REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202509212048
Pablo Andrade
Gabriela Caetano
Yara Gomes
RESUMO
Objetivo: Analisar a associação entre a prática de fortalecimento muscular e a ocorrência de lesões musculoesqueléticas em corredores amadores. O fortalecimento é reconhecido na literatura como estratégia preventiva eficaz, mas ainda pouco adotada por corredores recreativos. Este estudo busca contribuir com evidências sobre sua efetividade neste público. Métodos: Estudo transversal e quantitativo com 60 corredores amadores, avaliados por questionário estruturado sobre perfil sociodemográfico, prática de corrida, fortalecimento muscular e histórico de lesões. Os dados foram analisados por estatística descritiva, teste do qui-quadrado e correlação de Pearson (p < 0,05). Resultados: Dos participantes, 41,7% relataram lesões no último ano. A ocorrência foi menor entre os que praticavam fortalecimento (22,7%) comparado aos que não praticavam (73,5%), com diferença estatisticamente significativa. Verificou-se correlação inversa moderada entre frequência de fortalecimento e número de lesões (r = –0,51; p < 0,05). As lesões mais prevalentes foram síndrome da banda iliotibial, tendinopatia patelar, fascite plantar e tendinopatia de Aquiles. Conclusão: O fortalecimento muscular mostrou-se associado à menor incidência de lesões, reforçando seu papel como estratégia preventiva na corrida amadora.
Palavras-chave: Prevenção de Lesões; Fortalecimento Muscular; Corrida de Rua; Fisioterapia Esportiva; Corredores Amadores.
ABSTRACT
Objective: To analyze the association between muscle strengthening practice and the occurrence of musculoskeletal injuries in amateur runners. Strength training is recognized in the literature as an effective preventive strategy, yet it remains underutilized among recreational runners. This study aims to contribute with evidence regarding its effectiveness in this population. Methods: A cross-sectional, quantitative study was conducted with 60 amateur runners, evaluated through a structured questionnaire covering sociodemographic profile, running practice, strength training habits, and injury history. Data were analyzed using descriptive statistics, chi-square test, and Pearson correlation (p < 0.05). Results: Among participants, 41.7% reported injuries in the last year. Injury incidence was lower among those who practiced muscle strengthening (22.7%) compared to those who did not (73.5%), with statistically significant difference. A moderate inverse correlation was found between the weekly frequency of strengthening and the number of injuries (r = –0.51; p < 0.05). The most prevalent injuries were iliotibial band syndrome, patellar tendinopathy, plantar fasciitis, and Achilles tendinopathy. Conclusion: Muscle strengthening was associated with lower injury rates, reinforcing its role as a preventive strategy in amateur running.
Keywords: Injury Prevention; Muscle Strengthening; Running; Sports Physiotherapy; Amateur Runners.
INTRODUÇÃO
A corrida de rua é uma das atividades físicas mais populares e acessíveis no mundo, sendo amplamente recomendada por seus benefícios cardiovasculares, metabólicos e psicossociais (Hespanhol Junior et al., 2015). Além de auxiliar no controle do peso corporal e na melhora da capacidade cardiorrespiratória, a prática regular da corrida é reconhecida por reduzir riscos de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, justificando seu destaque em políticas públicas de promoção da saúde (Warburton et al., 2019).
No entanto, apesar de seus benefícios, a corrida também está associada a uma elevada incidência de lesões musculoesqueléticas, especialmente entre praticantes amadores que não seguem orientações técnicas ou programas de preparação física adequados. Segundo van Gent et al. (2007), cerca de 19% a 79% dos corredores amadores desenvolvem algum tipo de lesão durante o ano, com destaque para tendinopatias e sobrecargas nos membros inferiores.
As lesões em corredores amadores são predominantemente de origem por sobrecarga, acometendo segmentos corporais como joelhos, tornozelos, quadris e coluna lombar, sendo responsáveis por afastamentos temporários ou permanentes da prática, além de impactar negativamente na qualidade de vida desses indivíduos (Videbæk et al., 2015).
Diversos fatores têm sido apontados como predisponentes ao surgimento dessas lesões, incluindo aspectos biomecânicos, volume e intensidade do treinamento, tipo de calçado, terreno de corrida, desequilíbrios musculares, limitações articulares, fatores extrínsecos e, principalmente, o déficit de força muscular (Bertelsen et al., 2017). A literatura atual evidencia que a ausência de programas estruturados de fortalecimento muscular nos corredores amadores é um dos principais fatores de risco para lesões, uma vez que a musculatura atua como elemento fundamental na absorção de cargas, na estabilidade articular e na eficiência mecânica da corrida (Lauersen et al., 2018).
