AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE ANSIEDADE E ATIVIDADE FÍSICA DE MULHERES DE MEIA-IDADE

ASSESSMENT OF ANXIETY LEVEL AND PHYSICAL ACTIVITY OF MIDDLE-AGED WOMEN

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10612108


Sarah Beatriz Rocha Lima1; Thayna Larissa Soares de Oliveira2; Zulmira Barreira Soares Neta3; Andréa Conceição Gomes Lima4; Mara Jordana Magalhães Costa5; Renata Batista dos Santos Pinheiro6; Maria Luci Esteves Santiago7


Resumo

A prática de atividade física está consistentemente associada à diminuição do risco de complicações de saúde física ao longo do tempo e à melhora da dos sintomas das condições de saúde mental, principalmente da ansiedade. Visto isso, o estudo teve como objetivo avaliar o nível de ansiedade e atividade física e de mulheres de meia-idade em um bairro de Teresina-PI. Caracteriza-se como uma pesquisa comparativa, transversal, com abordagem quantitativa e teve como amostra mulheres de meia-idade (45 a 59 anos) participantes de um grupo de exercícios físicos (GE) e um grupo controle (GC) composto por mulheres da mesma faixa etária e que não participam de nenhum grupo de atividade física regular. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário sociodemográfico, o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão- HAD. A análise estatística foi realizada por meio do programa estatístico SigmaPlot, versão 11.0. Os dados foram tabulados no programa Excell 2020. Para a verificação da associação entre as variáveis foi utilizado o teste de qui-quadrado utilizando-se o programa SPSS 22.0, sendo adotado um nível de significância de 5%. Como resultado, pôde-se observar que não houve associação significativa entre o nível de atividade física e ansiedade (p = 0,432), porém observou-se que mulheres que fazem atividade física apresentam percentuais mais elevados na categoria “Improvável” de se ter ansiedade (65%) quando comparadas com as que não fazem (50%). O estudo evidenciou que mulheres de meia-idade consideradas fisicamente ativas possuem um nível de ansiedade menor quando comparadas às mulheres não praticavam atividade física regular, isto denota a necessidade de ações que possam contribuir para a conscientização da manutenção de hábitos saudáveis de vida, como a inserção da prática de exercícios físicos na rotina.

Palavras-chave: Mulheres. Ansiedade. Atividade Física.

1.0 INTRODUÇÃO

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- Quinta Edição (DMS-V, 2013), os transtornos de ansiedade costumam apresentar características de medo e ansiedade em excesso, além de perturbações comportamentais relacionadas. Pode ser compreendida como processo evolutivo ou instrumento que ajuda a descobrir o perigo e a escolher as medidas necessárias para lidar com ele. Entretanto, essa forma adaptativa muitas vezes encontra-se desequilibrada, podendo causar sofrimento e prejuízo ao desempenho profissional ou social (Barcellos, 2018).

A ansiedade é considerada uma condição emocional normal relacionada a eventos adversos, sendo, em níveis apropriados, benéfica, estimulante, motivadora e propulsora. Porém, transforma-se em uma condição patológica quando passa a estar presente na maior parte do tempo, trazendo prejuízos para a vida do indivíduo, e podendo produzir efeitos negativos como abuso de álcool e drogas, aparecimento de outras comorbidades e transtornos de ansiedade (Brito et al., 2019). 

Quando se torna patológica, além de sentimentos intensos de medo ou pânico, os indivíduos que sofrem de ansiedade podem experimentar outros sintomas  fisiológicos,  incluindo  fadiga,  tontura,  dores  de  cabeça,  náusea,  dor abdominal,  palpitações,  falta  de  ar  e  problemas  urinários,  podendo  também prejudicar a atenção e a concentração, a memória de trabalho e a função motora perceptiva, domínios importantes que permitem que acadêmicos de Medicina e médicos forneçam assistência segura e eficaz aos pacientes (Quek et al., 2019).

A ansiedade atinge cerca de 264 milhões de pessoas em todo o mundo, destas, 18 milhões são brasileiras (9,3% da população). Estes dados indicam que quatro em cada dez brasileiros (41%) têm sofrido de ansiedade como consequência do surto da pandemia do novo Coronavírus. As mulheres são as mais afetadas, enquanto 49% se declaram ansiosas, 33% dos homens estão lidando com o sintoma no momento (OMS, 2022). No Brasil, país onde as desigualdades raciais e de gênero são marcantes, as mulheres utilizam mais serviços de saúde mental e são mais suscetíveis às sintomatologias ansiosas e depressivas (Mussi et al., 2019; Silva et al., 2022).

