser causada por fatores relacionados ou agravados pela gravidez ou por medidas tomadas em relação a ela, excluídas  causas  incidentais  ou  acidentais. Esse critério de definição de morte materna é um importante preditor de qualidade de serviço e acesso dos cuidados de atenção à saúde, bem como, condições socioeconômicas de uma determinada população. (SILVA, 2023)

Dentre as informações alarmantes trazidas pelos artigos científicos publicados recentemente quanto ao perfil de mortalidade por covid-19 é que a maioria dos óbitos em gestantes ocorreram no período puerperal, bem como, existe uma indicação de associação positiva entre mortalidade materna e as comorbidades (OPPENHEIMER, 2023). 

Para além da descrição biológica do vírus, os altos índices de mortalidade  pelo covid também foram potencializados devido às fragilidades da rede pública de saúde brasileira no enfrentamento da pandemia, sendo elas falta de estrutura física, pouco preparo técnico humano no trato de doenças respiratórias de alta contaminação, assim como o desalinhamento entre recomendações  do Ministério da Saúde Brasileiro e a OMS.

Dessa forma, fica evidente o quanto é importante o estudo  e publicações científicas dessa temática associando mortalidade materna por coronavírus em mulheres com comorbidade obesidade.( de Albuquerque, 2020)

2. METODOLOGIA

2.1 DESENHO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa de caráter transversal e retrospectivo. A coleta de dados foi realizada através de pesquisa no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVE Gripe), que integra um conjunto de sistemas de monitoramento do Ministério da Saúde. 

Utilizou-se um formulário padronizado no qual foram coletadas informações acerca dos dados sociodemográficos das mulheres, seus antecedentes pessoais, dados obstétricos e dados relacionados ao nascimento dos bebês. O projeto de pesquisa será registrado na Plataforma Brasil  ao qual o projeto será submetido conforme a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

2.2 OBJETIVOS

2.2.1 GERAL

Entender o perfil clínico e epidemiológico das gestantes e puérperas obesas que evoluíram para óbito com diagnóstico confirmado de COVID no período de Março de 2020 até Setembro de 2021 no Estado de Pernambuco.

2.2.2 ESPECÍFICOS

  • Caracterizar o perfil sociodemográfico das mulheres gestantes que vieram a óbito por COVID-19.
  • Verificar a associação das variáveis sociodemográficas com a mortalidade das mulheres gestantes que vieram a óbito por COVID-19.
  • Identificar a associação da obesidade em gestantes com a mortalidade por COVID-19

2.3  LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO

Realizado no estado de Pernambuco e de maneira retrospectiva os dados coletados no SIVE-GRIPE, referentes aos períodos de março de 2020 a setembro de 2021 (18 meses)

2.4 POPULAÇÃO A SER ESTUDADA

Gestantes e puérperas que evoluíram para óbito com diagnóstico confirmado de COVID no estado de Pernambuco.

2.5  CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO 

Foram incluídas todas as gestantes e puérperas que foram a óbito por COVID-19 no estado de Pernambuco, dessa forma,  excluídas da pesquisa todas as mulheres que foram a óbito por COVID mas não estavam grávidas nem eram puérperas

2.6 INSTRUMENTO DE PESQUISA

Roteiro semi-estruturado com dados sociodemográficos, epidemiológicos e clínicos das gestantes e puérperas que vieram a óbito por COVID-19  

2.7 VARIÁVEIS

Idade (classificada em anos) , raça (auto declarada por branca, preta, parda e indígena), escolaridade (seccionadas em primeiro, segundo e terceiro grau completos ou incompletos), mortalidade, obesidade.  

2.8  ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

 Os dados obtidos  da plataforma de domínio público SIVE Gripe serão transferidos para uma planilha e tabulados com o auxílio dos programas Microsoft Excel e Microsoft Word versões do Office 2007. Para a confecção das tabelas e figuras, serão utilizados números absolutos e porcentagens.

3. RESULTADOS

Epidemiologicamente foi possível descrever as gestantes pelas variáveis idade entre 19 e 35 anos, escolaridade e raça, é válido ressaltar que a escolha das variáveis e respectivas nomenclaturas ocorreu por disponibilidade da plataforma.

Dessa forma, compuseram o estudo,  mulheres de maioria etária de 26 anos (67%) e 24 anos (53%), 82%   de pardas e 62% negras para os anos de 2020 e 2021 respectivamente para ambos os critérios. Já no que se refere à variável escolaridade observou-se com ensino fundamental 2 completo 62% em 2020, já em 2021 foram com ensino fundamental 1 completo 50%.

Referente ao objetivo específico óbito em mulheres gestantes obesas no ano de 2020 obteve-se um percentual de 11.4%, já em 2021 foi possível observar para o mesmo critério que a cada 4 mortes  (25%)  de gestantes por covid 19,  1 foi obesa.