Nesse contexto, o fortalecimento muscular surge como uma estratégia preventiva amplamente recomendada, contribuindo para a melhoria do desempenho, da biomecânica e da resistência musculotendínea, minimizando o risco de lesões por sobrecarga repetitiva Mendiguchia et al. (2020) demonstram que programas de fortalecimento sistematizados, com foco em grupos musculares específicos como quadríceps, isquiotibiais, glúteos, core e músculos estabilizadores de tornozelo, são eficazes na redução da incidência de lesões em corredores, ao promoverem maior controle neuromuscular, eficiência energética e estabilidade dinâmica. De forma semelhante, Hespanhol Junior et al. (2015) e Lauersen et al. (2018) reforçam a importância da regularidade e especificidade no treinamento como fatores-chave para a prevenção de lesões.
Apesar do crescente reconhecimento da importância do fortalecimento muscular na prevenção de lesões em corredores, observa-se, na prática clínica e esportiva, que muitos praticantes amadores negligenciam essa etapa do treinamento, concentrando-se exclusivamente na corrida, sem a adoção de programas preventivos estruturados. Tal comportamento contribui para o aumento do risco de lesões, perpetuação de quadros dolorosos e afastamentos recorrentes da prática esportiva, evidenciando a necessidade de estratégias educativas e interventivas mais eficazes junto a esse público (Bertelsen et al., 2017).
Dessa forma, torna-se relevante a realização de estudos que analisem de forma aprofundada o impacto do fortalecimento muscular na prevenção de lesões em corredores amadores, contribuindo para o embasamento científico das práticas fisioterapêuticas e de treinamento preventivo. A compreensão da relação entre fortalecimento muscular e lesões permitirá não apenas a implementação de programas mais eficazes, mas também o desenvolvimento de estratégias educativas que reforcem a importância da preparação física global como elemento essencial à saúde e ao desempenho esportivo.
Assim, o presente estudo tem como objetivo geral analisar o impacto do fortalecimento muscular na prevenção de lesões em corredores amadores. Como objetivos específicos, pretende-se: (1) identificar a prevalência de lesões musculoesqueléticas em corredores amadores; (2) verificar a relação entre a prática de fortalecimento muscular e a ocorrência de lesões; e (3) analisar, a partir da literatura e dos dados coletados, a eficácia do fortalecimento muscular como estratégia preventiva no contexto da corrida amadora.
REFERENCIAL TEÓRICO
A prática da corrida de rua: popularidade, benefícios e desafios
A corrida de rua é uma das práticas esportivas mais difundidas em todo o mundo, destacando-se por sua acessibilidade, simplicidade e baixo custo, o que facilita a adesão por pessoas de diferentes faixas etárias, níveis socioeconômicos e perfis físicos (Hespanhol Junior et al., 2015). Nas últimas décadas, observou-se um crescimento exponencial do número de corredores amadores, tanto em eventos organizados quanto em práticas recreativas individuais, consolidando a corrida como um dos principais meios de promoção de saúde e qualidade de vida no âmbito da atividade física (Warburton et al., 2019).
A prática regular da corrida promove benefícios substanciais à saúde geral, incluindo a melhora do condicionamento cardiorrespiratório, aumento da capacidade funcional, controle do peso corporal, regulação do metabolismo, fortalecimento do sistema musculoesquelético e aprimoramento da saúde mental, prevenindo doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemias, obesidade e depressão (Andersen & Schnohr, 2015). Além disso, a corrida possui forte impacto positivo no bem-estar subjetivo, na autoestima e na socialização, reforçando seu papel como atividade física integral e promotora de saúde biopsicossocial (Warburton et al., 2019).
Entretanto, apesar dos inúmeros benefícios, a corrida apresenta desafios importantes relacionados à ocorrência de lesões musculoesqueléticas, especialmente em corredores amadores, que frequentemente praticam sem supervisão profissional, sem planejamento adequado de treinamento e sem o devido preparo físico global (van Gent et al., 2007). Essas lesões, em grande parte, são decorrentes de sobrecarga mecânica repetitiva, impactando negativamente a experiência esportiva, a saúde e a qualidade de vida dos praticantes, além de gerar custos significativos para o sistema de saúde (Videbæk et al., 2015).