Estudos preliminares sobre a Pandemia demonstraram que a maioria da população desenvolveu sentimentos negativos durante o período de isolamento, causando distúrbios emocionais como depressão e ansiedade, tendo um peso diferente na qualidade de vida das mulheres, pois os sentimentos de tristeza e depressão foram duas vezes mais frequentes nas mulheres do que nos homens observados (Barros et al, 2020). 

Além disto, na meia-idade (45 a 59 anos), as mulheres passam por mudanças relacionadas à saúde provenientes principalmente da menopausa, em que seu organismo apresenta alterações hormonais que durante esse processo ficam mais evidentes, fazendo com que o corpo sofra transformações podendo adquirir problemas mentais e fisiológicos (Middlekauff et al, 2016), reduzindo sua qualidade de vida.

Culturalmente, as mulheres são menos ativas do que homens (Camargo; Añez, 2020), e com a pandemia esse quadro piorou, apesar da prática de atividade física está consistentemente associada à melhora da qualidade de vida e ao bem-estar físico e psicológico, já que pode ser oferecida por meio de diferentes intervenções como uma das estratégias eficazes para manter um estilo de vida ativo e acarretar um envelhecimento saudável. Além disto, ela pode ser útil na redução dos sintomas das condições de saúde mental e do risco de complicações de saúde física ao longo do tempo (Kandola e Stubbs, 2020), causando efeitos antidepressivos e ansiolíticos e proteger o organismo dos efeitos prejudiciais do estresse na saúde física e mental, podendo também contribuir para uma maior participação social, resultando em benefícios biopsicossociais e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos. 

Nessa perspectiva, estudos que verifiquem a relação ansiedade e exercício são importantes pois podem contribuir para a criação de estratégias mais eficazes de adoção de prática de atividade física regular e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida, bem como, possibilitar a descoberta de novas possibilidades preventivas e terapêuticas. Diante disto,  este estudo teve o objetivo de Avaliar o nível de atividade física e de ansiedade de mulheres de meia-idade frequentam um grupo de exercícios físicos com mulheres não praticantes.

2.0 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo se caracteriza como pesquisa comparativa, de caráter transversal, com abordagem quantitativa, que foi realizada em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) situada no bairro Monte Castelo, em Teresina- PI, onde contém um Polo de Academia da Saúde (PAS). A amostra deste estudo foi composta por 40 mulheres divididas em dois grupos, o Grupo de Exercício (GE), composto por 20 mulheres de meia-idade (45 a 59 anos) participantes de um grupo de exercícios físicos e o Grupo Controle (GC) composto por 20 mulheres da mesma faixa etária que frequentavam a UBS e que não participavam de nenhum grupo de atividade física regular. A participação no estudo foi inteiramente voluntária, onde adotou-se uma estratégia de amostragem não probabilística, por conveniência.

Foram incluídas no estudo mulheres que frequentavam o PAS e que faziam parte do grupo de exercícios físicos (funcionais, de força e aeróbicos, duas a três vezes por semana, com duração de uma hora), usuárias da UBS e com idade entre 45 e 59 anos de idade para o GE. Quanto ao GC, foram utilizados os mesmos critérios de inclusão do GE para sexo e idades, sendo incluídas mulheres usuárias da UBS pertencente ao território abrangente e que não praticavam nenhum tipo de exercício físico regular.

Foram elencados como critério de exclusão: mulheres que no momento da pesquisa apresentassem algum fator limitante, como distúrbios psicológicos, patologias neurológicas que comprometessem a sua fala e/ou cognição para ambos os grupos, e para o GE se estivessem com algum tipo de lesão musculo-esquelética que limitasse sua participação no grupo e as que estivessem faltando as aulas há mais de um mês. 

Os dados foram coletados por meio de questionários. Com o objetivo de caracterização da amostra, as voluntárias foram submetidas a um questionário, elaborado pela pesquisadora, para investigação sociodemográfica com questões relacionadas ao sexo, estado civil, moradia, profissão, doenças crônicas, sono e uso de medicamentos. Para mensuração do nível de atividade física foi utilizado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) (Silva et al., 2016), versão curta. Este instrumento contém quatro questões que analisam a participação dos respondentes em atividades físicas moderadas e vigorosas realizadas na última semana em diferentes dimensões, como caminhadas e esforço físico (incluindo fazer serviços domésticos leves ou pesados em casa, no quintal ou no jardim, carregar pesos ou qualquer atividade que fez aumentar a frequência cardíaca), classificando-as em cinco categorias, conforme a condição de atividade física: Sedentário, Insuficientemente Ativo, Insuficientemente ativo A, Insuficientemente ativo B e Ativo.