Estudos recentes de Albuquerque, et al 2023,  mostraram dados mais acurados ao dividir o período gestacional por trimestres, dessa forma o presente estudo o fez também. Sendo assim, foi possível evidenciar que em 2020 não houve óbitos de gestantes no estado de Pernambuco da semana epidemiológica 10 a 53, no entanto, em 2021 o maior percentual de mortes foi em obesas gestantes no terceiro trimestre de gestação

4. DISCUSSÃO

Os resultados referentes às variáveis socioeconômicas idade (entre 19 e 35 anos) e cor da pele (82% de pardas e 62% negras) para os anos de 2020 e 2021 respectivamente, têm perfil semelhante ao encontrado no estudo de Prasannalakshmi realizado em 2021 em uma unidade de terapia intensiva referência de Government Sivagangai Medical College localizada na Índia. 

Estudos distintos realizados em 2023 por  SOUZA, BARBOZA E GOIS,  excluíram os extremos de idade materna, uma vez que, segundo a literatura vigente a pouca ou elevada idade materna, por si só pode ser um importante preditor de complicações em gestações sem infecções pelo coronavírus. 

A decisão de exclusão dos extremos de idade desse estudo ocorre devido o entendimento que  o ato de gestar por si só cobra uma demanda fisiológica importante da mãe, e somada a ela complicações pelos extremos de idade e a agressão ao sistema imune pelo vírus do covid 19, essas condições clínicas podem estar associado a piores evoluções da doença. Dessa forma, poderiam gerar qualquer fator de confundimento no momento da interpretação dos dados (SEABRA, 2011).

A escolaridade como variável tem relevância ao ser analisada dentro de um estudo, uma vez que,  ter acesso à educação está associado a uma maior compreensão das ações em saúde. A literatura aponta que quanto maior a escolaridade maior a adesão aos tratamentos propostos pelo ministério da saúde. (MENEZES, 2023). Nesse estudo,  a escolaridade materna das gestantes obesas observou-se em maior percentual,  com ensino fundamental 2 completo 62% em 2020, já em 2021 foram com ensino fundamental 1 completo 50%, tal resultado está em consonância com BARBOSA et al.

É imprescindível ressaltar que ao comparar a mortalidade materna entre os anos 2020 e 2021, associado à escolaridade, houve mais mortes de  gestantes obesas por covid 19 no período de 2021, no qual a escolaridade era inferior. Essa informação confirma a possibilidade de associação positiva entre capacidade cognitiva para compreender a informação pela escolaridade e redução da mortalidade materna durante a pandemia em 2020.

Os dados  percentuais  idade, raça e escolaridade agrupados são capazes de caracterizar bem a amostra e indicar relevantes associações, como no presente estudo Idades mais avançadas, cor da pele autodeclarada negra, com menor escolaridade e obesidade pode ser preditivos de maior mortalidade materna por covid 19 entre os anos de 2020 e 2021. Essa  seleção da amostra, encontra-se em consonância com SOUZA, em sua publicação em 2021.

No tocante objetivo específico, há aumento percentual do óbito de gestantes obesas quando comparados os anos 2020 ( 11,4%) e 2021 (25%), esses resultados que corroboram com que até então há descrito na literatura encontrados por URQUIZA, PAPAPANOU E NOGUEIRA em três publicações distintas do ano de 2020 e 2021 com público de estudo semelhante. É imprescindível dizer que houve um número maior de casos em 2021 e essa pode ser uma possível explicação do aumento do número de óbitos do público estudado nesta pesquisa.

Com uma análise mais acurada, o maior percentual de mortes em aconteceu em obesas gestantes no terceiro trimestre, isso pode ter ocorrido pelo ao fato já consolidado pela ciência que há uma maior demanda biológica ocorrendo nesse período gestacional e quando associada a fatores preditivos negativos como obesidade e infecção por COVID-19, podem culminar em desfecho negativo, em estudo de caracterização da amostra de mortalidade de gestantes por período gestacional, realizado por MACIEL em 2021 encontrou-se resultados semelhantes aos desta pesquisa.

4. CONCLUSÃO

Esse estudo tornou possível a breve caracterização do perfil epidemiológico e clínico das gestantes pernambucanas nos anos de 2020 e 2021, bem como indicar possíveis associações entre a comorbidade e obesidade e o desfecho da mortalidade materna. A temática estudada é de grande relevância, diante dos dados apresentados e discutidos fica evidente que os índices de mortalidade materna em Pernambuco existentes estão em consonância com o panorama mundial no ano de 2020 e 2021. O que torna imprescindível que mais pesquisas nessa temática sejam realizadas para melhor elucidação da temática, bem como que esses resultados possam viabilizar uma melhor assistência para as gestantes brasileiras.

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