Lesões musculoesqueléticas em corredores amadores: prevalência, tipos e fatores de risco
As lesões musculoesqueléticas em corredores amadores apresentam elevada prevalência, variando entre 19% e 79%, dependendo do perfil dos praticantes, intensidade e volume de treinamento, além de fatores biomecânicos e fisiológicos individuais (van Gent et al., 2007). Trata-se, predominantemente, de lesões por sobrecarga crônica, ou seja, lesões de sobrecarga cumulativa, resultantes da repetição excessiva de movimentos, sem o tempo de recuperação adequado, levando a microtraumatismos que, ao longo do tempo, evoluem para quadros inflamatórios e degenerativos (Bertelsen et al., 2017).
Os segmentos corporais mais acometidos incluem os joelhos, tornozelos, pés, quadris e região lombar, destacando-se condições como síndrome da dor femoropatelar, tendinopatias de Aquiles, fascite plantar, síndrome da banda iliotibial, canelite e estiramentos musculares (Hespanhol Junior et al., 2015). Essas lesões impactam diretamente no desempenho esportivo, levando ao afastamento temporário ou definitivo da prática, além de gerar desconforto, prejuízos funcionais e alterações na qualidade de vida (Videbæk et al., 2015).
Diversos fatores de risco têm sido associados ao desenvolvimento dessas lesões, incluindo aspectos extrínsecos, como tipo de calçado inadequado, terreno de corrida irregular, aumento abrupto do volume ou intensidade do treino, e fatores intrínsecos, como desequilíbrios musculares, déficits de força, instabilidade articular, limitações de mobilidade, alterações biomecânicas e histórico prévio de lesões (Bertelsen et al., 2017). Particularmente, os déficits de força muscular têm sido apontados como um dos principais fatores de risco modificáveis, representando alvo prioritário nas estratégias preventivas em corredores amadores (Lauersen et al., 2018).
Fatores biomecânicos e funcionais relacionados ao surgimento de lesões
A biomecânica da corrida envolve a interação complexa de forças internas e externas, que exigem elevado controle neuromuscular, equilíbrio dinâmico e resistência das estruturas musculoesqueléticas (Novacheck, 1998). Durante a prática da corrida, o corpo humano está submetido a cargas equivalentes a até três vezes o peso corporal a cada passo, demandando uma adequada capacidade de absorção e dissipação dessas forças por músculos, tendões, ligamentos e articulações (Bertelsen et al., 2017).
Quando há déficits de força muscular, particularmente em músculos estabilizadores de quadril, joelho, tornozelo e abdômen, ocorre uma sobrecarga desproporcional em estruturas passivas, favorecendo o surgimento de lesões por excesso de estresse mecânico repetitivo (Lauersen et al., 2018). Além disso, déficits de controle motor, disfunções posturais e padrões de movimento compensatórios contribuem para a alteração da cinemática da corrida, aumentando o risco de lesões (Mendiguchia et al., 2020).
Estudos biomecânicos demonstram que corredores com fraqueza dos músculos glúteo médio, quadríceps e isquiotibiais apresentam maior valgo dinâmico do joelho, aumento do pico de força de reação ao solo e redução da capacidade de absorção de impacto, fatores diretamente relacionados ao desenvolvimento de lesões como síndrome da banda iliotibial, tendinopatias e dor femoropatelar (Ferber et al., 2009). Tais evidências reforçam a necessidade de avaliação criteriosa e intervenções preventivas baseadas no fortalecimento muscular direcionado, com foco no controle neuromuscular e na melhora da biomecânica da corrida.
Fortalecimento muscular: conceitos, mecanismos e sua relação com a prevenção de lesões
O fortalecimento muscular pode ser definido como o processo de desenvolvimento das capacidades de força, potência e resistência muscular, promovendo adaptações estruturais e funcionais que visam o aprimoramento da performance física e a proteção das estruturas musculoesqueléticas (American College of Sports Medicine [ACSM], 2018). Trata-se de uma estratégia amplamente reconhecida tanto no âmbito do desempenho esportivo quanto na prevenção e reabilitação de lesões, contribuindo para a melhora do controle motor, estabilidade articular, resistência à fadiga e eficiência biomecânica (Lauersen et al., 2018).