Para avaliação dos níveis de ansiedade e depressão foi aplicada a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão- HAD, traduzida e validada para o português por Botega et al. (1995), que tem um total de 14 questões, sendo as ímpares referentes a sintomas de ansiedade (HAD-A) e as pares, aos sintomas de depressão (HAD-D), e possui um score no qual as alternativas de cada questão são conferidas em 0, 1, 2 ou 3 pontos, que são somados e utilizados como pontos de corte, recomendados tanto para HAD-A, quanto para HAD-D, onde a prevalência de 0 a 7 pontos é avaliada como improvável, de 8 a 11 é avaliada como possível (questionável ou duvidosa) e de 12 a 21 é avaliada como provável. O tempo despendido para a participação para coleta de dados foi de aproximadamente 20 minutos. 

Os questionários foram aplicados nos dias de realização das atividades do grupo, para o GE e no GC foi realizada uma busca ativa na UBS, durante ações de educação em saúde, salas de espera, por intermédio dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS´s) ou visitas domiciliares no território, sendo os mesmos aplicados após o consentimento e exclarecimento sobre a pesquisa para as participantes.

A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Estadual do Piauí-UESPI sob parecer de nº 6.064.112 e pela Fundação Municipal de Saúde de Teresina. O desenvolvimento da mesma, em todas as suas fases, atendeu às recomendações da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que trata da pesquisa envolvendo seres humanos.

Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE, onde se informaram sobre os objetivos do estudo, procedimentos a serem adotados, além de garantir a estes a confiabilidade e anonimato em relação a sua participação na pesquisa, podendo decidir se deseja ou não participar de forma voluntária e consentida.

A análise estatística foi realizada por meio do programa estatístico SigmaPlot, versão 11.0. Os dados foram tabulados no programa Excell 2020. Após uma abordagem descritiva, as associações entre os dois grupos (ativos x sedentários) foram caracterizadas recorrendo à estatística inferencial, por meio do teste de independência do Qui-quadrado utilizando-se o programa SPSS 22.0, sendo adotado um nível de significância de 5%. 

3.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo foram representados em forma de tabelas. A tabela 1 apresenta  dados relacionados ao perfil sociodemográfico das participantes do estudo. Pode-se perceber que a maioria da amostra estava na faixa de idade entre 45 e 50 anos nos dois grupos GE (60%) e GC (65%), se consideram pardas GE (70%) e GC (55%), são casadas (60%) GE e (60%) GC, possuem ensino médio completo (35%) GE e (50%) GC, têm entre um ou dois filhos (65%) GE e (50%) GC e renda de até um salário mínimo (55%) GE e (50%) GC.

Tabela 1. Caracterização do perfil sociodemográfico de mulheres praticantes e não praticantes de Exercício Físico vinculadas a ESF do Bairro Monte Castelo, Teresina – PI, 2023. 

Fonte: Lima, 2023.

A figura 1 mostra a classificação do nível de atividade Física (IPAQ) das participantes, onde pode-se destacar que 65% do GE e 50% do GC foram classificadas como “Ativo”. 

Figura 1: Classificação do nível de atividade Física (IPAQ) de mulheres praticantes e não praticantes de Exercício Físico vinculadas a ESF do Bairro Monte Castelo, Teresina – PI.

Fonte: Lima, 2023.

Os dados obtidos revelaram um maior percentual de mulheres no domínio “Ativo” tanto no GE como no GC. No entanto ao somar as duas categorias de insuficientemente ativo (A e B), ainda é alto o número de mulheres nesta  classificação em ambos os grupos 30% (GC) e 20% (GE). No estudo de Probo et al. (2016) foi observado que 50% das mulheres avaliadas se encontravam na categoria irregularmente ativas. Pinheiro et al. (2016) ao comparar o estado mental e o nível de atividade física de mulheres praticantes e não praticantes de exercício físico identificou que tanto as mulheres que faziam exercícios, como as que não faziam estavam insuficientemente ativas. 

 Neste estudo 20% das mulheres do GE são insuficientemente ativas, este resultado provavelmente está relacionado a partipação em práticas apenas nos dias de grupo (duas vezes) por semana. Já que as aulas ocorriam com frequencia semanal de duas vezes, para atendender as recomendações mínimas preconizadas pela OMS as participantes do grupo eram orientadas a realizarem exercícios nos outros dias da semana, mas nem todas seguiam as recomendações. Neste aspecto, é importante que as medidas adotadas na atenção primária sejam efetivas em conscientizar essa população sobre os benefícios para saúde advindos da prática regular de atividade física, principalmente no período do climatério, a fim de minimizar as alterações fisiológicas desse período, como a perda muscular e aumento de gordura corporal.