Os mecanismos fisiológicos associados ao fortalecimento muscular envolvem adaptações neurais iniciais, como aumento da ativação motora, recrutamento de unidades motoras e coordenação intramuscular, seguidas por adaptações morfofuncionais, incluindo hipertrofia muscular, aumento da rigidez tendínea e reforço das estruturas ligamentares (Schoenfeld, 2010). Essas adaptações são fundamentais para a manutenção da integridade musculoesquelética, especialmente em atividades de alta demanda, como a corrida de rua, onde há exigências constantes de absorção e dissipação de cargas repetitivas (Mendiguchia et al., 2020).
No contexto da prevenção de lesões em corredores, o fortalecimento muscular desempenha papel central na otimização da capacidade de tolerância às cargas impostas pela corrida, atuando na redução do risco de lesões por sobrecarga cumulativa. Grupos musculares como glúteos, quadríceps, isquiotibiais, gastrocnêmicos, tibial anterior, além dos músculos estabilizadores de tronco (core), têm papel fundamental no controle da cinemática da corrida, na absorção do impacto e na estabilização dinâmica, justificando sua priorização em programas preventivos (Ferber et al., 2009; Lauersen et al., 2018).
Evidências científicas da eficácia do fortalecimento muscular na prevenção de lesões em corredores amadores
Diversas revisões sistemáticas e ensaios clínicos reforçam a eficácia do fortalecimento muscular como estratégia preventiva de lesões em praticantes de corrida. Lauersen et al. (2018), em uma das revisões sistemáticas com meta-análise mais robustas da área, demonstraram que programas de fortalecimento muscular reduzem o risco de lesões esportivas em geral em até 50%, com ênfase especial nas lesões de membros inferiores. Esses dados reforçam a recomendação da inclusão do fortalecimento em programas preventivos voltados a atletas e praticantes recreacionais.
De forma complementar, Hespanhol Junior et al. (2015) evidenciaram, em estudo com corredores amadores brasileiros, que a ausência de fortalecimento muscular regular foi um dos principais preditores de lesões musculoesqueléticas, reforçando a importância dessa prática como parte integrante da preparação física. De maneira semelhante, Mendiguchia et al. (2020) mostraram que programas de fortalecimento específicos para glúteos, core e membros inferiores melhoram significativamente o controle biomecânico durante a corrida, reduzindo as cargas articulares e o risco de lesões por sobrecarga.
Ferber et al. (2009) destacaram que corredores submetidos a intervenções baseadas em fortalecimento muscular apresentaram melhora na cinemática da corrida, com redução do pico de força de reação ao solo, menor valgo dinâmico do joelho e melhora na eficiência energética, fatores associados à diminuição da incidência de lesões. Essas evidências reforçam que o fortalecimento muscular não deve ser considerado apenas como uma intervenção corretiva, mas como estratégia preventiva fundamental, especialmente em corredores amadores, que frequentemente apresentam déficits de força e controle motor.
Adicionalmente, programas que integram fortalecimento muscular com treinamento de controle neuromuscular, propriocepção, equilíbrio e flexibilidade têm mostrado resultados superiores na prevenção de lesões, atuando de maneira mais completa sobre as demandas específicas da corrida e sobre as adaptações do sistema musculoesquelético (Mendiguchia et al., 2020). Tais abordagens integrativas são especialmente indicadas para corredores amadores, cujas demandas de treinamento e perfil físico exigem uma preparação abrangente e individualizada.
Diante do exposto, observa-se que o fortalecimento muscular constitui uma ferramenta essencial na prevenção de lesões em corredores amadores, atuando diretamente sobre os fatores de risco modificáveis relacionados à biomecânica, controle motor e resistência musculoesquelética. A literatura científica é consistente ao demonstrar que a inclusão sistemática de programas de fortalecimento muscular nos treinamentos de corredores amadores reduz significativamente a incidência de lesões, melhora o desempenho esportivo e contribui para a manutenção da prática segura e saudável da corrida.
Entretanto, apesar das evidências robustas, ainda se observa uma lacuna na adesão de corredores amadores a essas práticas preventivas, reforçando a necessidade de estratégias educativas, campanhas de conscientização e atuação de profissionais da saúde, como fisioterapeutas e preparadores físicos, no incentivo à inclusão do fortalecimento muscular como parte integrante do treinamento desses praticantes.
Materiais e Métodos
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza quantitativa, com delineamento transversal, descritivo e correlacional. A abordagem quantitativa foi adotada por possibilitar a mensuração objetiva das variáveis envolvidas, permitindo a aplicação de análises estatísticas rigorosas que possibilitam identificar padrões e relações entre o fortalecimento muscular e a ocorrência de lesões em corredores amadores
O delineamento transversal, também denominado de estudo de corte, permite a coleta de dados em um único momento no tempo, proporcionando um panorama instantâneo das variáveis estudadas. Apesar de não permitir inferências causais, esse tipo de estudo é amplamente utilizado em investigações epidemiológicas e clínicas, especialmente para estimar prevalências, identificar associações e traçar perfis populacionais (Mattos & Rossetto, 2018).
O caráter descritivo justifica-se pela intenção de detalhar as características sociodemográficas, comportamentais e clínicas dos corredores amadores participantes, enquanto o aspecto correlacional visa verificar a existência de possíveis associações estatísticas entre a prática de fortalecimento muscular e a incidência de lesões musculoesqueléticas, contribuindo para a compreensão dos fatores de risco modificáveis na prática da corrida
A pesquisa foi realizada no município de Três Pontas, Minas Gerais, Brasil, em clubes de corrida, academias, assessorias esportivas e espaços públicos onde há concentração de corredores amadores. A cidade apresenta perfil demográfico de médio porte, com população estimada em aproximadamente 56 mil habitantes (IBGE, 2023), e tem se destacado pelo aumento da prática esportiva, especialmente de corrida de rua, em eventos locais e regionais.
A coleta de dados foi realizada no período de [mês de início] a [mês de término] do ano de 2025, respeitando todas as normas de biossegurança e éticas vigentes, conforme preconizado pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
População, Amostra e Critérios de Elegibilidade
A população-alvo deste estudo foi composta por corredores amadores, com idade entre 18 e 60 anos, praticantes regulares de corrida de rua há, no mínimo, seis meses, com frequência mínima de três sessões semanais.
A coleta de dados se deu por meio de uma amostragem não probabilística por conveniência, considerando a acessibilidade dos participantes e a viabilidade logística da pesquisa, respeitando, entretanto, critérios rigorosos de inclusão e exclusão.
Critérios de inclusão:
- Idade entre 18 e 60 anos;
- Prática regular de corrida de rua há, no mínimo, seis meses;
- Frequência de treinamento igual ou superior a três vezes por semana;
- Consentimento livre e esclarecido mediante assinatura do TCLE.
Critérios de exclusão:
- Diagnóstico de doenças neurológicas, musculoesqueléticas ou cardiovasculares que impedissem a prática segura da corrida;
- Histórico de cirurgias ortopédicas com potencial de gerar sequelas funcionais que comprometam a mecânica da corrida
- Utilização de medicamentos que interferissem na capacidade física;
- Incapacidade de compreensão dos instrumentos aplicados.
O tamanho da amostra foi definido com base na disponibilidade de participantes durante o período de coleta, respeitando critérios de elegibilidade e viabilidade logística. A amostragem foi não probabilística por conveniência, e o número total de participantes (n = 60) correspondeu às pessoas que se prontificaram voluntariamente a responder ao questionário, dentro do prazo estabelecido pela pesquisa. Embora não tenha sido realizado cálculo amostral formal, o número de participantes foi considerado adequado para análises exploratórias com base em estudos de abordagem semelhante.
Instrumentos de Coleta de Dados
Para a coleta dos dados, foi utilizado um questionário único estruturado, desenvolvido com base no modelo de Hespanhol Junior et al. (2015) e adaptado pelos pesquisadores para atender aos objetivos do presente estudo. O instrumento foi dividido em blocos temáticos, abordando:
- Variáveis sociodemográficas: idade e sexo;
- Perfil de treinamento: tempo de prática da corrida, frequência semanal, tipo de terreno preferencial, tipo de calçado utilizado;
- Prática de fortalecimento muscular: presença ou ausência, frequência semanal;
- Histórico de lesões musculoesqueléticas: segmento corporal acometido, tipo de lesão, tempo de afastamento, tratamentos realizados;
- Participação esportiva: histórico de participação em competições.
O questionário foi aplicado de forma digital, por meio de formulário online, com tempo médio de resposta de aproximadamente 10 minutos.
Procedimentos de Coleta de Dados
Os corredores foram abordados em locais previamente autorizados, como academias, parques e clubes de corrida, em horários flexíveis, visando facilitar a participação e respeitar as rotinas de treinamento dos voluntários. Inicialmente, foi realizada a apresentação do estudo, com explicações sobre seus objetivos, procedimentos, possíveis riscos e benefícios, além dos direitos dos participantes.