Sobre este aspecto, é necessário observar que a prática de AF não se restringe às decisões individuais nas escolhas dos sujeitos. O oferecimento de programas de AF é multifatorial e está atrelado às formas como a sociedade, incluindo os serviços de saúde, moderam a vida coletiva. Isto é, aconselhar as pessoas a se engajarem em programas de educação em saúde e AF sem enfrentar os condicionantes sociais e/ou sem criar oportunidades de acesso efetivas dificilmente mudará o panorama atual da inatividade física (Polo et al, 2020). 

O estudo realizado evidenciou que a maioria das participantes dos dois grupos avaliados são ativas, ou seja, praticam atividades vigorosas três vezes ou mais por semana em pelo menos 20 minutos por sessão ou atividades moderadas ou caminhada pelo menos cinco vezes por semana em 30 minutos  ou mais por sessão. Ao comparar o nível de atividade física (NAF) entre grupo de pessoas praticantes e não praticantes, é comum que se encontre um maior NAF no grupo de praticantes, o que não foi observado neste estudo, neste sentido, é válido lembrar que o IPAQ é um questionário que avalia a atividade física de maneira subjetiva, numa semana típica ou nos últimos sete dias por meio da investigação dos minutos de atividade física (moderada, vigorosa e caminhada) realizados neste período, desta forma, o fato dos dois grupos estarem ativos, pode ter sido influenciado pelo tipo de avaliação realizada, que não avalia apenas as práticas orientadas, mas também todos os tipos de de atividades realizadas, inclusive a caminhada, neste aspecto, apesar do grupo controle não participar de grupo de exercício físico, acredita-se que elas realizam algum tipo de atividade física no seu dia a dia, como caminhadas, o que acaba refetindo em maior NAF não só no GE, mas também no GC. 

Dentre as facilidades em aderir a prática de AF destaca-se que a presença de programas de AF próximo a residência, estudos como os de (Bauman et al., 2012; Nakamura et al., 2016) afirmam que a presença de programas de exercícios físicos com até 10 minutos de distância de casa tem se mostrado como um facilitador para a prática de atividade física. 

Os benefícios para saúde obtidos com a pratica de exercício físico, também são relatados como fator motivacional para permanência em programas de AF. A respeito disto, Romano  et  al.  (2018) destacam  que  pessoas de meia  e  terceira   idade   praticantes   de   ginástica apresentaram uma capacidade funcional melhor, em comparação às  não  praticantes. El-Hajj et al., (2020), afirmam que mulheres ativas que estão no climatério tendem a ter maior longevidade funcional, menores índices de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, alteração no sistema imune, desenvolvimento de osteoporose e problemas cognitivos (favorecendo também um convívio social, que pode diminuir índices de depressão a ansiedade (Baker et al., 2018). Ferreira et al. (2016) reforçam que a atividade física melhora em muitos aspectos a saúde dos indivíduos, principalmente dos idosos, e ajuda-os a manterem a autoestima e os aspectos psicológicos. 

Sobre os níveis de ansiedade dos dois grupos, observa-se na Tabela 2 que aquelas que fazem atividade física apresentam percentuais mais elevados na categoria “Improvável” (65%) quando comparadas com as que não fazem (50%), porém após a aplicação do teste de independência Qui-quadrado, não foi observada associação significativa entre o grupo de mulheres ativas e sedentárias em relação à variável ansiedade (p = 0,432).

Tabela 2: Frequências absolutas e relativas dos níveis de ansiedade para o grupo ativo e sedentário (p = 0,432).

Fonte: Lima, 2023.

Os achados deste estudo corroboram com os resultados encontrados por Moraes e Goncalves (2022), onde evidenciam que mulheres que praticam exercícios físicos, e se mantém fisicamente ativas apresentam menores escores de ansiedade e depressão, comparadas com os não praticantes e maiores níveis de satisfação com a vida, maior nível de autoestima, além da redução do nível ansiedade e depressão. Dentro dos resultados encontrados, metade do grupo controle foi classificado que possivelmente ou provavelmente possuíam ansiedade, corroborando também com os achados no estudo de Grapiglia et al (2021) que pontua a significativa presença de transtornos mentais no grupo de mulheres que são inativas fisicamente.