Após o esclarecimento das dúvidas e o aceite voluntário, procedeu-se à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Posteriormente, os participantes responderam, de forma autônoma ou com auxílio do pesquisador em caso de dúvidas, aos questionários aplicados, em ambiente tranquilo e reservado, garantindo a privacidade e o conforto dos voluntários.
O tempo médio para preenchimento dos instrumentos foi de aproximadamente 30 minutos por participante. Os dados foram revisados, organizados e armazenados em planilha eletrônica protegida por senha, assegurando a confidencialidade das informações.
Análise Estatística dos Dados
Os dados foram digitados e organizados no software Microsoft Excel®, que também foi utilizado para a realização das análises estatísticas. Inicialmente, foi feita uma análise descritiva das variáveis quantitativas (média, desvio padrão, valores mínimo e máximo) e qualitativas (frequências absoluta e relativa). Para verificar a associação entre a prática de fortalecimento muscular e a ocorrência de lesões musculoesqueléticas, aplicou-se o teste do qui-quadrado (χ²), adotando-se nível de significância de p < 0,05. A relação entre a frequência semanal de fortalecimento e o número de lesões foi avaliada por meio da correlação de Pearson (r).
Aspectos Éticos
Este estudo seguiu as normas éticas estabelecidas na Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisas com seres humanos no Brasil. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS, obtendo parecer favorável sob o número [inserir número do parecer], emitido em [inserir data de aprovação]. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), garantindo a participação voluntária, o anonimato, a confidencialidade dos dados e o direito de se retirar do estudo a qualquer momento, sem prejuízo. Não foram oferecidos benefícios financeiros ou materiais, e os riscos envolvidos foram minimizados por meio de condução ética e responsável da pesquisa.
RESULTADOS
Participaram do estudo 60 corredores amadores, sendo a maioria do sexo feminino (61,7%). A média de idade foi de 31 anos (±6,5 anos). Quanto ao tempo de prática de corrida, 33,3% corriam há menos de 1 ano, enquanto 21,7% apresentavam experiência superior a 3 anos. A frequência semanal predominante foi de 3 a 4 treinos (45%). Quanto ao tipo de calçado, 81,7% relataram utilizar tênis específicos para corrida, e 76,7% preferiam correr em terreno asfaltado.
Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica e perfil de treinamento dos participantes
Variável | Valor observado |
Sexo | Feminino (61,7%) |
Idade média | 31 anos (±6,5) |
Tempo de prática | <1 ano (33,3%) |
Frequência semanal | 3 a 4 treinos/semana (45%) |
Tipo de calçado | Tênis de corrida (81,7%) |
Tipo de terreno preferido | Asfalto (76,7%) |
Em relação ao histórico de lesões, 41,7% dos participantes relataram ter sofrido ao menos uma lesão musculoesquelética relacionada à corrida no último ano.
As lesões mais prevalentes, segundo categorização posterior dos pesquisadores com base nas descrições fornecidas pelos participantes, foram: síndrome da banda iliotibial (18,0%), tendinopatia patelar (15,0%), fascite plantar (10,0%) e tendinopatia de Aquiles (8,0%).
Tabela 2 – Prevalência e tipos de lesões relatadas
Tipo de Lesão | Prevalência (%) |
Síndrome da Banda Iliotibial | 18,0% |
Tendinopatia Patelar | 15,0% |
Fascite Plantar | 10,0% |
Tendinopatia de Aquiles | 8,0% |
A distribuição das lesões por segmento corporal revelou maior incidência em joelhos (38,0%), seguida por tornozelos (22,0%), quadris (18,0%) pés (14,0%) e outros (8,0%).
Tabela 3 – Distribuição percentual das lesões por segmento corporal
Segmento corporal | Prevalência (%) |
Joelho | 38,0% |
Tornozelo | 22,0% |
Pé | 14,0% |
Quadril | 18,0% |
Outro | 8,0% |
Quanto à prática de fortalecimento muscular, 71,7% dos corredores relataram realizar esse tipo de atividade regularmente. A descrição sobre a ocorrência de lesões entre esses grupos será detalhada a seguir, na análise de associação estatística.
A análise estatística demonstrou que entre os corredores que realizavam fortalecimento regularmente, apenas 22,7% relataram ter sofrido lesões no último ano. Já entre os que não praticavam qualquer forma de fortalecimento, 73,5% relataram alguma lesão — diferença estatisticamente significativa (p < 0,05).
Tabela 3 – Associação entre prática de fortalecimento muscular e ocorrência de lesões
Grupo | Lesionados (%) | Não lesionados (%) |
Com fortalecimento (n=43) | 22,7% | 77,3% |
Sem fortalecimento (n=17) | 73,5% | 26,5% |
Para avaliar a relação entre a frequência semanal de fortalecimento muscular e o número de lesões musculoesqueléticas reportadas, foi utilizado o coeficiente decorrelação de Pearson (r), apropriado para variáveis contínuas. Observou-se uma correlação inversa moderada entre as variáveis analisadas (r = –0,51; p < 0,05), indicando que quanto maior a frequência de fortalecimento, menor o número de lesões relatadas.
É importante ressaltar que os grupos comparados apresentaram tamanhos amostrais distintos: 43 corredores relataram praticar fortalecimento regularmente, enquanto 17 afirmaram não realizar esse tipo de atividade. Embora essa discrepância possa influenciar a robustez estatística da associação, a diferença percentual encontrada foi expressiva, sendo estatisticamente significativa (teste do qui-quadrado, p < 0,05).
Outras variáveis, como idade, tempo de prática de corrida e frequência semanal de treinos, também podem exercer influência sobre a incidência de lesões. No entanto, este estudo teve como foco principal a análise da associação com o fortalecimento muscular. Pesquisas futuras com modelos estatísticos multivariados poderão aprofundar essa relação considerando múltiplos fatores simultaneamente.
DISCUSSÃO
Os resultados do presente estudo evidenciam que a prática regular de fortalecimento muscular está fortemente associada à menor ocorrência de lesões musculoesqueléticas em corredores amadores. Dentre os 60 participantes, aqueles que não realizavam nenhum tipo de atividade complementar à corrida apresentaram um índice de lesões aproximadamente três vezes maior do que aqueles que realizavam fortalecimento regularmente — reforçando a hipótese inicial desta pesquisa.
A taxa de lesões observada entre os corredores que não realizavam fortalecimento (73,5%) foi significativamente superior à dos que realizavam esse tipo de atividade 22,7% entre os que fortaleciam. Esse dado corrobora estudos prévios como o de Lauersen et al. (2014), que demonstraram que programas de treinamento de força podem reduzir em até 68% o risco de lesões esportivas. O fortalecimento atua sobre a estabilidade articular, equilíbrio muscular, resistência de tendões e ligamentos e, sobretudo, melhora da absorção e dissipação de cargas repetitivas, comuns na corrida de rua.
O segmento corporal mais acometido foi o joelho, seguido do tornozelo e pé, o que está de acordo com pesquisas como as de Ferber et al. (2009) e Videbæk et al. (2015), que descrevem o joelho como a principal região afetada por lesões em corredores devido à sobrecarga funcional imposta em cada ciclo da marcha. A alta prevalência da síndrome da banda iliotibial e da tendinopatia patelar entre os respondentes também reforça essa tendência.
A análise estatística confirmou a presença de uma correlação inversa moderada (r = –0,51; p < 0,05) entre o número de sessões semanais de fortalecimento e a incidência de lesões, o que sugere um efeito protetor cumulativo da prática regular. Esse achado está em consonância com Mendiguchia et al. (2020), que destacam a importância da regularidade e especificidade no treinamento para promoção de resiliência muscular e articular em corredores recreacionais.
A predominância de treinos em terrenos asfaltados e o uso de calçados específicos foram características relatadas pela maioria dos participantes. No entanto, mesmo com esses cuidados, os índices de lesões foram elevados entre aqueles que não praticavam fortalecimento muscular, o que reforça a hipótese de que fatores isolados, como biomecânica e equipamento, podem não ser suficientes sem uma preparação muscular adequada.
Como não foi realizada análise estatística entre esses fatores e a ocorrência de lesões, recomenda-se que futuros estudos explorem essa relação
Os achados deste estudo reforçam o papel da fisioterapia preventiva na promoção de práticas de fortalecimento muscular entre corredores amadores. A orientação profissional adequada na prescrição de exercícios — como treinos com elásticos, peso corporal e sessões supervisionadas — pode representar uma estratégia eficaz na redução de lesões por sobrecarga. Estudos como o de Mendiguchia et al. (2020) e Hespanhol Junior et al. (2015) destacam que a abordagem fisioterapêutica individualizada, aliada à especificidade da demanda esportiva, contribui para maior adesão, controle neuromuscular e estabilidade funcional.