Souza (2021) afirma que alterações comportamentais e psicológicas na sociedade podem ter sido agravadas com os impactos causados pela pandemia, contribuindo com o desenvolvimento de problemas como a ansiedade. Essas alterações, principalmente relacionadas à saúde mental, podem ser consequências da mudança de rotina causada durante o período pandêmico juntamente com o período de isolamento. Corrêa et al (2020), afirmam que a mudança da rotina pode causar impactos na vida social das pessoas, implicando no aumento dos níveis de estresse, e facilitando a aparição de distúrbios psicológicos.  Deste modo, é importante que os profissionais da saúde orientem que essa população mantenha um sono adequado, refeição saudável e realize atividade física (Sepúlveda-Layola et al. 2020). 

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam pelo menos 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana para todos os adultos, ou seja, no mínino três dias por semana, sendo uma possibilidade para a associação do nível de ansiedade com a atividade física não ter sido estatisticamente significantes. Isto mostra que as participantes devem incluir em sua rotina mais um dia de exercícios físicos. Alguns estudos apontam que a participação em programas de exercício físico supervisionado melhora a capacidade física e funcional, bem como promovem inúmeros benefícios associados à saúde (AMARAL et al., 2021; CIOLAC, 2013; CIOLAC; RODRIGUES-DASILVA, 2016). 

Além disto, Araújo (2022) afirma em seu estudo que a quantidade de mulheres que frequentam academias de ginásticas com o objetivo de controlar a ansiedade, cresceu durante o período pandêmico, saindo de 22% em 2019 para 64% no ano de 2020 após a reabertura das academias. Esses números mostram o impacto que a pandemia teve na ascensão do número de mulheres que se consideram ansiosas, bem como a quantidade de mulheres que buscam controlar sua ansiedade nesses ambientes. A maior vulnerabilidade feminina aos transtornos mentais pode ser devido às alterações no sistema endócrino que ocorrem no período pré-menstrual, pós-parto   e   menopausa, como explica Lindoso e Silva (2023).

Quando se refere às mulheres de meia-idade, surgem diversas questões que suscitam atenção além do contexto pandêmico. As mulheres, nessas circunstâncias, manifestam mais sintomas ansiosos e depressivos (Guilland et al.; Cardia et al., 2022) e seguindo essa lógica, Dall’agno (2023) afirma que os sintomas climatéricos mais prevalentes em mulheres de meia-idade foram os sentimentos de ansiedade e nervosismo (80,6%) atrelado ainda a pior qualidade de vida quando associada a atividade física irregular ou sedentarismo e ao maior índice de massa corporal. Cabral et al. (2020) confirmou em sua pesquisa que as mulheres de meia-idade insuficientemente ativas possuem sintomas de ansiedade mais elevados, quando comparadas às mulheres fisicamente ativas.  O escore geral do domínio psicológico mostrou-se bem mais elevado nas insuficientemente ativas, que nas fisicamente mais ativas significando assim que as insuficientemente ativas possuíam maior sintomatologia climatérica e menor qualidade de vida.

É consentido que há melhoras a partir de poucas semanas de prática de exercícios físicos, diminuindo sintoma e promovendo alívio emocional as praticantes (Lindoso e Silva, 2023), demonstrando que o exercício físico é um aliado importante  no tratamento da saúde e reinserção social de mulheres. 

Levando em consideração os achados  da  pesquisa  em  questão,  os  resultados  devem  ser  interpretados  de  acordo  com  algumas  limitações, como a amostra pequena e o tipo de estudo realizado, sendo um estudo transversal não tem como medir os efeitos da prática de exercício físico sobre os níveis de ansiedade a longo prazo. 

CONCLUSÃO

O estudo evidenciou que mulheres de meia-idade fisicamente ativas possuem um nível de ansiedade menor quando comparadas às mulheres sedentárias. Isto denota a necessidade de ações que possam contribuir para a conscientização da manutenção de hábitos saudáveis de vida, como a inserção da prática de exercícios físicos na rotina. Visto isso, a Educação Física pode contribuir na prevenção de doenças e incapacidades, se  devidamente  orientada  por  profissionais, prolongando a vida e desenvolvendo a saúde física e mental, incidindo e melhorando a qualidade de vida e bem-estar feminino. 

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1, 2Profissional de Educação Física Residente pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UESPI

3Profissional de Educação Física na Atenção Básica. Mestre em Saúde da Família pela UFPI/FIOCRUZ

4Docente da Universidade Estadual do Piauí. Doutora em Engenharia Biomédica pela UNIVAP

5Docente da Universidade Federal do Piauí. Doutora em Saúde Pública pela USP

6Docente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UESPI. Mestre em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Piauí

7Docente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da UESPI. Doutora em Engenharia Biomédica pela Universidade Brasil