CONCLUSÃO
Este estudo teve como objetivo investigar a influência da prática de fortalecimento muscular na prevenção de lesões musculoesqueléticas em corredores amadores. A análise de 60 participantes demonstrou uma associação significativa entre o fortalecimento regular e a redução da incidência de lesões, evidenciando a importância dessa prática como estratégia preventiva essencial.
A prevalência de lesões foi significativamente maior entre os corredores que não realizavam nenhum tipo de fortalecimento — 73,5%, em contraste com apenas 22,7% entre aqueles que mantinham uma rotina de exercícios de força. Esse dado corrobora o papel protetor do fortalecimento na corrida, alinhando-se com achados consolidados da literatura científica.
A predominância de lesões em joelho, tornozelo e pé, especialmente em corredores com maior carga semanal e menor preparo muscular, destaca a vulnerabilidade do sistema musculoesquelético à repetição de microtraumas. A correlação inversa moderada identificada (r = –0,51) reforça a hipótese de que quanto maior a frequência de fortalecimento, menor a tendência ao desenvolvimento de lesões.
Conclui-se que a prática regular de fortalecimento muscular está associada à redução significativa na ocorrência de lesões musculoesqueléticas em corredores amadores.
Os dados apontam que a ausência dessa prática representa um fator de risco relevante, mesmo quando outros cuidados como calçado adequado e terreno plano estão presentes.
Com base nisso, recomenda-se a implementação de ações educativas e estratégias de prescrição de exercícios individualizados voltadas à prevenção, especialmente por meio da orientação fisioterapêutica.
Estudos futuros podem explorar modelos multivariados para compreender a interação entre múltiplos fatores de risco na corrida amadora.
REFERÊNCIAS
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). ACSM’s guidelines for exercise testing and prescription. 10. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2018.
ANDERSEN, K.; SCHNOHR, P. Running as a key lifestyle medicine strategy for improved health and longevity. Progress in Cardiovascular Diseases, v. 57, n. 5, p. 505–513, 2015.
BERTELSEN, M. L. et al. Running injury mechanisms, prevention, and intervention: a systematic review. Sports Medicine, v. 47, n. 4, p. 655–667, 2017.
CRESWELL, J. W.; CRESWELL, J. D. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2021.
FERBER, R. et al. Competitive runners with a history of iliotibial band syndrome demonstrate atypical hip and knee kinematics. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, v. 39, n. 12, p. 845–852, 2009.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
HESPANHOL JUNIOR, L. C. et al. Incidence and risk factors for running-related injuries among Brazilian runners: a prospective cohort study. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, v. 25, n. 5, p. 737–743, 2015.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Projeções da população do Brasil e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2023.
LAUERSEN, J. B.; BERTELSEN, D. M.; ANDERSEN, L. B. The effectiveness of exercise interventions to prevent sports injuries: a systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. British Journal of Sports Medicine, v. 52, n. 24, p. 1476–1483, 2018.
MATTOS, P. G.; ROSSETTO, K. R. Abordagens metodológicas: da pesquisa qualitativa à quantitativa. In: LIMA, T. C.; MATTOS, P. G. (org.). Pesquisa científica em fisioterapia. São Paulo: Manole, 2018.
MENDIGUCHIA, J. et al. Critical review of the hamstring injury prevention paradigms: strength versus lumbopelvic control. International Journal of Sports Physical Therapy, v. 15, n. 2, p. 301–321, 2020.
NOVACHECK, T. F. The biomechanics of running. Gait & Posture, v. 7, n. 1, p. 77–95, 1998.
SCHOENFELD, B. J. The mechanisms of muscle hypertrophy and their application to resistance training. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 24, n. 10, p. 2857–2872, 2010.
VAN GENT, R. N. et al. Incidence and determinants of lower extremity running injuries in long distance runners: a systematic review. British Journal of Sports Medicine, v. 41, n. 8, p. 469–480, 2007.
VIDEBÆK, S. et al. Running-related injuries among half-marathon and marathon participants: a systematic review. Sports Medicine, v. 45, n. 10, p. 1575–1593, 2015.
WARBURTON, D. E. R. et al. Health benefits of physical activity: the evidence. CMAJ, v. 174, n. 6, p. 801–809, 2019.